Tag: Anne Hathaway

  • Crítica | As Trapaceiras

    Crítica | As Trapaceiras

    As Trapaceiras começa em um bar, mostrando um homem grande, bonito esperando. Ele é  é enganado por Madison, que na verdade é Penny Rust, personagem de Rebel Wilson que mente sobre sua aparência em um encontro marcado on line. Enganar homens não é seu único pecado ligado a falsidade, uma vez que já nesse inicio, ela foge da polícia, utilizando seu vestido preto para fingir que é uma sacola de lixo. Não demora a aparecer o outro fator feminino nessa equação, a também enganadora Josephine Chesterfield, de Anne Hathaway, que utiliza seu corpo belo e rosto angelical para seduzir, intoxicar e extorquir homens tarados e babões.

    Há uma entrada animada, bem ao estilo dos filmes da Pantera Cor de Rosa com Peter Sellers, e a trama passa por cassinos, jogos de azar. Curioso que o filme que é uma refilmagem do clássico de 1988 Os Safados busca referencias em outras comédias de gênero para iniciar seu drama.

    Ao contrario de Rebel, Josephine não se expõe tanto, é mais discreta, mas só um pouco menos, pois finge ser uma mulher falida, munida de parceiros de crime, em uma versão bem mais inspirada da picareta que fez  em Oito Mulheres e um Segredo, embora aqui, os seus cúmplices sejam reais parceiros seus, e não uma gangue mal improvisada.

    O caminho das duas trambiqueiras se cruza, em um trem luxuoso, onde uma está trabalhando e outra aparentemente está de folga. A alma galhofeira de uma provoca curiosidade na outra, e elas acabam se juntando, para um trabalho no futuro. O grande problema é que a diferença enorme de estilo de Hattaway e Wilson acaba gerando uma falta de química, inicialmente, mas que é resolvida rapidamente, com a inteiração mais intima entre elas para algo além do clichê da super parceria.

    A motivação para que as duas se juntem é um trabalho grande que surgiu. Há uma concordância entre ambas, sobre porque mulheres são melhores enganando do que homens, uma vez que o macho pensa sempre ser alfa, o mais inteligente do bando, os mais esperto e bem preparado sempre, então, subestima as capacidades femininas, de ardis e de desonestidade. Fato é que as duas, mesmo sendo de biótipos e físicos bem diferentes normalmente conseguem o que querem, normalmente utilizando a oferta de sexo para atingir seu alvo.

     Apesar de não reinventar a roda, o roteiro garante bons momentos no choque cultural que as duas tem. Enquanto uma é uma perfeita dama,esnobe e que pretende ser uma mentora da primeira, a outra é maloqueira, extravagante e voluntariosa, escandalosa em alguns momentos, e por mais que Josephine se considere melhor também em seduzir homens, Penny tem seus meios. Não demora até as duas começarem a competir, em uma briga infantil e que dá vazão a maneira mais divertida de inteiração que elas poderiam ter entre si.

    A aposta no humor de constrangimento é muito acertada, e essa versão apesar de não ser tão brilhante quanto os Safados, mas tem seu charme e identidade própria. No final, apesar de haver uma coalizão meio boba para um filme atual, se nota uma bela inteiração entre Hathaway e Wilson, que melhoram muito, incluindo aí a cena pós crédito, engraçadíssima.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Crítica | Calmaria

    Crítica | Calmaria

    “Isso muito Black Mirror!”. A frase que se transformou em uma espécie de meme na internet poderia se encaixar aqui. Vejam bem, poderia. Caso Calmaria fosse um bom filme, com certeza seria comparado a algum episódio da bem sucedida série sci-fi que tem surpreendido pessoas por seus roteiros inventivos. Entretanto, esse thriller estrelado por Matthew McConaughey e Anne Hathaway só conseguiu me remeter ao clássico trash O Passageiro do Futuro.

    Dirigido e roteirizado por Steven Knight, britânico que roteirizou o sensacional Senhores do Crime (dirigido pelo mestre David Cronenberg), escreveu e dirigiu o ótimo Locke (estrelado unicamente por um inspiradíssimo Tom Hardy), além de fazer parte das ótimas séries Peaky Blinders e Taboo, ao mesmo passo que cometeu os argumentos de A Garota na Teia de Aranha e de O Sétimo Filho, seu novo longa é um thriller neo-noir estrelado pela proeminente dupla de atores mencionada acima (McConaughey e Hathaway), Djimon Hounson, Diane Lane e Jason Clarke. Na trama, um pescador obcecado em fisgar um atum que ele jura o provocar pessoalmente é procurado por um antigo amor de seu passado que quer o contratar para matar seu marido. Enquanto se decide sobre cometer ou não o assassinato, fatos estranhos passam a acontecer ao redor do pescador.

    O roteiro é uma completa bagunça. A tentativa de Knight criar algo “inteligente” acaba se tornando somente pedante. O cineasta tenta incluir elementos de clássicos literários como O Velho e o Mar e Moby Dick, mas o faz de forma rasa e pretensiosa. Pior, só faz a história se tornar mais desagradável ao paladar do espectador. Ao longo do desenvolvimento da trama, elementos noir são adicionados, mas de forma atabalhoada e incoerente. Aos trancos e barrancos a história vai se tornando cada vez mais sentido e cômica até culminar em um plot twist que praticamente cospe na cara do espectador. Nem M. Night Shyamalan em seus piores momentos conseguiu conceber algo tão bizarro quanto o que é visto em tela.

