Tag: Christopher Plummer

  • Crítica | Entre Facas e Segredos

    Crítica | Entre Facas e Segredos

    Entre Facas e Segredos, novo filme do diretor Rian Johnsonn já começa dramático e um pouco sensacionalista, mostrando Christopher Plummer sangrando, com uma faca/punhal na mão tal qual o movimento suicida comum. Ele é Harlan Thrombey patriarca de sua família e escritor famoso, tão bem sucedido que seus filhos e netos tem uma boa vida muito graças ao seu trabalho e a fortuna decorrente da venda de seus livros e as pouco mais de duas horas de filme investigam os rumos dos últimos momentos do sujeito.

    Não há muita demora em mostrar flashbacks, de como era a rotina de Harlan, tanto com sua cuidadora Marta Cabrera (Ana de Armas), uma descendente de paraguaios que tem receio de ter sua mãe deportada, até sua relação com seus netos e filhos. O elenco é recheado de atores conhecidos, bons e/ou carismáticos, mas a realidade é que o filme é muito mais que apenas uma boa demonstração de um bom elenco.

    Os cenários, fotografia e figurinos fazem lembrar tipos de filme bem distintos. As cores muito vivas fazem lembrar as produções antigas da Hammer, ainda que a obra de Johnson seja atual, a atmosfera de mistério faz lembrar um Noir colorido enquanto as curvas do roteiro de Johnson lembram demais o jogo de tabuleiro Detetive/Clue (isso é inclusive é dito por um dos personagens), mas as reviravoltas só fazem sentido graças a dois fatores principais: Daniel Craig, que faz o engraçadíssimo detetive particular Benoit Blanc, e claro, a ingênua e sincera Marta, que apresenta um papel dramático para de Armas que vai muito além da beleza ímpar que ela tem e que sempre foi explorada para resultar em uma jovem sonhadora, prestativa e que tem dificuldades severas em mentir.

    A tensão e o suspense são enormes no filme, e por incrível que pareça o desempenho de Chris Evans é soberbo, mesmo que ele seja um ator limitado. Os momentos em que ele interage com Plummer são de uma qualidade enorme, que fazem lembrar um esquema teatral shakespeariano, assim como todas as discussões familiares envolvendo Michael Shannon, Toni Collette e Jamie Lee Curtis também fazem muito sentido, e produzem no espectador um misto de riso solto com lamentação pela enorme vergonha alheia que essas pessoas protagonizam, tanto na questão de serem pessoas do mesmo sangue se digladiando pelos espólios da herança, como a ganancia misturada com egoísmo que decorre após a leitura do testamento de Harlan.

    O fato de ter tantos mistérios e reviravoltas faz desse Entre Facas e Segredos uma historia que lembra demais as tramas de Arthur Conan Doyle, Agatha Christie e Ian Fleming, com o melhor das tramas rocambolescas desses três autores, com pitadas de drama familiar de Nelson Rodrigues (excluindo daí claro o fato incesto, muito presente nos rodriguianos), mas algo que faz desse um diferencial é a leveza cômica com que é levado, apesar de tratar de temas pesados como homicídios, brigas familiares e desespero financeiro, tudo é ridiculamente hilário e escandalosamente divertido.

    Rian Johnson dividiu opiniões em seu Os Últimos Jedi, bastante injustiçado diga-se já que o filme além de corajoso ainda é dramaticamente bem encaixado, mas mesmo os que torceram o nariz para os rumos que ele escolheu para a saga de George Lucas deverão se sentir abrasados e entretidos por esse, excluindo claro alguns fãs acéfalos de Star Wars. Este é um produto bem diferente de tudo que ele já havia feito, uma obra que valoriza o cinema de mistério que não deixa nada a desejar para as historias de Holmes e Watson que Basil Rathbone protagonizava, misturando esse estilo com as paródias de Mel Brooks e Gene Wilder, conseguindo em seu final ainda alfinetar os extremistas de direita dos Estados Unidos e a burguesia e elite cafona do país, desdenhando deles e mostrando o quanto são frágeis sem o aporte financeiro que eles normalmente tem. Entre Facas e Segredos é um pequeno espetáculo, que emula tão bem os moldes teatrais que faz toda a torpe jornada parecer uma opereta, é divertido, direto e bem engraçado.

