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  • Dia dos Investidores da Disney: Os Principais Anúncios do Universo Marvel

    Dia dos Investidores da Disney: Os Principais Anúncios do Universo Marvel

    Meus amigos, a Disney não está para brincadeira! A data de dez de dezembro de 2020 poderá entrar para uma das principais da história desta gigante do entretenimento, já que foi o Dia dos Investidores da Disney, onde a “empresa do Mickey Mouse” apresenta para seus investidores seus projetos futuros. Foi uma maneira agradável de dizer que o seu dinheiro será empregado pesadamente em produções audaciosas para o público em geral, que envolve a Disney propriamente dita, a Pixar, Marvel e Lucasfilm com o universo de Star Wars.

    De fato, o que se viu foi que a Disney investirá pesado no seu canal de streaming, o Disney+, demonstrando querer viver não só do passado, mas de um futuro bastante promissor. Inclusive, o evento aproveitou para mencionar o sucesso estrondoso do canal que já está próximo de bater a meta que estava prevista para daqui 4 anos.

    Mas nem tudo são flores, uma vez que diversos projetos poderão sofrer cancelamentos ou mudanças em suas trajetórias. Falaremos isso em um texto mais específico.

    Aqui nós acompanharemos o que vem por aí no mundo dos heróis da Marvel.

    Enquanto a Lucasfilm aposta em lançamentos inéditos, trazendo pouquíssimos rostos conhecidos, a Marvel opta por um caminho totalmente oposto, usando e abusando dos rostos que conhecemos nos últimos 12 anos de seu universo cinematográfico, porém, ousando um pouco mais.

    WANDA VISION

    Embora a produção de Wanda Vision não fosse novidade pra ninguém, já que a bizarra série estrelada por Elizabeth Olsen e Paul Bettany já teve diversos trailers lançados, o anúncio serviu apenas para informar a data de sua estreia no Disney+, que será logo no começo de 2021, em 15 de janeiro.

    THE FALCON AND THE WINTER SOLDIER

    A série do Falcão e do Soldado Invernal, embora já estivesse em estágio avançado de produção, buscou esconder ao máximo imagens oficiais e detalhes da trama. Estrelada por Anthony Mackie e Sebastian Stan, ambos retornando aos seus papeis, The Falcon And The Winter Soldier teve divulgado seu primeiro e lindo trailer recheado de ação e com uma bela fotografia. A produção também ganhou uma data de estreia para 19 de março de 2021.

    LOKI

    Épico e louco. Essa é a definição para a série de Loki que teve seu primeiro trailer divulgado. Loki mostrará o que aconteceu com o personagem após os acontecimentos de Vingadores: Ultimato, e trará novamente o querido Tom Hiddleston na pele do Deus da Trapaça.

    WHAT IF…?

    What if…? já tinha sido anunciada anteriormente, mas assim como The Falcon And The Winter Soldier, a animação que ficou em segredo finalmente ganhou seu primeiro trailer e nele podemos ver que Peggy Carter foi quem recebeu o soro de super soldado do Capitão América, além de vermos T’Challa como Senhor das Estrelas.

    QUARTETO FANTÁSTICO

    Talvez a maior novidade nos anúncios da Marvel. Com a compra da Fox pela Disney tivemos o retorno dos direitos sobre o Quarteto Fantástico e dos direitos sobre os X-Men. Porém, é com a equipe de cientistas que a Marvel resolveu arriscar primeiro. O filme será dirigido por John Watts que é o responsável pelos filmes do Homem-Aranha da fase Tom Holland. Vale lembrar que será a terceira tentativa de fazer o quarteto vingar nas telas.

    INVASÃO SECRETA

    Talvez a maior surpresa da noite. Teremos a adaptação do arco Invasão Secreta e ela será estrelada nada mais nada menos por Samuel L. Jackson, como Nick Fury e Ben Mendelsohn, como o Skrull Talos que apareceu em Capitã Marvel e Homem-Aranha: Longe de Casa.

    SHE-HULK

    A série da Mulher Hulk contará com o retorno de Mark Ruffalo na pele do Gigante Esmeralda e ainda terá o retorno de Tim Roth como o vilão Abominável, que apareceu no filme O Incrível Hulk estrelado por Edward Norton. Não é a primeira vez que personagens deste filme retornam em filmes do MCU, já que William Hurt, que viveu o General Ross, apareceu em filmes como Capitão América: Guerra Civil, além de ter presença garantida em Viúva Negra.

    A protagonista será vivida pela atriz Tatiana Maslany.

    ARMOR WARS

    Armor Wars será estrelada por Don Cheadle, o Máquina de Combate. Após a morte de Tony Stark, James Rhodes luta para que as invenções de seu melhor amigo não caiam nas mãos erradas.

    IRONHEART

    Mais uma série que buscará manter o legado do Homem de Ferro. De acordo com a própria Disney, veremos Riri Williams (vivida por Dominique Thorne) criando a armadura mais tecnológica desde as armaduras criadas por Tony Stark. É muito provável que na série, Riri se torne a heroína Coração de Ferro.

    THE GUARDIANS OF THE GALAXY HOLIDAY SPECIAL

    Um anúncio que faz o fã cair na gargalhada, depois colocar a mão na consciência e chegar na seguinte conclusão: James Gunn é um gênio. Todos sabem do famigerado Star Wars Holiday Special e aquela discussão de ser cânone ou não, depois de total constrangimento ao término da fita. Pouco importa. Mas será lindo ver uma sátira promovida pelos Guardiões da Galáxia. Ah, roteiro e direção de Gunn, e sim, será em live action.

    I AM GROOT

    O querido Groot também ganhou uma série para chamar de sua. Aqui a estrela será sua versão bebê apresentada em Guardiões da Galáxia Vol. 2, numa série de curtas animados.

    ANT-MAN AND THE WASP: QUANTUMANIA

    Também foi anunciado o terceiro filme do Homem-Formiga. E pelo título, além de dar a entender que o filme será focado no mundo quântico, está mais que claro que a Vespa ganhou o público e os executivos dividindo o protagonismo. Embora tenhamos o retorno de Peyton Reed na cadeira da direção e o retorno de Paul Rudd e Evangeline Lilly, Cassie Lang será vivida por Kathryn Newton.

    E ainda tivemos alguns anúncios interessantes, como o anúncio do novo filme da Capitã Marvel, que trará a Ms. Marvel (que também ganhou um seriado protagonizado), além de uma adulta Monica Rambeau. Teremos também a continuação de Pantera Negra com o devido respeito ao legado deixado por Chadwick Boseman que faleceu há pouco tempo, não escalando um novo T’Challa e o bombástico anúncio de que Christian Bale estará em Thor: Love And Thunder, como o vilão Gorr, o Carniceiro dos Deuses.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Ford vs Ferrari

    Crítica | Ford vs Ferrari

    James Mangold retorna a ceara de cine biografias após produzir duas adaptações de quadrinhos (Logan e Wolverine Imortal) em Ford Vs Ferrari, o longa que adapta a lendária historia em torno da construção do GT40, carro da Ford que viria a vencer a Ferrari na disputa das 24 Horas de Le Mans.

    O foco do filme é na estranha e intima relação entre Shellby Carroll, único americano até então a vencer a prova, e Ken Miles, um homem difícil mas talentoso, tanto em mecânica quanto nas pistas. Aos poucos o filme desata fatos sobre a relação dos dois personagens, aludindo as coincidências de trajetórias dos personagens de Matt Damon e Christian Bale, atrelando a isso um duo divertido e carismático, que vez por outra, abre mão da realidade para mostrar um bromance cheio de altos e baixos, além de um cenário competitivo do automobilismo.

    Shellby é um homem inseguro, no prólogo ele está correndo e percebe suas limitações físicas. Ele para, e vai para os bastidores de uma pequena construtora, ao contrário de Ken, que prossegue correndo mesmo tendo claros problemas econômicos, que resvala na sua relação com sua esposa Molly (vivida por Caitriona Balfe), e seu filho Peter (Noah Jupe). Além é claro de Damon e Bale, o elenco está muito afiado, ao menos nesse núcleo, com os citados e demais interprete desempenhando bem seus papéis. A Equipe Cobra de Shellby realmente parece uma equipe de mecânicos, fugindo de qualquer artificialidade.

    O Imax realmente pesa na experiência de assistir o filme e o torna mais grandioso. As cenas dos carros cortando as curvas são absurdas, muito bem traduzidas visualmente, além de ter um som que grifa o ronco dos motores  e o canto dos pneus. É óbvio que há muita interferência digital mas o trabalho que Mangold rege faz suavizar essas intervenções, muito por conta da mistura com efeitos práticos e pelo carisma de seus personagens. É fácil torcer pelo sucesso de Miles e Carroll, mesmo que sejam eles homens difíceis, é tudo muito palpável e fácil de encarar.

    A entrada da Ford na historia é bem subalterna perto das questões envolvendo os personagens principais. Esse núcleo não repete o brilhantismo dos cockpits da Cobra, mas há muitos bons momentos. É incrível como universos tão diferentes dentro da questão do automobilismo se tocam e se misturam, mas não sem choques fundamentais, não sem guerras de vaidades e de espíritos.

    O filme é um pouco extenso, mas não se perde, embora queira abraças muitas questões históricas. Mesmo quando a trama perde um pouco de sua força, há um trabalho esmerado em mostrar que aquele micro cosmo hiper masculino é sabotado  exatamente por essa necessidade “machona” de sempre ter razão. Questões supostamente econômicas ganham contornos de rixas pessoais com uma facilidade monstra, e expõe a fragilidade da construção mental desses homens poderosos, seja Enzo Ferrari, Henry Ford II ou os  executivos que os cercam. Todos os engravatados são caricatos, tolos e estúpidos, enquanto os que mexem com graxa são humanizados, repletos de virtudes e criativos.

    O script não tem medo de soar irônico, e por mais que esteja teoricamente contando uma historia real, ele se compromete com a diversão prioritariamente, fazendo sua historia soar divertida, escapista, valorizando um estilo de vida aventuresco, mas não sem mostrar o cotidiano pragmático e pesado da intimidade dos personagens, em especial Miles.

    Os homens vivem sua meia idade em crise, mas sem deixar de dar vazão aos seus próprios sonhos, e isso coincide os dois núcleos bem diferentes, e tridimensionalidade dos personagens faz toda a questão menos pé no chão se tornar crível. A briga física entre os personagens é hilária, mas revela muito mais do que ressentimento e receio via ingratidão, e sim uma cumplicidade e decepção de certa forma pela amizade entre Carroll e Miles não ser das mais perfeitas.

    As batidas são muito reais e isso faz com que toda a historia repleta de sub-tramas de Ford Vs Ferrari seja justificada, uma vez há uma abordagem desportiva bem legal, também carregando bastante sentimentos nas amizades e rivalidades mostradas, mesmo que nesse aspecto haja um bocado de maniqueísmo e até um pouco de pieguice.

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  • Crítica | O Império do Sol

    Crítica | O Império do Sol

    O objeto que faz com que Jim Graham se separe dos seus pais, no meio de uma confusão nas ruas de Xangai, e tenha eternamente sua vida alterada no auge da Segunda Guerra Mundial, é belo e simbólico por natureza. E não tinha como não ser, pois, para recuperar sua miniatura de avião militar que deixou cair, entre milhares de chineses desesperados a fugir de tanques japoneses intimidadores durante a dominação que o Japão exerceu no país, nos anos 1940, o jovem Jim, de apenas onze anos, larga da mão da sua mãe, empurrada para longe pela multidão barulhenta de civis. Se em qualquer lugar a guerra afeta os mais pobres, primeiro, ou somente eles, a burguesa família Graham sente na pele os efeitos do conflito quando é separada pelo destino imprevisível das coisas, e o resto, para quem fica e para quem foi, é pura adaptação e resistência.