    No que diz respeito à direção, Knight é ainda mais equivocado. O cineasta não consegue criar um clima decente de mistério e todas as suas tentativas de subir o tom soam bregas. Há um momento especial que resume isso: a primeira aparição de Hathaway. É uma cena tão caricata que poderia estar Uma Cilada para Roger Rabbit. O que deveria causar admiração, causa risada. A direção passeia com a câmera mostrando detalhes da atriz. Sua aliança é mostrada em destaque, sua forma de andar, a trilha sonora ganha um tom mais solene… até que ela diz que vai pagar a bebida do personagem de McConaughey. Nesse momento há um movimento de câmera súbito que fecha no rosto de Hathaway fazendo uma tentativa de expressão de femme fatale enquanto corta subitamente para McConaughey engolindo a bebida rápido em um momento de surpresa. Não tive como não pensar no clássico filme de Robert Zemeckis. A diferença é que Eddie Valiant (Bob Hoskins) e Jessica Rabbit atuam muito melhor que a dupla de protagonistas de Calmaria. Além não estarem bem separadamente, a dupla não tem a menor química. Simplesmente não convencem. Clarke está tão canastrão que acaba odioso por sua interpretação preguiçosa, não pela natureza horrenda de seu personagem. Já Lane e Hounsou são completamente desperdiçados pelo diretor. No final das contas, o longa se torna um sofrido exercício cinematográfico pretensioso que subestima a inteligência do espectador.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | Oito Mulheres e Um Segredo

    Crítica | Oito Mulheres e Um Segredo

    Nos anos sessenta, Frank Sinatra ao lado de seus amigos, Dean Martin e Sammy Davis Junior, fizeram Onze Homens e Um Segredo, décadas mais tarde Steven Soderbergh revisitou a trama em uma série de três filmes e um elenco estelar. Oito Mulheres e Um Segredo segue na mesma esteira, se valendo do subgênero dos filmes de assalto, mas sem ter associado a si a moda que envolvia a versão do longa que tinha George Clooney, Brad Pitt e Matt Damon como seus chamarizes, esticando ainda mais a fórmula em um produto que tem gosto de bolo solado.

    A história começa com Debbie Ocean, a irmã de Danny (Clooney), vivida por Sandra Bullock. Essa relação é necessária, pois o nome original da franquia é Ocean’s Eleven (no caso desse, Ocean’s Eight), por mais bizarro que isso seja, já que em três longos filmes jamais se falou a respeito da irmão de Danny e de todas as suas habilidades. Após sair da prisão, ela planeja uma vingança contra o sujeito que a incriminou, e para isso, ela reata a relação que tinha com a bela Lou, vivida pela (também) oscarizada Cate Blanchett, que ao que tudo indica, é um antigo amor da protagonista.

    Os problemas e clichês do roteiro de Gary Ross (também diretor dessa versão) e Olivia Milch começam exatamente no dueto de Deb e Lou. As duas não são flagradas aos beijos ardentes, e não protagonizam cenas que possam servir de pretexto para que os espectadores machistas possam enxergar ali potencial para o onanismo, mas a total falta de química e de cenas que façam elas parecerem realmente próximas sentimentalmente torna Oito Mulheres e um Segredo um produto moralista, que não tem coragem sequer de assumir que suas protagonistas sejam bissexuais ou lésbicas.

    O restante do grupo de assalto é formado por Amita (Mindy Kaling), especialista em jóias; a contrabandista “aposentada” Tammy (Sarah Paulson); a ladra de mãos leves Constance (a rapper Awkwafina); a hacker Nine Ball (Rihanna); e a estilista decadente Rose Weil (Helena Bonham Carter). O plano envolve fazer com que a atriz e bela socialiate Daphne Kluger (Anne Hathaway) utilize um conjunto de jóias reais, guardado sobre segurança máxima por uma seguradora. O texto é tão óbvio que se percebe já no início que as personagens se juntariam, mesmo as que não estão no plano inicial, e essa obviedade é irritante principalmente porque esse filme não possui o mesmo carisma da trilogia de Soderbergh, e o trato entre as mulheres ocorre inclusive após uma demonstração de extrema carência de Daphne, que basicamente repete frases machistas que remetem a falsa afirmação de que amizade entre mulheres é pautada na falsidade.

    Ainda no quesito falácia, há uma cena constrangedora, que envolve a fuga das assaltantes, cada uma com uma roupa elegante, com sua parte dos espólios furtados. A cena é basicamente um pretexto para cada uma das intérpretes aparecer com vestido de gala e algum diamante, não faz sentido na continuidade do filme quanto na ideia pueril de “empoderar” as mulheres, já que o conceito desse poder é associado a posse de objetos que visam atrair os olhares masculinos.

    Oito Mulheres e Um Segredo parece ter sido feito sob demanda para um certo público, no entanto, sua abordagem é tão rasa quanto os argumentos liberais que precedem estes pedidos de representatividade a qualquer custo, pois não acrescenta nada ao gênero ou mesmo a série de filmes, além de ter em Ross uma direção muito mais frouxa que a de Soderbergh e deixar claro a falta de sintonia e camaradagem entre o elenco, muito diferente do que ocorreu no filme de Sinatra ou na série de Clooney.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram.

