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  • Crítica | Um Homem de Família (2000)

    Crítica | Um Homem de Família (2000)

    Um Homem de Família traz a história de Jack Campbell (Nicolas Cage), um bem-sucedido corretor milionário que em 1987, abriu mão da relação com sua namorada de faculdade, viajando rumo a Londres para uma vida bem diferente do que tinha até então. Na noite do dia 24 de dezembro de 2000, após receber uma ligação da mesma Kate que ele abandonou, ele segue seu dia normalmente, mas curioso a respeito de como poderia ser sua vida caso seguisse com ela.

    Essa é uma versão que tenta modernizar histórias natalinas, como Um Conto de Natal, de Charles Dickens, com pitadas referenciais ao clássico de Frank Capra, A Felicidade Não Se Compra. O lúdico invade a trama que até então parecia cínica e vaidosa, que em um momento de tédio e vazio existencial pensa nas alternativas que sua vida teve. A materialização da mudança, após o personagem interromper um assalto resulta em uma estranha fantasia que se vale até do arquétipo do negro místico, interpretado por Don Cheadle, e coloca o herói da jornada em situações bem distantes daquela rotina de antes.

    Cage já havia trabalhado com grandes diretores, ganhado um Oscar por Despedida em Las Vegas, além de protagonizar grandes filmes de ação como A Outra FaceA Rocha, ou seja, estava no auge de sua carreira. Brett Ratner era conhecido por seu trabalho nas comédias Tudo Por Dinheiro e A Hora do Rush, o que pode ter motivado Cage a participar do projeto, aliado a outras discussões existentes no roteiro de Um Homem de Família, como o próprio consumismo e a hipocrisia típica do período.

    A comparação entre às duas vidas de Jack é absurda, em uma ele tem a realização profissional, na outra é a completa ruína do ponto de vista financeiro. A lição que lhe é dada poderia ser curta, mas ele é individualista, obcecado por ter tudo de volta. Nem mesmo simples manifestações de afeto são encaradas por ele como algo normal. Ele é ríspido até mesmo com a sua filha menor, e demora a enxergar afeição nos pequenos momentos.

    A negação dele é tão intensa que faz o espectador perguntar se os primeiros momentos do filme não eram um devaneio, e se sua vida, na verdade, não é a de um homem ordinário, ambicioso, mas preso a uma rotina medíocre, agravada por uma crise de meia-idade.

    O drama é vagarosamente desenvolvido, e mesmo em meio a negação de Jack, a maior riqueza da trama ainda é a relação dele com Kate. Se Cage consegue apresentar uma boa versão do homem insatisfeito, Téa Leoni é deslumbrante visual e espiritualmente. Os poucos momentos que Campbell se permite ter prazer é quando está com ela, mesmo nas crises normais da vida adulta média, quando ele se enxerga como casal com a mulher que jurou amar e cuidar ele parece estar completo.

    A vaidade e teimosia do protagonista seguem grandes em todo o filme e sua tentativa em corrigir a rota mostra que ele dificilmente entenderá a lição que querem lhe passar. Ele só se vê como um homem de negócios. O compromisso que ele parece ter é com o dinheiro e somente isso.

    Para todos os efeitos, Jack é humano, e se nega a aceitar qualquer uma de suas versões. Quando tem a família, ele deseja a riqueza, e quando vê essa riqueza se aproximar, ele não quer perder Kate e tudo que veio dessa união. Ele não é iluminado, ao contrário, é burro e fútil, já Kate, na versão fantasiosa parece ser evoluída, e até no mundo dito real, parece ser mais generosa que seu possível par.

    Um Homem de Família é um conto sobre maturidade, sobre lidar com as escolhas que a vida oferece, como se permitir construir algo com quem ama, mesmo que esse dia-a-dia não seja repleto de luxos. A mensagem anticapitalista seria bem empregada, não fosse pelo final conveniente para os anseios dos personagens, e é uma lástima que um filme tão reflexivo termine tal qual uma comédia romântica água com açúcar. No entanto, o restante da jornada para chegar a essa conclusão é válida, afinal, Kate e Jack são apenas seres humanos, capazes de escolher mal seus próprios destinos, como qualquer um de nós.

