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  • Review | Inumanos – 1ª Temporada

    Review | Inumanos – 1ª Temporada

    Cercada de muitas expectativas – quase todas negativas – Inumanos começa de maneira audaciosa, exibindo seu piloto em duas partes nos cinemas IMAX, traduzindo em tela uma história moderna e muito elogiada dos quadrinhos, com roteiros de Paul Jenkins e arte de Jae Lee. No entanto, esse arco só faz sentido quando o conceito dos personagens já estão estabelecidos, enquanto na série de TV eles estão sendo apresentados.

    Na trama, somos apresentados aos Inumanos, uma raça humanoide descendentes de humanos normais, que séculos atrás sofreram diversas modificações e experiencias genéticas. Os principais Inumanos são àqueles pertencentes à Família Real, o rei Raio Negro (Anson Mount) e sua rainha Medusa (Serinda Swan), além de Maximus (Iwan Rheon), Karnak (Ken Leung), Gorgon (Eme Ikwuakor), entre outros, que passam a governar os demais em um sistema de castas.

    Há toda uma sequência de tomada de poder de Maximus, que envolve ele se livrar de Raio Negro, Medusa, Karnak  e Gorgon. A única que permanece em Attilan é Crystal (Isabelle Cornish), irmã mais nova da rainha. Todo o ato para conseguir se estabelecer como novo soberano é estilizado, e mal enquadrado, não há como olhar para Maximus como um personagem imponente em momento algum. Mesmo a cena com Break on Trough (To The OTher Side), do The Doors – executada por Josh Mobley -, favorece o personagem. A história de perseguição aos Inumanos começa com câmeras em slow motion e uma perseguição a uma personagem genérica, que é recebida por Triton (Mike Moh). Nessa cena já se percebe o quão didática e mas construída visualmente será a série de Scott Buck, showrunner responsável por Punho de Ferro.

    Não demora e uma cena “quente” ocorre, entre a Medusa – que inclusive já mostra todo o potencial visual do seriado, com seu cabelo em CGI se movendo – e Raio Negro. Rapidamente se estabelece uma rivalidade entre os irmãos Raio Negro e Maximus, com o último se valendo de um discurso do medo, começando assim um motim – muito mal conduzido pelo diretor Roel Reiné.

    Toda a discussão sobre variação genética vista nos quadrinhos comuns dos Inumanos é completamente ignorada, tudo para dar vazão a ação genérica, cenários que parecem vir das sobras de Guardiões das Galáxias e novas tecno-baboseiras, repletas de termos técnicos que não são minimamente explicados ou encaixados na trama geral.

    Sequer o visual é bem enquadrado pelas câmeras. Os efeitos especiais são risíveis, o único aspecto minimamente positivo é a figura do cachorro gigante Dentinho, que em alguns momentos funciona maravilhosamente e em outros, fica evidente o uso extensivo de efeitos especiais de pós-produção. A solução para baratear a produção, raspando a cabeça de Medusa além de não fazer sentido, soa como uma solução fácil, oportuna e mal encaixada. As relações dos Inumanos com os habitantes comuns da terra também contém textos sofríveis, é difícil manter qualquer conexão com os heróis, já que todos parecem ser péssimos intérpretes – exceção a Ken Leung – e as situações também são terríveis e repletas de clichês.

    Conversando com outras pessoas que tiveram coragem de encarar Inumanos apesar de todos os reviews negativos que pontuaram sua estreia e pré-estreia, encontrei na fala de um deles uma comparação bastante justa. Ao discutir com alguns desses conhecidos, chegamos a triste e jocosa conclusão de que esse é o herdeiro espiritual do que poderia ter sido o seriado da Geração X caso tivesse passado daquele malfadado piloto que era exibido nas tardes do SBT, e de fato, há muita influência daquele show, ainda que de maneira não intencional.

    O ideal de querer mudar o sistema de governo por castas que Maximus propõe perde completamente a força, graças ao péssimo roteiro. Os rumos do oitavo e último episódio são ligeiramente melhor construídos, mas ainda assim carecem de qualquer mínima simpatia pelos personagens, ou empatia por seus dramas. Para Jenkins e Lee, autores da revista que deu origem a maioria dos motes da temporada talvez tenha sido bom não serem creditados, já que quase todos os conceitos dos quadrinhos são banalizados e construídos através de cenas que causam risos, por seu caráter qualitativo paupérrimo, pelas péssimas atuações do elenco ou também pelos efeitos especiais defeituosos. A surpresa é ter sido a série aprovada depois de um piloto tão desastroso.

