Tag: Hillary Swank

  • Crítica | A Caçada

    Crítica | A Caçada

    Escrito por Damon Lindelof e Nick Cuse (Lost, The Leftovers, Watchmen), dirigido por Craig Zobel, essa produção da Blumhouse gerou um certo falatório quando surgiram notícias de que o público reagiu mal às exibições-teste do longa-metragem. A grande questão, conforme foi dito à época, seria o conteúdo político e ideológico do filme, abordado de maneira sarcástica e violenta. Quando seu trailer estreou, mais polêmica, inclusive com o Presidente Donald Trump comentando, ao lado de conservadores e liberais, e o filme acabou sendo adiado de 2019 para março de 2020. Dessa forma, é natural que os espectadores aguardassem um filme realmente controverso, repleto de polêmicas e questionamentos sociais. Infelizmente, nada disso existe.

    Na trama, um grupo de pessoas acorda no meio de um campo, em uma cena que emula Jogos Vorazes, e começam a ser caçadas antes que consigam se armar para se defenderem dos caçadores. A partir daí, começa um grande jogo de sobrevivência que envolve ricos entediados, uma veterana de guerra, refugiados e crítica sociais superficiais. Enfim, uma trama interessante, mas que a medida que o roteiro avança se torna cada vez mais repleta de pontas soltas e escolhas equivocadas.

    Nota-se que a intenção do roteiro de Lindelof e Cuse era levantar questionamentos sobre atuais problemas da sociedade, tais como a polarização política e ideológica, preconceito social e cultura do cancelamento. Entretanto, tudo é feito de forma mal-ajambrada, com situações sendo apresentadas sem um fio condutor minimamente seguro que faça a trama se desenvolver. Não ajuda em nada o fato de que o filme parece ter sofrido cortes severos durante sua montagem, visto que em vários momentos os personagens aparecem e desaparecem sem qualquer lógica de continuidade. Não existem arcos narrativos concisos que mostrem como eles chegaram até ali e tiveram certas conclusões, ou ainda, porque as relações interpessoais evoluíram até aquele ponto. Outro ponto extremamente desagradável é que o longa se apoia o tempo todo em arquétipos, o que por si só não é um problema, se houvessem outros atrativos para ser apresentados, o que não ocorre, de modo que nenhum personagem se desenvolve minimamente ou ao menos seja apresentado como alguém unidimensional. Não existem nuances ou qualquer grau de personalidade minimamente real.

    Entretanto, existem alguns pontos positivos no filme: as atuações das protagonistas Betty Gilpin e da vilã interpretada por Hillary Swank. Enquanto a primeira se apresenta como uma perfeita caipira americana, a segunda faz uma composição de vilã que consegue despertar alguma simpatia, mesmo repleta de sadismo e violência. O diretor ainda consegue entregar algumas boas cenas de ação, em especial a luta final muito bem coreografada entre as duas personagens citadas.

    A Caçada poderia ser um ótimo filme repleto de críticas pertinentes a certos questionamentos da sociedade atual, mas acaba entregando somente uma aventura rasa que não serve nem ao menos como um bom passatempo.

  • Crítica | Insônia

    Crítica | Insônia

    insomnia

    Depois de um início arrebatador, quando Christopher Nolan lançou ao público, Amnésia em 2000, as expectativas para seu próximo filme se tornaram grandes, talvez por conta disso, Insônia seja a grande decepção para os entusiastas da carreira do cineasta.

    Amnésia se tornou uma das grandes surpresas do mercado cinematográfico, um filme pequeno, com um roteiro instigante e original. Ganhar o público e a crítica em seu primeiro filme (Se desconsiderarmos seu primeiro longa mais independente, The Following) é tarefa para poucos, no entanto, manter esse público é ainda mais difícil (M. Night Shyamalan é um ótimo exemplo). A verdade é que Insônia se mostra como um filme mediano, onde seus méritos maiores estão na ambientação de sua história e o elenco poderoso com que Nolan trabalhou (três ganhadores do Oscar), demonstrando o quanto o diretor já era respeitado, mesmo em início de carreira.

    O roteiro de Insônia narra a história de um detetive que parte para uma cidadezinha isolada do Alasca para investigar o misterioso assassinato de uma jovem. As coisas saem do controle durante uma perseguição ao assassino (Robin Williams) da jovem, o personagem de Al Pacino acaba matando acidentalmente seu parceiro, e a única testemunha do crime é justamente o próprio assassino que estava perseguindo. A trama se desenvolve como uma grande caçada de gato e rato, repleto de chantagens, do tipo em que os fins justificam os meios. Vale ressaltar que Insônia é um remake de um filme norueguês de 1997, dirigido por Erik Skjoldbærg, sendo assim, o primeiro (e único até o momento) onde não houve colaboração alguma de Nolan no roteiro.

    Insônia retoma temas utilizados em Amnésia, seus personagens são anti-heróis que buscam uma redenção em suas vidas. Se em Amnésia, a perda de memória do personagem de Guy Pearce é a escolha utilizada para o desenvolvimento narrativo, em Insônia é o clima do Alasca que acaba tendo um papel fundamental no desenvolvimento do roteiro, funcionando quase como um personagem à parte, aliás, esse cenário remete ao meu trabalho favorito dos irmãos Coen, Fargo: Uma Comédia de Erros, um filme policial, com traços neo-noir que se passa em um ambiente desolado e gélido.

    Os personagens do longa desencadeiam uma série de eventos onde caberá somente ao espectador determinar o caráter de cada um. Insônia desenvolve bem os seus personagens, muito parecido com o que já havia sido feito em Amnésia, transformando um filme policial com pontos de vista interessantes no que remonta a índole dos seus personagens, algo muito além da linha que tange o bem e o mal. Como um noir moderno, onde a escuridão é substituída pela claridade do Alasca, mas as trevas de verdade estão imbuídas dentro daqueles que participam da trama e não em seu ambiente.

    Al Pacino entrega um trabalho retumbante ao interpretar um detetive pragmático e amoral, completamente desgastado mentalmente, quanto fisicamente. Robin Williams demonstra um dos seus poucos papéis como antagonista, conseguindo assustar o espectador com seu olhar vazio e perturbador. Hillary Swank, ainda que discreta, se mostra fundamental como uma possível “balança” na trama.

    Apesar de ser considerado como um filme menor na filmografia de Nolan, Insônia se mostra como uma grande análise de comportamentos e nuances da mente humana travestida de thriller policial. Nolan faz tudo isso com uma direção mais clássica, não precisando retomar um estilo de narrativa não-linear para se firmar como um grande diretor.