    https://www.youtube.com/watch?v=vy5pt3FT5Tk

  • Review | Entourage

    Review | Entourage

    entourage-1Estrelada por  figuras pouco conhecidas do público – ao menos como protagonistas de seus shows anteriores – Entourage deveria contar a história dos homens que cercam uma estrela, fato que poderia se basear perfeitamente no cenário que cerca o produto executivo Mark Whalberg, assim como milhares de outras situações, com as conhecidas sanguessugas que envolvem jogadores de futebol e afins. Adrian Grenier faz a estrela em ascensão Vincent Chase, que mantém vivo o trio Eric “E” Murphy (Kevin Connolly) amigo e empresário de Vincent,  Johny Drama Chase (Kevin Dillon), que é o irmão mais velho e também um decadente ator, além do faz-tudo e motorista Turtle (Jerry Ferrara). O quarteto convive também com o agente Ari Gold (Jeremy Piven), que é o principal responsável por encaminhar a carreira de sucesso de Vincent.

    A inspiração oficial do texto de Doug Ellin é a persona de Eric Weinstein, um amigo de longa data de Whalberg que teve uma trajetória parecida com a de Vincent. Outras mil situações são copiadas da realidade. A primeira temporada explora basicamente os esforços para a pré-produção de um possível filme, chamado Queens Boulevard, que revela como a unidade de amigos funciona, além de analisar o modus operandi do mundinho fashion de Los Angeles e fortificar a ideia de protagonismo sobre Eric Murphy, um dos poucos dentro do grupo que realmente tem uma vida comum, ordeira e repleta de trabalho. Sua postura torna-se mais enérgica na função de manager da estrela em ascensão.

    A segunda temporada começa com a possível produção de um filme de super-herói, onde Vincent faria o Aquaman. É curioso notar como a procura por um filme cresce quando a demanda aumenta, e enquanto pessoas super famosas estão envolvidas. O exemplo cabal disto é quando James Cameron se alista na direção do action movie. No entanto, é a convivência entre pessoas comuns neste mundo fantasioso e glamourizado que exibe um carisma ímpar, típico de pessoas com aspirações reais.

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    A possibilidade de fazer um filme arrasa-quarteirão mexe demasiado com a rotina das personagens, ajudando a transcender a simples exemplificação das futilidades típicas da alta roda do cinema para demonstrar emoções em contraponto, humanizando o processo artístico e figuras famosas, que fazem aparições recorrentes e de cara limpa – a exemplo de Cameron – como Jessica Alba, Scarlet Johansson, Gary Busey. A ambientação lembra os mesmos cenários de Californication, mas sem o mesmo conteúdo de contestação debochada do texto de Tom Kapinos.

    As relações entre Vince e Erik se acirram graças às péssimas escolhas amorosas do primeiro, o que obviamente acarreta na perda de contratos milionários, causando um baque gigantesco no grupo, que se vê sem mais opções para driblar a crise financeira que o envolve, especialmente porque toda a questão envolve um James Cameron bastante inspirado a trabalhar, antes do fenômeno – ou antifenômeno no caso – Avatar, três anos antes do filme que deveria resgatar as premiações ao diretor.

    O sucesso de Aquaman muda a vida do quarteto, Turtle evolui e começa a agenciar a carreira de rapers, e a empreitada passa a dar certo, assim como a vida amorosa e profissional de E. Mesmo Ari consegue sua independência do antigo sócio e mentor, o que gera um sem número de celeumas e situações agridoces. A nova fase, com a companhia independente de Gold se inicia de modo comum a tantos artistas que se vêem contrariados, com um reclame de Vinny em relação a ao disparate dos executivos em mudar completamente a edição de Queens Boulevard, muito por causa do sucesso comercial de Aquaman, unido claro a forsação em relação a sua temível continuação, com outro diretor e roteirista, recusada de pronto por Vincent, o que o fez ser persona non grata na Warner.

    Apesar do entorno de Chase ser formado por pessoas venenosas, ainda é surpreendente a quantidade de tramoias pensadas pelos “produtores”, especialmente pelo mais rico personagem. Ari Gold apesar de grosseiro e tosco consegue ser a figura mais dócil e amável do folhetim, não à toa é a personagem mais amada de toda Entourage. Até o mesquinho micro universo dos agentes sugadores de dinheiro se tornar empático, por causa dele, da personagem de Debi Mazar, a assessora Shauna e de tantos outros, que humanizam a figura predativa dos barões da indústria.

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    Cada grande alvo alcançado pelos fracassados personagens é louvado a exaustão, e de maneira digna, uma vez que mesmo em manifestações tragicômicas, há um bocado de carinho nas performances, como se fossem um quarteto de palhaços deprimidos, em conflito espiritual mas ainda assim graciosos em essência.

