Um dos subgêneros mais relacionáveis do cinema, o coming of age, já eternizou clássicos com fãs apaixonados. John Hughes, por exemplo, deu à década de 1980 um dos sentimentos mais gostosos de se revisitar da época, aquela eterna juventude, a sensação de liberdade que aprender com os próprios erros pode dar, e que foi inspirador para as dezenas de anos seguintes. Mas de Curtindo a Vida Adoidado até Superbad e A Mentira, era difícil encontrar bons coming of age de comédia escritos, dirigidos e protagonizados por mulheres, e o recém lançado no Brasil, Fora de Série, defende bem a temática e se mostra uma grande surpresa para alimentar uma safra que pode ter sido iniciada por Lady Bird.
O filme é o primeiro longa metragem com Olivia Wilde na direção e escrito por Emily Halpern, Sarah Haskins, Susanna Goel e Katie Silberman, que já carregam um bom histórico na comédia e no drama. Acompanhamos as duas protagonistas do longa no último dia de aula do ensino médio, Molly (Beanie Feldstein) é uma estudante extremamente focada e mandona e Amy (Kaitlyn Dever) tenta superar sua timidez para conquistar uma menina da escola, amigas de infância elas decidem aproveitar ao máximo a última noite dessa etapa de suas vidas.
O texto, sem dúvidas, é o grande destaque desde o início, é forte a sensação de que o que passa em tela já foi visto antes, mas vem refrescante, o saldo é como de um material quase novo. As personagens alcançam tridimensionalidades através da subversão de clichês reciclados excessivamente pelo subgênero e até pelo próprio cinema estadunidense, são saídas sagazes que impedem Fora de Série de cair em lugares comuns e possibilita espaço para todas as personagens coadjuvantes além da dupla principal.
As piadas funcionam boa parte do tempo e rende momentos preciosos, mas algumas sobram e soam convenientes e previsíveis, com momentos até de exposição desnecessária. Problema que talvez seria mais perceptível com um elenco fraco, o que não é o caso, as intérpretes de Molly e Amy fluem bem entre o humor e o drama e nos faz acreditar que aquela amizade é verdadeira, visível na intimidade que compartilham em cena.
Já a estreia de Wilde na direção não poderia ser mais bem-sucedida, sua câmera traduz com precisão ansiedades de momentos chave, como quando opta por prolongar planos, usar câmera na mão ou quebrar expectativas com a própria linguagem. É um olhar muito sensível e, como já dito, refrescante sobre essa história, expondo caminhos excitantes para esse tipo de abordagem. Prova que a presença feminina atrás das câmeras seja o maior passo a ser tomado, pois o resultado não é nada tímido.
Ambientada na Nova York de 1973, a nova parceira entre Martin Scorsese, Mick Jagger, Rich Cohen e Terence Winter foca em Richie Finestra, presidente da America Century Records interpretado pelo promissor e competente Bobby Cannavale, que já havia trabalhado com Martin, no passado, em Boardwalk Empire. O começo da trama mostra Finestra lançando mão de entorpecentes, fazendo da cocaína a sua fuga da realidade massacrante que vive, causada por alguma crise que ainda seria explorada nos momentos seguintes.
Ainda no início do piloto, dirigido por Scorsese, o protagonista passa por corredores sujos de uma boate da qual era íntimo, percorrendo corpos desfalecidos de pessoas usando heroína, drogas de fumo e ácido. Ao final da sequência, ele vê um grupo de rock n’ roll se apresentando e se assusta com os rumos da música mainstream, além de observar um consumo muito diferente do que na época da transição da era disco e do ingresso do blues para a fase do hard rock mais clássico, na década de 1970.
A narrativa é bifurcada, mostrando o momento atual do empresário e seu início de carreira, tentando popularizar a figura do cantor negro Lester Grimes, batizado de Little Jimmy Little (Ato Essandoh). Desde a descoberta do artista até o início do empreendimento de Richie são mostrados em detalhes bastante agressivos, incluindo até um subplot envolvendo assassinato, o que na prática perde foco e importância ao longo desse primeiro ano.
