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  • Crítica | Casa Gucci

    Crítica | Casa Gucci

    Crítica Casa Gucci

    Casa Gucci é o filme que traz Ridley Scott de volta as cinebiografias. A obra se baseia no livro Casa Gucci: Uma história de glamour, ganância, loucura e morte de Sara Gay Forden e traz a controversa história do casal formado por Patrizia Reggiani e Maurizio Gucci. A trama se passa ao longo das décadas, e tem por base três períodos distintos, exibindo uma história de amor, ressentimento e ganância.

    O Último Duelo, filme anterior de Scott bastante elogiado, portanto, havia uma grande expectativa em relação à produção de seu novo longa, seja por conta dos bastidores de um império da moda, como pelo elenco, desde o casal de protagonistas composto por Lady Gaga, que vinha de uma atuação elogiadíssima em Nasce Uma Estrela, e o sempre elogiado Adam Driver, como pelos coadjuvantes que incluía Al Pacino, Jeremy Irons, Jared Leto (em outra participação hilária e melancólica), Salma Hayek e Jack Huston.

    Na primeira hora do filme acompanhamos o relacionamento do casal, totalmente baseado no amor, que aparenta ser verdadeiro e completamente puro. Chega a ser estranho, pois até a parcela da família Gucci que compreende Maurizio parece de fato ter uma relação próxima. Em paralelo a isso o mercado da moda é mostrado como algo bastante semelhante à máfia. Com o desenrolar dos anos, acompanhamos uma série de reviravoltas e traições.

    Até se aproximar da metade, o filme é acertado, ainda que existam conveniências de roteiro. Os personagens são erráticos, repletos de tridimensionalidade e carisma. Infelizmente a metade final é bastante irregular. Nos anos finais o que mantém o espectador atento é a curiosidade de como a história se encerrará. Em alguns pontos, o filme parece uma minissérie biográfica com orçamento vultuoso.

    Os momentos finais comprometem bastante os bons momentos do filme. O cineasta repete boa parte dos erros de Todo o Dinheiro do Mundo, embora Casa Gucci tenha um roteiro mais interessante. No final das contas, o longa servirá para tentar angariar uma ou outra indicação ao Oscar e, possivelmente, uma estatueta ou outra para categorias técnicas como maquiagem, figurino e melhor atriz.

  • Crítica | O Poderoso Chefão: Desfecho – A Morte de Michael Corleone

    Crítica | O Poderoso Chefão: Desfecho – A Morte de Michael Corleone

    Trinta anos passaram desde o término da franquia O Poderoso Chefão, e por mais que Francis Ford Coppola tenha sido muito criticado por fazer O Poderoso Chefão III, principalmente pela participação de sua filha como uma das protagonistas, a história do filme tem uma participação maior do escritor Mario Puzo. Qual não foi a surpresa de fãs e admiradores quando o diretor afirmou que estava reeditando o desfecho da série em uma reedição com duração modificada e diferenças narrativas diversas do material original.

    Muito se falou ao longo dos anos a respeito da possibilidade de um novo filme. No material extra da trilogia, o cineasta afirmava sua vontade de contar a história de Vincent Mancini/Corleone (Andy Garcia) e do jovem Sonny. Esse projeto jamais saiu do papel, em especial por conta do falecimento de Mario Puzo em 1999, e o corte tem claramente um tom de homenagem póstuma ao antigo escritor e roteirista. 

    Em O Poderoso Chefão: Desfecho – A Morte de Michael Corleone a primeira coisa que notamos é a diminuição da participação de Mary (Sofia Coppola), filha mais nova de Michael e Kay. Além disso, a direção narrativa é voltada para a questão da Immobiliare, empresa europeia que passaria para as mãos de Michael e sua família. O enfoque nos negócios e acordos com a igreja representada pelo padre banqueiro Arcebispo Gilday (Donal Donnelly) é mais do que acertada.

    O foco na família é diferente, ainda que permaneça da mesma forma a cena onde Mike busca seu sobrinho bastardo para participar da foto familiar – em atenção a mesma questão de Don Vito se recusar a fotografar sem a presença de Michael, em O Poderoso Chefão – aqui ela parece mais significativa, por conta da edição que prioriza a busca do padrinho por um sucessor também nos negócios espúrios. Por mais que as promessas de abandono da vida criminosa que ele fez a sua ex-esposa, o que resta (e sobressai) é a ganância e a sede pelo poder. Michael é hipócrita ao buscar um distanciamento do submundo do crime, mas não descansa enquanto não for o homem mais poderoso em seu meio, e é letárgico até na escolha de um sucessor para essa função.

    As outras personagens da família são bem enquadradas. Connie é mostrada como a matrona manipuladora, com uma máscara ainda mais venenosa do que na versão original, e Talia Shire consegue ser ainda mais decisiva aqui, mesmo com o tempo de tela reduzido. A mensagem que fica é de que o capital corrompe tudo, manifestado pela figura mítica (e com referências bíblicas) de Mamon, que chega inclusive a determinar os rumos da Santa Igreja.

    No seriado Roma, a suposta epilepsia de Julio Cesar (Ciran Hindis) é mantida em segredo para que não seja considerada um sinal de fraqueza junto aos seus inimigos. Michael aqui tem uma dinâmica semelhante, atormentado por fantasmas e demônios, o protagonista tem delírios por conta da diabetes e ataques de pânico. A ideia de crepúsculo é bem trabalhada, com o símbolo decadente de virilidade sendo enquadrado e desglamourizado. Se Coppola era acusado antes de tornar os mafiosos figuras simpáticas, nessa nova versão somos apresentados a decadência.

    O Poderoso Chefão: Desfecho – A Morte de Michael Corleone possui mais camadas e subtextos do que aquela de 1990, e ainda lida bem com o final de trajetória melancólica de um homem e um império. Repleto de equilíbrio, menos vaidade e um bom louvor aos textos do mestre Mario Puzo.

  • Crítica | S1m0ne

    Crítica | S1m0ne

    O início de S1m0ne, segundo filme do diretor Andrew Niccol se dá com cenas naturais, acompanhadas de uma música incidental belíssima, composta por Carter Burwell. Não demora a aparecer o obsessivo Viktor Taransky, um produtor comercial pilhado e sempre estressado vivido por Al Pacino, que em um primeiro momento, tenta controlar uma espécie de transtorno ligado ao TOC, separando jujubas e delicados em uma vasilha sem motivo ou razão aparente alguma. Dentro de seus pequenos dramas, ele tem que também lidar com o ego de artistas mais renomados, entre elas Nicola Anders (Winona Ryder), uma super modelo que desiste da campanha que ele faz.

    Viktor é um homem genioso, já foi nomeado ao Oscar pela direção de dois curta metragens seus, e o roteiro de Niccol resolve todas essas referencias em um espaço curto de tempo, entre a exibição de um dos cortes da propaganda e uma conversa entre ele e sua colega de produção, Elaine Christian (Catherine Keener) e é nesse ponto que ele percebe o fundo do poço, sendo despedido após mais um fracasso em sua carreira, mas apesar da melancolia, ele segue tentando parecer altivo.

    Niccol utiliza muito bem as cores. A desculpa de passear por estúdios propicia que os tons esverdeados e átonos sejam justificados como uma alternativa lógica e essa tonalidade que lembra o movimento de vômito ajuda a compor todo o quadro tragicômico de desespero e de aceitação que o protagonista tem junto a Hank Aleno (Elias Koteas). Um homem sem alternativas é mais suscetível a trabalhos de gosto e origem duvidosos.

    Há toda uma aura fantasiosa por trás do que ocorre após a morte de Aleno, o realizador recebe uma encomenda misteriosa, abre no computador, vê uma figura feminina feita por Rachel Roberts, e então chega com o filme de Valerie pronto, deslumbrante. Os momentos de Pacino aqui são de uma entrega absurda, ele faz o experiente e inseguro artista. A cena em que ele está refletindo desesperado no banheiro emula bem a jornada de conhecimento da causa do Mr. Anderson em Matrix, parece até que a tomada foi feita pelas irmãs Watchowski de tão fidedigna que está a aura, e isso não é um demérito para Niccol, até porque não se sabe se sua intenção foi referenciar isso. De todo modo, o exercício se assemelha muito a especialidade de Quentin Tarantino, de pegar uma tomada X de um diretor clássico, mudando seu significado.

    O conceito de Complexo de Frankenstein que o escritor Isaac Asimov tanto criticava dá conta do uso da robótica como algo necessariamente vil, e o que se vê aqui com a inteligência artificial denominada Simone é bem a gênese do que poderia ser isso, levando em conta inclusive o pontapé da ganância humana como estopim para essa possível revolta, embora a intenção do filme passe longe disso. Aqui se fala do vazio da alma humana, da  falta de escrúpulos e do uso da imagem de terceiros visando lucro, inclusive da parte dos que se julgam explorados e subestimados. As ações de Viktor não são livres de vis intenções, ou de desonestidades, ele surfa bastante nessas ondas e lucra com tudo isso.

    Pacino faz esse personagem cair no pecado que outro de seus personagens famosos da época provocava: a vaidade. Em O Advogado do Diabo, o ator fazia o Diabo, e seduzia as pessoas através de  seu ego. A falha de Taransky é exatamente essa, a tentativa de esconder Simone dos holofotes só aumenta a expectativa em torno dela, e faz até seu desejo de ser encarado como o único com méritos positivos em seus filmes cair em um mar de irrelevância. Todos só querem saber da atriz, mesmo que ela seja  um fantoche nas mãos digitais de Viktor.

    A dúvida que fica é, quem domina quem, pois as poucos, o personagem que era apenas um contador de historias se torna Relações Publicas, montador, ator, tudo para emular a atriz perfeita, que não tem escolhas próprias. Aos poucos, ele se torna refém de suas mentiras, e o quadro evolui tanto que se torna algo mitômano, a segunda hora de filme mostra todo o malabarismo do personagem masculino tentando não só emular o comportamento comum de uma mulher estrela, mas também toda sorte de eventos pitorescos para que ele possa ter uma vida amorosa saudável, ou algo que o valha, e não importa o que ela faça, ou como haja, há sempre quem a defenda e o comentário sobre a sociedade do espetáculo é muito mordaz e certeiro.

    Ao contrario do que os cartazes e material promocional de S1m0ne fazia acreditar que o personagem de Pacino se apaixonaria pela figura cibernética, mas isso não ocorre de modo carnal, e sim como fonte de uma fama que ele jamais teve, e que sempre jogou como merecida a si. Se livrar dela provou-se algo praticamente impossível e o final surpreendente fecha bem a historia, mostrando que o pragmatismo e vontade de manter o status quo poderia ser maior que a necessidade de uma lição moral, e Niccol sabe conduzir bem todas as questões envolvendo vaidade, luxuria e cobiça presentes na vida e clara na trama que pensou para este longa.

  • Crítica | O Poderoso Chefão III

    Crítica | O Poderoso Chefão III

    Parando para analisar, a história das coisas é engraçada. No cinema, há certos filmes que se beneficiam em larga escala do efeito lapidoso do tempo, também conhecido como o maior crítico de todos, tal qual o recente O Irlandês, uma obra que se vale inteiramente do legado da filmografia de seu diretor, Martin Scorsese, a fim de ser um genuíno clássico do cinema contemporâneo acerca do impacto que anos e décadas exercem sobre tudo – até mesmo famílias, amizades e a nossa visão de mundo. O tempo, senhor implacável das coisas, torna o produto refinado quando bem conservado, ou ainda embolorado se passar do ponto e ir pelo caminho oposto no tangível hall das qualidades. E é justamente nessa categoria um tanto injusta, diga-se de passagem, que se encontra O Poderoso Chefão – Parte III, ou o exausto e super tardio final da saga dos mafiosos italianos Corleone numa América que ajudaram a modelar.

