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  • Crítica | Apocalypse Now

    Crítica | Apocalypse Now

    O filme de guerra definitivo, ou quase isso. Quase porque existe Vá e Veja, mas Francis Ford Coppola chegou muito perto em 1979 de roubar o trono desse filme soviético – essa sim, a mais delirante história de conflitos militares já feita no cinema. Veja: a perspectiva histórica aqui não poderia ser evitada, já que estamos pisando num panteão de lendas e falando sobre monumentos titânicos de uma arte engrandecida por tais façanhas. Apocalypse Now, por exemplo, é fenômeno único, um tour de force que jamais será repetido ou reproduzido pelos efeitos especiais de um James Cameron. Poucas vezes Hollywood foi tão longe com as suas imagens, tão verdadeira ao enquadrar o caos e o horror que leva um país a atacar o outro, e dentro dele, se desesperar. O diretor de O Poderoso Chefão, na década do seu mais famoso diamante, ainda estava com uma fome incontrolável de cinema, fome de contar a história mais ousada que ninguém mais seria louco de contar. E depois disso, não teve como não saciá-la.

    Baseado nos livros Despachos no Front e No Coração das Trevas, no auge da fracassada guerra do Vietnã, um coronel americano louco por poder se deserta do exército, e passa a comandar uma tropa de nativos para resistir a outros brancos invasores. O coronel Kurt (Marlon Brando) não é maluco por enxergar o imperialismo do seu povo e não aceitar sua manipulação, mas por reproduzi-lo nos vietnamitas por conta própria. Assim, uma missão saindo de Saigon visa localizar e exterminar Kurt nas profundezas das selvas de um país-manicômio, lar de um inferno na Terra devido à forte invasão “democrática” dos EUA. Helicópteros avançam ao som de Wagner numa cortina de fogo enquanto o Vietnã explode mas revida, não só com armas improvisadas nas mãos de civis, e sim com a loucura que volta como um bumerangue e atinge como um míssil a mentalidade cada vez mais fragilizada do capitão Willard (Martin Sheen) e seus recrutas. Se quem não fala inglês merecia morrer, a intolerância e a petulância dos americanos nunca sofreu por isso um carma e um trauma tão fortes igual aqui. Ninguém vai voltar pra casa, e se voltarem, nenhuma psicóloga vai lhes ajudar com os gritos daquelas crianças.

    Bem antes do coronel/ ditador Kurt finalmente expor sua face, num magnífico plano negro e alaranjado dentro de um purgatório conquistado por sua soberba de imperador, Coppola critica de forma visceral a política de invasão dos Estados Unidos através de suas consequências com os envolvidos, homens antes comuns e que perdem a moral e a sanidade servindo a pátria. Com toda a certeza pode-se averiguar que o Oscar de 1980 foi negado a Apocalypse Now por este ser dois dedos na ferida americana, potente demais na força de sua mensagem nada subliminar. Para atingir a experiência de uma catarse cinematográfica naturalista, Francis Ford Coppola quase se suicidou com as dificuldades no Vietnã, liderando uma tropa de atores e técnicos sob total pressão do governo local, com grana do próprio bolso financiando as filmagens, e um Marlon Brando impossível de se trabalhar junto (muito acima do peso, alcoólatra e relutante até o último segundo de viver na mata fechada para interpretar Kurt), além dos prejuízos financeiros pessoais e ao estúdio – o martírio nunca chegava ao fim, e os jornais já acusavam a aventura de O fracasso. O universo queria Coppola no sanatório, mas ele já estava dirigindo o seu.

    Hoje, quarenta anos depois e com várias versões do diretor, é um exagero aceitável afirmar que Apocalypse Now e Agonia e Glória, de Samuel Fuller, foram os últimos épicos de guerra vindos de Hollywood, cinemão em todos os aspectos, sujos e que nunca apelam a extravagâncias, com suas vaidades técnicas poderosamente bem aplicadas numa duração a qual nunca desejamos o fim. Steven Spielberg tentou em 1999 um feito parecido com o seu grande O Resgate do Soldado Ryan, e anos antes Oliver Stone tirou seu Platoon da manga, filme-propaganda americana e repleto de apologias irritantes que Spielberg romantizou até o talo com seu sentimentalismo divertido mas hipócrita (a bandeira americana dançando no vento ao som de fim de novela). A ironia mora, talvez, no fato de Trovão Tropical, a paródia meio esquecida de tudo isso feita por Ben Stiller, em 2008, ser bem mais interessante que toda essa panfletagem do Tio Sam. Coppola, se a fez, fez para subvertê-la sem medo. O mundo é um teatro regido por doidos que dormem mal, e esse foi aonde ninguém foi, ganhou Cannes e dinheiro nenhum, e quase se matou no carnaval pagão de criar a sua própria Monalisa de celuloide.

  • Crítica | Star Wars – Episódio IX: A Ascensão Skywalker

    Crítica | Star Wars – Episódio IX: A Ascensão Skywalker

    Não é de hoje que vinha sendo afirmado que Star Wars: A Ascensão Skywalker seria o último filme da saga da família Skywalker iniciada lá em 1977 com Uma Nova Esperança. Após uma bem sucedida trilogia marcada também por O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi, anos mais tarde, o criador da saga, George Lucas resolveu responder as questões e os por quês de seus filmes anteriores serem os episódios IV, V e VI, numa nova e contestadíssima trilogia, ao final dos anos 90, onde nos foi mostrado o nascimento do Império e de seu mais importante membro, Darth Vader. Os resultados dos episódios I, II e III não foi nada satisfatório. Mas os fãs sempre tinham algumas perguntas em mente: o que aconteceu após a derrota do Império? O que aconteceu com Luke Skywalker, Leia Organa e Han Solo? Essas perguntas foram respondidas por meios de livros autorizados por Lucas, mas nunca chegamos a ver nada na tela do cinema. E essa era a vontade de muitos, porém, não era a vontade do cineasta, que ao deixar essa enorme marca na história do cinema, praticamente parou de produzir e criar, se concentrando somente em seu próprio império, a Lucasfilm e a Industrial Light & Magic, além de empresas menores, todas elas praticamente criadas para Star Wars, pois na época, não havia quem fizesse o que estava arquitetado na mente do diretor. Foi então que em 2012, uma bomba foi anunciada: A Disney comprou a Lucasfilm e, junto do anúncio, trouxe consigo o renascimento da franquia com uma nova trilogia com o episódio VII já programado para 2015 e mais, com o aclamado diretor J.J. Abrams na cadeira de direção e o aguardadíssimo retorno de Mark Hamill, Carrie Fisher e Harrison Ford. Muita coisa aconteceu desde o anúncio até aqui. Prazos curtíssimos, roteiros não aprovados, troca do time de roteiristas e troca de diretores. Após um correto filme (mas que deixou a desejar em alguns pontos), como foi O Despertar da Força, o oitavo capítulo, Os Últimos Jedi dividiu os fãs. Rian Johnson ousou muito trazendo uma visão bem peculiar sobre aquele universo e coube a J. J. Abrams retornar à direção com a clara missão de tentar “salvar” a franquia, buscando trazer  para o lado da luz aqueles fãs que ficaram extremamente descontentes com o filme anterior. É esse o propósito de A Ascensão Skywalker.

    Ao término de Os Últimos Jedi, podemos perceber que a Primeira Ordem dizimou quase que de uma vez por todas a Resistência. Não se sabe exatamente quanto tempo e passou da Batalha de Crait para o início do filme, mas a película já se inicia com um sanguinário Kylo Ren (Adam Driver) indo em busca de uma misteriosa e horripilante pista, enquanto Poe Dameron (Oscar Isaac) e Finn (John Boyega) estão numa perigosa missão para conseguir coletar informações importantíssimas vazadas por um espião infiltrado na Primeira Ordem. Por pouco a missão quase dá errado e Rey (Daisy Ridley) é duramente criticada por Poe, já que ela preferiu ficar em terra em treinamento Jedi sob os olhos da General Leia (Carrie Fisher). Rey está afobada, com sérios problemas de foco, o que interfere diretamente em seu treinamento e no seu julgamento por todo o transcorrer da fita, sendo que as informações coletadas são profundamente aterrorizantes, pois mostram um plano para um retorno triunfal do Império e a destruição de toda a galáxia.

    O Despertar da Força e Os Últimos Jedi tiveram tempo suficiente para trabalhar o desenvolvimento do trio principal e isso não acontece no novo episódio da saga, uma vez que o filme já começa frenético e urgente, sem tempo para que o expectador tenha uma pausa para respirar, até mesmo porque, com o perdão do trocadilho, os momentos de respiro são de tirar o fôlego. A propósito, algumas das teorias apresentadas são verdadeiras, contudo, acontecem de uma maneira diferente que aquele que assiste espera, deixando A Ascensão Skywalker com aquela impressão de ser um filme que busca o sorriso (e o choro) a cada momento.

    O filme é bem diferente de seus antecessores e muito mais em relação ao anterior, principalmente no que diz respeito ao tom e à fotografia. “Skywalker” é um filme bem mais colorido e leve, com vários momentos de humor e, curiosamente, equilibra bem com o contraste da violência, já que, talvez, seja o filme mais violento da franquia. Como dito no início deste texto, Os Últimos Jedi se desviou muito do “caminho” que a franquia costuma percorrer e aqui nos é mostrado as claras intenções de corrigir o curso e muitas vezes chega a soar forçado, sendo que em outras, parece que o filme é um gigante boneco de vodu de Rian Johnson, onde ele é alfinetado vez ou outra. Mas é importante deixar claro que não estraga em momento algum a experiência, e o sentimento, sinceramente, é de sorrir de maneira sádica ao experienciar certas situações lá apresentadas. Importante destacar que Abrams busca corrigir até seus próprios erros cometidos em O Despertar da Força.

