Tag: Emilia Clarke

  • The Iron Thron: Expectativas e Finitude – Análises e Teorias Sobre Game of Thrones

    The Iron Thron: Expectativas e Finitude – Análises e Teorias Sobre Game of Thrones

    O começo silencioso do episódio faz lembrar o óbvio: o massacre em The Bells, e que quase nada sobrou. Uma boa prova disso é a cena do homem queimado vagando, passando por Tyrion (Peter Dinklage), enquanto o anão está a procura de seus irmãos, em uma das cenas mais emocionantes das oito temporadas. Os produtores finalmente lembraram do talento de Dinklage, e deram ao personagem um momento em que poderia fazer as pazes com suas memórias e amarguras.

    Logo depois, temos um enquadramento do momento em que Drogon fica atrás de sua mãe, dando-lhe asas – certamente David Benioff e D.B. Weiss nos relembra que essa não é uma temporada de sutilezas. Neste episódio, Jon Snow volta a ser muitas coisas, principalmente, o excluído que sempre foi. É necessário que o anão que esteve ao seu lado faça um discurso sobre a tirana que Daenerys se tornou, e só assim ele se convença disso. Nada faz muito sentido no arco dele, não pelas conclusões em si, mas pelo modo que ocorrem, e seria um verdadeiro milagre que isso fosse magicamente consertado no final, mas tudo bem.

    O fato do capítulo ter sido conduzido por Benioff e Weiss é de uma licença poética ímpar, pois os acertos e (principalmente) os erros da série são méritos dos dois. Toda a problemática, desde a péssima escolha de Emilia Clarke para momentos dramáticos, e a curva de justiça que o episódio convenientemente dá vazão nos seus últimos instantes. Os pecados que ambos cometeram fez com que recebessem duras e justas críticas a forma como se desenhou esse final, atrapalhado e atabalhoado, de certa forma uma releitura de A Vingança dos Sith. É realmente uma pena a pressa que os criadores tiveram nesse desfecho, pois o desenho final demonstra que a maioria dos problemas de roteiro seriam resolvidos com um maior cuidado se houvesse mais desenvolvimento desses personagens e tramas.

    É bom lembrar que, apesar dos inúmeros diálogos, esse último episódio trabalha bastante bem o silêncio. Desde a contemplação de Daenerys pelo trono ao choque dos personagens pelo massacre que a rainha praticou. Além disso, Tyrion chega as conclusões que precisa sem conversas, Snow percebe que acertou quando não há mais palavras ditas, e Drogon desfaz o trono de mil espadas com seu fogo redentor, sendo o mais racional dos seres. Ao menos não demora mais de uma hora para dar um desfecho a Khaleesi, e sua despedida é emocionante, deixando algo em aberto, sobre o destino de seu Drogon. Ainda assim é odiável ter que assumir que Sansa Stark (Sophie Turner) tinha razão, e odiável que o homem que ressuscitou precise ser convencido de que ele vivo, ainda é um perigo para Daenerys.

    O que se vê a partir da reunião do que sobrou das famílias também faz pouco sentido. Parecendo uma reunião de veteranos de série, após 10 anos dela ter acabado, mas isso ocorre dentro  do próprio seriado. Ao menos, se dá oportunidade para que alguns dos coadjuvantes tenha brilho, como Sor Davos (Liam Cunningham), que de repente, se lembra que pode ser um bom mediador, ainda que não faça sentido ele pedir sobriedade aos outros e depois dizer que não sabe se tem direito a voto. Muita humildade para quem faz parte de um conselho de notáveis. É uma boa piscadela para os fãs o assunto da democracia surgir pela boca de Sam (John Bradley-West). A queda de um rei não parece ser o suficiente para dar poder de voto ao povo, aparentemente esse desejo precisa vir e ser conquistado a partir do povo, e não vindo de nobres, como uma dádiva.

    Martin estava certo, precisava de mais tempo para desenrolar a trama toda e seus personagens com seus destinos. O armistício, a escolha de Bran (de todas as coisas, a que menos faz sentido) e o fato do anão aceitar ser a Mão do Rei soa incoerente e pouco desenvolvido. O rei “quebrado” é tão alienado e ausente do mundo dos vivos que sua realeza é simbólica e só, tanto que nem sua irmã cuida de si, e decide manter seu pedaço de reino independente. Ela ser coroada até faz sentido, e é um dos bons acertos dessa reta final, mas até esse mérito poderia ter sido feito de outro modo e melhor engendrado. Das boas idéias, a coroação de um homem sem herdeiros e sem possibilidade de herdeiros é sábia, ainda que se confie demais em único homem para decidir por seu legado. O destino de Snow é o que mais destaca os problemas apontados neste parágrafo. Ele é sentenciado a retornar a Patrulha da Noite, mas seu destino final é para além da muralha, ao lado dos Selvagens. Não ficando claro se ele decide descumprir a decisão do rei de Westeros ou se se trata de uma missão específica. A cena reitera a ideia de que ele era mais Stark que Targaryen, reunindo-se ao lado de Fantasma mais uma vez.

    Boa parte das teorias finalmente se cumpriram, como os adendos na biografia de Jaime Lannister, o fato de Arya se tornar uma desbravadora, a coroa nortenha de Sansa. Há coisas bem decepcionantes, como Bronn sendo um burocrata ou as Crônicas de Gelo e Fogo sendo entregues sem qualquer emoção ou surpresa. Ao menos Porto Real termina com discussões os detalhes mais burocráticos dos reinos, como fortificações dos muros, alimentação, reconstrução de bordéis e o destino do último dragão. A brincadeira de que essa foi uma história dos Starks é levada até a última das consequências, e é realmente uma pena que essa temporada tenha sido tão frágil e apressada. Quem reclama unicamente desse final parece mesmo não ter acompanhado toda a problemática trajetória da quinta temporada em diante, com anos que vinham piorando cada vez mais.

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  • The Bells: Raiva e Cinzas – Análises e Teorias sobre Game of Thrones

    The Bells: Raiva e Cinzas – Análises e Teorias sobre Game of Thrones

    O quinto e penúltimo episódio da oitava temporada de Game of Thrones finalmente chegou, e com ele o retorno do diretor de ação Miguel Sapochnick. A expectativa e dilema é que as forças que venceram o exército de vagantes consiga tirar Cersei do poder sem destruir e matar todos que estão em Porto Real, no entanto isso não é esperado com qualquer otimismo, visto que mesmo os fãs mais cegos do seriado, em maioria absoluta, se frustram com os acontecimentos mostrados nesse último tomo da Saga de Gelo e Fogo.

