Tag: Bret Easton Ellis

  • Crítica | Vale do Pecado

    Crítica | Vale do Pecado

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    Uma estrela decadente, com o rosto completamente deformado devido a inúmeras plásticas mal sucedidas, unido a ela no elenco principal, um ator de filmes pornô sem experiência quase nenhuma no cinema tradicional, e que faz um papel semelhante ao de sua própria vida, unido a isso, um orçamento irrisório de 155 mil dólares obtido através de um site de financiamento coletivo – e tudo isso, encabeçado por uma das grande mentes do cinema mundial, mas que jamais conseguiu se adequar a panela, mesmo após uma carreira de sucessos memoráveis. The Canyons tinha tudo para ser mais um sub-produto e filme b genérico – e tem todos os elementos disso, fora os já citados – mas não é.

    A iconografia visual é caricata e lembra muito alguns aspectos de produtos de categoria XXX, graças principalmente a fotografia de John de Fazio, que colabora e muito para manter a artificialidade da obra – artifício este auto-declarado por Bret Easton Ellis – a câmera captura a superficialidade da juventude contemporânea de uma forma tão crua e expositiva que chega a ser tocante e totalmente não condizente com o cinema atual.

    A fita foi oferecida para muitos festivais, mas era quase sempre recusada graças a sua baixa qualidade e as polêmicas que envolviam sua produção – principalmente na espinhosa questão entre Lindsay Lohan x Paul Schrader. A atuação da tresloucada e quase ex-atriz é fenomenal no que se propõe – demonstrar uma mulher que já brilhou muito, mas que está longe dos holofotes, e optou por uma vida marginal. James Deen – que faz o produtor audiovisual Christian – é tão pessimamente dramático e tão fraco que consegue convencer o público de que ele é um sujeito mau por essência, sem espaço para nenhuma dimensionalidade que não esta – ele é o canalha, egoísta e controlador por essência. Essas caracterizações aliadas ao ofício de Christian garantem um caráter metalinguístico surreal ao filme.

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    Ciúmes, controle de informação, invasão de privacidade: demonstrações de atos dos personagens, na maioria das vezes executados sem nenhuma razão aparente. O roteiro de Ellis mostra mais uma vez uma geração sem causa ou motivação maior do que os seus próprios desejos e anseios mesquinhos e individualistas. Seu sub-texto é muito mais rico do que o parco elenco conseguiria transmitir. Em um ponto do filme, Christian declara a sua amada como ele funciona: “Eu te amo, mas do meu jeito!” – até o sentimento que deveria simbolizar atenção ao outro é retratado de forma narcisista. Mesmo nas outras relações mostradas o mesmo acontece, todos os personagens são obcecados e não se permitem viver – e principalmente perder o que lhes faz bem – não há redenção ou saída fácil, não há para quem torcer.

    Lindsay Lohan ainda possui talento, pena que todo esse potencial esteja chafurdado, escondido debaixo de uma completa ausência de rotina e vida regrada. Se ela tivesse maior disposição, certamente seria cogitada para mais trabalhos com grandes diretores. Schrader também merecia uma sorte maior, visto que tem um olho raro para situações do cotidiano, e as registra de forma emocional, agressiva e visceral.

    Ouça nosso podcast sobre Bret Easton Ellis.

  • Crítica | Informers: Geração Perdida

    Crítica | Informers: Geração Perdida

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    Informers – Geração Perdida é um filme de 2008 dirigido por Gregor Jordan, com roteiro de Nicholas Jarecki e Bret Easton Ellis – que, além de roteirista, é o escritor do livro em que o filme se baseia. Assim como suas obras anteriores, Ellis retoma aqui seus temas recorrentes: um universo de niilismo, almas perdidas e sempre cometendo excessos em uma vã esperança de preenchimento do seu vazio interior.

    Informers tem um formato parecido com o de uma novela. Há diversos núcleos de personagens que se conectam brevemente, sem grandes conexões físicas entre elas. Há, por exemplo, o porteiro de um um prédio (Brad Renfro) que deseja tornar-se ator mas, após tentar se desvencilhar de uma vida indigna do passado, é arrastado de volta a ela por seu tio (Mickey Rourke), um criminoso e viciado.