A abertura, mostrada a partir do episódio Yesterday Once More é simbólica, pois reúne os símbolos de trabalho e obsessão dos personagens enquadrados pelas lentes de Allen Coulter (o mesmo de Hollywood Land e do piloto de Sons of Anarchy), com a música. Os núcleos de personagens secundários são desenvolvidos a passos muito lentos, o que faz com que o ritmo caia quando sai da relação entre Richie e Devon (Olivia Wilde). Família Soprano e Boardwalk Empire orbitavam ambos em torno de Tony Soprano e Nucke Thompson, mas havia conteúdo e substância nos outros personagens e nas discussões, caso não repetido neste início, quando a trama deixa Finestra em segundo plano. Neste ponto, a semelhança de Vinyl é maior com os mais fracos folhetins globais do que com a elite das produções da HBO.
A partir do quinto episódio, o quadro muda ao explorar a relação ainda mais deteriorada de Richie e sua esposa, que é basicamente um reflexo da confusão em que está sua carreira e vida pessoal. O protagonista pinta sua jornada com o branco das lagartas de cocaína que inala, fazendo de suas reações mais simples espasmos apressados, que deixam transparecer sua crise existencial e moral. Os números musicais ajudam a dar ainda mais significado à ladeira que o personagem começa a trilhar, ao ver seu relacionamento amoroso fracassar de vez. Em tempo, ele consegue ensaiar um restabelecimento, antes de ser tarde demais, ainda que essa virada seja bastante discutível do ponto de vista moral.
Vinyl não é uma série sobre música e sim sobre os negócios que envolvem a arte, o que evidentemente envolve ícones musicais como parte do mote. Há o uso de imagens de cantores reais, como David Bowie, Robert Plant, John Lennon, Lou Reed, mas no geral tanto as gravadoras quanto os musicistas são inspirados em figuras reais. O personagem interpretado por James Jagger, Jerry Hall, é parcialmente inspirado em Richard Hell, vocalista que teria sido plagiado por John McLaren na confecção do visual dos Sex Pistols, mas em suas atitudes agrega elementos de outros rock stars, aumentando ainda mais a sensação de que o programa é uma junção dos destaques fonográficos desse tempo específico, os 70’s.
O maior problema de Vinyl é o foco de suas histórias paralelas, que fazem o arco principal de desconstrução de mitos musicais perder força. A ideia de envolver Finestra em um crime passional faz sentido dentro da trama emocional, mas faz perder importância na discussão a respeito da indústria. O 10º e último episódio finda com uma perspectiva muito positivista, especialmente se colocada em comparação com o início da temporada. A mudança do nome do selo para Alibi simboliza uma mudança institucional que se torna anticlimática, graças à exploração que somente ocorrerá no futuro. Para uma série envolvendo o nome de Scorsese e Winter, é muito pouco.
Raras são as produções de terror que não somente fazem uso dos clichês naturais de um repertório como são capazes de potencializar seu fracasso em uma mistura de argumentos diferentes entre si mal vendidos pelo material de divulgação.
Em Renascida do Inferno, o roteiro de Luke Dawson (Imagens do Além) e Jeremy Slater (Quarteto Fantástico – 2015) parece unir dois argumentos distintos em uma mesma narrativa. A divulgação promocional vendeu a produção como um terror de possessão, a qual uma entidade, após a morte acidental da pesquisadora Zoe (Olivia Wilde, atriz de maior calibre da produção) e uma fórmula experimental que a traz de volta a vida, de alguma maneira, modifica sua personalidade. Na realidade, porém, a história justifica as transformações do soro por uma reconstrução cerebral que ampliaria a percepção do paciente e, com isso, lhe daria poderes sobrenaturais como telecinésia e outras capacidades limitadas ao humano comum.