    O início desse episódio no entanto guarda algumas surpresas, seguidas de obviedades, ligadas ao coadjuvante (de luxo) Lorde Varys (Conleth Hill), que é julgado (aparentemente o ato de julgar está presente em absolutamente tudo de GOT na 8ª Temporada) por querer o melhor para Westeros. Ele é impedido de falar a verdade sobre Aegon Targaryen. Por mais protocolar (outro aspecto bem presente e repetido neste tomo) que seja isso, ao menos há a testificação da antes possível, agora comprovada insanidade de Daenerys, aspecto que acreditam boa parte dos fãs ser bem típica da sua família. Até as boas relações que ela tem com Tyrion e com Jon são consumidas por sua paranoia e pelo desejo ao trono de ferro, e ela até lamenta um pouco, mas não acha inválido ser mais temida que amada.

    Caso o leitor se incomode com spoilers, saiba que eles se agravarão severamente na análise.

    A postura belicosa da personagem contradiz um dos muitos nomes da mãe dos dragões, afinal ser conhecida por libertar os escravos já devia ser motivo suficiente para mostrar a empatia da personagem, mas aparentemente, para os roteiristas, isso não é tão importante. Os motivos que fizeram ela agir da forma como age é um bocado atrapalhado. Ainda que não se leve em conta a construção literária de George R.R. Martin, o que se construiu ao longo das primeiras temporadas do seriado não faz muito sentido, além do que a saída da maquiagem em deixa-la envelhecida e “feia” é um artifício tão patético que faz perguntar qual era a intenção dos produtores.

    Há uma preparação para a batalha, dessa vez sem o mesmo alarde de Long Night. Quase todo momento que Jaime aparece tem uma carga de emoção forte, e Nikolaj Coster Waldau tem uma chance bastante válida de mostrar seus dotes, ainda que não seja um grande ator, seu desempenho é bem encaixado.

    As cenas de batalha melhoraram drasticamente, ou melhor, o massacre que Drogon e os imaculados fazem no exército dos Lannister e nos piratas de Greyjoy é mostrado de maneira visceral, com muito gore e golpes secos e certeiros dos soldados, que agem covardemente, como os verdadeiros viloes da série. Ao menos em um ponto o ato de vingança foi favorável, se antes não havia estratégia, agora há, e o trabalho da trilha sonora ambienta bem estes confrontos, embora ainda não seja tão épico quanto na Batalha dos Bastardos.

    Em algum ponto, o episódio parecia que ia ter o freio de mão puxado, mas o que se vê depois é uma carnificina, e por mais que a composição seja bela, o ato em si é injustificável, para muito além da moralidade. Para as teorias, esse arco serve talvez para justificar uma possível tomada de poder de Jon Snow, fato que faz preocupar também qual seria a reação emocional de Kit Harrington. Ao menos o grafismo das mortes faz valer um bocado a direção de Sapochnick, que consegue mostrar bem o desequilíbrio emocional da personagem de Emilia Clarke, que bizarramente, tem até pouco tempo de tela, em uma revanche que soa bastante impessoal por conta desse estranho aspecto.

    A tentativa de trabalhar a batalha em várias frentes nao tem funcionado, os êxitos são raros, ainda que ocorram boas lutas entre cavaleiros, mas que infelizmente perdem boa parte de sua importância por ocorrerem no meio de um massacre tão evidente. Os momentos de lição são um pouco forçados, em especial o que ocorre entre Cão e Arya Stark, ao menos, tanto Rory McCan quanto Maisie Williams estão muito bem, representando uma carga emotiva absurda, e com um desempenho bastante superior a qualidade do texto.

    A postura de arrogância de Cersei faz a personagem de Lena Headey se assemelhar demais ao que Grand Moff Tarkin fez em Uma Nova Esperança, não querendo sair da Estrela da Morte em seu possível momento de triunfo, embora isso não pareça provável no momento em que a Rainha é indagada sobre permanecer ou não na Torre Vermelha. Fica a dúvida sobre seu futuro, seria outra quebra de expectativa enorme e mais uma amostra de anti clímax se ela realmente pereceu da forma que se pensa após o término do capítulo.

    Analisar uma temporada episódio a episódio é uma tarefa ingrata, e pode produzir algumas injustiças, uma vez que não se tem noção da mensagem do todo, no entanto, é difícil não ter um sentimento de decepção com os fatos até aqui apresentados, assim como é praticamente impossível não julgar que, por mais apoteótico que seja o episódio derradeiro, ainda assim não salvará todos os outros dessa temporada

    O torpor do insucesso e da falta de planejamento dá lugar a uma vingança que não tem qualquer perspectiva de futuro, seja com relação ao reino, que claramente não existirá após todo esse ataque, ou dos laços e amizades com os guerreiros que acompanharam Khaleesi até esse momento. O fato dela não ter misericórdia ou algo que o valha é um convite para os antigos aliados a ataquem, gerando contenda até nos que está presentes na tal batalha. Por mais que todas as previsões apontassem para algo assim há muita coragem em mostrar isso de maneira tão categórica. Resta esperar qual será a postura de Daenerys com Sansa, que se torna aparentemente sua inimiga mortal, na evolução de um quadro infantil e plantado no começo dessa temporada. É uma pena que Game of Thrones se dedique tanto a evoluir quadros pueris, e nem toda boa violência e brigas justificam isso.

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  • The Last of Starks: Espera e Lágrimas – Análises e Teorias sobre Game of Thrones

    The Last of Starks: Espera e Lágrimas – Análises e Teorias sobre Game of Thrones

    O quarto episódio da última temporada de Game of Thrones, The Last of Starks, começa valorizando aqueles que tombaram em batalha, em especial com Khaleesi se despedindo de seu fiel escudeiro, Sor Jorah, que morreu em sacrifício por sua amada. Quem reclama da participação de Emilia Clarke não tinha noção do que esperaria por ela em outras situações do roteiro.