    Há também o casal formado por Kim Basinger e Billy Bob Thornton. Os dois tentam retomar um casamento de aparências depois de um caso do marido com uma âncora de jornal (Winona Ryder), que se relaciona com ele apenas pela sua posição de produtor de TV. O casal é desacreditado até mesmo pelos filhos. Um deles, Graham (Jon Foster), se vê em um triangulo – amoroso não seria o correto, e sim sexual – junto com Martin (Austin Nichols) e Christie (Amber Heard), e todos se encontram perdidos em meio a seus vícios e os falta de coragem, ou força, para retomar o controle de suas vidas.

    Apesar das breves conexões entre os personagens, o que verdadeiramente conecta a todos na história é a desgraça e a decadência. Se o formato pode ser parecido com o de um folhetim, seus temas e impacto não. Não existe redenção para nenhuma dessas pessoas. O paraíso de riqueza e a “terra do faça o que quiser” cobram o seu preço; seja pela AIDS, numa época em que a doença ainda não tinha esse nome, seja pela vida miserável, vazia e sem esperança.

    Qualquer traço de humanidade do filme não consegue passar dos minutos iniciais, quando, num velório de um amigo em comum, um dos personagens demonstra afeto e dor pela perda daquele que está sendo velado. Com isso, ele já não faz mais parte daquele universo e não aparece mais durante o longa.

    Em Informers não existe conclusão. Propositalmente, o filme não tem terceiro ato, justamente para mostrar a falta de perspectiva daquelas vidas e, assim, criticar e questionar a própria sociedade que dá origem a uma narrativa como essa: os ricos Yuppies da década de 80. Assim, Informers diz qual é o destino das pessoas se tomarem essas mesmas atitudes, que é a própria ruína e decadência.

    Justamente por sua construção, o filme talvez não seja tão interessante quanto as adaptações anteriores das obras de Brett Easton Ellis, como Psicopata Americano ou Regras da Atração. Mas, ainda assim, é uma boa pedida, tanto para os já apresentados a esse universo de perdição, sexo e drogas em função da sua crítica social quanto para aqueles que não dispensam uma obra sobre um mundo distópico. Apesar das formas, estilo e tecnologia serem do passado, o filme retrata uma distopia em que quase todos os nossos valores comuns foram abandonados em troca de uma vida que gira apenas em torno de si própria, sem possibilidade de avanço, como um vírus silencioso e mortal, que faz com que o tom dourado do sol, presente durante todo o longa, dê lugar a um céu escuro e nublado.

    Ouça nosso podcast sobre Bret Easton Ellis.

  • Crítica | Abaixo de Zero

    Crítica | Abaixo de Zero

    Em 1985, Bret Easton Ellis chocou todo um público quando lançou seu primeiro romance “Less Than Zero” (Abaixo de Zero na tradução nacional), o qual mostrava de uma forma diferente, pessimista e quase agressiva a classe de pessoas com maior poder aquisitivo na sociedade. Em 1987, o diretor Marek Kanievska faz uma adaptação homônima e leva a visão de Ellis para os cinemas.

    Abaixo de Zero conta a história de três jovens que se formaram juntos no Ensino Médio: Julian (Robert Downey Jr.), Clay (Andrew McCarthy) e Blair (Jami Gertz). Após vários anos distante de seus amigos, por ter ido para a Universidade, Clay é chamado por sua ex-namorada, Blair, para visitá-los. Chegando de volta à sua terra natal, Clay encontra seu amigo Julian completamente entregue ao vício por drogas e tenta ajudá-lo.

    A primeira coisa a se dizer de Abaixo de Zero é que o filme é um soco no estômago. Marek é bem sucedido ao adaptar a realidade de jovens ricos, mas que se entregam a uma vida de sexo e drogas em excesso, ausentes de qualquer esperança. É exatamente isso que se trata este filme: a falta de esperança. Esta ganha forma pelo fato de que é praticamente impossível fazer um viciado largar o seu vício.

