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  • Dia dos Investidores da Disney: Os Principais Anúncios do Universo de Star Wars

    Dia dos Investidores da Disney: Os Principais Anúncios do Universo de Star Wars

    Meus amigos, a Disney não está para brincadeira! A data de dez de dezembro de 2020 poderá entrar para uma das principais da história desta gigante do entretenimento, já que foi o Dia dos Investidores da Disney, onde a “empresa do Mickey Mouse” apresenta para seus investidores seus projetos futuros. Foi uma maneira agradável de dizer que o seu dinheiro será empregado pesadamente em produções audaciosas para o público em geral, que envolve a Disney propriamente dita, a Pixar, Marvel e Lucasfilm com o universo de Star Wars.

    De fato, o que se viu foi que a Disney investirá pesado no seu canal de streaming, o Disney+, demonstrando querer viver não só do passado, mas de um futuro bastante promissor. Inclusive, o evento aproveitou para mencionar o sucesso estrondoso do canal que já está próximo de bater a meta que estava prevista para daqui 4 anos.

    Mas nem tudo são flores, uma vez que diversos projetos poderão sofrer cancelamentos ou mudanças em suas trajetórias. Falaremos isso em um texto mais específico.

    Aqui nós acompanharemos o que vem por aí no mundo criado por George Lucas em Star Wars.

    É inegável o sucesso de The Mandalorian, a série desenvolvida por Jon Favreau e Dave Filoni, que conta a história de um caçador de recompensa mandaloriano que, durante um serviço, resgata um bebê da mesma raça do mestre Yoda e que também é sensitivo na Força. As aventuras de “Mando” são leves, engraçadas, recheadas de ação, possuindo tudo que um velho fã de Star Wars quer. Importante dizer que a série foi o termômetro para diversas outras produções anunciadas.

    ROGUE SQUADRON

    Um dos anúncios mais importantes da noite foi o do tão aguardado novo filme de Star Wars: Rogue Squadron. Seguindo a linha de Rogue One e Solo, Rogue Squadron acompanhará o esquadrão de elite da aviação da Aliança Rebelde. A direção ficará a cargo de Patty Jenkins (Mulher-Maravilha), que disse que gostaria de fazer o maior filme sobre pilotos de guerra já feito. Rogue Squadron tem previsão para chegar aos cinemas em dezembro de 2023.

    OBI-WAN KENOBI

    Outro ponto alto da noite foi a confirmação oficial da produção da série de Obi-Wan Kenobi, ganhando título oficial, a confirmação do retorno de Ewan McGregor na pele do mestre Jedi, além do grande retorno de Hayden Christensen como Darth Vader. O seriado se passará 10 anos após os eventos de A Vingança dos Sith e, segundo a diretora Deborah Chow, a galáxia se tornou um lugar perigoso com a ascensão do Império e tem pessoas caçando cavaleiros Jedi. Obi-Wan precisará lidar com isso e ainda proteger o jovem Luke Skywalker.

    AHSOKA

    Após aparecer lindamente interpretada por Rosario Dawnson na segunda temporada de The Mandalorian, Ahsoka Tano ganhou uma série para chamar de sua. Assim como em Mandalorian, Ahsoka será capitaneada por Jon Favreau e Dave Filoni e trará novamente Dawson na pele da guerreira Jedi que deve continuar vasculhando a galáxia em busca de seu amigo Ezra Bridger e do Almirante Thrawn, desaparecidos ao final de Star Wars: Rebels.

    RANGERS OF THE NEW REPUBLIC

    Assim como Ahsoka, este outro derivado de The Mandalorian, também contará com a batuta de Favreau e Filoni e como o próprio nome já diz, mostrará os oficiais da Nova República. Em Mandalorian já vimos alguns deles pilotando X-Wings e colhendo informações em terra.

    ANDOR

    Andor é uma série que já está em estágio avançado de produção, tanto que foi divulgado um vídeo com cenas das filmagens e bastidores da produção. No vídeo, podemos perceber que é uma série que está investindo pesado em cenários, figurino e criaturas. Andor é sobre o personagem Cassian Andor, vivido por Diego Luna, que também assina a produção executiva da série. Andor foi o responsável por recrutar Jyn Erso para a Aliança Rebelde nos eventos de Rogue One: Uma História Star Wars.

    LANDO

    Lando Calrissian também ganhará sua própria série, mas não se sabe em qual momento ela se passará e nem se Donald Glover ou Billy Dee Williams, que fizeram o personagem nos cinemas, retornarão.