    É interessante como J. J. Abrams e Chris Terrio, ao escreverem o filme, se preocuparam em fazer uma história em que o quarteto principal (Rey, Ren, Finn e Poe) seja o destaque. Se o fã tomar a consciência de que o filme é deles e não de Han, Luke e Leia, as coisas fluem com muito mais leveza. Tanto é verdade que, embora tardiamente, se trata da primeira aventura onde Rey, Finn e Poe aparecem em tela ao mesmo tempo, já que Rey só havia conhecido Poe ao final do filme anterior e junto deles estão novos personagens como Zorii Bliss, vivida por Keri Russel e Jannah, vivida por Naomie Ackie. Os droides que ficaram bastante sumidos tiveram participações significativas, principalmente quando se trata de C-3PO, brilhantemente vivido por Anthony Daniels, o único a gravar todos os filmes. Podemos sentir que A Ascensão Skywalker passa a ter novamente aquele aspecto familiar de amigos que se unem na batalha do bem contra o mal, algo que ficou bem definido e muito elogiado na trilogia original. O resgate desse sentimento é extremamente satisfatório.

    É inegável que o filme ainda divide opiniões, principalmente com relação à ameaça do Imperador Palpatine (Ian McDiarmid), em sua presença real e assustadora e os rumos tomados pelos personagens, principalmente o caminho de Rey e Kylo Ren, cuja química estabelecida no filme anterior continua sendo bastante explorada, mas de uma maneira que pode fazer com que o fã mais hardcore não aprecie, mas a questão é que o filme é desenvolvido em terreno seguro, sendo totalmente burocrático e em algumas vezes se espelhando em Vingadores: Ultimato.

    Diversos tipos de emoções definem Star Wars: A Ascensão Skywalker. Um filme que não só fecha a saga da família Skywalker, mas coloca um ponto final, fechando um capítulo importantíssimo na história do cinema e na história da cultura pop mundial. Obviamente a Disney tem planos ambiciosos para a franquia, como o já bem sucedido The Mandalorian, além de projetos futuros como a série de Obi-Wan Kenobi, que será protagonizada por Ewan McGregor, além de novas trilogias de longas metragens que devem focar em épocas como a da Velha República. Star Wars cresceu tanto que quase foi vítima de seu próprio crescimento e a nova trilogia, mesmo dentro de suas próprias limitações, nos permite agradecer e dizer “obrigado” por tudo isso ter existido.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

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  • Star Wars: A Ascensão Skywalker | Comentários Sobre o Trailer Final

    Star Wars: A Ascensão Skywalker | Comentários Sobre o Trailer Final

    E o trailer final de Star Wars: A Ascensão Skywalker, o nono capítulo da maior franquia da história do cinema, finalmente foi ao ar.

    O trailer vinha sendo aguardado com ansiedade pelos fãs após o bombástico teaser especial lançado durante a D-23 deste ano, que trazia uma imagem de Rey usando roupas pretas e portando um sabre de luz duplo de cores vermelhas.

    A expectativa era que esse trailer final mostrasse mais dessa Rey do Lado Negro, ou que de fato, Palpatine desse finalmente as caras.

    Mas, não foi isso o que aconteceu. De qualquer forma, o último trailer da saga que conta a história da família Skywalker foi lindo.

    Logo no início das imagens vemos Rey (Daisy Ridley), deixando no chão um capacete enquanto corre por uma floresta e um droid tenta alvejar suas costas, sem sucesso. O capacete e o droid são muito semelhantes aos usados por Luke no início de seu treinamento. Pelas imagens, podemos perceber que a jovem aprendiz já domina a Força consideravelmente. Chama a atenção uma faixa vermelha que ela usa numa das mãos. Essa faixa já havia sido mostrada no trailer anterior.

    Enquanto ouvimos a voz de Finn, dizendo que “é um instinto, uma sensação” e que a Força os reuniu, vemos Rey dentro de uns escombros, muito semelhantes ao destroyer imperial de Jakku em O Despertar da Força. Muito provável que este seja o interior da segunda Estrela da Morte. Vemos também o próprio Finn (John Boyega) num planeta desértico.

    A imagem corta para uma reunião que provavelmente acontece numa base dos rebeldes que deve ser durante uma pré-batalha, talvez a batalha mais importante do filme. Nesta cena, vemos Lando Calrissian (vivido novamente por Billy Dee Williams), Poe Dameron (Oscar Isaac) e C-3PO (Anthony Daniels) e muitos outros personagens, distribuídos entre pilotos e aparentemente civis. As imagens são rápidas e enquanto ouvimos a voz de Poe, dizendo que eles não estão sozinhos e que as pessoas lutarão se eles as liderarem, podemos ver a primeira aparição de Rose (Kelly Marie Tran), que aparece junto do personagem vivido por Dominic Monaghan, e vemos também, no planeta floresta a nave Tantive IV, além de Chewie (Joonas Suotamo), Poe e Finn, junto de uma X-Wing.

    Vemos novamente um novo trecho de Rey do lado de fora dos escombros da Estrela da Morte, com seu sabre de luz em punho aguardando ansiosamente para batalha, quando vemos pela primeira vez Kylo Ren (Adam Driver) saindo de dentro de uma onda que acabou de quebrar. As belas imagens são embaladas pela voz de Rey dizendo que as pessoas dizem que a conhecem, mas que na verdade, ninguém a conhece, para em seguida a voz de Ren proferir que ele a conhece. Essas falas mexeram com o público, não porque existe a possibilidade dos dois ficarem juntos, mas porque talvez seja do momento de uma possível redenção de Ben Solo em tentar salvar Rey, algo que será abordado em outro texto.

    Aí começam a surgir as novidades, como vários caças Tie se dirigindo a uma monstruosa base que parece que fica em um enorme iceberg. A imagem do gelo refletindo na água é maravilhosa, um grande trono de pedra com vários tentáculos, muito semelhante à tiara usada pelo Máscara da Morte, Cavaleiro de Câncer, de Os Cavaleiros do Zodíaco, e um antigo destroyer imperial saindo de dentro da água. A julgar pelo excesso de raios em tela, tanto pelas claridades na sala do trono, quanto pelas imagens do destroyer, é muito possível que seja o mesmo local onde a base iceberg se encontra. Ouvimos também pela primeira vez a maléfica voz de Palpatine (Ian McDiarmid), que diz que esperou muito tempo e que agora essa união será a destruição. Enquanto ouvimos Palpatine, vemos outras imagens como a Millennium Falcon se juntando e liderando uma gigantesca armada, onde podemos ver naves dos mais diferentes modelos, como naves da antiga Aliança Rebelde, naves separatistas, dentre muitas outras, inclusive a Fantasma, de Star Wars: Rebels, que aparece claramente ao lado da Falcon, pronta para a batalha. A nave que anteriormente havia aparecido como um easter egg de Rogue One, finalmente deu as caras e aumentou consideravelmente a possibilidade de vermos na tela grande, mesmo que por alguns segundos, seus integrantes.

    Depois um momento de partir o coração e que levou a maior dos fãs às lágrimas. C-3PO está sofrendo uma manutenção na região de sua cabeça. Ao ser perguntando por Poe o que ele está fazendo, o robô diz que está olhando para seus amigos pela última vez. Rey, e Finn também estão em cena e todos com cara de tristeza. É muito provável que, por algum motivo “Threepio” precisa alterar seu protocolo diplomático, o que justificaria seus olhos vermelhos mostrados no teaser anterior. Na cena, também vemos pela primeira vez a personagem de Keri Russel, a mascarada Zorri Bliss.

    A trilha sonora maravilhosa explode em tela e vemos mais e mais cenas épicas, como Chewie, Finn e Poe dizimando Stormtroopers, um caloroso abraço de Leia (Carrie Fisher) em Rey, enquanto ouvimos Luke Skywalker dizendo que enfrentar o medo é o destino de um Jedi. Vemos Lando comandando a Falcon ao lado de Chewie, além de trechos da enorme batalha que deve ser tão épica quanto à batalha de Coruscant, em A Vingança dos Sith. Sobre a batalha, como dito anteriormente, poderemos matar a saudade de diversas naves da trilogia clássica, já que veremos Y-Wings, B-Wings, entre outras em tela.

    A imagem corta para Rey e Kylo Ren na sala do trono do Imperador mostrada em O Retorno de Jedi, onde Luke enfrenta Darth Vader, vemos também, numa espécie de contraste os mesmos personagens destruindo um artefato, que provavelmente é o totem onde Kylo Ren mantém o capacete de Vader. Na verdade, não se sabe se eles destruíram o artefato juntos ou se foi Rey, enquanto Ren tentava proteger o totem. Curiosamente, é possível ver Rey empunhando uma adaga em sua outra mão. E vemos também um relance de Palpatine que parece se movimentar em alguma cadeira flutuante em direção à Rey, enquanto novamente ouvimos Luke dizer “a Força estará com você”, enquanto Leia completa com um “sempre”.

    O trailer cumpriu o seu papel: é lindo. O curioso é que mostra tudo, mas, em contrapartida, não mostra nada. As imagens que vemos ali, acabam por colocar uma pá de cal em algumas teorias, mas atiçam a curiosidade dos fãs sobre como será esse desfecho, algo que discutiremos em breve aqui no Vortex Cultural.