    Ainda há no final uma cena com a família real que pontua perfeitamente o contexto da série, com um visual terrível, e pessimista para o povo de Attilan, que vê um novo perigo no horizonte, e péssimo para a audiência, que é obrigada a desfrutar de uma sequência repleta de horrores, com figurinos que variam entre o visto nas fantasias de carnaval dos grupos de acesso e as influências claras de séries como Power Rangers. Não há qualquer função para seguir a produção de Inumanos, a não ser a curiosidade mórbida por terminar de ver o arco de histórias.

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  • Crítica | Jogos Mortais

    Crítica | Jogos Mortais

    Primeiro capítulo do que se tornaria uma enorme saga cinematográfica de terror, Jogos Mortais é um filme conciso e contido, ao contrário de suas variadas continuações. O terror de James Wan começa em um ambiente misterioso e claustrofóbico: um banheiro velho, em que dois desconhecidos estão trancafiados com uma pessoa aparentemente morta no chão. Após um tempo, ambos percebem estar em uma armadilha, proposta por um assassino, de nome Jigsaw. Ambos estariam ali para pagar por seus pecados.

    Não demora até a trama se bifurcar, mostrando o presente e um pouco do passado, através das lembranças de Lawrence (Cary Elwes), o doutor que está preso no cenário inicial. Dali começa a se mostrar uma investigação policial, capitaneada pelo detetive David Tepp (Donald Glover) e por seu parceiro Steven Sing (Ken Leung), que estão à caça do tal criminoso, um sujeito que executa suas vítimas em jogos perversos, com frieza total em armadilhas que aproximam as vítimas da morte, tendo uma chance quase sempre ínfima de escapar do infortúnio.

    O suspense do longa é maximizado por sua trilha sonora repleta de efeitos eletrônicos, fato que ajudaria a popularizar a utilização em outros tantos produtos cinematográficos de terror, além de ter um tema musical bem característico. Em pouco tempo, o verdadeiro caráter do filme, que é o de provocar angústia em seus espectadores, através do gore auto infligido pelos personagens.

    Jigsaw, o mentor por trás desses planos é um sujeito misterioso que tem sua identidade revelada somente ao final. Sua motivação é movida pelo seu destino trágico e todos os seus atos repetem os clichês de gênero slasher, substituindo no entanto o sexo como evento principal da culpa para colocar atos mesquinhos e egoístas como o motivo para escolher quem deve morrer ou viver.

    A exploração de Tobin Bell como um homem combalido que se arrasta para basicamente planejar outras tantas armadilhas que fariam suas vítimas se matarem é mais explorada nas continuações, mas já neste se nota uma sobriedade por parte do veterano ator, ainda que seus momentos sejam de absoluto silêncio e relutância, exceto é claro pelas gravações que tem sua voz modificada em efeitos de pós produção. A mistura de enredos diferentes faz tornar ainda maior a importância dos dramas apresentados pela história de Leigh Whannell e Wan, além de valorizar os pouco mais de um milhão de dólares que o filme custou.

    Jogos Mortais é um filme repleto de mcguffins, em alguns momentos ele lembra os filmes italianos de tortura, repleto de sangue e mortes criativas, em outros faz lembrar os filmes policiais inspirados pelo caso do assassino do zodíaco – traduzido para o cinema por David Fincher em Zodíaco, curiosamente o mesmo autor de Seven, uma clara inspiração aqui – e os filmes de assassinos em série populares de sua época, como eram Rios Vermelhos, A Cela e Hannibal, ainda que tenha em si uma carga muito mais voltada para o terror do que os citados.

    O resultado final é um produto econômico até na sanguinolência, artigo esse não poupado nos capítulos posteriores. A riqueza da inversão de expectativas ao se mostrar que as pessoas por quem o espectador geralmente torce também tem defeitos baseados em pecados capitais combina bem com o moralismo exacerbado do mestre desses jogos, fato que ajuda a tornar toda essa dicotomia em um artigo bastante caro à trama e a exploração dos personagens reais mostrados em tela.

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