    Antes de mais nada, é bom deixar claro que esse mesmo tempo fez bem a conclusão da história da famiglia, e hoje, a Parte III parece bem menos ofensiva do que certamente foi no seu lançamento, há trinta anos atrás. Com dois filmes impecáveis vindos antes e que fizeram história em todos os sentidos, a expectativas para o grande finale era incomensurável. Como iriam terminar os passos de Michael Corleone, agora o patriarca velho e inseguro repleto de sangue nas mãos, era o que todo mundo queria ver, com o retorno de Al Pacino, prometendo uma atuação extraordinária, e na cadeira da direção, o mesmo Coppola que nos presentou com tantas joias, no passado. Não seria exagero dizer que a recepção da crítica, e público, para este filme foi uma das mais decepcionantes que Hollywood e a imprensa especializada já testemunharam, intitulando-o de desvirtuoso, e desrespeitoso ao material insuperável de outrora. Se Da Vinci não conseguiu superar sua Monalisa, Coppola também não fez milagres.

    Assim, Chefão III continua o menos interessante, de fato, da trilogia, mas não por isso um dos piores filmes já feitos, como se deu a impressão no começo da década de 90. Seu grande problema, agora focando no peso insustentável que o poder tem sobre os ombros de Michael e da família Corleone inteira, numa atmosfera de constante ataque e perturbação, como se a realidade das famílias da velha máfia americana estivesse prestes a literalmente explodir (como acontece na cena do jantar), o grande equívoco da história parece não ser sua condução, e sim o momento que ela foi apresentada. Coppola faz bonito na direção, mesmo que seja um trabalho morno e sem as virtudes espetaculares de O Poderoso Chefão  e O Poderoso Chefão Parte II, mas o chá de banco de quase 16 anos atrapalhou demais o andamento e a vitalidade desse terceiro filme, tão prejudicado pela espera na qual foi concebido. É como se fosse um spin-off das duas primeiras obras, ou um especial de fim de ano para homenagear os júbilos que vieram antes, e não tem elenco nem trilha-sonora de luxo no mundo que consegue esconder isso.

    Essa sensação de “raspa do tacho”, ironicamente, dialoga com o principal tema do filme: arrependimento, por uma vida de criminalidade e precificação dos valores morais de uma família – ou mais precisamente, de um homem, o pobre Michael que, de várias maneiras, ainda parece viver sob a sombra das mortes de suas vidas, as que lhe ocorreram e as que fez. Em determinadas cenas, as mais trágicas possíveis beirando o exagero, O Poderoso Chefão – Parte III exerce um poder na tela apelativo, como se nos quisesse emocionar pelos motivos mais gratuitos, e fáceis possíveis. Deixaram a maestria de lado e optaram por um final digno, mas embolorado, por mais que o esforço criativo de Coppola e seus atores transpareça seja no regular ritmo do filme, seja nas atuações do longa (Andy Garcia foi o maior acerto, e Sofia Coppola, o maior equívoco). No mesmo ano do cansado Chefão III, Scorsese veio com o grande Os Bons Companheiros, e o recado para Coppola foi claro: os tempos são outros.

    https://www.youtube.com/watch?v=Tyl6dotq8QY

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  • Crítica | O Poderoso Chefão II (2)

    Crítica | O Poderoso Chefão II (2)

    Me recuso a tecer qualquer comentário sobre o primeiro O Poderoso Chefão, pois seria verborrágico e inútil. Todo mundo já viu, todo mundo concorda que é uma obra-prima intocável e não filmável, fim. Sobre a sequência, considerada por muitos como a melhor sequência do cinema (as pessoas geralmente se dividem entre essa Parte II da jornada dos Corleone na América, a primeira continuação do cinema a usar números romanos, e o fabuloso O Império Contra-Ataca), Francis Ford Coppola fez o impossível e se superou numa direção mais inteligente do que no primeiro, o que foi realmente necessário já que as tramas familiares são bem mais fragmentadas, desta vez, com ótimos flashbacks comparáveis aos de Rashomon e Cidadão Kane, e que continuam influenciando recentes clássicos como A Rede Social, de David Fincher.

    Em resumo, após o sucesso do filme de 1972, o diretor voltou dois anos depois para ganhar um Oscar pela melhor e mais interessante trilogia sobre a máfia, seus códigos e comportamentos. Porém o mais divertido é observar a briga eterna sobre qual filme é O melhor: o primeiro com Marlon Brando, ou o segundo exemplar. Uma briga eterna e inútil, mas que nutre a curiosidade dos cinéfilos mais jovens para darem um veredicto atual, afinal filmes assim não podem se perder no tempo, e com certeza não irão sofrer tal destino. O Poderoso Chefão II é o mais puro e refinado deleite de se acompanhar, demanda devoção do espectador para conseguir acompanhar a longa e complicada saga dos Corleone, e como se não bastasse, como tudo começou para essa família se tornar uma poderosa colmeia criminosa, obrigada a abandonar Nova York devido a seus processos judiciais e, igualmente, os diversos inimigos feitos e “deixados” por lá.

    Após tanto tempo, e revisões, arrisco dizer que a evolução física e moral do mestre Al Pacino, aqui, é superior que a do primeiro Chefão, pois agora Michael Corleone é o patriarca da “famiglia” e paga o preço de todos os jeitos, a todo o tempo, a ponto de fazer grandes sacrifícios éticos e se tornar mais frio à medida que os faz, seguindo sempre as regras do falecido pai, Don Vito. Enquanto isso, ao mesmo tempo, Robert De Niro interpreta os primeiros anos de Vito no início conturbado de sua vida criminosa com uma semelhança assustadora, até mesmo no modo de falar meio rouco, meio sarcástico que só Marlon Brando conseguia atingir com perfeição. De Niro fez outros mafiosos como em Os Intocáveis e Era Uma Vez na América, mais foi mais reconhecido pelo papel icônico que lhe fez ganhar um merecido Oscar, arquitetando o início, as tragédias e ascensão do personagem de Brando com semelhante talento, e intensidade. Bravo.

    A reconstituição temporal nos flashbacks também é de se admirar, tudo potencializado pela trilha sonora magnífica de Nino Rota e Carmine Coppola, criando novos temas italianos baseados nas notas musicais do primeiro filme – o resultado é épico. No visual, tons pastéis diferentes dos que são apresentados na trama principal dão o tom, mas isso porque Coppola claramente teve uma leve predileção nas cenas de prólogo, mas conseguiu equilibrar com grande serenidade e energia sua direção nos dois lados da história, sem apresentar qualquer tipo de digressão explícita.

    Há cenas filmadas com perfeição, quando, por exemplo, logo no início, acontece uma passeata religiosa entre as montanhas áridas da Sicília, e todos são surpreendidos por um atentado contra o pai de Vito Corleone por ter insultado um poderoso mafioso Siciliano. A partir daquela cena, o contexto da história inteira se fecha, e em breve mais para frente estaremos aptos para julgar o universo que Mario Puzzo escreveu, novamente adaptado tão bem para a tela com uma potência que, para quem já leu os best-sellers, conflita com o impacto do que está impresso nas páginas. Porém, o que o roteiro e a direção não conseguiram extrair de modo eficiente foi à dualidade dos fatos, presente em boa parte dos livros e que servia para enriquecer tudo. Mas isso não importa, nada mais interessa até o close final e arrebatador no rosto de Pacino. Um dos closes definitivos do cinema sobre como o poder pode acabar com qualquer um, e tornar um filme um dos melhores já produzidos.

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  • Crítica | O Poderoso Chefão II (1)

    Crítica | O Poderoso Chefão II (1)

    Após ter adaptado com maestria o livro O Poderoso Chefão de Mario Puzo, apenas dois anos depois do filme O Poderoso Chefão, Francis Ford Coppola, sua equipe de produção e elenco retornam para este novo toma de história, que traduziria a parte de flashbacks do livro que contava sobre a juventude do Don Vito Corleone na Sicília – feito dessa vez por Robert DeNiro – enquanto também dava seguimento aos acontecimentos da família na atualidade, comandada de novo por Michael, personagem de Al Pacino.

    As primeiras cenas de O Poderoso Chefão II dão conta dos empregados e paisanos, participando de uma festa de Michael, o aniversário de seu filho. Os que frequentam o lugar o tratam como fizeram com Vito Corleone no casamento de Connie, normalmente beijam as mãos de Michael, prestando homenagem a ele, já que é o atual e novo Don, e por mais que esse seja um filme que intui ser bom independentemente do primeiro episódio

    Ao mesmo tempo que há essa preocupação de ser algo independente a tolice de se negar o primeiro capítulo da saga, bem como seu legado, assim como há o cuidado de mostrar uma realidade mais simples, siciliana, com o enterro do velho Andolini em 1901 e o infortúnio do pequeno Vito, que perde seu pai e seu irmão em um período muito próximo.  A essa altura, se acreditava que Vito era mudo, que não gozava da plenitude de seus sentidos e faculdades mentais, e sua mãe, implorou ao chefão mafioso local que poupasse o menino. Esse era Don Ciccio, feito por Giuseppe Sillato, e foi dessa fraqueza que surgiu a figura imponente, que no futuro, dominaria os negócios ilegais na Little Italy de Nova York.

    Toda essa jornada reflete uma forte influencia do teatro clássico, desde Sófocles até artistas mais contemporâneos como Shakespeare, e apesar de não ser exatamente original, há ali todo um cuidado em retratar uma realidade bem longe do glamour que acusavam a trilogia de Coppolla de ostentar, e de fato, ao ir atrás das raízes da família Andolini/Corleone, se humaniza toda a jornada torpe rumo ao crime, mas não a faz ser moralmente correta, tanto que um dos lemas da Saga é voltada para o assumir de que aquela é a vida que eles escolheram, com todos os infortúnios decorrentes dessas escolhas. A gênese da Família é voltada para a violência, o pequeno Vito não vê outra alternativa a não ser correr, condenado por Ciccio a ou morrer ou a vagar por lugares que não eram os seus.

    O garoto teve sorte de ter uma família caridosa, que o enviou para a “terra das oportunidades”, onde ele teve a oportunidade de trabalhar, crescer e constituir família, claro, com dificuldades típicas de um estrangeiro. Coppola e Puzo tomam cuidado para dar voz a um povo sofredor, e utilizam um menino com dificuldades de fala para explicitar isso, através de seus filmes, mostra uma parte desigual e sanguinária do país que sempre se julgou o mais justo e ordeiro dos lugares.

    É até injusto chamar a introdução que dura onze minutos de prologo, uma vez que ela casa bem com a historia recente, fomenta a ideia de repetir ciclos, e ainda mostra as marcações em cima dos meninos que chegam de barcos semelhantes e muito a marcação que se faziam nos judeus na Alemanha Nazista, embora as circunstancias do holocausto fossem clamorosamente diferentes, havia a sensação do Apartheid. Além disso, as duas linhas temporais se misturam.

    O roteiro não tem medo de quebrar seus paradigmas, há semelhanças claro  com o casamento de Connie (Talia Shire) do primeiro filme, mas há também um bocado de diferenças, não só nas vestimentas e posturas – Kay Adams Corleone por exemplo usa roupas com cores átonas – e toda a família orbita em torno do Don, mas claramente não existe da parte de Michael o mesmo cuidado que seu pai tinha. Ele é mais vaidoso e centralizador, parece seduzido pelo poder e tem gosto por ele, ao contrario de seu antecessor, que era discreto, isento de ambição e tinha o poder como norte por necessidade e não por desejo próprio.

