Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira, Dan Cruz (@dancruz_83), Bruno Gaspar, Jackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) comentam sobre o decepcionante final de Game of Thrones. Se prepare para o derramamento de bile.
Duração: 138 min. Edição: Julio Assano Júnior Trilha Sonora: Julio Assano Júnior e Flávio Vieira
Arte do Banner: Bruno Gaspar
O começo silencioso do episódio faz lembrar o óbvio: o massacre em The Bells, e que quase nada sobrou. Uma boa prova disso é a cena do homem queimado vagando, passando por Tyrion (Peter Dinklage), enquanto o anão está a procura de seus irmãos, em uma das cenas mais emocionantes das oito temporadas. Os produtores finalmente lembraram do talento de Dinklage, e deram ao personagem um momento em que poderia fazer as pazes com suas memórias e amarguras.
Logo depois, temos um enquadramento do momento em que Drogon fica atrás de sua mãe, dando-lhe asas – certamente David Benioff e D.B. Weiss nos relembra que essa não é uma temporada de sutilezas. Neste episódio, Jon Snow volta a ser muitas coisas, principalmente, o excluído que sempre foi. É necessário que o anão que esteve ao seu lado faça um discurso sobre a tirana que Daenerys se tornou, e só assim ele se convença disso. Nada faz muito sentido no arco dele, não pelas conclusões em si, mas pelo modo que ocorrem, e seria um verdadeiro milagre que isso fosse magicamente consertado no final, mas tudo bem.
O fato do capítulo ter sido conduzido por Benioff e Weiss é de uma licença poética ímpar, pois os acertos e (principalmente) os erros da série são méritos dos dois. Toda a problemática, desde a péssima escolha de Emilia Clarke para momentos dramáticos, e a curva de justiça que o episódio convenientemente dá vazão nos seus últimos instantes. Os pecados que ambos cometeram fez com que recebessem duras e justas críticas a forma como se desenhou esse final, atrapalhado e atabalhoado, de certa forma uma releitura de A Vingança dos Sith. É realmente uma pena a pressa que os criadores tiveram nesse desfecho, pois o desenho final demonstra que a maioria dos problemas de roteiro seriam resolvidos com um maior cuidado se houvesse mais desenvolvimento desses personagens e tramas.
É bom lembrar que, apesar dos inúmeros diálogos, esse último episódio trabalha bastante bem o silêncio. Desde a contemplação de Daenerys pelo trono ao choque dos personagens pelo massacre que a rainha praticou. Além disso, Tyrion chega as conclusões que precisa sem conversas, Snow percebe que acertou quando não há mais palavras ditas, e Drogon desfaz o trono de mil espadas com seu fogo redentor, sendo o mais racional dos seres. Ao menos não demora mais de uma hora para dar um desfecho a Khaleesi, e sua despedida é emocionante, deixando algo em aberto, sobre o destino de seu Drogon. Ainda assim é odiável ter que assumir que Sansa Stark (Sophie Turner) tinha razão, e odiável que o homem que ressuscitou precise ser convencido de que ele vivo, ainda é um perigo para Daenerys.
O que se vê a partir da reunião do que sobrou das famílias também faz pouco sentido. Parecendo uma reunião de veteranos de série, após 10 anos dela ter acabado, mas isso ocorre dentro do próprio seriado. Ao menos, se dá oportunidade para que alguns dos coadjuvantes tenha brilho, como Sor Davos (Liam Cunningham), que de repente, se lembra que pode ser um bom mediador, ainda que não faça sentido ele pedir sobriedade aos outros e depois dizer que não sabe se tem direito a voto. Muita humildade para quem faz parte de um conselho de notáveis. É uma boa piscadela para os fãs o assunto da democracia surgir pela boca de Sam (John Bradley-West). A queda de um rei não parece ser o suficiente para dar poder de voto ao povo, aparentemente esse desejo precisa vir e ser conquistado a partir do povo, e não vindo de nobres, como uma dádiva.
Martin estava certo, precisava de mais tempo para desenrolar a trama toda e seus personagens com seus destinos. O armistício, a escolha de Bran (de todas as coisas, a que menos faz sentido) e o fato do anão aceitar ser a Mão do Rei soa incoerente e pouco desenvolvido. O rei “quebrado” é tão alienado e ausente do mundo dos vivos que sua realeza é simbólica e só, tanto que nem sua irmã cuida de si, e decide manter seu pedaço de reino independente. Ela ser coroada até faz sentido, e é um dos bons acertos dessa reta final, mas até esse mérito poderia ter sido feito de outro modo e melhor engendrado. Das boas idéias, a coroação de um homem sem herdeiros e sem possibilidade de herdeiros é sábia, ainda que se confie demais em único homem para decidir por seu legado. O destino de Snow é o que mais destaca os problemas apontados neste parágrafo. Ele é sentenciado a retornar a Patrulha da Noite, mas seu destino final é para além da muralha, ao lado dos Selvagens. Não ficando claro se ele decide descumprir a decisão do rei de Westeros ou se se trata de uma missão específica. A cena reitera a ideia de que ele era mais Stark que Targaryen, reunindo-se ao lado de Fantasma mais uma vez.
Boa parte das teorias finalmente se cumpriram, como os adendos na biografia de Jaime Lannister, o fato de Arya se tornar uma desbravadora, a coroa nortenha de Sansa. Há coisas bem decepcionantes, como Bronn sendo um burocrata ou as Crônicas de Gelo e Fogo sendo entregues sem qualquer emoção ou surpresa. Ao menos Porto Real termina com discussões os detalhes mais burocráticos dos reinos, como fortificações dos muros, alimentação, reconstrução de bordéis e o destino do último dragão. A brincadeira de que essa foi uma história dos Starks é levada até a última das consequências, e é realmente uma pena que essa temporada tenha sido tão frágil e apressada. Quem reclama unicamente desse final parece mesmo não ter acompanhado toda a problemática trajetória da quinta temporada em diante, com anos que vinham piorando cada vez mais.
Ao término de sua sexta temporada, foi anunciado ao grande público que o desfecho da grande saga criada por George R. R. Martin e que ganhou vida sob os olhos de D. B. Weiss e David Benioff teria somente apenas mais 13 episódios a serem divididos numa penúltima temporada de sete episódios, sendo a temporada derradeira, seis. Os fãs de Game of Thrones receberam a notícia como se fosse um banho de água fria, já que a série é a mais querida e mais assistida da televisão. Afinal, qual seria o real motivo de diminuir a quantidade de episódios logo em sua reta final? Porém, quando os créditos do último episódio desta 7ª temporada começaram a aparecer, teve-se a sensação de que a decisão dos produtores foi acertada.
