Tag: Leslie Mann

  • Crítica | 17 Outra Vez

    Crítica | 17 Outra Vez

    Comédia adolescente com elementos fantásticos, 17 Outra Vez tem uma fórmula curiosa. Utiliza uma premissa semelhante a de Quero Ser Grande e De Repente 30, mas com uma lógica invertida, quase como um remake de Jovem de Novo (filme obscuro para TV protagonizado por Keanu Reeves e lançado pela Disney em 1987). A história dá conta de Mike O’Donell, um garoto que fazia sucesso no colegial como atleta, dançarino e possível prospecto para universidades, que simplesmente decide casar com sua namorada de infância quando descobre que ela está grávida. Com o tempo, ele percebe os equívocos de suas escolhas, em especial graças a crise familiar que vive já na atualidade, e em um passe de mágica, dado por um misterioso zelador idoso de sua antiga escola, ele tem a chance de rejuvenescer 30 anos, voltando a última idade em que foi muito feliz, com o futuro inteiro pela frente.

    A história mira inicialmente o dia de Mike, feito por Zac Efron, no Hayden High School, com ele treinando exaustivamente cestas de três, na quadra de basquete em 1989. Ele dança junto às líderes de torcida, como um verdadeiro showman, se valendo das capacidades físicas que já havia mostrado no seriado musical High School Musical. O sujeito é tão completo que age como animador da torcida e um dos principais jogadores de seu colégio. Ele recebe a notícia que mudaria sua vida exatamente antes de sua grande noite esportiva, e o caminho que ele passa a traçar a partir daí vai na direção contrária do que se esperava dele. Ele se encontra com Scarlett (aqui, feita por Allison Miller quando jovem, e Leslie Mann já no tempo presente) e declara que seguirá uma vida segura ao lado dela e do bebê que viria.

    Mike é vivido por dois atores famosos, na fase adulta ele é Mathew Perry (conhecido pelo papel de Chandler Bing em Friends), e jovem é feito pelo astro Efron do seriado musical. É curioso como ambos interpretes tenham ficado famosos por obras para a televisão, pois apesar do filme de Bur Steers ter sido feito para o cinema, sua premissa é típica dos seriados antigos e das sessões de filmes que passavam a tarde, embora o filme não seja desprezível narrativa e visualmente. Efron aliás se dedicou bastante, inúmeras vezes ligava para Perry para saber como ele falaria, emulava e imitava movimentos dele, e além disso, aprimorou seus dotes de basquete, pois na famosa cena do refeitório, ele faz acrobacias com a bola laranja de basquete sem qualquer intervenção digital.

    17 Outra Vez acerta no alívio cômico por meio de Ned Gold, interpretado por Thomas Lennon, um nerd colecionador de toda sorte de brinquedos, quadrinhos e livros de cultura pop, além de seu melhor amigo desde os tempos de colégio – ainda que possuam personalidades completamente díspares. A luta entre os dois, logo depois que Mike passa por sua transformação, é épica, assim como toda a tentativa dele em encontrar uma razão lógica para essa mutação.

    Lennon concentra a maioria esmagadora das piadas boas (especialmente as baseadas em constrangimento). Sua completa inabilidade social é um prato cheio para a platéia ávida por momentos de vergonha alheia. É incrível como ele subverte a questão dos traumas colegiais de ter sofrido bullying com comentários completamente inapropriados para a diretora, Jane Materston (Melora Hardin). Ele decide se tornar tutor do seu melhor amigo, ajudando-o a se recompor e se tornar (novamente) um menino popular no ensino médio, mesmo com tempos completamente diferentes entre o que era a sua realidade e a nova.

    O roteiro de Jason Filardi varia entre uma certa esperteza ao mostrar os choques de gerações, baseando o cômico nos absurdos dos arquétipos gerais, mas também exagera um pouco no modo de retratar o quanto os adolescentes dos anos 2000-2010 são reféns da tecnologia, até porque quase todas as gerações são assim  atualmente. Além disso, há alguns momentos inspiradores, como quando Mike usa a alcunha de Mark para bater de frente com Stan (Hunter Parish), o bully que maltrata Alex (Sterling Knight), seu filho mais novo. Aos poucos, ele se torna mentor do menino, tendo finalmente uma proximidade considerável com a intimidade de seu herdeiro sanguíneo.

