A mensagem, aqui, é clara: testes nucleares são um perigo? Sim, exatamente como a disseminação de falsas verdades em tempos em que todos acreditam em qualquer coisa espalhada com força pela internet. Isso porque quando o poder está nas mãos erradas, seus efeitos são tão catastróficos quando a explosão de um reator nuclear, funcionando na antiga União Soviética, trinta anos atrás, sob a garantia de que nada de tão grave, poderia acontecer. Chernobyl se torna memorável não “apenas” por manter nosso interesse por cinco episódios extremamente bem escritos, ambientados e encenados, mas principalmente por associar esse acidente histórico com os acidentes também alarmantes que as mentiras, ou num termo mais contemporâneo, as fake news, podem acarretar no bem-estar da social de um país.
Não à toa a produção da HBO, o mesmo canal da Warner Bros responsável pelo frustrante término de Game of Thrones, vem sendo determinante para restaurar a fé do grande público com o melhor canal atualmente de séries adultas, em contraponto com a infantilização do público em larga escala que a Disney tanto promove. A minissérie consegue ser boa a ponto de acalmar os ânimos dos fãs furiosos com o desfecho televisivo da criação de George R.R. Martin, fazendo todos voltarem sua atenção a HBO mais uma vez, para uma trama dividida em cinco capítulos a prova de qualquer desilusão ou pessimismo por parte dos seus espectadores.
Mas engana-se quem acha que Chernobyl é pura ação, ou suspense. A minissérie usa de artifícios da ficção para impulsionar e nos hipnotizar a respeito da assombrosa e tensa realidade antes, durante e após a catástrofe que mobilizou o mundo, e ainda hoje, mantém isolada uma gigantesca área do mundo banhada nos perigos de uma radioatividade intensa, e resistente. Se há ação e explosões, do jeito que a massa gosta de assistir, ela reserva-se apenas a grande explosão, quando os cientistas, angustiados na sala de comando de uma Usina Nuclear, em uma noite comum de 1986, cientes do desastre que já se adiantava, tentam salvar suas vidas e as de seus colegas de trabalho em meio a fumaça química, e mortal.
A maioria morreu, é claro, e o restante se tornou herói aos olhos do mundo na proteção e desespero eternos dos seus familiares que, implacáveis, tentavam se manter juntos dos entes queridos, nas alas hospitalares. Até o fim, mesmo que a contaminação dos corpos dos físicos e bombeiros também envenenasse e apodrecesse os seus – como expõe algumas cenas bastante fortes, mas precisas quanto aos horrores decorrentes de uma enorme mentira: se as autoridades políticas tivessem reconhecido o erro dos seus cientistas e avisado a população, e não esperado 36 horas para isso, os danos seriam menos danosos aos milhares de seres humanos respirando doses cavalares de radiação. Para não divulgar sua incompetência, o governo preferiu desinformar, enquanto o estrago, além de interesses políticos, se propagava livre, pelo ar.
Uma mistura bem-sucedida de drama e suspense que, nesta década, poucas produções cinematográficas alcançaram – O Espião que Sabia Demais salta à mente, a charmosa adaptação do livro detetivesco de John Le Carré. Se fosse um filme, cujo dever é sumariamente faturar nas bilheterias americanas e do mundo, Chernobyl iria se vender como uma produção barulhenta, cheia de clímax, talvez até inserindo zumbis ou as também icônicas máscaras de ar, para dar um clima de suspense hollywoodiano em que tudo pode acontecer. Nós somos os nossos próprios heróis na vida real, e não há porque esconder isso. Aqui, o caminho na televisão para a trágica e inesquecível história foi o de acentuar o drama humano e deixar os atores brilharem, em especial nas sessões intermináveis de tribunal nas quais os envolvidos tiveram de explicar as condições do grande desastre ao júri, ou nos momentos mais íntimos em que percebemos que, para aqueles que amamos, a morte já fez amizade. E tudo por conta de verdades seguradas nas mãos de poderosos, preocupados com sua reputação nacional, e internacional.
