Tag: Owen Wilson

  • Crítica | Extraordinário

    Crítica | Extraordinário

    O pequeno ator Jacob Tremblay já pode ser considerado um veterano em Hollywood, com apenas 11 anos de idade, já possui 21 filmes em sua carreira. O mais expressivo de todos é o ótimo O Quarto de Jack, de 2015, pois concorreu a vários prêmios da Academia, rendendo à Brie Larson a estatueta de melhor atriz daquele ano, além de diversas outras indicações e premiações.

    Não havia escolha melhor senão Tremblay para interpretar o carismático Auggie em Extraordinário, filme que adapta a obra literária homônima, de R.J. Palacio. O menino nasceu completamente deformado, o que o levou a passar por dezenas de cirurgias com a finalidade de resolver problemas de saúde, como sua respiração e audição, além de demais cirurgias plásticas corretivas. Durante sua infância, o garoto ficou dentro de casa, local que foi transformado em seu incrível mundo de imaginação. Fã alucinado de Star Wars, o personagem tem como seu melhor amigo o Wookie, Chewbacca. Vale destacar que a franquia criada por George Lucas está presente em peso durante o filme.

    A mãe de Auggie, Isabel (Julia Roberts), parou de trabalhar para que pudesse dar aulas ao filho, enquanto seu marido, Nate (Owen Wilson) trabalhava para sustentar a família. O garoto possuía tanta vergonha de sua feição, que toda vez que precisava sair de casa, usava um enorme capacete de astronauta, tanto que o dia em que o deixava mais feliz, em vez do Natal, ou do Dia de Ação de Graças, era o Halloween, porque podia sair fantasiado sem se preocupar com que as pessoas achariam de seu rosto.

    Tudo começa a mudar quando o personagem decide ir à escola e o que vemos daqui pra frente é um filme que em vez de ser pesar a mão no melodrama e repleto de trilha sonora carregada, o que temos na realidade é uma sensação de leveza, risos e diversão. Essa sensação também é causada por conta da atuação de Tremblay, que impinge carisma em tela. Auggie não é um menino depressivo, triste e em nenhum momento se vê como um coitado, isso dá o tom do longa durante a projeção.

    Obviamente, atravessamos todos os clichês que o gênero emprega, como o preconceito, o bullying de outros colegas, entre outros acontecimentos, mas Extraordinário, curiosamente, é muito mais do que isso. O longa-metragem surpreende porque não é somente um filme sobre Auggie. É um filme sobre Isabel, sobre Nate, sobre Via (Izabela Vidovic, talvez a surpresa do filme), irmã do protagonista – que possui uma bela história paralela – e sobre Daisy, a velha cachorrinha da família. Portanto, trata-se de um filme reflexivo, não só no sentido de obrigar o espectador a pensar sobre diversas coisas, mas também no sentido de como o nascimento do menino e suas atitudes refletem diretamente na família.

    Talvez o acerto seja mérito do diretor Stephen Chbosky, que possui somente três filmes em seu currículo, dentre eles, As Vantagens de Ser Invisível. Chbosky escreveu o roteiro juntamente com outros dois roteiristas, Steve Conrad (À Procura da Felicidade) e Jack Thorne, experiente em seriados. Contudo, com o perdão do trocadilho, o filme ainda que não tenha nada de extraordinário, possui grandes méritos na forma como conduz sua narrativa e não se rende a clichês do gênero.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Zoolander

    Crítica | Zoolander

    Zoolander 1Paródia escrachadíssima sobre o universo fashion dos super-modelos, Zoolander é um filme dirigido, estrelado  e produzido por Ben Stiller. Os primeiros minutos apresentam um complicado cenário político baseado na paranoia típica das histórias de espionagem, escondendo os personagens poderosos sob cenários sombrios e silhuetas que discutem o futuro da humanidade, que, por sua vez, jaz na futilidade.