    Só sabemos que será grandioso. A impressão que o trailer deixou é que Star Wars: A Ascensão Skywalker será visualmente muito bonito e épico, no sentido de escala. Tudo parece ser enorme, com bastante informação em tela.

    O filme estreia no Brasil em 19/12/2019 e os ingressos já estão à venda.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

    Crítica | Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

    Em 2008, após um hiato de 19 anos, finalmente Steven Spielberg e Harrison Ford retornariam a franquia do doutor, professor e arqueólogo Henry Jones Junior. Indiana Jones e o Reino da Caveira da Cristal parece ter uma ingerência muito maior de George Lucas, argumentista do filme e criador do personagem.

    Na trama, o velho Indiana é pego em uma emboscada, junto ao seu amigo George “Mac” McHale (Ray Winstone), que ajudou o aventureiro a espionar os soviéticos – o ano era 1957. O herói acaba raptado por um grupo de agentes russos que se infiltraram no Hangar 51 em Nevada, e tinha por objetivo pôr as mãos nos restos mortais de uma criatura estranha, que dez anos antes, foi vista em Roswell, Novo México. Para muitos, o tema extra-terrestre não combinava com as histórias de Indiana Jones, mas diante do montante de problemas, isso era o de menos.

    Ford está de fato velho demais para cenas de ação que demandam demais de sua energia. Na época da premiere ele já tinha 66 anos, mas apesar  de claramente não ter mais fôlego para cenas que exigem do seu bem estar físico, ele ainda mantém toda a aura de malandragem e autossuficiência cômica, inclusive conseguindo sobreviver a um teste de bomba nuclear entrando em uma geladeira revestida por chumbo, em uma manobra que de acordo com algumas pseudo-ciências, poderia ou não funcionar.

    Da parte da chamada velha guarda, ainda há um bom desempenho, mas dos personagens mais moços há uma clara defasagem no quesito construção de ideal. Shia LaBeouf faz Mutt Williams, um jovem motociclista que deveria ser o herdeiro do legado do herói, mas esbarra na falta de carisma de seu personagem, mesmo com seu intérprete sendo o carro chefe do elenco de outra franquia que Spielberg comandava (Transformers). A vilã russa de Cate Blanchett mal funciona, sua Irina Spalko é uma comunista falsa, caricata e interesseira, assim como eram os nazistas na trilogia original.

    Toda a parte de efeitos especiais também está defasada, e quase toda parte natural do filme soa bizarramente artificial, seja as perseguições com os carros ou os macacos saguis que ensinam o filho de Indy a balançar nos cipós. Algo realmente estranho aconteceu com a produção, pois David Koepp não é um roteirista ruim, fez Missão: Impossível, Jurassic Park e Homem-Aranha, no entanto, aqui ele claramente não conseguiu organizar um roteiro que salvasse as péssimas idéias que George Lucas tinha desde 1999 em Star Wars: A Ameaça Fantasma. A solução para a vilã Irina é terrível, a forma como as caveiras de cristal se mostram faz lembrar demais o desfecho de O Retorno da Múmia – retribuindo a referencia, já que o personagem de Brendan Fraser claramente é um Indiana Jones dos anos 90. A cena do casamento é péssima, pontuada inclusive com um momento simbólico, onde começa a tocar o tema do herói com o chapéu de Jones caindo sobre os pés de seu filho e com Ford retirando das mãos de Lebouf, negando a ele a ideia de continuidade, o que aliás pode ter sido uma boa alternativa, visto o equívoco completo da tentativa de continuações para o personagem. Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal consegue ser mais equivocado até que As Aventuras do Jovem Indiana Jones.

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  • Crítica | Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida

    Crítica | Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida

    O clássico que finalmente trouxe a parceria de George Lucas e Steven Spielberg a luz começa com um episódio corriqueiro e engraçado da vida do Indiana Jones vivido por Harrison Ford. Ao tentar pegar o artefato Ídolo da Fertilidade, o professor e arqueólogo enfrenta uma série de armadilhas no templo sarado que servia de esconderijo para o artefato. Toda a sequência de ação é muito competente em nos primeiros momentos de exibição mostrar qual é o espírito e o caráter de Caçadores da Arca Perdida, um filme ao estilo das matinês dos anos quarenta e cinqüenta, que conta com elementos de literatura pulp.

    John Williams é um icônico compositor e o tema de Indy deve ser ainda mais acertado e lembrado como icônico que o visto e ouvido em Star Wars: Uma Nova Esperança, Star Wars: O Império Contra Ataca, Superman e Tubarão, mesmo sendo bastante simples. A altura de 1981, Guerra nas Estrelas estava em hiato, a espera do terceiro capitulo da trilogia clássica, O Retorno de Jedi, mas semelhante ao que se fazia na história dos Skywalker, aqui o opositor escolhido por Lucas também é voltado para o avanço imperialista da extrema direita, dessa vez não disfarçando o causo com o Império Intergaláctico, mas sim chamando pelo nome, os alemães nazistas, que descobriram a localização um objeto religioso que muitos achavam ser só uma lenda.

    Ford está solto, diferente do que o mesmo comumente reclamava de Han Solo aqui ele pode mostrar algumas facetas a mais e não um predominante como é o do anti herói cafajeste super obvio. Ele é incrédulo de que a jornada que fará resultará em algo realmente no encontro com algo divino de fato, além de conseguir representar bem o professor por quem suas alunas suspiram, além é claro de reproduzir o clichê do amor proibido para alguém do passado, no caso, Marion, a personagem feminina e forte de Karen Allen, uma mulher que claramente não é uma donzela em perigo por tempo integral.

    A introdução dos personagens periféricos é muito boa, pois é preciso um momento curto deles para se entender como funciona seu modo de pensar e agir, e nisso, o roteiro de Lawrence Kasdan beira a perfeição, ao aparar boas partes do argumento de Lucas e Phill Kaufman. Há uma sensação constante de perigo com Indy e seus amigos, todo momento que a câmera os flagra há uma apreensão sobre como será o desenrolar da historia para eles, seja com Jones enfrentando sua fobia a cobras, ou Marion como refém de Belloq (Paul Freeman), um dos exploradores que se uniu (de certa forma) as forças nazistas, aliás, apesar de escapista a historia faz questão de não parecer tão maniqueísta, uma vez que os malfeitores não são só os soldados de Hitler.

    Para salvar a sua amada, Jones ameaça bombardear a arca perdida, mas é demovido por seu opositor, que retifica o fato obvio de que ele trabalhou a vida inteira para achar algo tão raro assim, mas o resultado final de quem contempla o que está dentro da Arca é trágico, em uma alusão obvia ao cristianismo e também a volúpia do homem por tentar superar o Divino e tentar resolver todos os problemas da humanidade com uma passe de mágica ou com um simples gesto. A conclusão que se chega é de que não há caminho fácil, tampouco soluções instantâneas.

    A discussão não é exatamente sobre evangelho ou sobre o poder de Jeová / Yhwh, sequer há menção de se debater o que foi construído em torno desses mitos. O poder que emana do objeto inanimado não é dito com todas as letras como sendo espiritual, e sim como um mistério que ao menos até aquele tempo, não é totalmente solucionável, e como trama que busca ser um retrato mais fantasioso que um arqueólogo faz, Caçadores da Arca Perdida beira a perfeição, pois mostra  que a busca acadêmica ou científico pode evidentemente resolver alguns mistérios, enquanto tantos outros aparentemente são instituídos para serem solucionados com tempo e investigações que durarão por vidas e gerações de muitos estudiosos, e essa sensação ganha ainda mais força com a cena que precede os créditos, onde se vê um galpão com inúmeros artefatos guardados, todos a espera de protagonizarem uma ou mais aventuras de Indiana e dos seus.

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  • Crítica | Star Wars – Episódio VIII: Os Últimos Jedi

    Crítica | Star Wars – Episódio VIII: Os Últimos Jedi

    No final de outubro de 2012, a Disney anunciou a compra do grupo Lucasfilm e, de cara, anunciou uma nova trilogia e o retorno do cast original para concluir a saga da família Skywalker criada por George Lucas. Coube a J.J. Abrams a dura tarefa de colocar as primeiras marchas no projeto, dirigindo e escrevendo (aqui, com o auxílio de Lawrence Kasdan), o sétimo episódio da franquia, O Despertar da Força. A dura tarefa da qual me refiro é que, por uma questão de mercado, talvez pura e simplesmente, o Episódio VII, não deveria agradar somente os fãs da saga, que são aqueles que fizeram de Star Wars o maior fenômeno da cultura pop desde o século passado, mas sim, angariar novos fãs, dos mais novos aos mais velhos. Com isso, a decisão de praticamente espelhar O Despertar da Força com Uma Nova Esperança, algo bastante controverso, diga-se, foi a decisão mais acertada. Porque agora faz todo sentido.

    O universo de Star Wars é extremamente rico, e com o novo capítulo entregue e direcionado por Abrams, fez com que o diretor Rian Johnson pudesse explorar uma enorme tela em branco com os pincéis entregues em O Despertar da Força, saindo do usual, entregando um filme diferente, mas que ainda assim, traz aquela sensação de estar em casa.