Tal sensação mórbida que assolou a cidade pela situação que enfrentou é expressa na paleta de cores desse marco da HBO, evidenciando, assim, com tons leitosos de verde, branco e azul uma atmosfera pesada, como se as pessoas que ali viviam e trabalhavam estivessem cercadas, e condenadas, por um destino cruel à espreita. Quando Valery Legasov, um renomado químico soviético é preso, a mando do governo, após a violenta explosão nuclear ter a sua fumaça tóxica espalhada pelo vento, quilômetros além da cidade do norte da Ucrânia, a morbidez de uma futura cidade fantasma é ainda mais acentuada nas cores de sua cela, solitária e redutiva a figura do homem. A ambientação da minissérie impressiona, num louvável trabalho de reconstrução da época do regime socialista da URSS, a ponto dos cenários do acidente, por exemplo, serem tão realistas quanto suas inspirações verídicas. Um dos brilhantes fatores a nos lembrar que, quando a HBO quer fazer conteúdo de primeira magnitude aos que buscam menos espetáculo pirotécnico, e mais intelecto, ela continua imbatível.
Ao término de sua sexta temporada, foi anunciado ao grande público que o desfecho da grande saga criada por George R. R. Martin e que ganhou vida sob os olhos de D. B. Weiss e David Benioff teria somente apenas mais 13 episódios a serem divididos numa penúltima temporada de sete episódios, sendo a temporada derradeira, seis. Os fãs de Game of Thrones receberam a notícia como se fosse um banho de água fria, já que a série é a mais querida e mais assistida da televisão. Afinal, qual seria o real motivo de diminuir a quantidade de episódios logo em sua reta final? Porém, quando os créditos do último episódio desta 7ª temporada começaram a aparecer, teve-se a sensação de que a decisão dos produtores foi acertada.
Se a ótima 6ª temporada havia sido a melhor de toda a série, sua sucessora tinha a injusta missão de superá-la, ou ao menos, igualá-la. E para isso, Weiss e Benioff tinham em mãos um planejamento certeiro, que acabou por casar a história com a quantidade de episódios a serem distribuídos, sendo que, o que se teve, foi uma temporada com episódios maiores em termos de duração, mas sem nenhuma morosidade, inclusive apresentando certa urgência incomum em seus desenrolares e acontecimentos, deixando um saldo final como a temporada mais regular até aqui em termos de episódios, não cabendo, portanto, espaço para a enrolação tão criticada nas outras temporadas.
Se logo no começo da 1ª temporada os principais personagens se separaram, mas ainda assim podendo mencioná-los e dividi-los por núcleos (ainda que cada membro de uma determinada casa estivesse um em cada lugar de Westeros), o que se viu aqui foi uma satisfatória mistura recheada de primeiros encontros e vários reencontros. A premissa desta vez foi extremamente simplificada. Enquanto Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) cruzou o Mar Estreito pela primeira vez junto dos Dothraki e os Imaculados nos navios fornecidos por Yara (Gemma Whelan) e Theon Greyjoy (Alfie Allen), trazendo consigo sua mão, Tyrion Lannister (Peter Dinklage) e Lorde Varys (Conleth Hill). O Rei do Norte, Jon Snow (Kit Harington), se preocupa em reunir demais aliados ao Norte para a ameaça dos White Walkers, liderados pelo Rei da Noite, que busca atravessar a muralha com seu exército de mortos. Enquanto isso, a nova rainha, Cersei Lannister (Lena Headey), continua estabelecendo suas alianças e se fortalecendo através do terror e da intimidação.
Obviamente, a história passa a se converter na urgência maior, obrigando Jon a viajar até Dragonstone, onde Daenerys estabeleceu sua moradia. Sua missão é convencê-la da ameaça dos White Walkers, pedindo para que ela lute ao seu lado e ainda permita que a equipe do Lorde de Winterfell extraia o vidro de dragão, extremamente abundante na ilha e efetivo contra os mortos-vivos. O encontro que foi bastante aguardado, seguindo a tradição de encontros emblemáticos, não sai como esperado, haja vista que a orgulhosa khaleesi ordena que Jon Snow se ajoelhe, jurando servir a Casa Targaryen. O pedido é totalmente negado, mas Snow consegue convencê-la a deixar com que se extraia o mineral.
