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  • Crítica | 10 Coisas Que Eu Odeio em Você

    Crítica | 10 Coisas Que Eu Odeio em Você

    Clássico das comédias românticas juvenis dos anos noventa, 10 Coisas Que Eu Odeio em Você mostra histórias de amores impossíveis, situando-as no micro universo do high school americano, um mundinho desimportante e superficial, onde a Kat Stratford de Julia Stiles é apresentada como o clichê da linda garota que não se encaixa nos padrões, ainda que ela seja idêntica a todos os outros de sua geração. O filme explora esse mundo de diferenças e mira que apesar da amargura e implicância, as pessoas não são tão diferentes dela.

    O que move a trama é o interesse de dois meninos na irmã da protagonista, a bela e jovial Bianca (Larisa Oleynik), que é pleiteada tanto por populares como por recém chegados na escola. Esses, pedem os serviços de Patrick Verona, interpretado por Heath Ledger em início de carreira. O objetivo dele seria flertar com Kat, para que o rígido pai solteiro delas, permitisse que a caçula saísse também.

    Gil Junger, o diretor, apresenta um filme bem sucinto e preso à sua proposta de mostrar uma aventura escapista e divertida, bem ao estilo dos filmes da Disney como Diário de Uma Princesa, embora esse esteja sob o guarda-chuva da Touchstone, que apresentava histórias que não se encaixavam dentro da estética do conglomerado do Mickey e cia. O texto busca fazer paralelos com a literatura. Um dos núcleos importantes é na aula do professor Morgan (Daryl Mitchell), onde se fala de Ernest Hemingway, Simone Bouveair e William Shakespeare. Há momentos em que personagens periféricos sonham em escrever romances melosos, no entanto, essa ligação com escrever ou analisar romances sejam eventos meramente cosméticos, a trama pouca avança nesse sentido, tirando um momento ou outro, como o soneto que dá nome a obra.

    O filme se vale muito da música incidental de Richard Gibbs, que ajuda a dar tons à história simplória de adolescentes que só buscam encontrar sua própria identidade em meio a questões universais como a aceitação de seus pares. As partes instrumentais ajudam a tornar um pouco menos óbvios os momentos de ritos de passagem, a tentativa de dar profundidade ao corriqueiro acerta demais nesse aspecto. Evidente que não há grandes discussões no texto.

    Os personagens são volúveis, e a ideia de mercantilização da mulher se prova em mais de uma motivação (um tenta comprar a atenção de uma menina e o outro se permite receber dinheiro para flertar com outra), e dada essa repetição, a ideia de coisificação do feminino é bem normalizada. Fora isso, há outros momentos estranhos, como nos números musicais com conjuntos de pop rock que mobilizam jovens bem diferentes entre si, unindo tribos bem diferentes em torno desse estilo de som. O roteiro é presunçoso ao associar que todos os adolescentes são iguais, e é ainda mais primário ao ligar a rebeldia a um estilo de música tão leve em peso e estilo. Além disso, a maioria dos personagens não parecem tridimensionais, mesmo os interpretados por figuras que se tornariam famosas, como Gabrielle Union e Joseph Gordon Levitt.

    O roteiro de Karen McCullah Lutz e Kirsten Smith aborda jovens com problemas bobos, moços e moças sem preocupações grandiosas que acham que o mundo deve algo a eles. Todos eles são assim, ainda que abordem essa linha de pensamento de formas diferentes. Nesse ponto, as semelhanças quase justificam a ideia de que a mesma música agradaria e uniria toda sorte de pessoas.

    O filme tem muitos momentos charmosos, como no número musical que toca Can’t Take My Eyes Off You, canção de Frankie Valli, enquanto há outros bizarros, que envolvem uma aluna  menor mostrando partes erógenas a um professor com idade para ser seu pai (os freios do politicamente corretos não eram em 1999 como hoje). A proposta de 10 Coisas que Eu Odeio em Você pode parecer cínica, mas não é. Apenas mostra de maneira pragmática que, independente do repertório, os jovens são parecidos, e que não faz sentido colocar tantas metas e propósitos se a vida resultará nos mesmos resultados ordinários. O importante na mentalidade do filme é usufruir de alguma forma das coisas boas da vida e não se perder enquanto se busca essas pequenas alegrias.

