Tag: Natalie Portman

  • Crítica | Marte Ataca!

    Crítica | Marte Ataca!

    “Uma rampa está descendo… como uma língua gigante!”

    Homenagem é o sobrenome de Marte Ataca!, uma das mais icônicas produções de Tim Burton, nos saudosos anos 90. Ainda colhendo os louros pelos sucessos de bilheteria que foram os dois primeiros Batman, e logo após Ed Wood, um dos seus melhores projetos, quiçá o seu melhor, Burton já tinha a confiança da Warner Bros. para comandar uma milionária invasão alienígena a Terra, e assim o fez. Dispondo de um grande elenco que incluía Jack Nicholson, Glenn Close e outras inúmeras estrelas reagindo a iminência de um primeiro contato extra terrestre, e das mais amalucadas formas de reação, o diretor de Os Fantasmas se Divertem e outros inúmeros filmes cuja estranheza e excentricidade ganharam o amor popular fez o tributo pop definitivo ao clássico trash Plano 9 do Espaço Sideral.

    Se em plena década de 50, espaçonaves eram literalmente pratos pendurados em barbantes, e filmados com orçamento risível por um louco apaixonado por Cinema chamado Ed Wood, esses mesmos veículos alienígenas em formato oval descem das nuvens, em Marte Ataca!, sendo efeitos especiais propositalmente horríveis, remetendo-os com essa intenção de escracho as inesquecíveis e bizarras obras do ídolo de Burton, massacradas na época por suas péssimas qualidades. Aqui, a bizarrice é generalizada muito antes de vermos os alienígenas, sendo nós muito mais estranhos em nossos costumes que eles, esquisitos muitos mais na sua aparência do que nos atos hostis muito parecidos aos da nossa espécie.

    Temos aqui a icônica cena dos homenzinhos verdes, um clichê orgulhoso do que é, assim como os velhos filmes testamento de Wood, o famoso pior cineasta de todos os tempos, entrando enfileirados na Suprema Corte norte-americana antes de incinerar a todos, sem motivo aparente. Em cenas como essa, ou na própria apresentação dos marcianos violentos aos “dóceis” militares americanos, ainda no começo do filme, Burton promove aqui usar a mesma selvageria que os EUA usam no trato com outras nações nas guerras que se envolvem, sendo não à toa os donos do mundo, seja por conta do poderio militar, ou através do poder midiático que produzem para fortalecer o american way of life. Essa intolerância aqui, mesmo vista pela ótica do ridículo e do humor, nunca esgota sua cumplicidade com a realidade política dos fatos que só agravaram-se com a presidência de Donald Trump.

    É interessante como o filme não tem pressa alguma de mostrar as suas criaturas de outro planeta, e o caos que elas fazem acontecer. Enquanto toda essa bizarrice de duas cabeças apaixonadas voando sem corpo passa, pouco a pouco, a ser o fator principal de uma trama baseada em como a loucura e a paranoia regem os EUA, e Las Vegas e Washington começarem a ser atacadas em divertidas e exageradas sequências de ação, fazendo pouco dessas cenas que Hollywood refaz todo ano em um sem número de filmes ruins, a crítica à política americana e ao modo de vida do Tio Sam é nítida, metaforizada aqui por um presidente incompetente, cidadãos abestados e uma cultura de espetáculo que explode pelo ar e ninguém liga porque tudo é descartável, assim como os cenários falsos e brilhantes que cercam pessoas falsas, de roupas brilhantes. De ingênuo, e ridículo, o ótimo Marte Ataca! tem apenas a sua casca, sendo uma ode apaixonada as raízes de um cineasta que nunca escondeu suas influências.

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  • Crítica | Vox Lux

    Crítica | Vox Lux

    Vox Lux é um filme dividido basicamente em dois pedaços, um primeiro mais introspectivo e ligado ao passado da personagem principal, Celeste, e outro histérico e engraçado, sobre a fase adulta da mesma. Entre essas duas partes, há em comum a narração de Willem Dafoe, afirmando que aquela historia começou no ano de 1986, que se referiria ao nascimento da personagem, mas o chamado a aventura começa de fato em 1999, com o prelúdio.

    Celeste, vivida aqui por Raffey Cassidy, é chamada alegremente pela professora para que faça uma intervenção em discurso. A oração que a menina faria é interrompida por uma invasão, de um rapaz que Celeste conhecia e que era fã de heavy metal. O mesmo abre fogo na sala de aula, deixando a todos desesperados, alveja a professora depois, ele conversa com a protagonista e atira nela, para logo depois se matar. O projétil acerta a espinha da menina e ela milagrosamente sobrevive, apesar de quase ficar paralitica.

    Os créditos iniciais são mostrados de maneira bem criativa, e de certa forma emulam o modo como o restante da historia. Os rumos que a vida de Celeste e de sua Irmã Eleanor (Stacy Martin) toma é completamente imprevisível. Para celebrar a vida e a sobrevivência elas gravam uma música, composta pela irmã que não sofreu o agouro mais cantada pela que levou o tiro. Aos poucos, o hobby se torna um trabalho, ao ponto delas precisarem de sessões profissionais de gravação. É disposto a elas um produtor pessoal, um manager que é interpretado por Jude Law e ele permanece junto as duas o filme inteiro, e tal qual boa parte das pessoas que não estão no epicentro da egotrip em que o filme se torna, ele simplesmente não tem nome.

    Quando o incidente toca Celeste ela só tem 14 anos, e uma das pessoas que a assessora junto a gravadora, a publicitária Josie, interpretada por Jennifer Ehls, diz que futuras músicas não serão necessariamente sucessos. Essa questão é minimizada por Law, mas se nota um ressentimento por parte da garota, ainda nesta fase. Um fato ocorre, em meio a uma das turnês, Celeste se envolve com um roqueiro, que faz lembrar o repertorio musical do jovem que protagonizou o atentado contra si e desse encontro vem um fruto, talvez ai more o fator de virada na vida dela, o fato que consumou sua fama para alem de uma cantora mirim de um sucesso só.

    Vox Lux conversa muito com o filme anterior de Brian Corbet. Em comum com Infância de Um Líder, há a exploração psicológica da criança protagonista – aqui no caso, adolescente, mas vá lá – mostrando esses dois personagens infantis como algo além da simples presença fofa e inocente que é comum a esse tipo de abordagem. Nem Celeste e nem o protagonista do outro filme Prescott são ingênuos e há em ambos a sensação de que se está explorando a gênese de um mal, sendo na outra as raízes do fascismo governamental e neste a origem de uma artista mesquinha e egocêntrica, capaz de humilhar todos que a cercam.

    Quando Natalie Portman entra no filme como a versão diva pop de Celeste o caráter muda e esse é o tomo dois da historia. A base construída até então serve para mostrar o declínio moral que a personagem teve, se rendendo completamente egotrip provinda da fama repentina, além de julgar que os exageros e excessos típicos da fama fazem prejudicar principalmente o desempenho artístico e a criatividade da, agora, musa. No entanto o insucesso emocional da personagem é muito bem utilizado no filme, e seus devaneios causam muito riso.

    Não se sabe os motivos para a transformação que Celeste tem, se todo o conjunto de defeitos que  ela demonstra estava adormecido e a perda da inocência tão jovem fez isso aflorar sem freio ou se ela ganhou esses predicados com o tempo. O filme não se preocupa em dar uma origem a isso, e tal qual A Infância de Um Líder, não há qualquer receio em se dar uma origem certeira para o egoísmo, e nesse ponto, é um acerto enorme de Vox Lux, pois o texto julga a personagem mesquinha, assim como trata os seus seguidores como uma horda de idiotas sem critério e que consomem qualquer lixo que venha com uma embalagem colorida e atrativa, tal qual seria com Prescott.

    Ainda no começo do segundo ato, chamado de Regência, acontece outro atentado, com pessoas vestidas com máscaras do clipe Hologram, que era um dos trabalhos anteriores de Celeste antes desse que dá nome ao filme. Por mais que não assuma, Celeste sofre um baque por ter os símbolos da sua carreira ligados ao terrorismo, e essa retro alimentação do terror faz ela reagir emocionalmente de maneira imatura, se deixando levar pela raiva ao responder os impropérios da imprensa, mas sem perder a pose de inabalável. Seu derramar de alma e espírito acontece para poucos, para os seus.