Uma das principais deficiências da série sempre foi o fato dos produtores e roteiristas introduzirem sérias ameaças sem justificativa nenhuma, como foi o caso do Alto Pardal de King’s Landing, seus seguidores e dos Filhos da Hárpia, que causaram muitas baixas no exército de Daenerys nas temporadas anteriores. Na atual temporada, o descaso/ameaça da vez é o irritante e cruel Euron Greyjoy (Pilou Asbaek), personagem introduzido na temporada anterior e que consegue tomar para si todo o poder das Ilhas de Ferro. Aliado aos Lannisters e querendo ser casar com Cersei, Euron intercepta pelo mar parte da armada de Daenerys numa sensacional batalha entre navios, sequestrando Yara Greyjoy e as Serpentes de Areia, entregando essas últimas (assassinas da menina, Myrcella) para a rainha de Westeros.
Um outro ponto que mereceu destaque foi a maneira como os dragões foram utilizados nesta temporada, onde foi deixado de lado seus aparecimentos apenas para salvarem o dia, no melhor estilo Deus Ex Machina, ou “Dragões Ex Machina”, como preferir. Após ser enganada numa bela manobra militar feita por Jaime Lannister (Nicolaj Coster-Waldau), que conseguiu afastar o exército de Imaculados, Daenerys resolve responder de maneira efetiva aos leões, dizimando violentamente parte do exército de Jaime com seus 3 dragões pelo ar e os Dothraki em terra. Jaime que quase não sobrevive e que estava cego pelo seu amor por Cersei, passa a ter lampejos de racionalidade, reconhecendo a supremacia de Daenerys, a força dos Dothraki e o poder dos 3 dragões, demonstrando, por várias vezes, ser contrário aos ideais de sua irmã, dando a entender, ao final da temporada, aparentemente, ter escolhido um caminho a seguir. A batalha em questão teve um escopo maior que a Batalha dos Bastardos, usando mais figurantes, mais cavalos e mais tempo para ser preparada, ainda que, aparentou ter sido filmada com um pouco menos de cuidado em relação ao embate de Jon Snow e Ramsey Bolton na temporada anterior.
Enquanto tudo isso acontecia, assuntos menores, mas de suma importância desenrolavam em outros pontos de Westeros. Sam (John Bradley), por exemplo, no caminho de se tornar um meistre para ajudar Jon Snow, além de descobrir algumas respostas sobre os White Walkers e sobre o casamento em segredo de Rhaegar Targaryen (Wilf Scolding) e Lyanna Stark (Aislin Franciosi), esbarra, sem querer, numa conveniência de roteiro que levou à Cidadela Sor Jorah Mormont (Iain Glenn), que está num estado degradável com a escamagris tomando boa parte de seu corpo. Enquanto isso, um chato Bran Stark (Isaac Hempsted Wright), agora como o Corvo de Três Olhos, chega a Winterfell que está sendo guardada por sua irmã, Sansa (Sophie Turner), sendo que as reuniões não param por aí, quando a corajosa Arya (Maisie Williams), chega para fazer a maior reunião da Casa Stark, desde o final do 1º episódio da série. Vale destacar que é o cenário perfeito para que o ardiloso Mindinho (Aidan Gillen) continue com seu plano de tomar tudo para si. Acontece que Arya e Sansa não são mais as mesmas garotas de antes e, mesmo que tenhamos uma noção de que apesar de tudo que passaram, elas ainda guardam diferenças e uma certa inveja uma da outra, foi bom poder acompanhar a continuidade do “trabalho” de Mindinho e a maneira como as irmãs Stark lidaram com isso.