    O sonho de Vincent vai ganhando contornos reais, quando na quarta temporada, começam a rodar Medellin, o filme biográfico de Pablo Escobar, produzido por ele e por E, além de ser protagonizado por ele, dirigido pelo louco Billy Walsh (Rhys Coiro). Com o decorrer das temporadas, as personagens evoluem ainda mais, assim como fracassam em suas tentativas de sucesso, a começar por Medellin, passando por idas e vindas de E com Sloan (Emanuelle Chriqui), a demissão e volta por cima de Ari – que também passa por terríveis escândalos conjugais, culminando especialmente na sétima temporada no descontrole emocional de Vince, que envolve-se sentimentalmente com Sasha Grey, passa a ser adicto em cocaína logo quando seu melhor amigo sai de sua casa para viver sua nova profissão e um relacionamento amaziado.

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    O último e oitavo ano do seriado retorna vaporizado, com Eric saindo de casa, enquanto Vince retorna  finalmente da reabilitação, limpo e sóbrio e com Ari finalmente fora de sua casa, graças a uma briga com sua esposa, que ocorreu após uma séria sequência de decepções conjugais, que resultam numa traumática. A posição de tentar tratar o recém recuperado com coitadismo serve para pavimentar um novo começo na carreira dele e consequentemente de todos que estão no seus arredores.

    Entourage não trata só dos bastidores de Hollywood, mas também mostra a intimidade dos que vivem nesse universo, e que em suas próprias órbitas, possuem problemas, dramas e catástrofes próprias, focando especialmente nas frustrações, uma vez que o foco nos aspectos positivos é praticamente nulo em comparação com os fracassos de Johnny, Turtle, E, Ari e Vince, além de tantos outros coadjuvantes, que seguem seus destinos convivendo com os saldos negativos sem se fazer de coitados na maior parte do tempo.

    Os últimos episódios unem o destino de divorciado de Ari, amalgamado com uma ideia de filme que Vince teve, que seria estrelado por Drama, além de questões super pesadas, como a gravidez de Sloan, que não quer mais qualquer intimidade com ele, ainda mais após uma sucessão de besteiras causadas por ele, além do novo compromisso de Vince, com Sophia, uma repórter que lhe entrevista e que captura sua atenção.

    O cancelamento da HBO serviu para enfim começar a se definir o futuro de cada um dos personagens tão caros para o público, que acompanhou avidamente seu passos por oito anos. O serie finale se assemelha bastante do fim das novelas brasileiras, com relacionamentos reatados, novas perspectivas de futuro e afins. Os momentos antes dos créditos finais servem para ratificar que Entourage até orbita em volta de Vince Chase, mas o real astro e a trajetória real era de Eric Murphy e sua ascensão, desde a babá de um ator famoso, até a possibilidade de ser um homem de negócios, um agente real, chefe de família comprometida com sua antiga e nova família, além claro de servir para abrilhantar a carreira de Jeremy Piven como coadjuvante de luxo.

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  • Crítica | Entourage: Fama e Amizade

    Crítica | Entourage: Fama e Amizade

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    Dirigido por Doug Ellin, criador do seriado de mesmo nome, Entourage: Fama e Amizade começa frenético, sem pausas para explicações, como um grande episódio de retorno de temporada. Com mudanças drásticas nas relações do quinteto que envolve Vincent Chase (Adrian Grenier), o filme ignora as consequências dos eventos mostrados no traumático ano de cancelamento do telesseriado, em 2011.

    Após uma mini-introdução, acompanhada de Superhero de Jane’s Addiction, música que também abria o programa, prossegue a história de Eric “E” Murphy (Kevin Connolly), Turtle (Jerry Ferrara), Johnny Drama (Kevin Dillon) e Ari Gold (Jeremy Piven), além do retorno de dezenas de coadjuvantes e, claro, algumas aparições de famosos, marca registrada do produto da HBO.

    Retomando os temas da oitava temporada, (ou quase isso), estabelece-se o divórcio de Vinny, assim como a ascensão de Ari ao posto de chefe do estúdio, a despeito de suas belas intenções de dedicar mais tempo ao seu casamento. O argumento resgata grande parte dos plots do último ano, ainda que leve em conta a evolução dos personagens. O roteiro de Ellin e Rob Weiss resgata a vontade do ator em tornar-se diretor, usando o artifício como rito de passagem, aludindo as situações conturbadas que envolvem a produção de filmes, como os estouros de orçamento e pedidos recorrentes de mais aporte financeiro para terminar edição, montagem e pós produção.