  • Crítica | Colossal

    Crítica | Colossal

    Há quem diga que usar o adjetivo “desconstruído” em um trabalho é apenas uma maneira bonita de dizer que o trabalho está uma completa bagunça. Colossal pode ser facilmente confundido com algo assim, um filme indie que mais parece com um kaiju movie e no fim se encaixa em um drama pesado; mas fico feliz de dizer que não é uma bagunça, é um longa que desconstrói os gêneros para construir uma das melhores surpresas do ano no cinema.

    Anne Hathaway interpreta Gloria, uma alcoólatra que depois de ser mandada embora de casa pelo namorado, vai para a cidade onde passou a infância em busca de autoconhecimento e de um lugar para dormir. Logo ela reencontra um amigo antigo do colégio, interpretado por Jason Sudeikis,  e esse passa a ajudá-la com um emprego em seu bar e com móveis, até que uma criatura gigantesca ataca uma cidade no outro lado do mundo e Gloria descobre que ela e esse monstro têm uma estranha ligação. É isso mesmo, vamos de um plot típico de dramédia para cidades sendo pisoteadas por monstros em questão de segundos, e o responsável pela proeza é Nacho Vigalondo que escreveu e dirigiu o filme.

    O primeiro ato de Colossal cumpre muito bem o papel de criar uma espécie de base com seus cenários e suas personagens, tudo tem um tempo de tela muito significativo e a impressão que fica é de que o terreno está sendo preparado para algo maior, e quando vem o filme passa a soar como uma fábula, os elementos fantásticos que acompanham a narrativa parecem anteceder uma “moral da história” que a cada cena fica mais clara.

    Mas escondida no segundo ato está a maior qualidade do longa, o filme toma caminhos inesperados e ao mesmo tempo que a trama fantástica fica maior, as relações entre as personagens ficam mais delicadas e dúbias, em certo momento a obra de Vigalondo soa como um thriller pesado e até assusta. É um prazer em tempos que trailers entregam tudo e mais um pouco, encontrar um filme que abriga tantas camadas, onde nem 1/3 delas foram mostradas nos materiais de divulgação, por isso escolho não usar palavras chaves que poderiam diminuir a experiência ao assistir o longa.

    A atuação de Hathaway é funcional e deixa espaço para o espetáculo que é o trabalho de Sudeikis, ele soa seguro em todos os temas que Colossal aborda e surpreende em estar tão bem mesmo fora da comédia – gênero que o consagrou. Porém, o resto do elenco não tem muito com o que trabalhar e sofre com escolhas ilógicas do roteiro, inúmeras situações no filme poderiam ter sido diferentes se os dois amigos do personagem de Jason fizessem o que provavelmente qualquer pessoa faria; é uma atitude preguiçosa no texto do filme e infelizmente tira um pouco do mérito de algumas sequências do terceiro ato, assim como algumas ações injustificáveis – ou sem explicação básica – que rodeiam o ponto de virada do filme.

    Sabendo dosar corretamente tantos gêneros, Vigalondo e seu longa desconstrói todos eles para contar uma história muito mais real do que fantástica e entrega um longa que mesmo com um final mais hollywoodiano do que prometido consegue fazer refletir sobre suas nuances. Inclusive, o filme é tão interessante nesse ponto que daqui alguns anos ele pode estar passando tanto numa Sessão da Tarde como em um Super Cine de um sábado chuvoso, e eu vou ver nos dois.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

  • Crítica | Um Senhor Estagiário

    Crítica | Um Senhor Estagiário

    Um Senhor Estagiario - poster

    Produtora e roteirista desde a década de 80, a diretora de Nancy Meyers – que atualmente é composta por seis produções – possui uma carreira relativamente nova em relação às suas outras funções. Uma filmografia voltada a histórias leves focadas no humor de situação. Nos últimos filmes, personagens adultos se destacavam vivendo conflitos de um mundo maduro.

    Lançado em 2016, Um Senhor Estagiário, com Robert De Niro e Anne Hathaway no elenco, mantém a unidade temática ao escolher como um dos personagens centrais um viúvo aposentado. Aos 70 anos de idade, Ben Whittaker leva uma vida monótona e decide se inscrever em um estágio para a terceira idade. Escolhido para trabalhar com Jules Ostin, a criadora de um bem-sucedido site de vendas, as personagens caem no tradicional choque de gerações. Inevitavelmente, a figura de De Niro se transforma em uma espécie de pai conselheiro que ajuda Jules a manter o equilíbrio diante de situações difíceis.

    O embate evidente de lideranças distintas se destaca inicialmente, porém Ben se torna mais um apoio para o desenvolvimento de Jules do que um personagem central. O drama primordial centra-se na moça e reacende a antiga discussão da força de trabalho feminina. Um argumento coerente devido às notícias na mídia sobre o direito das mulheres e a luta pela igualidade dos sexos no mercado de trabalho, entregando à personagem uma escolha evidente entre a carreira consolidada e uma família frágil com um provável marido adúltero.