Sem dúvida, o momento mais sensacional de toda a temporada e seguindo a tradição da série do melhor episódio ser sempre o penúltimo, foi quando Jon Snow resolve capturar algum membro do exército de mortos com a finalidade de provar à Cersei que é hora de colocar as divergências de lado em prol do futuro da humanidade. Assim, reúne num só time nada mais, nada menos, que parte dos mais queridos e melhores guerreiros de Westeros, causando furor na internet que, carinhosamente, comparou o time com a Sociedade do Anel, ou com os Vingadores, ou com um nome ainda mais justo: Esquadrão Suicida. Quem se juntou a Snow na empreitada foi o selvagem Tormund Giantsbane (Kristofer Hivju), o Cão, Sandor Clegane (Rory McCanne), Sor Jorah Mormont, completamente curado e novamente integrado à Daenerys, o sumido Gendry (Joe Dempsie), repatriado por Sor Davos (Liam Cunningham), além de Thoros De Myr (Paul Kaye) e Beric Dondarrion (Richard Dormer), a dupla que sobrou da extinta Irmandade Sem Bandeiras. O episódio tem diálogos sensacionais e divertidos, principalmente quando Tormund e Clegane conversam sobre Lady Brienne (Gwendoline Christie). Toda a empreitada teve momentos para prender a respiração e momentos de apresentar baixas significativas, tanto na equipe, quanto no que diz respeito à morte de um dos dragões, demonstrando que o Rei da Noite é muito mais poderoso do que se imagina.
Além de ter sido o episódio mais tenso de toda a temporada e também foi aquele que bateu recorde de audiência, ainda que a HBO Espanha tenha cometido a irresponsabilidade medonha de passar o episódio dias antes de sua estreia, em vez de passar uma reprise do episódio anterior, fazendo com que tudo fosse disponibilizado na rede muito antes da hora.
Se o sexto episódio foi um dos top 3 de toda a série e detentor de recordes, o último episódio acabou por superar o recorde antigo no que diz respeito à audiência. Nele, pudemos acompanhar a maior reunião de personagens numa única cena. Junto de Cersei e alguns soldados da guarda real, estavam Jaime, Qyburn (Anton Lesser), Euron Greyjoy e a Montanha, Gregor Clegane (Hafþór Júlíus Björnsson). Do lado de Daenerys, estavam Tyrion, Jon Snow, Davos, Varys, o Cão, Sandor Clegane, Brienne, que foi representar Sansa Stark; Missandei (Nathalie Emmanuel), Theon, Jorah Mormont e alguns Dothraki. A importância dessa reunião foi enorme, tanto para o seguimento da história, quanto para os fãs que aguardaram anos para ver concretizada. Jon Snow, pela primeira vez, desde o primeiro episódio da série confronta os assassinos de Ned Stark. Brienne reecontra Jaime e o Cão que foi derrotado por ela, sendo que o respeito mútuo entre os dois chega a ser louvável. O Cão confronta seu irmão, deixando claro que a história entre os dois, o chamado Clegane Bowl está perto do fim. E por último, Daenerys tendo seu primeiro contato com o reino e a rainha de King´s Landing.
O episódio, que foi o mais longo de toda a série, teve uma pegada bem cadenciada, mas longe de ser chata, ou cansativa. Contudo, pudemos experimentar detalhes importantes para a trama, primeiro no que diz respeito a Jon Snow, onde todas as teorias a seu respeito foram confirmadas com um adendo especial: seu nome, que poderá, inclusive delimitar o seu destino na trama. Um outro ponto foi a conversa secreta que Tyrion teve com Cersei. O que será que o anão fez para convencer a rainha a apoia-los na batalha contra os White Walkers? E o que a fez desistir tão facilmente do acordo a ponto de Jaime tomar as decisões que tomou? E Tyrion que se demonstrou extremamente desconfortável ao ver Jon Snow entrando no quarto de Daenerys? Essas perguntas só serão respondidas na derradeira temporada da série.
Afinal, a sensação é que não restará muita coisa, assim como parte da grande muralha, destruída por Viserion, o dragão de Daenerys, ora derrotado e revivido pelo Rei da Noite. O inverno que já havia chegado ao Norte, chegou inclusive na Capital. E na história de Westeros, neve na Capital não é sinal de bons ventos. A previsão é de um longo e tenebroso inverno, porém curto o bastante para os espectadores.