    Star Wars: Os Últimos Jedi parte exatamente de onde o anterior parou. Poe Dameron (Oscar Isaac) se engaja numa missão quase suicida, liderada pela General Leia (Carrie Fisher), com a finalidade de dar mais tempo para a frota da Resistência fugir da temível Primeira Ordem, que ganhou ainda mais força após a destruição da República no filme anterior. A missão gera o argumento principal da trama e abre espaço para que o elenco principal se separe em suas missões pessoais, assim como O Ataque dos Clones e O Império Contra-Ataca (os segundos capítulos de suas respectivas trilogias), liberando o caminho para as boas participações dos novos personagens, como a Vice Almirante Holdo (Laura Dern, se doando ao máximo), Rose (a simpática Kelly Marie Tran) e DJ (Benicio Del Toro). Enquanto isso, Rey (Daisy Ridley), ainda extremamente preocupada sobre suas origens e parentescos, tenta convencer o recluso e desacreditado mestre Jedi, Luke Skywalker (Mark Hamill), a treiná-la e a ajudá-la a derrotar a Primeira Ordem. Já no lado vilanesco, o cada vez mais caricato, General Hux (Domhnall Gleeson), continua sua rivalidade com Kylo Ren (Adam Driver), que vem sofrendo pesadas retaliações de seu mestre, o Supremo Líder Snoke (Andy Serkis). Importante ressaltar que tanto Driver quanto Gleeson (que tiveram antes suas atuações contestadas) se destacaram em seus papeis, merecendo reconhecimento aqui.

    Obviamente, o retratado no parágrafo acima é apenas uma projeção bem longínqua daquilo que aconteceu no filme, uma vez que o segredo com relação ao enredo e demais tramas paralelas foi tão grande que nem os atores foram a autorizados a revelar qualquer coisa por menor que seja.

    O desejo de Johnson para com esse filme era que o espectador pudesse ter uma experiência total, provando todas as sensações que o filme oferece e causa. E é justamente esse o maior mérito do diretor, que ao escrever uma história, ao longo de suas longas duas horas e meia de fita, focou em conexões muito fortes entre os personagens, dando o destaque individual de cada um de maneira bem justa, além de conseguir fazer com que aquele que assistia experimentasse as mais diversas sensações do primeiro ao último ato. O diretor brinca o tempo todo com o espectador: coloca desconfiança onde se deveria haver confiança, lealdade onde deveria ser o contrário, além de diversas suspeitas com relação às atitudes de diversos personagens, além de plot twists fortes, certeiros e totalmente dentro do contexto, o que faz com que não soem gratuitos em momento algum. Algo que merece uma atenção especial é a atuação de Mark Hamill, já que vemos Luke Skywalker dialogando pela primeira vez desde O Retorno de Jedi. Em muitos momentos é possível viajar no tempo e ouvir a voz do “bom e velho jovem Luke” da trilogia original, contrastando com o homem que se tornou.

    Toda esse mix de experiência faz com que o Episódio VIII tenha, ao menos, cinco ou seis momentos que, se não forem os melhores de toda a franquia, estão entre os melhores. São momentos que vão causar gritos, aplausos, risos (muitos deles) e choros dentro da sala do cinema.

    Além do elenco totalmente entregue ser causador de parte dessas sensações, outras delas são causadas pelas sensacionais batalhas, cenas de luta e diálogos que vão fazer você se arrepiar. Não é a toa que o planeta conhecido como Crait foi o escolhido para ilustrar os temas dos pôsteres de divulgação do filme, sempre vermelhos, contrastando com o branco, o que ilustra de maneira lúdica e abstrata, as “pinturas” de Johnson mencionadas parágrafos acima. Tudo muito bonito e bem feito, juntamente, claro, da fantástica trilha sonora, assinada, mais uma vez, pelo mestre John Williams, que conseguiu cravar em nossas mentes os novos temas apresentados no filme anterior, complementando com os clássicos que já conhecemos desde 1977.

    Star Wars: Os Últimos Jedi é o resultado do cérebro megalomaníaco de Johnson, aliado pelo amor que possui pela franquia e o resultado não poderia ser melhor, uma vez que o filme tem tudo que o gênero precisa, na dose certa. Agora, o desafio maior é preparar o terreno para o encerramento na história que marcará o retorno de J.J. Abrams na direção, após o afastamento de Colin Trevorow. Ainda há muitas pontas soltas e várias perguntas que só serão respondidas em 2019. Até lá olharemos para frente, sempre buscando o horizonte, assim como Luke Skywalker.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Star Wars: Episódio VIII | Comentamos o novo trailer de Os Últimos Jedi

    Star Wars: Episódio VIII | Comentamos o novo trailer de Os Últimos Jedi

    Rian Johnson bem que tentou avisar, mas aposto que ninguém deu ouvidos e muita gente se arrependeu. Quando perguntado no Twitter sobre o novo trailer, o diretor de Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi foi categórico: “estou legitimamente dividido. Se você quiser vir limpo, absolutamente o evite. Mas está booooooooom…”. Ou seja, o fã deveria evitar assistir ao trailer se quisesse ter uma experiência emocional completa. Não adiantou e o trailer, em pouco mais de dois minutos e meio rachou o planeta nas mais variadas sensações. Só nos resta saber se a prévia entregou demais a trama ou, se no fundo, a Lucasfilm estava apenas jogando com as palavras e com as imagens. Nossa aposta é a segunda opção, mas ainda assim, a sensação de cansaço pós trailer existe e perdura.

    Logo de início vemos um plano mostrando Kylo Ren (Adam Driver), de costas, observando as instalações da Primeira Ordem. Nota-se uma estranha semelhança com Anakin Skywalker. Além deste plano, demais imagens, como a primeira aparição dos andadores, que são uma evolução dos AT-AT de O Império Contra-Ataca se preparando pra batalha. Enquanto isso, a voz em off do Supremo Líder Snoke (Andy Serkis) dizendo para alguém que quando encontrou aquela pessoa, viu nela um poder bruto e incontrolável e que além disso, algo verdadeiramente especial. A imagem corta para Rey (Daisy Ridley) acionando o sabre de luz e as imagens a partir daí mostram ela entregado o sabre a Luke Skywalker (Mark Hamill), onde também uma voz em off da personagem ecoa entre as imagens, dizendo que algo esteve sempre dentro dela e que agora essa coisa despertou e ela precisa de ajuda. Enquanto essas palavras são proferidas, vemos imagens de Rey praticando com o sabre e visitando uma árvore, que, aparentemente é uma árvore da Força, algo que já foi discutido em Rebels. Mas o que mais assusta é quando a jovem aprendiz, durante uma meditação, consegue rachar o local de pedra em que Luke e se encontram, deixando o mestre Jedi apavorado.

    Não dá pra saber ao certo em que momento do filme isso acontece e é muito provável que essas cenas não se comunicam entre si, mas Luke, com um olhar preocupante, aparece dizendo que já viu esse poder bruto uma vez, enquanto imagens de flashback do ataque de Kylo Ren ao templo Jedi de Luke aparecem na tela. Skywalker completa dizendo que aquele poder não o assustou na época, mas que agora o assusta. As imagens se voltam para Kylo Ren, onde o jovem, num momento shakesperiano, olha para sua máscara para, imediatamente, destruí-la na parede com todo ódio possível. Enquanto isso, sua voz, também em off, fala sobre deixar o passado morrer, matá-lo se for preciso, sendo o único jeito de cumprir o seu destino. Outro momento assustador é que enquanto Ren profere as palavras, ele aparece pilotando de forma habilidosa seu caça Tie numa incursão contra a Resistência, outro momento que deve ser um dos 3 grandes do filme.

    Kylo percebe que Leia (Carrie Fisher) está na nave e ela o confronta com a Força. Podemos perceber claramente que o filho da general fica abatido, mas ainda assim, não o suficiente para travar a arma na nave e colocar o dedo sobre o botão de disparo, o que deixa Kylo e Leia agoniados. Vemos em seguida Chewbacca à bordo da Millennium Falcon, fugindo de caças Tie dentro de uma caverna bem apertada (algo já bem estabelecido na franquia) para em seguida vermos imagens de Poe Dameron (Oscar Isaac) provavelmente estando junto da mesma frota em que Leia se encontra, onde o ótimo piloto diz em off que eles são a faísca que acenderá a chama que destruirá a Primeira Ordem e o que vemos a seguir é uma linda imagem onde Finn (John Boyega) e Capitã Phasma (Gwendoline Christie) partem para cima um do outro. A fotografia desse trecho é algo fora do comum.

    O trailer continua com imagens bem mais rápidas da batalha que se dá no espaço, de Rey numa caverna, dentro do refúgio de Luke, além de trechos da batalha no deserto do planeta Crait, onde os AT-AT se preparavam. Podemos ouvir Luke dizendo (provavelmente para Rey) que as coisas não vão acontecer do jeito que ela imagina, para em seguida Snoke aparecer pela primeira vez em carne e osso, enquanto tortura Rey com o uso da Força, dizendo para ela completar seu destino. E aí acontece o que pode ser a maior pegadinha do trailer. Rey diz que precisa de alguém que mostre o lugar dela nisso tudo para Kylo Ren estender a mão para ela.

    De fato, o primeiro trailer completo de Os Últimos Jedi é bastante obscuro e enche a cabeça do fã de dúvidas, anseios e interrogações. Mas, analisando friamente as imagens, a única conclusão é que Rey e Kylo são os dois de suas gerações e ponto. A Força é extremamente poderosa neles e Snoke, por algum motivo, sentiu isso ao descobrir Kylo Ren, remetendo à Rey como algo especial, ou vice-versa, uma vez que Snoke pode ter chegado em Kylo com o único objetivo de chegar, na verdade, em Rey.