  • O Cavaleiro das Trevas – Dez Anos Depois: As Três Faces de um Conto do Batman

    O Cavaleiro das Trevas – Dez Anos Depois: As Três Faces de um Conto do Batman

    Em julho de 2008, o mundo veria um libelo da cultura pop mainstream nascer e se mostrar como uma obra capaz de ultrapassar as discussões sobre a influência de um personagem para além das questões de nicho nerd e dos aficionados por historias em quadrinhos, gerando muitas discussões inclusive entre estudiosos de filosofia e historia.

    Os seis palhaços que organizariam um assalto a um banco da Máfia de Gotham City fariam um movimento ousado e claramente impensado caso não fosse planejado por uma mente inventiva do crime. A genialidade do plano se iguala de certa forma a mentalidade por trás do roteiro de Jonathan Nolan e Christopher Nolan, pois tanto os ladrõesm  dentro da trama, vão se canibalizando, quanto este consegue de certa forma tornar a maioria dos filmes de heróis  obsoletos e meros comerciais para vender brinquedos, não só por não terem um pé na realidade mas também por ter quase todas as suas ações com ao menos um significado mais profundo. Mesmo quando a  movimentação em adaptar quadrinhos em tela grande deu certo no pós Cavaleiro das Trevas, se deu exatamente por não tentar replicar o que deu certo aqui, como na Marvel a partir de Homem de Ferro de 2008, sua continuação, O Incrível Hulk e por aí vai.

    O filme é tão garantido em si que não contém o nome do herói no original, tampouco há créditos iniciais, como foi em Batman Begins. Ele se passa nove meses após esse útilmo, e essa historia dura 9 e dias e noites. Nolan, durante os primeiros dias de filmagem parou com o elenco e passou uma série de filmes, para que o elenco e produção entendessem o que ele queria fazer nesta obra, foram eles: Fogo Contra Fogo (1995), Sangue de Pantera (1942), Cidadão Kane (1941), King Kong (1933), Batman Begins (2005), Domingo Negro (1977), Laranja Mecânica (1971), e O Inferno Nº 17 (1953).

    A tentativa deste artigo é falar um pouco sobre os bastidores e um pouco da gênese e construção dos três pilares de Cavaleiro das Trevas, o Coringa, Harvey Duas Caras e obviamente o Batman discorrendo um pouco sobre o que acontece no filme e tentando fazer paralelos com os quadrinhos e materiais que serviram de base para a construção da historia.  Tal qual havia ocorrido com Begins, esse também teve um nome fake em seu roteiro original, chamava-se Olivers Army. Christopher Nolan sempre quis filmar no formato IMAX e finalmente conseguiu isso neste, seis grandes sequências de ação, foram filmadas com estas câmeras e equipamentos e isso gerou uma grande dor de cabeça pois inúmeros problemas surgiram, por conta do barulho que o  equipamento produzia, obrigando a redublar boa parte das falas na pós produção e também pela inesperada demora para revelar o filme. Mas é fato que há uma diferença visual grotesca entre esta versão e a do filme de 2005.

    Enfim, a analise das figuras virá segmentada logo abaixo.

    O Duas Caras

    Uma das criticas frequentas a TDK é de que ele constrói tão bem seus vilões que passa então a ser um filme sobre os antagonistas. Isso não é inédito com o cruzado encapuzado, em Batman o Retorno essa acusação também ocorreu, mas no caso desta obra isso é uma falácia. Talvez essa acusação tenha ocorrido muito por conta da péssima construção de Duas Caras e Charada em Batman Eternamente e de Hera Venenosa, Senhor Frio (e Bane) em Batman e Robin, mas fato é que o Harvey Dent de Aaron Eckhart é bem construído de um jeito que seu destino trágico é realmente digno de lamento quando finalmente ocorre.