    THE BAD BATCH

    Se fôssemos traduzir esse nome, poderíamos dizer que um bad batch é um lote com defeito. A nova série animada de Star Wars teve seu primeiro trailer divulgado e se passará durante as Guerras Clônicas e talvez, logo após de A Vingança dos Sith. Bad Batch já teve um arco criado por George Lucas em Clone Wars. Segundo o criador, ele gostaria de explorar a ideia de que alguns dos clones fossem um pouco mais únicos que os outros, com habilidades um pouco mais especiais, formando assim uma unidade de forças especiais de batalha.

    The Bad Batch teve seu primeiro trailer divulgado e o que se pode esperar é muita ação nessa série animada que será a substituta de Clone Wars.

    VISIONS

    Talvez o projeto mais diferente apresentado, Visions explorará o universo criado por George Lucas em curtas animados, sendo que, seu diferencial será a forte influência do anime japonês, com diversos especialistas envolvidos no projeto.

    Para quem quiser pesquisar, num passado não muito distante, um trecho de uma animação japonesa de uma batalha espacial travada entre pilotos do Império e da Aliança Rebelde viralizou nas redes. Existe grandes chances de Visions ter nascido após esse vídeo.

    THE ACOLYTE

    Uma série com pegada de suspense e mistério, desenvolvida por Leslye Headland, responsável pelo ótimo Boneca Russa, e que acompanhará a época final da Alta República, com a ascensão dos poderes do Lado Sombrio. Poderemos ver muitos sabres de luz e diversos embates entre Jedi e Sith.

    Também foi confirmado que Taika Waititi dirigirá um filme inédito, inesperado e único no universo da franquia. O cineasta que cuida dos filmes do Thor no Universo Cinemático Marvel, já dirigiu episódios de The Mandalorian.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | O Rei Leão (2019)

    Crítica | O Rei Leão (2019)

    Em meio a crise criativa dos estúdios Disney, que só permite fazer continuações ou refilmagens de clássicos e franquias famosas, e a vontade desenfreada e crescente de superar a bilheteria dos filmes em mais de um bilhão, O Rei Leão de Jon Favreau chega finalmente aos cinemas, cercado de expectativas por se tratar de um dos símbolos da renascença da Disney, e um dos mais lembrados filmes de animação recentes. O início do filme não surpreende, até pelo marketing que desnecessariamente elucida todos os pontos positivos (e alguns negativos) dos blockbusters, para não deixar o público em duvida sobre ver ou não o filme.

    Há um esforço hercúleo da produção em refilmar as cenas da antiga encarnação mas em um novo estilo, que por vezes soa só como engodo de tão boba que a imitação fica, com diferenças que tocam meramente a tentativa de parecer mais realistas. Os live action (ou remakes, no caso) recentes da Disney tem por regra uma exigência um bocado mesquinha e futil do público, que é a necessidade de ser igual ao original, e Favreau teve de lidar com isso, dada a reclamação por parte do fandom quando um rumor de que a música Be Prepared não estaria no filme – ela está, mas foi pasteurizada para não ofender plateias sensíveis a referencias ao nazismo – foi assim com A Bela e a Fera de Bill Condon, um filme bem inferior a sua contra parte animada mas que fez muito dinheiro, e foi assim com Aladdin de Guy Ritchie em seus erros e acertos, sendo bem fracassado na hora de emular o Aladdin clássico e mais original ao abordar as ideias de seu diretor.

    O estranho é que Favreau ja havia adaptado outro conto Disney, seu Mogli – O Menino Lobo tem diferenças enormes para animação, mas agora, se trata da refilmagem de sucesso com pouco mais de 20 anos de idade, e a escolha que funcionou um pouco no Livro da Selva, causa estranheza nesse. Quando os animais falam, há um estranhamento natural, não à toa foi esperta a escolha por manter a entrada como um número musical onde não há falas além do vocal de Circle of Life.

    Os animais menores não são tão bizarros, ate porque a maioria deles é engraçado, sobretudo Zazu (John Oliver), Timão (Billy Eichner) e Pumba (Seth Rogen), mas os leões dentro dessa estética ultra realista não convencem muito dramaticamente, nem nas partes faladas e nem nas cantadas. James Earl Jones e Chiwetel Ejiofor não comprometem, mas também não encantam, ainda mais na comparação com Jones no passado e Jeremy Irons. O dublador do Simba jovem, JD McCrary , convence menos ainda, e a quantidade de informação em tela faz os primeiros números musicais parecerem estranhos e não fantásticos, como no original.