    Ao sair dos tipos costumeiros de seus roteiros, Meyers evita o tom cômico de suas produções anteriores, resultando em uma trama menos inspirada que soa como qualquer outra produção do gênero. O humor de situação focado em temas adultos sempre foi o aspecto diferente de suas tramas, ainda que a leveza na trama esteja presente.  Ao menos, a história evita armadilhas comuns a outras narrativas semelhantes, e em nenhum momento sugere uma relação amorosa entre o casal, ampliando a completude no vínculo entre os dois sem a necessidade de fundamentar um óbvio relacionamento. Ainda assim, prossegue uma trama sem nenhuma novidade ou evolução narrativa mostrada nos filmes anteriores.

    Compre: Um Senhor Estagiário (Dvd | Blu Ray)

  • Crítica | Interestelar

    Crítica | Interestelar

    Interestelar

    Desde que o primeiro homem andou sobre esse planeta, o céu e as estrelas exercem uma fascinação na espécie como nenhum outro fenômeno da natureza. Não à toa, praticamente todos os povos terrestres tinham como deuses planetas e estrelas, dadas sua magnitude, distância e beleza. Portanto, nada mais natural que, na era moderna, as artes tentem reproduzir esse senso de admiração pelo desconhecido. Dentre todas, o cinema é a que chega mais próxima de construir e reproduzir essas sensações para o público dito “comum”, que em meio à correria do dia a dia, mal tem tempo de olhar para o lado, quanto mais para cima.

    Desde Georges Méliès, passando pelo sempre cultuado 2001 – Uma Odisseia no Espaço, Contatos Imediatos de Terceiro GrauContato e, mais recentemente, por Gravidade, o Universo exerce um fascínio por sua exuberante beleza, ao mesmo tempo que assusta por suas escalas inimagináveis de grandeza e a sensação de que, ali, estamos perto de ser literalmente nada. Ciente de todas essas questões, o cultuado diretor britânico Christopher Nolan se lançou em uma empreitada arriscada, a de fazer uma história que se passa nesse cenário e que, ao mesmo tempo, possa emplacar um sucesso comercial.

    Interestelar gira em torno do piloto Cooper (Matthew McConaughey), que cuida de sua fazenda no interior dos EUA junto a sua família. Em um futuro não muito distante, que flerta com uma distopia onde a humanidade não foi destruída, mas passa por dificuldades e tenta viver normalmente, a sociedade não precisa mais de engenheiros e pilotos, pois a exaustão natural do planeta, junto ao crescimento da população, provocou a escassez de comida, sendo essa a atual função de Cooper, que nunca superou o fato de não ter levado adiante sua vocação. Sua filha, Murph (Mackenzie Foy/Jessica Chastain/Ellen Burstyn), mostra uma grande inteligência e inclinação para a ciência, enquanto seu filho, Tom (Timothée Chalamet/Casey Affleck), se mostra contente em seguir seus passos de fazendeiro, tudo aos cuidados do pai de sua falecida esposa, Donald (John Lithgow).

    Cooper tenta ao máximo se esforçar para cumprir suas tarefas como fazendeiro e pai, mas a frustração de não ser piloto sempre o impede de dar a tudo a atenção e importância que merecem. A passagem em que ele discute com os responsáveis da escola de seus filhos, onde os livros de história sobre a exploração espacial foram alterados, é excelente na medida em que mostra o descompasso entre aquele estágio da humanidade, que se contenta em apenas sobreviver, e a reminiscência de um passado sonhador, na figura de Cooper, que imaginava expandir as fronteiras da humanidade rumo ao espaço. A discussão a respeito do pioneirismo da exploração espacial – relembrando o Velho Oeste -, e o papel da ciência como salvadora da humanidade também poderia ser mais problematizada. O filme ignora condições sociais e ideologias das quais a ciência é fruto. Ela não existe sem seres humanos dotados de vontade produzindo-a, e da mesma forma que ela é tratada sozinha como a salvadora da humanidade, também poderia ter sido a causadora de sua extinção.

    Dentro deste mundo, os fenômenos naturais com os quais estamos habituados não acontecem mais do mesmo jeito. Elementos como uma poeira constante (que às vezes se transforma em tempestades) e alterações na gravidade por vezes acontecem, mas a preocupação com o dia a dia é tão grande que poucos ligam. Menos Murph. A criança percebe em seu quarto que algo estranho, que ela chama de “fantasma”, acontece, já que os livros de suas estantes sempre caem sozinhos. Cooper diz a ela para compilar dados e analisá-los, para depois se chegar a uma conclusão, como manda a lógica científica. Prontamente, Murph realiza o pedido do pai e em pouco tempo descobre uma mensagem codificada, em código Morse, e que, para a surpresa e espanto de Cooper, os leva a uma instalação secreta da NASA.

    Lá, Cooper reencontra um antigo amigo de seus tempos de piloto, o professor Brand (Michael Caine), e conhece a filha dele, Amelia Brand (Anne Hathaway). Então, a história dá uma guinada. Cooper é convidado para fazer parte de um projeto de tentativa de salvação da humanidade, que será extinta por uma “praga” que consome nitrogênio e altera o balanço da atmosfera. O projeto, que estava em andamento há anos, levou equipes diferentes de cientistas para outra galáxia através de um buraco de minhoca posicionado perto de Saturno por “alguém”, que ninguém sabe quem, mas que não estaria ali por acaso. E esse seria o caminho da viagem, o qual envolveria muitos riscos, provavelmente sem retorno.

