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  • The Bells: Raiva e Cinzas – Análises e Teorias sobre Game of Thrones

    The Bells: Raiva e Cinzas – Análises e Teorias sobre Game of Thrones

    O quinto e penúltimo episódio da oitava temporada de Game of Thrones finalmente chegou, e com ele o retorno do diretor de ação Miguel Sapochnick. A expectativa e dilema é que as forças que venceram o exército de vagantes consiga tirar Cersei do poder sem destruir e matar todos que estão em Porto Real, no entanto isso não é esperado com qualquer otimismo, visto que mesmo os fãs mais cegos do seriado, em maioria absoluta, se frustram com os acontecimentos mostrados nesse último tomo da Saga de Gelo e Fogo.

    O início desse episódio no entanto guarda algumas surpresas, seguidas de obviedades, ligadas ao coadjuvante (de luxo) Lorde Varys (Conleth Hill), que é julgado (aparentemente o ato de julgar está presente em absolutamente tudo de GOT na 8ª Temporada) por querer o melhor para Westeros. Ele é impedido de falar a verdade sobre Aegon Targaryen. Por mais protocolar (outro aspecto bem presente e repetido neste tomo) que seja isso, ao menos há a testificação da antes possível, agora comprovada insanidade de Daenerys, aspecto que acreditam boa parte dos fãs ser bem típica da sua família. Até as boas relações que ela tem com Tyrion e com Jon são consumidas por sua paranoia e pelo desejo ao trono de ferro, e ela até lamenta um pouco, mas não acha inválido ser mais temida que amada.

    Caso o leitor se incomode com spoilers, saiba que eles se agravarão severamente na análise.

    A postura belicosa da personagem contradiz um dos muitos nomes da mãe dos dragões, afinal ser conhecida por libertar os escravos já devia ser motivo suficiente para mostrar a empatia da personagem, mas aparentemente, para os roteiristas, isso não é tão importante. Os motivos que fizeram ela agir da forma como age é um bocado atrapalhado. Ainda que não se leve em conta a construção literária de George R.R. Martin, o que se construiu ao longo das primeiras temporadas do seriado não faz muito sentido, além do que a saída da maquiagem em deixa-la envelhecida e “feia” é um artifício tão patético que faz perguntar qual era a intenção dos produtores.

    Há uma preparação para a batalha, dessa vez sem o mesmo alarde de Long Night. Quase todo momento que Jaime aparece tem uma carga de emoção forte, e Nikolaj Coster Waldau tem uma chance bastante válida de mostrar seus dotes, ainda que não seja um grande ator, seu desempenho é bem encaixado.

    As cenas de batalha melhoraram drasticamente, ou melhor, o massacre que Drogon e os imaculados fazem no exército dos Lannister e nos piratas de Greyjoy é mostrado de maneira visceral, com muito gore e golpes secos e certeiros dos soldados, que agem covardemente, como os verdadeiros viloes da série. Ao menos em um ponto o ato de vingança foi favorável, se antes não havia estratégia, agora há, e o trabalho da trilha sonora ambienta bem estes confrontos, embora ainda não seja tão épico quanto na Batalha dos Bastardos.

    Em algum ponto, o episódio parecia que ia ter o freio de mão puxado, mas o que se vê depois é uma carnificina, e por mais que a composição seja bela, o ato em si é injustificável, para muito além da moralidade. Para as teorias, esse arco serve talvez para justificar uma possível tomada de poder de Jon Snow, fato que faz preocupar também qual seria a reação emocional de Kit Harrington. Ao menos o grafismo das mortes faz valer um bocado a direção de Sapochnick, que consegue mostrar bem o desequilíbrio emocional da personagem de Emilia Clarke, que bizarramente, tem até pouco tempo de tela, em uma revanche que soa bastante impessoal por conta desse estranho aspecto.

    A tentativa de trabalhar a batalha em várias frentes nao tem funcionado, os êxitos são raros, ainda que ocorram boas lutas entre cavaleiros, mas que infelizmente perdem boa parte de sua importância por ocorrerem no meio de um massacre tão evidente. Os momentos de lição são um pouco forçados, em especial o que ocorre entre Cão e Arya Stark, ao menos, tanto Rory McCan quanto Maisie Williams estão muito bem, representando uma carga emotiva absurda, e com um desempenho bastante superior a qualidade do texto.

    A postura de arrogância de Cersei faz a personagem de Lena Headey se assemelhar demais ao que Grand Moff Tarkin fez em Uma Nova Esperança, não querendo sair da Estrela da Morte em seu possível momento de triunfo, embora isso não pareça provável no momento em que a Rainha é indagada sobre permanecer ou não na Torre Vermelha. Fica a dúvida sobre seu futuro, seria outra quebra de expectativa enorme e mais uma amostra de anti clímax se ela realmente pereceu da forma que se pensa após o término do capítulo.

    Analisar uma temporada episódio a episódio é uma tarefa ingrata, e pode produzir algumas injustiças, uma vez que não se tem noção da mensagem do todo, no entanto, é difícil não ter um sentimento de decepção com os fatos até aqui apresentados, assim como é praticamente impossível não julgar que, por mais apoteótico que seja o episódio derradeiro, ainda assim não salvará todos os outros dessa temporada

    O torpor do insucesso e da falta de planejamento dá lugar a uma vingança que não tem qualquer perspectiva de futuro, seja com relação ao reino, que claramente não existirá após todo esse ataque, ou dos laços e amizades com os guerreiros que acompanharam Khaleesi até esse momento. O fato dela não ter misericórdia ou algo que o valha é um convite para os antigos aliados a ataquem, gerando contenda até nos que está presentes na tal batalha. Por mais que todas as previsões apontassem para algo assim há muita coragem em mostrar isso de maneira tão categórica. Resta esperar qual será a postura de Daenerys com Sansa, que se torna aparentemente sua inimiga mortal, na evolução de um quadro infantil e plantado no começo dessa temporada. É uma pena que Game of Thrones se dedique tanto a evoluir quadros pueris, e nem toda boa violência e brigas justificam isso.