O Lázaro do título original, refere-se ao personagem bíblico ressuscitado por Jesus Cristo. Além da personagem central católica e de um pesadelo recorrente com um incêndio devido a um trauma da infância, não há nenhuma outra inferência que permitira o inferno no título brasileiro, se não a demonstração de como a produção foi vendida equivocadamente para distribuição mundial.
O cruzamento de signos sem significado tentam explorar vertentes distintas do terror sem nenhuma eficiência. Não há nenhuma possessão na trama, mas muitas cenas são compostas a semelhança de outras possessões vistas no cinema: olhos que se tornam enegrecidos, modulações de voz, contorções comporais. Efeitos que não produzem sentido direto com o que a própria narrativa postulou anteriormente. Como se ao unificar dois conceitos dispares o elemento amedrontador seria exponencialmente ampliado. Porém, falha em dobro.
Mais assustador que a história em si é observarmos como um argumento mal delineado conseguiu se tornar um lançamento cinematográfico. Mesmo que o terror seja a manipulação direta de uma emoção primitiva, a execução destes sustos devem ser apoiadas em uma trama, mesmo que mínima. Não só a qualidade das produções contemporâneas dá margem para reflexão sobre o mercado atual como a qualidade de seus roteiristas, afinal, como Slater foi convocado para colaborar no roteiro do novo Quarteto Fantástico se parece desconhecer propriedade básicas e fundamentais para o desenvolvido de uma história? Nem mesmo a duração de 1h23 faz esta experiência mais agradável.
Paul Haggis (Crash – No Limite) tem duas grandes qualidades como idealizador, sendo a primeira sua percepção humanística e descentralizada das interações cotidianas que transbordam em seus roteiros ̶ mesmo nos mais populares como Cassino Royale, e principalmente nos mais intimistas como Menina de Ouro, Crash ̶ , e a segunda qualidade é sua capacidade de agregar grandes nomes para o elenco de seus filmes.
É fácil identificar-se com suas obras, mesmo aquelas mais densas como Vale das Sombras, pois em um mundo onde as pessoas pouco se relacionam, pouco sentem e pouco se tocam, sua escrita promove uma pequena torrente de reflexões e a quebra das “minicertezas” do dia a dia ao escancarar, de forma franca, a efemeridade da vida e a fragilidade das relações humanas. Por ter laços tão sutis, a dinâmica social torna-se um nó górdio no qual a dilaceração é destino mais provável, e que por ser assim, Haggis traz em suas obras um estranho senso de otimismo, aceitação e bondade.
Premiado em três categorias no Oscar por Crash, Haggis também carrega o estigma de dirigir um dos vencedores mais controversos pela Academia de Ciências Cinematográficas. Estruturado sobre um roteiro que costura vidas e cenários a fim de montar um panorama social dos EUA e seus cidadãos, a direção, roteiro e montagem trabalham perfeitamente para criar um ambiente único e sujeito a variações caóticas diante da menor perturbação. Honesto, sucinto e humildemente relevante, é uma pérola do cinema. Esta digressão, porém, serve para contrapor Crash com seu novo longa, Terceira Pessoa, o qual não consegue ser a sombra do primeiro.
Dotado novamente de um elenco competente e estrelado, de nomes como James Franco, Liam Neeson, Mila Kunis, Adrien Brody, e a desperdiçada Kim Basinger, Haggis tenta lidar com suas próprias dificuldades humanas ao elaborar uma teia de vidas, que têm em comum a dificuldade de lidar com a realidade e assumir-se como aquilo que realmente são. Um ladrão que se diz “homem de negócios”; uma mãe incapaz de lidar com suas falhas psicológicas; uma mulher perdida em relacionamentos autodestrutivos; um escritor notoriamente atormentado por seu passado e incomodado com o declínio de sua trajetória profissional, hoje tão opaca; e, por fim, o próprio filme que, apesar de ser intitulado “Terceira Pessoa”, não consegue perceber o egocentrismo inerente à toda sua estrutura.