    Entre negociatas e acordos, ele conversa com senadores e com subalternos, desde os “descendentes” de Clemenza, que permaneceram em Nova York – Frank Pentageli, de Michael V. Gazzo e Willi Cicci (Joe Spinell) – até os eméritos e famosos, que não ligam para a tradição italiana. Há uma cena que resume isso bem, envolvendo Frank, que tenta obrigar a banda do aniversario a tocar a Tarantella, mas não consegue, uma vez que eles não sabem tocar aquilo. Apesar de pequena, a demonstração ali é de que os tempos do crime organizado mudaram drasticamente, ao ponto desta nova geração não saber lidar com isso do  modo como os antigos faziam.

    É incrível como a moralidade em relação a assuntos comportamentais impera, ainda mais quando toca o sexo, mas para ilegalidades em negócios não é alta. Impressiona também como em Nova York as coisas mudaram, a profecia de Don Vito se cumpriu, os Irmãos Rosato, que deveriam ter territórios após a morte de Clemenza, não os tem entregue por desculpas de Frank de que eles vendiam muitos entorpecentes. Os sete anos foram inclementes com os Corleone de Nevada e da cidade antiga, não houve legalização dos trabalhos, tampouco havia uma hegemonia indiscutível na cidade natal do clã.

    O crescimento do comportamento criminoso de Vito, na fase passada é feito de modo quase didático, com um passo de cada vez, mas não é tão lento quanto se espera. Desde a dispensa que ele tem até matar Fanucci, o Mão Negra se vê uma frieza e uma enorme falta de escolha, assim como se percebe o início do que seria a organização criminosa, com Clemenza, Genco e companhia com suas contrapartes jovens. Ali já se percebe o cuidado dele para se livrar da arma – momento inclusive referenciado em outros filmes, como Os Bons Companheiros e O Irlandês – do crime, em só mais um símbolo do trabalho dele para se manter incógnito. Ainda assim, ele comete os atos maus, e depois vai descansar com sua família, como em mais um dia de trabalho, transbordando normalidade.

    Michael é um belo jogador, ao perceber que sofreu um ataque ludibria os dois maiores suspeitos, os faz pensar que estão livres  de seus olhos e de suas suspeitas enquanto as tramoias se desenrolam, e outros tantos tentos, envolvendo toda sorte de influenciadores da sociedade, os políticos inclusos, tudo isso, levado pela batuta de Tom Hagen (Robert Duvall) que certamente só se tornou cascudo assim pelas privações que passou, pois ele age como um autentico Don, autoritário quando precisa.

    Se o desafio do primeiro filme era retratar uma Nova York quarentista, o nesse é passar a mesma aura e atmosfera não só em NY, mas também em cenários mais tropicais. Nevada, Cuba, Florida, sempre mostrando a pompa dos que são poderosos. É curioso como o visual e figurino dos personagens pomposos do mundo inteiro não é tão diferente entre si, ao contrário, seus modos e etiquetas mostram um vestuário comum, mais voltado para algo que todos eles tem, pois sequer a língua que falam é a mesma.

    A melancolia de Fredo é muito bem representada por John Cazale, o que aliás, é ótimo já que ele foi sub aproveitado na primeira parte. Aqui, ele pode mostrar o quão ressentida ele era por ter sido maltratado por sua mãe, que o renegava e dizia que ele foi deixado por ciganos, ou por seu caçula, que tinha poder e nunca compartilhou com ele. O estado de espírito de Fredo é outro resumo do quão mal vão as relações da família, que tem como exemplo as problemáticas reconciliações entre Connie e todos os outros, o abandono do lar e até a volta dela a casa da Família. Ela, após a morte de sua mãe se torna a grande madre, exige coisas, como o perdão entre os irmãos, além de promessas de ela cuidará do atual chefe da organização/família. Isso é uma semente, que só germinaria no filme dos anos noventa, mas tudo é tão bem costurado que não há como considerar isso como algo oportunista.

    As atuações conduzidas por Coppola são assustadoramente absurdas, desde Pacino, que se firma como um dos maiores nomes entre os atores do mundo, até Shire, que prova ser algo a mais que apenas prima do direto. Cazale e Duvall também fazem papeis de peso, que variam entre a tristeza e euforia muito facilmente, e mesmo alguns coadjuvantes, como Gazzo e Cicci traduzem bem como eram os mafiosos, e se não são “realistas”, com certeza ajudaram a influenciar os criminosos do lado de fora da tela.

    A saga do herói falido prossegue, com rumos diferentes entre as gerações, e a poesia provinda disso torna toda a ópera de Puzo e Coppola em algo bonito e preocupado em passar uma mensagem além do usual e do comercial, mas sem se distanciar do caráter popular de entreter quem quer que assista.

    O Poderoso Chefão II contradiz a pecha de que continuações são exemplares do clichê de mais do mesmo. Há um momento em especial que mostra como Coppola driblou bem a questão de ter que dar continuidade a uma historia, se baseando no material base mas também avançando na fase atual. A cena é a famigerada espera por Vito Corleone, onde Marlon Brando faltou a gravação e o diretor improvisou e adaptou o roteiro de Mario Puzo para contar com a ausência do mesmo, como se todos os estivessem esperando, para comemorar seu aniversario, e lá se percebe as falhas de pensamento e ideal de Michael, seu desejo de não se tornar o seu pai, e ela é seguida de um momento, onde ele está sentado sozinho, em uma cadeira imponente, sozinho como no momento anterior, onde segundo Sonny, ele partiria o coração do velho, por se alistar. Naquele momento, Michael seguiu os passos de Vito, e de fato, partiu o coração do pai ao seguir seus passos, ao não ser alguém diferente. Vito se sentia obrigado a ser um criminoso, Michael não, um era abnegado e o outro vaidoso e carente por aprovação de todos.

    https://www.youtube.com/watch?v=mESL4ojdH5A

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  • Crítica | O Poderoso Chefão

    Crítica | O Poderoso Chefão

    Impressiona que a primeira fala dita no clássico de Francis Ford Coppolla, O Poderoso Chefão seja dada por um homem dito “comum”, um homem chamado Bonasera, que começa  seu monólogo dizendo que acredita na America. Aos poucos, a câmera se afasta do rosto de Salvatore Corsitto, para mostra-lo em um escritório, onde é recebido pelo dona da festa de casamento, o pai da noiva Don Vito Corleone, de Marlon Brando, e seu fiel escudeiro, o advogado alemão-irlandês Tom Hagen (Robert Duvall), seu filho adotivo e seu primogênito Santino  Sonny Corleone (James Caan), nesse que seria o núcleo das principais discussões e dos rumos que a família tinha, ainda mais com a saída de Genco do posto de Consigliere.

    Pela tradição italiana, um pai de família, poderoso e ligado as leis da Omertá não pode recusar um pedido de uma paisano, mesmo que ele despreze a pessoa que o pede – como ocorre aqui – mas a ideia é mostrar que há um código de honra sobre eles, mesmo sobre os que são ditos marginais. A máfia era a lei acima da lei, e ao menos nesse ponto, há zero romantismo no filme e no conto original de Mario Puzo.

    Esta adaptação do livro O Poderoso Chefão – que em outras traduções anteriores, era chamado só de O Chefão – é mais que um simples filme sobre bandidos e mafiosos estilosos, e é mais que uma historia sobre respeito ou protagonizada por anti heróis. A historia é rica e algo que colabora para isso é o fato de haver dois protagonistas, o veterano e já citado Brando, que , e claro seu filho, Michael, sendo que ambos foram bancados pelo desejo e insistência do realizador, por motivos diferentes, já que Brando era difícil de lidar e Al Pacino era um iniciante ator, conhecido somente no teatro. Essa dupla mostra dois  homens diferentes, ligados pelo laço de sangue, um sendo um sujeito já cansado e idoso, que está mais na ação direto mas ainda dirige os negócios da organização/família, e outra do veterano de guerra, que acompanhado de sua amada Kay Adams (Diane Keaton), diz que quer se distanciar de sua familia, mas que obviamente não consegue isto e vai aos poucos  se tornando um herói falido.

    O filme mistura momentos de explicações de como funcionam os meandros da Cosa Nostra, e outros mais sutis, como a total falta de tato de Luca Brasi , um homem feito por Lenny Montana, que mal consegue falar, mas que um pouco mais a frente está completamente a vontade ao preparar sua arma para um trabalho. Não é preciso muitos momentos para entender quem ele é, aliás o casamento é cheio destes momentos, no romance Puzo explica as indiscrições de Sonny, e aqui, se percebe as infidelidades  dele quando sua mulher pede para ele se comportar, ou quando a mesma faz um gesto com as mãos, mostrando um crescimento (no livro fala-se abertamente que ele tem um membro comparável com a de um cavalo, aqui há mais elegância e sutileza), o mais explicito dos personagens é exatamente a “ovelha desgarrada”, o correto Michael, que indignado com os rumos dos seus, conta as historias de Luca, de Johnny, discorre sobre a sucessão do Consiglieri, sobre ofertas irrecusáveis, sobre como esse mundo funciona.

    O casamento é um início perfeito, pois nele se percebe não só o modo de operar dos parentes, como a proteção  e os favores que os mafiosos prestam aos membros de sua comunidade, a influência que eles “exercem” sobre artes como a música e cinema, a postura que um homem tradicional italiano deve ter e até a recusa de Kay em participar dos  eventos familiares de seu amado, já que ela não quer sequer estar na foto do clã, e só o  faz por  insistência do rapaz. São  27 minutos que sutilmente passam praticamente toda a mensagem que o filme passará.

    Há um cuidado enorme da obra em retratar bem sua época, um esforço de Coppolla, que brigou muito com o estúdio para que fosse assim, independente do preço que custasse e a briga obviamente valeu a pena. As mansões, as vielas e até os estúdios de Woltz primam por uma atmosfera fiel e forte a época clássica do auge da criminalidade ítalo-americana, embaladas pela musica de Nino Rota e principalmente pelo tema principal, que está presente nas ações de Vito, nos crimes mais chocantes como o da cabeça do cavalo ou nos futuros atos de Michael.

    Mesmo as transições Fade In entre as ações malvadas e a intimidade da família soam boas. O artifício, que na maioria dos filmes não é bem traduzido aqui é usado de maneira sábia, talvez emulando o tradicional e cartesiano modo de pensar de Vito. É engraçado, como mesmo sem mostrar o passado do homem, se percebe que ele entende do riscado, entende como os negócios fluem. Seu modo veterano de ver as ações e o respeito que presta a qualquer sujeito que se aproxime dele com oportunidades de trabalho, mas isso não o faz parecer fraco ou frágil quando recusa trabalhar com o Turco Sollozzo (Al Lettieri), aliás, mostra-o a frente de seu tempo, ao não querer trabalhar com narco tráfico, uma vez que as penas para esse tipo de crime é enorme, e comprometeria a lei do silêncio. Claramente Corleone é mais esperto  e tem mais inteligência emocional (e opções, claro) que o cubano Tony Montana de Scarface, que se mete com entorpecentes assim que chega a Miami, e vê sua ruína assim.

    O Poderoso Chefão tem uma historia bem comum, de ascensão e derrocada de uma família e de sucessão hierárquica sanguínea, fosse um diretor menos preocupado com o legado dos italianos nos Estados Unidos certamente seria mais um filme genérico sobre criminalidade. Há momentos muito únicos no livro que são levados a tela de maneira muito singela, simples, mas carregada de emoções muito reais. A aposta tola que Sollozo faz na ganância de Sonny só dá certo porque Caan consegue emular bem o comportamento dos italianos que assistiu sua vida inteira, no bairro onde cresceu, e a facilidade que ele tem na transição do sujeito que quer dinheiro para o passional capaz de matar todos seus inimigos e capaz de espancar quem agride os seus impressiona, assim como também se nota uma ótima entrega de Lettieri, mesmo sem muito tempo de tela, só há sentido em ele acreditar que é o primogênito o elo mais fraco entre os Capos uma vez que o desempenho desses dois atores é tão intenso e repleto de uma entrega sincera aos seus papéis.

