Tag: Amy Poehler

  • Crítica | Irmãs

    Crítica | Irmãs

    Irmãs 1

    A parceria entre Tina Fey e Amy Poehler é de longa data, com picos de qualidade positiva dentro do formato do Saturday Night Live e alguns filmes que Fey escrevia/produzia, normalmente com pequenas participações da protagonista de Parks & Recreation, como em Meninas Malvadas. A surpresa positiva em Irmãs é a feitoria do roteiro, muito bem amarrado e certeiro, escrito por Paula Pell, estreante em longas-metragens e antiga colaboradora da dupla feminina no programa sabatino, de onde já se via uma acidez textual interessante e já carismática.

    Outra surpresa positiva é o frescor da direção de Jason Moore, que somente havia realizado A Escolha Perfeita enquanto cineasta. A condução da relação entre as personagens fraternas Maura e Jane Ellis (Poehler e Fey, respectivamente) é funcional e engraçada desde a primeira aparição de ambas, superando a química bem estabelecida em Uma Mãe Para o Meu Bebê. O chamado à aventura começa com a notícia de que os pais pretendem vender a casa onde ambas cresceram, e se desenvolve então uma jornada de despedida daquele local e também de algumas emoções mal resolvidas.

    A disposição das irmãs é bastante diferente. Jane era a típica festeira, sexualmente ativa e precoce, que logo teve uma filha e que parece não ter amadurecido muito desde a adolescência até a meia-idade, enquanto Maura sempre foi regrada e se encontra em um divórcio recente. Ambas se complementam e tem problemas diferenciados, com questões que aparentam longe de solução e que pioram pela falta de sinceridade das duas.

    A comédia mora nas situações impossíveis de acontecer, na tentativa de resgatar o tempo da juventude em torno de uma festa de despedida na antiga casada. Toda a trupe de ex-jovens se reúne para chorar mágoas, tentar esquecer a rotina massacrante como pais de famílias enfadonhos e, claro, para tentar resgatar a memória de uma época em que a mediocridade suburbana não era o alvo de todos. Aos poucos, se desenvolve uma trajetória errática e destruidora do conservadorismo típico da vida adulta, conseguindo fugir do conceito politicamente correto mas não sendo ofensivo a qualquer minoria.

    Irmãs se localiza em semelhança temática com Projeto X e o “clássico” Se Beber, Não Case, sendo uma versão feminina mais agressiva e pontual do que Operação Madrinha de Casamento, e sem gratuidades escatológicas tão certeiras. A brincadeira com as desventuras sexuais, recalques mentais, cotidiano entediante e falta de perspectivas é muito bem manobrada, mostrando o episódio fílmico como um evento de intervalo, como mais uma pausa na vida real que não é abandonada e uma fuga eterna da existência, com um humor que cada vez mais ganha força dentro do cinema norte-americano, surpreendendo pelo brilho intenso de Amy Poehler enquanto intérprete, especialmente para quem não costuma assistir à sua antiga série. Filme engraçado que passa mensagens sobre envelhecimento, amadurecimento, dificuldades em mudar de natureza e evoluir sem perder a identidade.

  • Crítica | Divertida Mente

    Crítica | Divertida Mente

    Tomando como base a irresistível jornada que é o processo de crescimento, Divertida Mente ultrapassa o infeliz trocadilho de sua tradução para apresentar uma trama adulta, apesar da premissa de ser um filme para crianças. O filme de Pete Docter relembra muitos dos aspectos profundos de UP: Altas Aventuras e Monstros S.A. através de um panorama maduro sobre a psique humana concentrando-se na mente de Rilley (Kaitlyn Dias), uma menina de onze anos, às portas da adolescência e com uma intensa trajetória para começar.

    A história é narrada a partir dos conflitantes sentimentos e sensações que predominam na cabeça da menina que são liderados pelo aspecto da Alegria (Amy Poehler), da Tristeza (Phyllis Smith), Medo (Bill Hader), Raiva (Lewis Black) e do Nojinho (Mindy Kaling), o que já demonstra a escola de humor a que o filme se refere, como uma alegoria à versão americana de The Office e seus spin-offs. A trama é basicamente uma bela busca por identidade ainda na fase infantil.

    Apesar do flerte com o psicologismo barato, e da dublagem brasileira, que utiliza-se excessivamente de gírias atuais, a mensagem de que a base de uma vida saudável é a família é importante, por ser uma fita destinada ao espectador infantil. O campo de memórias tona-se a base do cenário e das desventuras, graças a uma sequências de trapalhadas típicas de uma odisseia de sensibilidade: no caso, uma mente conturbada por uma crescente injeção de hormônios, típicos desta fase da vida.

    É curioso notar como funciona o comando sentimental na cabeça de tantos outros personagens. A matriarca da família é passiva e comandada a priori pela Tristeza, enquanto o despreocupado e às vezes relapso pai – fruto, em geral, da criação do americano médio – é operado pela Raiva, o que causa um desequilíbrio interessante no cerne da família, garantindo uma diversidade que faz eco com a rebeldia sem causa da menina.