    O quadro muda drasticamente quando o protagonista fica adulto, a emoção que falta nas partes iniciais e nas artimanhas de Scar sobram em graça e leveza quando entram em ação o Suricato e o Javali que adotam Simba, e quando o mesmo evolui e passa a ser dublado por Donald Glover há também um belo acréscimo. É no exilio que moram as maiores diferenças entre os filmes, há riqueza no oásis em que vivem, a fauna e flora são diversificadas e tudo faz mais sentido aqui, aliás, o panorama político do filme, por mais pueril que seja em essência faz mais sentido nesta versão do que na animação dos anos 90. Há mais preocupação em explicar a união de Scar e das hienas, há uma melhor ambientação do lugar que Timão e Pumba habitam, assim como é melhor explanado a forma de governo dos leões apesar da cadeia alimentar gritar que existe tirania ali, mas é na derrocada moral do reinado de Scar que mora a maior  riqueza de roteiro de Jeff Nathanson . O fato de evitar o argumento deus ex machina de “a natureza não gosta do rei” como transparece no desenho antigo é uma escolha sábia.

    A extensão de algumas músicas fazem resgatar um bocado da mágica típica dos filmes 2d da Disney, em especial as de Timão e Pumba e ao menos nesses trechos, o universo também se estende e  faz sentido, pois no restante se percebe que Favreau é um cineasta preso a uma coleira, como um felino domado, em uma péssima analogia com o herói de seu filme. O Rei Leão é comum demais para ser um épico, esbarra em suas próprias fragilidades e na vontade de ser um hit repetitivo, acaba se preocupando tanto em não desagradar ninguém que soa mediano, um filme que não incomoda e tampouco inspira, seus números musicais são meras imitações dos originais de Elton John e Tim Rice, e outras transposições do clássico já foram feitas, como o musical da Broadway, que aliás, é muito mais repleto de vida que esta versão. Ao menos, há uma piscadela para o espectador e fã da saga de Simba, com He Lives In You, tocando ao subir dos créditos, música essa que abriu O Rei Leão 2: O Reino de Simba. Ao menos os membros da produção mostraram que se importam com as obras originais, tentando não soar ofensivos, mas também se mostrando como um belo modo da Disney engordar os bolsos de seus executivos, pura e simplesmente.

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  • Crítica | Solo: Uma História Star Wars

    Crítica | Solo: Uma História Star Wars

    Os spin-offs de Star Wars têm (até agora pelo menos) algo nos bastidores que os fazem se tornarem dúvida quanto a sua qualidade. A respeito de Rogue One: Uma História Star Wars foram feitas novas filmagens, cancelaram (ou adiaram, isso está indefinido até hoje) o filme de Josh Trank que mais tarde seria revelado como a aventura de Boba Fett, e com este Han Solo: Uma História Star Wars, houve uma saída de última hora da dupla Phil Lord e Christopher Miller – são creditados como produtores executivos. Coube a Ron Howard o papel de tentar aparar as arestas e trazer à luz um filme que parecia amaldiçoado, e apesar dos percalços, ele acerta bem mais que erra, trazendo um longa que prima pela diversão limpa e descompromissada.

    Desde o começo do filme, o personagem de Alden Ehrenreich soa como uma das muitas facetas que Harrison Ford empregava no mercenário, com a ideia do bom moço disfarçado de cafajeste. Isso talvez seja o maior senão do roteiro de Jonathan Kasdan e Lawrence Kasdan, uma vez que esta nova versão é bem menos munida de camadas que sua contraparte introduzida em Uma Nova Esperança. Quando o espectador vê este Solo em tela, não acredita muito que ele seria capaz de trapacear com todos, mas ainda assim isso pode ser devido ao fato dele ser um iniciante ainda.

    Já nos primeiros momentos se estabelece um casal, com Qi’ra (Emília Clarke) e o pretenso anti-herói, tentando sair de Corelia, planeta natal dos dois, esbarrando em vítimas dos trambiques do futuro caçador de recompensas. Não demora e tem um salto temporal, para então dar vazão a um tempo onde ocorreram alguns dos fatos sobre o passado de Solo que são bastante conhecidos pelos fãs, e as apresentações tanto de personagens novos como dos antigos é executada muitíssimo bem, cada peça se encaixando de maneira bastante harmoniosa dentro da série de filmes. Quase todas as respostas em relação ao background do personagem, suas mentiras e trapaças são bem exemplificadas, e isso por si só já é um avanço enorme em comparação a trilogia de prequels, que só respondeu ao que interessava a George Lucas, e não aos seus fãs.