Se a ótima 6ª temporada havia sido a melhor de toda a série, sua sucessora tinha a injusta missão de superá-la, ou ao menos, igualá-la. E para isso, Weiss e Benioff tinham em mãos um planejamento certeiro, que acabou por casar a história com a quantidade de episódios a serem distribuídos, sendo que, o que se teve, foi uma temporada com episódios maiores em termos de duração, mas sem nenhuma morosidade, inclusive apresentando certa urgência incomum em seus desenrolares e acontecimentos, deixando um saldo final como a temporada mais regular até aqui em termos de episódios, não cabendo, portanto, espaço para a enrolação tão criticada nas outras temporadas.
Se logo no começo da 1ª temporada os principais personagens se separaram, mas ainda assim podendo mencioná-los e dividi-los por núcleos (ainda que cada membro de uma determinada casa estivesse um em cada lugar de Westeros), o que se viu aqui foi uma satisfatória mistura recheada de primeiros encontros e vários reencontros. A premissa desta vez foi extremamente simplificada. Enquanto Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) cruzou o Mar Estreito pela primeira vez junto dos Dothraki e os Imaculados nos navios fornecidos por Yara (Gemma Whelan) e Theon Greyjoy (Alfie Allen), trazendo consigo sua mão, Tyrion Lannister (Peter Dinklage) e Lorde Varys (Conleth Hill). O Rei do Norte, Jon Snow (Kit Harington), se preocupa em reunir demais aliados ao Norte para a ameaça dos White Walkers, liderados pelo Rei da Noite, que busca atravessar a muralha com seu exército de mortos. Enquanto isso, a nova rainha, Cersei Lannister (Lena Headey), continua estabelecendo suas alianças e se fortalecendo através do terror e da intimidação.
Obviamente, a história passa a se converter na urgência maior, obrigando Jon a viajar até Dragonstone, onde Daenerys estabeleceu sua moradia. Sua missão é convencê-la da ameaça dos White Walkers, pedindo para que ela lute ao seu lado e ainda permita que a equipe do Lorde de Winterfell extraia o vidro de dragão, extremamente abundante na ilha e efetivo contra os mortos-vivos. O encontro que foi bastante aguardado, seguindo a tradição de encontros emblemáticos, não sai como esperado, haja vista que a orgulhosa khaleesi ordena que Jon Snow se ajoelhe, jurando servir a Casa Targaryen. O pedido é totalmente negado, mas Snow consegue convencê-la a deixar com que se extraia o mineral.
Uma das principais deficiências da série sempre foi o fato dos produtores e roteiristas introduzirem sérias ameaças sem justificativa nenhuma, como foi o caso do Alto Pardal de King’s Landing, seus seguidores e dos Filhos da Hárpia, que causaram muitas baixas no exército de Daenerys nas temporadas anteriores. Na atual temporada, o descaso/ameaça da vez é o irritante e cruel Euron Greyjoy (Pilou Asbaek), personagem introduzido na temporada anterior e que consegue tomar para si todo o poder das Ilhas de Ferro. Aliado aos Lannisters e querendo ser casar com Cersei, Euron intercepta pelo mar parte da armada de Daenerys numa sensacional batalha entre navios, sequestrando Yara Greyjoy e as Serpentes de Areia, entregando essas últimas (assassinas da menina, Myrcella) para a rainha de Westeros.
Um outro ponto que mereceu destaque foi a maneira como os dragões foram utilizados nesta temporada, onde foi deixado de lado seus aparecimentos apenas para salvarem o dia, no melhor estilo Deus Ex Machina, ou “Dragões Ex Machina”, como preferir. Após ser enganada numa bela manobra militar feita por Jaime Lannister (Nicolaj Coster-Waldau), que conseguiu afastar o exército de Imaculados, Daenerys resolve responder de maneira efetiva aos leões, dizimando violentamente parte do exército de Jaime com seus 3 dragões pelo ar e os Dothraki em terra. Jaime que quase não sobrevive e que estava cego pelo seu amor por Cersei, passa a ter lampejos de racionalidade, reconhecendo a supremacia de Daenerys, a força dos Dothraki e o poder dos 3 dragões, demonstrando, por várias vezes, ser contrário aos ideais de sua irmã, dando a entender, ao final da temporada, aparentemente, ter escolhido um caminho a seguir. A batalha em questão teve um escopo maior que a Batalha dos Bastardos, usando mais figurantes, mais cavalos e mais tempo para ser preparada, ainda que, aparentou ter sido filmada com um pouco menos de cuidado em relação ao embate de Jon Snow e Ramsey Bolton na temporada anterior.
Enquanto tudo isso acontecia, assuntos menores, mas de suma importância desenrolavam em outros pontos de Westeros. Sam (John Bradley), por exemplo, no caminho de se tornar um meistre para ajudar Jon Snow, além de descobrir algumas respostas sobre os White Walkers e sobre o casamento em segredo de Rhaegar Targaryen (Wilf Scolding) e Lyanna Stark (Aislin Franciosi), esbarra, sem querer, numa conveniência de roteiro que levou à Cidadela Sor Jorah Mormont (Iain Glenn), que está num estado degradável com a escamagris tomando boa parte de seu corpo. Enquanto isso, um chato Bran Stark (Isaac Hempsted Wright), agora como o Corvo de Três Olhos, chega a Winterfell que está sendo guardada por sua irmã, Sansa (Sophie Turner), sendo que as reuniões não param por aí, quando a corajosa Arya (Maisie Williams), chega para fazer a maior reunião da Casa Stark, desde o final do 1º episódio da série. Vale destacar que é o cenário perfeito para que o ardiloso Mindinho (Aidan Gillen) continue com seu plano de tomar tudo para si. Acontece que Arya e Sansa não são mais as mesmas garotas de antes e, mesmo que tenhamos uma noção de que apesar de tudo que passaram, elas ainda guardam diferenças e uma certa inveja uma da outra, foi bom poder acompanhar a continuidade do “trabalho” de Mindinho e a maneira como as irmãs Stark lidaram com isso.