    Mark é um sujeito muito articulado, mais do que todas as suas contrapartes sempre foram. Ele tem ótimas sacadas no sentido de proteger os flagelados do sistema escolar e tem ótimas falas a respeito de uma juventude abstêmia, mas o personagem é bem construído o suficiente para mostrá-lo agindo de maneira impulsiva, pulando em cima do sujeito que fazia insinuações sexuais com sua filha Maggie (Michelle Trachtenberg). A trama juvenil é bem encaixada, por mais simples que seja, e ajuda a fortificar a ideia de valores familiares, por mais que em alguns pontos seja claramente bem conservadora em sua análise de mundo. Afinal, o filme se passa sob o olhar de um homem de meia idade que volta a ser menor de idade.

    O fim do filme mira uma condição quase poética, baseada nas reflexões que Mark tem, acreditando que seu mundo seria melhor sem que Mike vivesse. Além das óbvias referencias aos filmes de transformação de idade dos protagonistas, há um pouco do mito dos fantasmas de Scrooge e as tantas versões natalinas no cinema, televisão etc. Por mais simples que seja o filme de Steers, sua mensagem é bem passada (excluindo é claro a hiper moralidade do protagonista), resultando em um filme bem resolvido, romântico, com uma boa participação de Efron, Mann e Lennon, além de terminar com um resgate ao passado, mostrando fotos dos membros da produção na época do colegial, dando inclusive uma ideia de legado familiar no basquete, uma vez que Alex utiliza a mesma camisa que seu pai usou quando novo, com o número zero estampado, dando ideia de que o filho poderia seguir os sonhos do pai, caso quisesse.

  • Crítica | Mulheres ao Ataque

    Crítica | Mulheres ao Ataque

    The-Other-Woman

    Incógnita no início, sem nome apresentado antes de suas belas curvas, a personagem de Cameron Diaz, Carly Whitten, tem tudo o que uma mulher “poderia querer”: uma carreira de sucesso, dinheiro, um homem lindíssimo tratando-a como uma rainha. A perfeição em que está inserida é fruto de estereótipos, de uma sociedade que insiste em enquadrar as mulheres em invólucros de desejos, quase sempre inalcançáveis.

    Nick Cassavetes capitaneia a comédia leve que utiliza esses preceitos como a base do mundo que será explorado, mas que obviamente não discute tais conceitos, ao menos não sob o ponto de vista da eterna briga do machismo e feminismo, mas sim focando outras velhas questões, como a infidelidade e a cafajestice masculina. O homem com quem Carly se envolve, Mark King (Nikolaj Coster-Waldau), é casado com uma bela senhora, pouco mais velha do que a protagonista, chamada Kate (Leslie Mann), e elas se encontram de um modo bastante louco. A partir daí, o encontro entre as duas mulheres é completamente louco.

    Após ambas tomarem nota do que ocorreu entre o esquisito triângulo amoroso, Kate e Carly continuam se encontrando, e após um porre, Kate acorda e vai vivendo a sua rotina de novo, percebendo o quão sem sentido é seguir seu rumo como se nada tivesse acontecido. Sua saída é retornar ao encontro da amante, porque nada mais faz sentido. A inconveniente conversa entre elas se estende demasiado e o processo de empatia é lento, apesar de toda a forçação da esposa. Aos poucos elas se reúnem, depois, é claro, de mais uma noite de porre alcoólico. O “inesperado” ocorre, e elas se juntam para aplacar o sofrimento que ambas têm, ainda que essa junção passe por altos e baixos.

    Enebriadas pelo ciúme, elas descobrem a presença de um terceiro elemento, Amber (Kate Upton, que tem muitíssima confiança em seu corpo, e com razão), uma amante mais nova e com muito mais atributos físicos que as duas, mas que se sente igualmente traída. Toda essa “elaborada” trama demora quase uma hora para se desenrolar, claro, acompanhado por situações calcadas no humor pastelão.

    O “inesperado” (novamente) ocorre, e as meninas decidem colocar ação a uma vingança onde todas dão corda a ele, aprontando mil peripécias, algumas baseadas em humor físico, como piadas de peido e outras mil que buscam diminuir a virilidade do sujeito. Nada que passe perto do ineditismo no humor, tal que o público consegue prever quase todas as gags cômicas. Alguns momentos são autenticamente engraçados, ainda que raros para a longa extensão do filme, que tem quase 120 minutos de exibição.