    Apesar de nessa fase adulta ela ser vaidosa, vazia e egocêntrica, dramática e odiável, em especial com sua irmã que sempre esteve consigo e com sua filha Albertine, que também é feita Cassidy, é impossível não se sentir seduzido pela face de Celeste que Portman emprega, não só pela beleza da estrela de Cisne Negro e outros produtos, mas sim por seu carisma. O histrionismo e over acting são muito bem empregados e há alguns climaces seguidos, e por incrível que pareça eles não enfraquecem uns aos outros, só fortificam, transformando a bad trip da personagem em um mini número de opera, grandiosamente filmado aliás, com toda insegurança, ansiedade e catastrofismo que uma estrela pode exercer e ter.

    O finale, com a chegada do show Vox Lux, acontece com uma apresentação praticamente perfeita, que surpreende por funcionar apesar de toda fogueira de vaidades que permeia as quase duas horas do filme. Incrivelmente, as duas horas passam extremamente rápido, dada a gangorra emocional que se agrava nos momentos finais do filme. A camada superficial é extremamente divertida, mas suas outras camadas são profundas e reflete sobre o que faz sucesso e porque faz sucesso, através de um personagem cujo ego é grande e que conta com uma mente destruída e um espírito falido e que faz perguntar se há ali um pacto satânico.

    https://www.youtube.com/watch?v=dolxUIZzb3w

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  • Crítica | Aniquilação

    Crítica | Aniquilação

    Ao assistir The Cloverfield Paradox, a fantasia lançada na Netflix em 2018, depois da Paramount jogar a bomba no colo da plataforma online já visando o fracasso que tinha em mãos, tive a certeza retumbante em poucos minutos de exibição, o que se concretizou no final de uma trilogia que começou de forma decente, e acabou de maneira vergonhosa: Hollywood está vivendo desde alguns bons anos a síndrome das boas ideias em mãos completamente equivocadas. Essa cria de J.J. Abrams talvez seja um dos auges desta epidemia, mas há outros exemplos tão simbólicos a esse problema quanto o longa em questão que a Netflix aceitou alojar.

    Entre tantos títulos que deixaram a desejar nos últimos anos, um número que só cresce entre boas e poucas ideias mal germinadas pela qualidade da produção atual do mainstream, lembro-me ainda sobre a expectativa em torno de Elysium, em 2013. Essa destacou-se por envolver um filme de premissa fantástica, mas ambiciosa demais para o cineasta que ousou projetá-la na tela, com toda a parafernália de efeitos digitais, contexto sociopolítico e grande elenco que usou como muletas e meros atrativos para um distopia frustrante, e absolutamente esquecível.

    Contudo, o problema aqui vai além. A escala dos eventos no filme de Alex Garland são muito menores que o épico espacial estrelado por Matt Damon, e por não ter responsabilidades em fazer uma aventura explosiva para atrair o grande público, o tratamento inteligente dos temas e subtemas empregados em Aniquilação, adaptação do livro homônimo de Jeff VanderMeer (leia nossa resenha sobre o romance), torna-se muito mais enfático, simples e preciso na abordagem dos mesmos, seguindo os passos de cinco mulheres cientistas enviadas à zona, um local inabitado onde inúmeros mistérios desamparados pelas leis da física as aguardam. Uma premissa tão curiosa, e tão poderosa em sua significação, que mesmo para um diretor iniciante cujo currículo nota-se um Ex-Machina, a melhor ficção científica da década, profundamente contemplativa, filosófica e inteligentemente econômica em tudo que induz a nossa reflexão, o resultado poderia facilmente estar mais uma vez acima de qualquer média qualitativa recente.

    Natalie Portman, Oscar Isaac (sofrendo nessa segunda vez na parceria com o cineasta) e a ótima atriz Jennifer Jason Leigh fazem o que podem, perdidas no suspense que o elemento metafísico produz nas relações e destinos das suas personagens. O longa se passa numa espécie de lugar-situação, um plano paralelo despreparado para a humanidade e a sobrevivência no local, mas é incrível como o filme desaba quando aposta na expansão dos seus temas e vai além do minimalismo do começo, ou melhor dizendo, das primeiras cenas. Garland, talvez se presumindo genial, um Nolan da vida, usa seu filme em raros e tímidos momentos para trilhar o caminho entre a ficção científica sensata, e o tudo-pode da fantasia ilógica, explorando com brevidade e insegurança o limiar entre uma e outra. O resultado é insosso, inconstante e completamente incompleto, não importa em qual plataforma o filme esteja disponível.

    Salvo uma sequência ou outra lá pelo meio do filme, como quando as cientistas se deparam pela primeira vez com uma forma de vida típica da zona que investigam, tudo é de um mau gosto irritante e mais vasto que os territórios por onde nos aventuramos. Já tivemos, em 2014, um Solaris para o grande público chamado Interestelar, e agora temos um Stalker enlatado para as massas que desconhecem o valor de um Andrei Tarkovski, gênio do cinema que não chegou a assistir a desglamourização de uma de suas mais inconfundíveis assinaturas, muito além do talento de um principiante que não se chama Orson Welles: a construção profundamente cinematográfica de um pensamento filosófico sobre determinado tema, sempre a favor de uma ação enigmática na tela encenada para ser revista inúmeras vezes, e com a mais devota das percepções possível, sendo este o exato oposto desta farsa intitulada de Aniquilação.

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  • Crítica | De Canção em Canção

    Crítica | De Canção em Canção

    O novo trabalho do cineasta Terrence Malick traz à tona um filme que lança mão de suas marcas enquanto diretor, mas que também se ocupa de buscar um diferencial narrativo de seus longas anteriores. Em De Canção em Canção (Song to Song), a história desenrola fatos sobre a cena musical em Austin, Texas. Nesse cenário, dois triângulos amorosos se cruzam, em mais uma elucubração sobre o estilo de vida típico do gênero musical e lema sexo, drogas e Rock and Roll.

    Os trabalhos de Malick dependem muito do ambiente de isolamento que as salas de cinema proporcionam, e seu último longa, Cavaleiro de Copas, foi pouco exibido no Brasil, uma vez que foi lançado direto para o mercado de homevideo/streaming, passando apenas em festivais pontuais. O núcleo explorado em De Canção em Canção envolve primeiramente Cook (Michael Fassbender) e o casal Fayer (Rooney Mara) e BV (Ryan Gosling). Posteriormente, Rhonda (Natalie Portman) é introduzida para expor então outro núcleo de relações a serem mescladas e exploradas.

    O conto sobre rockstars mira a contracultura e a vida sem maiores aprisionamentos morais, mas esbarra em uma construção do sexo um pouco conservadora, faltando inclusive cenas de nudez entre os entes, que são boêmios confessos. De certa forma, a câmera de Malick é bastante moralista ao mostrar as relações. As poucas cenas de sexo são insossas, referenciando (provavelmente) o quão deprimente e sem conteúdo podem ser os enlaces sentimentais dessas personagens. Ainda assim, o puritanismo não se justifica, mesmo nas cenas de sedução entre pessoas do mesmo sexo.

    O elenco está afiado, como normalmente se dá nos filmes de Malick, mas o destaque positivo é a entrega de corpo e alma de Bérénice Marlohe em sua personagem, Zoey. Em meio a tantas personagens que carecem de cor e carisma, sua vibração sobressai, tornando os ambientes acinzentados em aquarelas belas e repletas de vida.

    Apesar das belas cenas e do desempenho bom de seu elenco, Malick não consegue fugir de sua fórmula, parecendo este ser mais uma das continuações de Amor Pleno, o que por si só é uma pena, já que sua filmografia aumentou muito nos últimos anos, no entanto, parece se repetir em temas e narrativas recentemente, piorando bastante neste seu mais recente trabalho, que soa como auto-ajuda na maior parte dos momentos.

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  • Crítica | Cavaleiro de Copas

    Crítica | Cavaleiro de Copas

    Terrence Malick teve uma retomada recente e curiosa em sua carreira. Em pouco tempo, após Árvore da Vida, ele mais que dobrou sua filmografia, que começou em 1973, com Terra de Ninguém, e tem nesse Cavaleiro de Copas, seu sétimo filme de longa metragem. Essa nova fase mais prolífica do cineasta resulta em alguns fatos incomuns, como a utilização de um hermetismo para contar suas histórias, se valendo de uma narrativa bastante similar àquela utilizada em Amor Pleno, usando de cortes e filmagens não normativas para expressar os sentimentos das pessoas enquadradas em tela.

    A jornada de Rick começa com uma sucessão de eventos aleatórios, que o próprio não consegue entender. O personagem de Christian Bale é um escritor que tem de lidar com uma confusão mental e emocional, representada em tela pelos ângulos obtusos de Malick e por sua contemplação que permeiam a maioria esmagadora das cenas.