Game Of Thrones é a adaptação para a TV da obra literária conhecida como As Crônicas de Gelo e Fogo. Cada livro é composto de um subtítulo, sendo que o subtítulo da primeira obra é justamente o nome da série criada por David Benioff e D. B. Weiss e desenvolvida para a HBO. Desde o início, ficou claro que cada temporada lançada adaptaria um dos livros dessa saga criada por George R. R. Martin, sendo que o terceiro, o maior de todos até aqui, precisou de duas temporadas para ser adaptada. Com o passar do tempo, ficou claro que Benioff e Weiss chegariam a ultrapassar Martin ante a demora do escritor em lançar o sexto livro, previamente chamado de Winds of Winter. Se na temporada anterior já tivemos alguns vislumbres que ainda não foram reportados nos livros, essa sexta temporada, definitivamente, mostrou que os showrunners de fato assumiram o controle criativo da série (obviamente sob a supervisão e consultoria de Martin) e o resultado, acredite, foi satisfatório, superior e promissor.
Assim como nas temporadas anteriores, seguimos acompanhando a sofrida história da casa Stark, bem como a história das casas Lannister e Targaryen, e suas relações com as casas que, embora menores, possuem suma importância para o desenvolvimento da história e dos protagonistas.
A Casa Lannister ficou enfraquecida após a morte de Lorde Tywin (Charles Dance) na quarta temporada, o que permitiu mais poderes para que Alto Pardal (Jonathan Pryce) de Porto Real aprisionasse e julgasse os pecadores da cidade. Por conta da prisão da Rainha Margaery Tyrell (Nathalie Dormer) e de seu irmão, Sir Loras Tyrell (Finn Jones), o Rei Tommen (Dean-Charles Chapman) acaba por fazer uma aliança com o líder religioso, colocando fim, inclusive, no famoso julgamento por combate, o que coloca Cersei Lannister (Lena Headey) numa difícil situação, ao mesmo tempo que seu irmão, Jaime (Nicolaj Coster-Waldau), precisa viajar para tomar Correrrio sob proteção do Peixe Negro.
Ainda que os acontecimentos deste núcleo tenham sido arrastados e extremamente tímidos – com exceção de uma cena ou outra em que o Montanha (Hafþór Júlíus Björnsson) está em ação, ficou claro que havia um motivo para ser assim, uma vez que o último episódio da temporada guardou em sua abertura um lindo retorno triunfante ao poder e cheio de resquícios de maldade vindos de Cersei. Tecnicamente, a cena é muito bonita e ao mesmo tempo chocante, acompanhada de uma bela trilha sonora que faz com que o espectador até torça pela maldade da Rainha-Mãe, que não fala uma palavra sequer durante todo seu tempo em tela. O curioso é que, logo no começo da temporada, Tyrion conta a Daenerys os reais motivos de Jaime ter matado o pai da Não Queimada, Aerys II (o Rei Louco), e quais as suas intenções para com Porto Real caso perdesse a guerra. Esse pequeno diálogo passa a fazer todo sentido depois que vemos a citada cena de abertura do último episódio da temporada.
O núcleo de Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) há tempos vem sendo o mais fraco de toda a série, e com isso todos os personagens ao seu redor enfraquecem também. Obviamente, sabemos que sua resolução será grandiosa, porém incomoda que todas as situações vividas pela Khaleesi sejam impiedosamente repetidas. Parece que há uma espécie de fórmula, sendo ela composta da seguinte forma: Daenerys acha que é poderosa o suficiente e começa a passar por sérias dificuldades, no entanto a solução para se livrar do problema é sempre um deus ex machina, carinhosamente chamado de “dragões ex machina”, e tudo termina com um discurso de guerra extremamente motivador na língua nativa daquele respectivo povo a que ela se dirige. Pelo menos, desta vez, tivemos o retorno dos Dothraki, o que favorece o Vale Dothraki e todo o seu povo. Enquanto isso, Tyrion Lannister (Peter Dinklage) e Lorde Varys (Conleth Hill) lutam para achar a melhor saída para a paz em Meereen, enquanto Daenerys está desaparecida. Ainda assim, os acontecimentos nesse núcleo foram de extrema importância, já que muitas das casas menores presentes no universo criado por Martin estão fazendo alianças com aqueles que acham que tem a razão. Dessa forma, Daenerys faz sua primeira aliança com uma casa de Westeros, partindo com todo seu exército de Imaculados, juntamente com os Dothraki, nos navios construídos pelos Greyjoy, sob o comando de Yara (Gemma Whelan) e Theon Greyjoy (Alfie Allen).