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  • Crítica | O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus

    Crítica | O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus

    Não deixa de ser curioso um artista fazer um O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus. Todo cineasta tem um complexo de Deus bem forte norteando suas criações, de cabo a rabo, e Terry Gilliam, por mais maluco que possam ser suas crias, nunca foi louco o bastante pra negar isso. Apesar do seu filme de 2009 ter ganho fama pela morte de Heath Ledger durante as suas filmagens, e três atores terem entrado (de repente) no elenco para tapar o buraco que o astro deixou (no filme e na indústria americana, até hoje), é muito forte a necessidade de se construir um jogo simbólico que Gilliam extravasa em suas histórias, sempre habitando e se refugiando em universos paralelos e numa excentricidade muito própria, semi-organizada, semi-luxuosa e que pode muito bem estimular a paixão dos espectadores pelo onipotente mundo das artes.

    Contudo, não foi este o caso em 2009. Tínhamos um diretor aqui que adora mistificar seu ponto de vista em nítidos exercícios de fabulação com aparente total falta de responsabilidade com o real, e o factual. Uma parte técnica impecável (a direção de arte e os figurinos saltam aos olhos) e um elenco dos mais respeitáveis possíveis, numa orgia de surrealismo, brilho e cacofonia dos mais cafonas e bregas dos últimos dez anos. Um bom exemplo de pirotecnia moderna que deu certo? Across the Universe, um musical que justifica suas epifanias e todas as suas loucuras visuais com um bom senso e um bom gosto que Gilliam parece ter absoluta dificuldade em reproduzir, aqui. Isso vindo da mente de quem produziu Monty Python em Busca do Cálice Sagrado, um verdadeiro marco da comédia dos anos 70, e o ótimo Os Doze Macacos, talvez o seu melhor.

    Mas por quê? Crise criativa, talvez, ou apenas um projeto ambicioso demais e fora de hora de quem batalhou tanto pra adaptar Dom Quixote nas telas e se contentou no momento com isso. Uma pena! Gilliam é o típico arquiteto de grandes espetáculos que não decola em quase nada que propõe ultimamente, mesmo tendo uma visão corajosa mas sempre exagerando na plasticidade e na histeria acachapante para com o conteúdo e o visual das suas fábulas tão amalucadas. Aqui, temos um circo chefiado pelo misterioso Dr. Parnassus e que cuja grande atração merece o adjetivo: Um espelho, dos mais comuns, mas que permite enxergar e participar de outras dimensões “incríveis” adentrando num simples móvel de vidragem mágica.

    Todos os conflitos do filme giram, obviamente, em torno deste objeto e das inúmeras possibilidades que ele carrega em sua existência, mas o problema é um só: Gilliam não se chama Michael Powell. Aos que não o conhecem, Powell foi o que Gilliam, Tim Burton, Guillermo Del Toro e tantos outros de hoje em dia tanto querem ser, e nem com o avanço da tecnologia atual a seu favor conseguem: um legítimo mago da fantasia, capaz de unir inúmeras realidades e os mais diversos e belos sentimentos através do balé de uma bailarina púrpura, ou de uma escada banhada de sol que liga a Terra, ao céu. Nos clássicos do maestro inglês, a magia não é gratuita porque é profundamente acalentadora e sabiamente expressiva, enquanto que no filme de 2009, comanda-se os limites e as direções de uma fantasia colorida e sem sentido como quem comanda uma criança frenética perdida numa loja de doces, ou o Hulk durante um dos seus surtos urbanos devastadores.

    Nisso, tem-se uma imaginação concretizada na tela e regida pela vontade de explorar a loucura que reside na mente humana – tudo é válido, ao mesmo tempo que tudo é falso. O espectador comum pode até dizer que nem o país das maravilhas é tão caótico quanto esse imaginário que cabe no limiar de um espelho, e ele está certo! Arcando com o preço da incoerência de uma fábula que se desenrola aos tropeços, e que tenta ser um épico feito o maravilhoso Neste Mundo e No Outro, grande obra de 1946, tudo em O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus não passa disso: Escapismo furado e dos mais baratos e banais que o Cinema americano pode oferecer, entre suas ilusões milionárias. Fica a lição que, por mais que um autor mistifique os seus mundos e se ache apto a malabarizar seus elementos simbólicos e contextuais, criando inclusive novos e revitalizando sua assinatura de delírios imagéticos de filme em filme, toda megalomania suprema precisa e deve justificar sua essência e a sua razão de existir.