    Mas Sonny não estava de todo errado, e por mais mimado (e estragado, pela America tão louvada pelos velhos italianos) que ele fosse, ele estava correto, o jogo mudou, e mesmo com a honra entre as famílias, as drogas mudaram o jogo, e não haveria paz enquanto os Barzini, Tattaglia, Cuneo e Stracci estivessem vivos. Assim como o Crime Organizado mudou o paradigma da bandidagem do velho oeste, as drogas mudaram o modo de lidar com a máfia. Sergio Leone em seu Dossel dos Dolares já havia aludido isso, mas fez isso mais profunda e obviamente entre Era Uma Vez no Oeste e Era Uma Vez na America, e o filme de Coppolla certamente influiu na liberdade que o diretor de Westerns teve para conduzir essas duas obras. A nacionalidade de Francis Ford também o ajudou e muito, por todos os fatores já citados, ele sabia do que falava.

    O passeio que se faz pela Nova York de 1945 impressiona, realmente Little Italy clássica, Broklyn e a Cozinha do Inferno foram bem remontadas. Em ritmo de guerra, se mostram os exemplos aos traidores, sempre mortos e deixados a vista, em lugares ermos, mas não são escondidos. É preciso mostrar como funcionam as coisas, e também táticas de guerra, e intimidades entre os paisanos, pois Clemenza (Richard Castellano) cozinha, faz molho de tomate para uma macarronada que alimentará vinte homens. Esse comportamento típico do exercito italiano é surpresa para Michael, mesmo ele tendo chegado a pouco da guerra, como é dito sobre ele, por seu padrinho (o próprio Clemenza), naquele cenário, ele é civil, é o peixe fora o oceano e do mar revolto.

    É engraçado e curioso como se constrói a tensão na cena do hospital, em que Michael está cuidando de seu pai, e onde se percebe que haveria uma emboscada. Mesmo renegando seu legado de sangue, o filho desgarrado faz um plano de contingência e se aproveita da chegada do pobre Enzo, o padeiro, para fingir que há  uma ronda no hospital, mesmo quando não há. O pobre trabalhador treme muito, ao acender o cigarro, é o garoto que o consola e o mantém calmo, ele é seguro, tem nervos de aço, e a vaidade dos seus irmãos, pai e parente, tanto que é o soco que leva de McCluskey (Sterling Hayden ) o catalisador do seu futuro.

    A subsistência dos negócios depende de não ser passional, de não se levar as rotas por momentos pessoais. e mesmo que Santino demonstre que está errado, o mais racional dos filhos, Michael, também embarca igual. A discussão em torno de quem está certo (os irmãos de sangue ou o congliere adotado) se torna subalterna pelo simbolismo, na cena onde Michael está sentado, contando seu plano, dando ordens sobre os mafiosos experientes, e apesar do deboche  de Sonny, Tessio (Abe Vigoda) e até de seu padrinho, ele acaba sendo o soberano, naquele momento. As cenas fechadas, com closes no rosto dos que fazem parte dos Corleone são  ótimas, fazem a pressão aumentar e a tensão crescer.

    Toda a curva de violência passa necessariamente pelas ações do protagonista mais novo, alias, e é após sua fuga que começa a chacina entre os filhos da Itália, com o próprio indo para terra dos seus parentes.  O rapaz, que estava sendo preparado por seu pai para ser um homem fora dos negócios, para ser um político ou algo que o valha se torna assassino, enquanto seu irmão mais velho tem a cabeça quente e derrama toda sorte de sangue nas ruas. A hesitação de “Miguel” prossegue na Itália, e seu casamento é a prova disso, de que ele mesmo querendo voltar ao seu país, via também a possibilidade de não viver aquela vida, mas a tragédia o persegue, e não o deixa escapar. O infortúnio de seu irmão mais velho o fez perceber que a raiva não poderia ser o norte, e reforça a ideia de que enquanto houverem cinco famílias, uma delas sempre correrá perigo.

    A evolução do personagem é enorme, o reencontro dos antigos apaixonados ocorre só um ano após o herdeiro dos Corleone retornar, por conta de luto, planejamento e muita frieza. A legalização tão perseguida no terceiro filme é aludida já aqui, mas obviamente não ocorreu nos cinco anos que ele prometeu, e para isso era preciso mudar hierarquia familiar e o exercito como um todo. Enquanto Vito era agregador, e considerava sua família a prioridade, Michael é pragmático, não hesita em tirar Tom de seu posto, ou de contrariar Fredo, ele é tão frio que soa até insensível, e é nesse momento que Pacino mais brilha, pois ja tinha mostrado uma faceta idealista e agora, aposta em um sujeito resignado e que, apesar de fazer o necessário para subsistir, não tem a mesma sensibilidade do pai, que fugiu de Corleone para viver.

    As curvas finais do filme mostram uma natural e fluida transição de poder entre gerações.  A conversa no jardim além de mostrar que Vito é uma velha e esperta raposa, que prevê que Barzini tentará matar outro filho seu, ainda mostra o receio do velho pelo destino do seu herdeiro. Sua intranquilidade não é por achar que a família estará em mãos erradas, mas sim porque para ele, tudo aquilo era inconveniente. Ele queria que ele fosse um senador, governador ou algo assim. O desejo do pai sempre foi que os seus não sofressem, que não fossem parte da estirpe que machuca e sangra sua nova pátria, mas a falência de seu destino era exatamente essa. Seu fim é melancólico, uma dádiva divina que ele possa perecer com sua família, e não cravejado de balas em vielas, ou em uma auto estrada, ele cai de velhice, perto das laranjas que serviram de signo durante todo o passar do longa, vigiado pelos olhos inocentes de seu inocente e brincalhão neto que pouco antes, achava que ele era um monstro.

    A morte de Vito foi um evento, bem como seu  enterro. Com ele, certamente iriam toda a influência dos Corleone e era preciso requalificar as forças, remanejar e reequilibrar a balança. O batismo, o assumir o apadrinhamento que Michael faz beira o poético, lembra o teatro shakesperiano  mais clássico, o trágico, o violento, mostra quem eram os fracos e corrompidos, mas não deixa esquecer que toda a movimentação é de novo negócios, nada pessoal, embora o acerto de contas bata também em situações pessoais. As perdas envolveriam até sacrifícios para  Michael, pessoas que ele um dia “amou” cairiam, mas isso, de novo, era necessário. Há ainda um cuidado singelo, Tessio não aparece morrendo, só é mostrado ele sendo levado para o abate, há um respeito muito grande com sua figura, mesmo que seja um traidor, e ele não deveria estar no mesmo bolo dos adversários da família, que foram assassinados a sangue frio, e há de se lembrar que nem Fredo teve essa “sorte”.

    A justificativa do nome original, O Padrinho vem da transformação pela qual Michael passou, a mesmo que o jovem Vito de Robert DeNiro passaria em O Poderoso Chefão Parte 2. Ele evoluiu o conceito de seu pai, embora compartilhasse com ele boa parte do código ético. Pouco se lembra de figuras icônicas, como os assassinos Al Neri (Richard Bright) e Willi Cicci (Joe Spinell) pessoas silenciosas, que entram muito rapidamente na trama, para fazer seu papel, acompanhados claro de Clemenza, que mesmo contrariado em certa parte do filme, se manteve fiel, como bom padrinho do protagonista que é.

    As primeiras mortes ocorrem após Michael Francis Rizzi (o sobrinho e apadrinhado do agora Don) renunciar o diabo diante do padre e da pia batismal. A partir dali se desencadeia o ultimo ato desta parte da historia. Tudo o que  seguiria dali para frente seria o cumprimento do juramento silencioso que Michael faria a seu pai, a traição de sua própria pecha, de diferente, um retorno definitivo e irremediável a sua origem sanguínea, tanto em temperamento quanto em religião. Desde a cena da execução de seu cunhado, até o cinismo em consolar sua irmã recém viúva (que alias, seria um dos bons plots na Parte III) faz parte do teatro que precisaria exercer, para Kay e para si mesmo, fingindo não sentir prazer em exercer o poder e a vaidade que lhe são conferidas. A triste ópera de Michael e Vito é fechada com um certo apogeu, mas promessas de mais decadência, violência e tempestades.

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  • Crítica | Conversando Sobre O Irlandês

    Crítica | Conversando Sobre O Irlandês

    Lançado junto ao O Irlandês do cineasta ítalo-americano Martin Scorsese, o serviço de streaming Netflix resolveu lançar junto um especial, de pouco mais de vinte minutos envolvendo o próprio realizador e três membros do seu elenco: Robert DeNiro, Al Pacino e Joe Pesci. O resultado em Conversando Sobre o Irlandês é sui generis, uma conversa direta, franca e até meio intima, mesmo que se saiba que não há tanto improviso nesse que é um especial diante das câmeras.

    O papo é direto, começa com Pacino perguntando ao diretor e aos seu muso DeNiro como se conheceram e a resposta é de que moravam bem próximos, com o segundo visitando sempre o bairro do primeiro, pois era muito próximo. O ultimo trabalho dos dois coincidiu exatamente com a ultima vez que trabalharam com Pesci, em Cassino que foi há 22 anos

    Especialmente depois de ver o filme, que muda a configuração do rosto dos personagens, é curioso ver o grande bigode que Joe Pesci ostenta, branco, bem diferente do que geralmente usava em seus antigos personagens. Durante o especial ele vive relembrando o quão agradecido ele é a Martin e Robert por terem tirado ele da aposentadoria maisde uma vez.

    Além de falar sobre o livro I Heard You Paint Houses de Charles Brandt, que aliás, é muito elogiado por Pacino, eles também discorrem sobre a dificuldade em se fazer um filme sobre o mundo e sobre a America. pois além de remontar a época, seria preciso também falar para plateias mais atuais. É preciso ter atenção no que é discutido, em especial em determinado momento, onde  Scorsese fala sobre o tamanho de seu filme, que ultrapassa as três horas. O cineasta diz se preocupar com o tamanho, mas também afirma que  mesmo que o formato não seja tão atual, quem parar para assistir quieto e repousado, passará boas horas assistindo uma boa historia.

    A franqueza com que o realizador fala de sua própria obra impressiona, não se vê arrogância ou altivez, ao contrario, seu tom de voz é tranquilo, quase embala o sono não fosse obviamente o conteúdo de sua fala algo que realmente desperta interesse em quem assiste. De todas as pechas recentes atribuídas a Martin, a de que ele é um sujeito turrão e de difícil diálogo é a mais mentirosa, ainda que obviamente ele esteja ali com os seus paisanos.

    Uma das partes mais divertidas, sem dúvida, é quando se fala sobre o rejuvenescer digital do elenco. Ora, isso era algo comum em Star Wars ou filmes de herói, mas não era em obras como O Irlandês, e treinar um ator jovem seria difícil, pois ele teria de emular todo o gestual e até o modo de sentar de Pesci e DeNiro. A decisão pelo digital foi boa por isso, embora não seja perfeita sempre, e o modo como se driblou toda a pintura facial e os pontos digitais foi impressionante, há demonstrações das cenas como foram gravadas e como ocorreram após o tratamento é impressiona mesmo, além é claro de um misto entre CGI e maquiagem forte, sem fazer perder o contato visual que tanto ajuda esses monstros da dramaturgia.