Mas, definitivamente, essa sexta temporada teve os Starks como protagonistas. A sofrível jornada dos irmãos separados ao final da primeira temporada, finalmente, começou a dar indícios de que a vida de Bran (Isaac Hempstead Wright), Arya (Maisie Williams), Sansa (Sophie Turner) e Jon Snow (Kit Harington) começará a melhorar em breve.
Por conta do desfecho ocorrido ao final da temporada anterior, o foco principal foi a morte de Jon Snow, traído por companheiros da Patrulha da Noite. Numa tentativa desesperada de trazer o Lorde Comandante de volta à vida, Sir Davos Seaworth (Liam Cunningham) e os melhores amigos de Snow recorrem a Melisandre (Carice van Houten), que ressuscita o guerreiro. Nesse meio tempo, Bran continua seu treinamento junto com o Corvo de Três Olhos (Max von Sydow), revisando parte do passado de seu pai, Ned Stark e de alguns personagens que até então só apareciam em relatos. Sansa e Theon ainda fogem do domínio do cruel Ramsay Bolton (Iwan Rheon) e Arya, agora cega, vive mendigando pelas ruas.
Ocorre que o desenvolvimento do núcleo Stark nessa temporada foi muito semelhante ao dos Lannisters, porém alguns acontecimentos envolvendo a família causaram muita reação e permanecerão na memória dos fãs por muito tempo. Primeiro com relação a Bran: devido a sua condição física, o jovem Stark precisa ficar parado a maior parte do tempo, mas é através dele que descobrimos o que de fato aconteceu com seu amigo Hodor (Kristian Nairn) e sua demência, em uma cena de partir o coração, além de abrir um infinito leque de opções ao personagem em relação a que caminho seguir. E segundo porque Jon Snow passa boa parte do tempo imaginando uma forma de retomar Winterfell para sua família. Num desses momentos, conhecemos a menina Lyanna Mormont (Bella Ramsey), responsável pela Casa Mormont, a mesma casa de Sir Jorah Mormont (Iain Glenn), mais um grande momento da temporada.
Seguindo a tradição de inserir grandes acontecimentos nos últimos momentos, foi reservada para o nono episódio a Batalha dos Bastardos, que com certeza entra para o rol das mais sensacionais cenas de duelo da história da televisão, tanto tecnicamente quanto narrativamente. Só de equipe técnica, houve uma mobilização de 600 pessoas, além de cerca de 500 figurantes, toneladas e mais toneladas de cascalhos, além de cavalos e dublês para gravar uma cena que levou, ao todo, quase um mês de gravação. E o resultado foi espetacular. Vale destacar que a batalha teve várias influências de O Senhor dos Anéis na visão de Peter Jackson para As Duas Torres e O Retorno do Rei. Apenas a título de curiosidade, o canal CW leva cerca de duas semanas para filmar um episódio inteiro de seus seriados.
A sexta temporada de Game Of Thrones, sem dúvida, foi uma das mais regulares desde sua estreia em 2011. De qualquer forma, por conta de todos os acontecimentos, ficou mais que evidente que a história de fato está caminhando para chegar ao fim. Afinal, o inverno chegou e só teremos mais duas temporadas com um número reduzido de episódios. Aparentemente, muita coisa ainda precisa ser resolvida. Só nos resta, por enquanto, aguardar mais um ano.