E assim, todas as qualidades que poderiam relacionar a película com a carreira de seu diretor dissolvem-se por conta da falta de carisma e relevância das histórias. Dessa forma, os erros ocorrem pela montagem defeituosa que em diversos momentos desnorteia o espectador ao invés de orientá-lo na transição entre os segmentos, pela direção burocrática, bem como pela tentativa frustrada de usar o histórico cinematográfico de Haggis e clichês narrativos dos filmes de histórias entrecruzadas, para incentivar o espectador a ter a boa vontade de supor sobre os destinos daqueles personagens para algo além do óbvio. Infelizmente, é apenas óbvio mesmo.
Distante do impacto emocional que poderia causar, o que se tem aqui é um filme muito mais longo que o ideal, e que se torna ainda mais enfadonho ao deixar escapar já antes do encerramento do segundo ato que não há mais nada a dizer ali.
Na tentativa de gerar alguma dinâmica mais atrativa, as resumidas tramas fecham-se em um anticlímax desatencioso e incapaz de decidir com quais decisões deve arcar. A trilha sonora tenta atuar como ferramenta para adicionar alguma sustância aos diálogos bobos e direcionar os sentimentos que deveriam ser suscitados pelo espectador, e desta forma torna-se quase onipresente, chegando a incomodar.
Essa alienação dos elementos narrativos, uns pelos outros, faz com que vozes e clamores dos personagens ora tenham múltiplos representantes, ora não tenham nenhum. Talvez o diretor esteja em uma crise pessoal, talvez por isso a crueldade no trato com o amor romântico e o amor familiar, talvez por isso a incerteza tautológica. Mas, como para aquele que escreve, toda obra é autobiográfica, talvez assim Paul Haggis tenha conseguido expulsar seus demônios.
Todo filme de Fórmula 1 no Brasil que não seja sobre Ayrton Senna (ou que não o transforme em semideus) será sempre tratado com um certo desdém pelo grande público, que costuma ver nele o único grande piloto da F1, mostrando um pouco de egocentrismo nacionalista e falta de conhecimento da história de um esporte que já teve seus melhores momentos em décadas passadas, e hoje sofre, assim como o boxe, de falta de fãs e credibilidade. Rush (com seu dispensável subtítulo brasileiro No Limite da Emoção) vem justamente para cumprir papel importante neste aspecto: o de mostrar que a F1 já existia e já era perigosa e emocionante antes de Ayrton.
A história do filme retrata a rivalidade existente entre os pilotos Niki Lauda (Daniel Brühl) e James Hunt (Chris Hemsworth), portadores de personalidades bem distintas: enquanto Lauda era frio, metódico e brilhante, Hunt era um típico playboy, que adorava festas e os flashes da mídia. A disputa entre os dois se passa desde o início da década de 70 até 1976, quando Niki Lauda sofre um grave acidente no mesmo ano que James Hunt se consagra campeão mundial de F1, igualando o feito de Lauda no ano anterior.
Com uma estrutura interessante, que insere flashbacks durante a narrativa tradicional, o diretor Ron Howard consegue contar uma história cativante sobre duas personalidades tão distintas, mas que rivalizavam e se completavam, de certo modo. Obviamente, certas liberdades poéticas foram tomadas para tornar o filme mais cativante. Porém, qualquer pessoa minimamente interessada no esporte, ou mesmo em conflitos humanos, saberá aprecia-la.
Brühl e Hemsworth conseguem, cada um a sua maneira, passar um realismo na dinâmica entre os personagens, ainda mais Brühl, que parece ter estudado meticulosamente cada trejeito físico de Lauda, pois sua atuação impressiona. Hemsworth, limitado como é, se entrega verdadeiramente, mas ainda não consegue fugir do typecasting pelo seu tipo físico e padrão de beleza. Outro ponto positivo do filme é o figurino e os design de produção, que consegue passar nitidamente a sensação dos anos 70 a cada tomada, pelas roupas, penteados, carros, câmeras fotográficas, maquiagens e todos os detalhes.