    E se também antes o menino se divertia em guerrear, vestindo roupas espalhafatosas na segurança de sua enorme casa protegida em uma bairro diplomático da cidade, e fingindo pilotar um avião de guerra e matando geral, pois, para a elite, o drama dos debaixo é um eterno motivo de brincadeira e risadas, tudo muda quando a realidade se impõe e os força a perceber que também vivem sob um teto de vidro – muito mais fino do que aparenta. Sozinho em Xangai, Graham acaba sobrevivendo no mundo dos refugiados indo parar num campo de concentração japonês lotado, onde os não-chineses são forçados a ficar ao longo da guerra se quiserem viver. Graham é poupado, mas sua bolha de classe é rompida enquanto, mesmo criança, aprende do que é feito o homem, seus conflitos e sua esperança sob constante provação por dias melhores.

    Na década de oitenta, após redefinir a lógica do espetáculo cinematográfico com blockbusters como os Indiana Jones, Tubarão, E.T. e Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Steven Spielberg, dentro do competitivo cenário americano de cineastas, era o diretor perfeito para o típico filme de guerra esperançoso, e acalorado, onde os finais felizes justificam os meios que sua direção tenta suavizar. Porém nem sempre o mestre do entretenimento hollywoodiano acerta, e o motivo é mais simples do que parece: quando Spielberg mostra a crueldade do mundo e das nossas relações como elas são, grandes obras brotam disso. Qualquer cena de Munique, A Cor Púrpura ou A Lista de Schindler tem uma potência sensorial incomparável a qualquer minuto de O Império do Sol, filme este que o velho amigo de George Lucas prefere tornar fraco, e fácil de engolir, ao invés de uma sólida e memorável experiência artística – como as já citadas, anteriormente.

    Pode-se falar, contudo, que o filme é de dois fatores, aqui: um jovem Christian Bale, numa ótima atuação enquanto perde a inocência de sua zona de conforto ao invadir uma zona de pura tensão e selvageria (pouquíssimas vezes sentidas no filme), e a fotografia de Allen Daviau. A forma como muitos enxergam O Império do Sol como um dos épicos de Spielberg se vale principalmente dos espetaculares planos de Daviau, como na icônica cena de Bale, banhado pelo brilho de um pôr do sol verdadeiro, fazendo continência aos aviadores japoneses que ainda resistiam, mesmo com seu país explodindo em mil bombardeios. Visual impecável para uma cena indispensável ao protagonista. Seu personagem amava os ares, e foi na busca por uma miniatura de avião que ela, a aviação, o fez reparar na vida e na morte, cara a cara. Simbólico, mas aquém de todo o seu potencial dramático, temático e cinematográfico. Spielberg já fez melhor, mas também faria muito pior com Cavalo de Guerra. Esse sim, um insulto.

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  • Crítica | Vice

    Crítica | Vice

    Vice é um drama de Adam McKay, que assina roteiro e direção  neste longa que segue mais ou menos na esteira de A Grande Jogada, embora seja menos jocoso que o anterior. Desta vez, a câmera acompanha a trajetória do ex-vice presidente dos Estados Unidos Dick Cheney, interpretado desde sua juventude por Christian Bale que para variar sofre com intervenções severas em sua maquiagem, figurino e compleição. A ideia ao retratar essa historia é mostrar como o pior do ser humano pode emergir mesmo do sujeito mais simplório possível, bastando apenas ter perseverança e força de vontade para alcançar o apogeu.

    A historia de Dick é  uma autentica zombaria do conceito de meritocracia. Do sujeito beberrão e pavio curto até o puxa  saco de pessoas que estão no poder, Cheney é sempre uma pessoa desprezível. A bronca que recebe de sua esposa Linny (Amy Adams) após se meter uma confusão é bastante agressiva, e serve de ponto de virada para uma mudança radical de postura, agindo ainda de maneira mesquinha, mas voltando esse lado maquiavélico para uma atitude que poderia lhe dar algum lucro.

    A grande questão é que Cheney conseguiu evoluir suas ambições. Passou de um frequentador de reuniões políticas, assunto do qual não dominava nenhum detalhe, para auxiliar de um figurão do Partido Republicano, Donald “Don” Rumsfold (Steve Carell). Ele começa de baixo, como um bajulador, mas consegue um trabalho na Casa Branca, sem glamour, mas ainda assim um cargo alto. A forma como a historia é contada, narrada pelo personagem de Jesse Plemons, o carismático Kurt é bastante engraçada, por passar ao largo da historia política dos Estados Unidos durantes as ultimas décadas, passando pelo período W. Bush e suas guerras, seguindo até o fim do mandato de Dick como vice-presidente e a sucessão de sua carreira política, apresentando toda essa movimentação de maneira tão divertida e criativa, que quase suaviza a quantidade de atrocidades feitas por quem detêm o poder naqueles tempos e instâncias.

    McKay consegue explorar de maneira estilizada e irônica o pior que a humanidade tem a oferecer. Ele já tinha começado esse movimento timidamente em O Âncora e sua continuação Tudo Por Um Furo, mas em A Grande Aposta que ele atingiu o ápice disso. Da mesma form como no anterior  ele debocha das tecno baboseiras econômicas para falar de lobbystas e chacais financeiros, dessa vez seu alvo é o pano de fundo da política republicana recente e ele enfia o dedo na ferida sendo bem mais explícito e menos técnico do que em outras épocas.

    Toda a construção de metalinguagem que é usada e abusada no longa depende muito do desempenho de Christian Bale, que mais uma vez consegue desempenhar um papel completamente em que precisa fugir de seu biótipo físico, onde basicamente sobressai seu talento dramatúrgico transformador. Kurt só faz sentido enquanto contador de historias graças a figura central da trama, e só se crê que um homem pode ser tão mesquinho, egoísta e insensível graças a forma como Bale age. A evolução do homem medíocre e indisciplinado e que só se educa para continuar vivendo e para dar luxos a si aos seus só não é odiável por conta da entrega de seu interprete.

    Por sua vez, o restante do elenco, mesmo sendo casting de apoio, precisava funcionar bem e esse é um dos principais méritos da obra. Ha uma unidade na família Cheney, seja com Adams que faz sua fiel escudeira, como suas filhas que são feitas por Alison Pill e Lily Rabe, que são personagens que mesmo com pouco tempo em tela são muito bem executadas inclusive nas diferenças entre si. Outro desempenho de excelência é Sam Rockwell, que faz um George W. Bush diferente do feito por Josh Brolin em W. de Oliver Stone mas que é igualmente genial, por se mostrar como o sujeito impulsivo e manipulável que ascendeu ao posto de comandante em chefe com mais sucesso até que seu pai. A forma como ele desempenha isso é sensacional e merece quase tantos aplausos quanto Bale mereceu.

    O filme possui um  ritmo crescente, mas se percebe que passam-se 132 minutos de tão harmônico que é seu roteiro e sua montagem. O final de O Vice se vale de simbolismos e mostra um homem que abdica totalmente dos seus sentimentos para continuar no poder – nem que para que haja essa perpetuação no poder fique somente o sobrenome que carrega – pois o maior torpor do homem é se sentir com autoridade, mesmo que as relações familiares entrem em falência no processo.

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  • O Cavaleiro das Trevas – Dez Anos Depois: As Três Faces de um Conto do Batman

    O Cavaleiro das Trevas – Dez Anos Depois: As Três Faces de um Conto do Batman

    Em julho de 2008, o mundo veria um libelo da cultura pop mainstream nascer e se mostrar como uma obra capaz de ultrapassar as discussões sobre a influência de um personagem para além das questões de nicho nerd e dos aficionados por historias em quadrinhos, gerando muitas discussões inclusive entre estudiosos de filosofia e historia.

    Os seis palhaços que organizariam um assalto a um banco da Máfia de Gotham City fariam um movimento ousado e claramente impensado caso não fosse planejado por uma mente inventiva do crime. A genialidade do plano se iguala de certa forma a mentalidade por trás do roteiro de Jonathan Nolan e Christopher Nolan, pois tanto os ladrõesm  dentro da trama, vão se canibalizando, quanto este consegue de certa forma tornar a maioria dos filmes de heróis  obsoletos e meros comerciais para vender brinquedos, não só por não terem um pé na realidade mas também por ter quase todas as suas ações com ao menos um significado mais profundo. Mesmo quando a  movimentação em adaptar quadrinhos em tela grande deu certo no pós Cavaleiro das Trevas, se deu exatamente por não tentar replicar o que deu certo aqui, como na Marvel a partir de Homem de Ferro de 2008, sua continuação, O Incrível Hulk e por aí vai.

    O filme é tão garantido em si que não contém o nome do herói no original, tampouco há créditos iniciais, como foi em Batman Begins. Ele se passa nove meses após esse útilmo, e essa historia dura 9 e dias e noites. Nolan, durante os primeiros dias de filmagem parou com o elenco e passou uma série de filmes, para que o elenco e produção entendessem o que ele queria fazer nesta obra, foram eles: Fogo Contra Fogo (1995), Sangue de Pantera (1942), Cidadão Kane (1941), King Kong (1933), Batman Begins (2005), Domingo Negro (1977), Laranja Mecânica (1971), e O Inferno Nº 17 (1953).

    A tentativa deste artigo é falar um pouco sobre os bastidores e um pouco da gênese e construção dos três pilares de Cavaleiro das Trevas, o Coringa, Harvey Duas Caras e obviamente o Batman discorrendo um pouco sobre o que acontece no filme e tentando fazer paralelos com os quadrinhos e materiais que serviram de base para a construção da historia.  Tal qual havia ocorrido com Begins, esse também teve um nome fake em seu roteiro original, chamava-se Olivers Army. Christopher Nolan sempre quis filmar no formato IMAX e finalmente conseguiu isso neste, seis grandes sequências de ação, foram filmadas com estas câmeras e equipamentos e isso gerou uma grande dor de cabeça pois inúmeros problemas surgiram, por conta do barulho que o  equipamento produzia, obrigando a redublar boa parte das falas na pós produção e também pela inesperada demora para revelar o filme. Mas é fato que há uma diferença visual grotesca entre esta versão e a do filme de 2005.

    Enfim, a analise das figuras virá segmentada logo abaixo.

    O Duas Caras

    Uma das criticas frequentas a TDK é de que ele constrói tão bem seus vilões que passa então a ser um filme sobre os antagonistas. Isso não é inédito com o cruzado encapuzado, em Batman o Retorno essa acusação também ocorreu, mas no caso desta obra isso é uma falácia. Talvez essa acusação tenha ocorrido muito por conta da péssima construção de Duas Caras e Charada em Batman Eternamente e de Hera Venenosa, Senhor Frio (e Bane) em Batman e Robin, mas fato é que o Harvey Dent de Aaron Eckhart é bem construído de um jeito que seu destino trágico é realmente digno de lamento quando finalmente ocorre.