Os finais de temporada de Boardwalk Empire são sempre surpreendentes, repletos de mortes de personagens importantes e sem qualquer concessão quanto a violência e ao amoralismo. A Season 3 só não foi mais drástica que a segunda – onde Jim Darmody, personagem de Michael Pitt fora assassinado por seu antigo protetor – repleta de destinos aos personagens chaves que eram, em primeira análise, irreparáveis e irreversíveis. Mais uma vez os roteiristas da série provam seu valor como arquitetos de boas reviravoltas e de decisões de destino surpreendentes. Nelson Van Alden (Michael Shannon) – com a alcunha de George Muller – só reaparece no segundo episódio, tornando-se o braço forte de um criminoso chamado Mr. O’ Bannion. Fora de ação, ele é inseguro, sequer permite-se comprar móveis decentes para o seu novo lar, por receio e vontade de sair daquele estado em que se encontra – como um fora da lei.
A questão dos negros prossegue, e torna-se um dos eventos mais importantes do ano. Como prometido por Nuck Thompson (Steve Buscemi), Chalky White (Michael Kenneth Williams) abre o seu clube no calçadão, mas graças a uma temível série de eventos ele ganha um rival. Valentin Narcisse (Jeffrey Wright) é tudo que White não é: culto, uma figura inspiradora, exímio negociador, um cavalheiro completo, que se comporta como o homem branco “domesticado” mas que fala com estes de igual pra igual, inclusive desafiando-os na altivez quando necessário. O ataque afoito de Chalky White a Narcisse mostra o porque deles serem tão subalternos quando comparados aos irlandeses e italianos, sua passionalidade faz com que sua afronta ao inimigo seja cega e com as consequências mal avaliadas.
O clima de novelão prossegue, com desdobramentos de dramas radicais para personagens secundários. A fórmula já era usada assim em outra série da HBO – True Blood– mas diferente desta, aqui é bem construída. A questão de Gilliam Darmody (Gretchen Mol, ainda deliciosa) é surreal e insana, Jim morreu há duas temporadas, no entanto sua presença ainda afeta muito sua mãe e Mister Harrow (Jack Huston), acirrando ainda mais os ânimos relativos a custódia do pequeno Tommy. Arnold Rothstein (Michael Stuhlbarg) aos poucos vai se isolando, gerando antipatia em Nuck e perdendo a parceria com Masseria, e qual não é sua surpresa quando se depara com Margaret (Kelly Macdonald) por acaso, onde vê a possibilidade de sua questão com o traficante irlandês possivelmente ganhar contornos mais sérios, claro, adiando-os para a quinta temporada.
A morte de Frank Capone faz Alphonse (Stephen Graham) se revoltar com a polícia de Chicago, inclusive matando um guarda a céu aberto, a ideia de mostrar seu mal gênio é interessante, mas ele ainda é um bruto do que seria o grande gangster de Chicago. Esta crise desperta dos mortos outro personagem, justificando até a mudança de lado deste. Apesar de bem urdida visto que os motivos para esta metamorfose acontecer são plausíveis, não ignora o fato das investigações por parte dos federais ter perdido muito de sua graça com a saída de Nelson. O opositor legal tornou-se totalmente descartável e subalterno sem o fiscal duro na queda mesmo com as mudanças internas, incluindo até Edgar Hoover ao esquete. No nono episódio o quadro mudou para o personagem, pois finalmente Nelson parece ter saído da letargia que o acometia, dando fim aos seus antigos colegas que vieram atormentá-lo. Seu estouro com O’Bannion dá uma pequena mostra do quanto ele poderia ser psicótico e o põe na mira dos futuros poderosos da cidade. Alden permanece imprevisível e talvez agora faça jus à expectativa que se criou pelo personagem.
