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  • Crítica | O Diretor e o Jedi

    Crítica | O Diretor e o Jedi

    O começo do documentário em longa metragem de Anthony Wonke se dá em meio a um discurso de Rian Johnson, de que ele conduziria o episódio 8 da franquia, o famigerado Os Últimos Jedi, filme esse que foi muito criticado por boa parte da fanbase. O Diretor e o Jedi brinca inicialmente com toda a expectativa prévia ao filme, mas não demora a mostrar os bastidores, do diretor e roteirista discutindo e ensaiando as cenas com Daisy Ridley e Mark Hammil, na intimidade de seu lar, junto ao produtor Ram Bergman.

    Desde o início se percebe que esse não seria um documentário em making off ao estilo dos featurettes encomendados pelos estúdios e que passam no Youtube e passavam antes nos canais como MTV ou TNT, há realmente uma preocupação em investigar a origem das idéias e o modo como Johnson tentou orquestrar desde as cenas com maquetes, até as de CGI ou as que tem atores dentro de roupas que emulam alienígenas.

    Para sanar a dúvida dos fãs  da franquia, que não acreditavam que Johnson realmente tinha liberdade para escrever o que bem entendesse, há uma cena que discute o momento imediatamente posterior ao final de O Despertar Da Força, com Luke recebendo seu sabre clássico, jogando-o de lado. Após explicar as razões para Hammil do porque ele faz isso, há cena imediatamente após isso, em que o interprete de Luke deixa claro o seu descontentamento com o rumo da historia assim como a divergência com aqueles fatos. Esse discordar foi aberta a imprensa e as redes sociais do ator e o fato de Wonke abordar isso em seu filme é algo realmente corajoso e ousado, uma vez que o filme analisado passou por um processo polêmico de analise da crítica e publico.

    O filme não se limita a mostrar as cenas in loco em Skelling Michael, a ilha na costa da Irlanda que serviu de cenário para o isolamento de Skywalker, ou as cenas de treinamento com sabre de Daisy, mas também mostra  o uso dos animatronicos de escala grande, além de não necessitar das narrações mega enfadonhas que geralmente ocorriam nos extras e materiais especiais da trilogia prequel e clássica. Há uma leve influencia de Império dos Sonhos, filme de Kevin Burns que falava a respeito de Star Wars, Império Contra Ataca e Retorno de Jedi além do fenômeno da saga como um todo, mas a inspiração é muito mais no espírito do que no formato, há a ideia sim de mostrar que um cinema lendário estava ali sendo registrado, mas não há necessidade dourar a pílula, tampouco fingir que não houveram tensões ao construir uma obra envolvendo tanto ego, vaidade, dinheiro e paixão de fãs.

    O reencontro de Mark Hammil com Frank Oz é bem legal, e claramente ambos se emocionaram ao se reencontrarem depois de tanto tempo. Outro momento que também consterna o publico são as partes que mostram Carrie Fisher, e o diretor acerta muito ao não tentar criar um clima solene com o fato dela não poder mais participar da franquia.

    O Diretor e o Jedi investiga a gênese não só da direção de Johnson, mas também os primórdios de seu roteiro e as idéias que o fizeram chegar a esse ponto da história, massificando a ousadia do diretor que resolveu não seguir cartilha nenhuma ao construir sua historia, avançando sobre a mitologia de Guerra Nas Estrelas sem receio de incomodar fãs, e o fato de não condescendente nem com filme nem com o artista faz com que o trabalho documental soe bastante digno e honesto em seus esforços.

    https://www.youtube.com/watch?v=MQ-5YoytZDc

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  • Os Bastidores, Detalhes e As Mudanças de George Lucas em Star Wars

    Os Bastidores, Detalhes e As Mudanças de George Lucas em Star Wars

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    Desde 1997,  passados 20 anos da primeira vez em que a abertura da 20th Century Fox quase se mesclava com a música de John Williams e os letreiros amarelos prenunciando o intenso conflito entre rebeldes e o Império, há ainda o mesmo assombro do público com o Star Destroyer Cruzader invadindo o espaço atrás da nave Tative IV ao perceber novas mudanças em meio aos três filmes clássicos – e canônicos – de Mister George Lucas.

    O aspecto que talvez não esteja claro para o aficionado atual – ainda mais o alienado – era todo o cenário cinzento que ocorria nos anos 1970. Graças a fatores como Watergate, a Guerra do Vietnã e muitos outros eventos históricos, a maior parte do público americano consumia fitas protagonizadas por anti-heróis, homens talhados pela vida, que se valiam de drogas e bebidas para fazer aplacar a sua miséria existencial.

    Em meio a tantos outros expoentes do futuro cinema, com De Palma, Coppola, Scorsese e De Palma, Lucas surgia como um homem que apontava para outras vertentes, ainda que seu THX-1138 – tanto o curta, quanto o longa- fossem produtos da mesma depressão emocional que inspirava os seus contemporâneos, havia nele a vontade de resgatar tempos mais simples, o que o fez realizar seu American Grafitti – ou Loucuras de Verão, na tradução brasileira. No entanto, ainda faltava algo, já que o jovem diretor não gostava das interferências e intervenções que os produtores faziam em seus dois longas-metragens lançados.

    A descoberta de Joseph Campbell e seu livro O Herói de Mil Faces ajudou o contador de histórias a organizar sua epopeia, se valendo do monomito para tal, um conceito que resume a tradição retórica e oral no “contar histórias”, usando arquétipos que facilitariam o diálogo com o público, ainda que alguns desses detalhes fossem ligeiramente diferentes em Star Wars, especialmente em relação à “donzela em perigo” da Princesa Leia de Carrie Fischer, que, apesar de estar encarcerada, não era exatamente a figura feminina sem ação.

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    Mesmo os terríveis erros de direção, especialmente nas cenas de tiroteios, onde charmosamente se apresentavam dois droids praticamente invulneráveis – e que serviriam de alívio cômico durante três filmes e, claro, a pontaria sempre certeira da cônsul e princesa Leia Organa – traziam um extrema simpatia para a versão de 1977 de Uma Nova Esperança. Misturadas ao caráter dúbio da perseguição de Darth Vader aos resquícios da Aliança Rebelde (até então um rumor, aos olhos do poderoso governo totalitário), as coincidências convenientes se diluíram, não precisando ser desnecessariamente revistas e remontadas.