    Outro ponto que se deve ter bastante atenção é que Luke parece sim estar assustado com o tamanho do poder de Rey, remetendo, portanto, ao sentimento que teve quando seu templo Jedi foi destruído. É bastante provável que ele estivesse falando de Kylo (naquela altura, Ben, seu sobrinho) e que dali para frente, ao conhecer o poder de Rey, se negar a dar continuidade ao treinamento da aprendiz por ter falhado uma vez. A julgar pelo que Snoke fala sobre o poder bruto e incontrolável que veio com uma agradável surpresa e pelo fato de Luke ter visto tamanho poder duas vezes, se tem a conclusão que Rey e Kylo possuem uma forte conexão um com o outro, o que pode indicar algum possível parentesco.

    No que diz respeito ao emotivo momento entre Leia e Kylo, acredita-se que o jovem cavaleiro, ao hesitar em atirar na nave de sua mãe (sendo que já matou o próprio pai), não tomará ação alguma e isso, de certa forma, poderá permitir que Kylo tenha uma possível salvação para o lado da luz em contrapartida à Rey, que poderá ceder ao lado negro da Força após ser capturada. Mas, ainda assim, com relação ao final do trailer, é muito provável que a jovem estivesse falando com Luke sobre precisar de alguém que mostre o lugar dela nisso tudo, pois podemos perceber que tanto a luz, quanto o cenário em que Kylo Ren aparece estendendo sua mão são levemente diferentes em relação a onde Rey se encontra.

    Como a Lucasfilm tem seguido um padrão com a franquia, acredita-se que um segundo trailer poderá ir ao ar um tempo antes da estreia do filme.

    Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi chega no Brasil dia 14 de dezembro de 2017.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Blade Runner 2049

    Crítica | Blade Runner 2049

    Havia muita expectativa em relação a Blade Runner 2049, fosse pelo óbvio fato de Blade Runner – O Caçador de Androides ser um clássico absoluto, injustiçado pelos produtores da Warner Bros à época, ou pelo fato da de Dennis Villeneuve,  uma promessa de grande cineasta desde o começo de sua carreira, assumir a direção. A realidade é que a continuação, lançada 35 anos após o primeiro filme, tenta expandir o conceito pensado por Hampton Fancher e David Webb Peoples, roteiristas do original, utilizando com maior vigor os temas de Phillip K. Dick.

    A história é contada através do olhar do caçador KD6.3-7, ou simplesmente K, vivido por Ryan Gosling. Desde o começo a trama informa que se trata de um replicante mais avançado que os modelos Nexus, da Tyrell Corporation. Uma das criações de Wallace (Jared Leto), um novo eugenista que se valeu dos espólios de seu antecessor para, basicamente, criar outros replicantes, supostamente menos agressivos e predatórios que os anteriores. Parte da base narrativa passa também por Luv (Sylvia Hoeks), um dos modelos mais avançados dessa era.

    K vive sozinho, com uma inteligência artificial holográfica, interpretada por Ana de Armas. O conceito por trás dessa tecnologia e identidade serve para contrapor a coisificação ocorrida com Rachel no primeiro Blade Runner, elevando a discussão para um tema mais progressista, quase significando um pedido de desculpas pela atitude de Deckard (Harrison Ford) ao forçar a replicante a dormir com ele. É a partir das discussões com a holografia que K passa a sonhar com upgrades em seu destino, com sonhos envaidecidos, que poem em cheque a questão desses modelos terem alma ou não.

    A direção de arte tem atenção as referências do primeiro filme, relembrando até mesmo o terrível spin off  Soldado do Futuro em alguns momentos. A tecnologia retro e suja insere a sequência na mesma tônica do primeiro filme, sem exagero e nem fan service. Parte da construção primorosa desse retorno ao universo de Dick é culpa de Roger Deakins, que retorna ao trabalho com Villeneuve para apresentar enquadramentos grandiosos, valorizando a utilização de efeitos práticos. Tudo no cenário tem textura e realismo impressionante.

    Em tempos de Atômica e John Wick, é natural que haja uma cobrança por lutas mais realistas. Não é o caso em 2049, já que os personagens são super humano. Assim, os embates físicos são organizados com golpes secos e certeiros, fato que valoriza também o roteiro e as cenas. A trilha de Benjamin Wallfisch e Hans Zimmer segue a mesma linha de Vangelis, ainda que nos momentos em que a música interfere na trama não sejam tão brilhantes.

    A persona de K lembra muito mais o Deckard de Androides Sonham com Ovelhas Eletrônicas do que o Deckard de Ford no filme de 1982, em especial por ele não ter a dúvida sobre sua identidade genética. Todos os anseios do personagem são próximos de suas posses eletrônicas, seja na relação que tem com a inteligência artificial Joi, como também na necessidade de fazer upgrades no sistema. A fé que o personagem põe no discurso programado da inteligência, nos faz lembrar também a crença do Deckard original de que sua vida melhoraria graças ao animal artificial que compraria, uma vez que a evolução tecnológica é um dos principais motes do livro de Dick.

    O roteiro de Fancher e Michael Green levanta questões filosóficas diferentes do original, em especial no embate entre o legado de Tyrell e a vaidade humana como ponto primordial da vida, mesmo que a inorgânica. O desfecho de K e Deckard gera  discussões válidas, que levam em conta o preço da liberdade e o esforço para travar uma guerra por ela. De certa forma, o filme remonta a discussão ocorrida em um episódio de Jornada nas Estrelas: a Nova Geração, a respeito da individualidade do androide positrônico Data, analisando suas liberdades e escolhas. Caso haja de fato a exploração do cliffhanger de Blade Runner 2049 com continuações vindouras, há um valido argumento para uma sequência. Porém, há chances delas falharem como o péssimo Matrix Revolutions. Como obra fechada, o filme segue de maneira criativa e inspirada, unindo-se com qualidade aos pontos inteligentes do clássico.

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  • Crítica | Loucuras de Verão

    Crítica | Loucuras de Verão

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    Trazendo à tona o ideário adolescente estudantil, repleto de descobertas sobre o funcionamento da vida, Loucuras de Verão (ou American Grafitti) é uma produção conjunta da Lucasfilm e Copolla CO, orquestrada por George Lucas quatro anos antes de seu sucesso indiscutível em Guerra nas Estrelas, e que se passa no ano de 1962, tratando com saudosismo o enfoque na década anterior à produção do filme.

    O roteiro de Lucas, Gloria Katz e Williard Huyck mostra jovens no início de suas carreiras amorosas e profissionais, dando vazão a uma ingenuidade típica dessa fase da vida, com um espaço enorme para inocência típica da descompromissada curtição de uma vida ainda não lotada de preocupações ordinárias e rotineiras.

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    A trilha sonora respira classicismo, graças ao caráter de Rockabilly que evoca. Os personagens são genéricos, e as atitudes que tomam para si quase sempre tangenciam pequenos atos de rebeldia, ainda que sejam bastante pueris, como a tentativa de burlar a lei comprando bebidas alcoólicas mesmo sendo menores de idade.

    Uma das obsessões do diretor, largamente exibidas em seu longa, é seu amor por carros, com uma longa exposição de espécimes clássicos, fator este que seria também explorado em outros produtos da Lucasfilm, como Indiana Jones e a trilogia clássica de Guerra nas Estrelas. A miscelânea mostrada é tão bela que se assemelha a uma coleção de brinquedos nas mãos de uma criança, que, ao encontrar seu objeto de desejo, não faz outra coisa se não brincar com aquilo.

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    Como seria de praxe na trilogia que seguiria após este longa, Lucas já imprimia cenas alegóricas, não tão pretensiosas como as de Star Wars, mas igualmente ligadas à contracultura. Atos travessos dos jovens inconsequentes eram facilmente notados como manifestações de libido mais enérgicas, mas sem o caráter explícito comum às franquias Porkys e Picardias Estudantis.

    Apesar da fotografia competente e uma trilha sonora pontual, não há muito mais a elogiar em Loucuras de Verão, já que o argumento não tenciona alcançar nenhum objetivo maior que a simples representação do começo da vida de americanos médios, sem muito significado, conteúdo ou exigência da parte de seu elenco, que já contava com Harrison Ford e Richard Dreyfus, antes de se tornarem famosos. American Graffiti funciona melhor como um preâmbulo sobre a despreocupação juvenil de um homem antes de embarcar para a guerra, seja literalmente no certame ou na vida tediosa e rotineira de um civil que gasta toda sua vida funcionando como parte da engrenagem fordista, ainda que essa última análise sirva mais por parte do espectador do que de seu criador.

  • Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força (3)

    Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força (3)

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    Maior fenômeno da cultura pop, maior franquia da história do cinema e com o filme mais esperado do ano (possivelmente da década), Star Wars dispensa comentários sobre sua importância. A decepção dos fãs com a nova trilogia encerrada em 2005 era nítida. Tamanha expectativa com a estreia de A Ameaça Fantasma em 1999 só foi igualada pelo tamanho da decepção com filmes tão ruins e que desrespeitavam praticamente todas as premissas estabelecidas na trilogia original. É dentro desse turbilhão de emoções que a franquia ganha em 2015 o primeiro de seus novos episódios, chamado “O Despertar da Força”, dessa vez sob o comando da Disney e direção de J.J. Abrams, com roteiro de Lawrence Kasdan, Michael Arndt e do próprio Abrams.

    Atingir uma expectativa tão grande não era tarefa fácil, e ciente da cobrança (provavelmente injusta) em cima de si, Abrams desde o início resolveu focar justamente onde a nova trilogia falhou: o respeito pela saga original, sua mitologia e simbologia. Dentro deste aspecto, o Episódio VII é muito eficiente. O visual se assemelha muito aos filmes originais, tanto nas cores, vestimentas e designs, como nos pequenos detalhes de botões em centros de comandos, luzes de painéis e toda a arquitetura interna e externa da chamada “Primeira Ordem”, que se assemelhava a do Império, quanto do restante da galáxia.