    O chamada Cavaleiro Branco de Gotham, é capaz de muito, tanto de conquista o amor da mulher que o Bruce Wayne sempre pleiteou, como é  capaz de revidar a violência que sofre ao desferir um soco no bandido que tentou matá-lo em pleno tribunal, numa clara alusão a um momento de O Longo dia Das Bruxas, onde Harvey era desfigurado com o ácido em seu rosto. Ao mesmo tempo, ele é idealista o suficiente para não entender o pragmatismo de James Gordon ao ter que lidar com policiais corruptos, já que se o tenente insistir em afastar todos os investigados, certamente não teria pelotão patrulhar, proteger a lei e servir o povo. Fato é que o desenrolar dos fatos não deixa Dent sem razão, mas ainda assim ele consegue ser tão idealista que soa até pueril.

    Quando Harvey discute a política de Gotham em uma mesa de restaurante, com sua amada, Wayne e uma bailarina russa, há uma boa discussão sobre o Império Romano. Rachel menciona Júlio César, o que leva Dent a dizer: Você morre um herói ou vive o suficiente para se tornar um vilão. Em Júlio César, de William Shakespeare, o personagem titular é retratado como um homem de notável ignorância, cuja surdez parcial implica que ele apenas ouve aquilo que julga relevante, em vez de ser um líder de mente aberta. O discurso de Dent já se aproxima do totalitarismo antes mesmo da provação do Coringa, antes da A Piada Mortal ser posta em prova, antes de perder o seu centro…ele só precisava de fato de um empurrão.

    Avançando um pouco no tempo, no rescaldo da transformação de Harvey Dent em sua persona Duas Caras, ele perde seu senso de razão, em vez de ser racional ele  apenas discute assuntos relacionados ao assassinato de Rachel e a”traição” que Gordon e o Batman teriam feito com ele. A loucura que se estabelece ali não permite qualquer argumento que não seja simplista. Quando Batman o “mata” por cruzar a linha invisivel e proibida aos benfeitores, quase se espelha a morte de César por Brutus, pois o golpe final é dado por um homem que era seu aliado, mas a analise de que o Morcego cometeu esse crime é igualmente simplista, e há de se lembrar que o antigo promotor já não mais servia povo da maneira que ele mesmo jurou. É nessa ruptura que Harvey deixa de ser o homem justo e bom que não estava nas historias em quadrinhos para se tornar um vigarista vil e vilão típico.

    Solução para a ferida de Harvey é muito criativa e emocional. A forma como é mostrada e a percepção , na cama do hospital de que realmente havia perdido sua amada é de uma catarse monstruosa, e o Grito silencioso  de Harvey é claramente a mostra visual de aquele era o começo da psicopatia, ou a evolução da mesma, já que o roteiro deixa em aberto se ele era ou não insano a esse ponto. O Coringa parece persuasivo, pois uma das partes de sua fala é verdade: o palhaço ele é louco, e não corrupto e isso une os dois personagens. Dent, mas o fato de não ser corrupto não faz dele um sujeito honesto. Quando o advogado recebe a visita de Gordon, ele  promete que o policial sentiria na pele a dor da perdaque ele sentiu,  isso antes de o palhaço aparecer no hospital, mais uma vez e como num dejavu a sensação do empurrão é estabelecida.

    Há um segmento nos extras dos DVDs da época, chamado Gotham Tonight, que era o programa jornalístico de televisão Mike Engel (Anthony Michael Hall) e que tem alguns momentos estendidos aqui. A maior parte do que se mostra aqui são momentos meio bobos, mas o desdobrar político de Gotham e as eleições de Dent são bem discutidas, assim como as impressões do Comissário Loeb (Colin McFarlane) e de Sal Maroni (Eric Roberts) que aparecem conversando com o jornalista da GCN. Além de repercutir a toxina do medo do Espantalho, Mike deixa claro o quanto acha Batman um mal para  a cidade, por ninguém saber sua origem, seu nome ou mesmo se é humano ou não. O jornalista sensacionalista bem ao estilo Datena e Marcelo Rezende revela seu gosto contrário ao Morcego e o coloca no mesmo balaio dos bandidos que ele caça e a surpresa dele é tamanha quando o promotor, ao ser entrevistado por ele (antes obviamente da morte de Rachel e dos acontecimentos do filme) declara que não há uma opinião formada sobre o vigilante. Dent não poderia em um programa de audiência grande se declarar favorável a um louco que se utiliza de teatralidades para fazer justiça, mas claramente ele tem uma predileção por esse comportamento, que em ultima analise nesse universo escapista mas ainda calcado na realidade que Nolan estabelece, é quase um abraçar a insanidade.