Porém, o que poderia ter trazido uma profundidade maior ao filme seria a inserção de outros elementos que pudessem tornar a dinâmica entre Lauda e Hunt menos linear, como talvez a interação de ambos com outros pilotos (momento só brevemente inserido na trama) e com a estrutura da F1. Com 2h03 minutos de projeção, desenvolver mais a história iria tornar o filme ainda mais longo pelo uso que se fez das cenas de corridas, muito bem feitas por sinal, assim como as sequências de transição entre os GP’s, mas sempre em detrimento da história, um vício cada vez mais comum na produção cinematográfica moderna.
Ron Howard, ainda com essas limitações, consegue produzir um filme redondo, que satisfaz tanto quem está em busca de uma boa diversão com doses homeopáticas de profundidade quanto o fã de F1, que provavelmente irá fazer uma busca extensiva na internet para saber mais sobre essas figuras tão emblemáticas a respeito de uma época romântica de um esporte em crise, como a F1 atualmente.
Após o assalto a um cassino, trio de ladrões dirige-se à fronteira EUA-Canadá, quando um acidente na estrada acaba causando a morte de um deles. Escapando ilesos, os irmãos Addison (Eric Bana) e Liza (Olivia Wilde) separam-se com o intuito de dificultar a perseguição policial, tomando rumos diferentes no meio da neve para chegar à fronteira. Enquanto isso, Jay (Charlie Hunnam), um ex-boxeador recém saído da prisão, viaja para passar o Dia de Ação de Graças na casa dos pais – o xerife aposentado Chet Mills (Kris Kristofferson) e sua esposa June (Sissy Spacek).
A sequência inicial é suficientemente impactante para chamar a atenção do espectador e fazê-lo querer saber o desfecho da estória dos dois irmãos. A tranquilidade quase excessiva dentro do carro – de certo modo um reflexo da quietude da paisagem branca ao redor – é subitamente interrompida pelo acidente. É uma pena que a força dessa cena não se mantenha no restante do filme que avança numa sucessão de eventos bastante previsíveis, com coincidências que por vezes soam forçadas.
É um thriller de perseguição. Ponto. Dito isto, pode-se afirmar que o filme é satisfatório enquanto thriller de perseguição. Não se deve esperar algo similar a Argo, em que a perseguição é pano de fundo para o estudo dos personagens – todos muito bons. Neste, ao contrário, a tentativa de mesclar ação e dramas pessoais apenas enfraquece a trama. O roteiro, aliás, se mostra bem indeciso, sem saber se explora os dramas pessoais, o isolamento causado pela nevasca, as pequenas tramas paralelas ou se se atém à fuga dos ladrões. Ao tentar focar nos conflitos interpessoais de alguns personagens – Jay e seu pai, Liza e Addison, Hanna e seu pai – ou ao tentar acrescentar um pouco de complexidade psicológica aos personagens – Addison na cabana, por exemplo – a trama perde ritmo e interesse.
Percebe-se a boa intenção do roteirista, mas isso não é o bastante. A sucessão de clichês e estereótipos, principalmente na construção dos núcleos de personagens, poderia ter sido evitada. Citando apenas os mais óbvios: clichê machista – uma policial feminina, a única da delegacia, que é sempre preterida por ser mulher; clichê racial – um caçador com feições indígenas vestindo um casaco de peles com uma águia pintada nas costas.
Mesmo a presença de bons atores – Spacek, Kristofferson e Kate Mara (que demonstra todo seu potencial na série House of Cards) – não ajuda na construção dos personagens, já que estes são unidimensionais. A performance do elenco é correta, mas nada além disso. Eric Bana quase convence como o ladrão meio anjo meio demônio. Olivia Wilde não tem como ir além do perfil apático de Liza. Hunnam talvez pudesse tornar seu personagem mais carismático, se ele fosse mais que apenas o link entre os ladrões e seu destino.