    Curioso é que George Lucas não mexeu nos erros mais crassos de seus roteiros, e sim no que poderia soar flagrante aos olhos do público mais conservador. A falta de coragem e dificuldade em seguir em frente acabaram por fazer o antes promissor cineasta se tornar um bilionário enfadado, entediado, sempre preocupado em agradar às plateias que o rejeitaram antes, em detrimento do público que sempre lhe foi fiel, e que se agigantou graças à popularidade.

    Lucas se tornaria o avesso de Luke: enquanto o jovem fazendeiro buscava a possibilidade de novas aventuras, lutando contra o status quo, seu criador faria basicamente o exercício de regurgitar o trabalho que o tornou famoso, não conseguindo sair da prisão em que ele próprio se impôs. As boas ideias de Star Wars teriam vindo de criadores mais inteligentes e experimentados, na concepção de alguns fãs ranzinzas, reunindo as intenções dignas de Kurosawa, Flash Gordon, Frank Herbert e afins.

    As dificuldades em gravar começaram pelos problemas com clima, com uma tempestade de areia terrível na Tunísia, que destruiu grande parte dos cenários de Tatooine. O caos se instaurou e por pouco a franquia não parou antes mesmo de começar, já que a maioria dos atores reclama o tempo inteiro, exceção feita a Alec Guinness, que apesar de não acreditar em nada na história, era o mais profissional e experiente do elenco.

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    A versão “desespecializada”, compilada a partir de rips dos Blu-rays da antiga trilogia executada por fãs inconformados com tantas mudanças em pós lançamento, faz lembrar o quão épica era a ideia inicial do jovem diretor e roteirista nascido em Modesto Califórnia. Desde a tragédia que acometeu os tios adotivos de Skywalker, até o encontro com Obi-Wan “Ben” Kenobi – que emula os grandes mestres dos samurais, ainda que seja muito mais ativo do que o costume dos homens sábios –, e, claro, o caminho até Alderaan, incluindo a recusa de Luke e aceitação de seu destino, algo já desejado antes, são elementos que deram forma aos escritos de Campbell, um manifesto que ainda não era tão banalizado quanto atualmente é.

    A burocracia tomou conta daquele universo e manifestou-se de forma brutal através do conselho que responde ao almirante Grand Moff Tarkin, de Peter Cushing, um dos homens fortes do governo tirânico e que acabou de dissolver o conselho de senadores, talvez o último bastião da antiga república. A derrubada deste era na verdade um ato simbólico, uma última desculpa que visava justificar os desmandos do autointitulado Imperador.

    Skywalker era um personagem com o caráter em formação, tão inseguro quanto seu intérprete Mark Hammil, propenso a fugas e desobediências, e até a não ceder a desaforos. Tal característica seria comum – e ainda mais exacerbada – no Han Solo de Harrison Ford, que não sequer pensa em não desferir o primeiro “golpe” em seu opositor, Greedo, ao se ver na mira da morte. A atitude mais enérgica era pouco sutil e representava a mudança mais esdrúxula e criticada por quase todos os fãs, fator que retiraria do caçador de recompensa (e cafajeste) toda a sua atitude de anti-herói arrependido. O Solo que “atira depois” seria incapaz de improvisar junto a Luke e Chewie uma invasão a uma estação espacial impenetrável, bem como planejaria raptar a senadora que já era refém. A trinca de protagonistas ganharia o acréscimo da ardilosa Leia, que, sem saída, encontra uma rota improvisada, uma atitude típica de uma inconformada política.

    A fuga da Estrela da Morte abre precedente para duas questões interrogativas, a primeira em relação ao legado de Kenobi e a segunda em relação ao grupo de rebeldes, que ao se despedir do esquadrão Rogue usa a famosa frase “que a força esteja com você”, como incentivo para os pilotos/atiradores. É sabido que a religião dos Jedi estava em desuso, praticamente sepultada após a extinção da ordem anos antes, tendo em Vader seu único remanescente, ao menos de modo oficial. Os membros da aeronáutica rebelde teriam dito aquilo como mais uma atitude de resistência, onde o apego ao Divino seria o maior ato de revolta possível, em comparação com a burocracia adotada pelos que restaram da República.

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    Paul Hirsch e Richard Chew seriam fundamentais para o sucesso da empreitada de Lucas em Star Wars. Depois de terminar suas filmagens, e após deixar a maioria dos atores decepcionados com sua direção frouxa, que basicamente pedia mais intensidade e velocidade, George Lucas se via com problemas de prazo e com um corte de filme terrível em mãos. A saída foi demitir seu então editor, que se recusava (por motivos certos) a fazer o que ele queria, e então a dupla começou a “salvá-lo”. O problema maior é que este mérito premiado no Oscar fez ele criar o hábito de agir como diretor dentro da sala de direção, e não no set, fato que se agravaria de 1999 em diante.

    O resultado das primeiras impressões da recém-criada Industrial Light and Magic era terrível, e as acusações iam desde desleixo puro e simples até o desperdício de tempo somente com substâncias ilícitas, dada a caracterização hippie da maioria dos operários. A pressão fez o cineasta acelerar ainda mais os processos, além de encontrar em Ben Burtt e sua edição de som primorosa um fator que garantisse a maior parte da alma da trilogia. O maior mérito de Lucas, aliado a persistência do produtor Alan Ladd Jr., que quase perdeu seu emprego pela Fox por causa do filme, certamente foi conseguir reunir todas essas mentes inteligentes em torno do mesmo propósito, conseguindo harmonizar tudo isso de modo que ficasse realmente lendário, tão escapista quanto ele queria no início.

    A vitória dos mambembes soldados revoltosos sobre os ditames dos poderosos e bem armados membros do reinado sombrio é simbólico, remete a uma época mais simples, de luta entre o bem e o mal, como era na época da Segunda Guerra Mundial, em que aliados e o eixo se digladiavam. O resgate a essa temática se via necessário, diante da grande depressão que os Estados Unidos passavam, fato que também fez da série Rocky um sucesso. A ressalva resulta na questão do simplismo que seria imposto ao recém criado gênero de “blockbuster”, tencionado por Tubarão de Steven Spielberg, e fundamentado neste pelo merchandising que Lucas garantiu a si antes do fechamento de contrato, expandindo o conceito que se iniciou em Planeta dos Macacos e tornando profissional a comercialização de “bonecos” e demais produtos.