    O chamada Cavaleiro Branco de Gotham, é capaz de muito, tanto de conquista o amor da mulher que o Bruce Wayne sempre pleiteou, como é  capaz de revidar a violência que sofre ao desferir um soco no bandido que tentou matá-lo em pleno tribunal, numa clara alusão a um momento de O Longo dia Das Bruxas, onde Harvey era desfigurado com o ácido em seu rosto. Ao mesmo tempo, ele é idealista o suficiente para não entender o pragmatismo de James Gordon ao ter que lidar com policiais corruptos, já que se o tenente insistir em afastar todos os investigados, certamente não teria pelotão patrulhar, proteger a lei e servir o povo. Fato é que o desenrolar dos fatos não deixa Dent sem razão, mas ainda assim ele consegue ser tão idealista que soa até pueril.

    Quando Harvey discute a política de Gotham em uma mesa de restaurante, com sua amada, Wayne e uma bailarina russa, há uma boa discussão sobre o Império Romano. Rachel menciona Júlio César, o que leva Dent a dizer: Você morre um herói ou vive o suficiente para se tornar um vilão. Em Júlio César, de William Shakespeare, o personagem titular é retratado como um homem de notável ignorância, cuja surdez parcial implica que ele apenas ouve aquilo que julga relevante, em vez de ser um líder de mente aberta. O discurso de Dent já se aproxima do totalitarismo antes mesmo da provação do Coringa, antes da A Piada Mortal ser posta em prova, antes de perder o seu centro…ele só precisava de fato de um empurrão.

    Avançando um pouco no tempo, no rescaldo da transformação de Harvey Dent em sua persona Duas Caras, ele perde seu senso de razão, em vez de ser racional ele  apenas discute assuntos relacionados ao assassinato de Rachel e a”traição” que Gordon e o Batman teriam feito com ele. A loucura que se estabelece ali não permite qualquer argumento que não seja simplista. Quando Batman o “mata” por cruzar a linha invisivel e proibida aos benfeitores, quase se espelha a morte de César por Brutus, pois o golpe final é dado por um homem que era seu aliado, mas a analise de que o Morcego cometeu esse crime é igualmente simplista, e há de se lembrar que o antigo promotor já não mais servia povo da maneira que ele mesmo jurou. É nessa ruptura que Harvey deixa de ser o homem justo e bom que não estava nas historias em quadrinhos para se tornar um vigarista vil e vilão típico.

    Solução para a ferida de Harvey é muito criativa e emocional. A forma como é mostrada e a percepção , na cama do hospital de que realmente havia perdido sua amada é de uma catarse monstruosa, e o Grito silencioso  de Harvey é claramente a mostra visual de aquele era o começo da psicopatia, ou a evolução da mesma, já que o roteiro deixa em aberto se ele era ou não insano a esse ponto. O Coringa parece persuasivo, pois uma das partes de sua fala é verdade: o palhaço ele é louco, e não corrupto e isso une os dois personagens. Dent, mas o fato de não ser corrupto não faz dele um sujeito honesto. Quando o advogado recebe a visita de Gordon, ele  promete que o policial sentiria na pele a dor da perdaque ele sentiu,  isso antes de o palhaço aparecer no hospital, mais uma vez e como num dejavu a sensação do empurrão é estabelecida.

    Há um segmento nos extras dos DVDs da época, chamado Gotham Tonight, que era o programa jornalístico de televisão Mike Engel (Anthony Michael Hall) e que tem alguns momentos estendidos aqui. A maior parte do que se mostra aqui são momentos meio bobos, mas o desdobrar político de Gotham e as eleições de Dent são bem discutidas, assim como as impressões do Comissário Loeb (Colin McFarlane) e de Sal Maroni (Eric Roberts) que aparecem conversando com o jornalista da GCN. Além de repercutir a toxina do medo do Espantalho, Mike deixa claro o quanto acha Batman um mal para  a cidade, por ninguém saber sua origem, seu nome ou mesmo se é humano ou não. O jornalista sensacionalista bem ao estilo Datena e Marcelo Rezende revela seu gosto contrário ao Morcego e o coloca no mesmo balaio dos bandidos que ele caça e a surpresa dele é tamanha quando o promotor, ao ser entrevistado por ele (antes obviamente da morte de Rachel e dos acontecimentos do filme) declara que não há uma opinião formada sobre o vigilante. Dent não poderia em um programa de audiência grande se declarar favorável a um louco que se utiliza de teatralidades para fazer justiça, mas claramente ele tem uma predileção por esse comportamento, que em ultima analise nesse universo escapista mas ainda calcado na realidade que Nolan estabelece, é quase um abraçar a insanidade.

    No entanto, com o filme em andamento, isso muda. Em um estudo sobre o filme, o filosofo Slavo Zizek afirma que  o verdadeiro rival de Batman não é o Coringa, e sim Harvey Dent, o “cavaleiro branco”, que é um tipo de vigilante oficial com uma batalha fanática ás vezes inconsequente. Zizek acha que Dent é como uma resposta à ordem legal da ameaça de Batman com o sistema gerando seu próprio excesso ilegal, seu próprio vigilante e defensor, muito mais violento que Batman, violando diretamente a lei e é por isso que existe  uma justiça poética no fato Dent roubar a identidade secreta do Batman de Bruce, pois ele seria mais Batman que o próprio Batman, fato que fortifica ainda mais o final, onde Batman assume os crimes do homem da lei, retribuindo-lhe o favor, e retomando o protagonismo que muitos acusaram ele de perder, em um gesto simbólico. Zizek não poderia estar mais correto, sua visão sobre Harvey é certeira, e ele ainda voltaria seus olhos o outro vilão, o palhaço do crime.

    O Coringa

    A primeira participação do Coringa é enigmática, envolve o já citado assalto a um banco mas também um estranho sinal de obsessão com ônibus escolares, que aparecem não só na sequencia inicial, como na hora em que explode- um hospital de Gotham. Aliás, ambas ocorrem logo após ele praticas uma de suas sádicas piadas, sendo a primeira com uma bomba de gás na boca do gerente do banco e a segunda se travestindo ao falar com Dent. Não há confirmação oficial, até por conta de não se ter certeza sobre a origem do bandido, mas isso pode ser eco da infância do personagem.

    O número quase circense da sequencia inicial que o Coringa de Heath Ledger orquestrou seria só uma mostra de como a criminalidade de Gotham precisava mudar e mudar rápido, para se adaptar ao Batman, e nem o Espantalho e Ras All Ghull de Batman Begins chegam perto disso. Mesmo no encontro entre Checheno (Ritchie Coster) e Crane (Cillian Murphy) para comprar drogas se nota que até o vigilantismo mudou, e que o Morcego gerou uma reação na população que busca se armar e agir como milícia sem ter o preparo que Wayne se submeteu. Esse tipo de reflexão que Nolan propõe não é inédita, e pergunta se Batman é um lunático ou não é discutida ao longo dos 152 minutos de filmes, e vai além da simples sentença de usar ou não armas de fogo ou proteção de hockey, por mais que o vigilante tente simplificar a conversa nesse sentido.

    Heath Ledger passou vários meses trabalhando com um treinador vocal na voz do Coringa. Ele usou bonecos de ventríloquo como inspiração para a qualidade desconexa e zombeteira, além das (hoje obvias) referencias tão discutidas, como Sid Vicious do Sex Pistols e o protagonista de Laranja Mecânica, Alex DeLarge.

    O filosofo Slavo Zizek, ao analisar Batman : O Cavaleiro das Trevas Ressurge, ao comparar o Coringa e Bane diz que a imensa popularidade da figura do Coringa se dá pelo fato dele clamar por anarquia na sua mais pura manifestação, enfatizando a hipocrisia da civilização burguesa como ela existe, mas é impossível traduzir suas visões em uma ação de massa, enquanto Bane é uma ameaça existencial ao sistema de opressão e sua força não é apenas a psique, mas também sua capacidade de comandar as pessoas e mobilizá-las rumo a um objetivo político. O Bane de Nolan é mais profundo que o do quadrinhos, no entanto ele não tem o fascínio do Coringa de Heath Ledger, e isso não se explica obviamente só pelo carisma do ator, que era encarado como um sujeito mal quisto, pois seu passado com comédias românticas meio bobas.

    Evidente que as razões que Zizek apontam explicam os motivos ideológicos, mas na questão cinema, foi Ledger que ao ter liberdade para construir seu personagem que conseguiu tornar tudo isso mais crível. Ledger dirigiu as duas cenas que são filmadas pelo Coringa, e essa sugestão veio do realizador, Nolan acreditava tanto no ator que o deixou conduzir a cena, lembrando que em Begins e em TDK houve segunda unidade, em todos os momentos que a câmera estava ligada o cineasta estava presente.

    O personagem assassina/mata 34 pessoas no filme, aliás a perseguição que ele faz ao povo, matando pessoas para que Batman apareça faz referencia a primeira aparição do personagem nos quadrinhos dos anos quarenta, presente em Batman Crônicas, onde ele vai matando criminosos para acabar com a concorrência e para tomar posse do dinheiro dessas pessoas. Aqui evidentemente ele é anárquico e foge da necessidade do dinheiro, como disse Zizek e a referencia mais uma vez a O Longo Dia das Bruxas, também invertida, pois quem queima o dinheiro na revista é o Batman e Harvey.

    A música estridente de Hans Zimmer, nas descrição de Why So Serious amedronta e põe enigmas, refletindo um som de Anarquia. O ideal que Zimmer mirava em algo provocativo e odioso para as pessoas, e seu objetivo foi plenamente alcançado. Se ouvida sozinha, a canção gera naturalmente uma aversão aos tons altos estabelecidos ali, que vez por outra são quebrados pela presença do Coringa. O Coringa é o vilão de muitas faces diferente de Harvey. Se Duas Caras tem a duplicidade o conjunto de anomalias mentais e até parafilias é tão grande quanto a quantidade de cartas no baralho, o palhaço do crime é de certa forma a amálgama da galeria vasta de vilões do Morcego. Para Nolan a resposta lógica a um herói como Batman é  uma contra resposta violenta igual, o seu real oposto, a diferença básica entre eles mora nos lados da lei que os personagens abraçam.

    O Batman

    O herói e protagonista  do filme talvez seja resumida em uma das falas residente na conversa que Christian Bale e Michael Caine tem, onde Bruce afirma que não se dá ao luxo de conhecer os seus limites. A utilização de frases de efeito poderia soar como algo ruim, mas claramente é bem utilizado.

    O Batman deste tomo dois da saga que Nolan estabelece tem capacidade de vestir mais de uma máscara, seja a do herói que luta pela justiça e que é apoiada por parte da plebe e da burguesia de Gotham, assim como a do herói invasivo,  capaz de usar a tecnologia do Sonar que evoluiria para o re-percussor de ondas dos celulares, e que seria a versão de Nolan para o Oráculo. O conceito de transformar cada telefone como se fosse um rádio, invadindo a intimidade das pessoas, para encontrar o  antagonista, em uma invasão de privacidade que o dá vantagem e faz ele ser por um breve momento, onipotente e como diz o Lucius Fox de Mogan Freeman, isso é errado em muitos níveis, pois as pessoas não tem direito a escolher nada. Hoje toda essa celeuma perdeu o sentido, pois as redes sociais as pessoas expõem tudo o que querem e em alguns ponto até o que não querem e percebendo ou não a auto evasão de informação é voluntaria.