Apesar do excesso de closes e de “establishment shots”, a fotografia não deixa a desejar. Principalmente nas externas em que é beneficiada pela paisagem. Ajudaria bastante se a montagem fosse um pouco mais ágil. Afinal, é uma perseguição a fugitivos, não um filme contemplativo. A sequência de perseguição com snowmobiles, mesmo com a obviedade de alguns cortes, é um bom exemplo do ritmo que deveria ser seguido no restante do filme.
A sequência inicial e o final (quase) inesperado – depois que os personagens lavam a roupa suja durante o jantar de Ação de Graças – compensam o “miolo” meio morno da narrativa. Em suma, é um filme mediano. Longe de ser um blockbuster, mesmo com o roteiro convencional e pouco criativo, personagens estereotipados e pouco complexos, consegue cumprir a função de entreter e passar o tempo.
2011 é o ano dos extra-terrestres. Pelo menos no cinema esta afirmação certamente é valida.
Depois de Transformers 3, Eu Sou o Número 4, Invasão do Mundo: A Batalha de Los Angeles, Super 8, Lanterna Verde e Apollo 18, chegou a vez dos homenzinhos verdes voltarem às telas, e desta vez para enfrentar o tipo de ser-humano mais durão da história de nosso planeta. Caras que mascam fumo, bebem uísque sem gelo, montam cavalos, fazem a barba muito porcamente e adoram uma boa briga que geralmente resulta em morte. Este duelo épico é a premissa de Cowboys & Aliens, adaptação dirigida por da HQ homônima publicada pela Platinum Comics.
Não vou, neste artigo, abordar os méritos da adaptação. Não lí os quadrinhos e o pouco que conheço da história sugere uma nota, no quesito adaptação, um pouquinho abaixo de 3. Dito isto, prossigamos:
Estrelado por Daniel Craig (007: Quantum of Solace, Lara Croft: Tomb Raider) e Olivia Wilde (Tron: O Legado, House), o filme conta a história de Jake Lonergan, líder de um bando de pistoleiros fora-da-lei, que acorda no meio do deserto com um estranho aparato metálico preso ao pulso e completamente sem memória. Enquanto tenta relembrar os acontecimentos que o levaram até lá, o cowboy envolve-se com os habitantes de um pequeno vilarejo local exatamente no momento em que seres desconhecidos em objetos voadores destrõem o lugar e sequestram vários de seus habitantes. Para salvar os habitantes sequestrados e evitar que os seres alienígenas destruam os humanos, Lonergan deve se aliar a um nada amistoso Coronel do exército que busca recuperar o filho sequestrado e uma atraente mulher misteriosa que parece conhecer os seres que o sequestraram. E reunida, essa turminha vai se meter em grandes aventuras e blá, blá, blá…
O filme é uma merda e daqui pra baixo eu vou contar tudo para que vocês não precisem vê-lo! Se você não viu e quer discordar da minha crítica, veja e depois deixe a sua opinião aqui na área de ofensas do blog. Espero que possa se dizer a palavra merda aqui (caso não possa, vocês nunca lerão este post)…
Não sou um grande fã do gênero Western. É muito fácil um filme ambientado do velho oeste cair numa galhofa intragável e ficar cansativo ou lento. Este novo gênero que vem aparecendo (vou chamá-lo de Sci-Western) é extremamente interessante, mas quando se juntam dois gêneros tão difíceis de serem trabalhados (e caso não tenha ficado claro, estou falando do Sci-Fi e do Western) a chance de acontecer alguma catástrofe de proporções gigantescas é ainda maior. Nesta, em especial, posso enumerar 2 falhas principais:
O protagonista de um filme tem que ser um personagem com o qual você se relacione. Você pode gostar ou odiar, mas tem que se relacionar de alguma forma com ele e, para isso, ele tem que ter algum traço de humanidade (ou ser declaramente uma máquina, como o fodástico T-800). Daniel Craig, na minha opinião, não serve como protagonista de nenhum filme pelo simples fato de não ser humano. O Jake Lonergan deste filme é tão expressivo e tem tanto carisma quanto uma pedra. Como diria um editor aqui do Vortex, o personagem de Craig é “qualquer coisa”, e você não se dá ao trabalho nem de gostar e nem de odiar ele.