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    Em 1978, George Lucas parecia ter um cuidado maior com exposição de sua marca, já que Star War Holiday Especial foi defenestrado e recolhido, execrado por ele e negado sempre que se levantava a possibilidade da obra ter existido. Para todos os efeitos de discussão a respeito do que é cânone e do que é universo expandido na franquia, uma vez que o especial continha o elenco do primeiro filme. Dois anos após, a trajetória de Luke, Leia, Han, Chewbacca e os droides prosseguiria, com o anúncio de novos personagens a serem explorados.

    O Império Contra-Ataca começa nas planícies geladas de Hoth, provando que no universo Star Wars os planetas têm normalmente um só clima. A arenosa e calorenta Tatooine fora gravada na Tunísia, enquanto o planeta gelado que servia de base para os rebeldes, localizava-se em Finse, Noruega.

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    Dois fatores ajudaram a fundamentar mudanças na franquia, primeiro, o acidente que vitimou Hammil, deformando seu rosto, e outro dentro da própria trama, com o tema Marcha Imperial estreando, no que é possivelmente o maior marco musical de toda a saga. A entrega do roteiro nas mãos de Leigh Brackett e Lawrence Kasdan foi uma saída excelente, bem como a direção de Irvin Kershner, que suplanta muito bem os defeitos de George Lucas em ambos os aspectos. É na abordagem do trio que acontecem as cenas com maior tensão sexual da saga, entre Solo e Organa, além da lendária figura do mentor, vista na diminuta criatura que se apresenta para Luke.

    Dagobah serve de avatar da caverna de preparação do herói, o lugar para onde o protagonista recorre a fim de acumular conhecimento e se preparar para a grande batalha. Luke é um aluno arredio, complicado e incrédulo; possui vícios como a teimosia e arrogância, que não ficavam tão gritantes antes, mas que em ambiente isolado pioram demais. Com Yoda, Skywalker percebe que seu pior inimigo é ele mesmo, e ainda assim se deixa levar pela pressa e pela aproximação do perigo. A imprudência o faz agir instintivamente, indo atrás de seus amigos emboscados.

    A figura criada por Stuart Freeborn teria que ser mais convincente do que qualquer ator humano, e a liga de plástico só fez sentido graças ao ótimo manuseio de Frank Oz, que trazia sua experiência em Muppets para orquestrar um mestre zen esverdeado, diferente de tudo o que já existia. As lições de Yoda ecoariam pela eternidade, no personagem mais inspirado pensado por Lucas – ao menos no lado do Bem.

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    Grande parte dos méritos do segundo filme se dá pela distância de seu criador, que procurava outras locações. A bifurcação da trama, dividindo as ações em duas frentes, se assemelhava à divisão da Sociedade do Anel, no livro As Duas Torres, de J. R. R. Tolkien. Toda a parte passada em Bespin faz discutir as intenções de Han Solo, especialmente por compará-lo com o caráter de seu antigo amigo e aliado, Lando Calrissian (Billy Dee Williams), um antigo apostador que, por ter se “endireitado”, teme perder seus feitos.

    O roteiro de Empire Strikes Back é formado por sucessivos movimentos de traição, primeiro de Lando com Solo, depois, Lando com os lacaios de Vader – evidentemente por arrependimento, dada a quebra do acordo entre ambos – depois, no discurso do Darth junto ao seu filho, tencionando juntar as forças familiares contra o Imperador. A motivação dos personagens é carregada de duplicidade de pensamento e incertezas, gerando uma carga de ambiguidade até então desconhecida pelo maniqueísta projeto inicial. Além disso, o suspense e a tragédia são muito presentes nos momentos finais, deixando em aberto a sensação de que as forças malignas venceram, sem mais espaço para o otimismo desenfreado da encarnação anterior.

    Apesar da relação antiga entre Kershner e Lucas ser baseada no mesmo mote visto entre Obi-Wan e Luke, a cisão ocorreu, com acusações de “ruína do filme”, atrelada às mudanças que Kershner havia feito dentro da trama. Envolvido com outros aspectos da produção, o cineasta decidiu por seguir na descentralização de funções. A saída obrigatória do nome de Lucas do quadro do sindicato de roteiristas e diretores, se fez como represália à realização de seu filme de modo independente. O ressentimento por ter a audácia retribuída com isso fez com que Lucas se isolasse ainda mais, tendo de abrir mão de ter Spielberg como diretor, optando então por Richard Marquand, o mesmo de O Buraco da Agulha, baseado no livro de Ken Follet.

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    O Retorno de Jedi se inicia com o anúncio de que o Imperador visitará as instalações da nova Estrela da Morte – ainda em construção – e claro, o retorno da aventura a Tatooine, para encontrar Jabba the Hutt, que tem em seu poder o Capitão Solo, preso em carbonita, argumento utilizado no filme anterior para o caso de Ford não aceitar renovar seu contrato.

    A exploração do submundo de crimes de Tatooine é interessante, mostrando uma nova gama de personagens e criaturas, com um conjunto estranhíssimo de alienígenas, fato que deixa ainda mais claro o intenso racismo do Império, visto que quase não há criaturas não-humanas nas fileiras do exército dos poderosos, somente nas bordas da galáxias, nos subúrbios do universo.

    Outro ponto curioso é notar a evolução postural de Luke, tão convincente que se faz perguntar se ele não retornou ao planeta pantanoso nesse meio tempo. Fator destacável é a fraqueza de mente dos subalternos de Jabba, quase todos facilmente manipuláveis, exceção feita ao próprio chefão do crime e ao caçador de recompensas de visual interessante Boba Fett. A fragilidade é tanta dentro da instituição que a maioria dos personagens se infiltra sem quase dificuldade nenhuma,

    O decréscimo de qualidade é bastante notado, desde a descida de Skywalker a Dagobah, onde o antigo “mestre zen” está convalescendo, se despedindo melancolicamente do seu aluno, até a conclusão de que o treinamento que jamais foi findado, não o será graças a esta saída – metalinguagem para a decadência cinematográfico do tomo anterior para este. A aura de Retorno é muito mais sombria, não no aspecto fotografia, mas sim dos figurinos. O traje de Luke é negro, sua nova espada reluzente é esverdeada, e quase todos os cenários onde está são repletos de lodo e escuridão, mesmo quando está na lua de Endor.