    Este início é bastante lento, demorado e anti-climático, mas contém bons momentos, como quando Sansa dá ao cadáver de Theon um brasão dos Stark, para que ao menos em sua despedida ele possa ter uma ligação maior com a família a que sempre serviu. Há um discurso inflamado de Jon Snow, e Kit Harrington coloca ali uma energia que há muito não se via. Essa energia poderia ter sido gasta preparando minimamente o exército contra os inimigos mortos-vivos, mas o que se viu não foi isso, e sim letargia e inabilidade.

    Tyrion funciona como a voz do público ao conversar com Sor Davos de que é preciso “enfrentar a nós mesmos”, ou seja, os homens (ou os Lannister). Isto abre a discussão sobre qual era a luta real, reforçando o argumento desta temporada de que o inimigo seja Cersei. Ainda que na temporada anterior tenha se vendido algo completamente diferente disso.

    O momento mais irritante deste episódio certamente mora na completa face inexpressiva de Bran. Durante todo o seriado se teorizou e discutiu sobre suas habilidades, e jamais foi explicado ou estabelecido quais eram seus limites. Se esperava muito que essa temporada traria à luz alguma informação a esse respeito, e tendo passado quatro sextos do seriado, não houve qualquer resposta sobre isso. O que se viu foi o personagem encarando as pessoas que chegavam ao vilarejo, e claro, a clarividência sobre qual seria o destino do Rei da Noite, não há com o que se importar, nem com seu destino, muito menos com o que ele pensa.

    A metade final do episódio contém muitos reencontros, a começar pelo encontro entre um dos vassalos mais carismáticos do original de George R.R. Martin, Bronn (Jerome Flynn) com os irmãos Lannister que estavam no Norte, e tal qual muitas teorias diziam, ele não cumpriu o combinado com Cersei por não saber o destino da guerra – e também por não confiar na rainha – também se confirmou outra “teoria”, de que os Targaryen costumam cometer incesto (dado que os cabelos deles são brancos e seria difícil manter a cor assim caso não houvesse casamento entre iguais), e essa discussão ocorre entre Tyrion e Lorde Varys (Conleth Hill), onde o eunuco diz que para ele isso pode ser comum entre o clã, mas no Sul seria mal visto, embora o mesmo se aplique para Cersei.

    A questão dos barcos de Euron Greyjoy utilizando a besta gigante em alto mar é uma tática de guerra muito inteligente, e Cersei se mostra mais estratégica e astuta que Snow e Daenerys juntos, demonstrando que não tem qualquer pudor em fazer prisioneiros e trair seus aliados. Nas discussões internas, alguns personagens falam o óbvio, que Daenerys perdeu o controle e não seria uma boa rainha. Enquanto isso, se pensa em qual será o destino de Cersei, uma vez que Jaime pode cumprir a profecia de ser mais uma vez um regicida (e obviamente faria sentido ele parar a mulher que sempre amou), mas há também sobre Arya Stark (Maisie Williams) a expectativa de que cumpra outra previsão, da bruxa Melisandre, de que mataria guerreiros de cores de olhos diferentes, entre eles azuis (Rei da Noite) e verdes (Cersei). Esta temporada que se atrapalha nas próprias pernas mantém viva poucas teorias, restando entre as principais a identidade do possível assassino de Cersei.

    Ao trono, segue a probabilidade maior e mais equilibrada de ascender Jon, ainda que nesse capítulo tenha acendido uma pequena chama ligada a Gendry (Joe Dempsey), o Baratheon bastardo e agora condecorado por Daenerys. Ao menos, David Nutter conseguiu segurar a tensão nos pouco mais de setenta minutos de exibição, de uma forma que os outros capítulos não conseguiram. Esse até agora foi o melhor episódio, contendo duas mortes significativas para a soberana Targaryen, e tornando uma briga que já era desrespeitosa em algo mais pessoal ainda. Só nos resta que Miguel Sapochnick consiga fazer um episódio de confronto entre Cersei e Daenerys mais digno e menos bobo do que foi Long Knight, ainda que fazer quaisquer previsões sobre a qualidade dos episódios venha sendo um esforço bobo e inútil, principalmente, se levar em consideração que os spoilers vazados tem acertado quase tudo.

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  • A Knight of the Seven Kingdoms: Letargia e Dificuldade em Seguir Destinos – Análise e Teorias sobre Game of Thrones

    A Knight of the Seven Kingdoms: Letargia e Dificuldade em Seguir Destinos – Análise e Teorias sobre Game of Thrones

    A HBO costuma lançar séries cuja expectativa de destino de personagens e tramas é enorme. Família Soprano, True Blood, Boardwalk Empire e até Westworld sofreram com isso, mas certamente nenhuma como Game of Thrones. Assim como no primeiro episódio, Winterfell, pouco acontece aqui, e mais uma se reforça a ideia dos ciclos de reencontros e revelações que não contém qualquer novidade para o público.

    Há quem defenda que toda essa contemplação, e o desenrolar emocional do episódio faz aumentar a expectativa para a real conclusão dos capítulos finais. A Knight of the Seven Kingdoms começa e termina com o freio de mão puxado, e não consegue sequer amarrar as pontas soltas do episódio anterior. Jaime Lannister é o primeiro enfocado pela câmera de David Nutter, mas ao contrário do que se pensou, ele não conversaria com Bran, e sim com o conselho que envolve Jon Snow, Daenerys Targaryen e Sansa Stark. Aqui, é desenvolvido um diálogo repleto de verdades jogadas à mesa, que teriam um grande impacto e importância se não fossem utilizadas apenas como clichês verbalizados.

    Jaime e Bran se encontram de novo e conversam, mas isso só ocorre com 10 minutos, e a expectativa mal se cumpre, pois a conversa poderia ou não ter ocorrido tamanha falta de importância da conversa entre eles. O personagem de Nikolaj Coster-Waldau parece estar ali apenas para reencontros, porque nem os confrontos com o fato dele ter sido incestuoso ou ser um regicida são tão importantes para ele quanto reatar boas relações com seu irmão e Brienne. Ao menos, não se pode reclamar da participação de Peter Dinklage e Gwendoline Christie, eles estão bem quando são exigidos, mesmo que suas cenas sejam exacerbadamente folhetinescas, e bem menos irritante que os confrontos entre Sophie Turner e Clarke por uma liderança de um exército que sequer entrou em campo de batalha.