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  • Crítica | Todo o Dinheiro do Mundo

    Crítica | Todo o Dinheiro do Mundo

    Mais do que qualquer polêmica a respeito da vida de Jean Paul Getty, Ridley Scott se viu no olho de um furacão completamente inesperado: as graves denúncias de assédio sexual e comportamento inadequados envolvendo figurões de Hollywood como Harvey Weinstein e o ator Kevin Spacey, que iria viver o excêntrico bilionário, tendo inclusive suas cenas já filmadas. O diretor e a equipe correram contra o tempo e gastaram enormes quantias de dinheiro para refilmar as cenas com o ator, substituindo pelo excelente e veterano Christopher Plummer (o que depois abriu espaço para outra polêmica, onde Mark Wahlberg havia recebido U$ 1,5 milhões para refazer interpretando o funcionário faz tudo de Getty, Fletcher Chase, enquanto sua colega Michelle Williams, sem saber disso, recebeu apenas US$ 80 por dia apenas para cobrir despesas).

    Correndo contra o tempo e com a data do filme já estabelecida, Scott precisava demonstrar em uma situação ainda mais difícil que ainda é um grande cineasta, pois vem de uma sucessão de filmes com mais fracassos do que sucessos. Dentro deste contexto, Todo o Dinheiro do Mundo se situa bem no meio de ambos. Se não é algo inovador e cheio de energia como Alien: O Oitavo Passageiro, tampouco é um fracasso retumbante como Êxodo: Deuses e Reis, Prometeus ou Alien: Covenant.

    O longa conta a história do sequestro do neto de Getty (Plummer), bilionário do ramo do petróleo e conhecido por sua fama de sovina e também pela exímia arte de escapar do imposto de renda das mais variadas formas, usando inclusive o hábito de comprar várias e raras peças de arte para realizar tal feito. Seu neto, John Paul Getty III (Charlie Plummer) andava tranquilamente pelas ruas da Itália quando é jogado em uma Kombi e vai parar em um cativeiro de sequestradores italianos rústicos do interior do país, sem saberem muito o que estava fazendo. A distância familiar entre o filho do magnata, John Paul Getty II (Andrew Buchan) e seu pai era enorme, causando em si várias sequelas psicológicas. Ambos se aproximam, mediados por sua esposa Abigail Harris (Michelle Williams) apenas por uma imensa necessidade financeira.

    O filme não se importa em momento algum em vilanizar Getty como o velho rico sovina e excêntrico (onde o filme ganha e muito com a participação de Plummer), assim como os outros personagens também são praticamente unidimensionais e seguem um fluxo muito previsível de acontecimentos e decisões, característica comum nas produções recentes de Scott. Getty se recusa a pagar o pedido inicial dos sequestradores, de U$ 17 milhões, o que deixa os bandidos nervosos, enquanto as atrapalhadas investigações de Chase e da polícia italiana apontam para uma brincadeira do próprio Getty Jr. em conluio com as brigadas vermelhas, o que também se mostra falso.

    Logo entramos em uma longa e cansativa jornada pelo crime organizado da Itália, que vende o jovem herdeiro na tentativa de angariar mais dinheiro, em um jogo de gato e rato que não levanta muitas emoções e não faz o espectador imaginar nada além do que está vendo na tela, mesmo a produção do longa sendo visualmente impecável, com a fotografia, cenários e figurinos muito mais convincentes que a história em si.

    Ao tratar de um caso já conhecido de crime envolvendo celebridades, Scott poderia ter adotado outras fórmulas menos óbvias, mas ao que parece, sua criatividade realmente está em crise, e cada vez menos podemos esperar algo inovador do cineasta, pois o que sobra após assistir ao filme é justamente continuar pensando mais sobre a polêmica da troca de atores e a diferença de pagamento entre eles do que a história que acabamos de ver.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

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  • Crítica | Memórias Secretas

    Crítica | Memórias Secretas

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    Associar o novo filme do diretor Atom Egoyan (com roteiro de Benjamin August) ao cultuado thriller de Christopher NolanAmnésia é quase um reflexo do espectador. Em ambos os casos, o protagonista precisa se lembrar todos os dias das tarefas a serem executadas em busca de algo que o complete na missão. Porém, enquanto Leonard faz o tipo durão e jovem, Christopher Plummer entrega Zev Guttman, um frágil senhor beirando os 90 anos com princípio de demência, subvertendo os clichês do thriller de perseguição.