    A problemática ocorre graças a gravidade das circunstâncias, algo que claramente poderia ser maior, tendo seu teor banalizado pelas aventuras semi-infantis com o ewoks, os “ursinhos irracionais” capazes de preparar armadilhas para os generais rebeldes e as tropas imperiais. É neste filme também que as cenas de amor constrangedoras começam a ocorrer, ainda que sejam muito menos incômodas do que nos filmes dos anos 2000.

    Outro fator complicado é a desnecessário sexualização de Carrie Fischer de sua personagem. Leia era uma personagem forte, feminina e operante no espectro político, tinha argumentos e justificativas corretas em relação à revolução e no debate da democracia. Se algo funcionava no confuso cenário de Star Wars, transformá-la em um bibelô, vestido em um biquíni dourado, faria ser lembrada mais por isso do que, por exemplo, ter sido ideia dela a fuga bem-sucedida da Estrela da Morte, e ainda seria motivo de piada em filmes B como Mortal Kombat. A diminuição da personagem é de uma covardia sem escrúpulos, fruto de uma ação provavelmente mal pensada da parte dos roteiristas, que não percebiam o sexismo bobo em que enfiavam a personagem, mesmo que tal ato tenha vindo de uma figura nojenta com Jabba.

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    Para compensar tal problema, há a construção da batalha espacial, entre a resistência e o poderoso governo tirânico. Um dos argumentos que justifica a construção tosca do ideário dos rebeldes é a tentativa de fortalecer a figura do Imperador interpretado por Ian McDiarmid, fortificando a teoria de que o Império só poderia perder para ele mesmo, e que o acerto dos “mocinhos” só ocorreu pela arrogância dos opositores, factoide que teoriza um dos motes principais de O Despertar da Força, e que serviu de base para inúmeras aventuras no Universo Expandido posterior à trilogia clássica.

    Star Wars é uma saga familiar, trata dos dramas caros a Anakin e Luke Skywalker, ao contrário do que foi vendido pela “nova” trilogia, de que seria a trajetória trôpega de um jedi que passou por ambos os lados da Força. A vitória final é em conjunto, entre Vader e seu filho, com o Darth derrotando seu antigo mestre, dando finalmente a chance aos revoltosos de acertar o âmago do seu inimigo. Mesmo os finais adocicados e cafonas, reunindo os aventureiros em torno da lua, não fazem o sacrifício dos personagens perder a força simbólica que ostentam. O fechamento da saga merecia um final melhor, o que motivou claramente Lucas a rever tudo, modificar o que achava equivocado, montando  equívocos ainda maiores para criar prequels tão fracassadas quanto os spin-offs focados nos ewoks. A força da trilogia original é tão grande que suplanta mesmo esses delitos e transgressões por parte de seu criador, que claramente tem problemas em perceber que sua história não pertence mas a si, e sim ao público que o fez rico, que trata de forma cara seu objeto de idolatria, e que segue mantendo carinho em um objeto que maltratou demais seus apreciadores, mas que prossegue vivo, claro, graças ao selvagem capitalismo visto nos produtos derivados. A obra se mantém ainda viva graças à magia da fábula que Campbell previu.

    A Força sobrevive, apesar de midi-chlorians, corridas de pods e piadas, além do Universo Expandido, subsistindo, há muito tempo, em uma galáxia distante e no ideário de seus devotos.

    Leia nosso especial sobre Star Wars.

  • Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força

    Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força

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    A franquia Star Wars talvez seja a maior e mais bem sucedida do cinema. Com o lançamento de Uma Nova Esperança, em 1977, O Império Contra-Ataca, de 1980 e O Retorno de Jedi, em 1983, a saga criada por George Lucas se solidificou de forma poderosa, mudando para sempre a maneira de fazer cinema, devido ao seu pioneirismo nos efeitos especiais, principalmente, além de espetaculares cenas de ação que envolviam batalhas travadas no espaço. A história do jovem órfão Luke Skywalker que, de repente, se vê no meio do embate entre a Aliança Rebelde contra o temido Império Galático, ao lado de icônicos personagens como Han Solo, Chewbacca, Princesa Leia, os simpáticos C-3PO e R2-D2 e o temido Darth Vader, angariou uma horda de fãs espalhados pelo mundo todo. E é assim até hoje.

    No final dos anos 90, para deleite dos fãs, Lucas resolveu mostrar ao mundo como a Galáxia foi dominada pelo Império. Novamente centrando toda carga em cima de um membro da família Skywalker, o resultado foi desastroso. O diretor também foi responsável pelos roteiros e, novamente, foi pioneiro ao usar câmeras digitais, porém, deu um tiro no próprio pé, ao dar uma ênfase maior ao visual, se esquecendo quase que por completo da história. Não adiantou muito contar o que todo mundo já sabia sem ter diálogos ou situações que se sustentassem por si só. Assim, A Ameaça Fantasma, O Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith são considerados pelos mais velhos uma mancha na história da franquia.

    Desde o começo, Lucas planejou três trilogias para contar a história da família Skywalker, uma terceira parte que nunca sairia do papel, deixando para os fãs imaginarem o que teria acontecido com os personagens. Contudo, antes mesmo da trilogia prequel, liberou os direitos da história para que o escritor Timothy Zahn desse continuidade à história que se passava alguns anos depois de O Retorno de Jedi.

    Foi então que o inesperado aconteceu. No final de outubro de 2012, a Disney anunciou a compra de todo o grupo da Lucasfilm e, neste mesmo anúncio, foi dada a notícia que, enfim, veríamos na tela do cinema os Episódios VII, VIII e IX, além de filmes derivados. Obviamente a notícia, além de cair como uma bomba na indústria, trouxe mais perguntas do que respostas. Perguntas respondidas aos poucos até a estreia de Star Wars – O Despertar da Força.