    A figura ideal para se infiltrar na misteriosa questão deveria ser alguém poderoso, chamativo e igualmente ignorante, é neste ponto que entra a figura de Derek Zoolander (Stiller), que faz um modelo no auge de sua carreira, que basicamente, se prepara para uma nova pose, chamada de Magnum, tão importante que é guardada a sete chaves, longe da espreita dos tabloides. A surpresa ocorre pela perda do título de maior top model, sofrendo, a partir daí, uma intensa crise de identidade, sem caminhos para traçar. A dor da substituição é tão grande que o artista aparenta não ter mais um rumo para seguir, destacando-se o grande vazio existencial que já o consumia, mas que não era perceptível graças à fama infinita que o rodeava.

    Na tentativa de se reconstruir, Derek procura seu pai, Larry (John Voight), trabalhando junto com ele como minerador, apesar de sua incrível incapacidade de carregar peso ou de realizar qualquer trabalho que demande esforço manual. O choque ocorrido com ele faz ele se enxergar como um pária em ambos os ambientes familiares que conhece, o que o torna alvo fácil para propostas indecentes, vindas da figura que mais se aproxima de um vilão nesse jocoso e debochado cenário, com o estilista Mugatau, interpretado por um Will Ferrell que varia entre o exagero extremo canastrão e afetação ponderada, em uma caricatura de uma rainha má e megera dos clássicos contos de fada de Disney. A trama em si envolve um terrível caso político, com a possibilidade de assassinato de um diplomata estrangeiro.

    Toda a graça do filme está nas palhaçadas interpretadas por Derek – que sequer sabe quantas sílabas possui seu nome e sobrenome –  e seus rivais, Hansel (Owen Wilson), seu principal antagonista no mundo fashion, igualmente encantador, ao menos de acordo com os padrões imbecis e banais estabelecidos pelo roteiro de Stiller, Drake Sahter  e John Hamburg além, claro, da figura de Mugatu e seus sidekicks. As piadas funcionam basicamente por fazer troça com um ambiente onde a idolatria é o lugar comum, levando em conta piadas que remetem a um nível de pensamento bastante baixo, desconstruindo o objeto de adulação de uma indústria que lucra bilhões de unidades monetárias, usando de gags cômicas das mais bobas para mostrar um argumento inteligente, apesar da fala simplória.

    A cena de disputa entre Zoolander e Hansel rivaliza com a lavagem cerebral que o protagonista sofre, para se tornar alvo fácil da estranha missão que lhe é incumbida. A quantidade de participações especiais é enorme, indo desde David Duchovny, como um ex-modelo de mão tão paranoico e ansioso quanto seu Fox Mulder, e David Bowie, que faz a si mesmo como juiz da disputa entre os dois astros. O papel mais significante entre as pessoas ditas normais é da repórter Matilda Jefferies (Christine Taylor), que evidentemente tem problemas com sua aparência, por ter sido uma pessoa obesa no passado e ter sofrido com bulimia.

    Zoolander consegue reunir pastiche com um estilo de vida extravagante e extremamente sexual, sem apelar para nudez ou para qualquer proximidade da dita “vulgaridade”. O filme desconstrói a superioridade normalmente atribuída aos mais belos homens do planeta, mostrando-os como bárbaros incapazes de tarefas simples, como ligar um computador desktop. Stiller consegue elevar um personagem, que não tinha ido além de dois curtas bastante tímidos, ao patamar de herói de um filme que trata com esperteza um mundo repleto de conceitos e certezas superficiais, através de uma mensagem simples e não panfletária, mesmo com toda a acidez eufemística presente no argumento.

  • Crítica | Zoolander 2

    Crítica | Zoolander 2

    Zoolander II 1

    Lançado quinze anos após o sucesso do primeiro filme, Ben Stiller resgata Derek Zoolander do ostracismo, começando seu Zoolander 2 com a mesma cena que abre o trailer que fez sucesso internet à dentro, mostrando o assassinato do astro Justin Bieber, postando sua foto póstuma no Instagram. É neste aspecto que mora um dos piores defeitos do longa, já que grande parte das boas piadas são entregues no material de divulgação, e não são bem desenvolvidas no decorrer da exibição.