    Este capítulo acontece praticamente todo nos bastidores da reunião de forças no Norte, explorando cada detalhe e meandro dos personagens que vivem sobre esse governo, e ao menos tem tempo para mostrar o drama do povo ao ser obrigado a não só viver na penúria, mas também a lutar por sua própria sobrevivência. Esses detalhes não são muito exploradas em batalhas épicas, nem na trilogia Senhor dos Anéis há tanto mergulho nessa situação, e aqui cabem elogios a esta parte dramática, assim como na valorização dos personagens comuns, entre eles a promoção simbólica de Brienne, que também teria mais impacto se não fosse a participação de Tormund (Kristofer Hivju), que segue falando inconveniências que o fazem parecer apenas um ruivo babão e carente em busca de atenção.

    Fora as resoluções de confrontos que ninguém pediu para ocorrer, o episódio dá vazão à crença da teoria de que em breve os personagens secundários devem perecer, afinal, tiveram muitas honrarias nesse meio tempo, foram saudados e valorizados demais. Cersei sequer apareceu, e talvez isso seja mais frequente, embora sua personagem seja uma das mais populares da trama, mesmo como figura de ódio. Ao menos os vilões finalmente chegaram, e o diretor será Miguel Sapochnik, que conduziu boa parte dos episódios com ação frenética, entre eles, o da batalha dos bastardos, na sexta temporada, e talvez esse valorize toda a construção de nostalgia estabelecida nesses dois primeiros episódios.

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  • Winterfell: Protocolos de Gelo e Fogo – Análise e Teorias sobre Game of Thrones

    Winterfell: Protocolos de Gelo e Fogo – Análise e Teorias sobre Game of Thrones

    Game of Thrones finalmente voltou, e com ela, a expectativa de como o Inverno chegará ao continente, os personagens usam roupas ainda mais reforçadas para o frio, e o primeiro episódio da oitava temporada tem o sugestivo nome de Winterfell. Pois bem, apenas a longa espera após Game of Thrones – 7ª Temporada, terminada por sua vez em Agosto de 2017, o resultado é um bocado óbvio, avançando bem pouco em relação ao que é visto em The Dragon and The Wolf, ultimo episodio do sétimo ano, ou seja quase nada se acrescenta dentro do que é considerado canônico no seriado/saga.

    Muito se reclamou do autor George R. R. Martin, que não entregou os livros dentro do prazo que se esperava, ou ao menos a tempo de terminar a série com o material original já concluído. Quando a HBO começou a adaptar a literatura, haviam quatro livros, e durante o decorrer dela foi publicado o quinto. Deste a quinta temporada, as histórias são praticamente inéditas visto que já haviam coberto a maioria esmagadora do conteúdo escrito por Martin, acredita-se (sem comprovações oficiais, diga-se) que há consultoria do autor nesses eventos, com Martin dando dicas aos roteiristas do que aconteceria. Mas a realidade é que, apesar do escritor demorar bastante para entregar seus capítulos, o programa da HBO pouco avança, dando pouca vazão inclusive para as teorias que fãs tipicamente fazem após ver os episódios. Nos primeiros anos por exemplo, morrem muitos personagens importantes, mas de 2015 para cá poucos morrem, exceto  vilões, como Ramsay Bolton, ou um ou outro vassalo carismático.

    Talvez a maior revelação acontece exatamente no final de 801 de GOT, quando Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) encontra Bran Stark (Isaac Hempstead Wright), fato que não acontece basicamente desde o piloto, quando o guerreiro responsável pela morte do “Rei Louco”, por amor, se livra da presença do menino logo após ser flagrado transando com sua irmã, Cersei (Lena Headey), jogando o rapaz pela janela para a morte, fato que obviamente não acontece. No entanto, essa é a única menção real a estranha união entre o Sul dos Lannister e o Norte que seria atacado em breve pelo exercito do Rei da Noite. Ora, não se sabe sequer se há ressentimento ali entre os dois, isso pode ou não ser explorado em GOT 8.02 mas não há garantia de nada, afinal esse capítulo apesar de ter muito reencontros, se restringe a reuniões mega óbvias. Aqui não se resolve nem a possível rivalidade entre os dois personagens, nem se dá vazão para que o espadachim maneta perceba o quanto cresceu o antigo menino, e o quão poderoso e estratégico para a tal guerra ele se tornou.

    Ao invés de explorar por exemplo a questão que envolve o exercito do Sul ir ou não ao Norte combater os caminhantes brancos, o roteiro de Dave Hill resolve amarrar pontas soltas fúteis, como a união tão esperada pelos fãs virjões, entre Jon Snow (Kit Harrington) e Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), relação essa que é morna, chata, e de interessante, só faz refletir sobre os Targaryen serem uma família incestuosa, uma vez que é difícil manter aquele cabelo branco por outras gerações – Aegon por exemplo, herdou as cores de cabelo de sua mãe, uma Stark – ainda que os dois apaixonados que ficam trocando gracejos típicos dos romances em folhetim das revistas Sabrina e Super Julia não saibam que são tia e sobrinho. A HBO rende-se a mania de shippar casais, tal qual a CW adora fazer em Arrow ou Flash, dali realmente se espera, até pelo tom juvenil dessas, aqui não.

    Uma das poucas coisas positivas nesse capitulo, é a reunião do que restou dos Starks, exército esse que tem tendência a crescer, independente até de conseguir mais alistados. A verdade revelada a Jon Snow sobre sua origem e parentesco é feita sim, por seu fiel escudeiro, Sam (John Bradley), mas carece de emoção ou dramaticidade. Soa como um artifício obrigatório e sem necessidade de ocorrer de forma tão tacanha e previsível, isso faz perder bastante do impacto que era esperado.

    Talvez o único ponto fora da curva,plantado nesse episódio,  seja o fruto da relação de Cersei e Euron Greyjoy (Pilou Asbæk), afinal, ela poderá dizer que o filho que espera é dele, e não do irmão, fato esse que obviamente não seria inédito, e que casaria com uma profecia dos livros, de que seria o destino de Jaime ser o King Slayer, para muito além de ter assassinado o Rei Louco, até por conta de uma conhecida teoria de que seria ele o responsável por acabar com o sangrento mandato de sua irmã / amante, já que ela claramente é insana e não abraça a causa continental contra o Rei da Noite. Natural que seu irmão tente repetir seu ciclo de regicídio, dadas as circunstâncias.