Sem dúvida, o momento mais sensacional de toda a temporada e seguindo a tradição da série do melhor episódio ser sempre o penúltimo, foi quando Jon Snow resolve capturar algum membro do exército de mortos com a finalidade de provar à Cersei que é hora de colocar as divergências de lado em prol do futuro da humanidade. Assim, reúne num só time nada mais, nada menos, que parte dos mais queridos e melhores guerreiros de Westeros, causando furor na internet que, carinhosamente, comparou o time com a Sociedade do Anel, ou com os Vingadores, ou com um nome ainda mais justo: Esquadrão Suicida. Quem se juntou a Snow na empreitada foi o selvagem Tormund Giantsbane (Kristofer Hivju), o Cão, Sandor Clegane (Rory McCanne), Sor Jorah Mormont, completamente curado e novamente integrado à Daenerys, o sumido Gendry (Joe Dempsie), repatriado por Sor Davos (Liam Cunningham), além de Thoros De Myr (Paul Kaye) e Beric Dondarrion (Richard Dormer), a dupla que sobrou da extinta Irmandade Sem Bandeiras. O episódio tem diálogos sensacionais e divertidos, principalmente quando Tormund e Clegane conversam sobre Lady Brienne (Gwendoline Christie). Toda a empreitada teve momentos para prender a respiração e momentos de apresentar baixas significativas, tanto na equipe, quanto no que diz respeito à morte de um dos dragões, demonstrando que o Rei da Noite é muito mais poderoso do que se imagina.
Além de ter sido o episódio mais tenso de toda a temporada e também foi aquele que bateu recorde de audiência, ainda que a HBO Espanha tenha cometido a irresponsabilidade medonha de passar o episódio dias antes de sua estreia, em vez de passar uma reprise do episódio anterior, fazendo com que tudo fosse disponibilizado na rede muito antes da hora.
Se o sexto episódio foi um dos top 3 de toda a série e detentor de recordes, o último episódio acabou por superar o recorde antigo no que diz respeito à audiência. Nele, pudemos acompanhar a maior reunião de personagens numa única cena. Junto de Cersei e alguns soldados da guarda real, estavam Jaime, Qyburn (Anton Lesser), Euron Greyjoy e a Montanha, Gregor Clegane (Hafþór Júlíus Björnsson). Do lado de Daenerys, estavam Tyrion, Jon Snow, Davos, Varys, o Cão, Sandor Clegane, Brienne, que foi representar Sansa Stark; Missandei (Nathalie Emmanuel), Theon, Jorah Mormont e alguns Dothraki. A importância dessa reunião foi enorme, tanto para o seguimento da história, quanto para os fãs que aguardaram anos para ver concretizada. Jon Snow, pela primeira vez, desde o primeiro episódio da série confronta os assassinos de Ned Stark. Brienne reecontra Jaime e o Cão que foi derrotado por ela, sendo que o respeito mútuo entre os dois chega a ser louvável. O Cão confronta seu irmão, deixando claro que a história entre os dois, o chamado Clegane Bowl está perto do fim. E por último, Daenerys tendo seu primeiro contato com o reino e a rainha de King´s Landing.
O episódio, que foi o mais longo de toda a série, teve uma pegada bem cadenciada, mas longe de ser chata, ou cansativa. Contudo, pudemos experimentar detalhes importantes para a trama, primeiro no que diz respeito a Jon Snow, onde todas as teorias a seu respeito foram confirmadas com um adendo especial: seu nome, que poderá, inclusive delimitar o seu destino na trama. Um outro ponto foi a conversa secreta que Tyrion teve com Cersei. O que será que o anão fez para convencer a rainha a apoia-los na batalha contra os White Walkers? E o que a fez desistir tão facilmente do acordo a ponto de Jaime tomar as decisões que tomou? E Tyrion que se demonstrou extremamente desconfortável ao ver Jon Snow entrando no quarto de Daenerys? Essas perguntas só serão respondidas na derradeira temporada da série.
Afinal, a sensação é que não restará muita coisa, assim como parte da grande muralha, destruída por Viserion, o dragão de Daenerys, ora derrotado e revivido pelo Rei da Noite. O inverno que já havia chegado ao Norte, chegou inclusive na Capital. E na história de Westeros, neve na Capital não é sinal de bons ventos. A previsão é de um longo e tenebroso inverno, porém curto o bastante para os espectadores.
Oh, sim! A catástrofe natural mais querida do universo não desiste! Após faturar bilhões de dólares em bilheteria e ganhar diversos prêmios, Sharknado retorna com a terceira parte da grande saga de Fin Shepard (Ian Ziering).
Após os acontecimentos do segundo filme, a família Shepard está feliz e contente no parque da Universal, usufruindo momentos de paz. April (Tara Reid) está grávida e maneta. Fin é condecorado com a Motosserra Dourada, um ilustre prêmio por sua façanha contra o Sharknado. Tudo parecia bem… até o primeiro tubarão cair do teto! Algo indica que Fin atrai Sharknados, tanto que desenvolveu um sexto sentido que pressente a aproximação do tornado. Mais uma vez, o herói precisará proteger sua família e a nação americana.
Tivemos uma nítida evolução na parte técnica, deixando claro o maior orçamento despendido pela produtora The Asylum. Em diversas cenas foram utilizados tubarões reais e sangue sintético, provando que os efeitos práticos ainda têm espaço no cinema atual. O uso do CGI foi pontual e certeiro em pouquíssimas cenas, um ponto extremamente positivo que traz realismo e empatia.
O elenco está impecável. Além de Ian Ziering e Tara Reid, temos participações especiais de muitas estrelas: Frankie Muniz,Lou Ferrigno, Lorenzo Lamas, Bo Derek, Ray J, George R. R. Martin, além de Avalon Stone e Juliana Ferrante. Porém, a grande força é o inigualável David Hasselhoff, que após ter sua carreira reerguida ao interpretar a genial música-tema de Kung Fury, marca seu retorno definitivo às telonas neste filme. Sempre que aparece em tela, Hasselhoff rouba a cena com seu carisma e talento.
Nem só o elenco merece os louros. O talentoso diretor Anthony C. Ferrante mostra competência e personalidade, mostrando sua assinatura o tempo todo, notória ao longo de sua extensa filmografia. O roteirista Thunder Levin, que faz parceria com o diretor desde o primeiro episódio da saga, elaborou uma trama coesa, madura e envolvente. Todos os dramas humanos para superar as dificuldades, aliados à verossimilhança dos acontecimentos, faz com que o espectador se identifique facilmente com os personagens e situações, sendo difícil segurar as lágrimas em diversos momentos. Além disso, inúmeras referências a outros filmes menores permeiam toda a película. Sem dúvidas, a dupla Ferrante-Levin é uma das parcerias mais preciosas da atualidade.
No primeiro filme, fomos apresentados à catástrofe Sharknado e à família Shepard. No segundo, houve um grande desenvolvimento dos personagens e da história, criando um complexo pano de fundo para este terceiro episódio. Fin carrega um grande fardo e precisa evitar que o temível Sharknado destrua seu país e sua família. A grande motivação de Fin é seu filho que está para nascer, querendo garantir um mundo pacífico para ver seu rebento crescer feliz. Todas as motivações são muito bem desenvolvidas, acarretando em um final surpreendente.