A atuação de Shea Wigham é esplendorosa, papéis como o dele são largamente usados nos filmes de máfia, especialmente como na situação em que ele se põe, mas geralmente a reação ou é melodramática quando descobre-se sua culpabilidade ou de conduta extremamente moralista, de “estou fazendo o correto”, no entanto, Eli Thompson difere disto, efetivamente aparentando fazer um jogo duplo, ao contrário dos seus “pares semelhantes”. A coisa toda quase toda vai abaixo, mas as consequências de seus atos são bem piores do que o que poderia ter ocorrido com a sua vida – mas nada disso é mais arrebatador do que seu embate com o Agente Knox (Brian Geraghty). A situação se agiganta, suas proporções são alargadas de uma forma inimaginável.
É uma fase de definições, de assentamentos para a temporada final – a ser exibida ainda em 2014. Os fatos históricos apresentados ganham cada vez mais importância, exemplo disso é a ascensão de Alphonse Capone em Chicago. Nuck é impedido de concluir sua jornada conforme sua vontade, os “ares de Michael Corleone” sopram a sua vida em diversas situações. A vida pede o seu sangue, o caminho que ele escolheu não permite muitas alternativas não belicosas e ele parece até ter aceito isto de uma forma tranquila e resignada.
O sonho de Richard Harrow fecha a temporada poeticamente, num devaneio de um dos personagens mais ricos apresentados pela série. Se a experiência careceu em surpresas, sobrou expectativa para a quinta e derradeira parte de Boardwalk Empire.
Roma. Ano de 52 aC. O General e triúnviro de Roma, Caio Júlio César é reconhecido por onde passa, deixando em seu caminho um rastro de grandes conquistas. O Senado Romano teme o poder de César devido ao carisma que tem com o povo e o respeito perante as legiões romanas e decide enviá-lo para uma campanha na Gália, um dos poucos territórios não conquistados por Roma, devido a grande dificuldade militar enfrentada contra o povo galês. Com isso, o Senado Romano esperava a derrocada de César, porém, levou-o para a campanha que o consagraria como um líder absoluto. É nesse cenário inicial que se inicia a primeira temporada de Roma.
A HBO fez um trabalho extremamente minucioso e primoroso de todos os aspectos históricos, políticos e sociais do povo Romano, transformando a série Roma em um apoteótico relato da época. A série foi filmada na Itália e possui uma fotografia belíssima, passando desde os grandes palácios e mansões romanas e egípcias às vielas e ruas habitadas pela classe mais baixa, aliás, a diferença entre as classes é muito bem demonstrada durante a série, seja do ponto de vista militar quanto social.
Conforme já falado, o início da série começa com o final das guerras gaulesas, alavancando o poder político de Júlio Cesar (Ciarán Hinds) e preocupando todo o Senado Romano. César por sua vez, teme um atentado devido a sua rápida ascensão e prepara um golpe, atravessando rapidamente o rubicão com sua principal legião, ele derruba do poder o Senado, que até então compunham a república, instituindo o posto de Ditador.
Todos os fatos históricos são contados através dos olhos do legionário Titos Pulo (Ray Stevenson) e do centurião Lucius Vorenus (Kevin McKidd), personagens que realmente existiram, porém, na série são apenas vagamente inspirados nos originais, mas que são utilizados muito bem, servindo para aproximar os expectadores da história de Roma, o que é bem interessante, pois eles estão presentes em todos os grandes momentos, sempre em terceira pessoa, observando, além do que, suas histórias pessoais correm paralelamente aos acontecimentos históricos, tornando-os mais humanos que as grandes figuras romanas como Cícero, Brutus, Átia, Marco Antônio, e claro, César.
Repleto de intrigas de estado, traições, alianças políticas, batalhas sangrentas e tórridos romances, Roma foi extremamente bem recebida pela crítica, apesar de conter cenas violentíssimas e muita nudez, ela alçou seu lugar dentre as produções com maior orçamento já feito, tendo custos elevadíssimo em cada episódio, sinal do esmero feito pela HBO.
O elenco é de alto nível, contando com um grupo de atores excelentes. O figurino, armamentos e costumes da época foram apresentados com um nível de detalhes incrível, o trabalho de edição é impecável e o mesmo vale para a equipe de direção que se encarregaram de tornar tudo isso mais crível para quem está assistindo todo esse show.
Certamente uma das maiores produções já feitas para a televisão.