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  • A Knight of the Seven Kingdoms: Letargia e Dificuldade em Seguir Destinos – Análise e Teorias sobre Game of Thrones

    A Knight of the Seven Kingdoms: Letargia e Dificuldade em Seguir Destinos – Análise e Teorias sobre Game of Thrones

    A HBO costuma lançar séries cuja expectativa de destino de personagens e tramas é enorme. Família Soprano, True Blood, Boardwalk Empire e até Westworld sofreram com isso, mas certamente nenhuma como Game of Thrones. Assim como no primeiro episódio, Winterfell, pouco acontece aqui, e mais uma se reforça a ideia dos ciclos de reencontros e revelações que não contém qualquer novidade para o público.

    Há quem defenda que toda essa contemplação, e o desenrolar emocional do episódio faz aumentar a expectativa para a real conclusão dos capítulos finais. A Knight of the Seven Kingdoms começa e termina com o freio de mão puxado, e não consegue sequer amarrar as pontas soltas do episódio anterior. Jaime Lannister é o primeiro enfocado pela câmera de David Nutter, mas ao contrário do que se pensou, ele não conversaria com Bran, e sim com o conselho que envolve Jon Snow, Daenerys Targaryen e Sansa Stark. Aqui, é desenvolvido um diálogo repleto de verdades jogadas à mesa, que teriam um grande impacto e importância se não fossem utilizadas apenas como clichês verbalizados.

    Jaime e Bran se encontram de novo e conversam, mas isso só ocorre com 10 minutos, e a expectativa mal se cumpre, pois a conversa poderia ou não ter ocorrido tamanha falta de importância da conversa entre eles. O personagem de Nikolaj Coster-Waldau parece estar ali apenas para reencontros, porque nem os confrontos com o fato dele ter sido incestuoso ou ser um regicida são tão importantes para ele quanto reatar boas relações com seu irmão e Brienne. Ao menos, não se pode reclamar da participação de Peter Dinklage e Gwendoline Christie, eles estão bem quando são exigidos, mesmo que suas cenas sejam exacerbadamente folhetinescas, e bem menos irritante que os confrontos entre Sophie Turner e Clarke por uma liderança de um exército que sequer entrou em campo de batalha.

    Este capítulo acontece praticamente todo nos bastidores da reunião de forças no Norte, explorando cada detalhe e meandro dos personagens que vivem sobre esse governo, e ao menos tem tempo para mostrar o drama do povo ao ser obrigado a não só viver na penúria, mas também a lutar por sua própria sobrevivência. Esses detalhes não são muito exploradas em batalhas épicas, nem na trilogia Senhor dos Anéis há tanto mergulho nessa situação, e aqui cabem elogios a esta parte dramática, assim como na valorização dos personagens comuns, entre eles a promoção simbólica de Brienne, que também teria mais impacto se não fosse a participação de Tormund (Kristofer Hivju), que segue falando inconveniências que o fazem parecer apenas um ruivo babão e carente em busca de atenção.

    Fora as resoluções de confrontos que ninguém pediu para ocorrer, o episódio dá vazão à crença da teoria de que em breve os personagens secundários devem perecer, afinal, tiveram muitas honrarias nesse meio tempo, foram saudados e valorizados demais. Cersei sequer apareceu, e talvez isso seja mais frequente, embora sua personagem seja uma das mais populares da trama, mesmo como figura de ódio. Ao menos os vilões finalmente chegaram, e o diretor será Miguel Sapochnik, que conduziu boa parte dos episódios com ação frenética, entre eles, o da batalha dos bastardos, na sexta temporada, e talvez esse valorize toda a construção de nostalgia estabelecida nesses dois primeiros episódios.

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  • Winterfell: Protocolos de Gelo e Fogo – Análise e Teorias sobre Game of Thrones

    Winterfell: Protocolos de Gelo e Fogo – Análise e Teorias sobre Game of Thrones

    Game of Thrones finalmente voltou, e com ela, a expectativa de como o Inverno chegará ao continente, os personagens usam roupas ainda mais reforçadas para o frio, e o primeiro episódio da oitava temporada tem o sugestivo nome de Winterfell. Pois bem, apenas a longa espera após Game of Thrones – 7ª Temporada, terminada por sua vez em Agosto de 2017, o resultado é um bocado óbvio, avançando bem pouco em relação ao que é visto em The Dragon and The Wolf, ultimo episodio do sétimo ano, ou seja quase nada se acrescenta dentro do que é considerado canônico no seriado/saga.

    Muito se reclamou do autor George R. R. Martin, que não entregou os livros dentro do prazo que se esperava, ou ao menos a tempo de terminar a série com o material original já concluído. Quando a HBO começou a adaptar a literatura, haviam quatro livros, e durante o decorrer dela foi publicado o quinto. Deste a quinta temporada, as histórias são praticamente inéditas visto que já haviam coberto a maioria esmagadora do conteúdo escrito por Martin, acredita-se (sem comprovações oficiais, diga-se) que há consultoria do autor nesses eventos, com Martin dando dicas aos roteiristas do que aconteceria. Mas a realidade é que, apesar do escritor demorar bastante para entregar seus capítulos, o programa da HBO pouco avança, dando pouca vazão inclusive para as teorias que fãs tipicamente fazem após ver os episódios. Nos primeiros anos por exemplo, morrem muitos personagens importantes, mas de 2015 para cá poucos morrem, exceto  vilões, como Ramsay Bolton, ou um ou outro vassalo carismático.

    Talvez a maior revelação acontece exatamente no final de 801 de GOT, quando Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) encontra Bran Stark (Isaac Hempstead Wright), fato que não acontece basicamente desde o piloto, quando o guerreiro responsável pela morte do “Rei Louco”, por amor, se livra da presença do menino logo após ser flagrado transando com sua irmã, Cersei (Lena Headey), jogando o rapaz pela janela para a morte, fato que obviamente não acontece. No entanto, essa é a única menção real a estranha união entre o Sul dos Lannister e o Norte que seria atacado em breve pelo exercito do Rei da Noite. Ora, não se sabe sequer se há ressentimento ali entre os dois, isso pode ou não ser explorado em GOT 8.02 mas não há garantia de nada, afinal esse capítulo apesar de ter muito reencontros, se restringe a reuniões mega óbvias. Aqui não se resolve nem a possível rivalidade entre os dois personagens, nem se dá vazão para que o espadachim maneta perceba o quanto cresceu o antigo menino, e o quão poderoso e estratégico para a tal guerra ele se tornou.