    Há um número considerável de fan service, em especial ao especial primeiro encontro de Han com a Millenium Falcon, com Chewbacca, e principalmente, Lando (Donald Glover), ainda que esse último merecesse bem mais tempo de tela. No entanto, os vilões e demais personagens que rodeiam o protagonista e seu núcleo não são muito marcantes, exceção é claro a L3-37 (Phoebe Waller-Bridge ) androide e copiloto de Lando, para variar como K2-S e BB8 em Despertar da Força. Tanto Dryden Vos (Paul Bettany) quanto Beckett ( Woody Harrelson) não possuem muito brilho, mesmo que tenham bastante tempo de tela, já Qi’ra, apesar de ser feita por uma atriz limitada, transborda carisma, de um jeito que há muito não se via em Clarke, tendo inclusive um momento no filme que causa bastante impacto nos fãs mais ardorosos de Rebels e Clone Wars.

    A troca de diretores fez perguntar se o longa não seria como foi Homem Formiga, que teve a saída de Edgar Wright e uma quebra de expectativa enorme, uma vez que se prometia um filme fora da caixinha. A se julgar Anjos da Lei e Anjos da Lei 2, o produto final poderia ser um filme bem mais ousado, mas seu formato não chega a ser tão irritante quanto a maioria dos filmes de super-herói da Marvel. Até agora o sub-gênero não saturou ou comprometeu os filmes da série, até porque o universo compartilhado não tem exatamente uma história cronológica e amarrada como no MCU. Se haverá uma fórmula esgotável, ao menos é cedo para falar, já que mesmo com os percalços, tanto Howards como Gareth Edwards entregaram filmes corretos, que se não ousam, ao menos traduzem aventuras escapistas, divertidas e reverenciais a trilogia clássica, acertando bem mais que Ameaça Fantasma, Ataque dos Clones e Vingança dos Sith, e ainda amarrando os destinos dos personagens até com as animações de Dave Foloni, canonizando de forma coesa até mesmo as partes da série que não tem mesma projeção do universo cinematográfico.

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  • Crítica | Jogos Mortais

    Crítica | Jogos Mortais

    Primeiro capítulo do que se tornaria uma enorme saga cinematográfica de terror, Jogos Mortais é um filme conciso e contido, ao contrário de suas variadas continuações. O terror de James Wan começa em um ambiente misterioso e claustrofóbico: um banheiro velho, em que dois desconhecidos estão trancafiados com uma pessoa aparentemente morta no chão. Após um tempo, ambos percebem estar em uma armadilha, proposta por um assassino, de nome Jigsaw. Ambos estariam ali para pagar por seus pecados.

    Não demora até a trama se bifurcar, mostrando o presente e um pouco do passado, através das lembranças de Lawrence (Cary Elwes), o doutor que está preso no cenário inicial. Dali começa a se mostrar uma investigação policial, capitaneada pelo detetive David Tepp (Donald Glover) e por seu parceiro Steven Sing (Ken Leung), que estão à caça do tal criminoso, um sujeito que executa suas vítimas em jogos perversos, com frieza total em armadilhas que aproximam as vítimas da morte, tendo uma chance quase sempre ínfima de escapar do infortúnio.

    O suspense do longa é maximizado por sua trilha sonora repleta de efeitos eletrônicos, fato que ajudaria a popularizar a utilização em outros tantos produtos cinematográficos de terror, além de ter um tema musical bem característico. Em pouco tempo, o verdadeiro caráter do filme, que é o de provocar angústia em seus espectadores, através do gore auto infligido pelos personagens.

    Jigsaw, o mentor por trás desses planos é um sujeito misterioso que tem sua identidade revelada somente ao final. Sua motivação é movida pelo seu destino trágico e todos os seus atos repetem os clichês de gênero slasher, substituindo no entanto o sexo como evento principal da culpa para colocar atos mesquinhos e egoístas como o motivo para escolher quem deve morrer ou viver.

    A exploração de Tobin Bell como um homem combalido que se arrasta para basicamente planejar outras tantas armadilhas que fariam suas vítimas se matarem é mais explorada nas continuações, mas já neste se nota uma sobriedade por parte do veterano ator, ainda que seus momentos sejam de absoluto silêncio e relutância, exceto é claro pelas gravações que tem sua voz modificada em efeitos de pós produção. A mistura de enredos diferentes faz tornar ainda maior a importância dos dramas apresentados pela história de Leigh Whannell e Wan, além de valorizar os pouco mais de um milhão de dólares que o filme custou.