    A intenção de Stiller é em reverenciar seu colega Drake Sahter, morto em 2004, ressuscitando sua co-criação em mais uma tentativa de revival esbarra em uma inspiração bastante fraca. O ex-modelo está no ostracismo, tendo todo seu hiato explicado através de um flashback curto, que visa atualizar o público e inserir o personagem em uma outra época. O anacronismo dos habitantes daquele antigo micro verso até funciona como piada, ainda que não sustente todo um filme sozinho. O chamado à aventura, ocorrido através de uma participação bastante engraçada de Billy Zane faz encontrar Derek e Hansel (Owen Wilson), que não se encontravam desde o acidente que mudou por completo a vida de ambos.

    O conflito de inimizade entre os dois fashionistas, visto no primeiro capítulo, é substituído por uma mágoa profunda, que faz ate perguntar qual era a intenção do texto de Stiller, John Hamburg, Nicholas Stoller e Justin Theroux, já que as melhores sacadas ocorre com Hansel, e não com o personagem titulo. O roteiro é confuso, escrito a oito mãos, fator que ajuda inclusive a explicar a demora em lançar em circuito comercial, gerando até a ácida comparação metalinguística, quanto a dificuldade de Zoolander em se adaptar aos novos tempos.

    A tentativa de fazer o drama engraçado ir para outro nível, atingindo camadas de evolução à vida adulta, com responsabilidades familiares esbarra em um texto muito confuso, que não consegue harmonizar sequer as participações especiais, ponto alto da outra versão. Sequer as personagens Valentina Valencia (Penelope Cruz) e Alexania Atoz (Kristen Wiig) conseguem fugir da mediocridade ultrapassada, com poucos momentos de um humor que supere os defeitos de mediocridade. A maioria das surpresas positivas, inclusive dessas personagens, já foram utilizadas nos ultimos trailers, fator que quebra o impacto destes momentos, claramente em uma tentativa desesperadas dos produtores em resumir tudo que havia de bom no filme nos teasers.

    A franquia deixa o arquétipo de comedia histericamente risível para se tornar uma auto parodia, uma escolha que tenciona ser corajosa, mas que resulta em um produto pífio. Ao mesmo tempo em que Stiller é generoso com seus colegas, em especial com Wilson e com o antagonista Jacobim Mogatu de Will Ferrell, falta uma direção mais ativa, fator que faz perguntar inclusive o motivo de Stoller não ter o feito, já que escreveu parte do roteiro e vinha de boas empreitadas, com Vizinhos e Cinco Anos de Noivado, explicado somente pelas dificuldades de agenda e talvez pela insistência de Stiller.

    Não há reprise dos momentos que fizeram do primeiro filme uma diversão descompromissada que surpreendia por um sub texto sagaz e debochado, o que é uma pena, já que Zoolander 2 não convenceu o público, mesmo com a onda nostálgica que afetou Hollywood recentemente, aproximando este muito mais do pouco elogiado Debi e Loide 2 do que há Tudo Por Um Furo, que conseguiu reverenciar e apresentar algo novo. A partir destes defeitos, é natural entender a baixa bilheteria, que reflete a falta de sincronia com a atualidade.

  • Crítica | Horas de Desespero

    Crítica | Horas de Desespero

    Horas de Desespero - poster

    O cinema de ação da década de 80 fundamentou um estilo narrativo com grandes personagens e atores de destaque em histórias simples e lineares, baseadas no tradicional mocinho versus bandido para desenvolver o argumento, repetido em muitas outras tramas, com diversas cenas de ação ainda lembradas pela sua competência e certa extravagância. Atores baseados em um porte físico fundamentaram tais produções e, mesmo que as modificações temporais tenham acrescido novos atores e perfis para o gênero, o retorno ao estilo dessa época é inevitável e rentável, dada a nostalgia.

    Horas de Desespero marca o resgate deste estilo logo nas primeiras cenas de ação intensa, finalizadas com o  título do filme ampliando-se na cena, assemelhando-se a muitos outros feitos nesta era de ouro da ação. Em um primeiro momento, parece improvável que Owen Wilson, ator de comédias e sempre verborrágico em seus papéis, seja personagem principal em uma história de ação. Dirigido por John Erick Dowdle, a produção apresenta uma família que, após uma proposta de trabalho oferecida ao patriarca, muda-se para um país asiático fictício no mesmo dia em que o local sofre um golpe de estado.