    A história gira em torno basicamente de dois personagens, Rey e Finn. Rey (Daisy Ridley), residente do planeta Jakku e que sobrevive juntando peças de antigas naves caídas em seu planeta, tanto do império quanto da aliança rebelde, em troca de rações de alimento. Dotada de um espírito perseverante e determinado, Rey sofre naquele cotidiano árduo, ela sonha com a volta de sua família para resgatá-la, já que vimos um flashback onde ela é ali abandonada. Finn (John Boyega) é um stormtrooper que deserta por se recusar a cumprir as ordens que recebe para executar habitantes de Jakku em sua primeira missão, que era recuperar o mapa da possível localização do antigo Jedi Luke Skywalker, em posse do piloto rebelde Poe Dameron (Oscar Isaac) e também buscado pelo vilão do filme, Kylo Ren (Adam Driver). Dameron o esconde em uma unidade BB, chamda BB-8, que encontra Rey, que encontra Finn, que encontram a Millenium Falcon, que é encontrada por Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca (Peter Mayhew/Joonas Suotamo), e de onde a história principal se desenvolve como apresentada nos créditos iniciais: o objetivo é encontrar Luke Skywalker. Os rebeldes querem o retorno do antigo Jedi para ajuda-los, e a Primeira Ordem quer encontrar para destruí-lo, afinal enquanto um jedi estiver vivo, é uma ameaça a seus objetivos.

    Um ponto que o novo filme acerta em cheio é na escolha do novo elenco. Daisy Ridley e John Boyega possuem uma química raras vezes vista em filmes do gênero, o que mostra a noção perfeita dos produtores no casting, e como eles sabiam exatamente o que estavam buscando no filme (ponto positivo para escolherem como protagonistas um negro e uma mulher, tentando tornar o universo de Star Wars mais diverso). Atores mais conhecidos como Oscar Isaac e Domhnall Gleeson (General Hux) também agregam um enorme valor devido a seu talento, mas sempre ajudados por cenas construídas especificamente para os atores darem vida a seus personagens da melhor forma possível. Já Harrison Ford não consegue transmitir de novo o mesmo carisma do Han Solo que vimos na trilogia original. Notório carrancudo a respeito de Star Wars, Ford parece a todo tempo estar em modo automático, e apesar de seu papel funcionar bem na maior parte do tempo, parece não ver a hora de tudo acabar, até mesmo seu figurino demonstra essa preguiça, se assemelhando mais a um cosplay de Han Solo do que o legendário piloto. Tanto que seu destino no filme parece até mesmo saído de uma sugestão sua. Também retornam a seus papéis clássicos Carrie Fisher como a agora General Leia Organa e Anthony Daniels como C-3PO, além de R2-D2 (Kenny Baker).

    Star Wars: The Force Awakens Ph: Film Frame ©Lucasfilm 2015

    Porém, se em todo o respeito ao universo o novo episódio é irretocável, onde ele falha é justamente no excesso de cautela na fórmula da franquia. O Episódio VII recicla praticamente inteira a trama principal do Uma Nova Esperança de 1977. De novo vemos planos escondidos em um robô por um membro da resistência que é capturado pelo vilão principal e por ele torturado. De novo (pela terceira vez) temos uma arma grandiosa capaz de destruir planetas usada como forma de impor a força da “Primeira Ordem” no universo. De novo o plano dos rebeldes é montado em um diálogo expositivo rápido em frente a uma projeção. De novo o plano constituído é destruir essa arma com um ataque aéreo. De novo alguém precisa desabilitar um escudo internamente. De novo temos uma sequência aérea com direito a voos em uma trincheira e a arma é explodida. Tudo filmado de forma muito eficiente e empolgante, sem o marasmo dos episódios I, II e III. Porém, que ainda deixa o fã, lá no fundo, um pouco decepcionado, porque parece que tudo em Star Wars gira em torno de uma arma que precisa ser destruída. Se nos primeiros filmes ao menos o desenvolvimento dessa trama seguia um andamento mais lento, neste capítulo da saga o ritmo frenético do filme mal deixa o espectador respirar para absorver tudo o que está vendo na tela. Não há um momento de pausa, e talvez seja sinal dos tempos, mas um equilíbrio maior neste sentido poderia ter dado mais espaço aos personagens para se desenvolverem de forma mais subjetiva.

    Outro ponto também mal explicado é a origem da “Primeira Ordem”, organização que substituiu o antigo Império. Também não é falado nada a respeito de Kylo Ren e sua ordem, assim como seu mestre, Supremo Líder Snoke (Andy Serkis), o que reflete não uma tentativa de não contar muito da história, e sim um certo descuidado com o roteiro, afinal, essa falta de informação faz com que ambos os vilões não representem uma ameaça tão grande quanto Darth Vader no primeiro filme. Porém, a relação entre o braço militar da Primeira Ordem, representado pelo General Hux (em alusão clara ao nazismo) e o braço místico representado por Ren é muito bem construída, e a crescente tensão e disputa entre os dois personagens pela aprovação de Snoke serve como catalisador para diversas situações interessantes no filme, especialmente para Ren, que mostra uma fragilidade interessante ao se dizer tentado pela luz. Mesmo Adam Driver não entregando uma atuação maravilhosa, seus melhores momentos ainda ficam enquanto usa a máscara e entoa a voz mecanizada e assustadora que emula, propositalmente, Darth Vader. Outro personagem muito esperado pelos fãs, a Capitã Phasma (Gwendoline Christie), possui uma participação reduzida no filme, o que se pode extrair daí dois pontos: a menção a Boba Fett, personagem construído pelos fãs e que nunca fez muita coisa nos filmes, e que ela irá voltar nos próximos episódios, possivelmente com um papel maior.

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    Mas, mesmo com esses pontos negativos, o principal objetivo do filme é mantido, que era resgatar o espírito da franquia e a magia de se contar uma história dentro da mitologia que cativa tanta gente ao redor do mundo. A excelente cena de Rey tocando no sabre de Luz de Luke e tendo seu primeiro contato com a força utiliza de efeitos especiais como deve ser, em favor de se contar uma história. A Força é explicada a ele na cena seguinte por Maz Kanata (Lupita Nyong’o) relembrando os ensinamentos de Yoda em O Império Contra-Ataca, deixando de lado a bobagem pseudo-científica dos midi-chlorians inventada por Lucas em “A Ameaça Fantasma”. Outras pequenas homenagens ao universo também são feitas, quando Finn enfrenta com o sabre de luz um stormtrooper que empunha uma arma que lembra uma vibroblade em um duelo muito bem construído. A opção de Abrams pelos cenários reais ao invés do tão criticado CGI foi louvada por praticamente todos, e o resultado é nítido. Tudo parece real (e é!), nos fazendo acreditar em todo momento em tudo o que está acontecendo na tela. Em momento algum da projeção a credibilidade do filme é quebrada por conta de algum efeito especial mal acabado. Tanto os monstros mais simples quanto as excelentes e bem trabalhadas sequencias de confronto entre as X-Wings e os TIE Fighters passam um realismo que o fã de Star Wars sempre quis ver novamente, mas devidamente atualizado. A leveza do humor também consegue apagar o marasmo das tramas políticas da nova trilogia, e tanto BB-8 (sabiamente utilizado) quanto Finn (e também várias cenas com os stormtroopers) possuem cenas que tiram risos naturais da platéia.

    As cenas de luta também são outro ponto positivo, sendo muito bem feitas e distantes do balé estéril mostrado na nova trilogia, como o próprio Abrams havia deixado claro que iria fazer. Com pouco treinamento, não seria possível os personagens exibirem tamanha técnica nos duelos, o que torna a emoção e a visceralidade dos golpes e defesas ainda maiores. O duelo entre Rey e Kylo Ren, apesar de causar estranhamento inicial (afinal, como ela empunhando um sabre pela primeira vez iria competir com um mestre da ordem Ren?), consegue transmitir em poucos minutos uma carga dramática muito grande, e a superação de Rey utilizando a Força estabelece-a como o que era desde o início, um campo de energia que depende da pessoa usá-la e canalizá-la corretamente, não importando você ter décadas de treinamento de esgrima. O que importa é a Força, sua vontade, determinação e o quanto você acredita fielmente nela. Neste filme a Força é realmente importante e um de seus maiores méritos é justamente mostrar como ela é poderosa. Kylo Ren parando no ar um raio do blaster de Poe Dameron é fenomenal. O uso que faz da Força a todo momento nos mostra mais detalhes do que a saga havia mostrado até então. O mesmo acontece com Rey conforme ela vai descobrindo seus poderes enquanto vai sentindo-os.

    Portanto, “O Despertar da Força” entrega justamente aquilo que os fãs esperavam tanto. Um filme fiel as suas origens e que tratasse todo o seu legado com respeito. J.J. Abrams se declarou fã da franquia por diversas vezes, e talvez esse excesso de respeito tenha tornado o filme seguro demais, sem praticamente tomar nenhum risco sob o ponto de vista narrativo. Porém, com o tamanho estrago feito pelos três filmes anteriores da franquia, essa escolha é perfeitamente compreensível. O que podemos esperar agora é, com o universo novamente consolidado, que novos objetivos sejam traçados e que possamos ver novas histórias ser contadas de outras formas. O Império Contra-Ataca é o que é justamente porque a sua frente tem alguém que entende a linguagem cinematográfica mais do que entende de Star Wars. Entende a motivação por trás de cada personagem e as ações condizentes que eles deveriam tomar. Entende que pequenos detalhes fazem a diferença entre algo comum e algo fenomenal. Não fosse Irvin Keshner, Han Solo nunca teria dito “Eu sei” ao ouvir que Leia o amava. É isso que a franquia precisa.