    O roteiro se debruça sobre as relações que o personagem tem, desde as frustrações amorosas que sofre e impele, até as relações com os parentes mais próximos. A sensação ao se deparar com a história, dividida em capítulos, é de se reprisar toda a estrutura narrativa de Árvore da Vida e Amor Pleno, gerando inclusive um certo enfado no espectador, além da sensação de estar sendo ludibriado em alguns momentos por sofrer a interferência de uma fórmula que se utiliza dos mesmos clichês e arquétipos para contar histórias diferentes, mas que tem no modo de se chegar até elas o mesmo norte e coincidências artísticas de outros trabalhos do diretor. A marca de Malick aos poucos vai demonstrando um desgaste.

    A música de Hanan Townshend faz lembrar ainda mais dos métodos que Malick utiliza em seus filmes, ainda que de todas as participações repetidas, essa seja a que mais apresenta traços de ineditismo. Natalie Portman Cate Blanchett ajudam a estabelecer a atmosfera obscura presente no inconsciente do protagonista, demonstrando na prática o quão passageira é sua existência e os relacionamentos que acumula durante sua vida. Já o restante do elenco faz aparições pontuais que mal se nota parte dessas presenças, mesmo com a presença de Wes Bentley, que costuma entregar atuações superficiais e rasas. Cavaleiro de Copas acaba sendo um manifesto sobre o vazio existencial, acertando em alguns pontos mas prevalecendo a triste sensação de repetição de ciclo.

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  • Crítica | Jackie

    Crítica | Jackie

    Não é nada difícil falar sobre Jackie e encontrar os desacreditados na cinebiografia de Jackie Kennedy, uma vez que tendo caído no gosto das premiações, digamos, elitistas (e também ao outrora favoritismo em cima de Natalie Portman para levar seu segundo Oscar), logo deu-se a impressão de que o filme do chileno Pablo Larrain se encaixaria no rol das cinebiografias chapadas de figuras que fizeram história na trajetória dos EUA, ainda mais quando o filme em questão faça de questão de focar, exclusivamente, nos quatro dias de Jackie após o assassinato de seu marido, o presidente John Kennedy.

    Muito foi dito de que a contratação de Larrain para a cadeira de direção (tendo substituído ninguém menos que Darren Aronofsky na função) tenha sido pela maior probabilidade do diretor, sendo estrangeiro, trazer uma visão que se beneficiasse da imparcialidade, em claras intenções de aproveitar o caráter político pessoal e intimista que Larrain imprimiu em No, por exemplo. Jackie é sim, um registro pessoal sobre o abalo que tomou conta na vida de Jackie, mas é também um segmento sobre os temas e abordagens que sempre permearam o cinema de Larrain.

    Nisso, ao invés de apenas narrar de forma linear os acontecimentos íntimos na Casa Branca após o assassinato do presidente, o roteiro de Noah Oppenheim (de Maze Runner – Correr ou Morrer  e A Série Divergente: Convergente) reproduz registros da primeira dama e dramatiza seus dilemas para falar sobre a noção espetaculosa das imagens em uma sociedade que depende da transparência visual para construir seu julgamento. Ao falar sobre a dualidade das imagens, Jackie resgata o ontem para falar sobre o hoje.

    E extremamente consciente da posição que assume diante dessa proposta de exploração, Natalie Portman dá rosto e voz a uma Jackie Kennedy articulada, entregue ao luto pelo marido, mas com total conhecimento de sua imagem e posição política diante do contexto. Nesse processo, o filme evolui para um estudo de auto-descoberta através da política, identidade essa que vai contra a maré aos costumes cine-biográficos em levar sua dramaturgia a uma afetação excessiva.

    É prazeroso também notar o quanto câmera e atriz trabalham em conjunto: se Portman domina os espaços com seu sotaque carregado, Larrain fecha o rosto de sua protagonista em closes abafados e centralizados, que levam de imediato o público para a claustrofobia e uma sensação de urgência que necessita ser notada, algo igualmente ressaltado pela trilha ameaçadora de Mica Levi, que para quem não lembra, é responsável pela memorável soundtrack de Sob a Pele.

    Como um diretor estrangeiro filmando em território americano, Larrain não consegue fugir de alguns cacoetes visuais que insistem em embelezar o discurso mórbido (as cenas de Jackie com o padre que parecem filmadas por Terrence Malick), mas Jackie se sobrepõe, e muito, quando decide fugir com afinco das grandes convencionalidades dramatúrgicas impostas por uma história como a de Jackie Kennedy. Ponto à favor.

    Texto de autoria de Rafael W. Oliveira.

  • Crítica | De Amor e Trevas

    Crítica | De Amor e Trevas

    de amor e trevas

    Estreia de Natalie Portman na direção, De Amor e Trevas é baseado no livro de memórias do escritor Amós Oz, que tem o mesmo título. O livro é talvez um dos mais lidos e apreciados na terra natal do autor, Israel. E “um dos livros mais engraçados, trágicos e comoventes” já lidos, conforme a crítica Linda Grant, do The Guardian. É uma pena que o roteiro não tenha conseguido transpor das páginas para a tela o olhar lírico de Amos (Amir Tessler), um menino crescendo durante a expansão do sionismo. Aliás, este é certamente o maior problema do roteiro, tentar abordar da mesma forma o olhar sobre as coisas pessoais – a infância, a família, a mãe, o despertar do talento em contar histórias – e o olhar sobre a transição política de um povo constituindo uma nação.

    A dificuldade de contar a história de forma coesa e envolvente leva ao uso de uma muleta que, por vezes, chega a irritar o público: a narração excessiva. Talvez seja decorrente da falta de experiência, talvez seja apenas uma má escolha de formato narrativo. Mas o fato é que a máxima “Show, don’t tell” é deixada de lado a maior parte do tempo, sobrecarregando o espectador com uma narração cansativa e quase onipresente. É incômoda e atrapalha a imersão na história.

    Para quem conhece pouco da história e da política do Estado de Israel ou para quem não leu o livro, é difícil acompanhar e mesmo entender o cenário sócio-político em que Amos cresce. A abordagem é superficial e, em alguns momentos, frases de efeito são jogadas sem quase qualquer conexão com o contexto das cenas. Enquanto no livro, percebe-se que o avô de Amos é um patriota fervoroso, no filme as visitas dos avós praticamente se restringem a enfatizar o estereótipo do relacionamento sogra/nora. Algo que é abordado en passant, na pessoa do pai de Amos, Arieh (Gilad Kahana), é a importância da linguagem, da estrutura do idioma. Na época, o hebraico passava por uma série de transformações que desembocariam no hebraico moderno. Arieh, um acadêmico frustrado mas esperançoso, gosta de demonstrar seus conhecimentos – de forma gentil, longe de ser pedante – usando a origem das palavras para explicar sentimento e situações. Algumas coisas se perdem por conta da tradução, mas mesmo assim, é algo cativante.

    O que fica marcado é a importância da mãe na vida do jovem Amos, e a fixação dela, Fania (Natalie Portman), com a ideia da morte. Fania é uma mulher inteligente, confinada a um cotidiano medíocre e sem perspectivas. Ela dá vazão à sua verve criativa e, por que não dizer, artística, inventando histórias para o filho. E todas, sem exceção, flertam com o tema da morte. Algumas cenas oníricas dessas histórias só passam a fazer sentido mais para o final do filme quando, após um longo período de depressão, Fania se suicida. Confrontado com essa realidade aos 12 anos, três anos depois, Amos renuncia à vida familiar e muda-se para um kibutz, renegando – mesmo que temporariamente – à sua aptidão como contador de histórias.

    É inegável que Portman encarna Fania como ninguém. Afinal, ela tem o phisique du rôle para personagens sofredoras resignadas. Mas não há exagero, nem nos gestos nem nas expressões faciais ou no tom de voz, mesmo nos momentos em que a personagem parece carregar todo o sofrimento do mundo nos ombros. A dramaticidade está no ponto certo, nem demais, nem de menos. O filme cativa mais pelo que poderia ter sido do que pelo resultado final. E deixa o espectador com vontade de saber mais sobre a história de Fania e Amos.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Star Wars – Episódio III: A Vingança dos Sith

    Crítica | Star Wars – Episódio III: A Vingança dos Sith

    ep3
    Mito.
    substantivo masculino
    1. 1.
      relato fantástico de tradição oral, ger. protagonizado por seres que encarnam as forças da natureza e os aspectos gerais da condição humana; lenda.
      “m. e lendas dos índios do Xingu”
    2. 2.
      narrativa acerca dos tempos heroicos, que ger. guarda um fundo de verdade.
      “o m. dos argonautas e do velocino de ouro”

    Mito. Para a antropologia é um relato simbólico, levado de geração em geração e que narra e explica a origem de um fenômeno, de um ser vivo, de um grupo ou costume social. Na matemática, é o que (ainda) não pode ser explicado por 1+1. E para o Cinema (que já foi um Mito da tecnologia), é Star Wars.