    Ao invés de explorar por exemplo a questão que envolve o exercito do Sul ir ou não ao Norte combater os caminhantes brancos, o roteiro de Dave Hill resolve amarrar pontas soltas fúteis, como a união tão esperada pelos fãs virjões, entre Jon Snow (Kit Harrington) e Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), relação essa que é morna, chata, e de interessante, só faz refletir sobre os Targaryen serem uma família incestuosa, uma vez que é difícil manter aquele cabelo branco por outras gerações – Aegon por exemplo, herdou as cores de cabelo de sua mãe, uma Stark – ainda que os dois apaixonados que ficam trocando gracejos típicos dos romances em folhetim das revistas Sabrina e Super Julia não saibam que são tia e sobrinho. A HBO rende-se a mania de shippar casais, tal qual a CW adora fazer em Arrow ou Flash, dali realmente se espera, até pelo tom juvenil dessas, aqui não.

    Uma das poucas coisas positivas nesse capitulo, é a reunião do que restou dos Starks, exército esse que tem tendência a crescer, independente até de conseguir mais alistados. A verdade revelada a Jon Snow sobre sua origem e parentesco é feita sim, por seu fiel escudeiro, Sam (John Bradley), mas carece de emoção ou dramaticidade. Soa como um artifício obrigatório e sem necessidade de ocorrer de forma tão tacanha e previsível, isso faz perder bastante do impacto que era esperado.

    Talvez o único ponto fora da curva,plantado nesse episódio,  seja o fruto da relação de Cersei e Euron Greyjoy (Pilou Asbæk), afinal, ela poderá dizer que o filho que espera é dele, e não do irmão, fato esse que obviamente não seria inédito, e que casaria com uma profecia dos livros, de que seria o destino de Jaime ser o King Slayer, para muito além de ter assassinado o Rei Louco, até por conta de uma conhecida teoria de que seria ele o responsável por acabar com o sangrento mandato de sua irmã / amante, já que ela claramente é insana e não abraça a causa continental contra o Rei da Noite. Natural que seu irmão tente repetir seu ciclo de regicídio, dadas as circunstâncias.

    No entanto, ao invés de desenvolver isto, se escolhe dar vazão a romances, e a piadas de casal, como foi feito em outra serie nerd, como em The Walking Dead, onde mais se vibrou com a relação de Rick e Michonne ao invés de refletir sobre a condição humana em um ambiente pós apocaliptico. Aqui também,  o inverno e os inimigos dos homens se aproximam, mas sempre há vazão para uma relação de amor e para comunicados com zero surpresas. Dito isto, é impressionante com Jon se preocupa mais que a honra do finado Ned Stark, que não lhe contou a verdade por conta de ter perdido a cabeça, e sempre o protegeu, diante da enormidade de situações estranhas que lhe ocorreram, com ele ressuscitando, ser descendente legítimo de duas grandes famílias é tranquilo, o que não é tranquilo é a Khaleesi falar para ele “esquentar a rainha”, aos olhos de dois dragões ciumentos…isso é difícil engolir, mas ainda há o que teorizar nos próximos seis capítulos (assim esperamos).

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  • Crítica | Deuses Do Egito

    Crítica | Deuses Do Egito

    Depois de um começo de carreira promissor, seguindo os dois estilosos longas de estreia O Corvo e Cidade das Sombras, Alex Proyas colecionou altos e baixos em sua filmografia, desde malfadadas adaptações de Isaac AsimovEu, Robô – até filmes risíveis, estrelados por Nicolas CagePresságio. Quando surgiu a ideia de adaptar a mitologia egípcia para um estilo semelhante ao que fizeram com a refilmagem de Fúria de Titãs, seu nome foi aventado e prontamente recebido, ainda que isso não tenha garantido a Deuses do Egito qualquer sobriedade.

    A história se passa em tempos clássicos, ignorando a óbvia questão inerente à cor da pele dos homens e mulheres do Egito, que só permitem ter a pele mais morena em alguns camponeses e serviçais, salvo raras exceções. A jornada comum cabe a Bek (Brenton Thwaites), um rapaz jovem e apaixonado, que habita um lugar com faces vivas de todos os deus clássicos. Logo é mostrado Horus (Nikolaj Coster-Waldau), uma divindade de gostos populares incluindo aí a predileção por mulheres de decotes bastante generosos.

    Próxima da coroação de Horus como rei, a cerimônia é interrompida por seu tio Set (Gerard Butler), que se apresenta como um homem honrado, ainda que sua postura conciliadora dure pouco, já que há uma alta traição de sua parte que fere mortalmente Osíris (Bryan Brown), provocando neste protagonista uma fúria imensa. Os problemas do filme se manifestam com maior força neste ínterim, excluindo é claro as inconveniências estéticas, já que as soluções soam muito fáceis, com consequência fúteis para questões que deveriam ser complexas, como a tomada de poder por um tirano, a qual é assistida por uma multidão pronta a aceitar as ordens de qualquer um, dada a letargia de seu povo.

    A tentativa de aproximar os seres poderosos de meros mortais em essência é uma boa ideia, mas sua execução tropeça em erros básicos, como a composição da corte real e total ignorância em relação aos hábitos e costumes da civilização retratada, em especial pelas duas figuras femininas principais, Zaya (Courtney Eaton), a amada de Bek, e Hathor (Elodie Yung), antiga amante de Horus, que só fazem expor sua carne, seja em quaisquer de suas atividades corriqueiras, incorrendo em uma ofensa ao estilo e roupas da época, algo que não foi visto sequer nos filmes das múmias e em Cleópatra, ainda que estes sejam passados em época diferentes deste longa.