    O método com o qual Cassavetes filma não guarda qualquer particularidade, e a fita é semelhante demais a Alpha Dog, um de seus filmes anteriores cuja fotografia é tão pobre quanto o roteiro, assemelhando-se a um filme amador, ainda que tenha um elenco de estrelas. Os mesmos defeitos se repetem em Mulheres ao Ataque, mesmo com o roteiro. Em alguns pontos, o texto de Melissa Stack ensaia uma reviravolta legitimamente interessante, mas isso acaba não se cumprindo.

    Aos poucos, cada uma das heroínas vai encontrando o seu lugar. O que um dia foi ocupado pela presença de um homem injusto e ingrato é tomado pela superação de cada uma, especialmente da que mais tempo viveu com ele. Kate demora para aceitar sua condição e perceber que viveu uma mentira, mas consegue dar o passo seguinte apoiada por uma das mulheres que foi causa do seu infortúnio.

    Assim, as três mosqueteiras dão a Mark um discursinho sobre como ele é um sujeito vazio, sem coração e um pedaço de merda (tradução literal) por se aproveitar de tantas mulheres, gastando quantias enormes de dinheiro com elas, com roupas, jantares caros, viagens e, claro, expondo-o ao ridículo num último esforço tragicômico. O que na verdade ocorre é que o final da fita expõe o quão solitárias eram as vidas das três. O trio só passa a ter uma existência digna após a malfadada vingança, com cada uma delas encontrando o seu lugar ao sol. É como se após todo o rancor que elas guardassem fosse despejado de uma vez, e com isso, seus talentos poderiam pulular pela face da terra. Nesse ponto, o filme consegue ser um dos espécimes mais bregas do circuito de 2014, além de claro, de não propor qualquer discussão e tampouco ser minimamente engraçado.

  • Crítica | Rio 2

    Crítica | Rio 2

    Rio-2

    Um deslumbre visual em 3D! Isso é o que se pode resumir da nova empreitada do diretor Carlos Saldanha e sua produtora Blue Sky, a continuação das aventuras de Blu, a ararinha azul criada em Minnesota. Com muita música e visual fantástico, Rio 2 prende a atenção do espectador por ser divertido e nada mais. O roteiro, assinado por Saldanha e Don Rhymer, não é uma obra-prima e peca pelo excesso de clichês, mas isso não é um impedimento para a plateia mais jovem da sala  decididamente, o público-alvo que vai comprar os bonequinhos e outras peças de merchandising.

    O filme começa no ano-novo do Rio de Janeiro com uma linda sequência musical, mostrando pessoas vestidas de branco na praia, fazendo oferendas a Iemanjá, tendo o Cristo Redentor ao fundo, além de muitos fogos de artifício. A música, parte em inglês, parte em português, é bastante chamativa, e as coreografias dos pássaros são belíssimas. Essa cena de abertura dá o tom do resto do filme. Para quem não gosta do gênero musical, isso incomoda bastante. Cada momento de drama, ação ou desenvolvimento de roteiro são intercalados por sequências musicais.

    Blu vive em um santuário para pássaros criado por Túlio e Linda no final do primeiro filme e localizado na Floresta da Tijuca. Leva uma vida confortável com sua esposa Jade e seus filhos Tiago, Bia e Carla, adaptando o american way of life ao “jeitinho brasileiro”. Blu não quer nada além da boa vida nos trópicos e das comodidades que a tecnologia moderna pode oferecer. Mas tudo muda quando Jade descobre através do noticiário que existem evidências de que uma família de ararinhas azuis vive na Amazônia. Como acreditavam ser os últimos representantes de sua espécie, essa informação vem como um golpe na vida das aves. Jade fica extremamente animada para conhecer outros membros de sua espécie, esperando talvez encontrar algum familiar perdido. Blu, por sua vez, não quer deixar a comodidade de seu lar para se arriscar numa viagem tão longa e perigosa.

    E então esse conflito se resolve de forma tão rápida que acabamos esquecendo dele. Blu concorda em viajar, mas tem que convencer seus filhos e… Opa, já conseguiu também! A viagem até a Amazônia se resolve com mais um número musical e, de repente, opa de novo! Nossos heróis encontram a família de Jade! Tudo muito rápido, muitas coincidências e, claro, com muita música! Falando em coincidência, adivinha quem avista o grupo de pássaros assim que eles chegam a Manaus? Nigel, vilão do filme anterior, que quer se vingar de Blu por não poder mais voar.