    Conversando Sobre O Irlandês tem um clima descontraído, que dá detalhes da intimidade do set, e reforça ainda mais o desejo dos fãs do cinema de Scorsese para que ele e Pacino retomem a parceria antes que ambos ou que um deles já não possa mais trabalhar, dado o brilhantismo como a parceria ocorreu, e ainda entre algumas anedotas bem divertidas, como quando a equipe de produção sugeriu a Martin a Pacino não agia como um Jimmy Hoffa de 49 anos, ao passo que o diretor deu a essa mesma pessoa a autorização para repreender o interprete, demonstrando que o caráter irrepreensível é comum a Al, a O Irlandês e a exploração que mistura realidade e drama que o diretor ítalo-americano traz aos suas obras sobre gangsters.

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  • Os Maiores Atores e Atrizes Indicados ao Oscar

    Os Maiores Atores e Atrizes Indicados ao Oscar

    Uma nova edição de entrega dos Academy Awards, ou simplesmente, Oscar, premiação promovida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, será realizada em breve. E como de costume, comentamos sobre determinados cineastas, compositores, atrizes, entre outros, que são indicados ano a ano como candidatos ao recebimento de uma das mais importantes premiações do Cinema. Esse ano não seria diferente.

    Em razão disso, confira abaixo a lista de todos os atores e atrizes que mais vezes foram agraciados com indicações ao Oscar, observando o limite mínimo de 8 nomeações. Alguns deles, infelizmente, sem nunca ter recebido o prêmio. Azar do Oscar.

    13. Peter O’Toole (1932 – 2013)

    O irlandês que ganhou o mundo com o filme Lawrence da Arábia trabalhou incansavelmente por mais de cinquenta anos dedicados ao Cinema. O’Toole, infelizmente, é o ator que mais vezes foi indicado sem ter recebido um Oscar. Ainda assim, foi o ganhador de 4 Globos de Ouro, 1 Emmy e 1 BAFTA.  No entanto, em 2003 foi agraciado com um Oscar honorário pelo conjunto de sua obra e pela notabilidade e importância de suas personagens para a história do Cinema. Em 2007, teve sua última indicação por Vênus, vindo a falecer alguns anos depois.

    Indicações: 8
    Lawrence da Arábia (1962), Becket, o Favorito do Rei (1964), O Leão no Inverno (1968), Adeus, Mr. Chips (1969), A Classe Dominante (1972), O Substituto (1980), Um Cara Muito Baratinado (1982) e Vênus (2006).

    Premiações: 0

    12. Geraldine Page (1924 – 1987)

    Atriz advinda do Teatro e adepta do método de interpretação introduzida pelo Actor’s Studio, de Lee Strasberg, Page iniciou nos Cinemas oficialmente no western Caminhos Ásperos, de 1953, onde atuou ao lado de John Wayne e já garantiu sua primeira indicação. Dona de uma carreira brilhante, sua premiação somente ocorreu em sua última indicação, com O Regresso para Bountiful, de 1985. Page faleceu um ano depois da cerimônia de entrega das estatuetas.

    Indicações: 8
    Caminhos Ásperos (1953), O Anjo de Pedra (1961), Doce Pássaro da Juventude (1962), Agora Você é um Homem (1966), Reencontro do Amor (1972), Interiores (1978), Nos Calcanhares da Máfia (1984) e O Regresso para Bountiful (1985).

    Premiações: 1
    O Regresso para Bountiful (1985).

    11. Al Pacino (1940 – )

    Um dos maiores atores vivos, Al Pacino, teve sua estreia como ator protagonista em Os Viciados, de 1971, onde já mostra a que veio, interpretando um jovem decadente que trafica drogas no chamado “Parque das Agulhas”. Indicado diversas vezes por grandes papéis, foi apenas no menor deles que recebeu a merecida premiação, Perfume de Mulher, de 1993. Esquecido pela Academia desde então, apesar de grandes interpretações – devidamente reconhecidas pelo Globo de Ouro, Emmy, American Film Institute, entre outros. Pacino também é conhecido por ser um dos grandes atores do “método” dentro do Cinema.

    Indicações: 8
    O Poderoso Chefão (1972), Serpico (1973), O Poderoso Chefão – Parte 2 (1974), Um Dia de Cão (1975), Justiça para Todos (1979), Dick Tracy (1990), O Sucesso a Qualquer Preço (1992) e Perfume de Mulher (1992).

    Premiações: 1
    Perfume de Mulher (1992).

    10. Jack Lemmon (1925 – 2001)

    Nascido em uma família rica, Lemmon quando jovem não parecia ter qualquer inclinação para as artes cênicas, já que esquecia frequentemente suas falas em peças do colégio, gerando gargalhadas da platéia. Depois de servir na Segunda Guerra Mundial, dedicou-se incansavelmente aos estudos como ator – e ainda se formou com mérito em Ciência Política pela Harvard. Iniciou sua carreira no Cinema com o filme Demônio de Mulher, de 1954. Um ano depois seria indicado por Mister Roberts e ganharia. Avesso à badalação típica de Hollywood aos grandes astros, Lemmon nunca se considerou um astro, mas um operário da arte cinematográfica, que se esforçava para dizer algo. Sua determinação é um exemplo para àqueles que acreditam que o reconhecimento só se dá aos que possuem dons. Um pouco de sorte e dinheiro, talvez, mas muita dedicação, sem dúvida.

    Indicações: 8
    Mister Roberts (1955), Quanto Mais Quente Melhor (1959), Se Meu Apartamento Falasse (1960), Vício Maldito (1962), Sonhos do Passado (1973), A Síndrome da China (1979), Tributo (1980) e Desaparecido: Um Grande Mistério (1982).

    Premiações: 2
    Mister Roberts (1955) e Sonhos do Passado (1973).

    9. Denzel Washington (1954 – )

    O segundo ator negro a receber um Oscar – e isso apenas em 1989 (Sidney Poitier foi o primeiro por Uma Voz nas Sombras, de 1963) -, Denzel Washington tem demonstrado uma carreira prolífica e eclética dentro e fora de Hollywood. Nascido em Mount Vernon, Nova York, e filho de um pastor pentecostal, Washington, inicialmente, cursou jornalismo na Fordham University, mas depois descobriu interesse para a atuação, vindo a se formar em Drama e Jornalismo em 1977, apesar de todas as dificuldades financeiras.

    Em um de seus primeiros trabalhos no cinema em Um Grito de Liberdade (1987), de Richard Attenborough, e dois anos depois veio a ser o vencedor da categoria por Tempo de Glória (1989), de Edward ZwickWashington apareceu em vários filmes notáveis ​​durante a década de 1990, incluindo as colaborações com Spike Lee, como Mais e Melhores Blues (1990), Jogada Decisiva (1998), e claro, a cinebiografia Malcolm X (1992), pelo qual ele foi indicado a um Oscar. Outros projetos desta época merecem destaque como Dossiê Pelicano (1993), Filadélfia (1993), Muito Barulho por Nada (1993), Maré Vermelha (1995), O Diabo Veste Azul (1995), Coragem Sob Fogo (1996), Possuídos (1998) e Hurricane: O Furacão (1999), pelo qual recebeu outra nomeação ao Oscar. Em 2001, recebeu seu segundo Oscar (desta vez como protagonista) pelo thriller policial Dia de Treinamento, de Antoine Fuqua. No ano seguinte, dirigiu seu primeiro filme, o drama biográfico Voltando a Viver, repetindo o trabalho de diretor em mais dois grandes filmes: O Grande Debate (2006) e Um Limite Entre Nós (2016), sendo que o último lhe rendeu indicações ao Oscar em quatro categorias. Washington continuou a explorar uma variedade de papéis, sempre se reinventando, seja nos teatros ou cinemas, à frente ou por trás das câmeras.

    Indicações: 8
    Um Grito de Liberdade (1987), Tempo de Glória (1989), Malcolm X (1992), Hurricane: O Furacão (1999), Dia de Treinamento (2001), O Voo (2012), Um Limite Entre Nós (2016) e Roman J. Israel, Esq. (2017)

    Premiações: 2
    Tempo de Glória (1989) e Dia de Treinamento (2001).

    8. Marlon Brando (1924 – 2004)

    Segundo Martin Scorsese, Marlon Brando “é o marco do Cinema. Há o ‘antes de Brando’ e ‘depois de Brando’”. Considerado um dos maiores e mais influentes atores que o Cinema já teve, Brando era dono de uma personalidade difícil e controversa. De acordo com a revista Los Angeles Times, o ator era o “rock and roll antes que alguém soubesse o que o rock and roll era”. Também era um ferrenho defensor do movimento pelos direitos civis que buscavam a emancipação dos negros e índios norte-americanos. Ao receber o seu segundo Oscar por sua interpretação de Vito Corleone, em O Poderoso Chefão, este não só não foi à cerimônia, como enviou uma representante dos povos indígenas, descendente do povo Apache, Yaqui e Puebloans para rejeitar e protestar lendo seu discurso em prol da inclusão de índios americanos em papéis de destaque na TV e Cinema estadunidenses. O ator ainda é protagonista, ao lado do diretor Bernardo Bertolucci, do polêmico episódio envolvendo Maria Schneider na cena clássica de O Último Tango em Paris, de 1972.

    Indicações: 8
    Uma Rua Chamada Pecado (1951), Viva Zapata! (1952), Júlio César (1953), Sindicato de Ladrões (1954), Sayonara (1957), O Poderoso Chefão (1972), Último Tango em Paris (1972) e Assassinato Sob Custódia (1989).

    Premiações: 2
    Sindicato de Ladrões (1954) e O Poderoso Chefão (1972).

    7. Paul Newman (1925 – 2008)

    Após um início promissor na Broadway, Paul Newman assinou contrato com a Warner Bros.. Seu primeiro trabalho, Cálice Sagrado, de 1954, foi bastante questionável, rendendo o curioso episódio de Newman publicando um anúncio de página inteira num jornal de grande circulação pedindo desculpas pelo seu desempenho e pedindo que as pessoas não assistissem ao filme. Um ano depois se redime em uma performance impecável em Marcado pela Sarjeta, de 1956. No entanto, não lhe rendeu nenhuma indicação. A primeira indicação viria apenas poucos anos depois em Gata em Teto de Zinco Quente, de 1958 e a reconhecida premiação em A Cor do Dinheiro de 1986. Newman ainda veio receber um Oscar honorário em 1986, em reconhecimento as suas muitas e memoráveis interpretações, integridade pessoal e dedicação ao ofício. Em 1994, foi agraciado também com um Oscar humanitário, prêmio dedicado a memória do ator dinamarquês Jean Hersholt (1886 – 1956) que presidiu por muito anos uma organização de caridade que providenciava ajuda aos mais carentes da indústria do Cinema e televisão.

    Indicações: 9
    Gata em Teto de Zinco Quente (1958), Desafio à Corrupção (1961), O Indomado (1963), Rebeldia Indomável (1967), Rachel, Rachel (1968), Ausência de Malícia (1981), O Veredito (1982), A Cor do Dinheiro (1986), O Indomável: Assim é Minha Vida (1994) e Estrada para Perdição (2002).

    Premiações: 1
    A Cor do Dinheiro (1986).

    6. Spencer Tracy (1900 – 1967)

    Descoberto em 1930 pelo diretor John Ford após assistir uma peça na Broadway, Spencer Tracy foi convidado por Ford para estrelar seu próximo filme, Rio Acima. Tracy trabalhou com grandes cineastas, entre eles o já mencionado John Ford, e também Fred Zinnemann, Elia Kazan, Fritz Lang, George Stevens, Michael Curtiz, John Sturges, Vincente Minnelli, Frank Capra, mas certamente sua parceria ao lado de Stanley Kramer já no fim de sua carreira são um dos pontos altos da história da Era de Ouro de Hollywood, em filmes como O Vento Será Tua Herança (1960), Julgamento em Nuremberg (1961), Deu a Louca no Mundo (1963) e Adivinhe Quem Vem Para Jantar (1967). Tracy faleceu três semanas após a conclusão das filmagens de Adivinhe Quem Vem Para Jantar.