    A rivalidade entre Batman e Coringa sempre foi grande nos quadrinhos e a cena em que os dois finalmente se encontram é tardia passados aproximadamente 52 minutos. Mesmo no começo, quando Coringa faz piadas com o sumiço da caneta, onde enfrenta Gambol (Michael Jai White) e fala em matar o Batman, claramente isso é uma bravata, e ele nem precisa declarar isso, como faz depois. Os ataques constantes a moral do herói tem seu alvo acertado, por mais que Bruce/Batman finja-se de intransponível, como quando Gordon cai. A suposta morte do policial faz o Morcego largar seu estilo stealth, e invadir uma boate onde Maroni tatá, para liberar sua raiva em uma catarse violenta. Aliás, o Batman é mais agressivo com o mafioso italiano do que com o seu nêmesis, até para não ter a tentação de mata-lo, semelhante em muitos pontos a morte do Coringa em O Cavaleiro das Trevas.

    Há um bom material complementar, um documentário de pouco mais de quarenta minutos chamado Batman Unmasked, que trata da psicologia do Homem Morcego e que trata de alguns dos detalhes falados aqui. Evidentemente que em Batman Begins e TDKR há um aprofundamento maior e mais detalhado no Batman do que neste TDK, mas o desfecho, com Gordon fazendo um discurso ao seu filho de como o personagem é o Cavaleiro das Trevas e de como seu heroísmo não é o ideal, mas sim o necessário para que Gotham permaneça equilibrada.

    Por mais clichê que pareça, Batman retoma o poder quando age assumindo a culpa que não era dele, pois a característica básica do heroísmo é o sacrifício pessoal em prol da maioria, foi assim com Cristo, com Moisés, Davi e a maioria dos mitos cristãos, é assim com os heróis Teseu, Hercules, Orfeu na mitologia grega e é como sempre fez Homem Aranha e Super-Homem em tantas historias. O Batman de Bale não tem qualquer pudor em se entregar, pois a sua função maior é isso, fazer com que Gotham seja um lugar seguro, como era o sonho de Thomas Wayne, e evidentemente que esse preço seria cobrado, e só por isso já justifica a construção de Batman o Cavaleiro das Trevas Ressurge que repercute o erro de maturidade de Batman, que foi impulsivo e precisava ter sua historia fechada, finalmente.

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  • Crítica | Mogli: Entre Dois Mundos

    Crítica | Mogli: Entre Dois Mundos

    Antes inclusive da produção de Mogli: O Menino Lobo, de John Favreau, a adaptação do Livro da Selva já estava em produção pelas mãos de um sujeito importante para o cinema mainstream recente. Andy Serkis tentava traduzir o material original de Rudyard Kipling que encantou gerações através não só da literatura mas também da animação clássica da Disney nos meados dos anos sessenta, e sua versão, Mogli: Entre Dois Mundos demorou a ser entregue e a ser finalizada, por motivos até hoje discutíveis, graças não só aos estúdios Disney, que tem em seu Mogli o alicerce para onda de live actions que fizeram sucesso e dão bilhões de dólares de arrecadação, como pela Warner, que claramente recuou e não permitiu ao realizador fazer o filme que queria, com o orçamento que precisava.

    Ainda assim, e reduzido (de certa forma) a estrear para plataformas digitais via  streaming pela Netflix, a versão que Serkis fez tem animais digitais com um visual estranho, quase mal acabados, e isso evidentemente denigre o produto  final, mas não contamina a história. Na trama, o tigre Shere Khan ataca alguns homens e mulheres, e mata a mãe biológica do rapaz, que acaba sendo encontrado pela pantera Bagheera, e levado até sua alcateia, que fica responsável pelo bebê.

    A história começa narrada pela serpente Kaa, dublada por Cate Blanchett, cujo visual talvez seja o mais estranho entre as criaturas animadas, mais até que os lobos de Akela (Peter Mullan) e companhia. Não demora até ocorrer uma deliberação entre os animais, incluindo aí o urso Baloo (Serkis), Baghera (Christian Bale), a loba Nisha (Naomi Harris) e até o vilanesco Shere Khan (Benedict Cumberbath). Esse elenco pomposo tem um embate face a face muito poderoso, mesmo que sejam suas contra-partes animalescas. Já nesse prólogo o filme se demonstra grandioso e ele segue assim mesmo nos momentos de despretensão.

    Mogli cresce, e é vivido pelo jovem Rohan Chand, um intérprete de olhos muito expressivos, seja quando brinca com a pantera que o salvou ou mesmo em situações banais como comer uma fruta ou matar um inseto. Seja sozinho ou com seus mentores –  na falta de um pai de sua espécie, ele tem um urso, uma pantera e muitos lobos – ele entende como funciona as leis da selva, sobre como caçar e quem caçar, mas também preserva a inocência típica de um filhote.

    Toda a essência da vida de menino criado por lobos e sua experiência na selva que o cerca é muito bem enquadrada pela câmera de Serkis, e é realmente triste que um trabalho visual tão bem concedido como a construção das paisagens naturais esbarre nas figuras em efeitos especiais dos macacos, ou do lobo albino Bhoot,  que mais parece um poodle mal tosado. É difícil levar o filme a sério, porque seus personagens digitais passam longe de serem críveis. Mesmo as movimentações deles são artificiais e a textura é terrível. Os que mais se aproximam de salvar disso são Shere Khan, Bagheera  e alguns momentos Baloo.

    Ao mesmo passo que no ambiente selvagem o jovem humano é amado pela maioria das criaturas, quando se encontra com o homem ele é tratado de maneira hostil, enjaulado após reagir com fogo contra os seus, e cutucado com pedaços de pau por outras crianças. Nesse início, ele é tratado como um animal, já que veio do habitat selvagem. A parte em que acontece o rapto do menino e a chegada a civilização perde um pouco do bom ritmo que antes predominava, mas não é de todo ruim e a área sentimental volta a predominar, mostrando que o medo do tigre devorar Mogli faz com que a pantera e o urso achem que é bom para ele voltar para a civilização. O que faz realmente pecar é a construção da rivalidade entre o felino e o homem, que não é é tão bem desenvolvida e é o erro mais crasso do roteiro que Callie Kloves apresenta.

    Mogli consegue se adaptar ao mundo civilizado e lá descobre alguns horrores, os mesmos que fizeram com que ele fosse órfão e ajudaram Shere Khan a se tornar uma figura maligna. A gangorra emocional melhora bastante no final, e o desfecho trágico envolvendo caça e caçadores é simbólico e um bom rito de passagem para o personagem que dá nome ao longa, e capta perfeitamente como funciona esse limbo existencial que o menino sofre, mostrando que a busca de identidade dele é visceral, sem deixar de ser poética, algo que o filme de Favreau não traduz bem. Mesmo que visualmente os efeitos especiais não estejam a altura das emoções que Serkis passa, Mogli: Entre Dois Mundos é talvez a mais inventiva e bonita adaptação do clássico O Livro da Selva.

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  • Crítica | Cavaleiro de Copas

    Crítica | Cavaleiro de Copas

    Terrence Malick teve uma retomada recente e curiosa em sua carreira. Em pouco tempo, após Árvore da Vida, ele mais que dobrou sua filmografia, que começou em 1973, com Terra de Ninguém, e tem nesse Cavaleiro de Copas, seu sétimo filme de longa metragem. Essa nova fase mais prolífica do cineasta resulta em alguns fatos incomuns, como a utilização de um hermetismo para contar suas histórias, se valendo de uma narrativa bastante similar àquela utilizada em Amor Pleno, usando de cortes e filmagens não normativas para expressar os sentimentos das pessoas enquadradas em tela.

    A jornada de Rick começa com uma sucessão de eventos aleatórios, que o próprio não consegue entender. O personagem de Christian Bale é um escritor que tem de lidar com uma confusão mental e emocional, representada em tela pelos ângulos obtusos de Malick e por sua contemplação que permeiam a maioria esmagadora das cenas.

    O roteiro se debruça sobre as relações que o personagem tem, desde as frustrações amorosas que sofre e impele, até as relações com os parentes mais próximos. A sensação ao se deparar com a história, dividida em capítulos, é de se reprisar toda a estrutura narrativa de Árvore da Vida e Amor Pleno, gerando inclusive um certo enfado no espectador, além da sensação de estar sendo ludibriado em alguns momentos por sofrer a interferência de uma fórmula que se utiliza dos mesmos clichês e arquétipos para contar histórias diferentes, mas que tem no modo de se chegar até elas o mesmo norte e coincidências artísticas de outros trabalhos do diretor. A marca de Malick aos poucos vai demonstrando um desgaste.

    A música de Hanan Townshend faz lembrar ainda mais dos métodos que Malick utiliza em seus filmes, ainda que de todas as participações repetidas, essa seja a que mais apresenta traços de ineditismo. Natalie Portman Cate Blanchett ajudam a estabelecer a atmosfera obscura presente no inconsciente do protagonista, demonstrando na prática o quão passageira é sua existência e os relacionamentos que acumula durante sua vida. Já o restante do elenco faz aparições pontuais que mal se nota parte dessas presenças, mesmo com a presença de Wes Bentley, que costuma entregar atuações superficiais e rasas. Cavaleiro de Copas acaba sendo um manifesto sobre o vazio existencial, acertando em alguns pontos mas prevalecendo a triste sensação de repetição de ciclo.

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  • Crítica | O Exterminador do Futuro: A Salvação

    Crítica | O Exterminador do Futuro: A Salvação

    Exterminador A Salvação 1

    Trazendo Christian Bale para a franquia antes pensada por James Cameron, McG tinha a princípio todos os fatores que denotariam uma boa alternativa ao reinício da saga Terminator, exceto, é claro, pelas muitas interferências do estúdio, agora pela Warner – a quarta produtora de quatro filmes. O Exterminador do Futuro: A Salvação começa em 2003, com um recordatório de Marcus Wright ( Sam Warthington), que assina um termo antes de sua sentença de morte, cujo documento está ligado a Cyberdine, embrião do que seria a Skynet.

    A trama viaja ao futuro, em 2018, anos antes da vitória dos homens sobre os temidos exterminadores. A primeira cena de ação envolvendo John Connor (Bale) é bastante intensa e graficamente interessante, com o pretenso salvador se exibindo de um modo bastante viril, como se esperava do herói que seria a última esperança da Terra, como foi dito pelo Kyle Reese de Biehn em O Exterminador do Futuro. Connor pisa sobre a cabeça da carcaça mecânica de poder, simbolizando a ordem hierárquica estabelecida entre ele e seus inimigos, talvez no momento de mais inteligência no script de Michael Ferris e John D. Brancato.

    O entorno da resistência é bem exemplificado através de personagens universais, que se não têm muito tempo para se aprofundar no caráter destes, ao menos possuem carisma e simpatia, como funciona com General Ashdown (Michael Ironside), Kate Connor (Bryce Dallas Howard) e claro, com a nova faceta de Kyle Reese (Anton Yelchin). A úncia personagem que destoa dos demais até perto de uma hora de exibição é a nova encarnação de Wright, que se assemelha demais a uma figura misteriosa e messiânica, que furta o tempo dela que poderia ser de Connor e Reese.

    O declínio do filme ocorre da metade para o final, curiosamente no ponto em que toda franquia inicia também sua derrocada, uma vez que foi em A Rebelião das Máquinas que se iniciou a parte fraca e incongruente de toda a saga. Os furos de argumento iniciam-se pela premissa de um autômato tão avançado ter precedido a máquina de matar, que seria o T800 de Arnold Schwarzenegger.

    A referência visual que McG faz dos membros da resistência em comparação com os humanos sobreviventes de Matrix é um easter egg inteligente, especialmente por retribuir a influência que os Watchowski retiraram de Terminator, mas, ao final, tudo se assemelha demais a uma masturbação visual semelhante ao que ocorre no restante das boas sequências de ação do filme, que em suma reprisam os erros de tantos outros produtos, com roupagens interessantes e conteúdo nulo, assim como foi com os dois As Panteras e com o que seria a quadrilogia Transformers.