    Jogos Mortais é um filme repleto de mcguffins, em alguns momentos ele lembra os filmes italianos de tortura, repleto de sangue e mortes criativas, em outros faz lembrar os filmes policiais inspirados pelo caso do assassino do zodíaco – traduzido para o cinema por David Fincher em Zodíaco, curiosamente o mesmo autor de Seven, uma clara inspiração aqui – e os filmes de assassinos em série populares de sua época, como eram Rios Vermelhos, A Cela e Hannibal, ainda que tenha em si uma carga muito mais voltada para o terror do que os citados.

    O resultado final é um produto econômico até na sanguinolência, artigo esse não poupado nos capítulos posteriores. A riqueza da inversão de expectativas ao se mostrar que as pessoas por quem o espectador geralmente torce também tem defeitos baseados em pecados capitais combina bem com o moralismo exacerbado do mestre desses jogos, fato que ajuda a tornar toda essa dicotomia em um artigo bastante caro à trama e a exploração dos personagens reais mostrados em tela.

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  • Um Último Estudo Sobre Community

    Um Último Estudo Sobre Community

    communitySituada em Greendale, em uma faculdade comunitária fictícia em um lugar fantasioso, o seriado de Dan Harmon buscava explorar os meandros e intimidade dos arquétipos que costumam habitar o campus desse tipo de instituição de ensino estadunidense. Uma das dificuldades com o público brasileiro seria traçar um paralelo com alguma instituição semelhante no país, e é para causar no público uma sensação mínima de pertencimento aquele mundo, é que é apresentado o personagem Jeff Winger (Joel McHale), um homem cuja carreira fracassada de advogado o deixou com poucas opções de sustento, em virtude da recusa de seu diploma, Jeff então retorna a universidade, e usa sua lábia para formar um grupo de estudos, tornando-se uma espécie de tutor dos estranhos alunos que se reúnem em volta de si.

    Com o andar dos fatos, o personagem, de caráter dúbio encontra a bela Britta Perry (Gillian Jacobs), e a partir daí finge ser um especialista na língua espanhola, unicamente para ter a chance de se aproximar dela. Com um comportamento que aparente boas intenções, ele já tem sua retribuição ainda no piloto, quando é encarregado de cuidar de um grupo completamente heterogêneo, que aos poucos se apresentam a ele como um bando de fracassados sem o mínimo respeito próprio.

    Greendale é na verdade um subúrbio fictício de Denver, um lugar tão fajuto quanto seu conjunto de personagens. Os que orbitam Jeff são Pierce Hawthorne (Chevy Chase), um senhor já idoso, cuja sabedoria irrelevante o faz um mentor politicamente incorreto para Jeff, o cinéfilo muçulmano Abed Nadir (Danny Pudi), a mãe divorciada Shirley Bennett (Yvette Nicole Brown), o ex-esportista  Troy Barnes (Donald Glover) e sua antiga colega de classe da  escola Annie Edison (Alison Brie). A convivência com pessoas tão diversas, que tem em comum uma auto-estima baixíssima faz Winger se mostrar ainda mais ácido em seu humor, sem preocupações maiores com a moral alheia ou com qualquer coisa que não envolva seu narcisismo latente.

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    O conjunto de personagens aumenta, ao verificar o corpo docente, formato por Señor Ben Chang (Ken Jeong), um asiático que vive papel semelhante ao que apresentaria na trilogia Se Beber Não Case, além do professor de psicologia Ian Duncan (John Oliver) e o afetado Reitor Pelton (Jim Rash). O primeiro ano serve basicamente para estabelecer a rotina e carisma entre os personagens, com tramas enlouquecidas onde a futilidade escolar predomina sobre tudo, criando universos dentro de universos, que emulam situações  que referenciam a cultura pop, especialmente nas falas de Abed e nos episódios onde a Máfia de Bons Companheiros é “refilmada”, através do tráfico de influência causado pelo ilegal comércio de frangos fritos, espalhados pelo campus. As brincadeiras alegóricas se tornariam um paradigma no seriado.

    A tradição mais comum ao seriado seria os episódios de paintball, onde o reitor permite que um campeonato ocorra, com direito a exclusão de qualquer aula ou atividade, onde todos são postos em um campo de guerra, com mais menções a filmes e seriados famosos, desde os clássicos de zumbi de George A. Romero, Warriors : Selvagens da Noite e Duro de Matar. No vigésimo terceiro episódio, inaugura-se a tradição, além de ser este o momento em que finalmente a tensão sexual entre os protagonistas é finalmente cooptada, para, claro, não resolvida em apenas uma relação.