    O Episódio VIII já tem seu diretor contratado, o novato e promissor Ryan Johnson, que sempre carrega uma atmosfera noir em seus filmes. Com tempo, um bom roteiro e um pouco de sorte, talvez tenhamos algo novo neste sentido. As expectativas agora estão mais altas do que nunca (ainda mais pela cena final do Episódio VII), pois a comparação da sequência ser melhor que o anterior, relembrando os episódios IV e V, será feita. Ao menos agora estaremos felizes esperando o próximo, e não mais apreensivos.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Star Wars: Holiday Special

    Crítica | Star Wars: Holiday Special

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    Versão defenestrada por George Lucas,  misturando estilos diversos, Star Wars Holiday Especial teria “tudo” para ser considerado canônico, exceto é claro a qualidade do filme anterior. O elenco que protagonizava todo o filme premiado estava de volta, claro, em cenas isoladas, para compreender a agenda de cada um dos astros, acrescido também das curiosas criaturas, Malla, Itchy e Lumpy, mais tarde apresentados.

    A história começa com Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca (Peter Mayhew) cruzando o espaço, a bordo da Millenium Falcon, para chegar ao planeta Kashyyyk, onde o Wookie comemoraria junto a sua família, o Dia da Vida, um claro equivalente ao natal terráqueo. As mudanças começam pela chamada, que inclui a nomeação do elenco, ator por ator, diferente dos créditos de toda a saga, que só elencava o cast após o término dos filmes, tradição que seria ratificada em 1980 com Império Contra Ataca.

    As criaturas que interpretam os novos personagens, citadas anteriormente, são parte da família de Chewie, e estão ávidas a espera do seu ilustre parente. O trio protagoniza cenas horrendas, na sua casa na árvore, conversando abertamente sem qualquer legenda. O cúmulo ocorre quando elas dialogam através de um holograma com Skywalker (Mark Hammil, com um penteado risível), que deixa claro não entender qualquer palavra daquele balbucio, mas que ao final, percebe que a dupla de caçadores de recompensas eram perseguidos pelo Império, claro, com cenas repetidas do primeiro filme, se valendo do orçamento anterior. O detalhe são os diálogos pífios entre o pretenso Jedi e a Senhora Wookie.

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    Os absurdos começam pela programação “televisiva” que os wookies consomem, com programas de dança, de cozinha e musicais, protagonizados por humanos, que produzem cenas vergonhosas, dignas de riso em um primeiro momento, mas que se perdem dentro da sua própria comicidade, podendo causar uma sensação semelhante ao desejo por suicídio no fã mais extremista da saga. Para surpresa geral, o personagem Saun Daunn (Art Carney), o mesmo que comunicou a família que Chewie estava sendo perseguido pelos imperiais, aparece na porta da casa com os presentes natalinos, chegando ao cúmulo de pedir “bons modos” aos wookies. A sequência é fechada com uma situação catastrófica, onde o ancião Itchy (pai de Chewie) assiste a um clipe musical horroso, que seria uma versão de pornografia via hologramas imaginários, suavizados em sensualidade por ser uma produção televisiva.

    Toda a aura tosca de Holiday Special, torna-se curiosa e até charmosa, visto a vergonha que o criador da franquia tem por ela. A cultura de ódio a George Lucas torna a obra uma coqueluche rara e até abraçada por alguns fãs, que veem nela um protótipo da quantidade de absurdos que ocorreram nos filmes dos anos 90 e 2000.

    Há outras cenas com música, que ocorrem em meio a invasão do Império a cada de Chewbacca, além de inserções de cenas animadas, que claramente foram feitas para reunir os personagens dos atores que não puderam participar mais ativamente das gravações, por questões de agenda ou por simples vergonha. A explicação para a mudança de estilo, é a visualização da criança Wookie, em um visor especial, que faz ele enxergar Luke, C3PO (Anthony Daniels) e R2 (curiosamente não creditam o ator)  viajando a bordo de uma Y-Wing (fato jamais ocorrido na saga original) para interceptar a “perdida” Milenium Falcon. É dentro deste segmento que é apresentado Boba Fett, que mais tarde se tornaria em um boneco da Kenner, antes mesmo de sua aparição nos filmes. O tom de obviedade faz o personagem já ser encarado como vilão desde o começo, o que era de se esperar em uma produção tão mal feita.

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    Próximo do final, ocorrem momentos ainda mais toscos, como a ida a cantina de Mos Eisley, em cenas e cenários completamente diferentes do feito no filme original, seguidos da chegada de Han e Chewie a casa do wookies, onde Solo declara a um modo tão vergonhoso, dizendo que o clã é importante para si, que Ford chega a corar de vergonha, situação piorada por não haver qualquer menção anterior a tal família, ratificando que coerência não é um pré-requisito para a produção.

    Mas o melhor certamente foi guardado para o final, onde os wookies usam túnicas vermelhas – evidentemente inúteis, já que os pelos cobrem quaisquer de suas “vergonhas” – pontuada pela chegada de Luke, Leia(Carrie Fischer), os droids e demais personagens, repetindo as músicas de John Williams, executadas ao final de Uma Nova Esperança, para permitir que Leia celebre o tal Dia da Vida, cantarolando no mesmo ritmo das canções tema, para nem meia dúzia de homens fantasiados de macacos gigantes felpudos, com fantasias tão mal feitas que certamente seus interpretes não aguentariam assumir a autoria dos personagens.

    Star Wars Holiday Special tinha um potencial tão destrutivo, que o autor da saga “caçou” todas as cópias deste produto, o que tornou a visualização do filme na íntegra um trabalho árduo, por anos, especialmente para quem não tinha o domínio da língua inglesa. Em sua curta duração, a fita consegue agredir quase todo o cânone da saga e irritar profundamente qualquer pessoa que já tenha gostado da jornada de Luke e dos outros.

  • Os Bastidores, Detalhes e As Mudanças de George Lucas em Star Wars

    Os Bastidores, Detalhes e As Mudanças de George Lucas em Star Wars

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    Desde 1997,  passados 20 anos da primeira vez em que a abertura da 20th Century Fox quase se mesclava com a música de John Williams e os letreiros amarelos prenunciando o intenso conflito entre rebeldes e o Império, há ainda o mesmo assombro do público com o Star Destroyer Cruzader invadindo o espaço atrás da nave Tative IV ao perceber novas mudanças em meio aos três filmes clássicos – e canônicos – de Mister George Lucas.

    O aspecto que talvez não esteja claro para o aficionado atual – ainda mais o alienado – era todo o cenário cinzento que ocorria nos anos 1970. Graças a fatores como Watergate, a Guerra do Vietnã e muitos outros eventos históricos, a maior parte do público americano consumia fitas protagonizadas por anti-heróis, homens talhados pela vida, que se valiam de drogas e bebidas para fazer aplacar a sua miséria existencial.

    Em meio a tantos outros expoentes do futuro cinema, com De Palma, Coppola, Scorsese e De Palma, Lucas surgia como um homem que apontava para outras vertentes, ainda que seu THX-1138 – tanto o curta, quanto o longa- fossem produtos da mesma depressão emocional que inspirava os seus contemporâneos, havia nele a vontade de resgatar tempos mais simples, o que o fez realizar seu American Grafitti – ou Loucuras de Verão, na tradução brasileira. No entanto, ainda faltava algo, já que o jovem diretor não gostava das interferências e intervenções que os produtores faziam em seus dois longas-metragens lançados.

    A descoberta de Joseph Campbell e seu livro O Herói de Mil Faces ajudou o contador de histórias a organizar sua epopeia, se valendo do monomito para tal, um conceito que resume a tradição retórica e oral no “contar histórias”, usando arquétipos que facilitariam o diálogo com o público, ainda que alguns desses detalhes fossem ligeiramente diferentes em Star Wars, especialmente em relação à “donzela em perigo” da Princesa Leia de Carrie Fischer, que, apesar de estar encarcerada, não era exatamente a figura feminina sem ação.

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    Mesmo os terríveis erros de direção, especialmente nas cenas de tiroteios, onde charmosamente se apresentavam dois droids praticamente invulneráveis – e que serviriam de alívio cômico durante três filmes e, claro, a pontaria sempre certeira da cônsul e princesa Leia Organa – traziam um extrema simpatia para a versão de 1977 de Uma Nova Esperança. Misturadas ao caráter dúbio da perseguição de Darth Vader aos resquícios da Aliança Rebelde (até então um rumor, aos olhos do poderoso governo totalitário), as coincidências convenientes se diluíram, não precisando ser desnecessariamente revistas e remontadas.

    Curioso é que George Lucas não mexeu nos erros mais crassos de seus roteiros, e sim no que poderia soar flagrante aos olhos do público mais conservador. A falta de coragem e dificuldade em seguir em frente acabaram por fazer o antes promissor cineasta se tornar um bilionário enfadado, entediado, sempre preocupado em agradar às plateias que o rejeitaram antes, em detrimento do público que sempre lhe foi fiel, e que se agigantou graças à popularidade.

    Lucas se tornaria o avesso de Luke: enquanto o jovem fazendeiro buscava a possibilidade de novas aventuras, lutando contra o status quo, seu criador faria basicamente o exercício de regurgitar o trabalho que o tornou famoso, não conseguindo sair da prisão em que ele próprio se impôs. As boas ideias de Star Wars teriam vindo de criadores mais inteligentes e experimentados, na concepção de alguns fãs ranzinzas, reunindo as intenções dignas de Kurosawa, Flash Gordon, Frank Herbert e afins.