O elenco de apoio é fraco e todos os personagens do filme são rasos e mal aproveitados, culpa dos brilhantes roteiristas que querem apresentar e construir trezentos personagens em um filme de uma hora e quarenta. Vou pular todos os outros duzentos e noventa e sete personagens e ir direto para os dois piores: Ella Swenson e Woodrow Dolarhyde.
Uma é o interesse romântico de Craig e a alienígena mais merda que eu já ví em toda a minha vida. Até o ET do Spielberg, por mais baixinho, feio e com cara de velho acabado que era, podia fazer a bicicleta do menino voar. A personagem de Olivia Wilde não tem importância nenhuma para a trama, a não ser a de explicar o que os malditos ETs vieram fazer na Terra. Informação esta que poderia ter sido arrancada de um dos alienígenas por meio de muita persuasão “porradeirística”, o que aumentaria em alguns décimos a nota do filme, certamente. Pelo menos ela aparece nua em uma das cenas do filme… O outro personagem secundário que merece seu destaque como uma das piores coisas que eu já ví no cinema foi, lamentavelmente, o personagem vivído pelo Sr. Harrison Ford. O Coronel Dolarhyde é o personagem mais mal construído da história do cinema, eu arrisco. Pare para pensar comigo: Um velho Coronel do exército americano, em 1873, que em menos de 2 dias passa a perdoar bandidos que lhe roubaram e atropela um preconceito que mantinha por décadas? em 1873?! 1873?! Tá bom Cláudia…
Cowboys & Aliens pode não ter sido a pior adaptação de quadrinho(apesar de eu quase poder afirmar isso, mesmo não tendo lido a HQ) mas certamente foi um dos piores roteiros que eu já ví. Sem pé nem cabeça, falhado, lento quando devia ser rápido e corrido quando devia ser bem argumentado… Estas são apenas algumas das características de que me lembro agora, de cabeça.
Segundo o roteiro, esta raça superior de seres alienígenas teria vindo para a terra em busca de ouro. Isso mesmo, você não leu errado, ouro! Seres evoluidíssimos que viajam no espaço sideral para ir a um planeta distante precisam de ouro para sobreviver. Detentores de uma avançada tecnologia que liquefaz o metal, os seres alienígenas se instalam em um local onde o ouro é abundante e começam sua extração. Devido ao tédio extremo que sentiam em sua nave-garimpo, resolvem sair e sequestrar nativos para fazer experiências científicas com eles, apenas para passar o tempo. Chegam em uma pequena vila próxima e saem atirando para todos os lados e sequestrando meia dúzia de espécimes para seus experimentos e poupando os demais da morte por motivo desconhecido. Isso tudo sem se preocupar com um dos primeiros sequestrados que fugiu da nave-garimpo levando consigo uma arma lazer que é a única do universo capaz de disparar projeteis efetivos contra a couraça metálica de suas naves e armaduras além de ser, também, uma bomba capaz de destruir toda a nave-mãe.
Então o rapaz que roubou a arma, fugiu e foi perdoado pelos alienígenas encontra uma outra alienígena(de uma espécie diferente dos garimpeiros sodomizadores) que veio SOZINHA para a Terra, seguindo os ETs comedores de ouro, para destruí-los. Acho que vale relembrar o que eu já citei brevemente acima e que eu considero ter alguma importancia nesse resumão que estou fazendo do filme: A ET boazinha não possue nenhuma habilidade especial e nenhum armamento alienígena avançado para combater os ETs malvados, talvez por que ela espere encontrar no planeta Terra algum armamento nativo para destruir os ETs garimpeiros(desconsiderando o fato de que, se existisse uma coisa dessas no planeta, os terráqueos nem necessitariam da ajuda dela…).