    No entanto, ao invés de desenvolver isto, se escolhe dar vazão a romances, e a piadas de casal, como foi feito em outra serie nerd, como em The Walking Dead, onde mais se vibrou com a relação de Rick e Michonne ao invés de refletir sobre a condição humana em um ambiente pós apocaliptico. Aqui também,  o inverno e os inimigos dos homens se aproximam, mas sempre há vazão para uma relação de amor e para comunicados com zero surpresas. Dito isto, é impressionante com Jon se preocupa mais que a honra do finado Ned Stark, que não lhe contou a verdade por conta de ter perdido a cabeça, e sempre o protegeu, diante da enormidade de situações estranhas que lhe ocorreram, com ele ressuscitando, ser descendente legítimo de duas grandes famílias é tranquilo, o que não é tranquilo é a Khaleesi falar para ele “esquentar a rainha”, aos olhos de dois dragões ciumentos…isso é difícil engolir, mas ainda há o que teorizar nos próximos seis capítulos (assim esperamos).

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  • Crítica | Solo: Uma História Star Wars

    Crítica | Solo: Uma História Star Wars

    Os spin-offs de Star Wars têm (até agora pelo menos) algo nos bastidores que os fazem se tornarem dúvida quanto a sua qualidade. A respeito de Rogue One: Uma História Star Wars foram feitas novas filmagens, cancelaram (ou adiaram, isso está indefinido até hoje) o filme de Josh Trank que mais tarde seria revelado como a aventura de Boba Fett, e com este Han Solo: Uma História Star Wars, houve uma saída de última hora da dupla Phil Lord e Christopher Miller – são creditados como produtores executivos. Coube a Ron Howard o papel de tentar aparar as arestas e trazer à luz um filme que parecia amaldiçoado, e apesar dos percalços, ele acerta bem mais que erra, trazendo um longa que prima pela diversão limpa e descompromissada.

    Desde o começo do filme, o personagem de Alden Ehrenreich soa como uma das muitas facetas que Harrison Ford empregava no mercenário, com a ideia do bom moço disfarçado de cafajeste. Isso talvez seja o maior senão do roteiro de Jonathan Kasdan e Lawrence Kasdan, uma vez que esta nova versão é bem menos munida de camadas que sua contraparte introduzida em Uma Nova Esperança. Quando o espectador vê este Solo em tela, não acredita muito que ele seria capaz de trapacear com todos, mas ainda assim isso pode ser devido ao fato dele ser um iniciante ainda.

    Já nos primeiros momentos se estabelece um casal, com Qi’ra (Emília Clarke) e o pretenso anti-herói, tentando sair de Corelia, planeta natal dos dois, esbarrando em vítimas dos trambiques do futuro caçador de recompensas. Não demora e tem um salto temporal, para então dar vazão a um tempo onde ocorreram alguns dos fatos sobre o passado de Solo que são bastante conhecidos pelos fãs, e as apresentações tanto de personagens novos como dos antigos é executada muitíssimo bem, cada peça se encaixando de maneira bastante harmoniosa dentro da série de filmes. Quase todas as respostas em relação ao background do personagem, suas mentiras e trapaças são bem exemplificadas, e isso por si só já é um avanço enorme em comparação a trilogia de prequels, que só respondeu ao que interessava a George Lucas, e não aos seus fãs.

    Há um número considerável de fan service, em especial ao especial primeiro encontro de Han com a Millenium Falcon, com Chewbacca, e principalmente, Lando (Donald Glover), ainda que esse último merecesse bem mais tempo de tela. No entanto, os vilões e demais personagens que rodeiam o protagonista e seu núcleo não são muito marcantes, exceção é claro a L3-37 (Phoebe Waller-Bridge ) androide e copiloto de Lando, para variar como K2-S e BB8 em Despertar da Força. Tanto Dryden Vos (Paul Bettany) quanto Beckett ( Woody Harrelson) não possuem muito brilho, mesmo que tenham bastante tempo de tela, já Qi’ra, apesar de ser feita por uma atriz limitada, transborda carisma, de um jeito que há muito não se via em Clarke, tendo inclusive um momento no filme que causa bastante impacto nos fãs mais ardorosos de Rebels e Clone Wars.

    A troca de diretores fez perguntar se o longa não seria como foi Homem Formiga, que teve a saída de Edgar Wright e uma quebra de expectativa enorme, uma vez que se prometia um filme fora da caixinha. A se julgar Anjos da Lei e Anjos da Lei 2, o produto final poderia ser um filme bem mais ousado, mas seu formato não chega a ser tão irritante quanto a maioria dos filmes de super-herói da Marvel. Até agora o sub-gênero não saturou ou comprometeu os filmes da série, até porque o universo compartilhado não tem exatamente uma história cronológica e amarrada como no MCU. Se haverá uma fórmula esgotável, ao menos é cedo para falar, já que mesmo com os percalços, tanto Howards como Gareth Edwards entregaram filmes corretos, que se não ousam, ao menos traduzem aventuras escapistas, divertidas e reverenciais a trilogia clássica, acertando bem mais que Ameaça Fantasma, Ataque dos Clones e Vingança dos Sith, e ainda amarrando os destinos dos personagens até com as animações de Dave Foloni, canonizando de forma coesa até mesmo as partes da série que não tem mesma projeção do universo cinematográfico.

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  • Crítica | Como Eu Era Antes de Você

    Crítica | Como Eu Era Antes de Você

    Como Eu Era Antes de Você - poster

    “Desmaiar-se, atrever-se, estar furioso, áspero, terno, liberal, esquivo, alentado, mortal, defunto, vivo, isto é amor; quem o provou bem sabe.”  Foi através desses diversos adjetivos que o poeta espanhol Lope de Vega tentou definir, em um poema, o que seria o amor; assim como em nossos cotidianos estamos sempre nos questionando as verdadeiras raízes desse sentimento. Portanto, nada mais natural imaginar que tais idealizações estão implícitas ou explicitamente presentes no mais novo trabalho de Thea Sharrock, Como Eu Era Antes de Você, baseado no romance de Jojo Moyes (a qual também assina o roteiro).