    No entanto, com o filme em andamento, isso muda. Em um estudo sobre o filme, o filosofo Slavo Zizek afirma que  o verdadeiro rival de Batman não é o Coringa, e sim Harvey Dent, o “cavaleiro branco”, que é um tipo de vigilante oficial com uma batalha fanática ás vezes inconsequente. Zizek acha que Dent é como uma resposta à ordem legal da ameaça de Batman com o sistema gerando seu próprio excesso ilegal, seu próprio vigilante e defensor, muito mais violento que Batman, violando diretamente a lei e é por isso que existe  uma justiça poética no fato Dent roubar a identidade secreta do Batman de Bruce, pois ele seria mais Batman que o próprio Batman, fato que fortifica ainda mais o final, onde Batman assume os crimes do homem da lei, retribuindo-lhe o favor, e retomando o protagonismo que muitos acusaram ele de perder, em um gesto simbólico. Zizek não poderia estar mais correto, sua visão sobre Harvey é certeira, e ele ainda voltaria seus olhos o outro vilão, o palhaço do crime.

    O Coringa

    A primeira participação do Coringa é enigmática, envolve o já citado assalto a um banco mas também um estranho sinal de obsessão com ônibus escolares, que aparecem não só na sequencia inicial, como na hora em que explode- um hospital de Gotham. Aliás, ambas ocorrem logo após ele praticas uma de suas sádicas piadas, sendo a primeira com uma bomba de gás na boca do gerente do banco e a segunda se travestindo ao falar com Dent. Não há confirmação oficial, até por conta de não se ter certeza sobre a origem do bandido, mas isso pode ser eco da infância do personagem.

    O número quase circense da sequencia inicial que o Coringa de Heath Ledger orquestrou seria só uma mostra de como a criminalidade de Gotham precisava mudar e mudar rápido, para se adaptar ao Batman, e nem o Espantalho e Ras All Ghull de Batman Begins chegam perto disso. Mesmo no encontro entre Checheno (Ritchie Coster) e Crane (Cillian Murphy) para comprar drogas se nota que até o vigilantismo mudou, e que o Morcego gerou uma reação na população que busca se armar e agir como milícia sem ter o preparo que Wayne se submeteu. Esse tipo de reflexão que Nolan propõe não é inédita, e pergunta se Batman é um lunático ou não é discutida ao longo dos 152 minutos de filmes, e vai além da simples sentença de usar ou não armas de fogo ou proteção de hockey, por mais que o vigilante tente simplificar a conversa nesse sentido.

    Heath Ledger passou vários meses trabalhando com um treinador vocal na voz do Coringa. Ele usou bonecos de ventríloquo como inspiração para a qualidade desconexa e zombeteira, além das (hoje obvias) referencias tão discutidas, como Sid Vicious do Sex Pistols e o protagonista de Laranja Mecânica, Alex DeLarge.

    O filosofo Slavo Zizek, ao analisar Batman : O Cavaleiro das Trevas Ressurge, ao comparar o Coringa e Bane diz que a imensa popularidade da figura do Coringa se dá pelo fato dele clamar por anarquia na sua mais pura manifestação, enfatizando a hipocrisia da civilização burguesa como ela existe, mas é impossível traduzir suas visões em uma ação de massa, enquanto Bane é uma ameaça existencial ao sistema de opressão e sua força não é apenas a psique, mas também sua capacidade de comandar as pessoas e mobilizá-las rumo a um objetivo político. O Bane de Nolan é mais profundo que o do quadrinhos, no entanto ele não tem o fascínio do Coringa de Heath Ledger, e isso não se explica obviamente só pelo carisma do ator, que era encarado como um sujeito mal quisto, pois seu passado com comédias românticas meio bobas.

    Evidente que as razões que Zizek apontam explicam os motivos ideológicos, mas na questão cinema, foi Ledger que ao ter liberdade para construir seu personagem que conseguiu tornar tudo isso mais crível. Ledger dirigiu as duas cenas que são filmadas pelo Coringa, e essa sugestão veio do realizador, Nolan acreditava tanto no ator que o deixou conduzir a cena, lembrando que em Begins e em TDK houve segunda unidade, em todos os momentos que a câmera estava ligada o cineasta estava presente.