Depois de encontrarem a nave-garimpo camuflada, os 3 personagens centrais recebem ajuda do bando de Lonergan e de uns índios que não haviam aparecido antes no filme para tentar derrotar os aliens malvados em um combate aberto. Segundo a ET gostosa, os garimpeiros do espaço se consideram tão superiores aos humanos que não se dão ao trabalho e bolar uma tática e resolvem cair na porrada com os nativos da Terra. Depois de uma pancadaria genérica, onde os ETs malvados resolvem batalhar a pé, mesmo tendo máquinas voadoras que são óbviamente muito mais eficazes na batalha, Lonergan consegue entrar na nave junto com a gostosa que, óbviamente se sacrifica no processo de destruir a nave-garimpo usando a arma dos próprios ETs malvados que, convenientemente não é apenas uma arma mas, também, uma bomba muito poderosa. Eles resgatam todo mundo e conseguem fugir antes da destruição da nave e todos vivem felizes para sempre, fim!
A história do filme não é ruim, apesar de o roteiro ser terrível. Estão presente na história pontos muito interessantes que, infelizmente, não foram abordados com a devida atenção. Na história temos três classes bem definidas que são obrigadas a cooperarem por um bem maior (os habitantes do vilarejo, os bandidos e os índios). O filme falaria muito bem sobre o preconceito que existe entre o homem branco e o índio americano, se tivesse um roteiro melhor elaborado. Mostraria a inversão de papéis quando o homem branco, explorador e opressor da raça indigena, se transformasse em explorado e oprimido pela raça alienígena. Esta mensagem seria muito melhor apresentada no filme se o roteiro não fosse tão confuso e não quisesse apresentar tantos personagens.
No decorrer do filme é visível a preocupação dos roteiristas em contar a história do cowboy fora-da-lei, do coronel durão, do garotinho órfão, do médico humanista, do bravo dono de bar, do índio submetido ao homem branco, do filho mau-amado que precisa chamar atençãode alguma forma e de tantos outros personagens que foram levados juntos até o final da trama. Infelizmente esqueceram de contar para os roteiristas que não existe roteiro interessante sem construção de personagem e que não se constrõem tantos personagens com uma cena de cada um. Se tivessem se preocupado em contar a história de dois ou três personagens, o filme talvez fizesse mais sucesso. Um personagem bem construído carrega um filme com muito mais propriedade do que dez personagens rasos.
Quando ví o nome, imaginei imediatamente uma maior interação entre os cowboys e os aliens. Mais pancadaria entre eles, mais bang-bang, mais bravura e mais cowboys. Quando ví os nomes de Harrison Ford e Olivia Wilde no elenco, imaginei personagens muito mais marcantes e atuações muito mais expressivas. Relevei até mesmo o nome de Daniel Craig escrito com uma fonte maior do que a dos outros no cartaz e, apesar de ser um dos atores que mais odeio em Hollywood, resolvi dar-lhe uma segunda chance. As respostas à minhas expectativas, entretanto, foram totalmente aquém daquilo que esperava e me deparei com interpretações que beiram o ridículo de todos os atores. Esperava algo a mais.
A história recente do cinema mostra que o monstro da expectativa destrói grande parte dos filmes que assistimos, e a regra comprovou-se mais uma vez. Cowboys & Aliens, apesar de partir de uma ótima premissa e inaugurar o gênero Sci-Western, se mostrou um filme fraco, mal construído e mal interpretado. Uma decepção para quem esperava, como citei no início do texto, ver seres alienígenas batendo de frente com o tipo de ser-humano mais badass da história.