    Após algumas desventuras envolvendo as personagens centrais, Alegria e Tristeza, que viajam pela mente da Riley fora da sala de comando (a zona de conforto de ambas), a atmosfera muda, da extrema felicidade para tons mais agridoces. A viagem pela psique revela um acinzamento das memórias e do caráter, consequência da maturação de sua mentalidade. O equilíbrio entre alegria e tristeza se faz fundamental.

    O modo de retratar o subconsciente é interessantíssimo. Um lugar recôndito, escuro, em breu absoluto, que piora a sensação do processo difícil que é o crescer. A personagem de Philly Smith tem o estranho poder de tudo parar, modificar os paradigmas mesmo quando a esperança acaba. A Tristeza é entendida por sua contraparte como um aspecto de suma importância, e não mais algo a ser ignorado, já que é ela que serve de catalisadora da mudança.

    A mensagem final do roteiro de Docter, Josh Cooley e Meg LeFauve mostra a fugaz retirada da ingenuidade e o tímido começo da construção de caráter e do ethos, de maneira tocante e até profunda. Divertida Mente é uma metáfora para as inexoráveis agruras da vida, e o realizador conduz tudo de modo bem urdido e repleto de ternura, aludindo ao público mais adulto sem se descuidar do infanto-juvenil, abrangendo ambas as plateias, como na maioria dos clássicos da Pixar.

  • Crítica | Para O Que Der e Vier

    Crítica | Para O Que Der e Vier

    Para O Que Der e Vier 1

    Começando como um monólogo, a criação de Matthew Weiner narra as desventuras emocionais de Steve Dallas (Owen Wilson), que faz total questão de explicar para cada um dos seus pares sexuais as razões que o fazem optar pela solteirice e completa ausência de apreço a uma vida de compromissos amorosos. Mesmo neste primeiro momento, não se esconde o quão miserável é a sua vivência, ainda que o escopo seja muito mais agridoce que melancólico.

    Logo, Dallas tem um estranho reencontro com seu amigo de infância, Ben Barker (Zach Galifianakis), recebido de maneira agressiva e paranoica, remetendo ao comum aspecto que o fumo da maconha causa em alguns seres. Uma simples análise do ambiente ao redor de Barker revela uma tardia imaturidade, já que todo o cenário de seu quarto lembra o aspecto grotesco e pitoresco de um adolescente em idade pré-universitária, longe de qualquer preocupação mais rebuscada, comum a qualquer ser humano de rotina adulta.

    O cotidiano de Steve é repleto de atitudes banais e egoístas. Seus serviços como apresentador de um jornal local revelam uma enorme irresponsabilidade de sua parte, não tendo qualquer compromisso com prazos e horários, tanto que o chamado à aventura com seu amigo é aceito de bom grado, sem qualquer discussão. Sem jeito, a dupla faz uma viagem de carro para presenciar o enterro de Mister Barker, e ter a assustadora surpresa de ser Ben o seu maior beneficiário, a despeito de sua irmã Terri (Amy Poehler) e de sua bela madrasta Angela (Laura Ramsey), que foram muito mais presentes na vida do patriarca.

    A paranoia segue como comportamento padrão de Ben, já que ao receber o prêmio ele acha que aquilo é mais um artifício de seu pai para controlá-lo. A maturidade chega perto de acometê-lo ao decidir mudar seu estilo de vida, ainda que não saiba qual o direcionamento correto, nem para si e menos ainda para a pequena fortuna de que agora era dono. Mas a completa falta de noção faz o personagem enveredar por caminhos dionisíacos, tentando sem qualquer base teórica fundar uma ONG para mudar o mundo.

    Os trôpegos passos do confuso homem de meia-idade são observados por Angela e ao longe por Steve. Pioram-se os imbróglios familiares de sua irmã, que tenta restringir legalmente o uso do dinheiro herdado, visto que ainda é movida pela mágoa que sente de sua “mãe substituta”. A complexidade da estrutura familiar conservadora é prontamente debochada por um roteiro que teima em não se levar a sério, apesar de tocar em questões bastante espinhosas.

    O roteiro de Weiner divaga um pouco, perdendo o ritmo interessante da metade para o final da obra, ocasionando um círculo vicioso que tenta em vão achar virtudes em suas personagens, imitando aspectos comuns da vida dos homens. O script consegue ser tão confuso quanta a psique do personagem de Galifianakis, e é bem intencionado em essência, mas repleto de erros de ação contínua, fruto, talvez, da inexperiência do autor em dirigir filmes.

    Em alguns pontos, o texto lembra demasiado as fitas que Nick Hornby ajudou a compor, especialmente pela inevitabilidade dos destinos dos espécimes apresentados, que tem em seu carisma o principal ponto louvável, já que o currículo destes está longe de acumular grandes feitos. As curvas finais do script revelam uma inesperada evolução da parte de Ben, movida por uma sequência de entrópicas relações, que, além de fazerem-no levantar, acabam por findar a boa interação que tinha com seu antigo parceiro. Ambos afastam-se de uma maneira até então inédita, necessária para as duas contrapartes terem finalmente uma evolução franca e sóbria. Um afastamento que flerta com o pieguismo, mas que se sustenta em uma forte mensagem edificante, algo condizente com toda a trajetória de Ben e Steve, até mesmo nos defeitos, com um saldo extremamente positivo.