    Também há o agravante de que os ambientes em CGI e efeitos práticos funcionam em alguns pontos da trama e em outros não. A transformação em peças de combate é ruim, mas até pode ser relevada em alguns pontos. Porém, as lutas coreografadas com bonecos digitais do medievo, ou escorpiões sem a mínima textura, fazem toda a suspensão de descrença se tornar algo monumentalmente terrível, ao invés de ser apenas uma fuga da incredulidade.

    Os eventos contidos no argumento de Burk Sharpless e Matt Sazama são genéricos, tanto que serviriam em um ambiente moderno de caça a feiticeiras – como em O Último Caçador de Bruxas – ou em uma remontagem de Vlad, o Empalador – assim como Drácula: A História Nunca Contada.

    O reclame de Proyas em relação às críticas negativas que recebeu é injusto, mas não surpreendente, visto o deslocamento da realidade que o mesmo sofreu ao dar sequência a sua carreira. Seu filme causa exaustão pelos erros crassos de roteiro e por ter uma duração grande demais para uma aventura descompromissada, além de habitar um limbo entre ser um produto extremamente caro e ainda tencionar uma aventura escapista e sem amarras com realidade ou coesão textual.

    Os reviews negativos não ocorrem por moda, e sim pela clara falta de qualidade e identidade de Deuses do Egito. O público habitual de Transformers, Piratas do Caribe, Velozes e Furiosos e demais franquias semelhantes talvez não se choque com os problemas de concepção, e é esse tipo de cinema que a carreira recente de Proyas abraça. Por isso, é comum que a crítica especializada o espanque, acima de suas próprias reclamações.

    A fotografia de Peter Menzies Jr. ambiciona muito e entrega pouco, atrapalhada por uma arte trôpega e repleta de efeitos especiais que primam pelo preciosismo. Talvez o único motivo real para assistir ao filme seja no sentido de conferir a performance de Elodie Young em um blockbuster, antes dela encarar Elektra na segunda temporada de Demolidor, como havia ocorrido com Henry Cavill, em Imortais, filme o qual muito se assemelha a essa obra.

    A intenção de ser épico não é atingida em nenhum grau, nem nas lutas, que são bastante anticlimáticas e óbvias, tanto em relação ao resultado final, quanto no desenrolar da ação. Se a intenção do diretor e produção fosse produzir um filme de efeitos especiais, cuja qualidade é discutível, Deuses do Egito acerta em cheio, já que o sucesso de público não foi estrondoso, com arrecadação pífia em suas primeiras semanas. Ecos da falta de qualidade do filme, além de quase sepultar a intenção da Lionsgate em transformar isso em uma franquia.

  • Review | Game Of Thrones – 5ª Temporada

    Review | Game Of Thrones – 5ª Temporada

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    Quando Ned Stark proferiu uma das mais célebres frases de Game Of Thrones, “preparem-se, o inverno está chegando”, ele não estava brincando. Stark se referia ao período sombrio e rigoroso que aquele mundo criado por George R. R. Martin passaria a enfrentar dentro de algum tempo. Pois bem, o inverno chegou, e se traçarmos um paralelo com a novela de Westeros, podemos dizer que o inverno também chegou, não só para os criadores e principais roteiristas da série, David Benioff e D. B. Weiss, mas também para os fãs da série e dos livros. Com a demora (justa) de Martin para entregar o sexto (e possível penúltimo) livro, pré intitulado Winds Of Winter, percebeu-se que essa quinta temporada conseguiu não só alcançar os livros das Crônicas de Gelo e Fogo, como também já apresentou momentos e passagens que, até então, eram desconhecidas para seus leitores.

    Pela primeira vez, com exceção da Casa Bolton, já estabilizada como a casa que domina o Norte, a quinta temporada mostrou uma certa homogeneidade entre os núcleos, uma vez que era normal um núcleo ser mais vitorioso ou bem-sucedido em relação ao outro. Ainda que do outro lado do continente, em Meereen, onde o deserto e o clima quente prevalecem, o inverno também chegou para Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), ainda que de forma figurada. Por conta de seu governo que, por um lado libertou os escravos, mas por outro acabou trazendo fome e miséria para a população, despertou a ira de um grupo conhecido como Filhos da Hárpia e passou aos poucos a dizimar a população, os aliados e alguns imaculados que servem Daenerys. E é justamente no núcleo de Daenerys que temos um dos primeiros acontecimentos que até então não havia registro nos livros. Após fugir de King’s Landing, junto com Varys (Conleth Hill), Tyrion Lannister (Peter Dincklage) é sequestrado por Sir Jorah Mormont (Iain Glenn), que tem como objetivo entregá-lo a Daenerys como prova de que agora está ao seu lado.

    Aliás, vale destacar o quanto a Casa Lannister enfraqueceu com a morte de seu patriarca, Lorde Tywin. O rei Tommen (Dean-Cherles Chapman) é muito jovem e seu tio, Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) está numa missão em Dorne para resgatar a jovem Myrcella (Nell Tiger Free), irmã de Tommen. Desta forma, Cersei Lannister (Lena Headay) ficou sozinha na capital e consequentemente, desprotegida. E, assim como os Filhos da Hárpia, um grupo religioso extremamente conservador, liderado pelo Alto Septão, começou a fazer justiça com os pecadores da cidade, o que gerou uma das mais memoráveis cenas desta quinta temporada.