    Na filmografia breve do diretor, o terror predomina como narrativa e, assim, o medo é utilizado como aliado para desenvolver a tensão nesta produção. Inserido em um país sem nome, o qual nem mesmo sabe a língua, o desconhecido é parte do desespero da família – composta por marido, esposa e duas filhas, um círculo de elementos frágeis que o obrigam a se tornar um obrigatório herói. Alguns críticos fizeram a leitura desta obra como uma ode à supremacia americana, rindo de países de terceiro mundo, com uma família tentando fugir deles. Porém, o roteiro assinado pelo diretor em parceria com Drew Dowdle usa este artificio de família em país estranho somente como ponto de tensão. A maneira plana a qual mocinhos e bandidos são apresentados, acrescidos pela urgência e medo da família, configura o enredo em uma trama de terror. Muda-se o contexto, mas a estrutura é a mesma. O medo ainda é um objeto específico, porém, em vez de um personagem inexistente, zumbis, vampiros e qualquer outros, utiliza um golpe de estado para tal.

    A crítica não parece o escopo desta história. A ação é pautada do começo ao fim e Dowdle utiliza recursos do gênero para intensificar suas cenas, dando vazão a câmeras lentas e eficientes, provando que o recurso usado em demasia nos últimos anos ainda pode ser visualmente coerente, além de cenas que acompanham um personagem em fuga com a família, colocando o público em primeiro plano para saltos, quedas e outras ações de fuga. São estas cenas bem trabalhadas que refletem ansiedade e tensão no público.

    Nesta composição hibrida entre a urgência e o medo do terror e a eficiência de uma trama de ação, Horas de Desespero entrega uma história que homenageia parte do estilo nostálgico da ação da década de 80 com um herói improvável em cena, porém, eficiente na proposta de um filme de entretenimento autêntico.

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  • Crítica | Um Amor a Cada Esquina

    Crítica | Um Amor a Cada Esquina

    Um Amor a Cada Esquina 1

    Após um período aproximado de dez anos sem lançar um filme, o premiado diretor Peter Bogdanovich, retorna suas forças para uma comédia romântica estilosa, que lembra bastante a fase áurea de Woody Allen no gênero. Um Amor a Cada Esquina acompanha os relatos de Isabella Patterson (Imogen Poots), uma moça que usa da verborragia para se expressar, e que começa um conto sobre como a própria largou o ofício de prostituta para então, tentar a sorte como atriz.

    As confissões ocorrem em um consultório psicanalítico, semelhantes em espírito ao processo de espiação de pecados ocorrido na igreja católica. Patterson fala então de seu envolvimento no passado com Arnold Albertson (Owen Wilson), um homem solitário sentimentalmente que depois de fazer uso de seus trabalhos como prostituta, resolve convidá-la a sair, começando a partir dali a se importar com seus sonhos, de tentar ser atriz. O motivo dessa importância é bastante óbvio, já que Arnold é um diretor de teatro, entediado com seu casamento malfadado. A resolução dele envolve gastar 30 mil para que a moça largue o atual ofício e se dedique a se tornar uma atriz, de fato.

    O roteiro de Bogdanovich e Louise Stratten se desconstrói com menos de trinta minutos, revelando que o ato de “desapego” não era isolado já que ocorreu outras vezes para o diretor e tampouco inspirado já que ele ajudou moças com outros interesses, compondo assim uma prática comum de um sujeito cuja monotonia frequentemente invade sua rotina, fazendo dele e dos demais personagens que o cercam criaturas dignas de pena, mas não de torcida ou apego.

    Exceto Arnold e Isabella, que são trabalhados anteriormente, os outros personagens se valem de arquétipos, tendo poucas das suas características reveladas, o suficiente para cada um ter sua importância dentro do cenário romântico/amoroso complicado, com intenções escusas se misturando ao desejo.

    O personagem que se diferencia do trivial é a atriz e esposa de Arnold, Delta, vivida por uma (cada vez mais) inspirada Kathryn Hahn que, ao se descobrir traída, tem uma série de atitudes cujo estado emocional condiz em excesso com todo o desrespeito que sofre. Bogdanovich consegue se reinventar, após tanto tempo longe das câmeras, reunindo em sua comédia um humor não escrachado, condizente com o moderno cinema dos membros da produção executiva Wes Anderson e Noah Baumbach, digerindo o cinema desses para fazer algo com identidade própria e com um magnetismo hiperbólico.