    Nesse momento, o desenvolvimento dos personagens e suas angústias é parado para dar vazão a uma velha mania de Nolan, que é explicar para o espectador tudo o que os especialistas do filme pretendem fazer. Nesse caso, o professor Brand explica todo o passo a passo para Cooper, e o fato de escolherem um ex-piloto e fazendeiro, que apareceu por acaso naquela base para pilotar a missão mais importante da humanidade, causa um certo estranhamento, em que a explicação dada, onde “algo” o enviou ali, convence o espectador mais crédulo, mas não aquele mais exigente. A explanação do professor Brand sobre os planos A (resolução de sua equação e retirada da população da Terra para outro planeta) e B (popular o novo planeta com material genético guardado) também é acometida por isso.

    Chamado de volta a sua vocação, Cooper aceita a missão e precisa deixar a família, para o desespero de sua filha. A promessa do retorno do pai não resolve o conflito, que ecoará para sempre na vida de ambos. O relógio que Cooper dá a Murph como uma tentativa de criar um elo sentimental e temporal entre ambos também falha nesse sentido.

    Ao abandonar a Terra e ir para o espaço, o filme toma outra proporção, e as discussões científicas entre os personagens, para decidirem o próximo passo da missão, são sempre explicativas dentro de um limite do aceitável, mas bem perto deste limite. Para um espectador sem nenhum tipo de conhecimento científico, talvez ajudem-no a entender alguns conceitos básicos e o que estaria acontecendo em determinados momentos. Porém, para este mesmo espectador, explicação alguma ajudaria a entender fenômenos mais complexos, como o que acontece dentro de um buraco negro, o que, na verdade, ninguém sabe. Se em A Origem o excesso de explicações sobre uma trama relativamente simples acaba entediando o público, em Interestelar isso não acontece, pois as informações estão inseridas em um contexto totalmente diferente do que estamos habituados, e os diálogos ajudam-nos a familiarizar tanto com o tema quanto com as motivações por trás de cada personagem. Obviamente, escorregões acontecem, quando Amelia Brand discorre sobre o amor, mas são poucas as vezes.

    A sequência de aproximação, e quando entram no buraco de minhoca, é belíssima e lembra muito a viagem de Ellie, em Contato, ao transformar uma viagem espacial sob condições inéditas e extremas em uma aventura por si só. Ao mesmo tempo, a chegada ao local se transforma em uma paisagem visual para o vislumbre do espectador e dos protagonistas. Juntos na viagem estão os outros cientistas Doyle (Wes Bentley) e Romilly (David Gyasi), além dos computadores com inteligência artificial TARS (voz de Bill Irwin) e CASE (voz de Josh Stewart), que garantem bons alívios cômicos.

    Ao transformar o desconhecido do espaço em potenciais riscos para os astronautas, Nolan consegue criar situações de tensão de forma eficiente, e utilizando-se de toda a complexidade de estar em uma realidade com tempo e espaço totalmente diferentes, o horror da situação aumenta ainda mais, como na excelente sequência dentro do planeta aquático onde estava uma das cientistas que buscavam mundos habitáveis. Lá, tudo o que poderia dar errado, deu, em referência a uma própria brincadeira do filme com a “Lei de Murphy”. O fato do planeta estar próximo do buraco negro Gargantua faz com que poucas horas ali se transformem em quase 30 anos perdidos na Terra, e o peso de tais erros, ainda mais brutal sobre os tripulantes. Ao retornar à nave, percebem que se passaram 23 anos na Terra, e muita coisa aconteceu. Os filhos de Coop cresceram, e Murph, que agora trabalha com o professor Brand na NASA, ainda não superou a partida do pai, enquanto Tom permanece cuidando da fazenda. A teoria da relatividade é citada, usada e explicada extensivamente no filme e serve de fundo para explicar a motivação de Coop para tentar retornar logo para a Terra.

    Por perderem muito tempo e combustível nesse planeta, sobram mais dois para visitarem: um do Dr. Mann (Matt Damon), brilhante cientista, e outro do Dr. Edmmonds – que tinha um relacionamento amoroso com Amelia -, ambos com motivos para serem visitados. Porém, o lado racional de Cooper fala mais alto e eles seguem para o planeta de Mann, que, desesperado pela solidão e medo da morte, manda o sinal mesmo sem ter encontrado nada para tentar escapar, o que também garante boas sequências de ação e tensão, mesmo que previsíveis, com os velhos discursos do vilão e tudo mais. Aqui, ele poderia encarnar de forma mais enfática o papel crítico sobre a ciência, mas foi feita a escolha mais simples.

    A transformação do homem racional e altruísta em um homem egoísta, contradizendo todos os argumentos racionais de Cooper para escolherem aquele planeta, é feita de forma rasa ao contrapor o velho “sentimento versus razão”. A fuga do Dr. Mann danifica o equipamento espacial que acopla as naves, e a sequência para tentar encaixar a nave pilotada por Cooper e Amelia lembra bastante Gravidade, ao colocar seres humanos em risco no espaço, realizando manobras praticamente impossíveis para tentarem se salvar, mas sempre sem abusar da expectativa e tensão, que poderia cansar caso fosse esticada demais.

    Nesse momento, é também revelado para Murph e para Coop e Amelia que o plano original do professor Brand sempre foi o B, e a sua equação gravitacional não resolveria o problema de como salvar a humanidade, que sempre esteve condenada. Portanto, a viagem de volta de Coop seria impossível.