Sharknado 3 não é apenas mais um filme-catástrofe. Ele quebra paradigmas e inova em diversos termos narrativos. Como se não bastasse, na época da estreia, o espectador poderia escolher o destino de April votando com uma hashtag no Twitter. O resultado da votação será revelado em Sharknado 4. Se você assistir à versão do DVD, Blu-ray ou Netflix, não verá as opções de votação. Infelizmente, quem não vivenciou o filme em sua estreia perdeu esse grande evento do cinema mundial. Agora, vamos esperar o lançamento do próximo capítulo desta saga que, sem dúvidas, é a mais grandiosa e relevante já feita em mídia audiovisual. Porém, será difícil superar Sharknado 3, que é o melhor da franquia até então.
Game Of Thrones é a adaptação para a TV da obra literária conhecida como As Crônicas de Gelo e Fogo. Cada livro é composto de um subtítulo, sendo que o subtítulo da primeira obra é justamente o nome da série criada por David Benioff e D. B. Weiss e desenvolvida para a HBO. Desde o início, ficou claro que cada temporada lançada adaptaria um dos livros dessa saga criada por George R. R. Martin, sendo que o terceiro, o maior de todos até aqui, precisou de duas temporadas para ser adaptada. Com o passar do tempo, ficou claro que Benioff e Weiss chegariam a ultrapassar Martin ante a demora do escritor em lançar o sexto livro, previamente chamado de Winds of Winter. Se na temporada anterior já tivemos alguns vislumbres que ainda não foram reportados nos livros, essa sexta temporada, definitivamente, mostrou que os showrunners de fato assumiram o controle criativo da série (obviamente sob a supervisão e consultoria de Martin) e o resultado, acredite, foi satisfatório, superior e promissor.
Assim como nas temporadas anteriores, seguimos acompanhando a sofrida história da casa Stark, bem como a história das casas Lannister e Targaryen, e suas relações com as casas que, embora menores, possuem suma importância para o desenvolvimento da história e dos protagonistas.
A Casa Lannister ficou enfraquecida após a morte de Lorde Tywin (Charles Dance) na quarta temporada, o que permitiu mais poderes para que Alto Pardal (Jonathan Pryce) de Porto Real aprisionasse e julgasse os pecadores da cidade. Por conta da prisão da Rainha Margaery Tyrell (Nathalie Dormer) e de seu irmão, Sir Loras Tyrell (Finn Jones), o Rei Tommen (Dean-Charles Chapman) acaba por fazer uma aliança com o líder religioso, colocando fim, inclusive, no famoso julgamento por combate, o que coloca Cersei Lannister (Lena Headey) numa difícil situação, ao mesmo tempo que seu irmão, Jaime (Nicolaj Coster-Waldau), precisa viajar para tomar Correrrio sob proteção do Peixe Negro.
Ainda que os acontecimentos deste núcleo tenham sido arrastados e extremamente tímidos – com exceção de uma cena ou outra em que o Montanha (Hafþór Júlíus Björnsson) está em ação, ficou claro que havia um motivo para ser assim, uma vez que o último episódio da temporada guardou em sua abertura um lindo retorno triunfante ao poder e cheio de resquícios de maldade vindos de Cersei. Tecnicamente, a cena é muito bonita e ao mesmo tempo chocante, acompanhada de uma bela trilha sonora que faz com que o espectador até torça pela maldade da Rainha-Mãe, que não fala uma palavra sequer durante todo seu tempo em tela. O curioso é que, logo no começo da temporada, Tyrion conta a Daenerys os reais motivos de Jaime ter matado o pai da Não Queimada, Aerys II (o Rei Louco), e quais as suas intenções para com Porto Real caso perdesse a guerra. Esse pequeno diálogo passa a fazer todo sentido depois que vemos a citada cena de abertura do último episódio da temporada.
O núcleo de Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) há tempos vem sendo o mais fraco de toda a série, e com isso todos os personagens ao seu redor enfraquecem também. Obviamente, sabemos que sua resolução será grandiosa, porém incomoda que todas as situações vividas pela Khaleesi sejam impiedosamente repetidas. Parece que há uma espécie de fórmula, sendo ela composta da seguinte forma: Daenerys acha que é poderosa o suficiente e começa a passar por sérias dificuldades, no entanto a solução para se livrar do problema é sempre um deus ex machina, carinhosamente chamado de “dragões ex machina”, e tudo termina com um discurso de guerra extremamente motivador na língua nativa daquele respectivo povo a que ela se dirige. Pelo menos, desta vez, tivemos o retorno dos Dothraki, o que favorece o Vale Dothraki e todo o seu povo. Enquanto isso, Tyrion Lannister (Peter Dinklage) e Lorde Varys (Conleth Hill) lutam para achar a melhor saída para a paz em Meereen, enquanto Daenerys está desaparecida. Ainda assim, os acontecimentos nesse núcleo foram de extrema importância, já que muitas das casas menores presentes no universo criado por Martin estão fazendo alianças com aqueles que acham que tem a razão. Dessa forma, Daenerys faz sua primeira aliança com uma casa de Westeros, partindo com todo seu exército de Imaculados, juntamente com os Dothraki, nos navios construídos pelos Greyjoy, sob o comando de Yara (Gemma Whelan) e Theon Greyjoy (Alfie Allen).
Mas, definitivamente, essa sexta temporada teve os Starks como protagonistas. A sofrível jornada dos irmãos separados ao final da primeira temporada, finalmente, começou a dar indícios de que a vida de Bran (Isaac Hempstead Wright), Arya (Maisie Williams), Sansa (Sophie Turner) e Jon Snow (Kit Harington) começará a melhorar em breve.
Por conta do desfecho ocorrido ao final da temporada anterior, o foco principal foi a morte de Jon Snow, traído por companheiros da Patrulha da Noite. Numa tentativa desesperada de trazer o Lorde Comandante de volta à vida, Sir Davos Seaworth (Liam Cunningham) e os melhores amigos de Snow recorrem a Melisandre (Carice van Houten), que ressuscita o guerreiro. Nesse meio tempo, Bran continua seu treinamento junto com o Corvo de Três Olhos (Max von Sydow), revisando parte do passado de seu pai, Ned Stark e de alguns personagens que até então só apareciam em relatos. Sansa e Theon ainda fogem do domínio do cruel Ramsay Bolton (Iwan Rheon) e Arya, agora cega, vive mendigando pelas ruas.