    O filme apresenta várias cenas significativas que constroem a atmosfera decadente da narrativa. A atuação de Robert Downey Jr. é arrebatadora ao interpretar Julian que, além de viciado, foi expulso de casa e está devendo uma grande quantia em dinheiro para seu traficante. Seu personagem vai se mostrando cada vez mais ao longo do filme, mostrando devagar ao expectador o quão fundo ele está dentro do poço e o que faz para conseguir um pouco de droga. Os sentimentos são fortes e expressivos por parte do ator a retratar tudo isso. McCarthy e Gertz não são excepcionais, mas cumprem uma atuação satisfatória para seus personagens, desesperados ao ver um amigo decadente e tentando ajudá-lo.

    Toda essa decadência do personagem Julian se contrapõe, durante toda a extensão do filme, com as ambientações de Los Angeles, Bel Air e Palm Springs. Mansões, ruas limpas, carros caríssimos, glamour. Dentro de todo esse lugar visualmente intocável, a existência de elementos de podridão. Jovens que representavam “o futuro da nação” completamente entregues à aceitação da decadência de suas vidas.

    Abaixo de Zero é forte e expressivo. Todos os elementos do filme são muito bem colocados em sintonia com sua narrativa, o que o torna mais significativo ainda.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

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  • VortCast 21 | Bret Easton Ellis – Niilismo, Sexo e Psicopatas

    VortCast 21 | Bret Easton Ellis – Niilismo, Sexo e Psicopatas

    Vortcast 21 - Bret Easton Ellis

    Bem-vindos à bordo. Nesta edição, Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Isa Sinay (@isasinay), Jackson Good (@jacksgood), Pedro Lobato (@pedrolobato) e Mario Abbade (@fanaticc) comentam sobre as adaptações para o cinema das obras literárias do escritor norte-americano, Bret Easton Ellis. Os valores sociais são colocados em cheque na visão niilista e distópica do autor, tudo isso em um mundo rodeado de sexo, drogas e rock and roll!

    Duração: 92 mins.
    Edição: Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira

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    Comentados na edição

    Crítica Abaixo de ZeroCompre aqui
    Crítica Psicopata AmericanoCompre aqui
    Crítica Regras da AtraçãoCompre aqui
    Crítica Informers – Geração PerdidaCompre aqui

    Bibliografia do autor

    Abaixo de Zero (em português)
    Regras da Atração (em inglês)
    Psicopata Americano (em português)
    The Informers (em inglês)
    Glamorama (em português)
    Lunar Park
    (em português)
    Suítes Imperiais (em português)

    Dicas de Materiais Relacionados

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  • Crítica | Regras da Atração

    Crítica | Regras da Atração

    Regras da Atração, baseado no livro homônimo de Bret Easton Ellis e dirigido por Roger Avary e considerado um dos trabalhos mais significativos do mesmo como diretor. Assim como os demais trabalhos de Ellis, vai se focar em uma geração perdida e vazia, de jovens ricos, os quais se entregam às drogas e ao sexo.

    A história do filme vai se envolver nos conflitos e confusões amorosas de alguns jovens: Sean (interpretado por James Van Der Beek), traficante de drogas na universidade de New Hampshire, o qual é apaixonado por Lauren (Shannyn Sossamon), que está guardando sua virgindade para Victor (Kip Pardue), o qual já namorou Paul (Ian Somerhalder), que por sua vez só possui olhos para Sean.

    Durante toda a narrativa, somos apresentados aos fatos através dos olhos de Sean, Lauren e Paul, muitas vezes inclusive repetindo algumas cenas com o intuito de mostrar as mesmas situações, mas dos olhos de cada um deles. Essa é a primeira coisa a se dizer sobre o filme, o qual explora esses momentos com vários recursos divertidos e muito válidos à trama. Temos a “rebobinação” de cenas e o uso de “Split-screen” (tela dividida em duas). Em uma das cenas, duas câmeras se encontram e se unem a partir do momento em que Sean e Lauren se encontram também. Alguns momentos do filme são muito significativos e mesclam bem ao jogo de câmeras utilizados.

    Alguns podem achar que se trata de mais um filme do estilo de “American Pie”, mas aqui cabe uma ressalva, pois Regras da Atração não busca apenas mostrar o lado divertido da vida de jovens pansexualistas. Breast Easton Ellis é conhecido por retratar uma geração vazia de uma juventude entregue aos prazeres e a efemeridade da vida.