    Guttman e seu companheiro de uma casa de repouso, Max Rosenbaum (Martin Landau), são ambos sobreviventes de Auschwitz. Max, um antigo perseguidor de fugitivos nazistas, consegue rastrear um último comandante do campo de concentração, aquele diretamente responsável pela morte de seus familiares. Então incumbe a Zev a tarefa de encontrar e executar o carrasco de seus parentes, já que o oficial está usando o nome de Rudy Kurlander, um prisioneiro morto na Polônia.

    Após a morte de sua esposa, Zev sai em busca de seu objetivo, e a excelente interpretação de Plummer nos passa a todo momento a fragilidade de um senhor de tal idade em busca de alguma redenção no final da vida. Enquanto Zev viaja, acompanhamos a busca de seu filho Charles Guttman (Henry Czerny) para tentar encontrar o pai.

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    Após rastrear os primeiros Kurlanders, que depois se descobre que não eram quem procuravam, Zev encontra John Kurlander (Dean Norris), o filho de um antigo nazista e saudosista da guerra. O fato de ele e o falecido pai serem nazistas convictos é usado pelo diretor para salientar uma crítica interessante, pois ambos são “colecionadores” de itens nazistas, uma característica de muitos simpatizantes do nacional-socialismo atualmente. A intensa interpretação de Norris como o neonazista John às vezes beira o exagero, mas realiza a função de nos mostrar a dedicação de Guttman em cumprir seu objetivo. Nessa sequência se destaca um dos pontos fortes do filme, a utilização visual e sonora de alegorias aos campos de concentração que sutilmente assustam o protagonista, como alarmes, bombas explodindo em pedreiras, cachorros latindo, dentre outros.

    Ao encontrar o último Kurlander da lista, o filme caminha para seu clímax, com Zev, Kurlander e Charles juntos. Porém, a escolha de subverter a trama e transformar Guttman em um algoz e em objeto de sua própria busca, apesar de ser momentaneamente interessante, enfraquece o próprio personagem antes estabelecido. Somos, em alguns segundos, obrigados a acreditar que aquele cidadão que viveu por décadas nos EUA normalmente, e só agora mostra sinais de demência, havia esquecido completamente quem era. Além disso, o personagem atinge a redenção por um caminho bem conhecido do espectador.

    Enquanto seu amigo Max Rosenbaum se sente realizado pelo seu ardil em se vingar de dois algozes ao mesmo tempo, o espectador talvez não se sinta da mesma forma. Tamanha construção narrativa poderia ter sido utilizada de forma mais interessante se a subversão pela subversão tivesse sido deixada de lado.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Não Olhe Para Trás

    Crítica | Não Olhe Para Trás

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    Estreando na cadeira de direção, após um longo currículo como roteirista, Dan Folgerton realiza seu filme como uma peça de redenção, baseada em uma figura supostamente real que remeteria aos longevos musicistas sexagenários que tiveram seu auge nos anos sessenta e setenta. Danny Collins – ou Não Olhe Para Trás (principal música do astro de rock biografado) – inicia-se com um jovem Eric Michael Roy para mostrar o personagem-título ainda cru, comentando sua influência enquanto compositor através de John Lennon. Ainda assim, uma figura estranha, uma vez que todos os discos espalhados pelo filme usam as imagens do acervo fotográfico de Al Pacino.

    As próximas cenas mostram a entrada de Collins em uma palco, toscamente abrindo uma porta que o leva diretamente ao centro – cena esta que seria pervertida no futuro –, exibindo um homem preguiçoso e acomodado pela eterna questão de ser rico, famoso e de ter o mundo aos seus pés. O uso abusivo de drogas ajuda a montar um arquétipo de bad boy geriátrico, repleto de whiskey e cocaína, enquadrando o idoso interpretado por Pacino como um homem cujos luxos e desilusões o dominam.