    Indicações: 9
    A Cidade do Pecado (1936), Marujo Intrépido (1937), Com os Braços Abertos (1938), O Papai da Noiva (1950), Conspiração do Silêncio (1955), O Velho e o Mar (1958), O Vento Será Tua Herança (1960), Julgamento em Nuremberg (1961) e Adivinhe Quem Vem Para Jantar (1967).

    Premiações: 2
    Marujo Intrépido (1937) e Com os Braços Abertos (1938).

    5. Laurence Olivier (1907 – 1989)

    Sir Laurence Olivier é considerado por muito como o maior ator de língua inglesa de todos os tempos. Sua interpretações das peças de William Shakespeare, seja no Cinema ou no Teatro, proporcionaram-lhe as grandes glórias de sua carreira. E foi em Shakespeare, na adaptação de Hamlet, de 1948, que Olivier foi agraciado com o Oscar de melhor ator. O ator Recebeu ainda o Oscar honorário em 1947, por sua notável atuação como ator, produtor e diretor ao adaptar Henrique V, de 1944, para o Cinema. Em 1979 foi novamente premiado com um Oscar honorário pela dedicação ao seu ofício, as realizações únicas de toda a sua carreira e sua vida de contribuição para a arte do Cinema.

    Indicações: 10
    O Morro dos Ventos Uivantes (1939), Rebecca, a Mulher Inesquecível (1940), Henrique V (1944), Hamlet (1948), Richard III (1955), Vida de Solteiro (1960), Othello (1965), Jogo Mortal (1972), Maratona da Morte (1976) e Meninos do Brasil (1978)

    Premiações: 1
    Hamlet (1948).

    4. Bette Davis (1908 – 1989)

    Bette Davis ficou conhecida pela série de personagens icônicos da Era de Ouro de Hollywood. Dona de um temperamento forte, Davis frequentemente opunha-se as decisões dos grandes estúdios e produtores da época. Aclamada pela crítica, a atriz era considerada por seus pares como a mais perfeccionista intérprete de sua época. Esse comportamento, conforme admitido pela atriz, se deu as custas de sua vida pessoal. Davis foi indicada mais de onze vezes ao Oscar e ganhou a estatueta em duas dessas onze ocasiões. Foi a primeira mulher presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em 1941, mas renunciou dois meses depois alegando que não havia sido eleita para ser uma figura decorativa, já que a a ala conservadora da Academia não estava disposta a reestruturar a premiação da forma como ela havia planejado.

    Outro episódio importante envolvendo Davis e o Oscar se deu alguns anos antes, quando vários membros da Academia se revoltaram e ameaçaram não votar por conta da ausência do nome da atriz na lista de indicadas, por sua atuação em Escravos do Desejo, de 1934. Por conta disso, a Academia informou aos seus membros que, caso quisessem, poderiam votar em Davis. A história mostra que Davis não ganhou, mas demonstra muito de sua força ainda no início de carreira. A atriz detém o recorde com o maior número de indicações consecutivas, 5 ao todo. Bette Davis continuou atuando até pouco antes de sua morte por câncer de mama, em 1989.

    Indicações: 11
    Escravos do Desejo (1934), Perigosa (1935), Jezebel (1938), Vitória Amarga (1939), A Carta (1940), Pérfida (1941), A Estranha Passageira(1942), Vaidosa (1944), A Malvada (1950), Lágrimas Amargas (1951) e O Que Aconteceu com Baby Jane? (1962).

    Premiações: 2
    Perigosa (1935) e Jezebel (1938).

    3. Jack Nicholson (1937 – )

    Jack Nicholson é conhecido pelas personagens que interpreta. Dotados de complexidade física e psicológica, o ator sempre soube agarrar tais papéis com firmeza e entregá-los ao diretor e os espectadores uma interpretação sólida, sem cair em maneirismos de atuação ou repetições, destrinchando nuances de personalidades de forma como poucos conseguem. Sua carreira no Cinema se iniciou como ator, roteirista e produtor, trabalhando ao lado do lendário Roger Corman, fazendo pequenas pontas desde o final dos anos 1950, mas foi apenas em 1969, com Sem Destino, que Nicholson se tornou conhecido e recebeu sua primeira indicação ao Oscar. Coincidentemente, Sem Destino, é considerado o marco inicial da Nova Hollywood e a decadência da Era de Ouro, portanto, ninguém mais adequado que Nicholson para essa nova fase do Cinema norte-americano e seu viés mais crítico e incisivo sobre a sociedade, utilizando de temas da contracultura, antibelicismo, liberdade sexual, liberalização das drogas, direitos civis e outros temas políticos que orbitavam a época.

    Indicações: 12
    Sem Destino (1969), Cada um Vive como Quer (1970), A Última Missão (1973), Chinatown (1974), Um Estanho no Ninho (1975), Reds (1981), Laços de Ternura (1983), A Honra do Poderoso Prizzi (1985), Ironweed (1987), Questão de Honra (1992), Melhor é Impossível (1997) e As Confissões de Schmidt (2002).

    Premiações: 3
    Um Estanho no Ninho (1975), Laços de Ternura (1983) e Melhor é Impossível (1997).

    2. Katharine Hepburn (1907 – 2003)

    Ter um apelido como a “Primeira Dama do Cinema” é para poucos. Katharine Hepburn é até hoje a atriz mais premiada da história da Academia, ganhando quatro das doze indicações ao Oscar. Possuidora de uma carreira versátil, Hepburn trabalhou em diversos gêneros e se sobressaiu em todos eles. Após um início promissor na Broadway, a atriz assina um contrato com a RKO Pictures em 1932 e um ano depois recebe sua primeira indicação e premiação com o Oscar de melhor atriz por Manhã de Glória. Contudo, emenda uma série de fracassos comerciais, apesar de duas indicações e um Oscar, e o contrato com a RKO é encerrado, com a atriz sendo considerada “Veneno de Bilheteria” pelos produtores. Percebendo o declínio de sua carreira, Hepburn decide se reinventar, se afasta de Hollywood e se reaproxima dos palcos, tendo grande êxito de público e crítica. A MGM a procura para um novo recomeço em Hollywood e a a atriz passa a emplacar uma série de sucessos, doze indicações, quatro Oscar e com aproximadamente 60 anos dedicados ao Cinema e a TV, sendo seu último trabalho o filme televisivo O Poder do Natal, de 1994, adaptação de um conto de Truman Capote. Em 1999, ela foi nomeada pelo American Film Institute como a maior estrela feminina de todos os tempos.

    Indicações: 12
    Manhã de Glória (1933), A Mulher que Soube Amar (1935), Núpcias de Escândalo (1940), A Mulher do Dia (1942), Uma Aventura a África (1951), Quando o Coração Floresce (1955), Lágrimas do Céu (1956), De Repente, No Último Verão (1959), Longa Jornada Noite Adentro (1962), Adivinhe Quem Vem para Jantar (1967), O Leão no Inverno (1968) e Num Lago Dourado (1981).

    Premiações: 4
    Manhã de Glória (1933), Adivinhe Quem Vem para Jantar (1967), O Leão no Inverno (1968) e Num Lago Dourado (1981).

    1. Meryl Streep (1949 – )

    Reconhecida como uma das mais talentosas atrizes de todos os tempos, Meryl Streep iniciou sua carreira no Teatro, nos anos 1970, fazendo uma transição rápida para a televisão, em 1977, e finalmente chegando aos Cinemas em 1978 com o filme Julia, de Fred Zinnemann. Um ano depois é convidada por Michael Cimino para gravar um dos grandes clássicos da Nova Hollywood, O Franco Atirador, o que acaba lhe rendendo sua primeira das vintes indicações ao Oscar. Em 1979, trabalha nos clássicos Manhattan, de Woody Allen, e Kramer Vs. Kramer, de Robert Benton, este último lhe rende sua primeira estatueta. Três anos depois seria novamente premiada por A Escolha de Sofia, de  Alan J. Pakula. Meryl Streep, hoje aos 67 anos de idade, detém uma incrível marca de 20 indicações, e ao que tudo indica, tem tudo para dobrar a marca de indicações e se igualar ao número de premiações Katharine Hepburn. A atriz ainda demonstra apreço pela cena e está longe de se aposentar. 

    Indicações: 21
    O Franco Atirador (1978), Kramer Vs. Kramer (1979), A Mulher do Tenente Francês (1981), A Escolha de Sofia (1982), Silkwood: O Retrato de uma Coragem (1983), Entre Dois Amores (1985), Ironweed (1987), Um Grito no Escuro (1988), Lembranças de Hollywood (1990), As Pontes de Madison (1995), Um Amor Verdadeiro (1998), Música do Coração (1999), Adaptação (2002), O Diabo Veste Prada (2006), Dúvida (2008), Julie & Julia (2009), A Dama de Ferro (2011), Álbum de Família (2013), Caminhos da Floresta (2014), Florence: Quem é Essa Mulher? (2016) e The Post: A Guerra Secreta (2017).

    Premiações: 3
    Kramer Vs. Kramer (1979), A Escolha de Sofia (1982) e A Dama de Ferro (2011).

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  • Crítica | Vítimas de Uma Paixão

    Crítica | Vítimas de Uma Paixão

    302b50cd3f6d125aa6d9594f8890f445O ano era 1989 e Al Pacino estava em um hiato de 4 anos após o retumbante fracasso de Revolução. O ator chegou até a ser indicado ao Framboesa de Ouro de pior ator, mas “perdeu” para Sylvester Stallone e sua terceira performance como Rambo. Porém, em Vítimas de Uma Paixão, Pacino mostrou que estava de volta e entregou uma ótima atuação nesse bom exemplar do gênero policial.

    No longa, Pacino interpreta o policial Frank Keller, detetive da polícia de Nova York que passa por uma crise pessoal: além de estar a um passo do alcoolismo, não consegue lidar com o seu aniversário de 20 anos na força policial e o fato de sua mulher ter se divorciado dele e engatado um relacionamento com um colega de departamento. No meio desse turbilhão, Keller é convocado para investigar o estranho assassinato de um homem. Durante uma conversa informal em um evento para policiais, Frank acaba fazendo amizade com o Sherman Touhey (John Goodman), detetive de outra delegacia que investiga um crime idêntico. Os dois se unem e acabam descobrindo que as vítimas tinham anúncios na sessão de “classificados sentimentais” de um jornal da cidade. A dupla chega à conclusão de que para capturar o assassino, terão que fazer o mesmo. Entretanto, após conhecer várias mulheres, Frank acaba se apaixonando pela principal suspeita (Ellen Barkin) e ao passo que ele mais se aproxima dela, mais surgem indícios incriminadores sobre a moça.

    Vítimas de Uma Paixão é um clássico whodunit, filme em que o espectador é apresentado à todas as pistas e tem que tentar adivinhar quem é o assassino. Harold Becker e o roteirista Richard Price fazem isso com competência durante toda a película, jogando o tempo todo com quem está assistindo. Entretanto, quando chega o momento da resolução, tudo parece rápido demais, diluindo a surpresa da revelação e pior, chegando a causar a sensação de previsibilidade, fazendo com que o final não seja tão impactante como deveria ser. O diretor Becker, porém, consegue arrancar boas atuações de todo o elenco, principalmente de Al Pacino. O ator, que apesar de ser baixinho parece um gigante quando está em seus melhores momentos, é ainda mais engrandecido pela forma como é conduzido e filmado. A sequência da loja de sapatos talvez seja o melhor exemplo em toda a película. Ademais, o diretor capta os momentos mais tenros e os mais eróticos sem parecer piegas.