  • Crítica | Para O Que Der e Vier

    Crítica | Para O Que Der e Vier

    Para O Que Der e Vier 1

    Começando como um monólogo, a criação de Matthew Weiner narra as desventuras emocionais de Steve Dallas (Owen Wilson), que faz total questão de explicar para cada um dos seus pares sexuais as razões que o fazem optar pela solteirice e completa ausência de apreço a uma vida de compromissos amorosos. Mesmo neste primeiro momento, não se esconde o quão miserável é a sua vivência, ainda que o escopo seja muito mais agridoce que melancólico.

    Logo, Dallas tem um estranho reencontro com seu amigo de infância, Ben Barker (Zach Galifianakis), recebido de maneira agressiva e paranoica, remetendo ao comum aspecto que o fumo da maconha causa em alguns seres. Uma simples análise do ambiente ao redor de Barker revela uma tardia imaturidade, já que todo o cenário de seu quarto lembra o aspecto grotesco e pitoresco de um adolescente em idade pré-universitária, longe de qualquer preocupação mais rebuscada, comum a qualquer ser humano de rotina adulta.

    O cotidiano de Steve é repleto de atitudes banais e egoístas. Seus serviços como apresentador de um jornal local revelam uma enorme irresponsabilidade de sua parte, não tendo qualquer compromisso com prazos e horários, tanto que o chamado à aventura com seu amigo é aceito de bom grado, sem qualquer discussão. Sem jeito, a dupla faz uma viagem de carro para presenciar o enterro de Mister Barker, e ter a assustadora surpresa de ser Ben o seu maior beneficiário, a despeito de sua irmã Terri (Amy Poehler) e de sua bela madrasta Angela (Laura Ramsey), que foram muito mais presentes na vida do patriarca.

    A paranoia segue como comportamento padrão de Ben, já que ao receber o prêmio ele acha que aquilo é mais um artifício de seu pai para controlá-lo. A maturidade chega perto de acometê-lo ao decidir mudar seu estilo de vida, ainda que não saiba qual o direcionamento correto, nem para si e menos ainda para a pequena fortuna de que agora era dono. Mas a completa falta de noção faz o personagem enveredar por caminhos dionisíacos, tentando sem qualquer base teórica fundar uma ONG para mudar o mundo.

    Os trôpegos passos do confuso homem de meia-idade são observados por Angela e ao longe por Steve. Pioram-se os imbróglios familiares de sua irmã, que tenta restringir legalmente o uso do dinheiro herdado, visto que ainda é movida pela mágoa que sente de sua “mãe substituta”. A complexidade da estrutura familiar conservadora é prontamente debochada por um roteiro que teima em não se levar a sério, apesar de tocar em questões bastante espinhosas.

    O roteiro de Weiner divaga um pouco, perdendo o ritmo interessante da metade para o final da obra, ocasionando um círculo vicioso que tenta em vão achar virtudes em suas personagens, imitando aspectos comuns da vida dos homens. O script consegue ser tão confuso quanta a psique do personagem de Galifianakis, e é bem intencionado em essência, mas repleto de erros de ação contínua, fruto, talvez, da inexperiência do autor em dirigir filmes.

    Em alguns pontos, o texto lembra demasiado as fitas que Nick Hornby ajudou a compor, especialmente pela inevitabilidade dos destinos dos espécimes apresentados, que tem em seu carisma o principal ponto louvável, já que o currículo destes está longe de acumular grandes feitos. As curvas finais do script revelam uma inesperada evolução da parte de Ben, movida por uma sequência de entrópicas relações, que, além de fazerem-no levantar, acabam por findar a boa interação que tinha com seu antigo parceiro. Ambos afastam-se de uma maneira até então inédita, necessária para as duas contrapartes terem finalmente uma evolução franca e sóbria. Um afastamento que flerta com o pieguismo, mas que se sustenta em uma forte mensagem edificante, algo condizente com toda a trajetória de Ben e Steve, até mesmo nos defeitos, com um saldo extremamente positivo.