    O quadro de tranquilidade muda quando seu único amigo remanescente, e empresário, Frank Grubman (de um subaproveitado Christopher Plummer), lhe entrega um presente, uma carta que John Lennon lhe escreveu em 1971 sobre a entrevista que ele deu a revista Chime In, presa com o então editor, para que pudesse barganhá-la por muito dinheiro. O entrevistador faleceu, e a mensagem foi parar nas mãos de um colecionador, até ser comprada pelo manager, que tinha em mãos algo semelhante a uma garrafa perdida ao mar.

    A postura visual de Danny muda, quando, em sua cama, se permite ser ele mesmo, de óculos espessos e grande armação, que pretensamente o fariam ler melhor a carta, livre de qualquer aparência pré-fabricada do ser extremamente sexual que precisava pintar no passado, e que na vida idosa já não fazia quase efeito nenhum. O texto da carta envolvia a superação de qualquer condição monetária ante o ofício artístico da composição. Envergonhado, em frente a um outdoor com a sua imagem anunciando o volume três de uma coleção de Greatest Hits, o sujeito decide abandonar as drogas e rumar a Nova Jersey para escrever novas canções e uma nova história.

    Em um hotel modesto, Danny se interessa visualmente pela gerente Mary Sinclair (Annete Benning), que não chega perto das beldades com quem costuma transar, interesse este certamente ligado ao fato de perceber estar envelhecendo. A realidade, em uma análise frívola, revela somente uma crise de meia-idade. A busca por elementos diferentes faz com que encontre pessoas que deveriam ser de sua rotina, mas nunca foram.

    O cantor visita então seu filho perdido, encontrando sua nora Samantha (Jennifer Garner), grávida de seis meses, além da brava e linda Hope (Giselle Eisenberg), sua neta que sofre do transtorno de déficit de atenção. Ao encontrar Tom (Bobby Cannavale), ele é rejeitado, tendo enfim a retribuição por décadas de ignorância.

    Não Olhe Para Trás relaciona-se a Mesmo Se Nada Der Certo, mas em versão madura, tendo muitos dos elementos do roteiro de Última Viagem a Vegas. No entanto, falta o carisma dos filmes citados, e claro, o ponto alto do escritor em Amor a Toda Prova. Depois de compor apenas um pedaço de uma futura música, Danny decide ajudar sua neta a despeito do desprezo de Tom, começando uma miniaventura nessa jornada de reconstrução.

    O caso se agrava com a descoberta de que seu filho tem uma doença, o que acumula ainda mais a barra de clichês, um traço comum entre as gerações – que inclui também o roteiro –: a petulância. Em um dos poucos movimentos inesperados, Danny decide montar um modesta apresentação final, que até começa promissora na entrada do músico por uma porta de saída. Porém, logo a aura é quebrada com o retorno do showman e sua música tema, exibindo os ecos de uma carreira viciada que se importa com o público caquético que o acompanha, mas não o suficiente para o cantor sair de sua zona de conforto.

    Apesar do belo elenco de apoio, há poucas luzes da ribalta, mesmo para o redescoberto Al Pacino. A mensagem final é de que a natureza humana não muda, mas os préstimos de atenção e carinho podem ser presentes, mesmo na rotina de um velho homem, algo já foi visto em praticamente toda a filmografia do roteirista/diretor, mas sem a mesma inspiração das obras anteriores.

  • Crítica | Star Crash: Choque de Galáxias

    Crítica | Star Crash: Choque de Galáxias

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    Roger Corman é um dos pilares do cinema americano, tendo uma importância monstra para a indústria, seja lançando cineastas que viriam a fazer muito sucesso – exemplos de Eli Roth e James Cameron – como ditador de moda também, mas acima de tudo, ele era um produtor que sabia fazer dinheiro. Foi essa motivação e claro, um orçamento paupérrimo, que o fez distribuir o filme do italiano Luigi Cozzi (ou Lewis Coates) na direção de Star Crash, uma “imitação” do sucesso de George Lucas, Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança, ainda que as influências visuais sejam muito mais pautadas em Bucky Rogers e Flash Gordon

    O início apresenta a visão de baixo de uma nave de brinquedo, com nenhum disfarce para a fajutice de sua fabricação, aparentando ser esta uma filmagem de uma aventura Playmobil, capitaneada por crianças retardadas que brincam após sofrerem pancadas sucessivas na cabeça, que pioram muito as suas já conturbadas mentes. A história acompanha o produto original, mostrando uma batalha de marginalizados representados pela voluptuosa e decotada Stella Star (Caroline Munro) e por seu amigo Akton (Marjoe Gortner) que são incumbidos pelo Império (que na verdade é bonzinho) de deter o Conde Zarth Arn, um malfeitor que vem ganhando cada vez mais espaço pelo universo afora.