    Ainda sobre a trama e seu desenvolvimento, desde cedo fica estabelecido que o protagonista é um bom policial que acabou perdendo seu norte por uma conjunção de fatores, sendo o principal deles o seu divórcio. Sua inteligência passa a ser mais notada a partir do momento que ele se junta com o personagem de Goodman, pois esse passa a funcionar como seu conselheiro. A ideia que os dois tem juntos para capturar o assassino é tão absurda quanto genial. Porém algumas coisas poderiam ser mais bem exploradas, como uma mulher que Pacino conhece durante a investigação e que por um momento fica a impressão de que ela poderia gerar algum risco para ele ou Goodman, mas a circunstância é somente utilizada para gerar um pequeno conflito moral no protagonista. Um outro ponto interessante é que, a partir do momento em que o detetive Keller conhece a personagem vivida por Ellen Barkin, ele fica completamente encantado por ela e, ao mesmo tempo que ela funciona como uma tábua de salvação para ele, acaba servindo com uma distração, pois o detetive acaba colocando a moça e o seu relacionamento à frente de seus deveres profissionais. Essas questões são trabalhadas de forma muito críveis pelo script e pela direção.

    Al Pacino está sensacional em cena, fazendo a composição perfeita de um personagem em crise. Sempre um ator expansivo, Pacino dosa corretamente a sua atuação, principalmente nos momentos em que o detetive se embriaga para fugir da sua realidade e “afogar as mágoas”. Sua dinâmica com Ellen Barkin é ótima e a tensão erótica que se estabelece entre os dois é intensa e natural. Barkin, também merece destaque não só pelo seu charme e beleza, mas por sua atuação como uma mulher que tem a sua cota de traumas na vida, principalmente amorosos. John Goodman mantém a nota alta do elenco e apesar de seu personagem ser um bonachão, sua atuação não se resume só a isso: ele completa muito bem Al Pacino e o seu detetive Sherman serve como uma âncora de serenidade para o parceiro.

    Bom exemplar de filme policial, Vítimas de Uma Paixão é da época que Al Pacino ainda sabia escolher bem seus projetos e vale a pena ser visto por quem só conhece o ator por seus papéis emblemáticos ou por seus pálidos projetos recentes.

  • Crítica | Não Olhe Para Trás

    Crítica | Não Olhe Para Trás

    Não Olhe Para Trás 1

    Estreando na cadeira de direção, após um longo currículo como roteirista, Dan Folgerton realiza seu filme como uma peça de redenção, baseada em uma figura supostamente real que remeteria aos longevos musicistas sexagenários que tiveram seu auge nos anos sessenta e setenta. Danny Collins – ou Não Olhe Para Trás (principal música do astro de rock biografado) – inicia-se com um jovem Eric Michael Roy para mostrar o personagem-título ainda cru, comentando sua influência enquanto compositor através de John Lennon. Ainda assim, uma figura estranha, uma vez que todos os discos espalhados pelo filme usam as imagens do acervo fotográfico de Al Pacino.

    As próximas cenas mostram a entrada de Collins em uma palco, toscamente abrindo uma porta que o leva diretamente ao centro – cena esta que seria pervertida no futuro –, exibindo um homem preguiçoso e acomodado pela eterna questão de ser rico, famoso e de ter o mundo aos seus pés. O uso abusivo de drogas ajuda a montar um arquétipo de bad boy geriátrico, repleto de whiskey e cocaína, enquadrando o idoso interpretado por Pacino como um homem cujos luxos e desilusões o dominam.

    O quadro de tranquilidade muda quando seu único amigo remanescente, e empresário, Frank Grubman (de um subaproveitado Christopher Plummer), lhe entrega um presente, uma carta que John Lennon lhe escreveu em 1971 sobre a entrevista que ele deu a revista Chime In, presa com o então editor, para que pudesse barganhá-la por muito dinheiro. O entrevistador faleceu, e a mensagem foi parar nas mãos de um colecionador, até ser comprada pelo manager, que tinha em mãos algo semelhante a uma garrafa perdida ao mar.

    A postura visual de Danny muda, quando, em sua cama, se permite ser ele mesmo, de óculos espessos e grande armação, que pretensamente o fariam ler melhor a carta, livre de qualquer aparência pré-fabricada do ser extremamente sexual que precisava pintar no passado, e que na vida idosa já não fazia quase efeito nenhum. O texto da carta envolvia a superação de qualquer condição monetária ante o ofício artístico da composição. Envergonhado, em frente a um outdoor com a sua imagem anunciando o volume três de uma coleção de Greatest Hits, o sujeito decide abandonar as drogas e rumar a Nova Jersey para escrever novas canções e uma nova história.

    Em um hotel modesto, Danny se interessa visualmente pela gerente Mary Sinclair (Annete Benning), que não chega perto das beldades com quem costuma transar, interesse este certamente ligado ao fato de perceber estar envelhecendo. A realidade, em uma análise frívola, revela somente uma crise de meia-idade. A busca por elementos diferentes faz com que encontre pessoas que deveriam ser de sua rotina, mas nunca foram.

    O cantor visita então seu filho perdido, encontrando sua nora Samantha (Jennifer Garner), grávida de seis meses, além da brava e linda Hope (Giselle Eisenberg), sua neta que sofre do transtorno de déficit de atenção. Ao encontrar Tom (Bobby Cannavale), ele é rejeitado, tendo enfim a retribuição por décadas de ignorância.

    Não Olhe Para Trás relaciona-se a Mesmo Se Nada Der Certo, mas em versão madura, tendo muitos dos elementos do roteiro de Última Viagem a Vegas. No entanto, falta o carisma dos filmes citados, e claro, o ponto alto do escritor em Amor a Toda Prova. Depois de compor apenas um pedaço de uma futura música, Danny decide ajudar sua neta a despeito do desprezo de Tom, começando uma miniaventura nessa jornada de reconstrução.

    O caso se agrava com a descoberta de que seu filho tem uma doença, o que acumula ainda mais a barra de clichês, um traço comum entre as gerações – que inclui também o roteiro –: a petulância. Em um dos poucos movimentos inesperados, Danny decide montar um modesta apresentação final, que até começa promissora na entrada do músico por uma porta de saída. Porém, logo a aura é quebrada com o retorno do showman e sua música tema, exibindo os ecos de uma carreira viciada que se importa com o público caquético que o acompanha, mas não o suficiente para o cantor sair de sua zona de conforto.

    Apesar do belo elenco de apoio, há poucas luzes da ribalta, mesmo para o redescoberto Al Pacino. A mensagem final é de que a natureza humana não muda, mas os préstimos de atenção e carinho podem ser presentes, mesmo na rotina de um velho homem, algo já foi visto em praticamente toda a filmografia do roteirista/diretor, mas sem a mesma inspiração das obras anteriores.

  • Crítica | O Último Ato

    Crítica | O Último Ato

    O veterano diretor Barry Levinson dá prosseguimento a sua parceria com Al Pacino, muito bem-sucedida em Você Não Conhece o Jack, para dar vazão ao metalinguístico O Último Ato, filme que conta a história de Simon Axler, um ator de teatro reconhecido por seu méritos dramáticos que de repente percebe-se do lado de fora do teatro, um pesadelo comum de qualquer ator. Na verdade, este é somente o primeiro aspecto de sua tragédia pessoal.

    O arroubo emocional em que Axler está metido faz com que ele tenha atitudes drásticas, impingindo a si uma dor tremenda na tentativa de sentir algo sob a própria pele, no desespero de não conseguir mais exercer seu talento. Os takes em lugares bastante distintos remetem à dificuldade que Simon possui em atuar por diversos cenários, tendo como constante o terrível temor de não conseguir mais pôr em prática os ensinamentos que propaga em palestras a seus alunos. A perda de sua essência enquanto artista invade inclusive sua perspectiva de identidade.

    Em meio a sua crise existencial, buscando fugir de sua depressão habitual, Simon prossegue seus dias, até receber a visita da filha de amigos de longa data: Peggen Mike Stapleford, mais um papel forte de Greta Gerwig. Peggen é uma jovem lésbica, de bela aparência, que fantasiava casar-se com o astro desde que era apenas uma garotinha. Após tomar bastante vinho, a moça inicia uma interação sexual com o homem, em um flerte que só ocorre em virtude das atitudes da moça, muito por causa da completa inadimplência emocional e sexual que o ator geriátrico vive em sua rotina.

    A apresentação dessa nova relação abre mais possibilidades de conflito, combalindo ainda mais a mente do artista, já em degradação, com novos paradigmas de brigas e disputas, a começar pelos antigos affairs de Peggen. Deparar-se com a amante de sua parceira faz Simon ter ainda mais dúvidas, principalmente sobre os motivos que a fizeram trocar a antiga rotina para estar com ele, sendo assim incapaz de enxergar o óbvio, que envolve a proximidade causada pela admiração do passado entre ambos.

    Da maneira mais patética possível, os pais de Peggen chegam ao  lar de Simon para indagá-lo a respeito dos desejos e atos lascivos do padrinho com sua afilhada. Mesmo tendo vivido sua rotina de modo dionisíaco até então, o artista começa a se perguntar sobre a moralidade, ou a falta dela, de seus atos, assim como a posição de conviver entre seres completamente insanos, que lhe pedem favores nefastos baseados na ilógica, tão tresloucados que fazem duvidar qual é o nível de realidade em que vivem.

    Toda a dimensão do trabalho de imersão de Simon Axler é duramente analisada sob os olhos atentos da câmera de Levinson, dionisíaca como todo o esforço de exercer atuação sobre material e texto alheio. A preparação e energia que deviam ser empregadas para fazer Rei Lear são gastas em discussões e na resolução das vicissitudes inerentes à vida do adulto, fruto da mesma rotina que lutou tanto para apagar ou fugir; o cotidiano que refutou graças à dedicação ao seu próprio, que, vez ou outra, contemplava também seu talento.

    A repentina crise que passa faz pensar que aquilo é a retribuição do que Simon plantou, resumida na perda da única coisa que lhe foi importante e constante em vida. A arte é tão ingrata quanto a soberba: só se permitiria ser capturada novamente quando a entrega do intérprete fosse completa. Os aspectos teatrais fazem lembrar o texto de A Pele de Vênus, de Roman Polanski, no desesperador ato que une rei e figura artística, os quais têm nas luzes da ribalta e aplausos a sua igual gratificação. Os momentos finais justificam tanto a versão brasileira de “último ato” quanto a descida ao cerne da humildade na tradução de “humbling”, tratando desta humilhação não como afronta, mas sim como a arma necessária para a entrega completa e a solução para o quadro depressivo.

  • Crítica | O Último Ato

    Crítica | O Último Ato

    Com profundos e furiosos olhos verde-escuros, um dos grandes atores americanos vivos, Al Pacino vive em baixa há quase duas décadas. Salvo três interpretações feitas em filmes televisivos, que lhe renderam indicações e prêmios, nenhuma das últimas produções envolvendo o ator foi suficiente para que pudesse se destacar como anteriormente, em personagens que se tornaram icônicas no cinema mundial. Talvez o último momento mais luminoso de sua carreira tenha sido em 1999 com O Informante, de Michael Mann.

    Representante de um estilo de interpretação extremada, chamada de overacting, o ator talvez esteja vivendo o declínio representativo devido ao envelhecimento físico. Diante das modificações físicas naturais do corpo, o semblante do ator ganhou mais vincos e, por consequência, uma imagem que sempre transmite desolação ou fúria. Além disso, papéis rasos de produções como Tudo Por Dinheiro, O Articulador, entre tantos outros filmes ruins ou desnecessários, não lhe deram o espaço para uma de suas grandes interpretações. Aos 74 anos, Pacino continua em cena, mesmo sem brilhar como antigamente.