    O personagem assassina/mata 34 pessoas no filme, aliás a perseguição que ele faz ao povo, matando pessoas para que Batman apareça faz referencia a primeira aparição do personagem nos quadrinhos dos anos quarenta, presente em Batman Crônicas, onde ele vai matando criminosos para acabar com a concorrência e para tomar posse do dinheiro dessas pessoas. Aqui evidentemente ele é anárquico e foge da necessidade do dinheiro, como disse Zizek e a referencia mais uma vez a O Longo Dia das Bruxas, também invertida, pois quem queima o dinheiro na revista é o Batman e Harvey.

    A música estridente de Hans Zimmer, nas descrição de Why So Serious amedronta e põe enigmas, refletindo um som de Anarquia. O ideal que Zimmer mirava em algo provocativo e odioso para as pessoas, e seu objetivo foi plenamente alcançado. Se ouvida sozinha, a canção gera naturalmente uma aversão aos tons altos estabelecidos ali, que vez por outra são quebrados pela presença do Coringa. O Coringa é o vilão de muitas faces diferente de Harvey. Se Duas Caras tem a duplicidade o conjunto de anomalias mentais e até parafilias é tão grande quanto a quantidade de cartas no baralho, o palhaço do crime é de certa forma a amálgama da galeria vasta de vilões do Morcego. Para Nolan a resposta lógica a um herói como Batman é  uma contra resposta violenta igual, o seu real oposto, a diferença básica entre eles mora nos lados da lei que os personagens abraçam.

    O Batman

    O herói e protagonista  do filme talvez seja resumida em uma das falas residente na conversa que Christian Bale e Michael Caine tem, onde Bruce afirma que não se dá ao luxo de conhecer os seus limites. A utilização de frases de efeito poderia soar como algo ruim, mas claramente é bem utilizado.

    O Batman deste tomo dois da saga que Nolan estabelece tem capacidade de vestir mais de uma máscara, seja a do herói que luta pela justiça e que é apoiada por parte da plebe e da burguesia de Gotham, assim como a do herói invasivo,  capaz de usar a tecnologia do Sonar que evoluiria para o re-percussor de ondas dos celulares, e que seria a versão de Nolan para o Oráculo. O conceito de transformar cada telefone como se fosse um rádio, invadindo a intimidade das pessoas, para encontrar o  antagonista, em uma invasão de privacidade que o dá vantagem e faz ele ser por um breve momento, onipotente e como diz o Lucius Fox de Mogan Freeman, isso é errado em muitos níveis, pois as pessoas não tem direito a escolher nada. Hoje toda essa celeuma perdeu o sentido, pois as redes sociais as pessoas expõem tudo o que querem e em alguns ponto até o que não querem e percebendo ou não a auto evasão de informação é voluntaria.

    A rivalidade entre Batman e Coringa sempre foi grande nos quadrinhos e a cena em que os dois finalmente se encontram é tardia passados aproximadamente 52 minutos. Mesmo no começo, quando Coringa faz piadas com o sumiço da caneta, onde enfrenta Gambol (Michael Jai White) e fala em matar o Batman, claramente isso é uma bravata, e ele nem precisa declarar isso, como faz depois. Os ataques constantes a moral do herói tem seu alvo acertado, por mais que Bruce/Batman finja-se de intransponível, como quando Gordon cai. A suposta morte do policial faz o Morcego largar seu estilo stealth, e invadir uma boate onde Maroni tatá, para liberar sua raiva em uma catarse violenta. Aliás, o Batman é mais agressivo com o mafioso italiano do que com o seu nêmesis, até para não ter a tentação de mata-lo, semelhante em muitos pontos a morte do Coringa em O Cavaleiro das Trevas.

    Há um bom material complementar, um documentário de pouco mais de quarenta minutos chamado Batman Unmasked, que trata da psicologia do Homem Morcego e que trata de alguns dos detalhes falados aqui. Evidentemente que em Batman Begins e TDKR há um aprofundamento maior e mais detalhado no Batman do que neste TDK, mas o desfecho, com Gordon fazendo um discurso ao seu filho de como o personagem é o Cavaleiro das Trevas e de como seu heroísmo não é o ideal, mas sim o necessário para que Gotham permaneça equilibrada.