    Por mais que Regras da Atração possua esse lado divertido, temos situações que beiram o desesperador. Sean recebia cartas de uma admiradora secreta, a qual acreditava ser Lauren. Em determinado momento do filme uma garota completamente desconhecida ao espectador se mata em uma banheira, em uma das cenas de suicídio mais significativas que pude ver em filmes – e não pelo explícito da cena, mas pelo o que ela passaria a significar. Em flashbacks o diretor nos mostra a garota em dezenas de cenas anteriores do filme, porém em posições secundárias. Avary nos faz sentir que assim como Sean havia ignorado a a existência da sua real admiradora secreta no seu dia a dia, nós também a ignoramos. Os espectadores eram cúmplices de Sean ao fazê-la se sentir extremamente solitária, perder as esperanças e se matar.

    Tudo o que acontece leva a um fim onde todos os personagens acabam se entregando para a própria decadência e se conformando com ela. Regras da Atração é uma jornada a um mundo de jovens irreverentes e sem escrúpulos. As atuações são significativas para somar positivamente à narrativa deste filme. Avary adaptou muito bem os sentimentos, os quais Ellis é conhecido por passar em suas obras.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

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  • Crítica | Psicopata Americano

    Crítica | Psicopata Americano

    Psicopata Americano não foi um sucesso notável de bilheteria, mas acabou se firmando como um dos filmes mais cultuados do cinema contemporâneo. O misto de violência, cultura pop e a atuação memorável de Christian Bale tornaram o filme uma espécie de clássico cult e referência para o cinema independente.

    Psicopata Americano conta a história de Patrick Bateman, um jovem executivo de Nova York que esconde fortes tendências assassinas. De dia, Bateman senta em seu escritório, almoça no clube e compara cartões de visita, durante a noite ele tortura e esquarteja prostitutas e rivais.

    O personagem de Bateman é apresentado enquanto realiza sua rotina cosmética diária. A precisão com que ele cita cada passo e principalmente cada produto, e a luz dourada que enquadra Bale como uma espécie de quadro ou deus grego deixam claro o que é Patrick Bateman: uma imagem. E no plano final da sequência, ao simbolicamente retirar uma máscara do seu rosto, o personagem confessa que sabe disso.

    Patrick Bateman é uma imagem, uma casca cuidadosamente construída, mas sem nada do lado de dentro. Nada, exceto a obsessão com essa imagem. A cena em que diversos executivos comparam seus cartões de visita é didática: eles são todos iguais, ainda assim cada um precisa ser o melhor.

    O filme é extremamente irônico e o distanciamento de Bateman é tratado de forma precisa e sutil, com destaque para os momentos em que ele discorre longa e academicamente sobre bandas da época, enquanto assassina alguém, assiste duas prostitutas transando ou se prepara para torturá-las. Mary Harron, a diretora do filme, acerta ao contar a história pelo ponto de vista de Bateman sem avisar o espectador disso, o que permite a surpresa e ambiguidade finais.

    A ironia confere ainda um ar absurdo a coisa toda: a violência de Bateman se torna extremamente caricata e no final até improvável; a forma como ele nunca faz nada em seu escritório, exceto palavras cruzadas; a noiva, interpretada por Reese Whiterspoon, que podia facilmente ser a “barbie anos 80”. O filme é uma crítica ácida, mas irônica, que equilibra violência e humor e talvez por isso tenha se tornado tão comentado.

    A direção de arte, os enquadramentos e a trilham reforçam a caricatura. Os figurinos são exatamente aquilo que diz o estereótipo dos anos 80, a direção usa planos e recursos datados, como o zoom e efeitos de transição na montagem e a trilha parece algum tipo de compilação de “top hits” da época. Tudo é extremamente anos 80, os yuppies, a cocaína, as roupas.

    Psicopata Americano critica fortemente o capitalismo e uma sociedade obsessivamente voltada para a imagem. Mas o faz de forma sarcástica e quase auto-acusatória (afinal, o cuidado da direção de arte do filme ecoa o de Bateman com seu corpo), ao contrário do que David Cronenberg fez em Cosmópolis, Psicopata Americano não se apoia em discursos, mas na imagem. Isso tudo, quando aliado ao final duvidoso do filme, parece querer falar de uma loucura que não é só de Bateman, mas própria do sistema.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

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