    Pela primeira vez conhecemos Dorne, a terra da Casa Martell, do Príncipe Oberyn, um dos personagens mais queridos da quarta temporada. Infelizmente, o que vemos em Dorne foi mal trabalhado. Mostrou-se tudo, mas não vimos nada. Conhecemos as filhas de Oberyn, e vimos pouquíssimo suas habilidades como guerreiras, sendo o destaque, apenas, um ótimo diálogo entre Obara Sand (Keisha Castle-Hughes) e o sempre sensacional Bronn (Jerome Flynn). O mesmo podemos falar da viagem de Brienne de Tarth (Gwendoline Christie) e seu escudeiro, Podrick (Daniel Portman), que esbarraram com Sansa Stark (Sophie Turner) no caminho para, depois, acabarem com o sofrimento de Stannis Baratheon (Stephen Dillane) em Winterfell. Aliás, o orgulhoso Stannis só colecionou derrotas e desgosto em sua jornada ao trono de Westeros. O único herdeiro ao trono por direito se aliou à feiticeira Melisandre (Carice Van Houten) que só trouxe desgraça para a sua família. Talvez, as coisas tivessem sido diferentes se Stannis ouvisse Sir Davos Seaworth (Liam Cunningham), que novamente, dividiu ótimas cenas com seus colegas, principalmente com a jovem Shireen (Kerry Ingram), que foi responsável pelo que talvez seja a cena mais chocante de toda a temporada.

    A vida de Arya (Maisie Williams) também foi dura. Mesmo chegando sã e salva a Braavos, e após encontrar seu “velho amigo”, Jaqen (Tom Wlaschiha), começou seu treinamento para se tornar uma Sem Face, mas o treinamento é mais difícil do que aparenta ser, o que deixa a menina completamente desmotivada. Pela primeira vez na história do seriado, o arco de Arya foi desinteressante e o mesmo seguiu com sua irmã, Sansa, que foi deixada em Winterfell pelo “mindinho”, Lorde Petyr Baelish (Aiden Gillen) para se casar com o cruel Ramsey Snow (Iwan Rheon), que agora detém o sobrenome Bolton. Aliás, o jovem ator Iwan Rheon merece ser elogiado por suas ótimas atuações que não vêm desta temporada. Ramsey já é mais odiado que o falecido Geoffrey por toda crueldade (merecida, diga-se) cometida a Theon Greyjoy (Alfie Allen), que foi transformado praticamente num cão doméstico, além de cometer outros atos cruéis e sádicos de gostos duvidosos que causaram muita ira e controvérsia aos fãs, como o estupro de Sansa, assistido por um arrependido Theon, que cresceu junto a Sansa como se irmão fosse.

    Um pouco mais ao norte de Winterfell está A Muralha defendida pela Guarda da Noite, e que agora tem um novo lorde comandante, qual seja Jon Snow (Kit Harington), que liderou e saiu vitorioso na batalha contra parte dos selvagens liderados por Mance Rayder (Ciaràn Hinds). Jon, que contou com o apoio de Stannis Baratheon para aprisionar Mance, se viu numa situação difícil, tendo que recusar, inclusive, o sobrenome de Stark oferecido por Stannis caso a Guarda da Noite o ajudasse em sua investida contra os Bolton em Winterfell. Porém, presenciou um dos momentos mais sensacionais da temporada, quando liderou uma expedição à terra dos selvagens para oferecê-los ajuda e abrigo no Castelo Negro. A investida não deu muito certo e Jon e a Guarda da Noite tiveram a certeza de que o inverno tinha chegado por conta da horda de White Walkers que atacou a vila dos selvagens. Não sei se foi intencional, mas, aqui, os efeitos especiais lembraram muito (claro, com a tecnologia dos dias atuais) os do primeiro Fúria de Titãs, além de remeter e muito ao jogo Diablo. Aliás, seria muito bom se todas as casas de Westeros parassem de guerrear umas com as outras e se unissem contra os White Walkers. Realmente, o que vai acontecer daqui pra frente é uma incógnita. O que nos resta é acreditar que, de fato, esses seres são coisa séria.

    De qualquer forma, ainda que essa quinta temporada tenha sido morna, o maior seriado da história do canal HBO e o mais pirateado do mundo continua com sua qualidade inegável. Infelizmente, os arcos não emplacaram, muito menos empolgaram, exceto por uma vez ou outra. Porém, não se sabe o que aconteceu, uma vez que o time de roteiristas continuou o mesmo. O que mudou muito em relação às outras temporadas foi o time de diretores, sendo que muitos deles dirigiram a série pela primeira vez. Não tivemos grandes nomes como Alan Taylor (que dificilmente retornará, por ter feito filmes como Thor: O Mundo Sombrio e O Exterminador do Futuro: Gênesis), David Nutter, Michelle McLaren e Neil Marshall. Mas, ainda assim, fica aqui a curiosidade sobre qual será o desfecho dos personagens nas próximas temporadas, uma vez que deixou claro que muitos deles já fizeram as suas últimas curvas para o final da história, que deverá ser em mais duas ou três temporadas.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Segunda Chance

    Crítica | Segunda Chance

    Segunda Chance 1

    A reabilitação anunciada no título do filme de Susanne Bier se perde diante da imundície do apartamento investigado pelo detetive policial Andreas (Nikolaj Coster-Waldau), que adentra a casa do junk Tristan (Nikolaj Lie Kaas), que vive junto a sua parceira Sanne (May Andersen). A vida degradante dos personagens se resume a práticas sexuais na sujeira típica daquele micro universo, regada a muita bebida e heroína. A condição se agrava quando Andreas percebe a presença do recém-nascido Sofus, que chafurda em uma fralda imunda, e que claramente estranha toda a agitação no apartamento, derramando lágrimas e gritos. A partir daí, nota-se que a história será narrada a partir do choro de bebês.

    Na intimidade, o protagonista chega a um lar igualmente perturbado, ainda que a sujeira não impere no lugar. O cuidado paterno dele e – supostamente – o de sua esposa Anna (Maria Bonnevie) com seu pequeno rebento, Alexander. O altruísmo proveniente do cuidado com a criança serve de resposta e contra-ataque à melancolia do começo da fita, assinalando ainda mais o abismo entre o comportamento dos dois núcleos familiares.

    O primeiro aspecto comum entre os modos do clã é a dependência mútua de drogas, ainda que as intenções sejam completamente diferentes. Anna sofre distúrbios mentais, e lança mão de produtos tarja preta, algo originário do desespero diante de mais um trauma, beirando mais um descontrole emocional. Anna ultrapassa uma linha que mesmo a desequilibrada Sanne não cruza, e tal arremedo serve como o primeiro de muitos twists do roteiro de Anders Tomas Jensen.