    O uso desse mito e sua riqueza, toda essa mitologia, na visão de Lucas, impondo a graça de suas simbologias da forma mais divertida possível, é um triunfo em A Vingança dos Sith em todos os sentidos! A história consegue se manter sóbria durante todo o tempo, sem afetações de usar mil personagens, mil cenas de ação e todo o carnaval já conhecido, numa investigação do potencial da galáxia criada em 1977, e com uma reputação quase destruída pelo baixo nível dos filmes de 1983, 1999 e 2002 (O Retorno de Jedi, A Ameaça Fantasma e O Ataque dos Clones). Parece que não seria mais possível construir uma trama boa o bastante para um universo tão rico, até esse A Vingança dos Sith aparecer e fazer as pazes com um público fiel, seguidores sedentos por um verniz de qualidade.

    George Lucas, compadre de Spielberg, sempre pareceu ter uma relação de “te amo, mas te odeio” com sua criatura. Tal George R. R. Martin, criador de Game of Thrones, Lucas sabe que manter os músculos criativos em forma é vital para suportar a enorme pressão de cultivar seu “ganha pão”. É preciso vender o peixe, ouvir o público (o cliente tem sempre a razão) e fazer tudo ser o mais interessante possível. Milagrosamente, A Vingança dos Sith tem a melhor história desde o antigo O Império Contra-Ataca, o melhor exemplar de toda a saga, exalando, no filme de 2005, uma verdadeira ode ao que faz de Star Wars um mito grego homérico de tragédias e vitórias, contudo, nos moldes do grande público pop.

    “E é assim que a liberdade termina: Com um grande aplauso.”

    Porque é lindo ver as intenções da arte casando com as do negócio. No caso, o amor pela história e o lucro almejado pelo estúdio, a Fox. Star Wars em 2005 parou de ser o videogame que começou em 1983 a ser, para reassumir o ares de drama shakespeariano de antes, dando atenção à história, complicada e cheia de elementos, mas sabendo equilibrar toda a mitologia que nos faz adorar a série. É o Poderoso Chefão da jornada nas estrelas, discutindo política, laços familiares e reinvenção pessoal diante dos conflitos da vida. No colosso de Coppola, todos lutam contra ou a favor dos seus princípios pessoais, sendo que no épico de Lucas não há tempo para profundidade filosófica, com ética, moral e valores explorados através de perseguições, conflitos e duelos de (quase) tirar o fôlego.

    É nesse episódio que podemos nos deleitar com a melhor cena de luta da saga, ao som dos hinos militares do maestro John Williams elevando o nível de duas cenas paralelas que, por mera concepção, já seriam épicas de qualquer forma. O problema é quando a mesma trilha-sonora se torna onipresente em todo o filme, como se fosse um musical imponente lotado (obeso) de efeitos especiais, muitos nem um pouco convincentes. O excesso de trilha e CGI é tanto, devido a escala surreal da história, que o filme pode até nos levar à dúvida: Seria uma animação com atores? A quebra de realismo é constante, e personagens e cenários que deveriam convencer, ser críveis, são tão falsos quanto o King Kong de 1966. Curiosidade: A Vingança dos Sith estreou depois da revolução de O Senhor dos Anéis, o que, dentro ou fora de contexto, é quase uma vergonha para o filme de George Lucas. Ainda mais se lembrarmos que, nos anos 70, quem causou uma revolução foi ele.

    O filme de 2005, na verdade, existe para nos dar certeza plena e total que há ordem no universo de Darth Vader, e companhia (Não tem bagunça, não!). Tudo tem uma causa e consequência, e o bem e o mal nem sempre é claro, mas pode ser turvo como um feixe de holograma. Há uma conspiração política prestes a explodir nos confins do universo, a fim de destruir o equilíbrio do poder e levar os de bom coração ao lado negro da força. Lucas não apenas tenta estabelecer o que aconteceu antes do primeiro filme de 1977, mas conta com inteligência e calma como Darth Vader se tornou o Hitler de Star Wars. Como alguém, antes do lado dos anjos, cai e decai tanto em uma só vida?

    O poder corrompe, e o elenco se esforça para que a tensão exale da tela, mais do que qualquer trilha-sonora ou efeito especial consiga fazer. Natalie Portman (Cisne Negro) e Ewan McGregor (Toda Forma de Amor) se destacam por fazer de Obi-Wan e Padmé pessoas em constante apreensão, sentindo ambos na pele de que a escuridão está por vir, e que parte da responsabilidade de evitar tempos difíceis está em suas mãos. É Padmé, mãe de Leia e Luke Skywalker, que solta a frase acima, numa cena de clara referência nazista.

    Tudo está em sintonia, até mesmo Yoda e o supremo chanceler Palpatine carregam o mesmo carisma icônico de sempre, entre tantas outras criaturas inesquecíveis, mas escalar Hayden Christensen como futuro Vader não seria um problema se George Lucas soubesse dirigir um ator, coisa que 30 anos depois ainda se esforça a fazer (umas aulinhas com Spielberg seriam ótimas)… Hayden, de As Virgens Suicidas, luta para encarnar a maldade crescente de Anakin Skywalker, cada vez mais pervertido, num trabalho que Al Pacino recebeu, em 1972, em Chefão, mas Hayden não conta com um Coppola guiando sua atuação. Faz o que pode e se garante, feito todo mundo.

    Ao trabalhar tão bem com expectativas e a reputação de uma cultura (um filme de Star Wars é e tem a própria cultura, por si só, tamanha a carga de signos e dogmas), A Vingança dos Sith não só atualiza o mito, mas esclarece o porquê merece seu status de lenda, e apresenta ainda uma visão mais séria e coerente as lutas de sabres de luz, aos voos de naves inter-espaciais, enfim: Para toda a brincadeira, atribuída por culto a muitos, e que aqui, foi elevada a outro patamar.

  • Crítica | Star Wars – Episódio II: Ataque Dos Clones

    Crítica | Star Wars – Episódio II: Ataque Dos Clones

    ep2

    Após a fria recepção de A Ameaça Fantasma pela crítica e pelo público, tudo indicava que a legião de fãs da saga havia perdido o brilho nos olhos, e que a ansiedade em torno de sua volta ao cinema cairia por terra. Porém, em Ataque dos Clones, George Lucas consegue (ou conseguiu) provar que o universo criado em 1977 ainda é capaz de causar algum impacto no coração dos fãs.

    Dez anos após os acontecimentos do antecessor, a trama gira em torno de um movimento separatista liderado por Conde Dooku (Christopher Lee), que tem como um de seus objetivos assassinar a agora senadora Padme Amidala (Natalie Portman). Com o intuito de protegê-la, o Conselho Jedi convoca Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) e seu aprendiz padawan, Anakin Skywalker (Hayden Christensen). Enquanto Obi-Wan parte para investigações, Anakin é designado para proteger a senadora.

    Se em A Ameaça Fantasma a decepção reside na trama fraca e no clima irritantemente infantil, Ataque dos Clones consegue corrigir grande parte dos defeitos do antecessor, nos oferecendo uma história melhor desenvolvida (ainda que imperfeita) e um visual que, em partes, recria a maturidade dos primeiros filmes, além das ótimas cenas de ação, e que correspondem aos acontecimentos, não sendo só um show visual com inimigos vindo de lugar nenhum como no episódio anterior.

    Após um início eletrizante, o filme passa a sofrer com sérios problemas de ritmo ao se dividir em dois, quando Anakin parte com a senadora em sua missão. Tem início um dos períodos mais cruciais da história a franquia: o romance que levaria ao nascimento dos protagonistas dos acontecimentos futuros. E é pelo peso que carrega que merecia melhor desenvolvimento. Parece não haver química ou simpatia entre Christensen e Portman mesmo quando a relação é desnecessariamente invadida. Fica a sensação de que o romance é mera exigência da história, e não algo que foi construído naturalmente pelos personagens.

    O filme carrega como um de seus maiores defeitos a falta de empatia de Hayden Christensen, que parece ter seguido o exemplo da versão mirim de seu personagem, e não transmite emoção alguma, elemento essencial ao desenvolvimento de seu personagem, e mesmo dando lampejos do que se tornaria, seja em suas inúmeras discussões com seu mestre e nos debates com a senadora, o ator é incapaz de mostrar capacidade de se tornar quem se tornaria.