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    As semelhanças entre Community e Arrested Development são muitas, desde a mania de se auto-referenciar, a necessidade de saber-se minimente o idioma estadunidense, graças aos muitos trocadilhos locais, até a régia feita por muitos diretores em comum, entre eles os irmãos Russo, responsáveis por realizar Capitão América 2, fato que fez abarcar alguns membros do elenco do seriado de Hurwitz. A diferença fundamental é que em Arrested, a empatia ao drama de Michael Bluth torna-se automática, pelo fato dos expectadores necessariamente terem famílias, talvez não tão psicóticas quanto os Bluth, mas com semelhanças atrozes, certamente. Já Community brinca com um nicho, de um cenário mundano, mas que é preciso ter abarcado em uma instituição de ensino ao menos semelhante ao limitado campo hipotético das universidades de baixo respeito. A verossimilhança na exploração dos estereótipos é perfeita, o que faz com que qualquer seja automática.

    A segunda temporada começa amarrando as relações malfadadas do ano anterior, claro, sem levar nenhuma delas a sério, já que todas são descartadas assim que se é permitido. A sacação de terminar cada meio de temporada com um período letivo fez com que as dois primeiros anos tivessem uma maior coesão, ainda permitindo alguns bons episódios temáticos, como a imitação de infecção zumbi vista no Halloween, que garante uma interação curiosa entre Chang e Shirley.

    Um dos factoides que mais gerou eventos foi o gradativo afastamento de Pierce do grupo, Primeiro, entregando o segredo bastardo de Shirley, agravado após estragar uma peça anti-drogas, ao fazer crianças agirem em apologia ao uso de maconha, culminando no extremo bullying com um personagem acessório, em um jogo de RPG. Se a primeira temporada serviu para mostrar o grupo se descobrindo como comunidade, apoiando-se mutuamente, a segunda serviu para discutir isto o tempo todo, usando o mais errático e politicamente execrável para exibir o quão frágil é a unidade dos estudantes, assim como é fraca a mente do ancião, que sofre graves problemas de auto-rejeição, o que influi diretamente na sensação de ser sempre rejeitado por todos, mesmo quando não o é.

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    A falta de docilidade do espírito humano, além da propensão ao auto ódio e a tragédia fazem de Community uma série única, e a mostra mais chamativa disto é exibido no terceiro ano, com um paralelo feito com o Reitor Pelton, que ao ter de realizar um novo comercial para a universidade, começa a ter sonhos de grandeza, exibindo todos os seus sonhos orgulhosos, embaralhados com toda a sua dificuldade de lidar consigo e com outros humanos. Dean Pelton faz ás vezes de Kubrick, preso 12 horas em uma mesma cena, além de usar de modo óbvio as cores e fantasias de Apocalipse Now, além de fazer do documentário afora da propagando se assemelhar a Heart of Darkness.

    O caráter de inclusão dentro da faculdade Greendale é tão grande que garante versões diferenciadas de discurso, pondo um crossdresser em um lugar de prestígio e autoridade, na cadeira de reitor, ao mesmo tempo que exibe um personagem grosseiro e preconceituoso, garantindo voz a ambos, mostrando que o mundo particular, encerrado nos corredores do campus é semelhante ao mundo externo, ainda que neste, o casos instaurado seja puramente metafórico em Community, além de não excluir estereótipos.

    A terceira temporada acaba bem, contando episódios memoráveis, especialmente os que envolvem o Dreamatory e as passagens do ofício de psicologia de Britta. A quantidade exorbitante de mudanças, como a ascensão de Señor Chang ao vilão principal da série, o aumento de comentários metalinguísticos e a possibilidade de finalmente alguém do elenco fixo sair, através do anúncio da ida de Troy para a faculdade de trabalhadores do ar-condicionado. A atenção do público estava tão bem postada nas palavras de Dan Harmon que quase não se notou que o especial de paintball não ocorreu, talvez tenha sido um protesto do showrunner, que acabava de saber que seria dispensado de sua função. O roteirista tratou de fechar a maioria das pontas soltas, arrumando um final para o programa, mesmo com a renovação para mais uma temporada.

    O quarto ano começava sem o criador da série, parodiando a questão que agitava os bastidores de Community, apresentando a Abed TV, onde uma sitcom com claquetes de risos era executada, ao modo e estilo do cinéfilo árabe, mostrando até um Pierce Hawthorne alternativo, já que Chevy Chase se envolveu em brigas com os produtores, especialmente Harmon, tornando através do twitter a questão pública. No entanto, o que se percebe e é um grave problema com os roteiros, sem a supervisão do autor primordial. O medo das mudanças foi inserido como plot, ainda que de uma forma bastante confusa e trabalhada de forma porca.