    Com o gasto excessivo de combustível, agora não havia o suficiente nem para Cooper voltar para casa, nem para irem ao planeta de Edmmonds. A solução é usar os recursos para contornar Gargantua e usar sua força para impulsionar a nave, mas Cooper engana Amelia e solta sua nave, caindo no buraco negro. E dentro do buraco negro onde Nolan se rende a homenagear, à sua maneira, o clássico espacial de Kubrick. Se em 2001 – Uma Odisseia no Espaço estamos sozinhos com Dave, dando a cada imagem o nosso próprio significado, Cooper faz questão de perguntar ao computador TARS cada passo da etapa no qual se encontra, em uma conversa que não chega a incomodar, mas tira um pouco o poder do espectador de ter a mesma epifania visual e criativa que Kubrick corajosamente permitiu.

    Assim como em 2001, a estrutura de dentro do buraco negro falou diretamente com Cooper, dando a ele elementos de sua natureza para conseguir se comunicar – no caso, a biblioteca do quarto de Murph quando criança. Lá, todas as condições são radicalmente diferentes de tudo o que conhecemos, e tanto o tempo quanto a gravidade são distorcidos. A estrutura consegue distorcê-los de forma padronizada, fazendo com que Cooper envie os dados da equação gravitacional que resolveria o problema de como salvar a população da Terra, ou seja, ele era o fantasma de Murph quando criança tentando se comunicar com ela. Todas essas cenas dentro do buraco negro, apesar de serem atrapalhadas por tanta explicação, brincam com conceitos da física, ao mesmo tempo que garantem uma gama enorme de emoções, em grande parte por causa da brilhante atuação de McConaughey.

    Após enviar a mensagem para Murph usando o mesmo relógio que havia dado à menina, ela consegue decifrar os dados e salvar a humanidade, enquanto Coop é reenviado pela estrutura do buraco negro e encontrado pelos terráqueos do futuro em Saturno. Nessa conclusão, um pouco da magia inicial se perde, pois o objetivo principal do desenlace é explicar e resolver praticamente todas as pontas soltas do filme, não deixando margem para praticamente nada, a não ser o paradeiro e situação de Amelia Brand. O reencontro de Coop com Murph, já idosa e prestes a morrer, não garante muitas emoções, e o passeio turístico dentro da estação espacial em Saturno soa desnecessário.

    Porém, em relação ao aspecto técnico, a produção funciona muito bem. As sequências no espaço, sempre em silêncio, garantem uma atmosfera de suspense que se mantém, até misturar com o som dos ambientes fechados dos atores. O jogo de luzes dentro das naves, remetendo sempre ao sol (o nosso, ou não), é sempre interessante de acompanhar. A também já criticada parceria com Hans Zimmer mostra sinais de cansaço, mas ainda funciona para compor canções que, por vezes, casam perfeitamente com os momentos vividos na tela, em especial nas cenas finais.

    Muito se tem comparado Interestelar a outras produções do gênero, mas nenhuma comparação é justa. Nolan, como qualquer artista, retira influências de suas obras preferidas e as coloca ali, misturadas a seus próprios elementos dentro de uma narrativa própria, que tenta fazer uma homenagem não só à ficção científica, mas ao próprio sentimento humano de querer saber o que existe além. Quem condena a exploração espacial por ser gasto inútil de dinheiro não consegue ver mais adiante. Como o próprio filme cita, a tecnologia espacial gerou vários outros frutos para a humanidade, como as comunicações via satélite e a máquina de ressonância magnética, que poderia ter salvado a vida da esposa de Coop. Se a humanidade gasta dinheiro à toa, ali realmente não é o lugar. O Professor Brand também afirma que cada pedaço de metal sendo usado na construção daquelas naves poderia ser utilizado na fabricação de uma bala de uma arma, então, de certa forma, tudo aquilo foi positivo. É junto a esse conceito básico e humanitário que o filme se posiciona e se constrói, em como a ciência, ao desvendar o funcionamento por trás da natureza, nos ajuda a entender como ela é bela e, principalmente, nos torna mais humildes e capazes de admirar tudo o que está lá fora.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Rio 2

    Crítica | Rio 2

    Rio-2

    Um deslumbre visual em 3D! Isso é o que se pode resumir da nova empreitada do diretor Carlos Saldanha e sua produtora Blue Sky, a continuação das aventuras de Blu, a ararinha azul criada em Minnesota. Com muita música e visual fantástico, Rio 2 prende a atenção do espectador por ser divertido e nada mais. O roteiro, assinado por Saldanha e Don Rhymer, não é uma obra-prima e peca pelo excesso de clichês, mas isso não é um impedimento para a plateia mais jovem da sala  decididamente, o público-alvo que vai comprar os bonequinhos e outras peças de merchandising.

    O filme começa no ano-novo do Rio de Janeiro com uma linda sequência musical, mostrando pessoas vestidas de branco na praia, fazendo oferendas a Iemanjá, tendo o Cristo Redentor ao fundo, além de muitos fogos de artifício. A música, parte em inglês, parte em português, é bastante chamativa, e as coreografias dos pássaros são belíssimas. Essa cena de abertura dá o tom do resto do filme. Para quem não gosta do gênero musical, isso incomoda bastante. Cada momento de drama, ação ou desenvolvimento de roteiro são intercalados por sequências musicais.