    Por mais clichê que pareça, Batman retoma o poder quando age assumindo a culpa que não era dele, pois a característica básica do heroísmo é o sacrifício pessoal em prol da maioria, foi assim com Cristo, com Moisés, Davi e a maioria dos mitos cristãos, é assim com os heróis Teseu, Hercules, Orfeu na mitologia grega e é como sempre fez Homem Aranha e Super-Homem em tantas historias. O Batman de Bale não tem qualquer pudor em se entregar, pois a sua função maior é isso, fazer com que Gotham seja um lugar seguro, como era o sonho de Thomas Wayne, e evidentemente que esse preço seria cobrado, e só por isso já justifica a construção de Batman o Cavaleiro das Trevas Ressurge que repercute o erro de maturidade de Batman, que foi impulsivo e precisava ter sua historia fechada, finalmente.

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  • Crítica | O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus

    Crítica | O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus

    Não deixa de ser curioso um artista fazer um O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus. Todo cineasta tem um complexo de Deus bem forte norteando suas criações, de cabo a rabo, e Terry Gilliam, por mais maluco que possam ser suas crias, nunca foi louco o bastante pra negar isso. Apesar do seu filme de 2009 ter ganho fama pela morte de Heath Ledger durante as suas filmagens, e três atores terem entrado (de repente) no elenco para tapar o buraco que o astro deixou (no filme e na indústria americana, até hoje), é muito forte a necessidade de se construir um jogo simbólico que Gilliam extravasa em suas histórias, sempre habitando e se refugiando em universos paralelos e numa excentricidade muito própria, semi-organizada, semi-luxuosa e que pode muito bem estimular a paixão dos espectadores pelo onipotente mundo das artes.

    Contudo, não foi este o caso em 2009. Tínhamos um diretor aqui que adora mistificar seu ponto de vista em nítidos exercícios de fabulação com aparente total falta de responsabilidade com o real, e o factual. Uma parte técnica impecável (a direção de arte e os figurinos saltam aos olhos) e um elenco dos mais respeitáveis possíveis, numa orgia de surrealismo, brilho e cacofonia dos mais cafonas e bregas dos últimos dez anos. Um bom exemplo de pirotecnia moderna que deu certo? Across the Universe, um musical que justifica suas epifanias e todas as suas loucuras visuais com um bom senso e um bom gosto que Gilliam parece ter absoluta dificuldade em reproduzir, aqui. Isso vindo da mente de quem produziu Monty Python em Busca do Cálice Sagrado, um verdadeiro marco da comédia dos anos 70, e o ótimo Os Doze Macacos, talvez o seu melhor.

    Mas por quê? Crise criativa, talvez, ou apenas um projeto ambicioso demais e fora de hora de quem batalhou tanto pra adaptar Dom Quixote nas telas e se contentou no momento com isso. Uma pena! Gilliam é o típico arquiteto de grandes espetáculos que não decola em quase nada que propõe ultimamente, mesmo tendo uma visão corajosa mas sempre exagerando na plasticidade e na histeria acachapante para com o conteúdo e o visual das suas fábulas tão amalucadas. Aqui, temos um circo chefiado pelo misterioso Dr. Parnassus e que cuja grande atração merece o adjetivo: Um espelho, dos mais comuns, mas que permite enxergar e participar de outras dimensões “incríveis” adentrando num simples móvel de vidragem mágica.

    Todos os conflitos do filme giram, obviamente, em torno deste objeto e das inúmeras possibilidades que ele carrega em sua existência, mas o problema é um só: Gilliam não se chama Michael Powell. Aos que não o conhecem, Powell foi o que Gilliam, Tim Burton, Guillermo Del Toro e tantos outros de hoje em dia tanto querem ser, e nem com o avanço da tecnologia atual a seu favor conseguem: um legítimo mago da fantasia, capaz de unir inúmeras realidades e os mais diversos e belos sentimentos através do balé de uma bailarina púrpura, ou de uma escada banhada de sol que liga a Terra, ao céu. Nos clássicos do maestro inglês, a magia não é gratuita porque é profundamente acalentadora e sabiamente expressiva, enquanto que no filme de 2009, comanda-se os limites e as direções de uma fantasia colorida e sem sentido como quem comanda uma criança frenética perdida numa loja de doces, ou o Hulk durante um dos seus surtos urbanos devastadores.