    É curioso que o plot de mútua cooperação entre Connor e um exterminador tenha sido revisitado em Exterminador do Futuro Gênesis, e de maneira igualmente tosca, que resulta também na retirada de protagonista do Messias futurista. Mesmo que rivalize muito em nível de absurdos, O Exterminador do Futuro: A Salvação consegue ser bem mais repleto de conceitos furados, como o que ocorre com o protagonista de Avatar, que tem seu seu poder atrelado a Skynet e no entanto se rebela sem maiores consequências para si, ao contrário, ele é reformado e decide mais uma vez mudar de lado enquanto a inteligência artificial assiste a tudo passivamente.

    Mais do que mero simbolismo, a cena da cirurgia cardíaca, cujo plot e ideia são completamente desnecessários, visa tentar justificar a presença de Wright entre os principais personagens, no entanto a tentativa falha por só exibir um fracassado modo de redenção do roteiro. A insegurança passada durante a produção, que contou até com Bale fazendo um tremendo escândalo, condiz demais com gigantesca confusão que resulta em O Exterminador do Futuro: A Salvação, que até tenta ser salvo, tolamente pelas mãos atabalhoadas de McG, claro, sem sequer arranhar a expectativa de redenção da franquia.

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  • Crítica | A Grande Aposta

    Crítica | A Grande Aposta

    A Grande Aposta 1

    Baseado em uma premissa humorística, tomando por base a pré-crise financeira que acometeu os Estados Unidos em 2008, A Grande Aposta brinca com o mercado de especulação, usando a bolha imobiliária como ponto de partida de seu drama. O lugar comum da jornada ocorre a partir da visão privilegiada de Michael Burr (feito por um Christian Bale inspiradíssimo) que percebe a aproximação do período terrível para a economia mundial.

    A direção surpreendente de Adam McKay consegue reunir na louca história escrita por ele e Charles Randolph (Sexo, Amor e Outras Drogas) – na adaptação do livro de Michael Lewis, o mesmo autor de Moneyball e Um Sonho Possível – um elenco prolífico e muito talentoso. Outros especuladores, liderados por Steve Eisman (Steve Carell) percebem as mudanças do mercado, mas demoram a ceder aos encantos de Greg Lippman (Ryan Gosling), um sujeito sorrateiro e falacioso, que pioneiramente se atenta para os investimentos que sobreviverão ao ambiente quase apocalíptico que se aproxima.

    A experiência em comédias rasgadas, aliadas quase sempre a Will Ferrell, a exemplo de O Âncora e Tudo Por Um Furo, credenciam o diretor a conduzir uma paródia do efervescente mundo de Wall Street, com uma perversão metalinguística, evoluindo o conceito aberto anteriormente por Martin Scorsese em O Lobo de Wall Street, e uma marca pessoal curiosa, atribuída ao seu produtor, que também atua no filme. Além de um Brad Pitt mais preocupado em equilibrar todas as forças da fita do que tornar seu personagem no galã que comumente apresenta.

    O argumento, jocoso em essência, apresenta um mundo masculinizado, se assemelhando em espírito ao universo proposto por Andrew Dominik em O Homem da Máfia, ainda que seja o cinismo, e não a crueldade, a mola motriz da política do filme. Há alguns momentos de interrupção da trama, apresentando a quebra da quarta parede, unicamente para demonstrar ao espectador que toda a realidade exposta ali é digna de risos, com piadas do sofrimento alheio.

    Dentro do trabalho dos homens de Eisman há um bocado de sequências cafonas, apelando para um sentimentalismo extremamente barato. Olhar para este aspecto como um simples erro, ou tentativa de redenção aos homens cheios de retórica, é uma atitude banal, já que a intenção do texto em fazer tais apelos é aludir à necessidade que as cobras têm em gerar esperança em seu público, povo e consumidores, associando ao jogo político um sentimento que em nada condiz com a realidade e com o pragmatismo com que um regime governamental é levado.

    A estilização dos barões industriais não esconde as suas reais intenções, tampouco salvaguarda os exploradores de seus pecados, ao contrário, humanizando os personagens reais, mostrando-os com defeitos, amores não correspondidos e problemas pessoais, aproximando o espectador de uma história praticamente inacreditável por meio de atuações que beiram a perfeição, com um elenco tão afinado que rivaliza com o recente Spotlight – Segredos Revelados em talento conjunto, ainda que sua trama necessite ainda mais desse aspecto do que o filme de Tom McCarthy, diferenciada em praticamente tudo se comparada com seus primos premiáveis. McKay produz uma comédia negra, que em suma desconstrói todo o seu esforço em sua filmografia anterior, já que este é seu produto mais visceral, realista, pessimista e cru.

  • Crítica | Êxodo: Deuses e Reis

    Crítica | Êxodo: Deuses e Reis

    Êxodo - Deuses E Reis 1

    A frieza dos números proferidos antes da ação começar é quase como um alerta, um aviso aos desavisados sobre a morosidade que estava prestes a ocorrer. Passados 1300 anos antes da “era comum”, somados a 400 anos de escravidão do povo hebreu, Ridley Scott foca a parte burocrática da Bíblia para introduzir o público no épico que retrata o segundo livro das escrituras cristãs sagradas, no qual se destaca um povo devoto, apesar das adversidades que ocorrem em seu cotidiano escravagista.

    O Moisés de Christian Bale seria um resistente. Mesmo nas cenas em que é mostrado agindo a favor do país que o acolheu, percebe-se um bocado de hesitação, fruto de uma desconfiança ainda não justificada, visto que o filme começa com o protagonista já adulto. Coincidentemente, a trajetória do Libertador começa semelhante a de outro herói ao qual Bale deu vida, pois Batman e Moisés começam suas jornadas na meia-idade – ainda que em Batman Begins haja variados flashbacks da traumática infância do destemido protagonista, e o segundo já comece mostrando Moisés ornado com vestes douradas, remetendo à condição real do hebreu criado no palácio.

    Um dos pontos facilmente notáveis é a estrutura narrativa “clonada” de Gladiador, talvez o último sucesso indiscutível do diretor. A posição do herói, antes ao lado do tirano império para depois voltar-se contra ele, é a mesma, assim como a estranha coincidência entre Maximus e Moisés, ambos muito admirados por seus mentores, em detrimento da figura que sucederia o trono da instituição monárquica. Reside o primeiro dos muitos problemas de Êxodo na completa ausência de interpretação do estrelado elenco. Quase todas as performances são realizadas no piloto automático, exceção, talvez, de John Turturro, que faz um iluminado Seth – faraó do começo do filme. Sigourney Weaver, Ben Kingsley, Bale e até Joel Edgerton atuam de forma mecânica, com muitas dificuldades de demonstrar qualquer sentimento em tela, o que prejudica demais a rivalidade que deveria haver entre o futuro faraó Ramses (Edgerton) e seu primo/irmão Moisés.

    Apesar do caráter épico da obra e das cenas em CGI serem deslumbrantes, o mesmo não se pode dizer da postura do protagonista. O Libertador de Israel deveria mostrar-se um sujeito em franca evolução, um incrédulo que passa a acreditar no Deus de seus pais e que, com o tempo, retorna a confiança que tinha desde os tempos em que reinava sobre todos. Quanto à primeira parte, não há crítica alguma. Bale consegue interpretar bem o herói falido, mas não consegue ser nada parecido com o colossal personagem bíblico. Não parece a figura imponente que deveria subjugar o inimigo comum do Povo de Deus, representado por Babilônia e Roma em tempos posteriores e neste, mostrado como o Egito. A frase dita pelo príncipe egípcio de que “a verdade não é uma boa história” se encaixa perfeitamente no arquétipo do personagem, ainda que essa “verdade” seja bastante discutível.

    A primeira recusa ao chamado transforma Moisés em um homicida, em uma versão diferente da bíblica, mas fiel em essência e ideia. Esse é o catalisador da mudança que o leva a ser pastor e pai de família. No entanto, a transição é problemática, pois seu retorno à terra dos escravos como um eremita faz Moisés parecer insano, um louco que cedeu à pressão dos muitos anos no deserto, movido por vozes de Um Invisível. O estigma de louco piora ao revelar o comportamento de seu futuro discípulo, Josué, vivido por um Aaron Paul ainda mais entorpecido do que em Breaking Bad.

    Moisés logo abandona o arquétipo de resignado profeta para se tornar um guerrilheiro visionário, liderando os seus como o general que inspira a resistência aos tiranos. Os métodos que começa a usar são pouco ortodoxos, extremamente belicistas, errados aos olhos do Criador. A ideia de mostrar os hebreus insatisfeitos é bela – e válida –, mas soa forçada e inverossímil.

    Há uma tentativa de compensação das falhas de conteúdo com o realismo auto infligido às pragas egípcias. O visual é belo, mas não consegue esconder as terríveis falhas de motivação dos personagens centrais, especialmente o estupefato comportamento do líder israelita, que não tem qualquer segurança em seus mandos e desmandos.

    Nota-se uma leve elevação da qualidade dos filmes de Ridley Scott, mas que é somente notada pela extrema decepção que foram O Conselheiro do Crime, Robin Hood e Prometheus. Moisés é um libertário sem nuances, um líder irresoluto durante a fita inteira, incapaz de evoluir, distante demais do arquétipo de Libertador, como é conhecido na Bíblia Sagrada, não inspirando qualquer confiança ou avidez por mudança. Êxodo: Deuses e Reis tenta ter pompa e procura ser magnânimo, mas sofre os defeitos de concepção, injustificáveis sequer pelo fato de ser um blockbuster.

  • Crítica | Tudo Por Justiça

    Crítica | Tudo Por Justiça

    tudo por justiça

    O silencioso início do filme tem a função de anestesiar o espectador antes de introduzi-lo ao caótico e violento cotidiano de Harlan DeGroat, personagem interpretado por Woody Harrelson. No entanto, o estado de paz é cortado pelas atitudes nada amistosas do truculento homem, tanto com a mulher com quem se encontra quanto com o pobre sujeito que decide interferir na briga “conjugal”. Tudo Por Justiça é apenas o segundo filme em que jovem ator Scott Cooper dirige, precedido pelo bem-sucedido Coração Louco, filme que rendeu a Jeff Bridges seu primeiro Oscar. Cooper mais uma vez se mostra um bom realizador, especialmente em relação ao trabalho com seu elenco.

    Apesar de sua história ser mostrada aos poucos, em breves momentos nota-se que Russell Baze (interpretado por Christian Bale) é um personagem que busca adaptação a algo que não lhe é natural  no caso, um novo estilo de vida, dentro dos conformes da lei. Já de início é mostrado trabalhando exaustivamente para findar seus débitos com John Petty (Willem Dafoe). Sua busca por um modo mais tranquilo de viver é atravessado por um triste evento no qual, por um descuido imperdoável, se envolve num acidente de carro em que uma criança falece. Ele tenta socorrê-la, mas o esforço é em vão e acaba por ser preso. Sua rotina muda radicalmente, mas seu ethos permanece inabalável. Ele demonstra ser um homem de passado sombrio, mas com uma tentativa de manter seu caráter intacto, mesmo com os pecados cometidos. Seu alívio ao se ver livre das barras de metal da penitenciária é carregado de simbolismo, retratando a dupla liberdade do indivíduo, tanto a física quanto a da alma.