    Em determinado ponto, a adoção vira a alternativa mais lógica, ainda que seja moral e eticamente discutível, para dizer o mínimo. A árdua “tarefa” mostra-se em uma cena angustiante e bem urdida, que consegue até fugir da aura comumente sensacionalista que o espírito pedia. Andreas, ao cometer sua “indiscrição”, não consegue segurar seu ímpeto, e corajosamente, não nega seu pecado a sua parceira. O vômito de Anna serve de avatar ao asco pelo “roubo”, e, claro, vira também um paralelo com a resposta física ao duro golpe de ter perdido seu filhote.

    De um lado, há a clara preocupação de manter princípios básicos e espirituais, do outro o receio de ser encarcerado, conceitos separados por uma divisa familiar liderada por Andreas e Tristan. Claro, em lados opostos, o que dá forças para o fácil discurso proveniente da mentalidade pseudo meritocrática em relação à paternidade.

    O roteiro não aborda nada novo, de fato, só torce a realidade para uma discussão bem antiga, atualizando a questão para plateias mais moças, ávidas por uma estilização mais categórica e condizente com plateias jovens.

    Os elementos visuais dizem muito, compondo o quadro geral de modo singelo. Como as paredes de vidro, tentam emular uma falsa transparência. O argumento dos junks é refutado, mas o contraponto é pontual e presente na relação de Andreas com seu parceiro Simon (Ulrich Thomsen), que varia entre o arquétipo de mentor falido e companheiro. O segundo twist também é igualmente bem executado em relação a discussão de paradigmas, transformando os dramas em aspectos ainda mais humanos.

    A consciência de Andreas passa a assombrá-lo, assim como a culpa, que insiste em ocupar sua mente e alma apesar de sua recusa. A resiliência toma o espectador de assalto, ao se perceber que não há qualquer personagem a se agarrar, uma vez que o final revela o real caráter de cada um, repleto de crimes e imoralidades indiscutíveis.

    A dolorida verdade faz o personagem principal sentir remorso e retornar ao estado de justiça inicial. Ainda que não haja uma entrega plena, ocorre um abandono da vida pregressa. O inexorável, de que o paraíso não existe e que tampouco cabem finais felizes, é cruel, porém realista, sobrando então a rendição a um destino agridoce e levemente menos culposo, fruto de um roteiro que beira o sensacionalismo, mas entrega uma história congruente.

  • Crítica | Mil Vezes Boa Noite

    Crítica | Mil Vezes Boa Noite

    Se toda atuação de Juliette Binoche fosse levada tão a sério como cada uma merece ser, ela seria a vencedora unânime em todas as premiações, ano após ano, filme após filme – vide Camille Claudel 1915, onde fez a grande atuação feminina de 2013. Aqui, é novamente uma lutadora sem armadura, Rebecca, que agora deve escolher, por imposição de ideais familiares, entre a família ou o campo de batalha. Sua guerra é a fotografia, sua guerra e seu bálsamo para algo extra-habitat caseiro que lá ela jamais consegue saciar – uma sede que não termina na presença das filhas, sequer na do marido, ambos dependentes de seu amor. O coração da fotógrafa depende do mundo, do mar, do fogo, dos quatro elementos, como nos é indicado desde a primeira cena: a impiedosa explosão em uma van no Oriente Médio.

    O fogo da chacina coletiva, o ar entrecortado pela fumaça, a terra rebuscada ao redor e a água salgada que verte dos olhos da mãe, que lá é apenas uma fotógrafa que encontra sua paz em qualquer condição, ou situação, que demande registro por seus olhos, vulgo câmera. Nessa analogia respeitável – e quase óbvia – do cineasta com a paixão pelo Cinema, Mil Vezes Boa Noite torna respeitável esconder dilemas políticos dignos de registro por trás da serena história principal. O filme é uma árvore frondosa que, fotografada às 17 horas, faz com que conseguimos enxergar as raízes e, a partir de cada um de nós, deduzir muito ou pouco da copa e seus frutos ainda banhados ao sol. Sim, é um filme que brinca com nossa lucidez, sobre o que podemos sentir, e o que não devemos sentir vergonha de não poder. Mas o que uma águia prefere: ficar sentada em segurança num poleiro ou se arriscar nas tempestades onde nasceu para estar?

    O dever chama, e o filme brinca de forma natural, e por vezes graciosa, com o livre-arbítrio da protagonista, pois tal qual a mulher homônima do clássico de Hitchcock, Rebecca busca sua identidade no que repousa além do que os olhos podem ver. Por mais irônico que isso seja, num filme em que a foto e o diegético são o eixo principal de uma narrativa de encontros e despedidas entre personagens que passam pela vida de Rebecca feito bolhas na espuma do mar – captadas para sempre mas que nunca voltam em seguida. O preço da liberdade surge e geme pedindo estrada, pedindo futuro quando ela, espécie de alterego da cineasta Agnès Varda, mostra fotos obituárias, lindas e trágicas a sua filha, tiradas pela mãe no Congo, em um dos flashbacks que o filme nos apresenta através da imagem estática, mas tremida e profunda nos closes em Binoche, extraordinária atriz, com sua ansiedade pela batalha em cada momento, em todo suspiro, em cada vacilo. É duro criar o próprio céu para voar, toda águia sabe disso.

    Não há espaço, felizmente, a algum humor ou suspense involuntário no filme, posto que é bem colocado e conduzido em seu gênero dramático por excelência. Um retrato humano sem máscaras ou photoshop aos fatos e emoções transpostas com elegância e delicadeza, tampouco variações de moldura devido às visões semelhantes que todo espectador pode ter da história – mas engana-se quem chamar o filme de previsível, essa pode ser a última coisa que Mil Vezes Boa Noite é, afinal. Típico pequeno filme atemporal, de impressões além-tela, alheio a efeitos de percepções imediatas.