    Na obra, acompanhamos a jovem Lou Clark (Emilia Clarke), uma sonhadora que na busca de um emprego se apaixona pelo encantador Will Traynor (Sam Claflin) – que ficou tetraplégico após um acidente. O que Sam ou Lou não sabem é que, em um átimo, essa paixão mudará para sempre seus caminhos.

    Tendo o interior da Inglaterra como pano de fundo, o filme utiliza bem tudo aquilo que lhe favorece: belas paisagens, figurinos que por vezes assumem um signo incandescente dentro da narrativa, uma trilha extremamente competente e radiante, ótimas locações captadas por uma fotografia abrasada. Elementos que, somados, dão à película um tom lírico, emulando com isso uma atmosfera de “contos de fadas”.

    A obra como um todo é competente justamente por não se esconder, não almejar ser o que não é, e justamente por essa coragem consegue expor tudo aquilo que o próprio expectador almejou encontrar, quando decidiu comprar seu ingresso e tirar um tempo livre para embarcar junto nessa história.

    Guiado por uma série de protocolos do gênero, o filme consegue nos lançar sutilmente nos dilemas das personagens principais – seja através da personalidade sonhadora e desbravadora de Lou, seja perante o evidente conflito de Will que, por sua vez, busca o instante do presente, mas não consegue desvencilhar-se de seu passado. Ambos magneticamente se completam justamente por suas personalidades distintas. Lou, otimista e cativante, floresce e se transforma em um farol para Will em seus momentos mais evanescentes.

    Entre um final amargo ou uma amargura sem fim, a trama consegue ser bem equilibrada, sendo leve e ao mesmo tempo precisa e incisiva quando necessária. Demostrando o quanto amores são surpreendentes e imprevisíveis, a história contrabalanceia o mágico e o racional do dia a dia. Por fim, fica bastante marcada a força do título e sua universalidade, afinal quantos de nós em algum momento, diante de um relacionamento (real ou platônico), já não nos perguntamos como éramos antes de conhecer a pessoa amada?

    Como eu Era Antes de Você, apesar de não negar sua essência, foge de muitos clichês do gênero e prioriza uma realidade mágica tão inerentemente humana, assumindo com isso que a vida não deve, e nem pode, ser regida unicamente pela razão.

    Texto de autoria de Tiago Lopes.

  • Review | Game Of Thrones – 5ª Temporada

    Review | Game Of Thrones – 5ª Temporada

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    Quando Ned Stark proferiu uma das mais célebres frases de Game Of Thrones, “preparem-se, o inverno está chegando”, ele não estava brincando. Stark se referia ao período sombrio e rigoroso que aquele mundo criado por George R. R. Martin passaria a enfrentar dentro de algum tempo. Pois bem, o inverno chegou, e se traçarmos um paralelo com a novela de Westeros, podemos dizer que o inverno também chegou, não só para os criadores e principais roteiristas da série, David Benioff e D. B. Weiss, mas também para os fãs da série e dos livros. Com a demora (justa) de Martin para entregar o sexto (e possível penúltimo) livro, pré intitulado Winds Of Winter, percebeu-se que essa quinta temporada conseguiu não só alcançar os livros das Crônicas de Gelo e Fogo, como também já apresentou momentos e passagens que, até então, eram desconhecidas para seus leitores.

    Pela primeira vez, com exceção da Casa Bolton, já estabilizada como a casa que domina o Norte, a quinta temporada mostrou uma certa homogeneidade entre os núcleos, uma vez que era normal um núcleo ser mais vitorioso ou bem-sucedido em relação ao outro. Ainda que do outro lado do continente, em Meereen, onde o deserto e o clima quente prevalecem, o inverno também chegou para Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), ainda que de forma figurada. Por conta de seu governo que, por um lado libertou os escravos, mas por outro acabou trazendo fome e miséria para a população, despertou a ira de um grupo conhecido como Filhos da Hárpia e passou aos poucos a dizimar a população, os aliados e alguns imaculados que servem Daenerys. E é justamente no núcleo de Daenerys que temos um dos primeiros acontecimentos que até então não havia registro nos livros. Após fugir de King’s Landing, junto com Varys (Conleth Hill), Tyrion Lannister (Peter Dincklage) é sequestrado por Sir Jorah Mormont (Iain Glenn), que tem como objetivo entregá-lo a Daenerys como prova de que agora está ao seu lado.

    Aliás, vale destacar o quanto a Casa Lannister enfraqueceu com a morte de seu patriarca, Lorde Tywin. O rei Tommen (Dean-Cherles Chapman) é muito jovem e seu tio, Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) está numa missão em Dorne para resgatar a jovem Myrcella (Nell Tiger Free), irmã de Tommen. Desta forma, Cersei Lannister (Lena Headay) ficou sozinha na capital e consequentemente, desprotegida. E, assim como os Filhos da Hárpia, um grupo religioso extremamente conservador, liderado pelo Alto Septão, começou a fazer justiça com os pecadores da cidade, o que gerou uma das mais memoráveis cenas desta quinta temporada.

    Pela primeira vez conhecemos Dorne, a terra da Casa Martell, do Príncipe Oberyn, um dos personagens mais queridos da quarta temporada. Infelizmente, o que vemos em Dorne foi mal trabalhado. Mostrou-se tudo, mas não vimos nada. Conhecemos as filhas de Oberyn, e vimos pouquíssimo suas habilidades como guerreiras, sendo o destaque, apenas, um ótimo diálogo entre Obara Sand (Keisha Castle-Hughes) e o sempre sensacional Bronn (Jerome Flynn). O mesmo podemos falar da viagem de Brienne de Tarth (Gwendoline Christie) e seu escudeiro, Podrick (Daniel Portman), que esbarraram com Sansa Stark (Sophie Turner) no caminho para, depois, acabarem com o sofrimento de Stannis Baratheon (Stephen Dillane) em Winterfell. Aliás, o orgulhoso Stannis só colecionou derrotas e desgosto em sua jornada ao trono de Westeros. O único herdeiro ao trono por direito se aliou à feiticeira Melisandre (Carice Van Houten) que só trouxe desgraça para a sua família. Talvez, as coisas tivessem sido diferentes se Stannis ouvisse Sir Davos Seaworth (Liam Cunningham), que novamente, dividiu ótimas cenas com seus colegas, principalmente com a jovem Shireen (Kerry Ingram), que foi responsável pelo que talvez seja a cena mais chocante de toda a temporada.