    Adaptado do trigésimo livro de Philip Roth, O Último Ato estabelece um diálogo ativo com a carreira de Pacino, que representa Simon Axler, um consagrado ator de teatro que perde a habilidade da interpretação e, em um surto, se joga de um palco em meio a uma peça teatral. Dirigida por Barry Levinson, que trabalhou recentemente com o ator no premiado filme da HBO, Você não Conhece o Jack, a trama permanece entre o drama da personagem e o tradicional diálogo sobre a própria arte.

    Como Axler, Pacino entrega uma interpretação mais contida, ciente de que sua popular atuação explosiva seria incoerente com o declínio devastador do ator renomado. Conforme trabalha com um terapeuta sua inadequação perante a perda da capacidade interpretativa, o papel do ator se transforma em material filosófico para o longa-metragem.

    Comumente aproximamos dos atores o conceito de uma pessoa com talento e trabalhos suficientes para interpretar qualquer papel, sendo assim, transitando entre uma quantidade infinita de vidas e personagens. Trabalhando de maneira ativa com uma espécie de faz de conta, o ator também é observador atento que filtra reações diversas para espelhá-las em suas atuações. Não há um parâmetro definido que seja limítrofe entre vida real e universo interpretativo, com cada ator delimitando o quanto uma personagem influencia em seu cotidiano. Axler questiona a função do ator assumindo um distanciamento da realidade. Um observador que monitora a reação das pessoas, como se a vida fosse um conjunto de papéis cênicos. Um homem que perdeu a tessitura entre a ficção e o real.

    O talento interpretativo sempre visto como certo grau de erudição criativa também seria responsável pelo cansaço ao se inserir no cotidiano dos atores como um trabalho qualquer. A composição da arte sempre foi vista com parcelas de dedicação e suor, um amor estabelecido que, sem reciprocidade, se transforma em ato mecânico. Além das tensões internas, a indústria também promove, ou não, a continuidade do ator. Sabemos que muitos grandes atores chegam à velhice quase sem bons papéis, devido à demanda de um comércio que explora mais a juventude do que a terceira idade.

    Aos poucos, o drama sobre os limites de um ator se modifica para explorar o significado simbólico por trás da narrativa, a metáfora da humilhação da personagem central. Diante de uma história breve, originada em uma narrativa de aproximadamente cem páginas, Roth e consequentemente o roteiro adaptado acrescentam elementos demais para a discussão do crepúsculo da arte. A Humilhação, nome do romance e título original do filme, peca por excessos narrativos que vão contorcendo a vida da personagem de maneira demasiada, destruindo parte da realidade proposta por uma desvirtuação que suscita dúvida e deforma a intenção inicial.

    Em consequência da disparidade narrativa, o longa perde a potência e entrega um final comum a outras produções que fizeram da arte um objeto de reflexão e que ainda conseguiram manter a carga dramática. Uma pena para Pacino que, ao distanciar-se de uma interpretação explosiva, entrega um bom papel decadente, situação que, infelizmente, representa o estágio atual de sua carreira.

  • Crítica | Amigos Inseparáveis

    Crítica | Amigos Inseparáveis

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    Não há duvida que existe uma carência de bons papéis para atores veteranos dentro de Hollywood, principalmente se este for voltado para protagonistas. Mesmo grandes nomes como Al Pacino, Alan Arkin Christopher Walken, não tem lugar para certos papéis, ficando fadados a filmes de gênero ou apenas como coadjuvantes. Amigos Inseparáveis (Stand Up Guys) tenta suprir essa falta, entregando uma comédia policial com atores mais velhos, mas o máximo que consegue é soar como uma homenagem muito aquém do que esses nomes deveriam receber.

    Na trama, acompanhamos a saída da prisão de Val (Pacino), que passou seus últimos 28 anos cumprindo pena pelo assassinato do único filho do seu antigo chefe, o mafioso Claphands (Mark Margolis). Doc (Walken) busca Val e ambos passam o dia se divertindo pela cidade, realizando as vontades que o amigo não pôde fazer nos últimos anos. Contudo, Doc tem uma missão ingrata para realizar até o amanhecer: matar Val à mando do mafioso, como uma vingança pela morte do seu filho. Ambos entendem a gravidade da situação e decidem aproveitar as poucas horas que tem para farrear. Com isso, os dois decidem resgatar o velho amigo Hirsh (Arkin) da casa de repouso onde está internado e relembrar os velhos tempos juntos.

    O roteiro se desenvolve em volta dessa última aventura do trio, durante uma noite agitada com direito à idas a bordéis, boates, pequenos assaltos, uma vingança contra os responsáveis pelo sequestro de uma mulher, entre outras coisas. A direção de Fisher Stevens parece não ter a mínima ideia do que fazer com o roteiro de Noah Haidle e com o material que tem em mãos.

    Se o roteiro e a direção não colaboram, o mesmo não pode ser dito do elenco. Verdade seja dita, senão fosse por ele o filme não teria nada digno de nota a ser lembrado. O entrosamento entre os três atores é impressionante, bem como a construção de personagens de cada um. Walken, mais contido que o habitual, anda com cautela e precaução, demonstrando a tensão que está sofrendo pela decisão que precisará tomar em breve. Já Pacino, sempre muito expressivo, abusa de movimentos, mas sempre curvado, já que apesar de querer aproveitar intensamente o pouco que lhe resta, deixando claro o que deixou para trás nos últimos 28 anos. Arkin é o último a se unir ao grupo, mas rouba a cena, tornando o filme mais interessante.

    Amigos Inseparáveis tem uma ótima premissa, mas se perde num roteiro pífio, repleto de piadas bobas, diálogos ruins e situações constrangedoras, que se agrava na direção mal empregada de Stevens, o que no final das contas só fica parecendo uma versão terceira idade de um Se Beber, Não Case!, onde os velhos parecem ser obrigados a se portarem como adolescentes para parecerem legais. Ainda assim, o filme possui um certo charme, principalmente pelo trio de atores que estão muito bem no longa, o que só demonstra como esses veteranos são mal empregados e ainda tem muito a oferecer.

  • Crítica | Fogo Contra Fogo (1995)

    Crítica | Fogo Contra Fogo (1995)

    fogo contra fogo - poster

    Sobre filmes que tentamos assistir por diversas vezes, mas sempre falhamos: nunca assisti inteiramente Fogo Contra Fogo. Admiro a obra de Michael Mann, mas sempre tive problema com essa produção. Ciente de que um filme necessita mais do que atenção, mas também vontade para vê-lo e abertura para compreendê-lo, dei mais uma chance para mim e o reassisti em Blu Ray. E o filme é excelente.

    Escrito e dirigido por Michael Mann, a trama desenvolve o embate entre duas personagens díspares, tanto em profissão, quanto em caráter. Não há a preocupação em julgá-las. Mann desenvolve os dois pólos da mesma história sem dar validade para nenhum dos dois. Promove um jogo em que se mostra as personagens lentamente, compreendendo aos poucos suas intenções.

    O diretor roteirista sempre se preocupa com a motivação de suas personagens. Chega a desenvolver antes do roteiro uma história completa de fatos e acontecimentos, para ter ciência de como suas personagens chegaram até a situação apresentada em sua história. O trabalho obsessivo tem valor na tela. Suas personagens são carregadas de minúcias que explicitam suas angústias internas.

    Além dos detalhes do roteiro, a maneira com que Mann trabalha a direção é única. Sempre integra suas cenas com o ambiente. Os ângulos não são em close nem em panorâmica. Ficam em um meio termo, que mostra tanto as personagens, como parte do cenário que vivem. Como se o ambiente também interagisse com naturalidade na cena. Os planos levemente colocados para cima equilibram a luz natural com a fotografia, parecendo um retrato de uma vida real.

    O trabalho cuidadoso em roteiro, filmagem, concepção de personagens, resultam em uma história densa. Não é um exagero afirmar que Mann faz um western urbano. Colocando dois personagens com objetivos diferentes em uma luta tensa em que, provavelmente, só haverá um vencedor. O duelo é lento, mas existe.

    Ampliando a credibilidade da história estão Al Pacino e Robert De Niro, como policial e bandido dentro desse jogo sutil. Em boa forma, os atores demonstram seu talento, promovendo uma cena memorável, localizada em um café, em que ambos improvisaram suas falas para gerar a estranheza de dois desconhecidos conversando.

    Diretor experiente, Mann é um obsessivo detalhista. O sutil trabalho de composição carrega dentro de si pequenas história épicas, primorosas narrativas consagradoras impressionantes.

  • Crítica | Insônia

    Crítica | Insônia

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    Depois de um início arrebatador, quando Christopher Nolan lançou ao público, Amnésia em 2000, as expectativas para seu próximo filme se tornaram grandes, talvez por conta disso, Insônia seja a grande decepção para os entusiastas da carreira do cineasta.

    Amnésia se tornou uma das grandes surpresas do mercado cinematográfico, um filme pequeno, com um roteiro instigante e original. Ganhar o público e a crítica em seu primeiro filme (Se desconsiderarmos seu primeiro longa mais independente, The Following) é tarefa para poucos, no entanto, manter esse público é ainda mais difícil (M. Night Shyamalan é um ótimo exemplo). A verdade é que Insônia se mostra como um filme mediano, onde seus méritos maiores estão na ambientação de sua história e o elenco poderoso com que Nolan trabalhou (três ganhadores do Oscar), demonstrando o quanto o diretor já era respeitado, mesmo em início de carreira.

    O roteiro de Insônia narra a história de um detetive que parte para uma cidadezinha isolada do Alasca para investigar o misterioso assassinato de uma jovem. As coisas saem do controle durante uma perseguição ao assassino (Robin Williams) da jovem, o personagem de Al Pacino acaba matando acidentalmente seu parceiro, e a única testemunha do crime é justamente o próprio assassino que estava perseguindo. A trama se desenvolve como uma grande caçada de gato e rato, repleto de chantagens, do tipo em que os fins justificam os meios. Vale ressaltar que Insônia é um remake de um filme norueguês de 1997, dirigido por Erik Skjoldbærg, sendo assim, o primeiro (e único até o momento) onde não houve colaboração alguma de Nolan no roteiro.

    Insônia retoma temas utilizados em Amnésia, seus personagens são anti-heróis que buscam uma redenção em suas vidas. Se em Amnésia, a perda de memória do personagem de Guy Pearce é a escolha utilizada para o desenvolvimento narrativo, em Insônia é o clima do Alasca que acaba tendo um papel fundamental no desenvolvimento do roteiro, funcionando quase como um personagem à parte, aliás, esse cenário remete ao meu trabalho favorito dos irmãos Coen, Fargo: Uma Comédia de Erros, um filme policial, com traços neo-noir que se passa em um ambiente desolado e gélido.

    Os personagens do longa desencadeiam uma série de eventos onde caberá somente ao espectador determinar o caráter de cada um. Insônia desenvolve bem os seus personagens, muito parecido com o que já havia sido feito em Amnésia, transformando um filme policial com pontos de vista interessantes no que remonta a índole dos seus personagens, algo muito além da linha que tange o bem e o mal. Como um noir moderno, onde a escuridão é substituída pela claridade do Alasca, mas as trevas de verdade estão imbuídas dentro daqueles que participam da trama e não em seu ambiente.

    Al Pacino entrega um trabalho retumbante ao interpretar um detetive pragmático e amoral, completamente desgastado mentalmente, quanto fisicamente. Robin Williams demonstra um dos seus poucos papéis como antagonista, conseguindo assustar o espectador com seu olhar vazio e perturbador. Hillary Swank, ainda que discreta, se mostra fundamental como uma possível “balança” na trama.

    Apesar de ser considerado como um filme menor na filmografia de Nolan, Insônia se mostra como uma grande análise de comportamentos e nuances da mente humana travestida de thriller policial. Nolan faz tudo isso com uma direção mais clássica, não precisando retomar um estilo de narrativa não-linear para se firmar como um grande diretor.