    Blu vive em um santuário para pássaros criado por Túlio e Linda no final do primeiro filme e localizado na Floresta da Tijuca. Leva uma vida confortável com sua esposa Jade e seus filhos Tiago, Bia e Carla, adaptando o american way of life ao “jeitinho brasileiro”. Blu não quer nada além da boa vida nos trópicos e das comodidades que a tecnologia moderna pode oferecer. Mas tudo muda quando Jade descobre através do noticiário que existem evidências de que uma família de ararinhas azuis vive na Amazônia. Como acreditavam ser os últimos representantes de sua espécie, essa informação vem como um golpe na vida das aves. Jade fica extremamente animada para conhecer outros membros de sua espécie, esperando talvez encontrar algum familiar perdido. Blu, por sua vez, não quer deixar a comodidade de seu lar para se arriscar numa viagem tão longa e perigosa.

    E então esse conflito se resolve de forma tão rápida que acabamos esquecendo dele. Blu concorda em viajar, mas tem que convencer seus filhos e… Opa, já conseguiu também! A viagem até a Amazônia se resolve com mais um número musical e, de repente, opa de novo! Nossos heróis encontram a família de Jade! Tudo muito rápido, muitas coincidências e, claro, com muita música! Falando em coincidência, adivinha quem avista o grupo de pássaros assim que eles chegam a Manaus? Nigel, vilão do filme anterior, que quer se vingar de Blu por não poder mais voar.

    A partir desse ponto, temos mais e mais clichês saltando da tela: madeireiros explorando a floresta ilegalmente, ecologistas que querem salvar a floresta, a capanga que se apaixona pelo vilão, e Blu entrando numa fria maior ainda com a família (trocadilho intencional). O pai da garota que é um ótimo avô mas não vai com a cara do genro. O amigo de infância bem-sucedido que desperta ciúme no marido. A gangue rival. O concurso de talentos. O conflito resolvido com um tipo de esporte. Rivais percebendo que têm algo em comum. A batalha campal para derrotar os vilões. Piadinhas infames. Está tudo lá, numa salada de clichês envolvida em muito samba e maracatu. Tem até um desfecho shakespeariano para o casal de vilões!

    Ao fim, parece que nos são apresentados personagens demais, tramas demais e resoluções fáceis demais para os conflitos. Mas o deslumbre visual  e por que não dizer, também, musical?  consegue prender nossa atenção sem tornar o filme enfadonho. Pode ser uma propaganda do Brasil para o ano da Copa, uma máquina caça-níquel de produtos relacionados ou uma opção para pais que querem algo leve para seus filhos pequenos assistirem. Mas Rio 2 parece conseguir se firmar como uma franquia de sucesso, e não nos surpreenderia se mais uma sequência for lançada nos próximos anos.

  • Crítica | Os Miseráveis (2012)

    Crítica | Os Miseráveis (2012)

    os-miseraveis-poster-brasileiro

    Em 2001, com Moulin Rouge – Amor em Vermelho, os musicais ganhavam novamente destaque nas produções Hollywoodianas, com uma história amorosa que inovava no estilo cinematográfico e ainda era repleto de referências ao pop. Talvez não seja exagero afirmar que, ao lado do Western, é o gênero que mantém suas características próprias, sem diluir-se em uma mistura de gêneros que normalmente situam-se as produções contemporâneas que sempre dão espaço para o humor, ao drama, a ação, perdendo parte dos referenciais de outrora.

    Embora muitos não apreciem o gênero, parte da Era de Ouro do cinema americana foi fundamentada em torno de musicais. O Mágico de Oz, primeiro filme colorido, é uma aventura musical, um exemplo entre tantos outros filmes que transformaram suas canções em sucessos, ganhando força além deles.

    O musical é o gênero mais teatral. Quebra a ideia da verossimilhança a favor da arte. A procura de uma maneira de se expressar com maior intensidade, além da interpretação física e da modulação da fala prosódica. Ao utilizar a música como representação, o público reconhece o distanciamento da vida real, mas, por sua força, aproxima-o pelo elemento emotivo.

    Dirigido por Tom Hooper, do vencedor do Oscar de Melhor Filme Discurso do Rei, Os Miseráveis traz ao cinema a versão do musical da Broadway do romance do francês Victor Hugo. Um dos maiores sucesso do famoso teatro trouxe um conceito inédito ao se filmar o gênero. É o primeiro em que as canções foram realizadas direto da cena, sem a gravação prévia em um estúdio. As interpretações das canções mantem-se a favor da emoção das personagens e do desejo dos atores, mas falham se o ator não possui um bom gogó para conseguir refletir o que sente.

    Na trama, acompanhamos o ladrão Jean Valjean, que após roubar um pão e ser preso, decide redimir os erros de sua vida. Mas aos olhos da lei e do inspetor Javert, nenhuma mudança transformaria sua marginalidade. O que faz o inspetor persegui-lo durante a vida toda. Mesmo tornando-se um homem melhor, Valjean não reconhece o sofrimento de uma de suas trabalhadoras que cai em desgraça após ser demitida. É um novo sinal para recuperar sua crença e prometer que cuidará de sua filha, Cosette.

    A história trabalha, em toda sua magnitude que abrange o século XIX como um todo, o viés do tempo e das mudanças históricas. Acompanhando a vida de personagens que foram marginalizados tanto pelas misérias da vida como pela situação da França como país, aqui situado entre a grande batalha de Waterloo e a Revolução.