    Por outro lado, a investigação de Obi-Wan nos entrega alguns dos momentos mais envolventes do filme, protagonizados por um excelente Ewan McGregor que troca o semblante impetuoso do episódio anterior pelos traços do poderoso guerreiro que é, referenciando a imortalizada figura sábia criada por Alec Guiness na trilogia original.

    Os três anos que separam Ataque dos Clones de seu antecessor foram marcados por uma evolução tecnológica enorme, permitindo que o episódio se tornasse um verdadeiro show de efeitos em vários momentos, mas o exagero de George Lucas tira partes do charme mais “rústico” que marca a trilogia original ao tentar mostrar sinais de evolução na franquia, de forma que possamos ver o mundo que sempre teve em mente. Porém, um dos maiores destaques da direção “exagerada” de Lucas são suas cenas de ação, conduzidas com fluidez e naturalidade, explorando ao máximo os cenários virtuosísticos e a tecnologia digital da qual dispunha. Algumas das batalhas aqui travadas são até hoje lembradas como alguns dos melhores momentos da franquia.

    Se A Ameaça Fantasma fez toda a ansiedade em torno do retorno de Star Wars cair, sua sequência foi capaz de recuperar boa parte da magia da saga. É inegável que, quando os créditos começam a subir e começamos a refletir sobre o que vimos nas últimas duas horas, percebemos que a trama não é maravilhosa, que o roteiro é recheado de momentos desnecessários e forçados, e que alguns dos momentos mais importantes foram banalizados sem hesitação. Entretanto, como todos os filmes da saga, Ataque dos Clones não foi feito para ser “pensado”, mas apenas “sentido”.

    Texto de autoria de Matheus Mota.

  • Crítica | Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma

    Crítica | Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma

    Episodio I - Ameaça Fantasma

    Em 1999, George Lucas traria finalmente à luz uma nova saga no universo que o tornou famoso. O começo de sua história era promissor, traduzido na personificação interessante da dupla de negociadores, entre os habitantes da pacífica Naboo com a temível Federação do Comércio. Os responsáveis pelas tratativas eram Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) e Obi Wan Kenobi (Ewan McGregor), díscipulo e pupilo na religião jedi.

    O maior acerto do filme já era mostrado neste início, com a personificação do ideal do cavaleiro paladino, ainda que sua personalidade seja repleta de nuances e rebeldia, já que Qui-Gon reunia em si todos os méritos que um jedi deveria ter, o auge do que Luke jamais conseguiu, e que Ben Kenobi e Yoda não conseguiam reproduzir graças a alta idade. No entanto, a seriedade ruiria a partir dos dez minutos, graças ao advento de uma figura em especial, já odiada em suas primeiras manifestações. Jar Jar Binks( Ahmed Best) emula os piores maneirismo de personagens descerebrados, arrotando uma patetice que visava agradar as crianças, tratando-as como idiotas.

    A gravidade do roteiro de George Lucas – que abriu mão de deixar outros tratarem seu script, centralizando o trabalho que o mesmo diz não gostar de fazer – está em focar na sobrevivência de um povo pouco interessante, que não gera qualquer sentimento de empatia, ao contrário, irritando o espectador com uma quantidade exacerbada de falas bobas e dramas desinteressantes, além de não revelar de modo satisfatório os motivos que faziam os opositores imporem um bloqueio ao planeta.

    Os erros crassos de planejamento que a equipe executa – e que curiosamente, fazem eco metalinguistico com os tropeços de seu criador – faz com que a tripulação tenha de parar em Tatooine, onde os jedi e uma das serviçais da rainha Padmé (Natalie Portman) conhecem o pequeno Anakin Skywalker (Jake Loyd), sua família e a criatura sorrateira que os escraviza, Watoo (Andy Secombe), o mesmo que tomou o clã como mercadoria de seu antigo dono,  Gardulla the Hutt, que no universo expandido, seria rival de Jabba. É através do dentino do infante que a sorte do grupo muda, com negociações bastante suspeitas, mostrando que não há qualquer receio moral em adentrar um hábito nefasto de jogos e trapaças.

    A personificação do malfadado gungan ajuda a mascarar um dos maiores méritos de A Ameaça Fantasma, que são seus efeitos visuais, aspecto comumente subestimado pelos fãs. A movimentação de figuras como R2-D2 – cada vez com menos momentos executados por Kenny Baker – é bastante competente, apesar de recorrer a eventos desnecessários. No entanto, o mais surpreendente está por conta da movimentação Watto, tão fluída quanto a de um personagem interpretada por um homem comum.

    O preciosismo visual se manifesta ao começo da corrida de pods, um evento só incluso no argumento para justificar os video games que seriam lançados à época, que não fazem qualquer falta a trama, acrescentando uma gama de criaturas extra-terrestres que não enriquecem em nada a fauna de Star Wars, sendo motivo de piadas na maioria dessas personificações. É ainda neste período que acontecem dois eventos importantes, a primeira ação do antagonista Darth Maul (Ray Park, em excelentes cenas) e a apresentação de Anakin e Obi Wan.

    Há uma quantidade enorme de incongruências a explorar no filme, desde a burrice dos mandantes da Federação do Comércio, até a teimosia em lançar mão de robôs de inteligência e usabilidade limitada, que não acrescentam em absolutamente nada dentro das batalhas ocorridas na extensão da Naboo. Surpreende como mesmo os pobres voluntário do planeta pacifista não sejam páreos aos robôs patéticos.

    Outro aspecto tosco e exploração do núcleo político em Coruscant, mostrando uma subvalorização do Senado Galáctico, comando pelo chanceler Valorum (Terence Stamp, também sub aproveitado) acompanhado do representante de Naboo, Palpatine (Ian McDiarmad), que exige uma ação mais enérgica da realeza, no sentido de pedir uma sanção nos deveres do supremo chanceler. A questão que deveria ser séria, é tratada de modo raso, tendo em paralelo outro grave acontecimento, envolvendo o incurso de Anakin como possível aluno da academia jedi.

    Ameaça Fantasma 9

    As acusações e discussões a respeito da corrupção, que deveriam ser dúbias, são tratados de modo desleixado, sem a seriedade exigida, quase tão vulgarizado e mediocrizado quanto a argumentação dos midh-chlorians que fariam do jovem “protagonista” algo além do ordinário. Mesmo diante de todo o caos que se instalaria na velha república e nos novos filmes, somente o arredio Qui-Gon conseguiria ter sobriedade para fazer o correto, virando as costas para o código ético dos jedi. Sua postura é diametralmente oposta a postura de Palpatine, que tem na dissolução da deturpação moral seu maior argumento, semelhante a tantos outros ditadores da história, fato que torna bastante óbvia a sua intenção, mesmo no ano de 1999.

    Toda a negociação entre os terrestres de Naboo e os gungans beira o ridículo, tanto em lógica  quanto em bom censo. O combate se aproxima de acontecer, tão imperito quanto a linguagem usada pelas criaturas marinhas, servindo como despiste para um plano de ataque aos comerciantes que é ainda mais mirabolante e estúpido. Não bastasse o fato de o público não se importar com as criaturas que morreriam – como era com os ewoks – Lucas ainda tem a audácia de refilmar o clímax de O Retorno de Jedi da maneira mais morosa possível.

    Qualquer plano tático é simplesmente ignorado, uma vez que até a rainha regente Amidala se embrenha em um tiroteio desnecessário, atrás do núcleo palacial, correndo o risco de ser assassinada, fato que causaria um terrível evento diplomático na já conturbada situação política do planeta embargado. Após a entrada  de Darth Maul – que praticamente ignora o fato da princesa passar diante de seus olhos – o grupo avança, só conseguindo passagem depois que o acaso usou uma criança para liberar o caminho para eles, que prosseguem andando com a nobre como ponta de lança, sepultando de vez qualquer possibilidade de apego a teoria de um bom combate militar.

    A grande luta final, entre Darth Maul e dos dois jedi tinha um potencial tremendo, e até certo ponto ela funciona. O embate entre o vilão e Qui-Gon Jinn funciona até o momento da derrota do herói, que é displicente, fator incongruente, mas até passável, já que ele era bastante impulsivo em todas as suas atitudes. A vingança impetrada por seus discípulo o mostra cedendo a raiva e a imprudência, aspectos que o velho Ben Kenobi criticaria veementemente, mostrando que esta versão é mais próxima de uma contraparte de uma realidade alternativa do que o pretérito do grande mentor jedi da trilogia anterior.