    Nas entrelinhas, sobretudo, há, até certo ponto, até quando interessa de haver, um gostoso e indolor tom ingênuo e emocional que sugere a ideia de equilíbrio entre o que é particular e o ofício de Rebecca, como se o diretor Erik Poppe expressasse sua posição quanto à situação dela muito antes do clímax de seu melhor filme até agora. Filme maduro, de ritmo certinho e quase documental para nos informar sobre tudo da melhor e de mais simples forma possível, que não subestima seu poder, jamais, e o usa com uma sempre bem-vinda sabedoria artística à tona naquilo de sólido e consistente que habita os méritos de belos filmes como esse. Esses que nunca lotam salas de cinema populares, mas que abusam das fronteiras da arte enquanto analista da vida real.

  • Crítica | Mulheres ao Ataque

    Crítica | Mulheres ao Ataque

    The-Other-Woman

    Incógnita no início, sem nome apresentado antes de suas belas curvas, a personagem de Cameron Diaz, Carly Whitten, tem tudo o que uma mulher “poderia querer”: uma carreira de sucesso, dinheiro, um homem lindíssimo tratando-a como uma rainha. A perfeição em que está inserida é fruto de estereótipos, de uma sociedade que insiste em enquadrar as mulheres em invólucros de desejos, quase sempre inalcançáveis.

    Nick Cassavetes capitaneia a comédia leve que utiliza esses preceitos como a base do mundo que será explorado, mas que obviamente não discute tais conceitos, ao menos não sob o ponto de vista da eterna briga do machismo e feminismo, mas sim focando outras velhas questões, como a infidelidade e a cafajestice masculina. O homem com quem Carly se envolve, Mark King (Nikolaj Coster-Waldau), é casado com uma bela senhora, pouco mais velha do que a protagonista, chamada Kate (Leslie Mann), e elas se encontram de um modo bastante louco. A partir daí, o encontro entre as duas mulheres é completamente louco.

    Após ambas tomarem nota do que ocorreu entre o esquisito triângulo amoroso, Kate e Carly continuam se encontrando, e após um porre, Kate acorda e vai vivendo a sua rotina de novo, percebendo o quão sem sentido é seguir seu rumo como se nada tivesse acontecido. Sua saída é retornar ao encontro da amante, porque nada mais faz sentido. A inconveniente conversa entre elas se estende demasiado e o processo de empatia é lento, apesar de toda a forçação da esposa. Aos poucos elas se reúnem, depois, é claro, de mais uma noite de porre alcoólico. O “inesperado” ocorre, e elas se juntam para aplacar o sofrimento que ambas têm, ainda que essa junção passe por altos e baixos.

    Enebriadas pelo ciúme, elas descobrem a presença de um terceiro elemento, Amber (Kate Upton, que tem muitíssima confiança em seu corpo, e com razão), uma amante mais nova e com muito mais atributos físicos que as duas, mas que se sente igualmente traída. Toda essa “elaborada” trama demora quase uma hora para se desenrolar, claro, acompanhado por situações calcadas no humor pastelão.

    O “inesperado” (novamente) ocorre, e as meninas decidem colocar ação a uma vingança onde todas dão corda a ele, aprontando mil peripécias, algumas baseadas em humor físico, como piadas de peido e outras mil que buscam diminuir a virilidade do sujeito. Nada que passe perto do ineditismo no humor, tal que o público consegue prever quase todas as gags cômicas. Alguns momentos são autenticamente engraçados, ainda que raros para a longa extensão do filme, que tem quase 120 minutos de exibição.

    O método com o qual Cassavetes filma não guarda qualquer particularidade, e a fita é semelhante demais a Alpha Dog, um de seus filmes anteriores cuja fotografia é tão pobre quanto o roteiro, assemelhando-se a um filme amador, ainda que tenha um elenco de estrelas. Os mesmos defeitos se repetem em Mulheres ao Ataque, mesmo com o roteiro. Em alguns pontos, o texto de Melissa Stack ensaia uma reviravolta legitimamente interessante, mas isso acaba não se cumprindo.

    Aos poucos, cada uma das heroínas vai encontrando o seu lugar. O que um dia foi ocupado pela presença de um homem injusto e ingrato é tomado pela superação de cada uma, especialmente da que mais tempo viveu com ele. Kate demora para aceitar sua condição e perceber que viveu uma mentira, mas consegue dar o passo seguinte apoiada por uma das mulheres que foi causa do seu infortúnio.

    Assim, as três mosqueteiras dão a Mark um discursinho sobre como ele é um sujeito vazio, sem coração e um pedaço de merda (tradução literal) por se aproveitar de tantas mulheres, gastando quantias enormes de dinheiro com elas, com roupas, jantares caros, viagens e, claro, expondo-o ao ridículo num último esforço tragicômico. O que na verdade ocorre é que o final da fita expõe o quão solitárias eram as vidas das três. O trio só passa a ter uma existência digna após a malfadada vingança, com cada uma delas encontrando o seu lugar ao sol. É como se após todo o rancor que elas guardassem fosse despejado de uma vez, e com isso, seus talentos poderiam pulular pela face da terra. Nesse ponto, o filme consegue ser um dos espécimes mais bregas do circuito de 2014, além de claro, de não propor qualquer discussão e tampouco ser minimamente engraçado.

  • Crítica | Oblivion

    Crítica | Oblivion

    Mesmo não sendo o suprassumo do gênero, este é um filme de sci-fi para fãs de sci-fi. Não só pela história em si – felizmente, não apenas um mundo pós-apocalíptico como pretexto para cenas de ação -, mas também pela infinidade de referências a outras obras de ficção científica que fãs mais aficionados certamente se divertirão identificando. E a quantidade de referências chega a ser, ao mesmo tempo, qualidade e defeito, já que em vários momentos faz o espectador “sair” do filme ao tentar lembrar a qual obra remete aquela cena, diálogo ou cenário. Numa contagem rápida e rasteira, há referências a oito filmes, sendo Wall-E e 2001 – Uma odisseia no espaço as mais óbvias – algumas das demais é preferível não citar, pois configuraria spoiler.