    A rotina do quarteto prossegue a mesma, com festas cheias de regalias, mulheres com pouca roupa, além dos dois estarem cercados dos agregados da fama de Chase, festejando sempre, mesmo diante de um iminente fracasso. A expectativa em relação a Hyde acaba servindo de comentário metalinguístico para a transposição do seriado para as telas de cinema, ainda que os motivos para um possível fracasso do longa ficcional passem longe da problemática de Entourage – Fama e Amizade.

    A força do programa era pautada na multiplicidade de protagonistas, e o filme cai no erro recorrente das transposições dos dramas televisivos para o cinema ao dividir mal os dramas das personagens, que acabam por ser pouco interessantes ou caros. A profundidade que é bem trabalhada em 96 episódios parece frívola nos 100 minutos de duração do longa-metragem, especialmente graças ao script que não justifica o fato de ter sido filmado e executado desta maneira.

    As sequências na premiação do Globo de Ouro guardam momentos que deveriam ser ternos e repletos de sentido para quem acompanhou a trajetória de “E” e Vince, mas que se perdem em meio a colagens de figuras extremamente famosas mal encaixadas em um filme que deveria ser sério, assim como ocorre na cena pós créditos. O longa de Entourage fracassa tanto em trazer um significado maior aos fãs mais antigos, quanto em nada significar para quem jamais viu a série. As figuras de destaque anteriormente nada brilham nesta nova versão, o que justifica plenamente a baixa bilheteria caseira e a falta de apelo do longa. Se Ellin tivesse entregue a direção a um cineasta mais imponente, talvez lhe sobrasse mais tempo para trabalhar no texto de continuidade no texto que lhe fez famoso. Mas, ocorre o contrário: seus esforços só fazem banalizar a trajetória dos agregados de Vince Chase, inclusive a do próprio showrunner e pretenso realizador.

  • Crítica | Fogo Contra Fogo (1995)

    Crítica | Fogo Contra Fogo (1995)

    fogo contra fogo - poster

    Sobre filmes que tentamos assistir por diversas vezes, mas sempre falhamos: nunca assisti inteiramente Fogo Contra Fogo. Admiro a obra de Michael Mann, mas sempre tive problema com essa produção. Ciente de que um filme necessita mais do que atenção, mas também vontade para vê-lo e abertura para compreendê-lo, dei mais uma chance para mim e o reassisti em Blu Ray. E o filme é excelente.

    Escrito e dirigido por Michael Mann, a trama desenvolve o embate entre duas personagens díspares, tanto em profissão, quanto em caráter. Não há a preocupação em julgá-las. Mann desenvolve os dois pólos da mesma história sem dar validade para nenhum dos dois. Promove um jogo em que se mostra as personagens lentamente, compreendendo aos poucos suas intenções.

    O diretor roteirista sempre se preocupa com a motivação de suas personagens. Chega a desenvolver antes do roteiro uma história completa de fatos e acontecimentos, para ter ciência de como suas personagens chegaram até a situação apresentada em sua história. O trabalho obsessivo tem valor na tela. Suas personagens são carregadas de minúcias que explicitam suas angústias internas.

    Além dos detalhes do roteiro, a maneira com que Mann trabalha a direção é única. Sempre integra suas cenas com o ambiente. Os ângulos não são em close nem em panorâmica. Ficam em um meio termo, que mostra tanto as personagens, como parte do cenário que vivem. Como se o ambiente também interagisse com naturalidade na cena. Os planos levemente colocados para cima equilibram a luz natural com a fotografia, parecendo um retrato de uma vida real.

    O trabalho cuidadoso em roteiro, filmagem, concepção de personagens, resultam em uma história densa. Não é um exagero afirmar que Mann faz um western urbano. Colocando dois personagens com objetivos diferentes em uma luta tensa em que, provavelmente, só haverá um vencedor. O duelo é lento, mas existe.

    Ampliando a credibilidade da história estão Al Pacino e Robert De Niro, como policial e bandido dentro desse jogo sutil. Em boa forma, os atores demonstram seu talento, promovendo uma cena memorável, localizada em um café, em que ambos improvisaram suas falas para gerar a estranheza de dois desconhecidos conversando.

    Diretor experiente, Mann é um obsessivo detalhista. O sutil trabalho de composição carrega dentro de si pequenas história épicas, primorosas narrativas consagradoras impressionantes.