    A sucessão de escolhas erradas é comum tanto a Lucas, quanto ao Conselho Jedi liderado por Yoda (voz de Frank Oz, além de ter neste um boneco mais tosco que o anterior) e Mace Windu (de um ainda tímido Samuel L. Jackson), ao aceitar o piloto mirim, capaz de desmantelar todo exército dos vilões sem muito esforço ou qualquer preparo anterior.

    Falta carisma, alma, boas atuações e um texto minimamente plausível para Lucas, que ainda insiste em concentrar em si as funções mais importantes em relação a trama e direção, com medo que fizessem trapalhadas sem o seu consentimento, deixando assim passar uma quantidade enorme de terríveis situações, que não só denigrem seus filmes clássicos, como faz discutir a necessidade de tantos profissionais em montar efeitos visuais, personagens e cenários tão suntuosos, que não servem sequer de muleta para a história, tampouco ajudando no adorno do mesmo.

    Episódio I possui uma trilha sonora que funciona em alguns momentos, especialmente nas cenas de luta, mas que fracassa em tentar emular os bons momentos de John Williams, claramente não reprisando todo o sucesso que fez antes. O uso de animatics seria pioneiro, mas ajudaria a indústria usar o artifício como desculpas para propagar histórias tão fúteis e ofensivas quanto esta versão sem substância, que imita até o final do episódio original, com uma sequência caricatural e vazia de significado. A Ameaça Fantasma seria somente o primeiro dos muitos equívocos de George Lucas com seus queridos personagens sagrados, com uma abordagem que nas partes sérias peca demais em exagerar nas obviedades e faltas de sutileza dramática.

  • Crítica | Thor: O Mundo Sombrio

    Crítica | Thor: O Mundo Sombrio

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    O sinal de alerta diminuiu bastante, mas continua ligado. Após o repleto de equívocos Homem de Ferro 3, o Marvel Studios prossegue em sua chamada Fase 2 com Thor – O Mundo Sombrio. Esta segunda (Leia nossa crítica sobre o primeiro Thor) aventura solo (e terceira aparição, na cronologia peculiar do estúdio) do Deus do Trovão sabiamente dedica-se ao universo particular do personagem e consegue encontrar espaçao para, enfim, introduzir elementos para os próximos filmes. Porém, tropeça em alguns problemas desconfortavelmente semelhantes ao citado terceiro filme do Sr. Stark.

    A trama, surpresa nenhuma, situa-se logo após Os Vingadores. Vemos Loki em prisão perpétua, e a única que parece ainda se importar com ele é sua mãe adotiva Frigga. Thor está empenhando em batalhas pelos Noves Reinos, mergulhados num caos depois da destruição da Ponte do Arco-Íris, e não consegue deixar de pensar na Terra e/ou Jane Foster. A bela doutora, por sua vez, segue pesquisando fenômenos científicos enquanto suspira pelo loirão. E é ela, graças a um acidente do destino, que desencadeia a ameça da vez: derrotados há milhares de anos por Bor, avô de Thor, os elfos negros e seu líder Malekith retornam para devolver o universo às Trevas.

    O primeiro Thor sofre duras críticas – injustiçadas – que se concentram no tempo do filme passado na Terra. Em O Mundo Sombrio, esse tempo é reduzido, mas o problema é maior. Paradoxal? Nem tanto. Antes era uma história de origem, havia a necessidade de se criar uma ligação do herói com nosso mundo, até por conta de Os Vingadores. Agora, havia todo um background específico a ser trabalhado. E o filme começa muito bem, mostrando o ancestral Bor e os outros reinos além de Asgard e Midgard. Seguir nessa linha poderia render um plot muito mais interessante: ver Thor, Lady Sif e os Três Guerreiros empenhados nas tais batalhas para pacificar os mundos, em mais do que alguns flashes. Em vez disso, o argumento escolhido privilegia os coadjuvantes terrestres, cuja utilidade é enfatizar o aspecto humorístico.

    O erro não chega no nível catastrófico de Homem de Ferro 3, aqui o timing está mais acertado, recuperando o estilo consagrado da Marvel. O melhor momento do filme, inclusive, é uma piada sensacional com a aparição inesperada de outro vingador. Mas o longa acaba pecando pelo excesso, há mais gracinhas do que seria necessário. A personagem Darcy, apesar de Kat Dennings ser puro amor, irrita porque cada uma de suas frases é irônica/engraçadinha. Somando-se a ela, um inútil novo personagem (o estagiário) e o Dr Selvig transformado num maluco nudista, um humor óbvio e fácil demais.

    Em relação aos vilões, pode ser uma apontada uma certa preguiça em desenvolver algo mais criativo. Destruir o universo durante um alinhamento de planetas (rebatizado aqui como Convergência entre os Reinos) é clichê dos mais básicos. Pelo menos os elfos negros tem um visual interessante e trazem uma tecnologia que representa um desafio para Asgard. Aliás, a “tecnomagia” estabelecida no primeiro filme ganha mais espaço, vemos mais armas e naves que reforçam o teor fantástico que Thor permite que Universo Marvel comece a explorar.

    Enquanto isso, os personagens asgardianos infelizmente tem um papel bem mais discreto do que no primeiro filme. Hogun mal aparece, Fandrall e Volstagg pouco fazem e Sif é tremendamente desperdiçada. Heimdall, então, chega a ser patético lembrar da sua anunciada “maior participação” nessa sequência. Odin é mostrado ainda mais como um rei velho e cansado, ansioso por deixar o trono, e não como o poderoso Pai de Todos. Compreensível, para dar espaço para Thor ser não apenas o guerreiro, mas o herói que ele precisa ser. De positivo, o maior destaque dado para Frigga.

    Mas o dono do filme não poderia ser outro senão Loki. Tom Hiddleston incorporou tanto o personagem, que nem precisa se esforçar para ser o mais carismático. Ele passeia, flutua pelas cenas e se diverte ao trabalhar mais uma vez com a característica mais marcante do Deus da Trapaça: a ambiguidade. E pra não dizer que não falei dos protagonistas, Chris Hemsworth e Natalie Portman estão ok, nada demais. O romance recebe um enfoque que já era esperado, porém não incomoda, ao menos não em comparação com os reais defeitos da história.

    Não que Thor – O Mundo Sombrio seja um filme ruim. O problema em analisá-lo é que os pontos positivos são os mesmos de sempre: ótimo visual, ritmo equilibrado (na maior parte do tempo) entre tensão e humor, e boas cenas de ação. Como a expectativa era mais alta, pois a liberdade era maior por não existir a necessidade apresentar personagens/ambiente, os aspectos negativos acabam se sobressaindo. Em resumo, uma aventura divertida, mas esquecível, e um grande potencial sub-aproveitado. Agora é esperar pela incógnita total chamada Guardiões da Galáxia (atenção para a cena pós-créditos) e promissor (haters gonna hate) Capitão América – O Soldado Invernal. Sem esquecer da esperança maior que é Vingadores – A Era de Ultron.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | Fogo Contra Fogo (1995)

    Crítica | Fogo Contra Fogo (1995)

    fogo contra fogo - poster

    Sobre filmes que tentamos assistir por diversas vezes, mas sempre falhamos: nunca assisti inteiramente Fogo Contra Fogo. Admiro a obra de Michael Mann, mas sempre tive problema com essa produção. Ciente de que um filme necessita mais do que atenção, mas também vontade para vê-lo e abertura para compreendê-lo, dei mais uma chance para mim e o reassisti em Blu Ray. E o filme é excelente.

    Escrito e dirigido por Michael Mann, a trama desenvolve o embate entre duas personagens díspares, tanto em profissão, quanto em caráter. Não há a preocupação em julgá-las. Mann desenvolve os dois pólos da mesma história sem dar validade para nenhum dos dois. Promove um jogo em que se mostra as personagens lentamente, compreendendo aos poucos suas intenções.

    O diretor roteirista sempre se preocupa com a motivação de suas personagens. Chega a desenvolver antes do roteiro uma história completa de fatos e acontecimentos, para ter ciência de como suas personagens chegaram até a situação apresentada em sua história. O trabalho obsessivo tem valor na tela. Suas personagens são carregadas de minúcias que explicitam suas angústias internas.

    Além dos detalhes do roteiro, a maneira com que Mann trabalha a direção é única. Sempre integra suas cenas com o ambiente. Os ângulos não são em close nem em panorâmica. Ficam em um meio termo, que mostra tanto as personagens, como parte do cenário que vivem. Como se o ambiente também interagisse com naturalidade na cena. Os planos levemente colocados para cima equilibram a luz natural com a fotografia, parecendo um retrato de uma vida real.