    O roteiro foi baseado numa graphic novel homônima do próprio Joseph Kosinski, com desenhos de Arvid Nelson. E, assim como em seu filme anterior – Tron: o legado – Kosinski apresenta ao espectador um ambiente visualmente interessante, bem menos grandioso mas totalmente condizente com a realidade do futuro não muito distante em que se passa a história. A “casa” acima das nuvens em que vivem Jack Harper (Tom Cruise) e sua parceira, Victoria (Andrea Riseborough), com seu visual clean e asséptico – em branco e prata, além de muitas transparências – faz o contraponto na medida com o ambiente inóspito da “superfície”.

    Interessante notar que os personagens também refletem essa dicotomia. Enquanto Vika parece fazer parte da residência – tão arrumada e estéril, sem nenhum fio de cabelo fora do lugar – Harper parece deslocado ali dentro, menos à vontade do que quando exposto à poeira da superfície devastada. Em vários momentos, o comportamento de Vika – condicionado, irredutível, robótico até – faz pairar uma dúvida sobre sua humanidade. Em contrapartida, apesar dos trejeitos de Ethan Hunt, Harper é nitidamente mais “gente como a gente”, saudoso do planeta que conhecia antes do ataque alienígena. Completam a galeria de personagens Beech (Morgan Freeman) e Sykes (Nikolaj Coster-Waldau, o Príncipe Jaime de Game of Thrones).

    A primeira meia hora do filme é bastante lenta, com vários trechos que, se suprimidos, não fariam falta – inclusive a introdução inicial com narração em off, já que Harper repete toda a história para Julia Kusakova (Olga Kurylenko) após resgatá-la. Além disso, várias cenas contemplativas, embora agradavelmente embaladas por Led Zeppelin, poderiam ser encurtadas sem prejuízo algum. Ao contrário, certamente o ritmo da narrativa se beneficiaria, evitando tantas “barrigas” durante o filme. É nítida a intenção do roteirista/diretor de apresentar detalhes do universo do filme e de seus personagens. Porém isso poderia ter sido feito não necessariamente de uma maneira mais dinâmica, mas certamente mais enxuta. O ritmo da trama parece se ajustar após esses 30 minutos iniciais, conseguindo mesclar bem as cenas de ação e as de questionamento e/ou explanação dos eventos. Infelizmente, as várias perguntas, tanto de Harper quanto do espectador, vão se acumulando no decorrer do filme e o roteiro tenta respondê-las nos 20 minutos finais. O clímax não fica bem resolvido, explicações são dadas às pressas e de forma explícita – o que, de certa forma, presume que o espectador seria incapaz de perceber detalhes -, reafirmando a falta de consistência narrativa.

    A premissa é boa, os personagens são bons, o filme é visualmente impressionante, os efeitos especiais são bem feitos, abundantes mas pouco invasivos, a trama tem algumas reviravoltas interessantes. Pena que o roteiro não consiga amarrar isso tudo de uma forma melhor. Tem-se a impressão de que há muitas boas ideias, mas alguma falta de maturidade ao organizá-las. Mas também há indícios de que Kosinski está no caminho certo, se continuar evoluindo desse modo.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Mama

    Crítica | Mama

    mama

    Atualmente, o que mais tem por aí é gente dizendo que o cinema (e a produção cultural em geral) está em crise, tanto pela falta de criatividade e homogeneização do pensamento em Hollywood quanto pela massificação e velocidade de reprodução e consumo dos bens produzidos pela indústria cultural.

    O fato é que o cinema de terror vive uma crise maior que a do cinema. Desde os clássicos dos anos 70, como O Bebê de Rosemary e O Exorcista, que levaram e assustaram multidões aos cinemas, não vimos mais fenômenos tão marcantes ou duradouros. Com algumas raras exceções, os anos 80 e 90 produziram uma quantidade enorme de títulos no gênero, um mais genérico que o outro, e apesar de algumas tentativas recentes mais realistas, intimistas e autorais, como as levadas a cabo por Guillermo del Toro, o cinema de terror ainda patina frente a uma população mais cínica, esclarecida e acostumada com a violência que desdenha de grande parte das produções que aparecem.

    Mama, filme de Andy Muschietti baseado em um curta do mesmo autor, se situa na descrição acima. Ao mesmo tempo em que tenta invocar um terror intimista, falha ao pecar justamente na progressão das cenas e dos personagens, não fazendo jus as suas quase duas horas de duração. O filme conta a história de duas crianças abandonadas pelo pai, que some de forma bem clara e nem um pouco misteriosa, colocando já de cara as cartas do filme na mesa. (Não é interpretação. O sobrenatural existe mesmo. Ponto para a coragem da abordagem.) As duas crianças sobrevivem por cinco anos na casa com a ajuda de uma entidade misteriosa até serem descobertas pelo tio Lucas (Nikolaj Coster-Waldau), irmão do pai delas, que as leva para criar junto com sua namorada Annabel (Jessica Chastain).

    A história se desenvolve a partir de situações que vão do leve incômodo (como em filmes de terror qualquer funcionário de cartório é especialista em fantasmas) até o mais absurdo (como da cena final, onde qualquer possibilidade real de final resolvido, só caberia justamente em uma plateia dos anos 70, sem o atual vício realista).

    Em momento algum acreditamos na relação das personagens, que passam, de uma hora para outra, de estranhos a um amor incondicional, ou mesmo na sucessão de eventos que exige uma crença do espectador que ele dificilmente dará. Pessoas se encontram em estradas desertas sem combinarem, personagens resolvidos fazem pós-aparições provocativas sem resultado algum na trama, são só alguns exemplos de incongruências da história, que não é salva pela bela e assustadora fotografia de inverno no início do filme, que remete aos Irmãos Grimm.

    Guillermo del Toro produz o longa, e parece ter chamado para si toda a responsabilidade a respeito dos filmes de terror na última década, após belas realizações como Labirinto do Fauno. No entanto, suas últimas produções têm deixado a desejar, pois parecem seguir um roteiro formatado e estabelecido (“filme independente europeu de um diretor jovem e desconhecido adaptado para o público americano”), que nos trouxe também coisas positivas, como REC e O Orfanato, mas que agora definitivamente parece ter chegado à exaustão.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.