    O receio de cancelamento aumentou, sendo esta a primeira temporada com apenas 13 episódios finalizados. Apesar de conter alguns momentos, como a exploração do passado entrelaçado dos sete estudantes, o quarto ano é quase todo dispensável, sem inspiração e fraco em essência, com momentos bobos como a Changnésia, que fazia Ben Chang fingir que tinha perdido a memória, unicamente para unir ele com seus algozes, em uma brega confraternização. Jeffrey concluiria seu curso, e em meio das festividades, seria dado um “novo fim” a série, que teria mais uma chance dentro da NBC.

    Dan Harmon voltaria a assinar a produção executiva, retirando o personagem de Pierce, já que Chevy Chase havia tido uma briga pública com ele. O começo do quinto e possivelmente – novamente – último ano começaria  melancólico, com fotografia soturna e iluminação bastante nula. Jeff fracassou ao tentar trabalhar como advogado. Ávido por reencontrar seus amigos, ele retorna ao campus, para perceber que seus ex-colegas também tem problemas enormes para seguir suas vidas. O azar que acometeu os alunos, flagrou também a escola, que faliu, mesmo com os esforços do reitor. Os remanescentes do elenco principal tentam resgatar a dignidade da universidade, fazendo uma analogia com o esforço dos fãs em manter Community no ar, e os estereótipos se invertem, com Jeff tornando-se professor de direito.

    O retorno de Harmon trouxe de volta também a multiplicidade de episódios temáticos, que parodiam programas de tv e filmes, com destaque para o pujante momento em que faz-se alegoria para os filmes de crime de David Fincher, investigando-se um temível vilão que lança moedas sobre os cofrinhos alheios e que jamais teve sua identidade revelada, como em Zodíaco. Plots esquecido no terceiro ano, como o retorno a vida de Costeleta, além da saída em definitivo de Troy, que parte em viagem após o anúncio da morte de Pierce, que sepulta de uma vez a participação de Chevy Chase no show televisivo. O retorno de Duncan também é um ponto indicado pelo showrunner, que ainda introduziu o veterano professor Hickey (Jonathan Banks), um idoso ranzinza que serve como substituto para a vaga de Hawthorne, ainda que seus disparates tenham mais a ver com o fato de ser incompreendido enquanto artista do que puramente politicamente incorreto. Estes, junto a Chang – que passa a dar aulas de matemática, assumindo seu papel de estereotipo racial – formam o comitê que visa salvar Greendale do fechamento.

    Após mais um episódio alucinatório, em que Jeff tem ilusões com um desenho do GIJOE, em uma clara fuga para a infância, a universidade corre o risco de fechar, o que gera a abertura de velhas feridas. O fato de o Subway – novamente patrocinador – comprar o espaço da faculdade faz com que o grupo de salvação se divida. Com medo, Jeff retornar ao seu romance malfadado com Britta, relembrando seu primeiro objetivo e pedindo finalmente sua mão em casamento, para que algum vínculo daqueles cinco anos perdure.

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    A Yahoo salvou – outra vez – a série do cancelamento, municiando Dan Harmon de condições de mais uma vez usar a metalinguagem para abrilhantar seu roteiro, agora com a saída de Yvette Nicole Brown e sua Shirley, que foi cuidar de seu pai doente, e que tem uma ótima despedida. Para o seu lugar, foi encarregada uma nova responsável pelo grupo de resgate a Greendale, Francesca “Frankie” Dart (Paget Brewster), que a no princípio entra em conflitos imbecis com os protagonistas, mas aos poucos consegue conciliar sua rotina apolínea à loucura dos remanescentes.

    É curioso como mesmo a saída dos personagens centrais é bem encaixada na trama, já que é um aspecto comum a vida de universitário, onde amizades intimas são construídas e descontinuadas em virtude das rotinas completamente diferentes. Os sub-plots e tramas prosseguem finitos em si, com pouca influência pragmática com o andamento do seriado, exceto talvez pela ação que envolve o “assumir” da homossexualidade do Reitor, que torna material um fato que antes era oficialmente especulado, mas que era evidente mesmo para o menos atento observador, ainda que o viés seja de uma perversão atroz, já que segundo o próprio personagem, o termo gay mal começa a defini-lo, unido ainda pelo paralelo da libertação de um pássaro de seu cativeiro, tendo de abrir mão de algo importante para poder voar – no caso do pássaro, seus filhotes que viviam em uma caixa de controle elétrico, e no caso do Reitor, a “saída” do Armário.