    O trabalho cuidadoso em roteiro, filmagem, concepção de personagens, resultam em uma história densa. Não é um exagero afirmar que Mann faz um western urbano. Colocando dois personagens com objetivos diferentes em uma luta tensa em que, provavelmente, só haverá um vencedor. O duelo é lento, mas existe.

    Ampliando a credibilidade da história estão Al Pacino e Robert De Niro, como policial e bandido dentro desse jogo sutil. Em boa forma, os atores demonstram seu talento, promovendo uma cena memorável, localizada em um café, em que ambos improvisaram suas falas para gerar a estranheza de dois desconhecidos conversando.

    Diretor experiente, Mann é um obsessivo detalhista. O sutil trabalho de composição carrega dentro de si pequenas história épicas, primorosas narrativas consagradoras impressionantes.

  • Crítica | Thor

    Crítica | Thor

    Thor_Official_Poster

    Amantes do cinema pipocão, regozijem-se! Começou a temporada do verão norte-americano, época em que os blockbusters dominam o circuito. E abrindo esse ano temos Thor, adaptação dos quadrinhos da Marvel, que estreou no Brasil no dia 29 de abril, uma semana antes do lançamento nos EUA. Desde que a tradicional editora decidiu levar por conta própria seus personagens para o cinema, ao invés de somente vender os direitos, esse já é o quarto filme. Pra quem não lembra, os outros foram os dois Homem de Ferro e O Incrível Hulk. Teremos ainda esse ano Capitão América, e em 2012 toda essa cambada se reúne naquele que promete ser o filme mais massa veio de todos os tempos da história do cinema mundial, Os Vingadores.

    Mas voltemos ao Deus do Trovão, que afinal de contas é o assunto desse review. O personagem foi criado em 1963 por (adivinhem) Stan Lee, Jack Kirby e Larry Lieber, tendo inspiração nas lendas da mitologia nórdica. Como todo super-herói, teve várias interpretações e reformulações ao longo dos anos, mas mantendo-se sempre como um dos mais poderosos e respeitados do Universo Marvel. A exceção, talvez, fique por conta do Universo Ultimate, que deu uma visão mais realista a todos os heróis (e justamente por isso tem sido fonte de muitos dos conceitos do universo cinematográfico da Marvel). Nele, a princípio Thor é visto somente como um maluco superpoderoso.

    Um super-herói que é um deus, enfrenta divindades e outras criaturas mágicas, mas que também atua num cenário, digamos, mundano? E convive com o Homem de Ferro, por exemplo, um herói inteiramente baseado em ciência? Não precisa ser nenhum gênio pra perceber que esse era umas das adaptações mais difíceis de serem feitas, sem cair no ridículo ou descaracterizar demais o personagem. E o resultado é digno de aplausos, pois o filme conseguiu ser bastante consistente, mantendo a essência dos quadrinhos e atualizando com bastante simplicidade aquilo que precisava ser modificado, pra dar um ar mais crível e, principalmente, permitir que a história se encaixe no universo que vem sendo desenvolvido nos filmes anteriores.

    A história é a praticamente a mesma da origem clássica das hq’s: Thor é filho de Odin, rei de Asgard, um mundo de seres poderosos que ajudaram à humanidade em eras remotas e foram vistos como deuses, dando assim início ás lendas. Jovem, arrogante e amante das batalhas, Thor acaba reacendendo uma antiga guerra contra os Gigantes do Gelo (criaturas de outro mundo, Jotunheim), e acaba sendo punido por seu pai. Destituído de seus poderes e sua arma hyper motherfucker, o martelo Mjölnir, ele é jogado em Midgard, a Terra, pra aprender a ser humilde, paciente, sábio e todas as qualidades de um bom rei, afinal o loirão é o herdeiro do trono. Aqui, ele tromba com a equipe de físicos liderada pela doutora Jane Foster, que investiga fenômenos cuja explicação parece esta ligada a Thor e seu povo. Enquanto isso, em Asgard, o irmão do herói, Loki, se mostra muito ardiloso e… bem, continuar seria entregar a trama toda, então fiquemos por aqui.

    Como dito acima, o filme é bastante coerente em todos os seus aspectos. Ação, humor, drama, romance (o pacote tradicional, enfim) se equilibram muito bem durante toda a história. O diretor Kenneth Branagh fez um trabalho impecável, inclusive nas cenas de pancadaria, com as quais não tinha muita experiência, visto que sua fama é “shakespeareana” e teatral. Fato que é percebido na sua excelente direção de atores, todos muito bem em seus papéis. Chris Hemsworth, protagonista e praticamente desconhecido, surpreende ao dominar com total segurança todas as suas cenas. Ele conseguiu passar muito bem a confiança e arrogância do Thor inicial, e sua posterior evolução. O intérprete de Loki, Tom Hiddleston, era outro desconhecido, pelo menos pra mim. E também se sai muito bem, sendo dissimulado em alguns momentos e louco surtado em outros, ou seja, um Loki perfeito. Sendo ele mesmo, ou seja, FODA PRA CARALHO, Anthony Hopkins É Odin e ponto final. Fechando o elenco principal, temos a oscarizada, badalada, e coisinha linda Natalie Portman no papel de “interesse romântico”. No espaço que tem, ela faz o básico e não compromete. Os demais atores têm participações menores e cumprem muito bem seus papéis na trama.

    E a questão das mudanças, o tormento dos fãs dos quadrinhos? A mais sensível delas é o conceito de o que SÃO Asgard e seu povo. Enquanto nas hq’s eles são os deuses nórdicos e pronto, o filme partiu pra linha do “magia é ciência que não entendemos”, colocando-os como simplesmente seres superiores de outra dimensão. Confesso que fiquei um pouco desgostoso com isso antes de assistir, mas acaba que tudo flui naturalmente e não afeta em nada os elementos clássicos do personagem. Sobre o visual, amplamente criticado durante a divulgação, também funciona a contento. Saíram o metal e couro tipicamente viking e entraram armaduras estilosas tipo Cavaleiros do Zodíaco. O que era necessário, por conta da mudança conceitual. Há um estranhamento no início, preciso admitir, mas com um pouco de boa vontade tudo fica bem.

    Mais algumas mudanças vieram nessa mesma linha: já que não são exatamente deuses, os asgardianos não são imortais, Odin está envelhecendo e já planeja passar o trono para Thor, coisa que nos quadrinhos nunca existiu. Também muda a forma como o Pai de Todos fica caolho, nas hq’s ele mesmo arranca um dos olhos, num sacrifício pra ter a sabedoria divina, enquanto no filme ele o perde em batalha. Outras mudanças muito questionadas referem-se aos personagens Heimdal e Hogun, interpretados por um negro e um oriental, respectivamente. Politicamente correto? Com certeza, mas não chega a ser uma afronta, já que no filme eles NÃO são deuses nórdicos (aliás, muito boa essa desculpa). E estão muito bem representados, principalmente o primeiro, que é o Guardião da Ponte do Arco-Íris, e tem a visão além do alcance (mas não usa a Espada Justiceira), sendo tratado como um ser mais místico e enigmático que os demais asgardianos. Ficou bastante fiel aos quadrinhos. Por outro lado, a total ausência de Balder foi meio triste, visto que ele é o melhor amigo de Thor e um dos personagens mais importantes de suas histórias. Mas não vejo como ele poderia ser encaixado no filme, visto que os Três Guerreiros e a Lady Sif já tiveram um papel bem pequeno, apesar de muito bom.

    Obviamente não faltam a cena pós créditos e easter eggs para os fãs (destaque pra aparição de um certo arqueiro), típicos dos filmes da Marvel. No fim, Thor consegue ser bastante próximo do tom de Homem de Ferro, no sentido de aliar a ação com uma dose de drama/seriedade com os momentos de descontração, sem cair na galhofa de um Quarteto Fantástico, por exemplo. O maior defeito do filme também é bem típico: o tempo. A jornada do herói, ou melhor, a jornada moral do herói, acaba sendo meio abrupta, com Thor passando muito rápido de imaturo a altruísta. É algo que se sente, que faz o filme perder alguns pontos e não chegar ao nível ÉPICO, mas nem de longe chega a comprometer. Agora é aguardar o Capitão América em julho e depois achar uma máquina do tempo pra já pular pro meio do ano que vem e assistir Os Vingadores!