    Os primeiros passos, já liberto, vão de encontro a recuperar o tempo perdido, mas suas ações envolvem somente a observação da rotina, tanto a de sua ex, Lena Warren (Zoë Saldana), quanto a triste sina que seu irmão Rodney (Casey Affleck) impôs a si mesmo. Na sua primeira atitude de confronto, ele vê o caçula explicitar seu trauma por ter lutado no Iraque e ter visto muitos horrores, o que de certa forma explica o modo de conseguir o próprio sustento, ainda que seja feito por meio da destruição de seu corpo. A auto-combustão parece ser parte dos destinos os quais os Baze não conseguem fugir. Mesmo diante da mais triste das rejeições, Russell se mostra carinhoso com sua alma gêmea, o que ressalta toda a qualidade de sua moral.

    Resignado, Russell recebe de modo tranquilo as péssimas notícias de que o atentado que cerceou a vida de John Petty, e possivelmente a de Rodney, não pode ser investigado a fundo pelos policiais, graças à falta de cooperação dos populares. Os motivos dessa falta de elucidação são confusos na cabeça de Russell, já que o responsável pela investigação é o novo par de Lena. Muito mais do que isto, a teimosia do ex-presidiário é movida pela esperança de encontrar seu jovem irmão ainda vivo, mesmo que as chances de isso acontecer sejam mínimas.

    O exercício de contenção de Russell torna-se ainda maior quando ele vem a saber do consumado falecimento de Rodney. Assim que ele ouve as palavras definitivas, sua audição é interrompida por um zumbido intermitente e se recolhe, agindo naturalmente, em nada diferente do que vinha fazendo antes, ainda que um leve mudança em seu semblante possa ser percebida. O desejo incontido de finalmente dar vazão ao seu desejo se torna cada vez maior à medida que isto lhe é negado. Ele põe em prática um plano de vingança, engendrado de forma engenhosa mas ainda assim errático, o que torna o ato ainda mais verossímil por conter falhas de concepção e por caracterizar a frieza e crueldade do homem mau. O processo é lento e doloroso, em alguns momentos se assemelha a uma tortura e é curioso o cenário onde tudo ocorre, uma paisagem verde com predominância da luz do dia, contrastando com as trevas da alma de Russell.

    A coragem do personagem  e do roteiro de Cooper e Brad Ingelsky  em dar números finais à vingança é muito grande, visto que o risco de cair no pecado da redenção é muito grande, plausível dado o andar da trama. Outra interessante leitura do filme caracteriza-se pela análise da trajetória sob os olhos de Harlan, visto que ele é, inclusive, o primeiro personagem apresentado, trocando o ponto de vista do herói falido pelo de um anti-heróis que usa a máscara de vilão eventualmente. Dada a multiplicidade de interpretações e de temáticas, a execução de Tudo Por Justiça é assaz competente e rara. Possui narrativa simples mas que em momento algum é descartável ou libertina, ao contrário, apresenta uma história cativante e com personagens reais, como o homem comum.

  • Crítica | Trapaça

    Crítica | Trapaça

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    Trapaça trata de um grupo marginal de trambiqueiros com um nível de atuação modesto a princípio, visto o perigo que os acomete a todo momento. O caminho da quadrilha é atravessado por um agente da lei, que após idas e vindas (e trocas amorosas), decide por unir forças a fim de pegar peixes maiores para sua rede – por parte do agente – e livrar a própria cara – por parte do bando.

    O “cabelo” bagunçado e colado no topo da cabeça de Irving Rosenfeld (Christian Bale) prenuncia os percalços que seu personagem sofrerá a frente da operação. O exercício de contenção que ele faz ao ter o topete desarrumado é impagável e serve inclusive para demonstrar a tensão dentro do ramo que escolheu e o quanto de cautela é necessário para ter uma longa subsistência.

    David O. Russell sabe como ninguém trabalhar a imagem de Amy Adams. Todo filme que ele a dirige, a atriz parece ficar ainda mais bela se comparada a outras produções, sem falar que sua atuação só ascende quando contrastada com trabalhos de outros realizadores (exceção, claro, de O Mestre, de Paul Thomas Anderson). Graças ao seu cuidado, inteligência para os negócios e aos seus talentos dramatúrgicos, Sidney Prosser (ou Edith) constitui o par perfeito para os ardis e mirabolantes planos de Irving, fazendo-o praticar algo inédito para si: utilizar-se de sinceridade com uma mulher. A sensualidade que a ruiva passa para tela é absurda e é de causar frisson em senhores que não se acham mais viris. Grande parte disso deve-se a atuação, uma dos elementos mais acertados do filme, a outra boa parte é graças aos seus belíssimos predicados.

    A movimentação de Richard DiMaso (Bradley Cooper) ainda no início da película reconfigura os papéis apresentados, mostrando um poder de adaptação ímpar por parte dos personagens. A narração de alguns deles garante multiplicidade de óticas relativas ao golpe que será aplicado e lembra a abordagem escolhida por Scorsese em Cassino. Não que isto seja um problema, longe disso.

    A predileção do cineasta por relacionamentos fracassados e baseados em infidelidade ganha mais um capítulo nesta produção. A associação da incorreção conjugal à charlatanice repete o que foi visto em Huckabees: A Vida é uma Comédia, jogando os pecados de “integridade honrosa” no mesmo caldeirão, ainda que, dessa vez, a criminalidade, de fato, faça parte da equação. A diferença básica é que neste roteiro a poligamia é uma bandeira levantada: sua validade não é muito discutida, mas a situação é real e tratada como só mais uma forma de relação entre os homens, sem escolher um partido ou mensagem moral.

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    Victor Tellegio é um ótimo retorno de Robert De Niro a um de seus papéis mais confortáveis. O ator é magistral mesmo aparecendo durante pouco tempo na tela, tirando a má impressão após sua decepcionante participação em A Família, de Luc Besson.  Outros coadjuvantes com presenças diminutas se destacam, como Jack Huston fazendo um mafioso que, ao contrário de seu personagem em Boardwalk Empire, não usa máscara, mas que rouba a cena sempre que a câmera o enquadra. Destaque também para Louie C. K. que melhora a cada participação em longas-metragens.

    Obviamente que as atenções (ainda) estão voltadas para Jennifer Lawrence. Sua personagem é uma das mais imprevisíveis, não é a melhor coisa do filme, evidentemente – nem é a melhor atuação, se comparada a de Amy Adams – mas, ainda assim, sua caracterização guarda boas surpresas e evoca alguns dos bons twists da história. As desventuras da beldade de orgulho ferido garantem situações das mais curiosas e interessantes do roteiro.

    O trâmite do plano final é tão dúbio que chega a ludibriar até o espectador mais atento, visto que é complicado tentar prever os próximos passos do grupo de Irving graças à imprevisibilidade e raciocínio caótico de seu líder.  O nível de envolvimento de cada personagem só é comprovado após o desfecho, e, mesmo com os destinos finais, os que (aparentemente) têm um bom fim, não o têm sem questões incômodas; a perfeição passa longe de suas vidas. O roteiro de Russell e Eric Warren Singer é finalizado com uma mensagem aparentemente idílica e otimista, mas não tão clara, mais uma vez emulando Martin Scorsese (e Nicholas Pileggi) em Os Bons Companheiros. Trapaça é uma ode ao cinema de Scorsese, especialmente à filmografia ligada à temática da criminalidade, e é reverencial, em suma. Portanto, não desrespeita suas referências, ao contrário, as idolatra e lhes dá um tempero de atualidade e contemporaneidade sem maiores complicações.

    Ouça nosso podcast sobre a filmografia de David O. Russel.

  • VortCast 21 | Bret Easton Ellis – Niilismo, Sexo e Psicopatas

    VortCast 21 | Bret Easton Ellis – Niilismo, Sexo e Psicopatas

    Vortcast 21 - Bret Easton Ellis

    Bem-vindos à bordo. Nesta edição, Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Isa Sinay (@isasinay), Jackson Good (@jacksgood), Pedro Lobato (@pedrolobato) e Mario Abbade (@fanaticc) comentam sobre as adaptações para o cinema das obras literárias do escritor norte-americano, Bret Easton Ellis. Os valores sociais são colocados em cheque na visão niilista e distópica do autor, tudo isso em um mundo rodeado de sexo, drogas e rock and roll!

    Duração: 92 mins.
    Edição: Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira

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  • Crítica | Psicopata Americano

    Crítica | Psicopata Americano

    Psicopata Americano não foi um sucesso notável de bilheteria, mas acabou se firmando como um dos filmes mais cultuados do cinema contemporâneo. O misto de violência, cultura pop e a atuação memorável de Christian Bale tornaram o filme uma espécie de clássico cult e referência para o cinema independente.

    Psicopata Americano conta a história de Patrick Bateman, um jovem executivo de Nova York que esconde fortes tendências assassinas. De dia, Bateman senta em seu escritório, almoça no clube e compara cartões de visita, durante a noite ele tortura e esquarteja prostitutas e rivais.

    O personagem de Bateman é apresentado enquanto realiza sua rotina cosmética diária. A precisão com que ele cita cada passo e principalmente cada produto, e a luz dourada que enquadra Bale como uma espécie de quadro ou deus grego deixam claro o que é Patrick Bateman: uma imagem. E no plano final da sequência, ao simbolicamente retirar uma máscara do seu rosto, o personagem confessa que sabe disso.

    Patrick Bateman é uma imagem, uma casca cuidadosamente construída, mas sem nada do lado de dentro. Nada, exceto a obsessão com essa imagem. A cena em que diversos executivos comparam seus cartões de visita é didática: eles são todos iguais, ainda assim cada um precisa ser o melhor.

    O filme é extremamente irônico e o distanciamento de Bateman é tratado de forma precisa e sutil, com destaque para os momentos em que ele discorre longa e academicamente sobre bandas da época, enquanto assassina alguém, assiste duas prostitutas transando ou se prepara para torturá-las. Mary Harron, a diretora do filme, acerta ao contar a história pelo ponto de vista de Bateman sem avisar o espectador disso, o que permite a surpresa e ambiguidade finais.

    A ironia confere ainda um ar absurdo a coisa toda: a violência de Bateman se torna extremamente caricata e no final até improvável; a forma como ele nunca faz nada em seu escritório, exceto palavras cruzadas; a noiva, interpretada por Reese Whiterspoon, que podia facilmente ser a “barbie anos 80”. O filme é uma crítica ácida, mas irônica, que equilibra violência e humor e talvez por isso tenha se tornado tão comentado.

    A direção de arte, os enquadramentos e a trilham reforçam a caricatura. Os figurinos são exatamente aquilo que diz o estereótipo dos anos 80, a direção usa planos e recursos datados, como o zoom e efeitos de transição na montagem e a trilha parece algum tipo de compilação de “top hits” da época. Tudo é extremamente anos 80, os yuppies, a cocaína, as roupas.

    Psicopata Americano critica fortemente o capitalismo e uma sociedade obsessivamente voltada para a imagem. Mas o faz de forma sarcástica e quase auto-acusatória (afinal, o cuidado da direção de arte do filme ecoa o de Bateman com seu corpo), ao contrário do que David Cronenberg fez em Cosmópolis, Psicopata Americano não se apoia em discursos, mas na imagem. Isso tudo, quando aliado ao final duvidoso do filme, parece querer falar de uma loucura que não é só de Bateman, mas própria do sistema.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

    Ouça nosso podcast sobre Bret Easton Ellis.

  • Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

    Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

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    Inestimável é a primeira palavra que se pode ter em mente ao falar de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge. O terceiro filme da trilogia dirigida por Christopher Nolan dá fim a um projeto que mudou a forma como as pessoas enxergam e lidam com filmes de super heróis. Uma forma mais realista e sombria foi apresentada a um público que estava acostumado a um Batman mais “super-herói” e menos próximo à realidade. Nesta conclusão temos o melhor filme da trilogia e provavelmente um dos melhores – se não o melhor – filme de super herói já feito.

    Dark Knight Rises se passa 8 anos após os acontecimentos do filme que o antecede. Somos apresentados à uma Gotham City em paz, com um índice de criminalidade baixo, uma polícia acomodada à tranquilidade e um Batman aposentado (além de um Bruce Wayne recluso). Porém, surge Bane (Tom Hardy), um mercenário que resolve aproveitar esse momento de aparente tranquilidade e fragilidade para colocar em ação seu plano sombrio de destruir Gotham City.

    Primeiramente, é importante ressaltar que a escolha da palavra “Rise” no título – aqui sendo pensada no sentido de “ascender”, ao invés de “ressurgir” como na tradução realizada no Brasil – é muito importante pelas várias formas que ela assume ao longo do filme em diversos momentos. Isso é só um pequeno exemplo com o intuito de dizer que trata-se de uma obra com detalhes muito importantes e que se unem a um todo sem pontas soltas. O roteiro é sólido e extremamente meticuloso, fruto de um trabalho excepcional por parte de Christopher Nolan, Jonathan Nolan e David S. Goyer.

     A trama é forte, tensa e envolvente. Dessa vez, temos um Batman que passa por piores dificuldades, tem seu corpo e sua alma destroçados, mas que ressurge como o verdadeiro herói. Ao mesmo tempo, temos um Batman que se ausenta das cenas pra dar lugar a um personagem também muito importante: a cidade de Gotham. Não somente o protagonista é abalado, como também a cidade se vê obrigada a reagir a um ditador extremista que quer fazer com que o povo conquiste a liberdade através da violência. Em contraposição, temos Batman se tornando um símbolo para que a cidade busque sua própria liberdade e justiça.

    Nolan não só acertou em um bom roteiro como, novamente, acertou em todas suas escolhas de elenco. Christian Bale continua com sua excelente atuação do herói principal, que cativou pessoas do mundo inteiro ao longo dessa franquia. Anne Hathaway, interpretando a Mulher Gato, demonstrou profundidade na atuação de uma personagem que estava em conflito sobre os valores que deveria defender. Tom Hardy interpreta um vilão amedrontador e de personalidade forte e cativante. Seu olhar penetrante ajuda a construir um ar de poder ao personagem que o carrega e sustenta durante toda sua participação no filme. Joseph Gordon-Levitt, por sua vez,  faz o papel do braço direito do Comissário Gordon e esbanja uma impressionante atuação em um personagem de excelente desenvolvimento e de grande importância na trama.

    Toda a trilogia se completa com este final. Todas as pontas se unem e formam uma obra completa e fantástica. Christopher Nolan eternamente será lembrado como o homem que eternizou o Batman nos cinemas. Um verdadeiro presente para todos os fãs.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas

    Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas

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    Depois do impressionante primeiro ato, Christopher Nolan retorna à franquia de Batman para realizar uma produção épica. A consagração que romperia o gênero filme de super-herói para tornar-se um grande filme por excelência.

    Introduzido como gancho na produção anterior, entra em cena a personagem antagônica do Cavaleiro das Trevas, o Coringa. Sua figura é representação máxima da potência de Batman e se popularizou até nas frases que se tornaram seculares entre os fãs.

    A trama se aproxima novamente de histórias conhecidas do herói sem deixar de lado elementos inéditos.  Trabalhando com diversos níveis narrativos, a composição de suas camadas é exemplar. Injusto afirmar que Coringa é a personagem central, sendo claro três polos distintos na narrativa: Harvey Dent como a manutenção da paz perante a lei, Batman como o vigilante que age no limiar desta, e a figura do palhaço como a não-regra, o caos.

    Os enredos se apresentam de maneiras distintas e paralelas, culminando no ápice sem volta em Gotham City. Sob esse aspecto, o diálogo entre Batman e Gordon em Begins já inferia que o surgimento de um super-herói implicaria em uma escalada criminosa. E o que assistimos é justamente uma força impossível de ser sobrepujada.

    Heath Ledger incorpora um Coringa crível e conveniente também com os quadrinhos. O espaço para a piada só se realiza por meio do grotesco, da figura abominável sem limites. Embora a personagem se encontre pouco com o seu rival, definitivas são as cenas em que estão juntos.

    O interrogatório no quartel de Gordon é a chave central do significado entre herói e vilão, uma cena brilhante que, além de seu impacto, tem significado como análise do bem que necessita do mal para existir.  A moeda que trafega nessas vias é o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart), que vai de um extremo a outro, conduzido por Coringa.

    A consistência do elenco comprova que é possível realizar um filme com grandes astros sem a sensação de deslocamento, impressão que tenho assistindo aos diversos filmes da Marvel. Sendo possível trabalhar com um bom elenco sem a sensação de ele estar presente só como divulgação do filme.

    Mesmo que o texto apaixonado não abrace todos os expectadores da produção, uma afirmação é correta: Batman – O Cavaleiro das Trevas tornou-se exemplo a ser copiado. Produziu um marco grandioso nas histórias em quadrinhos que tanto será comparado como tentará ser copiado. Exemplo parecido com o que aconteceu com Matrix, em 1999.

    Mais do que o filme em si, sua força é medida quando, além de uma simples história, uma produção transforma-se em método a ser seguido. Some a isso o fato de que o elemento dramático fez milhões de nerds chorarem no final da trama, que você encontra um épico moderno com a elementar jornada de um herói.

  • Crítica | O Grande Truque

    Crítica | O Grande Truque

    prestige

    A obsessão humana transcendendo os limites do agente que a gerou.

    Quando Christopher Priest foi abordado por produtores interessados em transformar o seu romance em filme através da visão de Chrisptopher Nolan, ele ficou bastante impressionado, pois o autor apreciava os filmes anteriores do diretor (The Following e Amnésia). Em meados dos anos 2000 Nolan terminou de ler o romance e envolveu o seu irmão na produção de um roteiro. Nascia assim O Grande Truque (The Prestige).

    Nolan pretendia terminar este filme antes mesmo de Batman Begins, mas a pressão do seu projeto do morcego era maior e o diretor teve que esperar um pouco para poder finalizar o seu “projeto paralelo”. O que se pensarmos bem, fez muito bem à produção de O Grande Truque (mais grana liberada pelo estúdio), além de facilitar o casting do mesmo, muito graças ao sucesso de Batman.

    O plot inicial soa quase despretensioso: Dois ilusionistas, após terem sido afastados por um trauma em um truque do passado se sucedem em uma obsessão dantesca na busca pelo truque de mágica máximo, gerando tragédias para ambos assim como para as pessoas próximas a eles. Mas dentro deste enredo Nolan explora diversos conceitos interessantíssimos da natureza humana, e extrapola para a ficção gerando inclusive dilemas filosóficos da representação do ‘’Eu’’ e sua natureza transcendental, ou não.

    Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale) são algumas das peças que Nolan tem para revisitar temas que marcariam toda a sua carreira. Um indivíduo obcecado e que está disposto a ir além do que muitos iriam, para alcançar de alguma forma a sua realização, o sentimento de ter cumprido a sua função existencial. Se aqui temos a busca pela fama e o reconhecimento como melhor ilusionista de Londres como foco, em Amnésia esta busca seria a vingança do assassinato de sua mulher, ou mesmo a obsessão de um vigilante mascarado em querer “limpar” uma cidade (e com isso amenizar as dores que o afligem desde criança). Todos eles em diversos momentos transitam em uma linha muito tênue do que consideram moral. Angier e Borden são constantemente questionados pelas pessoas ao seu redor sobre as suas ações, sobre a obsessão que os corrói, mas eles seguem sempre em frente, sempre na busca por algo que os libertará disso tudo. Ingênuos, eles se esquecem de que o caminho espinhoso percorrido deixará cicatrizes permanentes, não importa o quão gratificante seja ter atingido o seu propósito inicial.

    Outro tema recorrente em Nolan é o seu modo de brincar ou questionar a realidade. Seja através de uma lesão cerebral na qual as memórias não se fixam mais, seja através da insônia e um estado mental perturbado ou simplesmente com um truque de mágica. Aqui a metáfora do que é ou não real nunca foi mais clara. Nolan brinca em várias cenas com os truques de ambos, isso somado as reviravoltas do roteiro justificam assistir a obra mais de uma vez.

    Integram o cast de peso Michael Caine, Scarlett Johansson, Andy Serkis e a mais que curiosa participação de David Bowie como o cientista e inventor Nicola Tesla. A fotografia e a produção de arte são fidedignas a Londres do final do século IXX (o que rendeu 2 indicações ao Oscar), cores frias permeiam quase toda a película, representando em grande parte a racionalidade de nossos protagonistas, seus maquinários para os truques e sua amoralidade quando levado em conta seus objetivos. Essa frieza é contrastada em pequenos momentos que clamam mais do emocional humano, principalmente nas cenas de Michael Caine e a linda filha de Borden (Samantha Mahurin), um misto de ingenuidade e deslumbramento ao se deparar com os truques mais simples do mundo ilusionista.

    Vemos aqui que há um preço enorme a se pagar caso não haja limites para a sua obsessão. Seja ele pequeno (um pássaro que morre para o sucesso dos truques de desaparição) ou até mesmo os que podem comprometer de forma irreversível a sua vida. Direta ou indiretamente, Angier e Borden sofrem e muito com isso. Mas dentro deles há impulsos fortes demais para serem ignorados. Fica fácil perceber que não importa se eles serão alcançados ou não, o impulso sempre estará lá, forte e ainda devastador. Os sacrifícios decorrentes de tal perseverança são impactantes e é difícil se manter indiferente. A reflexão resultante de tais atos por si só já valem o filme. Pena que ele muitas vezes acaba passando ao largo da filmografia do diretor como algo menor. Ao meu ver, ele consta entre os melhores filmes de Christopher Nolan.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

  • Crítica | Batman Begins

    Crítica | Batman Begins

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    Demorou certo tempo para a Warner trazer o Cavaleiro das Trevas novamente às telas, após a destruição causada por Schumacher com Batman & Robin. Ao descobrir sobre o interesse da produtora, Christopher Nolan demonstrou sua vontade em realizar um longa-metragem e esboçou breves ideias iniciais a respeito do projeto.

    Antes mesmo de realizar longas reuniões com executivos, Nolan convidou o roteirista David S. Goyer para juntos trabalharem em uma versão do roteiro, ao mesmo tempo em que seu desenhista de produção concebia visualmente as ideias criadas por ambos.

    Quando os executivos puderam conhecer a história de Nolan / Goyer, também tinham em mãos diversos protótipos desenvolvidos a respeito do uniforme e carro da personagem, e também da cidade de Gotham City. Elementos que começaram como testes na garagem de Nolan e tornaram-se presentes no filme.

    Batman Begins não só narra a origem do herói como também é o primeiro marco da narrativa de Nolan. O filme explora a lacuna de sete anos em que Bruce Wayne ficou fora da cidade. Lacuna que, diz o diretor, nem mesmo foi explorada em gibis.