    A vida de Arya (Maisie Williams) também foi dura. Mesmo chegando sã e salva a Braavos, e após encontrar seu “velho amigo”, Jaqen (Tom Wlaschiha), começou seu treinamento para se tornar uma Sem Face, mas o treinamento é mais difícil do que aparenta ser, o que deixa a menina completamente desmotivada. Pela primeira vez na história do seriado, o arco de Arya foi desinteressante e o mesmo seguiu com sua irmã, Sansa, que foi deixada em Winterfell pelo “mindinho”, Lorde Petyr Baelish (Aiden Gillen) para se casar com o cruel Ramsey Snow (Iwan Rheon), que agora detém o sobrenome Bolton. Aliás, o jovem ator Iwan Rheon merece ser elogiado por suas ótimas atuações que não vêm desta temporada. Ramsey já é mais odiado que o falecido Geoffrey por toda crueldade (merecida, diga-se) cometida a Theon Greyjoy (Alfie Allen), que foi transformado praticamente num cão doméstico, além de cometer outros atos cruéis e sádicos de gostos duvidosos que causaram muita ira e controvérsia aos fãs, como o estupro de Sansa, assistido por um arrependido Theon, que cresceu junto a Sansa como se irmão fosse.

    Um pouco mais ao norte de Winterfell está A Muralha defendida pela Guarda da Noite, e que agora tem um novo lorde comandante, qual seja Jon Snow (Kit Harington), que liderou e saiu vitorioso na batalha contra parte dos selvagens liderados por Mance Rayder (Ciaràn Hinds). Jon, que contou com o apoio de Stannis Baratheon para aprisionar Mance, se viu numa situação difícil, tendo que recusar, inclusive, o sobrenome de Stark oferecido por Stannis caso a Guarda da Noite o ajudasse em sua investida contra os Bolton em Winterfell. Porém, presenciou um dos momentos mais sensacionais da temporada, quando liderou uma expedição à terra dos selvagens para oferecê-los ajuda e abrigo no Castelo Negro. A investida não deu muito certo e Jon e a Guarda da Noite tiveram a certeza de que o inverno tinha chegado por conta da horda de White Walkers que atacou a vila dos selvagens. Não sei se foi intencional, mas, aqui, os efeitos especiais lembraram muito (claro, com a tecnologia dos dias atuais) os do primeiro Fúria de Titãs, além de remeter e muito ao jogo Diablo. Aliás, seria muito bom se todas as casas de Westeros parassem de guerrear umas com as outras e se unissem contra os White Walkers. Realmente, o que vai acontecer daqui pra frente é uma incógnita. O que nos resta é acreditar que, de fato, esses seres são coisa séria.

    De qualquer forma, ainda que essa quinta temporada tenha sido morna, o maior seriado da história do canal HBO e o mais pirateado do mundo continua com sua qualidade inegável. Infelizmente, os arcos não emplacaram, muito menos empolgaram, exceto por uma vez ou outra. Porém, não se sabe o que aconteceu, uma vez que o time de roteiristas continuou o mesmo. O que mudou muito em relação às outras temporadas foi o time de diretores, sendo que muitos deles dirigiram a série pela primeira vez. Não tivemos grandes nomes como Alan Taylor (que dificilmente retornará, por ter feito filmes como Thor: O Mundo Sombrio e O Exterminador do Futuro: Gênesis), David Nutter, Michelle McLaren e Neil Marshall. Mas, ainda assim, fica aqui a curiosidade sobre qual será o desfecho dos personagens nas próximas temporadas, uma vez que deixou claro que muitos deles já fizeram as suas últimas curvas para o final da história, que deverá ser em mais duas ou três temporadas.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | O Exterminador do Futuro: Gênesis

    Crítica | O Exterminador do Futuro: Gênesis

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    Reiniciando a saga, pensada após o abandono de James Cameron a sua obra mais notória, O Exterminador do Futuro: Gênesis se baseia no que deu certo antes, resgatando nostalgicamente o futuro negro onde habitavam John Connor e Kyle Reese, claro, repaginando absolutamente tudo. Os novos intérpretes da dupla são Jason Clarke, como o pretenso salvador do lado humano da guerra, contracenando Jai Courtney, que faz Michael Bien, ainda que não seja tão deslocado quanto o primeiro Reese.

    A narração feita por Courtney serve de alerta para qualquer desavisado: o universo da franquia foi de novo modificado. Um longo tempo é gasto mostrando o modo de operar da resistência, nos anos de escravidão dos humanos. A tomada de poder por parte dos homens é apresentada em detalhes, incrivelmente bem realizados, em termos de cenas de ação, por Alan Taylor, que consegue não reprisar de modo tão tosco os erros de seu Thor: O Mundo Sombrio.

    A problemática do roteiro de Laeta Kalogridis e Patrick Lussier se nota essencialmente quando a trama passa a ocorrer pelos idos de 1984, época do primeiro O Exterminador do Futuro. A ação frenética invade a tela, inclusive fazendo referência ao vilão de O Exterminador do Futuro: O Julgamento Final, mostrando que as linhas temporais estão todas misturadas, fazendo mais uma bagunça com os personagens pensados por Cameron e Gale Anne Hurd.

    A miscelânea de citações inclui desde o terceiro episódio da franquia até os ditos do malfadado seriado The Sarah Connor Chronicles, inclusive com uma cena idêntica a do piloto do seriado, envolvendo uma das muitas viagens temporais do filme, artigo este que se torna banal, de tão comum.

    A apresentação de Arnold Schwarzenegger é interessante, mesmo com a quantidade de clichês que ele profere, repetindo inúmeras vezes a frase de que é apenas “velho, não obsoleto”. Pelo fato de ser um filme de ação, as frases de efeito não são um incômodo, se tornando irrelevantes graças à premissa empolgante, com outras tantas cenas de ação bem orquestradas.

    Há certo subtexto inteligente, além da discussão sobre a necessidade do homem em estar conectado o tempo inteiro – especialmente pela evolução que a Ciberdyne e o método de controle Genesys, um conceito novo na franquia, mas antigo desde os cyberpunks de Gibson. Outro aspecto positivo é a tentativa de multifacetar o Exterminador de Arnold, chamado por Sarah carinhosamente de “Papi”. Mas o entorno não corrobora na mesma qualidade, nem por parte da famosa Emilia Clarke, que exala sensualidade mas carece de talento dramatúrgico.