    J.J. Abrams foi o encarregado de dar vida ao Episódio VII. Porém, o diretor tinha uma bomba nas mãos: o roteiro de Michael Arndt não era bom o suficiente, além de parecer que o escritor quis desenvolver uma nova história em vez de trazer de volta os velhos conhecidos dos fãs, o que obrigou Abrams a substituir Arndt por Lawrence Kasdan, roteirista de O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi. Com isso, aos poucos, foi ganhando a confiança dos fãs, o suficiente para que a frase “in J.J. we trust” fosse replicada pela internet. Contudo, Abrams tinha um prazo apertadíssimo nas mãos para faze-lo da forma merecida, com efeitos práticos e uma história justa tanto para aqueles que amam a franquia, quanto para os novos espectadores.

    O despertar da força - 01

    Seguindo a “fórmula” das duas trilogias anteriores, o trio de protagonistas foi composto por novatos. A atriz britânica Daisy Ridley nunca tinha atuado em um longa metragem, John Boyega tinha em seu currículo o bom Ataque ao Prédio, cabendo a Oscar Isaac o posto de “veterano” por ser mais conhecido do público. No lado dos antagonistas, temos o ótimo Andi Serkis, Domhnall Gleeson e Adam Driver. O time se junta com Mark Hamill, Carrie Fisher, Harrison Ford, Anthony Daniels e Peter Mayhew, deixando o filme com excesso de personagens, prejudicando, de certa forma, a aparição e o tempo de tela de certos alguns destes.

    Em que pese os créditos iniciais focarem a história no desaparecimento de Luke Skywalker (Hamill), fica claro que a protagonista de O Despertar da Força é Rey (Ridley), uma jovem deixada por sua família no planeta Jakku. Enquanto seus familiares não retornam, Rey sobrevive precariamente no planeta desértico recolhendo sucata em troca de pouca comida como forma de pagamento. O caminho de Rey cruza com BB-8, o robô do piloto da Resistência, Poe Dameron (Isaac). O droide fugindo de um ataque da Primeira Ordem, liderado por Kylo Ren (Driver), esconde informações importantíssimas sobre o paradeiro de Luke Skywalker. A semelhança com Uma Nova Esperança é notória, mas, em momento algum prejudica o desenvolvimento da trama, sendo que em paralelo a estes acontecimentos, também somos apresentados a FN-2187 (Boyega), um stormtrooper sem nome e sem propósito algum para lutar pela Primeira Ordem e que mais tarde é batizado de Finn.

    O primeiro ato é marcado pela química entre os 3 novos protagonistas que funciona bastante. Dameron é cínico e sarcástico, mas de bom coração, Finn é o responsável pelo lado lúdico que a franquia sempre adotou (mas sem soar chato) e Rey é o destaque do filme. Sabe pilotar qualquer veículo, além de ser muito inteligente e conhecer tudo sobre mecânica.

    Demora um pouco para vermos os personagens antigos, porém, a espera vale cada centavo gasto na sala do cinema. Embora a aparição da dupla Han Solo (Ford) e Chewbacca (que não envelheceu um ano sequer, vivido novamente por Peter Mayhew) seja por conta de uma coincidência difícil de acreditar, considerando o tamanho da galáxia (um dos pontos preguiçosos do roteiro), pôde-se perceber que muita coisa mudou desde O Retorno de Jedi. Fato comprovado quando Rey pergunta se o mercenário em cena era Han Solo, a resposta é clara: “eu costumava ser” e a situação a seguir é um divertido momento do filme mostrando um Han Solo mercenário, algo que o espectador nunca tinha visto na prática. Com certeza teremos mais momentos assim se seu filme solo for confirmado.

    Se o lado da Resistência segue na busca por Luke Skywalker, também é esse o objetivo da Primeira Ordem. Aliás, o resquício do Império é um dos pontos mal trabalhados no filme, o que deixa claro que os personagens da Resistência tiveram mais atenção do que os da Primeira Ordem que aparenta ser mais poderosa e mais organizada quando da época do Imperador Palpatine. Aqui, temos a liderança do General Hux (Gleeson, frio, sem nenhum carisma), o cavaleiro Kylo Ren, ambos liderados pelo misterioso Supremo Líder Snoke (Serkis), que ganha este adjetivo por simplesmente ser uma incógnita, uma vez que não faz sentido algum termos um personagem com a magnitude que aparenta ter. Também está presente a Capitã Phasma (Gwendoline Christie), uma stormtrooper imponente com sua armadura cromada, bastante adorada pelos fãs nos trailers, mas que foi uma decepção. A participação de Phasma chega a ser pior que as presenças descartáveis de Bobba Fett e Darth Maul nos filmes anteriores.

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    Kylo Ren é um destaque à parte. Devoto de Darth Vader, jurou destruir o último Jedi e terminar o que Vader começou. O cavaleiro que não pode ser considerado um Sith é poderoso no uso da Força e não pensa duas vezes em se exibir. O curioso é que Kylo ainda é um tanto quanto cru e demonstra não ter habilidade suficiente com seu sabre de luz, além de ser tão jovem quanto Rey nos momentos em que aparece sem sua máscara.

    A história faz um longo desvio do caminho percorrido por Uma Nova Esperança quando a personagem de Lupita Nyong’o, Mas Kanata, surge em tela. A agradável e milenar alienígena consegue enxergar através dos olhos das pessoas e se torna responsável por esclarecer algumas coisas à Rey, o que faz com que a trama tome um belo caminho, enchendo os olhos de quem assiste, preparando um terceiro ato grandioso, repleto de momentos incríveis, ainda que retorne ao paralelo do filme original.

    O Despertar da Força é repleto de ótimos momentos, tanto do que diz respeito às situações mais engraçadas, quanto nos momentos de ação, bem como de tensão. A perseguição de um caça Tie Fighter à Millennium Falcon faz com que você se agarre na cadeira. – podemos perceber que a equipe da ILM – Industrial Light And Magic teve um cuidado especial com a Falcon (uma nave respeitada inclusive pelos membros da Primeira Ordem). Embora Star Wars não respeite as leis da física, é fácil perceber que a nave de Han Solo é bem mais pesada que o Tie Fighter, fazendo esses e outros pequenos detalhes arrancarem sorrisos tímidos vez ou outra.