Ocorre que o desenvolvimento do núcleo Stark nessa temporada foi muito semelhante ao dos Lannisters, porém alguns acontecimentos envolvendo a família causaram muita reação e permanecerão na memória dos fãs por muito tempo. Primeiro com relação a Bran: devido a sua condição física, o jovem Stark precisa ficar parado a maior parte do tempo, mas é através dele que descobrimos o que de fato aconteceu com seu amigo Hodor (Kristian Nairn) e sua demência, em uma cena de partir o coração, além de abrir um infinito leque de opções ao personagem em relação a que caminho seguir. E segundo porque Jon Snow passa boa parte do tempo imaginando uma forma de retomar Winterfell para sua família. Num desses momentos, conhecemos a menina Lyanna Mormont (Bella Ramsey), responsável pela Casa Mormont, a mesma casa de Sir Jorah Mormont (Iain Glenn), mais um grande momento da temporada.
Seguindo a tradição de inserir grandes acontecimentos nos últimos momentos, foi reservada para o nono episódio a Batalha dos Bastardos, que com certeza entra para o rol das mais sensacionais cenas de duelo da história da televisão, tanto tecnicamente quanto narrativamente. Só de equipe técnica, houve uma mobilização de 600 pessoas, além de cerca de 500 figurantes, toneladas e mais toneladas de cascalhos, além de cavalos e dublês para gravar uma cena que levou, ao todo, quase um mês de gravação. E o resultado foi espetacular. Vale destacar que a batalha teve várias influências de O Senhor dos Anéis na visão de Peter Jackson para As Duas Torres e O Retorno do Rei. Apenas a título de curiosidade, o canal CW leva cerca de duas semanas para filmar um episódio inteiro de seus seriados.
A sexta temporada de Game Of Thrones, sem dúvida, foi uma das mais regulares desde sua estreia em 2011. De qualquer forma, por conta de todos os acontecimentos, ficou mais que evidente que a história de fato está caminhando para chegar ao fim. Afinal, o inverno chegou e só teremos mais duas temporadas com um número reduzido de episódios. Aparentemente, muita coisa ainda precisa ser resolvida. Só nos resta, por enquanto, aguardar mais um ano.
A chamada na capa é um chamariz e tanto. Afinal, Garota Exemplar, de Gillian Flynn, é um dos melhores thrillers que li nos últimos meses. E A Garota no Trem não decepciona. É parecido, mas é diferente, e esta é uma grande vantagem, pois o inesperado da trama chega ao leitor de outra forma. E como se não bastasse a referência a Garota Exemplar, George R.R. Martin (sim, ele mesmo – aquele senhor que está nos devendo os volumes finais de Game of Thrones) indicou a leitura.
Todas as manhãs, Rachel toma o trem das 8:04 de Ashbury a Londres. Conhece o trajeto de cor, sabe os pontos em que o trem diminui a velocidade, e anseia pela parada num dos sinais, em que observa determinada casa e seus habitantes, um casal desconhecido a quem ela batiza de Jess e Jason. Numa das manhãs, presencia uma coisa que a faz mudar de opinião sobre a vida perfeita que ela creditou ao casal. E quando Jess é dada como desaparecida, o que Rachel viu pode se tornar relevante para entender o que aconteceu com ela.
Usando um recurso que virou modinha desde George R.R. Martin, o livro tem três linhas narrativas, três vozes femininas que contam a história: Rachel Watson, Jess (cujo nome verdadeiro é Megan Hipwell) e Anna Watson, atual esposa do ex-marido de Rachel. Interessante como, aparentemente, os homens – Tom Watson e Jason (na verdade, Scott Hipwell) são meros coadjuvantes na narrativa de cada uma delas.
A narração é toda em primeira pessoa, o que de imediato dá a dica de que o que é “contado” ao leitor pode não ser necessariamente o que aconteceu, mas sim a visão de cada personagem. E, levando em conta que Rachel é a que passa mais tempo narrando, é por seus olhos que acompanhamos a maioria dos fatos. Mas temos aí um problema, ou melhor, um recurso narrativo que oblitera a percepção do leitor propositalmente: o uso de um narrador não confiável. Se, em algumas obras, descobrimos apenas próximo do final que não deveríamos ter confiado no narrador, nesta, logo no início, somos levados a questionar o quanto são verídicos e fidedignos os fatos que Rachel conta. Afinal, Rachel é alcoólatra e descobre-se que vem mentindo à sua amiga sobre estar desempregada há 3 meses – não é spoiler, já que está no começo da história e consta em várias sinopses. Como confiar no relato de alguém com amnésia alcoólica, se até mesmo a própria personagem duvida da veracidade de suas lembranças? Esse ingrediente a mais é o que deixa o leitor “com a pulga atrás da orelha”, sem saber direito em que se basear para montar a sequência dos fatos em sua cabeça à medida que a leitura avança.
“De vazio, eu entendo. Começo a achar que não há nada a se fazer para preenchê-lo. Foi o que percebi com as sessões de terapia: os buracos na sua vida são permanentes. É preciso crescer ao redor deles, como raízes de árvore ao redor do concreto; você se molda a partir das lacunas.”
(pag.144)
E não é apenas a situação atual de Rachel que a torna uma narradora pouco confiável. O ponto de vista de Anna reforça essa ideia, mesmo que – não se esqueçam – o que se lê é o que ela nos conta, da forma como ela vivenciou os fatos. Para Anna, Rachel é uma stalker que insiste em rondar e invadir sua nova vida com Tom e o bebê recém-nascido. Alguém que não consegue admitir que seu relacionamento com o ex terminou e que é incapaz de seguir em frente e deixá-los, efetivamente, em paz. E o leitor, ao se deparar com duas versões para o mesmo evento, tende a dar mais credibilidade a uma mãe de família do que a uma desempregada, mentirosa, que vive sob efeito do álcool. Dessa forma, mesmo quando Rachel começa a se recordar do que houve na noite em que Megan desapareceu, o quanto disso pode ser levado em consideração?
Por fim, há a narrativa de Megan que, aos poucos, vai revelando ao leitor detalhes importantes sobre os eventos. Detalhes que tanto complementam o que Rachel presenciou de longe, da janela do trem, como revelam fatos desconhecidos tanto de Anna quanto de Rachel. Fatos que conduzem o leitor a conclusões totalmente diversas das que ele tira inicialmente sobre o que pode ter ocorrido a Megan.
É interessante notar que, a princípio, as vozes narrativas parecem muito semelhantes – algo que me incomodou um pouco, afinal as personagens são bem diferentes entre si. Mas, aos poucos, o estilo vai se modificando, se moldando à personalidade delas, de forma que em dado momento é possível saber quem é quem mesmo sem ter lido a identificação no início do capítulo.