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • VortCast 03 | Oscar 2011

    VortCast 03 | Oscar 2011

    Bem Vindos à bordo. Em nossa terceira edição, comentamos sobre a maior festa do cinema mundial. E nesse bate-papo contamos com Flávio Vieira (@flaviopvieira), Bruno Hecates, Levi Pedroso (@levipedroso), Mario Abbade (@fanaticc), Rafael Moreira (@_rmc) e Érika Ribeiro(@erika_ribeiro) para comentar sobre este grande evento da indústria cinematográfica. Saibam as curiosidades por trás do evento, os grandes favoritos e acima de tudo, como não levá-lo nem um pouco a sério (assim como está edição) neste podcast. And The Oscar Goes to…

     

    Duração: 67 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na edição

    Seriadores Anônimos
    PodPipoca

    Melhor filme

    • A Rede Social
    • O Discurso do Rei
    • Cisne Negro
    • O Vencedor
    • A Origem
    • Toy Story 3
    • Bravura Indômita
    • Minhas Mães e Meu Pai
    • 127 Horas
    • Inverno da Alma

    Melhor diretor

    • David Fincher – A Rede Social
    • Tom Hooper – O Discurso do Rei
    • Darren Aronofsky – Cisne Negro
    • Joel e Ethan Coen – Bravura Indômita
    • David O. Russell – O Vencedor

    Melhor ator

    • Jesse Eisenberg – A Rede Social
    • Colin Firth – O Discurso do Rei
    • James Franco – 127 Horas
    • Jeff Bridges – Bravura Indômita
    • Javier Bardem – Biutiful

    Melhor atriz

    • Annette Bening – Minhas Mães e Meu Pai
    • Natalie Portman – Cisne Negro
    • Nicole Kidman – Rabbit Hole
    • Michelle Williams – Blue Valentine
    • Jennifer Lawrence – Inverno da Alma

    Melhor ator coadjuvante

    • Mark Ruffalo – Minhas mães e meu Pai
    • Geoffrey Rush – O Discurso do Rei
    • Christian Bale – O Vencedor
    • Jeremy Renner – Atração Perigosa
    • John Hawkes – Inverno da Alma

    Melhor atriz coadjuvante

    • Helena Bonham Carter – O Discurso do Rei
    • Melissa Leo – O Vencedor
    • Amy Adams – O Vencedor
    • Hailee Steinfeld – Bravura Indômita
    • Jacki Weaver – Reino Animal

    Melhor roteiro original

    • Minhas Mães e Meu Pai
    • O Vencedor
    • A Origem
    • O Discurso do Rei
    • Another Year

    Melhor roteiro adaptado

    • A Rede Social
    • 127 Horas
    • Bravura Indômita
    • Toy Story 3
    • Inverno da Alma

    Melhor longa-metragem de animação

    • Como Treinar o Seu Dragão
    • O Mágico
    • Toy Story 3

    Melhor direção de arte

    • Alice no País das Maravilhas
    • Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1
    • A Origem
    • O Discurso do Rei
    • Bravura Indômita

    Melhor fotografia

    • Cisne Negro
    • A Origem
    • O Discurso do Rei
    • A Rede Social
    • Bravura Indômita

    Melhor figurino

    • Alice no País das Maravilhas
    • I am Love
    • O Discurso do Rei
    • Bravura Indômita
    • The Tempest

    Melhor documentário (longa-metragem)

    • Exit Through the Gift Shop
    • Gasland
    • Inside Job
    • Restrepo
    • Lixo Extraordinário

    Melhor documentário (curta-metragem)

    • Killing in the Name
    • Poster girl
    • Strangers no More
    • Sun Come Up
    • The Warriors of Qiugang

    Melhor edição

    • Cisne Negro
    • O Vencedor
    • O Discurso do Rei
    • 127 Horas
    • A rede social

    Melhor filme de língua estrangeira

    • Biutiful (México)
    • Dogtooth (Grécia)
    • In a Better World (Dinamarca)
    • Incendies (Canadá)
    • Outside the Law (Argélia)

    Melhor trilha sonora original

    • Como Treinar seu Dragão –  John Powell
    • A Origem – Hans Zimmer
    • O Discurso do Rei – Alexandre Desplat
    • 127 Horas – A.R. Rahman
    • A Rede Social – Trent Reznor e Atticus Ross

    Melhor canção original

    • “Coming home”, de “Country Strong”
    • “I see the light”, de “Enrolados”
    • “If I rise”, de “127 horas”
    • “We belong together”, de “Toy Story 3”

    Melhor curta-metragem

    • The Confession
    • The Crush
    • God of Love
    • Na Wewe
    • Wish 143

    Melhor curta-metragem de animação

    • Day & Night
    • The Gruffalo
    • Let’s Pollute
    • The Lost Thing
    • Madagascar, carnet de voyage

    Melhor edição de som

    • A Origem
    • Toy Story 3
    • Tron: O Legado
    • Bravura Indômita
    • Incontrolável

    Melhor mixagem de som

    • A Origem
    • O Discurso do Rei
    • Salt
    • A rede Social
    • Bravura Indômita

    Melhores efeitos visuais

    • Alice no País das Maravilhas
    • Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1
    • Além da Vida
    • A Origem
    • O Homem de Ferro 2

    Melhor maquiagem

    • Minha Versão Para o Amor
    • Caminho da Liberdade
    • O Lobisomem
  • Crítica | Cisne Negro

    Crítica | Cisne Negro

    Cisne Negro

    Darren Aronofsky nos apresenta um thriller psicológico intenso, desafiante, até mesmo aflitivo… Mas ao mesmo tempo imperdível.

    Em uma primeira leitura da sinopse do Cisne Negro, dificilmente alguém se surpreenderia com a sua história. O mais atento, porém notaria que a obra é assinada por um diretor autoral que já nos trouxe filmes de qualidade dificilmente questionáveis, para se dizer o mínimo.

    A obra acompanha a história de Nina Sayers (Natalie Portman), uma dançarina de balé clássico que  almeja o papel principal no mais do que famoso espetáculo ‘O Lago dos Cisnes’. A Rainha Cisne é este papel, e para interpretá-lo Nina terá que mostrar não somente o seu lado doce e frágil do cisne branco, mas também deixar aflorar seu alter ego, o cisne negro. Metáfora clássica maniqueísta que por sí só já diz muito sobre a personagem e os diversos obstáculos que ela vivenciará.

    E é aí que o filme arrebata o espectador mostrando o que Aronofsky tem de melhor. Sua edição singular unida a uma interpretação por parte de Natalie Portman sem igual, merecidamente indicada ao Oscar de melhor atriz. Como tantos outros personagens do diretor, Nina se vê cercada de ameaças aos seus maiores objetivos de vida, sejam estas reais ou não. Sua obsessão culmina na personagem de Mila Kunis (Lyli). Lyli em teoria teria as qualidades faltantes em Nina para interpretar o lado mais sombrio da Rainha Cisne. A interação entre as duas é cercada de mistério e desconfiança por parte de Nina. Mila Kunis também não deixa a desejar, atuando com uma sensualidade e sedução que atinge perfeitamente o que o cisne negro representa na história.

    Conseguimos ver em Nina diversas características de trabalhos anteriores de Darren. A sua busca por perfeição, superação e até mesmo sua autodestruição são recorrentes. Max em π (PI), Randy em O Lutador e Tomas em A Fonte da Vida, todos têm em si um pouco dessas características. Isso dá uma identidade aos personagens de Darren, e que quase que invariavelmente resulta em ótimas atuações, seguido de um terror psicológico até mesmo incômodo. Com isso Darren consegue atrair e (algo ainda de maior mérito) manter a nossa atenção em seu núcleo esquizofrênico, bestial, frenético.

    Não poderia deixar de comentar também a magnífica trilha sonora, sempre bem dosada com as aflições de Nina. Quem assina a trilha é Clint Mansell, que já havia trabalhado com Aronofsky em seus quatro filmes anteriores. Ele usa da trilha original de Tchaikovsky para o Lago dos Cisnes com algumas nuances. Tornando algumas cenas simplesmente épicas e que valem a pena serem conferidas no cinema.

    A fotografia é outro espetáculo neste filme. Os poucos, mas muitíssimo bem executados efeitos especiais adicionam o terror, ou a beleza necessária em diversas cenas. Estes efeitos são importantes para marcar o contraste dos fantasmas internos de Nina, como também para acentuar sua integração, principalmente quando esta não pode mais ser negada ou escondida.

    Com tudo isso, Darren Aronofsky nos delicia com mais um grande filme. Um real espetáculo em diversos quesitos técnicos e ainda com uma substância psicológica que não pode ser desconsiderada e vale como uma síntese da obstinação do ser humano na busca pela perfeição.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

    Ouça nosso podcast sobre Darren Aronofsky.