    Críticas mencionaram o exagero dramático da produção, mas é necessário pontuar desde já que um musical potencializa as ações representadas com maior intensidade e o próprio romance de Victor Hugo é uma narrativa romântica por sua construção sensível e representação crítica da sociedade.

    O grande pecado do filme é não saber diferenciar que o teatro tem formato diferente do cinema. No espetáculo da Broadway, pode ser funcional uma história de 160 minutos em que quase todas as falas são ditas de maneira cantada. No filme, o efeito soa artificial como se as personagens estivessem obrigadas a dizer suas falas somente dessa maneira. Até os musicais mais antigos se pautavam de maneira equilibrada entre números de dança ou voz e partes faladas que dão sequência a ação. Em uma história que permanece demais sequenciando canção após canção, a força das mesmas se perde. Ainda mais quando a gravação foi feita no decorrer da cena, evidenciando quem tem talento e quem fez aulas específicas para as filmagens.

    O astro da produção é seu protagonista, Hugh Jackman, que expõe seu talento vindo da tradição do teatro e, portanto, familiarizado com o estilo. O algoz da personagem, Russell Crowe, parece desconfortável em cantar, ainda que realize uma boa canção solo. O Oscar dado a Anne Hathaway é uma das premiações que se valeu de sua intensa cena solo, da canção mais famosa da trama, I Dream a Dream. Nas outras personagens coadjuvantes, Sacha Baron Cohen, em seu segundo filme musical, demonstra segurança tanto na interpretação como na voz e parece diferenciar sua carreira entre as produções próprias com personagens excêntricos  e aquelas mais tradicionalista que realiza com outros diretores.

    Tentando manter a fidelidade com o musical da Broadway, mesmo não sendo um espetáculo filmado, Os Miseráveis perde parte de sua alma como uma produção cinematográfica. A inovação de cantar do próprio estúdio não salva excessos que poderiam ser evitados se a adaptação não se apoiasse somente no espetáculo teatral, esquecendo que a sétima arte tem um formato diferente.

  • Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

    Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

    the_dark_knight_rises_poster

    Inestimável é a primeira palavra que se pode ter em mente ao falar de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge. O terceiro filme da trilogia dirigida por Christopher Nolan dá fim a um projeto que mudou a forma como as pessoas enxergam e lidam com filmes de super heróis. Uma forma mais realista e sombria foi apresentada a um público que estava acostumado a um Batman mais “super-herói” e menos próximo à realidade. Nesta conclusão temos o melhor filme da trilogia e provavelmente um dos melhores – se não o melhor – filme de super herói já feito.

    Dark Knight Rises se passa 8 anos após os acontecimentos do filme que o antecede. Somos apresentados à uma Gotham City em paz, com um índice de criminalidade baixo, uma polícia acomodada à tranquilidade e um Batman aposentado (além de um Bruce Wayne recluso). Porém, surge Bane (Tom Hardy), um mercenário que resolve aproveitar esse momento de aparente tranquilidade e fragilidade para colocar em ação seu plano sombrio de destruir Gotham City.

    Primeiramente, é importante ressaltar que a escolha da palavra “Rise” no título – aqui sendo pensada no sentido de “ascender”, ao invés de “ressurgir” como na tradução realizada no Brasil – é muito importante pelas várias formas que ela assume ao longo do filme em diversos momentos. Isso é só um pequeno exemplo com o intuito de dizer que trata-se de uma obra com detalhes muito importantes e que se unem a um todo sem pontas soltas. O roteiro é sólido e extremamente meticuloso, fruto de um trabalho excepcional por parte de Christopher Nolan, Jonathan Nolan e David S. Goyer.

     A trama é forte, tensa e envolvente. Dessa vez, temos um Batman que passa por piores dificuldades, tem seu corpo e sua alma destroçados, mas que ressurge como o verdadeiro herói. Ao mesmo tempo, temos um Batman que se ausenta das cenas pra dar lugar a um personagem também muito importante: a cidade de Gotham. Não somente o protagonista é abalado, como também a cidade se vê obrigada a reagir a um ditador extremista que quer fazer com que o povo conquiste a liberdade através da violência. Em contraposição, temos Batman se tornando um símbolo para que a cidade busque sua própria liberdade e justiça.

    Nolan não só acertou em um bom roteiro como, novamente, acertou em todas suas escolhas de elenco. Christian Bale continua com sua excelente atuação do herói principal, que cativou pessoas do mundo inteiro ao longo dessa franquia. Anne Hathaway, interpretando a Mulher Gato, demonstrou profundidade na atuação de uma personagem que estava em conflito sobre os valores que deveria defender. Tom Hardy interpreta um vilão amedrontador e de personalidade forte e cativante. Seu olhar penetrante ajuda a construir um ar de poder ao personagem que o carrega e sustenta durante toda sua participação no filme. Joseph Gordon-Levitt, por sua vez,  faz o papel do braço direito do Comissário Gordon e esbanja uma impressionante atuação em um personagem de excelente desenvolvimento e de grande importância na trama.

    Toda a trilogia se completa com este final. Todas as pontas se unem e formam uma obra completa e fantástica. Christopher Nolan eternamente será lembrado como o homem que eternizou o Batman nos cinemas. Um verdadeiro presente para todos os fãs.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.