    A partir desse ponto, temos mais e mais clichês saltando da tela: madeireiros explorando a floresta ilegalmente, ecologistas que querem salvar a floresta, a capanga que se apaixona pelo vilão, e Blu entrando numa fria maior ainda com a família (trocadilho intencional). O pai da garota que é um ótimo avô mas não vai com a cara do genro. O amigo de infância bem-sucedido que desperta ciúme no marido. A gangue rival. O concurso de talentos. O conflito resolvido com um tipo de esporte. Rivais percebendo que têm algo em comum. A batalha campal para derrotar os vilões. Piadinhas infames. Está tudo lá, numa salada de clichês envolvida em muito samba e maracatu. Tem até um desfecho shakespeariano para o casal de vilões!

    Ao fim, parece que nos são apresentados personagens demais, tramas demais e resoluções fáceis demais para os conflitos. Mas o deslumbre visual  e por que não dizer, também, musical?  consegue prender nossa atenção sem tornar o filme enfadonho. Pode ser uma propaganda do Brasil para o ano da Copa, uma máquina caça-níquel de produtos relacionados ou uma opção para pais que querem algo leve para seus filhos pequenos assistirem. Mas Rio 2 parece conseguir se firmar como uma franquia de sucesso, e não nos surpreenderia se mais uma sequência for lançada nos próximos anos.

  • Crítica | Bem-Vindo Aos 40

    Crítica | Bem-Vindo Aos 40

    Bem-vindo-aos-40

    Estrelado por Paul Rudd e Leslie Mann, Bem-vindo aos 40 é o quarto filme dirigido Judd Apatow e daria sequência aos eventos ocorridos em Ligeiramente Grávidos, tomando como protagonistas um casal secundário do primeiro filme – apesar da caracterização diferente em quase tudo, pois, fora os membros da família, nenhum outro personagem é retomado.

    A temática principal da obra é a passagem do tempo, o envelhecimento e as rejeições provenientes desses fatores. É curioso mostrar como um casal estável mente tanto um para o outro a fim de manter a relação de pé; o tempo inteiro Debbie (Leslie) e Pete (Rudd) estão em negação. O casal tem medo de confronto, mesmo que o embate não seja entre eles.

    Há uma grande quantidade de tempo dedicado aos problemas do cotidiano financeiro da família. A instabilidade dos personagens é compreensível, visto o passado de cada um. Os traumas e problemas familiares de Pete e Debbie são expostos sem complacência, e o fato de ambos não terem por hábito mentir bem faz com que essas situações tornem-se ainda mais calamitosas. Personagens imperfeitos, irascíveis e facilmente atingíveis dão aos conflitos um caráter crível e verossímil.

    Como estímulo visual, há algumas cenas com Megan Fox sem camisa, o que é sempre válido. O paralelo entre os corpos de Megan Fox e Leslie Mann ajuda a escancarar o declínio físico gradativo da mulher, um dos maiores medos femininos com o passar dos anos. Os seios de Leslie Mann estão ficando irrelevantes, pois apareceram recentemente em Eu Queria Ter a Sua Vida muito mais vívidos – o diretor parecia querer destacar a forma decadente como a personagem se enxerga.

    As brigas entre um casal experimentado tendem a ser cada vez mais cruéis e implacáveis com o passar dos anos, e isso é mostrado de forma bastante crua. Num dos poucos momentos em que Pete e Debbie parecem unidos – em virtude de um antagonista externo em comum –, ainda assim eles permanecem longe: a câmera de Apatow flagra-os distantes, com um ângulo afastado deles, mostrando-os indo para o mesmo lugar, mas em carros diferentes, tomando direções opostas aos seus caminhos, mesmo após eles se “cruzarem”.

    This is 40 não é uma comédia, é um drama leve, no estilo de Tá Rindo Do Quê  com alguns elementos humorísticos. É uma jornada ao reencontro de um casal em crise que mostra como as agruras da meia-idade podem afetar o amor entre os cônjuges, e como estes podem viver juntos apesar de seus defeitos e fragilidades. A mensagem final é positiva, ainda que desencorajadora. Judd Apatow parece estar amadurecendo seu roteiro e direção cada vez mais, afastando-se do humor e tornando-se um realizador cada vez mais competente.