    A expectativa cresce quando os personagens clássicos entram em cena. A sensação de nostalgia percorre toda a fita. O veterano e mestre John Williams, mais uma vez, é responsável pela ótima trilha sonora, e assim como em todos os filmes, traz uma trilha original onde busca, em alguns momentos, revisar seus clássicos imortalizados na primeira trilogia. O departamento de arte e o design de produção também são certeiros. As naves que todos conhecemos estão lá, assim como o posicionamento das câmeras, tomadas, ângulos e principalmente nos cockpits dos X-Wings e dos Tie Fighters. O mesmo podemos falar das roupas dos personagens. Como Han Solo diz, sua jaqueta é nova, mas podemos perceber sua clássica camisa branca, sua calça militar e seu cinto com o coldre são os mesmos.

    Embora seja um filme de J.J. Abrams, Star Wars – O Despertar da Força, não é um típico filme do diretor, que procurou de forma respeitosa manter o legado brilhante criado por George Lucas. O resultado é um ótimo filme, repleto de ótimos personagens em uma história divertida, cheia de ação e principalmente emocionante. Promovendo mais um marco cinematográfico e apontando novos caminhos para o universo desta galáxia muito, muito distante.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Star Wars – Episódio V: O Império Contra-Ataca

    Crítica | Star Wars – Episódio V: O Império Contra-Ataca

    Star Wars - Episódio V - O Imperio Contra-Ataca

    Há muito tempo, em uma galáxia
    muito, muito distante…

    Episódio 5
    O Império Contra-Ataca

    É um período crítico para as
    Forças Rebeldes. Embora a
    Estrela da Morte tenha sido
    destruída, as Tropas Imperiais
    conseguem expulsar os
    Rebeldes de sua base
    secreta e os perseguem por
    toda a galáxia.

    Fugindo da terrível Frota
    Imperial, um grupo de
    rebeldes chefiados por Luke
    Skywalker, estabelece uma
    nova base secreta no remoto
    mundo gelado de Hoth.

    O senhor do mal, Lorde Darth
    Vader, obcecado pela idéia de
    encontrar o jovem Skywalker,
    enviou milhares de sondas
    remotas para os pontos mais
    longínquos do espaço…

    Assim são as letras amarelas que fazem a introdução da sequência de Star Wars – Uma Nova Esperança. Tive uma certa dificuldade para criar uma introdução decente para essa crítica, então resolvi apelar um pouco. A primeira parte da saga, com toda a sua aventura e sensacionais batalhas especiais estabeleceu um patamar alto de qualidade, o que gerou uma expectativa do tamanho de uma galáxia para esta segunda parte. Geralmente, sequências no máximo conseguem se equiparar ao seu predecessor. Em casos raríssimos, conseguem superar o original. Este O Império Contra – Ataca é um desses casos raríssimos.

    George Lucas contratou a escritora de ficção científica e roteirista Leigh Brackett, tida na época como a “a rainha da space opera”. Durante algum tempo, os dois discutiram ideias sobre como deveria ser o roteiro. Entretanto, Lucas não gostou do rumo que a história estava tomando e pegou para si a responsabilidade de criar o argumento para o filme. O diretor não teve tempo de discutir com Brackett sobre as novas idéias, pois a diretora morreu de câncer pouco depois. Desenvolvendo sua nova história, Lucas teve a ideia de estabelecer Darth Vader como o pai de Luke Skywalker, num dos plot twists mais chocantes da história do cinema. Alguns outros esboços depois, George Lucas pediu que Lawrence Kasdan desse um trato final no argumento. Juntamente com Gary Kurtz e Irwin Kershner (diretor contratado porque o criador da saga não queria acumular funções) o roteiro adquiriu um tom mais sério, adulto e mais escuro, em oposição ao tom solar do Episódio IV.

    É interessante observar o desenvolvimento do filme. Tudo é muito redondo desde o início, com eventos sucessivos que não deixam espaços para pontas soltas. A partir da espetacular batalha de Hoth, duas vertentes são estabelecidas. Um tom aventuresco e eletrizante com a fuga de Han Solo, Leia e Chewbacca da frota do Império e um tom intimista e quase psicológico com Luke indo treinar com o Mestre Yoda no Sistema Degobah. Aqui, vemos um prosseguimento da saga do herói, ao passo que Luke deixa de ser um garoto mimado e hesitante em sua liderança para assumir o seu papel de símbolo da Aliança Rebelde e principal arma contra Darth Vader e o Imperador Palpatine. Além de Luke estar mais maduro, maturidade é algo evidente em Han Solo e Leia, pelo menos no que diz respeito às suas responsabilidades dentro da Aliança, ainda que Han seja relutante e queira abandonar tudo para limpar a sua barra com Jabba The Hutt e voltar a sua vida de aventuras. Porém, no que tange a sentimentos mútuos, os dois são imaturos, indo das rusgas até um momento romântico impagável antes de Solo ser congelado.

    Kershner se mostra um grande maestro de cenas de ação e aventura na sequência de batalha inicial e na já referida fuga desesperada da Millennium Falcon. Só que mais importante que isso, é o fato do diretor conseguir captar a essência do roteiro e conferir profundidade dramática a todos os personagens, coisa que George Lucas nunca conseguiu. O canastrão Mark Hamill tem aqui o seu melhor momento como Luke Skywalker, possivelmente por influência de Kershner. Outro ponto positivo do diretor Irwin é a ótica dele sobre cada ambiente. Ele consegue transmitir toda a imensidão e a frieza de Hoth, a opressão que Dagobah exerce sobre Luke e a arquitetura labiríntica dos corredores de Bespin.

    Com relação ao trabalho técnico, mais uma vez foi sensacional. Há de se destacar os efeitos criados pela Industrial Light & Magic. Se no primeiro filme a empresa criou eletrizantes batalhas de larga escala, aqui ela compreendeu todo o conceito de dogfight (batalhas aéreas de curta distância – Top Gun explica bem do que se trata) e criou momentos fantásticos como a batalha de Hoth e a fuga da Millennium Falcon através do campo de asteroides. O som e os efeitos sonoros ajudam a envolver o espectador no clima do filme.