    Nisso, tem-se uma imaginação concretizada na tela e regida pela vontade de explorar a loucura que reside na mente humana – tudo é válido, ao mesmo tempo que tudo é falso. O espectador comum pode até dizer que nem o país das maravilhas é tão caótico quanto esse imaginário que cabe no limiar de um espelho, e ele está certo! Arcando com o preço da incoerência de uma fábula que se desenrola aos tropeços, e que tenta ser um épico feito o maravilhoso Neste Mundo e No Outro, grande obra de 1946, tudo em O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus não passa disso: Escapismo furado e dos mais baratos e banais que o Cinema americano pode oferecer, entre suas ilusões milionárias. Fica a lição que, por mais que um autor mistifique os seus mundos e se ache apto a malabarizar seus elementos simbólicos e contextuais, criando inclusive novos e revitalizando sua assinatura de delírios imagéticos de filme em filme, toda megalomania suprema precisa e deve justificar sua essência e a sua razão de existir.

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  • Os 10 Grandes Beijos do Cinema

    Os 10 Grandes Beijos do Cinema

    Segundo o antropólogo inglês Desmond Morris, foi o costume materno de se mastigar a alimentação antes de passar à boca da prole, em tempos mais ancestrais, que provavelmente derivou o hábito do que, no Brasil, é nome até de doce. Nada romântico, não é mesmo? Mas todo mundo lembra quando foi seu primeiro beijo, talvez até o gosto dela, se rolou um frenesi, ou não. Poucos filmes conseguiram traduzir na tela a sensação desse momento. Listamos alguns que chegaram lá.

    Branca de Neve e os Sete Anões (William Cottrell, David Hand, Wilfred Jackson, Larry Morey, Perce Pearce e Ben Sharpsteen, 1937)

    O beijo que vence a morte, num clássico memorável dos estúdios de Walt Disney além de qualquer relatividade sobre grado ou agrado. Saber que a maioria de nós estará viva para atestar novamente sua qualidade no centenário da obra já seria algo maravilhoso.

    O Demônio das Onze Horas (Jean-Luc Godard,1965)

    O beijo desesperado que vence as guerras, pura poesia convertida em imagens, algo que os cinéfilos mais jovens não tem nem paciência pra experimentar. Uma pena. O Demônio das Onze Horas é um clássico forrado de exuberância e um gosto embriagante de Cinema.

    Meu Primeiro Amor (Howard Zieff, 1991)

    O beijo inocente que começa as guerras. É o beijo que solidifica a infância como fase da descoberta sobre quase tudo o que nos faz ser quem somos. É em Meu Primeiro Amor que o toque labial ganha sentidos tão primordiais e sensíveis que nenhum outro filme americano ou não, até hoje, conseguiu expressar tão bem.

    O Guarda-Costas (Mick Jackson, 1992)

    O beijo da impossibilidade de dois corpos ficarem separados. Beijo cafona e deselegante, caso não fosse o ângulo apropriado e a trilha-sonora composta para um filme mais vendida da história, mas como não sentir a vibração da cantora e do seu segurança correndo, de braços abertos, contra a iminência da separação?

    Ghost: Do Outro Lado da Vida (Jerry Zucker, 1990)

    O beijo de alma. Sam e Molly foram um dos grandes casais dos anos 90, rivalizando talvez com o Jack e a Rose de Titanic, só que nem o icônico beijo abraçado na proa do fatídico transatlântico consegue ser mais simbólico a um esperado amor eterno que o beijo etéreo de dois espíritos, absoluta e infinitamente apaixonados.

    Beleza Americana (Sam Mendes, 1999)

    O beijo da culpa. O beijo do racista branco na negra que o criou, ou, no caso, de um coronel homofóbico na boca do vizinho que almeja e não se permite ter, além da carne, por inúmeros motivos secretos. Beleza Americana busca, sobretudo, a união entre céu e inferno num país dividido em todos os sentidos chamado América.