  • Crítica | Vício Inerente

    Crítica | Vício Inerente

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    Assistir a este filme e decifrar seus signos narrativos é assistir a uma esponja absorvendo um balde d’água de dois litros: uma especulação angustiante e estranha. Paul Thomas Anderson, o cineasta pós-Sangue Negro e o ultra-autoral O Mestre, não parece mais, finalmente, ter a necessidade de impressionar ninguém, o que é tão bom quanto ruim, e faz seu filme mais erótico até agora – esqueça Boogie Nights: Prazer Sem Limites.

    Vício Inerente é anos 70, é trilha sonora de domingo, é Brian de Palma e Jim Jarmusch em algum lugar do cinema ítalo-americano daquela época, perdido ou integrado informalmente em pleno 2015. Não é de se surpreender o estranhamento, não só pela forma e essência, atemporal e universal, mas principalmente estrutural, numa abordagem tão literária quanto fluida e linear, evitando ser episódica, o que poderia tornar confusa a trama já confusa – de propósito e no bom sentido, no melhor sentido, na verdade. Temos na história todos os elementos e recursos de uma investigação filmada: conversas misteriosas em ruas sombrias, figuras cômicas de tão inusitadas, diálogos que sugerem mais do que revelam, policiais, suspeitos, etc. O quanto esses recursos são usados pelo artista, e como são interpretados a favor de um contexto policial, é a aliança que consagra o filme e garante uma boa impressão no final, ainda que não tão boa e poderosa quanto outros filmes do seu diretor, isso é indiscutível.

    A energia de Magnólia vai pra debaixo dos panos e surge a paranoia, por exemplo, extra e intertextual no filme, feito em Embriagado de Amor, comédia romântica cheia de segundas e terceiras intenções e que muito tem a ver com a história de Doc, personagem fantasmagórico de Joaquim Phoenix, perfeito debaixo da peruca afro e óculos escuros. Um agente policial mais interessado em ser primeiro o símbolo de sua época libertária e depois resolver o desaparecimento de um milionário, em meio a um painel de contatos e informantes que contribuem mais com a trama imprevisível e tortuosa do que com a responsabilidade de ser coadjuvantes em torno de Doc, talvez a figura mais icônica do Cinema de Anderson depois do petroleiro Daniel Plainview.

    Martin Scorsese e Michael Mann, dois dos maiores diretores americanos em atividade, filmam a América escancarada, nua e crua tanto em forma, tanto em alma emergencial, como se o mundo (ou o país) fosse explodir amanhã, e um último registro precisasse e devesse ser filmado já, como um atestado rupestre em vídeo a ser imortalizado. Anderson, não; filma o que já passou para entender o presente filmado pelos outros. Mas isso não quer dizer nada, não a longo prazo. O que importa e engrossa o caldo é a relevância que ele, Tarantino e outros filhos dos anos 90 dão ao processo de revitalização do cinema americano, quase perdendo o posto de ser um dos melhores do mundo. Mas se ainda é, é por causa de gente assim, que aposta no próprio poder de persuasão artística e cultural para convencer o público que ainda vale a pena assistir a filmes como O Lobo de Wall Street, Colateral, Django Livre e Vício Inerente, somados no retrato nacional de um estilo de vida. Doc é a personificação desse estilo: vivo, porém na beira da overdose.

    O filme parece ser improvisado naquela abordagem de época já comentada, apesar de que fica claro ser o bom roteiro adaptado que sustenta suas cafonices deliciosas e bem-vindas, até o final, numa bela conversa conclusiva sobre o amor e suas contradições. Mas Vício Inerente não é suas contradições: é adaptação, inclusive a nossa, de uma plateia pós-moderna assistindo a glórias e pesares de uma época precoce, diante de uma ex-realidade que a atual deve muito de seus vícios e fraturas, vitórias e valores por mais ambíguos que tudo isso possa ser. Não é tampouco um livro filmado ou folhetim de um crime: é, isso sim, o romance homônimo publicado por Thomas Pynchon em 2009, tratado na tela de forma moderna, sem limitações de mídia que não poderíamos esperar de quem adaptou de forma épica o romance de Upton Sinclar, em 2008. Alguém achou que juntar Os Infiltrados com Embriagado de Amor era uma boa ideia. Talvez a obra de Pynchon não precise ter o mesmo poder e escala dados ao livro de Sinclair, por mais viciante que foi aquela força profunda molhada de petróleo, aqui cheirando a maconha e com 1/3 da profundidade. O problema é que o filme não se leva a sério, quando Anderson tem talento o bastante para ser pretensioso numa boa.