    Nas atuações, há uma clara evolução do trio principal. Mark Hamill está bem mais à vontade no papel de Luke Skywalker, transmitindo a maturidade que o personagem adquiriu com o passar do tempo. Isso inclusive ajuda a torná-lo mais carismático. Carrie Fisher continua competente como a Princesa Leia e a faz ainda mais decidida e impetuosa. Porém, o destaque novamente é Harrison Ford. Sua interpretação para Han Solo é brilhante, uma vez que o ator consegue compreender todas as nuances do personagem, sejam suas qualidades ou falhas de caráter. Ele é responsável por um dos grandes momentos do filme, quando Solo está para ser posto em animação suspensa num esquife de carbonita. O ator resolveu improvisar após repetir várias vezes um momento romântico entre Han e a Princesa Leia e terminou por criar algo memorável. Com relação aos novos e importantes personagens introduzidos no filme, Billy Dee Williams conseguiu o tom certo para seu Lando Calrissian, um antigo conhecido de Han Solo e o Yoda mecânico de Frank Oz é excepcionalmente bem manipulado, com expressões faciais muito críveis.

    Tentando resumir em poucas palavras após essa quase monografia: O Império Contra-Ataca é sensacional, supera e muito o original e merece ser reconhecido como um dos grandes filmes da história do cinema, tal como já é feito por inúmeras publicações e críticos.

  • Crítica | Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma

    Crítica | Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma

    Episodio I - Ameaça Fantasma

    Em 1999, George Lucas traria finalmente à luz uma nova saga no universo que o tornou famoso. O começo de sua história era promissor, traduzido na personificação interessante da dupla de negociadores, entre os habitantes da pacífica Naboo com a temível Federação do Comércio. Os responsáveis pelas tratativas eram Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) e Obi Wan Kenobi (Ewan McGregor), díscipulo e pupilo na religião jedi.

    O maior acerto do filme já era mostrado neste início, com a personificação do ideal do cavaleiro paladino, ainda que sua personalidade seja repleta de nuances e rebeldia, já que Qui-Gon reunia em si todos os méritos que um jedi deveria ter, o auge do que Luke jamais conseguiu, e que Ben Kenobi e Yoda não conseguiam reproduzir graças a alta idade. No entanto, a seriedade ruiria a partir dos dez minutos, graças ao advento de uma figura em especial, já odiada em suas primeiras manifestações. Jar Jar Binks( Ahmed Best) emula os piores maneirismo de personagens descerebrados, arrotando uma patetice que visava agradar as crianças, tratando-as como idiotas.

    A gravidade do roteiro de George Lucas – que abriu mão de deixar outros tratarem seu script, centralizando o trabalho que o mesmo diz não gostar de fazer – está em focar na sobrevivência de um povo pouco interessante, que não gera qualquer sentimento de empatia, ao contrário, irritando o espectador com uma quantidade exacerbada de falas bobas e dramas desinteressantes, além de não revelar de modo satisfatório os motivos que faziam os opositores imporem um bloqueio ao planeta.

    Os erros crassos de planejamento que a equipe executa – e que curiosamente, fazem eco metalinguistico com os tropeços de seu criador – faz com que a tripulação tenha de parar em Tatooine, onde os jedi e uma das serviçais da rainha Padmé (Natalie Portman) conhecem o pequeno Anakin Skywalker (Jake Loyd), sua família e a criatura sorrateira que os escraviza, Watoo (Andy Secombe), o mesmo que tomou o clã como mercadoria de seu antigo dono,  Gardulla the Hutt, que no universo expandido, seria rival de Jabba. É através do dentino do infante que a sorte do grupo muda, com negociações bastante suspeitas, mostrando que não há qualquer receio moral em adentrar um hábito nefasto de jogos e trapaças.

    A personificação do malfadado gungan ajuda a mascarar um dos maiores méritos de A Ameaça Fantasma, que são seus efeitos visuais, aspecto comumente subestimado pelos fãs. A movimentação de figuras como R2-D2 – cada vez com menos momentos executados por Kenny Baker – é bastante competente, apesar de recorrer a eventos desnecessários. No entanto, o mais surpreendente está por conta da movimentação Watto, tão fluída quanto a de um personagem interpretada por um homem comum.

    O preciosismo visual se manifesta ao começo da corrida de pods, um evento só incluso no argumento para justificar os video games que seriam lançados à época, que não fazem qualquer falta a trama, acrescentando uma gama de criaturas extra-terrestres que não enriquecem em nada a fauna de Star Wars, sendo motivo de piadas na maioria dessas personificações. É ainda neste período que acontecem dois eventos importantes, a primeira ação do antagonista Darth Maul (Ray Park, em excelentes cenas) e a apresentação de Anakin e Obi Wan.

    Há uma quantidade enorme de incongruências a explorar no filme, desde a burrice dos mandantes da Federação do Comércio, até a teimosia em lançar mão de robôs de inteligência e usabilidade limitada, que não acrescentam em absolutamente nada dentro das batalhas ocorridas na extensão da Naboo. Surpreende como mesmo os pobres voluntário do planeta pacifista não sejam páreos aos robôs patéticos.

    Outro aspecto tosco e exploração do núcleo político em Coruscant, mostrando uma subvalorização do Senado Galáctico, comando pelo chanceler Valorum (Terence Stamp, também sub aproveitado) acompanhado do representante de Naboo, Palpatine (Ian McDiarmad), que exige uma ação mais enérgica da realeza, no sentido de pedir uma sanção nos deveres do supremo chanceler. A questão que deveria ser séria, é tratada de modo raso, tendo em paralelo outro grave acontecimento, envolvendo o incurso de Anakin como possível aluno da academia jedi.

    Ameaça Fantasma 9

    As acusações e discussões a respeito da corrupção, que deveriam ser dúbias, são tratados de modo desleixado, sem a seriedade exigida, quase tão vulgarizado e mediocrizado quanto a argumentação dos midh-chlorians que fariam do jovem “protagonista” algo além do ordinário. Mesmo diante de todo o caos que se instalaria na velha república e nos novos filmes, somente o arredio Qui-Gon conseguiria ter sobriedade para fazer o correto, virando as costas para o código ético dos jedi. Sua postura é diametralmente oposta a postura de Palpatine, que tem na dissolução da deturpação moral seu maior argumento, semelhante a tantos outros ditadores da história, fato que torna bastante óbvia a sua intenção, mesmo no ano de 1999.

    Toda a negociação entre os terrestres de Naboo e os gungans beira o ridículo, tanto em lógica  quanto em bom censo. O combate se aproxima de acontecer, tão imperito quanto a linguagem usada pelas criaturas marinhas, servindo como despiste para um plano de ataque aos comerciantes que é ainda mais mirabolante e estúpido. Não bastasse o fato de o público não se importar com as criaturas que morreriam – como era com os ewoks – Lucas ainda tem a audácia de refilmar o clímax de O Retorno de Jedi da maneira mais morosa possível.