    Claro que toda essa trama complicada é apenas uma desculpa para exibir corpos femininos com pouca roupa, maquetes de plástico das mais maltrapilhas, disparos de armas a laser fabricados com papel celofane e claro, as belas curvas de Caroline Munro, que tinha grande popularidade graças ao recente 007 – O Espião que me Amava.

    Logo os dois bandidos, mais Elle – um robô que diz que não pode enlouquecer por não ter os circuitos certos, mas que é capaz de ser um grande covarde – exploram um planeta, atrás do malvado Conde, onde enfrentam Corelia (Nadia Cassini), a rainha das amazonas, que possui um exército de gostosas com trajes de banho e um gigante indiano de stop-motion com dificuldade de locomoção, que não consegue deter os bravos heróis. Curioso que tais acontecimentos não têm qualquer consequência no produto, a não ser estreitar os laços entre Stella e o robô.

    Como toda boa ação tem sua recompensa má, o alienígena esverdeado e careca Thor (Robert Tessler) trai os outros tripulantes, dando cabo de Akton e deixando Stella e Elle para morrer na neve. Mas a justiça prevalece e o cacheado anti-herói ressurge para uma batalha tosquíssima com o seu vilão particular. Akton subitamente descobre-se um ser poderosíssimo, capaz de se defender com as mãos nuas e ressuscitar a bela protagonista, que estava congelada e lotada de esmegma pela superfície de sua pele, levantando linda e bela logo após a sessão impingida por seu parceiro.

    Após quase perecerem a um ataque lisérgico feito de uma névoa cor de rosa das mais mal feitas, e sem qualquer justificativa para a sua origem, os ex-bandidos entendem que aquilo é um dos maiores ataques galáticos existentes, e descem até um planeta em busca do malfadado Conde. Na superfície dele, encontram Simon, o galã em começo de carreira, David Hasselhoff, mais de dez anos antes de Baywatch ir ao ar, e claro, acompanhado de sua cabeleira permanente.

    No entanto, antes de se deparar com o vilão, eles têm de travar uma batalha com mais robôs stop-motion, bem melhores executados que o primeiro. Finalmente o embate final se aproxima, e o entrave é feito em duas frentes, como no final de Star Wars – Episódio VI: O Retorno de Jedi, o que levanta muitas dúvidas a respeito da honestidade de George Lucas. Apesar das cenas serem tão toscas quanto o resto do filme, a edição até que é bem feita para os padrões orçamentários e para a qualidade da obra. O roteiro contém uma virada, com o Imperador (Christopher Plummer) tendo de se sacrificar para que Stella e Simon escapem para a Cidade das Nuvens. O curioso é que não havia qualquer motivo para poupá-los, a não ser o fato deles serem os mais bonitos do elenco.

    As maquetes vão ficando cada vez melhores, e uma linda mensagem de alinhamento da justiça é apresentada no final com uma carga de esperança ainda mais forte que a presente em Star Wars. Star Crash foi um dos muitos produtos de Luigi Cozzi, acostumado a realizar fitas como Cozzilla (uma versão dublada em italiano de Gojira e pintada quadro a quadro) e proporcionou a este, oportunidade de rodar clássicos como Alien, O Monstro Assassino (que se passa em um barco), Drácula em Veneza, e a duologia Hercules 87 e As Aventuras de Hércules, Lou Ferrigno. Starcrash é ainda muito inspirado no clássico Barbarella, estrelado pela bela (e nua) Jane Fonda, com um caráter muito mais trash e de conteúdo podre, sendo um chorume entusiástico de uma equipe que certamente era muito fã do gênero Space Opera, mas que não dispunha de muito dinheiro ou talento, que ainda assim, é um produto muito divertido e engraçado, claro, de modo inconsciente.