  • Crítica | Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba

    Crítica | Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba

    Uma Noite no Museu 3 - O Segredo da Tumba

    Poucas trilogias mantêm a qualidade e sucesso nas três partes de suas histórias. Mesmo grandes produções, como O Poderoso Chefão e De Volta Para o Futuro, apresentaram oscilações. Normalmente, ao nos referirmos a trilogias, o último ato sempre é o mais difícil de ser bem executado. À exceção, talvez, de O Retorno do Rei, na trilogia O Senhor dos Anéis, o melhor dos três e grande desfecho da saga. Realizar três histórias diferentes com a mesma qualidade é um processo difícil, ainda mais quando as três produções são desenvolvidas de maneira separada, sem nenhum plano inicial de conduzir continuações, mas que, devido ao sucesso de público, ganham mais uma história nas telas.

    Nestes casos, observamos um padrão entre cada parte de uma trilogia. Normalmente, o segundo filme reconta a história do primeiro de maneira levemente diferenciada e maior, muitas vezes cometendo excessos para entregar algo a mais ao público. Por consequência, se a continuação recebeu críticas negativas, sua terceira parte tenta equilibrar-se nos acertos anteriores, evitar erros e tornar competente o desfecho.

    Esta proposição pode ser vista na trilogia Uma Noite no Museu, a franquia mais familiar do comediante Ben Stiller. Após o primeiro filme, que trabalhava com simplicidade uma história lúdica e mágica, sua sequência apresentou excesso de novos personagens e cenários que desequilibraram a narrativa, resultando em um filme inferior. Eis que Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba evita o excesso de novas personagens, mantendo os conhecidos e cativantes integrantes do Museu em uma nova aventura que decidirá o destino de cada um deles.

    Shawn Levy assume novamente a direção nesta produção que enfoca o trabalho do vigia noturno Larry Dayle em um museu de história natural. Um local onde, durante a noite, as personagens históricas ganham vida graças à magia da Pedra de Ahkmenrah. Devido a uma corrosão que surge na peça, Larry viaja até Londres para pedir ajuda ao Faraó Merenkahre, o criador do artefato.

    A produção começa com um pequeno prólogo em uma escavação do Egito, quando um garoto acidentalmente encontra a tumba onde está a pedra. Durante muito tempo, este mesmo garoto seria o guardião noturno do museu, um dos antigos vigias que retorna à história quando Larry procura-o para pedir informações sobre o artefato. Enquanto lida com este problema do museu, Dayle tem problemas com o filho, decidido em não seguir nenhuma carreira acadêmica. Um conflito paternal explorado além da aventura.

    Como na história anterior, as personagens necessitam explorar um novo museu e se deparam com novos objetos que ganham vida devido à Pedra de Ahkmenrah. Ao contrário do excesso de personalidades de Uma Noite no Museu 2, somente um novo personagem acompanha a jornada dos heróis: o famoso cavaleiro Lancelot. A adesão da figura nobre à trama promove humor e ajuda a intensificar as cenas de aventura e ação. O museu britânico é limitado a poucas áreas, o que se evita o surgimento de outros personagens, mas ainda apresentando novos monumentos em cenas pontuais, principalmente porque há salas específicas para diversos países e regiões. Sem deixar de lado o acervo grandioso do museu, a história destaca a litografia Relativity, de M. C. Escher, e ainda inova uma cena de batalha encenada dentro do quadro com suas diversas visões de perspectiva e tridimensionalidade (um dos pôsteres de divulgação utilizou o quadro em cena).

    A trama dosa a aventura e o lado familiar, afinal trata-se de um filme feito para um público amplo, de crianças a adultos. As cenas de humor são simples, com um tipo de riso que é provocado sem agressividade. Um estilo de produção que não busca nenhuma invenção, mas segue uma cartilha própria, consagrada nas histórias anteriores e com personagens queridos do público.