    As tramas episódicas seguem a linha de questionar a metalinguagem dos seriados americanos, se preocupando em aprofundar pouco a relação entre as personagens, fugindo talvez de qualquer mensagem nostálgica pelo fim iminente.  Até o retorno ao paradigma do paintball é feito sob uma nova ótica, com Jeff tentando ser proibitivo ao ato já que neste momento é um professor e quer impressionar Frankie, promovendo uma limpeza étnica, a base de um serviço secreto de guerra, cujo desfecho é bastante trágico, ainda que repleto de referências a estupidez clássica do grupo de aventureiros.

    Após treze episódios neste novo formato, o semestre e o seriado como era conhecido era finito, como era previsto desde os primórdios dos roteiros de Dan Harmon. O serie finale também abusa de metalinguagem, imaginando como seria uma sétima temporada da série, com alguns dos participantes da mesa do comitê contando sua versão de como seria a vida a partir dali. Todo o estratagema é basicamente uma desculpa para reafirmar que a tv não se baseia em senso comum ou inteligência, mas sim em lucros e projeções de audiência, e Community nunca se enquadrou em nenhum desses arquétipos. O episódio fake, pré créditos finais alude ao narcisismo de produtores bem remunerados da tv estadunidense, e fecha  de maneira legítima a comédia, fechando Community como esta começou, como uma potente paródia do que ocorre na televisão dos EUA, com o mesmo fim de sua prima gêmea 30 Rock, ainda que sua sobrevida tenha sido ligeiramente maior. O aguardo para as últimas desventuras dos loucos ex-alunos está a cargo de seu criador.

    O apagar das luzes da sala de estudos não poderia ser mais melancólico, mesmo diante do aceno com a possível feitoria do tão sonhado filme, não garantido pelo showrunner, apesar da hashtag #anadamovie ao final do episódio.

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  • Crítica | Renascida do Inferno

    Crítica | Renascida do Inferno

    Renascida do Inferno - Poster

    Raras são as produções de terror que não somente fazem uso dos clichês naturais de um repertório como são capazes de potencializar seu fracasso em uma mistura de argumentos diferentes entre si mal vendidos pelo material de divulgação.

    Em Renascida do Inferno, o roteiro de Luke Dawson (Imagens do Além) e Jeremy Slater (Quarteto Fantástico – 2015) parece unir dois argumentos distintos em uma mesma narrativa. A divulgação promocional vendeu a produção como um terror de possessão, a qual uma entidade, após a morte acidental da pesquisadora Zoe  (Olivia Wilde, atriz de maior calibre da produção) e uma fórmula experimental que a traz de volta a vida, de alguma maneira, modifica sua personalidade. Na realidade, porém, a história justifica as transformações do soro por uma reconstrução cerebral que ampliaria a percepção do paciente e, com isso, lhe daria poderes sobrenaturais como telecinésia e outras capacidades limitadas ao humano comum.

    O Lázaro do título original, refere-se ao personagem bíblico ressuscitado por Jesus Cristo. Além da personagem central católica e de um pesadelo recorrente com um incêndio devido a um trauma da infância, não há nenhuma outra inferência que permitira o inferno no título brasileiro, se não a demonstração de como a produção foi vendida equivocadamente para distribuição mundial.

    O cruzamento de signos sem significado tentam explorar vertentes distintas do terror sem nenhuma eficiência. Não há nenhuma possessão na trama, mas muitas cenas são compostas a semelhança de outras possessões vistas no cinema: olhos que se tornam enegrecidos, modulações de voz, contorções comporais. Efeitos que não produzem sentido direto com o que a própria narrativa postulou anteriormente. Como se ao unificar dois conceitos dispares o elemento amedrontador seria exponencialmente ampliado. Porém, falha em dobro.

    Mais assustador que a história em si é observarmos como um argumento mal delineado conseguiu se tornar um lançamento cinematográfico. Mesmo que o terror seja a manipulação direta de uma emoção primitiva, a execução destes sustos devem ser apoiadas em uma trama, mesmo que mínima. Não só a qualidade das produções contemporâneas dá margem para reflexão sobre o mercado atual como a qualidade de seus roteiristas, afinal, como Slater foi convocado para colaborar no roteiro do novo Quarteto Fantástico se parece desconhecer propriedade básicas e fundamentais para o desenvolvido de uma história? Nem mesmo a duração de 1h23 faz esta experiência mais agradável.