    Qualquer plano tático é simplesmente ignorado, uma vez que até a rainha regente Amidala se embrenha em um tiroteio desnecessário, atrás do núcleo palacial, correndo o risco de ser assassinada, fato que causaria um terrível evento diplomático na já conturbada situação política do planeta embargado. Após a entrada  de Darth Maul – que praticamente ignora o fato da princesa passar diante de seus olhos – o grupo avança, só conseguindo passagem depois que o acaso usou uma criança para liberar o caminho para eles, que prosseguem andando com a nobre como ponta de lança, sepultando de vez qualquer possibilidade de apego a teoria de um bom combate militar.

    A grande luta final, entre Darth Maul e dos dois jedi tinha um potencial tremendo, e até certo ponto ela funciona. O embate entre o vilão e Qui-Gon Jinn funciona até o momento da derrota do herói, que é displicente, fator incongruente, mas até passável, já que ele era bastante impulsivo em todas as suas atitudes. A vingança impetrada por seus discípulo o mostra cedendo a raiva e a imprudência, aspectos que o velho Ben Kenobi criticaria veementemente, mostrando que esta versão é mais próxima de uma contraparte de uma realidade alternativa do que o pretérito do grande mentor jedi da trilogia anterior.

    A sucessão de escolhas erradas é comum tanto a Lucas, quanto ao Conselho Jedi liderado por Yoda (voz de Frank Oz, além de ter neste um boneco mais tosco que o anterior) e Mace Windu (de um ainda tímido Samuel L. Jackson), ao aceitar o piloto mirim, capaz de desmantelar todo exército dos vilões sem muito esforço ou qualquer preparo anterior.

    Falta carisma, alma, boas atuações e um texto minimamente plausível para Lucas, que ainda insiste em concentrar em si as funções mais importantes em relação a trama e direção, com medo que fizessem trapalhadas sem o seu consentimento, deixando assim passar uma quantidade enorme de terríveis situações, que não só denigrem seus filmes clássicos, como faz discutir a necessidade de tantos profissionais em montar efeitos visuais, personagens e cenários tão suntuosos, que não servem sequer de muleta para a história, tampouco ajudando no adorno do mesmo.

    Episódio I possui uma trilha sonora que funciona em alguns momentos, especialmente nas cenas de luta, mas que fracassa em tentar emular os bons momentos de John Williams, claramente não reprisando todo o sucesso que fez antes. O uso de animatics seria pioneiro, mas ajudaria a indústria usar o artifício como desculpas para propagar histórias tão fúteis e ofensivas quanto esta versão sem substância, que imita até o final do episódio original, com uma sequência caricatural e vazia de significado. A Ameaça Fantasma seria somente o primeiro dos muitos equívocos de George Lucas com seus queridos personagens sagrados, com uma abordagem que nas partes sérias peca demais em exagerar nas obviedades e faltas de sutileza dramática.

  • Crítica | Divertida Mente

    Crítica | Divertida Mente

    Tomando como base a irresistível jornada que é o processo de crescimento, Divertida Mente ultrapassa o infeliz trocadilho de sua tradução para apresentar uma trama adulta, apesar da premissa de ser um filme para crianças. O filme de Pete Docter relembra muitos dos aspectos profundos de UP: Altas Aventuras e Monstros S.A. através de um panorama maduro sobre a psique humana concentrando-se na mente de Rilley (Kaitlyn Dias), uma menina de onze anos, às portas da adolescência e com uma intensa trajetória para começar.

    A história é narrada a partir dos conflitantes sentimentos e sensações que predominam na cabeça da menina que são liderados pelo aspecto da Alegria (Amy Poehler), da Tristeza (Phyllis Smith), Medo (Bill Hader), Raiva (Lewis Black) e do Nojinho (Mindy Kaling), o que já demonstra a escola de humor a que o filme se refere, como uma alegoria à versão americana de The Office e seus spin-offs. A trama é basicamente uma bela busca por identidade ainda na fase infantil.

    Apesar do flerte com o psicologismo barato, e da dublagem brasileira, que utiliza-se excessivamente de gírias atuais, a mensagem de que a base de uma vida saudável é a família é importante, por ser uma fita destinada ao espectador infantil. O campo de memórias tona-se a base do cenário e das desventuras, graças a uma sequências de trapalhadas típicas de uma odisseia de sensibilidade: no caso, uma mente conturbada por uma crescente injeção de hormônios, típicos desta fase da vida.

    É curioso notar como funciona o comando sentimental na cabeça de tantos outros personagens. A matriarca da família é passiva e comandada a priori pela Tristeza, enquanto o despreocupado e às vezes relapso pai – fruto, em geral, da criação do americano médio – é operado pela Raiva, o que causa um desequilíbrio interessante no cerne da família, garantindo uma diversidade que faz eco com a rebeldia sem causa da menina.

    Após algumas desventuras envolvendo as personagens centrais, Alegria e Tristeza, que viajam pela mente da Riley fora da sala de comando (a zona de conforto de ambas), a atmosfera muda, da extrema felicidade para tons mais agridoces. A viagem pela psique revela um acinzamento das memórias e do caráter, consequência da maturação de sua mentalidade. O equilíbrio entre alegria e tristeza se faz fundamental.

    O modo de retratar o subconsciente é interessantíssimo. Um lugar recôndito, escuro, em breu absoluto, que piora a sensação do processo difícil que é o crescer. A personagem de Philly Smith tem o estranho poder de tudo parar, modificar os paradigmas mesmo quando a esperança acaba. A Tristeza é entendida por sua contraparte como um aspecto de suma importância, e não mais algo a ser ignorado, já que é ela que serve de catalisadora da mudança.

    A mensagem final do roteiro de Docter, Josh Cooley e Meg LeFauve mostra a fugaz retirada da ingenuidade e o tímido começo da construção de caráter e do ethos, de maneira tocante e até profunda. Divertida Mente é uma metáfora para as inexoráveis agruras da vida, e o realizador conduz tudo de modo bem urdido e repleto de ternura, aludindo ao público mais adulto sem se descuidar do infanto-juvenil, abrangendo ambas as plateias, como na maioria dos clássicos da Pixar.