    A produção marcou a despedida de Robin Williams, sendo esse o último filme estrelado pelo comediante. Alguns críticos apontaram que sua morte modificou levemente a estrutura desta obra, que adquire um tom mais maduro e sensível em seu ato final. As últimas falas do Presidente Teddy Roosevelt dialogam sobre o fim e o início de novos caminhos, a sensação de desconhecimento sobre o futuro que seria benéfica devido às suas muitas possibilidades. Uma realidade que gera outra carga a essas palavras. O público anula momentaneamente a diferença entre personagem e ator para, com emoção, se despedir do próprio Williams na figura do presidente. O adeus a um ator que sai de cena da mesma maneira que entrou nos palcos: em um papel cômico, demonstrando que conduziu sua vida até o fim na esperança de trazer o riso aos outros.

    Neste misto de comédia, história familiar e leve drama dentro e fora das telas, Uma Noite no Museu 3 realiza um desfecho com qualidade a uma história simples, sem muitas pretensões, mas que cativou o público principalmente pelo jogo cênico de personagens históricas, dialogando entre si, e o humor acessível de Ben Stiller.

  • Crítica | O Grande Hotel Budapeste

    Crítica | O Grande Hotel Budapeste

    o grande hotel budapeste

    O Cinema de Wes Anderson, sendo a arte antes do artista, é claro, é um corredor de pinturas, uma ida ao museu numa tarde chuvosa onde não há mais nada a se fazer senão apreciar a viagem histórica. O cineasta tem a preferência de centralizar seus mundos enquanto expande os significados deles através de uma simbologia única em nível de identificação universal. Mundos onde todos os personagens são totalmente imprescindíveis à história ao mesmo tempo em que são totalmente desnecessários à narrativa em retalhos: substituíveis e relevantes ao mesmo tempo. O Grande Hotel Budapeste é o Cinema de Jacques Tati e Stanley Kubrick feito para todas as idades e mentalidades. Lindo, matemático, extremamente planejado em planos cênicos milimétricos, mas não é superficial em toda a sua estilização, afinal de contas, apenas por denunciar a beleza existencial do mundo a partir dos valores humanos de cada vida vinculada à teia apresentada.

    Até porque Anderson tem olho clínico e confiança de chamar atores do mais alto nível, assim como semi-desconhecidos, para interpretar figuras icônicas que pertencem a mentes de pessoas como Alan Moore, genial escritor inglês e famoso por sua excentricidade. Logo no começo de Budapeste, percebemos os traços marcantes da filmografia do diretor de Moonrise Kingdom, seja na (ótima) direção de arte, seja na atmosfera visual ou na musicalidade inocente e eclética de sempre. Enfim, temos, ao longo de uma hora e meia de projeção, a desconfiança da releitura artística que o filme vem a ser, na real, muito antes do clímax esperado.

    Releitura devido ao ponto alto da carreira que o cineasta já conseguiu alcançar “por acaso” é onde repousa seu belo e extravagante hotel. Um cume no qual não carece mais provar seus talentos e visão pessoal a mais ninguém, vide a falta de pretensão, de autoestima, e de altos e baixos de uma energia linear e constante ou mesmo de alguma dose de seriedade da história de corre-corre e de amizades inesperadas pelos caminhos. Veredas a partir e muito além dos corredores e escadas sinuosas do edifício homônimo.

    A fusão entre realidade e realidade particular pode ser uma das explicações para definir a arte de cada um; o Cinema, inclusive, o qual muitos chamam de “a arte completa” por ser justamente a fusão da maioria delas. Seja como for, e sem mais delongas, Anderson e seu elenco espetacular – Tilda Swinton aparece 5 minutos depois do início do filme, durante 60 segundos apenas, e é tão impressionante sua participação que a projeção poderia terminar com sua saída e tudo seria maravilhoso do mesmo jeito – defendem a teoria que abre este último parágrafo na aurora de uma realidade particular, a que todos nós aprendemos a amar, cada um à sua maneira, e que muito completa a verdadeira realidade das coisas.