Apesar de o texto de Hawkins não ser tão envolvente quanto o de Flynn, ela cria a necessidade de continuar lendo entrelaçando os fatos com engenhosidade. Conduzindo o leitor habilmente e induzindo-o a querer encaixar a próxima peça do quebra-cabeça o mais rápido possível. Apesar de as reviravoltas no enredo não serem tão intensas ou surpreendentes quanto em Garota Exemplar – algumas são, mas a maioria a gente quase “vê chegando” mesmo que não conscientemente – a autora consegue manter o ritmo da narrativa mesmo em trechos mais amenos que, aparentemente, não agregam muito à trama. Digo aparentemente, pois Hawkins faz um bom uso do recurso de “pista/recompensa” – aquele detalhe que nos parece insignificante e às vezes até desnecessário, mas que capítulos adiante adquire todo um novo significado ao ser inserido em outro contexto.
Enfim, quem resolver ler por ter gostado de Garota Exemplar não vai se arrepender. E tomara que a transposição do livro para a tela também seja tão eficiente quanto foi com o livro de Gillian Flynn.
Continuando na onda “mainstream”, agora é a vez do terceiro livro de Guerra dos Tronos. Não li outras resenhas sobre esse livro em particular, mas li de seus predecessores e pretendo fazer algo um pouco diferente ao resenhá-lo. Como introdução, direi aqui que tenho grande consideração por esse livro (e por essa série) e acho que é uma das melhores obras de fantasia que existe ou que haverá de existir. Portanto, minhas críticas aqui não são necessariamente algo que eu odeio do fundo de minha alma. São apenas alguns aspectos que eu achei interessante compartilhar.
Devo, antes de qualquer coisa, dizer que não pretendo fazer uma análise passional sobre o quão incrível a história que George R.R. Martin criou é, e tampouco tentar dizer o quão boa essa obra é tentando me desviar dos (milhares) spoilers que há nas 840 páginas desse livro. Não irei fazer uma comparação com Tolkien (pelo menos não nos aspectos que já tenha visto alguém fazer) e nem me aprofundar nos aspectos mais profundos daquilo que foi lido. Irei apenas colocar os pontos positivos e negativos, sendo que não acho que isso vai ser uma tarefa fácil, uma vez que Martin é muito bom em gerar sentimentos contraditórios, mas igualmente formes.
Quero começar falando sobre as quatro estrelas que o livro recebeu, pois tenho certeza que, dentre os que já li de As Crônicas de Gelo e Fogo, esse definitivamente seria um grande merecedor de cinco estrelas, se não fosse por uma coisa simples: a maneira que a história é contada. Muitas foram as resenhas que eu vi que ou reclamam dos pontos de vistas ou então os admiram fervorosamente. Eu talvez esteja em um meio termo, mas isso é algo para ser dito mais pra frente. Afinal, não era disso que eu estava falando quando disse “a maneira que a história está sendo contada”.
Para falar a verdade, a série toda só não está entre os meus favoritos (up and beyond) porque o Martin escreve uma história impecável e perfeitamente. Talvez isso seja contraditório, sim, mas vou explicar um pouco mais o que quis dizer. Quando você começa (eu, pelo menos, quando comecei), é capaz de sentir o potencial na veia, e isso te empolga e te leva a seguir adiante, pois a narrativa utilizada foi feita para te fazer continuar lendo e devorar suas páginas. Ele não enrola, não se perde em coisas “desnecessárias” e também não fica nos fazendo engolir a mesma coisa várias e várias vezes. Se tivesse que fazer uma comparação infame, enquanto Martin está para Stannis assim como Tolkien está para Renly, e não estou falando na viadagem.
Enquanto Tolkien procurava nos afundar em sua fantasia e seu universo fantástico de supetão, várias vezes com descrições gigantes (mas nem por isso inadequadas) e histórias já passadas, Martin nos guia lentamente pelo universo que criou a partir daquilo que acontece com os personagens que nele vivem. Seria como se não fosse a história de como a Comitiva do Anel seguiu para seu destino incerto ou então como Frodo destruiu o anel, mas sim tudo que aconteceu com a Terra-Média para chegar naquele ponto em que o jovem Hobbit saía do Condado.
Não estou dizendo que isso faz com que a maneira que Martin conta a história seja ruim – pelo contrário, é muito boa -, mas essa maneira direta faz com que, pelo menos para mim, isso pareça impessoal demais, com uma frieza incontestável nas palavras que narram tudo aquilo que acontece (veja bem, não quando se trata dos personagens e daquilo que eles sentem, mas sim do próprio autor). Seja com Philip Pullman com sua bússola de ouro e a visão da natureza humana com toques infanto juvenis ou então de Lemony Snicket, com sua narrativa agridoce repleta de verdades amargas ou até mesmo de J.K. Rowling, que nos faz acompanhar praticamente uma vida inteira de alguém que é um sobrevivente a partir do primeiro momento.
Mas, sim, a história é narrada a partir dos pontos de vistas dos personagens, então onde haveria de ter espaço para a presença onisciente e onipresente de Martin nisso tudo? Não sei e não tenho competência para começar a afirmar onde que ele poderia colocar um pedacinho de sua própria natureza ou então de outro aspecto de sua personalidade com fragmentos expressivamente seus, independente dos personagens, durante a escrita. Talvez soe meio estranho, mas para um livro ser meu favorito, ele não precisa contar a história “perfeita e diretamente”, mas sim me inspirar muito além daquilo que acontece, me levando através das entrelinhas daquilo que foi contado.
Agora, sempre tive um problema muito grande em pensar demais nas coisas, e imagino que talvez o que eu tenha escrito aqui não faça sentido para você e, nesse caso, você provavelmente deve ter visto muito mais na narrativa do que eu. Pensando nisso, fiquei matutando e pensando que, talvez, muito além daquilo que lemos, o que nos influencia a gostar de um livro é o momento em que estamos na nossa vida. J.K. Rowling, por exemplo, pode ser uma das minhas autoras favoritas porque eu cresci lendo Harry Potter (e junto com ele, também). Ou então Philip Pullman, que foi aquilo que eu li entre os lançamentos de HP e estava sendo apenas introduzido aos mundos fantásticos e, naquele momento, tudo era mágico demais e perfeito demais e agora, com o tempo e vários livros entre o Harry Potter e A Tormenta de Espadas, minhas percepções estejam completamente diferentes.
Bem, agora que já me perdi com justificativas e apontando a minha visão “geral” do livro, vamos aos pontos menos pessoais. Não sei se sou o único, mas detesto os prólogos de Martin, por algum motivo que não tenho certeza de qual é. Isso, é claro, de longe não é algo tão relevante quanto achar que a história é uma porcaria. Está mais para um detalhe incômodo do que qualquer outra coisa. Porém, seus epílogos – em comparação – são excelentes e mal vejo a hora de começar o quarto livro (por mais que tenha alguns livros no meio).