    A personagem dos quadrinhos aproxima-se daquela vista nas telas: um homem que realizou uma jornada interior e teve maciço treinamento com diversos mestres para tornar-se aquilo que ambicionava. Além da composição como um herói, conhecemos também o pequeno círculo de confiança de Bruce Wayne: Alfred, o paternal mordomo, Lucius Fox, mentor tecnológico do morcego e Jim Gordon, o policial que lhe inspira confiança.

    Antes de o personagem vestir o manto, a história apresenta a jornada de Bruce Wayne. Nela, é desenvolvida a psicologia desde sua infância, com seu medo pelos morcegos, e as maneiras necessárias para explorar o terror interno. Antes mesmo de o público ver o Homem Morcego, há confiança e credibilidade na jornada estabelecida por Wayne.

    As tramas apresentadas são costuradas com perfeição. Inicialmente, Batman desenvolve uma luta contra a máfia da cidade, tentando ajudar a promotora Rachel. Conforme adentra as investigações, descobre que o Dr. Jonathan Crane aproveita-se do contrabando para desenvolver uma droga própria que impele o medo. A jornada do morcego constitui-se em uma luta com elementos ainda desconhecidos por ele.

    Batman foi criado para ser um tanque de guerra em forma de homem. Tem o aparato necessário e conhece as lutas marciais mais definitivas. Nolan não queria transformar a violência em espetáculo, mas sim em um elemento que assustasse o público. Dessa forma, oferece-se credibilidade à composição da personagem.

    A produção foi rodada quase inteiramente em locações ou estúdio, utilizando muito pouco do CG. Boa parte da cidade de Gotham foi levantada em grandes estúdios; a cena da caverna possui, de fato, um lago submerso e até mesmo o batmóvel foi construído como um veículo funcional de verdade, com quatro metros e mais de duas toneladas.

    Os elementos constituem uma realidade crível para o espectador. É retirado da personagem seu conceito colorido dos filmes anteriores, compondo um ambiente sombrio e real. Por conseguinte, estabelece-se com eficiência a composição de Christian Bale entre Bruce Wayne e Batman. Dando vazão e justificativa a um homem que a noite vira um símbolo.

  • Crítica | O Vencedor

    Crítica | O Vencedor

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    David O. Russel transporta para as telas a história do peso-leve Micky Ward, boxeador conhecido pela sua resistência nos ringues onde com frequência costumava suportar vários rounds de castigo até seu adversário apresentar cansaço e ele dar a volta por cima, bastante parecido com o nosso lutador de Jiu-Jitsu e MMA, Antonio Rodrigo Nogueira, o “Minotauro”.

    Com sete indicações ao Oscar, sendo ganhador de dois deles com Christian Bale e Melissa Leo como atores coadjuvantes, O Vencedor traz um relato sincero de Micky Ward (Mark Wahlberg). Na trama sabemos um pouco do passado do seu irmão, Dicky Eklund (Bale), através de entrevistas para um documentário da HBO. Dicky ficou conhecido por ser o pugilista que derrubou Sugar Ray Leonard durante os anos 70, mas que acabou sendo derrotado, de acordo com ele, injustamente.

    Micky sempre coloca sua família em primeiro plano, mesmo que isso signifique estragar sua carreira como pugilista, já que Dicky e sua mãe só  o colocam em lutas que acabam denigrindo sua imagem e promovendo seus adversários. Sua carreira de boxeador é um fracasso e o tempo está passando para ele, seu irmão e exemplo, Dicky, está completamente afundado no crack. Micky passa sua vida sem perspectivas de um futuro de sucesso, mas tudo isso muda quando ele se envolve com um garota local e decide fazer uma mudança brusca em sua vida.

    Com uma trama que teria tudo para se tornar uma convenção de estereótipos e clichês, O Vencedor consegue ir muito além de um filme de boxe e superação como a grande maioria. Seja pelas excelentes atuações mostrando o quão reais e complexos são os personagens apresentados em tela, seja pelo roteiro convencional, mas que acrescenta verossimilhança a história ou mesmo pela direção com caráter bastante documental em todo o longa.

    E por falar em atuações, Bale rouba a cena com seu personagem, que apesar de todos os seus problemas e defeitos é impossível não se cativar, seja pela sua esperança em retornar aos ringues ou com sua relação com seu irmão, demonstrando o carinho que tem com o irmão mais novo e a experiência nos ringues ao dar dicas fundamentais para vitória do Micky.  Alice, mãe de Micky, Dicky e mais sete filhas é interpretada por Melissa Leo, uma mulher que se mostra motivada por interesses financeiros e deixa visível sua preferência por Dicky, invés do irmão mais novo. É difícil não odiá-la por suas decisões.

    Não menos importantes que os supra-citados acima, temos Amy Adams interpretando a namorada de Micky, uma jovem forte e decidida, com um passado difícil que vê uma oportunidade de redenção ao ajudar Micky e ela própria. E por falar em Micky, Mark Wahlberg se mostra humilde, pois apesar de ser o produtor e protagonista do filme, em nenhum momento ele tenta se tornar maior que o restante do elenco. Seu personagem por exemplo, apesar de discreto é notável toda a angústia guardada dentro dele. Micky mostra que apesar de ser um lutador é uma pessoa extremamente pacífica e demonstra seu desconforto até mesmo ao confrontar seus familiares. O relacionamento de Micky e Dick é o ponto alto do longa, pois mesmo com os maiores problemas e mágoas entre os dois, ambos se mostram unidos.

    Russel se mostra extremamente competente em levar o filme de forma documental, utilizando até mesmo as câmeras da HBO nas filmagens. A fotografia dá o tom decadente, deprimente e realista ao retratar seus personagens e a cidade de Lowell, o mesmo vale para a escolha do elenco, onde todos se mostram em perfeita sintonia. Impossível não se sensibilizar com a cena onde Dicky canta os versos de “I Started a Joke” dos Bee Gees para sua mãe, o dilema de Micky em aceitar seu irmão novamente como treinador ou mesmo quando é exibido o documentário sobre o crack, mostrando os efeitos devastadores sobre Dicky, uma realidade nua e crua do crack onde vemos um homem completamente devastado e o choque de sua família ao ver onde ele chegou.

    O Vencedor não é um filme sobre boxe e sim sobre adversidades e família. Seus personagens são repletos de dúvidas e problemas. Assim como a vida.

    Ouça nosso podcast sobre a filmografia de David O. Russel.

  • VortCast 03 | Oscar 2011

    VortCast 03 | Oscar 2011

    Bem Vindos à bordo. Em nossa terceira edição, comentamos sobre a maior festa do cinema mundial. E nesse bate-papo contamos com Flávio Vieira (@flaviopvieira), Bruno Hecates, Levi Pedroso (@levipedroso), Mario Abbade (@fanaticc), Rafael Moreira (@_rmc) e Érika Ribeiro(@erika_ribeiro) para comentar sobre este grande evento da indústria cinematográfica. Saibam as curiosidades por trás do evento, os grandes favoritos e acima de tudo, como não levá-lo nem um pouco a sério (assim como está edição) neste podcast. And The Oscar Goes to…

     

    Duração: 67 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na edição

    Seriadores Anônimos
    PodPipoca

    Melhor filme

    • A Rede Social
    • O Discurso do Rei
    • Cisne Negro
    • O Vencedor
    • A Origem
    • Toy Story 3
    • Bravura Indômita
    • Minhas Mães e Meu Pai
    • 127 Horas
    • Inverno da Alma

    Melhor diretor

    • David Fincher – A Rede Social
    • Tom Hooper – O Discurso do Rei
    • Darren Aronofsky – Cisne Negro
    • Joel e Ethan Coen – Bravura Indômita
    • David O. Russell – O Vencedor

    Melhor ator

    • Jesse Eisenberg – A Rede Social
    • Colin Firth – O Discurso do Rei
    • James Franco – 127 Horas
    • Jeff Bridges – Bravura Indômita
    • Javier Bardem – Biutiful

    Melhor atriz

    • Annette Bening – Minhas Mães e Meu Pai
    • Natalie Portman – Cisne Negro
    • Nicole Kidman – Rabbit Hole
    • Michelle Williams – Blue Valentine
    • Jennifer Lawrence – Inverno da Alma

    Melhor ator coadjuvante

    • Mark Ruffalo – Minhas mães e meu Pai
    • Geoffrey Rush – O Discurso do Rei
    • Christian Bale – O Vencedor
    • Jeremy Renner – Atração Perigosa
    • John Hawkes – Inverno da Alma

    Melhor atriz coadjuvante

    • Helena Bonham Carter – O Discurso do Rei
    • Melissa Leo – O Vencedor
    • Amy Adams – O Vencedor
    • Hailee Steinfeld – Bravura Indômita
    • Jacki Weaver – Reino Animal

    Melhor roteiro original

    • Minhas Mães e Meu Pai
    • O Vencedor
    • A Origem
    • O Discurso do Rei
    • Another Year

    Melhor roteiro adaptado

    • A Rede Social
    • 127 Horas
    • Bravura Indômita
    • Toy Story 3
    • Inverno da Alma

    Melhor longa-metragem de animação

    • Como Treinar o Seu Dragão
    • O Mágico
    • Toy Story 3

    Melhor direção de arte

    • Alice no País das Maravilhas
    • Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1
    • A Origem
    • O Discurso do Rei
    • Bravura Indômita

    Melhor fotografia

    • Cisne Negro
    • A Origem
    • O Discurso do Rei
    • A Rede Social
    • Bravura Indômita

    Melhor figurino

    • Alice no País das Maravilhas
    • I am Love
    • O Discurso do Rei
    • Bravura Indômita
    • The Tempest

    Melhor documentário (longa-metragem)

    • Exit Through the Gift Shop
    • Gasland
    • Inside Job
    • Restrepo
    • Lixo Extraordinário

    Melhor documentário (curta-metragem)

    • Killing in the Name
    • Poster girl
    • Strangers no More
    • Sun Come Up
    • The Warriors of Qiugang

    Melhor edição

    • Cisne Negro
    • O Vencedor
    • O Discurso do Rei
    • 127 Horas
    • A rede social

    Melhor filme de língua estrangeira

    • Biutiful (México)
    • Dogtooth (Grécia)
    • In a Better World (Dinamarca)
    • Incendies (Canadá)
    • Outside the Law (Argélia)

    Melhor trilha sonora original

    • Como Treinar seu Dragão –  John Powell
    • A Origem – Hans Zimmer
    • O Discurso do Rei – Alexandre Desplat
    • 127 Horas – A.R. Rahman
    • A Rede Social – Trent Reznor e Atticus Ross

    Melhor canção original

    • “Coming home”, de “Country Strong”
    • “I see the light”, de “Enrolados”
    • “If I rise”, de “127 horas”
    • “We belong together”, de “Toy Story 3”

    Melhor curta-metragem

    • The Confession
    • The Crush
    • God of Love
    • Na Wewe
    • Wish 143

    Melhor curta-metragem de animação

    • Day & Night
    • The Gruffalo
    • Let’s Pollute
    • The Lost Thing
    • Madagascar, carnet de voyage

    Melhor edição de som

    • A Origem
    • Toy Story 3
    • Tron: O Legado
    • Bravura Indômita
    • Incontrolável

    Melhor mixagem de som

    • A Origem
    • O Discurso do Rei
    • Salt
    • A rede Social
    • Bravura Indômita

    Melhores efeitos visuais

    • Alice no País das Maravilhas
    • Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1
    • Além da Vida
    • A Origem
    • O Homem de Ferro 2

    Melhor maquiagem

    • Minha Versão Para o Amor
    • Caminho da Liberdade
    • O Lobisomem