    Homem-Aranha (Sam Raimi, 2002)

    O beijo da juventude. Uma sessão da tarde frenética interrompida logo após uma cena de ação do herói com bandidos, num beco escuro, salvando a mocinha quando esta lhe tasca um beijo irresistível, de ponta-cabeça. Mais contextual não dá, não só ao herói aracnídeo dos quadrinhos, mas ao próprio revirar hormonal da molecada.

    A Cruz dos Anos (Leo McCarey, 1937)

    O beijo da despedida, por uma vida inteira. Como o próprio cineasta Stanley Kubrick apontou, eis um filme que tira lágrima de pedra, e a cena final na estação de trem com o beijo dos dois idosos é destruidora, incidindo sobre a passagem do tempo, e como aquilo que é verdadeiro resiste diante do fim, diante de tudo.

    O Segredo de Brokeback Mountain (Ang Lee, 2005)

    O beijo da saudade, por uma vida inteira – e que quase quebrou o nariz de Heath Ledger. Brokeback Mountain, hoje merecidamente tido por clássico do século XX, é extremamente sutil em sua verdadeira mensagem de seguir o próprio coração mesmo, seguir o instinto natural e ver o que acontece a partir disso. Metáfora sobre os amores incompreendidos.

    A Um Passo da Eternidade (Fred Zinnemann, 1953)

    O beijo cinematográfico definitivo.

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  • Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas

    Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas

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    Depois do impressionante primeiro ato, Christopher Nolan retorna à franquia de Batman para realizar uma produção épica. A consagração que romperia o gênero filme de super-herói para tornar-se um grande filme por excelência.

    Introduzido como gancho na produção anterior, entra em cena a personagem antagônica do Cavaleiro das Trevas, o Coringa. Sua figura é representação máxima da potência de Batman e se popularizou até nas frases que se tornaram seculares entre os fãs.

    A trama se aproxima novamente de histórias conhecidas do herói sem deixar de lado elementos inéditos.  Trabalhando com diversos níveis narrativos, a composição de suas camadas é exemplar. Injusto afirmar que Coringa é a personagem central, sendo claro três polos distintos na narrativa: Harvey Dent como a manutenção da paz perante a lei, Batman como o vigilante que age no limiar desta, e a figura do palhaço como a não-regra, o caos.

    Os enredos se apresentam de maneiras distintas e paralelas, culminando no ápice sem volta em Gotham City. Sob esse aspecto, o diálogo entre Batman e Gordon em Begins já inferia que o surgimento de um super-herói implicaria em uma escalada criminosa. E o que assistimos é justamente uma força impossível de ser sobrepujada.

    Heath Ledger incorpora um Coringa crível e conveniente também com os quadrinhos. O espaço para a piada só se realiza por meio do grotesco, da figura abominável sem limites. Embora a personagem se encontre pouco com o seu rival, definitivas são as cenas em que estão juntos.

    O interrogatório no quartel de Gordon é a chave central do significado entre herói e vilão, uma cena brilhante que, além de seu impacto, tem significado como análise do bem que necessita do mal para existir.  A moeda que trafega nessas vias é o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart), que vai de um extremo a outro, conduzido por Coringa.

    A consistência do elenco comprova que é possível realizar um filme com grandes astros sem a sensação de deslocamento, impressão que tenho assistindo aos diversos filmes da Marvel. Sendo possível trabalhar com um bom elenco sem a sensação de ele estar presente só como divulgação do filme.

    Mesmo que o texto apaixonado não abrace todos os expectadores da produção, uma afirmação é correta: Batman – O Cavaleiro das Trevas tornou-se exemplo a ser copiado. Produziu um marco grandioso nas histórias em quadrinhos que tanto será comparado como tentará ser copiado. Exemplo parecido com o que aconteceu com Matrix, em 1999.

    Mais do que o filme em si, sua força é medida quando, além de uma simples história, uma produção transforma-se em método a ser seguido. Some a isso o fato de que o elemento dramático fez milhões de nerds chorarem no final da trama, que você encontra um épico moderno com a elementar jornada de um herói.