Outro hábito que muitas vezes me incomoda é sua maneira de tentar colocar um “gancho” toda vez que termina um ponto de vista. Muitas vezes ele faz o trabalho perfeitamente, como quando aquilo aconteceu com aquele leãozinho ou então The Rains of Castamere em sua melodia que para mim se tornou rubra. No entanto, em alguns outros esses ganchos parecem forçados, principalmente quando se trata de Cat, que muitas vezes a fazem parecer completamente louca ou desesperada (o que talvez ela esteja, mas me pareceu meio artificial), ou então em alguns determinados momentos com Arya, Sansa ou Tyrion, que pareceram um pouco desnecessários. Novamente, nada muito gritante na minha opinião e não desmerece a obra.
Porém, preciso admitir que nesse livro eu demorei para pegar o ritmo. Sempre tive alguns problemas com grandes expectativas e a formação de uma tempestade ao longe, e pelas primeiras 400 páginas eu tive a sensação de que as nuvens estavam se formando, mas por mais que coisas empolgantes acontecessem, não eram algo que me fizesse ler com aquela voracidade desesperadora. Isso, no entanto, acaba após aquilo e somos obrigados a ler sem querer parar. Não muda o fato de que quase metade do livro não foi tão empolgante quanto o resto, mas ainda assim não posso dizer que a primeira parte foi ruim. Cansativa, sim, mas não ruim.
Eu podia dizer agora sobre os pontos positivos, a maneira épica que Martin orquestrou todos os acontecimentos com antecedência para gerar sentimentos conflitantes, gritantes e desesperadores, ou então a própria história em si, sua magia sutil que cresce gradativamente ou talvez do quão empolgante toda aquela maquete de tramas e, claro, Dany e seus dragões. Porém, acho que todo mundo que já leu já sabe disso tudo e existem muitas outras resenhas que irão dissecar o livro e seus melhores aspectos muito melhor do que eu.
Para finalizar, deixo aqui a sugestão para que leiam os livros e acompanhem o seriado. Independente de suas opiniões a princípio, dos julgamentos que você provavelmente tem ou talvez de sua alma hipster que não vai querer seguir algo tão mainstream quanto As Crônicas de Gelo e Fogo. Leia, porque nessa série há tudo para todos os gostos e personagens tão épicos quanto podem ser, sendo uma referência para todos aqueles que querem ver o quanto um universo fantástico pode evoluir.
Creio que se trata de uma tarefa muito difícil – e algo que não pretendo fazer – separar um livro inteiramente de uma série para resenhá-lo. Afinal, acho mais consistente julgar todos os capítulos de uma vez do que os pedaços esparsos e, dessa forma, projetar minhas expectativas sobre aquilo que aconteceu e o que vai acontecer. No entanto, diferente da próxima resenha que irei postar aqui (que é de A Tormenta de Espadas), tentarei ao máximo analisar a trama e os personagens e o que faz As Crônicas de Gelo e Fogo uma leitura indispensável para todos aqueles que gostam de uma literatura fantástica consistente.
Quando comecei a ler o segundo livro, a segunda temporada já havia terminado e eu estava no aguardo da terceira, portanto não fui tão surpreendido quanto poderia por aquilo que acontece, mas preciso afirmar que alguns detalhes fizeram com que eu me apegasse ainda mais aos personagens e à riqueza da história. Mas, antes de começar a falar sobre isso, quero respostas honestas para as seguintes perguntas: quem não acha, nesse livro a Sansa uma menininha sonsa que só sabe ser cortês? Quem não a detesta pela sua burrice ao denunciar os planos de Ned para a rainha? Quem, pelos céus, não curte os pontos de vistas de Tyrion desde o primeiro livro? Quem aí não quer ver mais (muito mais) sobre os sonhos verdes, o corvo de três olhos e os sonhos de lobo de Bran? Ou então, para finalizar, quem aí não acha que Jon Snow é um dos personagens com maior potencial da série?
E olha que nem vou comentar sobre a torcida para que Arya mate todos aqueles que cita o nome em uma prece antes de dormir, porque prefiro acreditar em um mundo ideal em que todo mundo a imagina no futuro como decepando cabeças e dominando mundos. Se algum de vocês não sentiu nenhuma dessas coisas, então acho que As Crônicas de Gelo e Fogo realmente não são para você. No entanto, se você concorda com pelo menos uma dessas perguntas, então acredito que também irá concordar com os pontos que colocarei a seguir.
É inegável, independente do que qualquer pessoa diga, que As Crônicas de Gelo e Fogo estão prontas para serem adaptadas para a 7ª arte, o que faz com que a leitura seja rápida, fluida e etc, etc, etc. No entanto, não se trata apenas disso. Todos os personagens tem seu background e seus feitos de outrora e, por mais que isso seja dito apenas por cima na maioria das vezes, pelo menos George se dá o trabalho de pelo menos mencionar algo que pode ter influenciado a situação atual dos personagens e o valor que ele tem para a trama.
Sim, concordo, são mais personagens principais do que eu gostaria de conseguir acompanhar, mas eles não estão deliberadamente colocados para dar andamento a história. Pode parecer isso, mas acredito que existem vários propósitos por trás deles e de seus contextos, por mais que pareça que o universo fantástico criado seja realmente o foco. Afinal, todos eles são únicos, consistentes e com traços fortes que os definem e, assim, permitem que o leitor se identifique com eles. Sem contar que o autor lida muito bem com os conflitos morais e as influências não apenas internas dos personagens como também daquilo que outros podem obrigá-los a fazer, independente de seus valores (afinal, quem aí não achava que Ned ia jogar na cara de todo mundo que Joffrey era bastardo antes de ser decapitado?). É preciso de maestria para conseguir fazer personagens tão divergentes e, em alguns casos, coesivamente similares, por mais que nunca tenham convivido. Esse fator “humano” colocado pode parecer desanimador em um universo fantástico, mas eu realmente gosto muito desse aspecto colocado.
Agora, quanto a trama que rege esse segundo livro, vou ser sincero e dizer que não sei por onde começar. Dany e seus dragões com sua “aventura” em Qarth? Ou então Tyrion como mão do rei e tentando salvar Porto Real? Ou quem sabe Jon Snow e sua empreitada com Qhorin Meia-mão? Arya? Mencioná-las individualmente ocuparia muito tempo e, honestamente, não ficaria tão bom quanto eu gostaria para expressar aquilo que eu acho. Portanto, serei sucinto e imagino que terá o mesmo efeito do que florear tudo individualmente (infinitamente).