    O aspecto mais digno de críticas é o fato das viagens no tempo se tornarem comuns, defeito copiado do seriado. Ao final, o reboot se assemelha a um retcon tosco, especialmente na virada que sofre o personagem de Jason Clarke, já tratado como vilão nos trailers, pôsteres e materiais promocionais do filme. Qualquer efeito surpresa e expectativa positiva são encerrados neste ponto. A quantidade exorbitante de coincidências faz inclusive Arnold parecer deslocado em pedaços da trama.

    Apesar do belo grafismo apresentado na fita, há sérios problemas de lógica no argumento final, como o lançamento de T800 com máquinas tão melhores disponíveis, curiosamente reprisando os erros de O Exterminador do Futuro: A Salvação. No final da epopeia, fica o lamento pelas recaídas nos mesmos clichês, além da enfadonha questão de repetir o gancho para novas continuações – previstas até então para se ter mais dois filmes. A direção de Taylor não compromete o produto final, mas também pouco acrescenta, graças a um roteiro atrapalhado. Ao menos, no quesito diversão, a franquia retorna aos bons tempos. Ainda que não seja nada semelhante ao brilhantismo da fase de James Cameron como diretor.

  • Crítica | A Recompensa

    Crítica | A Recompensa

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    Não é preciso ser muito observador para notar que A Recompensa tratará de um personagem vaidoso, profano, egocêntrico e muitíssimo cômico, visto que seu protagonista é mostrado, no primeiro momento, enaltecendo seu dotes  em todos os sentidos possíveis desta palavra. O Dom Hemingway de Jude Law é mostrado primeiro como um presidiário com complexo de grandeza, que não se submete sequer às ordens dos carcereiros, e que logo conquista a liberdade, não sem antes ser ovacionado pelos seus semelhantes, num episódio que pode muito bem ser apenas fruto de sua megalomaníaca imaginação.

    A paleta de cores, num primeiro momento, é composta por tons muito vivos, como o vermelho, verde fluorescente e amarelo. As matizes remetem à euforia do ânimo do personagem-título e contrastam com a violência de suas atitudes. A rotina pós-prisão do anti-herói é marcada também por outros contrastes, visto que uma de suas primeiras ações ao sair do cárcere é procurar sua antiga vida, clamando por sua perdida família. Outra demonstração de destempero e descontrole é o porre que ele impõe a si, mostrando que seu corpo ainda é refém de substâncias viciantes e que sua alma necessita de desventuras etílicas e entorpecentes para se sentir plena. As cores predominantes dos cenários mudam de tom de acordo com o estado de espírito do personagem. Assim como as curvas femininas exibidas, os corpos mudam de estilo à medida que o personagem atravessa as suas “bad trips”, cuja abordagem da beleza das musas que o inspiram variam, exibindo as “chubbys” quando o protagonista está em momentos de dúvida existencial, e “modelos magérrimas” quando se encontra no auge da euforia.

    O estilo de vida ostentativo típico dos bandidos americanos é muitíssimo parodiado pela trupe britânica. O visual faz referência a uma clara brincadeira com tal estilo. Essas alusões pioram com os diálogos, incrivelmente hilários, destacando os estereótipos presentes em filmes de assalto. Certamente a melhor construção da película é a persona de Dom, pois ele é um sujeito tão distraído que em determinados momentos sequer nota o que está bem à sua frente. Entretanto, este mesmo sujeito seria um especialista em um tipo de crime que requer muitíssima perícia e astúcia: arrombamento de cofres de alta segurança. Tudo o que envolve Hemingway, externa e internamente, é tão incrivelmente dissonante que se torna difícil acreditar em qualquer uma de suas ditas qualidades  excetuando o enorme carisma  até vê-las sendo cumpridas. Seu gênio é algo tão volátil e volúvel que ele é capaz de cometer as maiores ofensas e pachorras e ainda assim permanecer vivo e pronto para o trabalho. O embate “ideológico” que tem com seu possível empregador, Mister Fontaine (Demian Bichir), é de um tom nonsense ímpar, de cunho de baixo calão absoluto, mas surpreendentemente inofensivo. A resposta do contratante é igualmente jocosa, deixando claro ao personagem quem dá as cartas naquela situação.

    A receita que Richard Shepard usa para entreter o espectador tem em sua essência seus trabalhos antigos como realizador de seriados. As gags de comédia são muito semelhantes às de sitcom, mas ainda assim são incrivelmente condizentes com a sétima arte, compondo uma ótima surpresa quanto à qualidade dos temas propostos. Sua direção de atores e escolhas de edição e fotografia são muito competentes. O roteiro é dividido em pequenas partes, como em esquetes, ainda que isto não seja tão facilmente percebido.

    É curiosa também a desconstrução da frequente figura de galanteador exercida por Jude Law, que se entrega totalmente ao papel, sem receio de se expor fisicamente de maneira vergonhosa ou de finalmente assumir sua incômoda calvície. Sua carreira é pontuada por bons momentos, mas passa por um período de transição na qual não há mais tanto apelo de papéis que exigem a função de galã.

    Irônico o fato do ladino personagem, ao tentar adentrar um local lacrado, lançar mão das formas mais rústicas de arrombamento. Seu modo de encarar a vida é tão errático que nem mesmo o seu trabalho ele consegue exercer, e nem a recompensa, por ter se calado durante todo o tempo na prisão  doze anos —, ele consegue obter. Mesmo quando se espera uma postura de redenção da parte dele, Dom consegue ser ainda mais louco, ofensivo e politicamente incorreto na forma de abordar seus antagonistas.

    As coisas só passam a fazer sentido e voltam a dar certo na vida de Hemingway após ele ter uma epifania e perceber a mensagem moral que sempre ignorou ao longo da vida. Tal artifício poderia ter diminuído a potência do conteúdo da fita, mas não o fez, porque até a saída fácil de remição e salvação da alma é feita de modo estilizado. O roteiro do filme, que é o mais peculiar dos dirigidos por Richard Shepard, reverencia as produções de Guy Ritchie e Martin Scorsese, mas voltando as suas forças para a comicidade e nonsense.