Creio que nesse livro, acima de tudo, nos mostra o quanto o universo criado está crescendo e tem potencial para crescer. Por mais que no primeiro livro eu tenha sido frustrado ao desejar uma magia e misticismo que não houve, agora eu vejo que minhas expectativas não deverão permanecer frustradas por muito tempo. A feiticeira vermelha, os Outros, os Imortais e até mesmo os dragões da não-queimada crescendo e se desenvolvendo são, se não sinais evidentes de quanta magia ainda está por vir, o inicio da reviravolta do que está por vir. Haverá magia, sim, e haverá morte e destruição, isso fica claro. Porém, ao invés de temer, esse livro nos prepara para o fantástico que está por vir, muito mais do que apenas contar uma história.
(Se bem que, pensando bem, não existe um livro que nos prepararia para todos aqueles casamentos do livro 3).
Dito isso, vejo o segundo livro como uma preparação, uma ponte que vai conectar o primeiro livro com os seguintes, nos preparando o melhor possível para os plot twists que irão surgir. O primeiro livro, a Guerra dos Tronos, me pareceu mais como uma introdução, enquanto o “A Fúria dos Reis”, é o verdadeiro início que nos levará a diante. Agora, como eu disse lá em cima, se você não foi inspirado de forma alguma pelos personagens ou então pela complexidade e andamento da trama, então o melhor que você tem a fazer é largar esse livro e apenas assistir o seriado (porque, mesmo sem gostar dos livros, é muito provável que o seriado te empolgue). Porém, como já disse antes: se você acredita nos personagens e na história, continue lendo. Afinal, essa série é uma literatura fantástica diferente das outras que já foram apresentadas. Não melhor e não pior, apenas diferente.
Muito se fala de Game of Thrones, obra escrita por George R. R. Martin e lançada nos EUA em 1996, principalmente depois do sucesso da série televisiva. Resolvi enfim embarcar nessa jornada por intermináveis 500 e tantas páginas, e tentar entender um pouco os motivos desta obra ser tão falada nos últimos tempos.
Nesse primeiro capítulo das Crônicas de Gelo e Fogo, talvez pelo meu primeiro parágrafo já seja possível entender uma das minhas maiores críticas à obra, que é justamente a sua extensão. Criticar a extensão de Guerra dos Tronos, não quer dizer que eu desqualifique automaticamente qualquer obra que seja longa, com descrições infinitas, ou passagens arrastadas, longe disso. O meu problema nesse aspecto se deve ao fato da quantidade de informações, personagens, locais, tramas, subtramas, e que muitas vezes, lemos páginas e mais páginas, para que nada aconteça, a história não se movimente, ou às vezes até servem de gancho a um futuro acontecimento, mas o período de preparação para isso se torna tão longo e enfadonho, que quando o fato preparado 200 páginas antes acontece, a sensação está mais para alívio por finalmente sair das páginas alguma coisa que realmente importa, do que de assombro ou surpresa.
Ainda sobre a quantidade excessiva de nomes, personagens, locais, tramas, acontecimentos, histórias, mitologias. Um bom professor de literatura certa vez disse-me, fazer uma história, envolvente, e que se desenvolva de maneira satisfatória, com uma porção de personagens e núcleos de enredo, é mais fácil e suscetível a agradar o público geral, do que uma história com poucos personagens, mas que sejam bem aprofundados e consistentes (O contexto dessa frase se deu, quando alguma novela estava fazendo grande sucesso e era o assunto do momento, não me pergunte qual). Essa frase pode nem ser verdade, mas ainda assim me permeou toda a experiência com o livro. Me parece que na história existem núcleos e pessoas para todos os gostos.
Há quem penderá para o lado de Winterfell, por simpatizar com os aspectos de paladinos do bem. Há quem goste dos Lannister, pela falta de escrúpulos e a inteligência de Tyrion. Ou principalmente Daenerys, porque dentre todos segue um arco mais próximo da jornada do herói. Deve haver até quem goste do qual não me lembro o nome (afinal são tantos), mas é o eunuco que fode geral, por mais contraditório que isso seja. Enfim, o leque é amplo.
É claro que não há só pontos negativos, a grande história do livro por assim dizer, a luta pelo poder e pelo trono de ferro de Westeros, os Sete Reinos e etc. Claramente inspirada pela Guerra das Rosas, período que se sucedeu uma série de intrigas e batalhas pelo poder na Inglaterra do século XV. É muito bem construído, intriga e faz com que o leitor se sinta interessado em que fim vai dar tudo aquilo.
Os elementos fantásticos daquele mundo também são interessantes, as estações do ano, que não seguem a nossa lógica, com verões longos, e invernos que podem durar 10 anos. Nos intriga ao pensar em qual será a influência desse rigoroso e temido inverno à todos esses jogos de poder da corte. Além de criaturas temidas que há tanto tempo não são vistas, que muitos acham até que já não são mais uma realidade, ficamos interessados em como o autor amarra todos esses elementos.
Até mesmo as intrigas internas e os jogos de poder menor, com um personagem apunhalando o outro pelas costas para que tire proveito disso, também são satisfatórias, e talvez até a alma central do livro. Mas nelas também reside grande parte dos problemas já anteriormente citados, pois sempre envolvem um sem fim de nomes, problemas que nos levam a mais intrigas, formando uma teia enorme e modorrenta de pequenos fatos, até chegar a algo que realmente tenha impacto.
Já que falei de impacto, talvez o último importante ponto a ser citado é o tratamento que o autor dá a importantes personagens. Pelo menos nesse primeiro capítulo da saga, pode-se notar que pelo bem da história, qualquer um pode estar a perigo, seja de perder tudo que tem, seja de uma morte inesperada. Isso é bom por duas vias, tanto para mostrar que mesmo os nossos heróis ou vilões favoritos, continuam humanos e podem ser derrotados, e mais ainda pelo fator de surpresa que a história pode lhe oferecer. Já por outro lado, dada a minha insistência em bater nessa tecla, a quantidade de núcleos presentes na obra, comporta a falta de qualquer um dos grandes personagens. Podendo naturalmente o papel de um, ser suprido por outro, nas mesmas condições de caráter e fio condutor de uma situação, sem que hajam reviravoltas extraordinárias.
No geral, vejo Game of Thrones apenas como um grande tomo regular com algumas boas passagens, um livro de fácil digestão, que pouco de substancial oferece ao leitor além do que já está impresso no papel e ao fim causa um sentimento dúbio naquele que o consome (desde que este não seja um fanático por fantasia medieval), pois a grande saga retratada, instiga e nos causa interesse de saber como tudo aquilo irá terminar. Mas ao mesmo tempo toda a carga de passagens desnecessárias, inundação de personagens, e o total de mais seis livros a frente (todos maiores do que o primeiro), me espantará de seguir adiante com a criação de Martin. Um último e rápido ponto, quanto a todas as hiperbólicas conotações do livro, como genial, revolucionário, livro mais importante do século XXI (sim, já li até isso), só posso dizer: menos, muito menos.