    As dificuldades em gravar começaram pelos problemas com clima, com uma tempestade de areia terrível na Tunísia, que destruiu grande parte dos cenários de Tatooine. O caos se instaurou e por pouco a franquia não parou antes mesmo de começar, já que a maioria dos atores reclama o tempo inteiro, exceção feita a Alec Guinness, que apesar de não acreditar em nada na história, era o mais profissional e experiente do elenco.

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    A versão “desespecializada”, compilada a partir de rips dos Blu-rays da antiga trilogia executada por fãs inconformados com tantas mudanças em pós lançamento, faz lembrar o quão épica era a ideia inicial do jovem diretor e roteirista nascido em Modesto Califórnia. Desde a tragédia que acometeu os tios adotivos de Skywalker, até o encontro com Obi-Wan “Ben” Kenobi – que emula os grandes mestres dos samurais, ainda que seja muito mais ativo do que o costume dos homens sábios –, e, claro, o caminho até Alderaan, incluindo a recusa de Luke e aceitação de seu destino, algo já desejado antes, são elementos que deram forma aos escritos de Campbell, um manifesto que ainda não era tão banalizado quanto atualmente é.

    A burocracia tomou conta daquele universo e manifestou-se de forma brutal através do conselho que responde ao almirante Grand Moff Tarkin, de Peter Cushing, um dos homens fortes do governo tirânico e que acabou de dissolver o conselho de senadores, talvez o último bastião da antiga república. A derrubada deste era na verdade um ato simbólico, uma última desculpa que visava justificar os desmandos do autointitulado Imperador.

    Skywalker era um personagem com o caráter em formação, tão inseguro quanto seu intérprete Mark Hammil, propenso a fugas e desobediências, e até a não ceder a desaforos. Tal característica seria comum – e ainda mais exacerbada – no Han Solo de Harrison Ford, que não sequer pensa em não desferir o primeiro “golpe” em seu opositor, Greedo, ao se ver na mira da morte. A atitude mais enérgica era pouco sutil e representava a mudança mais esdrúxula e criticada por quase todos os fãs, fator que retiraria do caçador de recompensa (e cafajeste) toda a sua atitude de anti-herói arrependido. O Solo que “atira depois” seria incapaz de improvisar junto a Luke e Chewie uma invasão a uma estação espacial impenetrável, bem como planejaria raptar a senadora que já era refém. A trinca de protagonistas ganharia o acréscimo da ardilosa Leia, que, sem saída, encontra uma rota improvisada, uma atitude típica de uma inconformada política.

    A fuga da Estrela da Morte abre precedente para duas questões interrogativas, a primeira em relação ao legado de Kenobi e a segunda em relação ao grupo de rebeldes, que ao se despedir do esquadrão Rogue usa a famosa frase “que a força esteja com você”, como incentivo para os pilotos/atiradores. É sabido que a religião dos Jedi estava em desuso, praticamente sepultada após a extinção da ordem anos antes, tendo em Vader seu único remanescente, ao menos de modo oficial. Os membros da aeronáutica rebelde teriam dito aquilo como mais uma atitude de resistência, onde o apego ao Divino seria o maior ato de revolta possível, em comparação com a burocracia adotada pelos que restaram da República.

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    Paul Hirsch e Richard Chew seriam fundamentais para o sucesso da empreitada de Lucas em Star Wars. Depois de terminar suas filmagens, e após deixar a maioria dos atores decepcionados com sua direção frouxa, que basicamente pedia mais intensidade e velocidade, George Lucas se via com problemas de prazo e com um corte de filme terrível em mãos. A saída foi demitir seu então editor, que se recusava (por motivos certos) a fazer o que ele queria, e então a dupla começou a “salvá-lo”. O problema maior é que este mérito premiado no Oscar fez ele criar o hábito de agir como diretor dentro da sala de direção, e não no set, fato que se agravaria de 1999 em diante.

    O resultado das primeiras impressões da recém-criada Industrial Light and Magic era terrível, e as acusações iam desde desleixo puro e simples até o desperdício de tempo somente com substâncias ilícitas, dada a caracterização hippie da maioria dos operários. A pressão fez o cineasta acelerar ainda mais os processos, além de encontrar em Ben Burtt e sua edição de som primorosa um fator que garantisse a maior parte da alma da trilogia. O maior mérito de Lucas, aliado a persistência do produtor Alan Ladd Jr., que quase perdeu seu emprego pela Fox por causa do filme, certamente foi conseguir reunir todas essas mentes inteligentes em torno do mesmo propósito, conseguindo harmonizar tudo isso de modo que ficasse realmente lendário, tão escapista quanto ele queria no início.

    A vitória dos mambembes soldados revoltosos sobre os ditames dos poderosos e bem armados membros do reinado sombrio é simbólico, remete a uma época mais simples, de luta entre o bem e o mal, como era na época da Segunda Guerra Mundial, em que aliados e o eixo se digladiavam. O resgate a essa temática se via necessário, diante da grande depressão que os Estados Unidos passavam, fato que também fez da série Rocky um sucesso. A ressalva resulta na questão do simplismo que seria imposto ao recém criado gênero de “blockbuster”, tencionado por Tubarão de Steven Spielberg, e fundamentado neste pelo merchandising que Lucas garantiu a si antes do fechamento de contrato, expandindo o conceito que se iniciou em Planeta dos Macacos e tornando profissional a comercialização de “bonecos” e demais produtos.

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    Em 1978, George Lucas parecia ter um cuidado maior com exposição de sua marca, já que Star War Holiday Especial foi defenestrado e recolhido, execrado por ele e negado sempre que se levantava a possibilidade da obra ter existido. Para todos os efeitos de discussão a respeito do que é cânone e do que é universo expandido na franquia, uma vez que o especial continha o elenco do primeiro filme. Dois anos após, a trajetória de Luke, Leia, Han, Chewbacca e os droides prosseguiria, com o anúncio de novos personagens a serem explorados.

    O Império Contra-Ataca começa nas planícies geladas de Hoth, provando que no universo Star Wars os planetas têm normalmente um só clima. A arenosa e calorenta Tatooine fora gravada na Tunísia, enquanto o planeta gelado que servia de base para os rebeldes, localizava-se em Finse, Noruega.

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    Dois fatores ajudaram a fundamentar mudanças na franquia, primeiro, o acidente que vitimou Hammil, deformando seu rosto, e outro dentro da própria trama, com o tema Marcha Imperial estreando, no que é possivelmente o maior marco musical de toda a saga. A entrega do roteiro nas mãos de Leigh Brackett e Lawrence Kasdan foi uma saída excelente, bem como a direção de Irvin Kershner, que suplanta muito bem os defeitos de George Lucas em ambos os aspectos. É na abordagem do trio que acontecem as cenas com maior tensão sexual da saga, entre Solo e Organa, além da lendária figura do mentor, vista na diminuta criatura que se apresenta para Luke.

    Dagobah serve de avatar da caverna de preparação do herói, o lugar para onde o protagonista recorre a fim de acumular conhecimento e se preparar para a grande batalha. Luke é um aluno arredio, complicado e incrédulo; possui vícios como a teimosia e arrogância, que não ficavam tão gritantes antes, mas que em ambiente isolado pioram demais. Com Yoda, Skywalker percebe que seu pior inimigo é ele mesmo, e ainda assim se deixa levar pela pressa e pela aproximação do perigo. A imprudência o faz agir instintivamente, indo atrás de seus amigos emboscados.

    A figura criada por Stuart Freeborn teria que ser mais convincente do que qualquer ator humano, e a liga de plástico só fez sentido graças ao ótimo manuseio de Frank Oz, que trazia sua experiência em Muppets para orquestrar um mestre zen esverdeado, diferente de tudo o que já existia. As lições de Yoda ecoariam pela eternidade, no personagem mais inspirado pensado por Lucas – ao menos no lado do Bem.

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    Grande parte dos méritos do segundo filme se dá pela distância de seu criador, que procurava outras locações. A bifurcação da trama, dividindo as ações em duas frentes, se assemelhava à divisão da Sociedade do Anel, no livro As Duas Torres, de J. R. R. Tolkien. Toda a parte passada em Bespin faz discutir as intenções de Han Solo, especialmente por compará-lo com o caráter de seu antigo amigo e aliado, Lando Calrissian (Billy Dee Williams), um antigo apostador que, por ter se “endireitado”, teme perder seus feitos.

    O roteiro de Empire Strikes Back é formado por sucessivos movimentos de traição, primeiro de Lando com Solo, depois, Lando com os lacaios de Vader – evidentemente por arrependimento, dada a quebra do acordo entre ambos – depois, no discurso do Darth junto ao seu filho, tencionando juntar as forças familiares contra o Imperador. A motivação dos personagens é carregada de duplicidade de pensamento e incertezas, gerando uma carga de ambiguidade até então desconhecida pelo maniqueísta projeto inicial. Além disso, o suspense e a tragédia são muito presentes nos momentos finais, deixando em aberto a sensação de que as forças malignas venceram, sem mais espaço para o otimismo desenfreado da encarnação anterior.

    Apesar da relação antiga entre Kershner e Lucas ser baseada no mesmo mote visto entre Obi-Wan e Luke, a cisão ocorreu, com acusações de “ruína do filme”, atrelada às mudanças que Kershner havia feito dentro da trama. Envolvido com outros aspectos da produção, o cineasta decidiu por seguir na descentralização de funções. A saída obrigatória do nome de Lucas do quadro do sindicato de roteiristas e diretores, se fez como represália à realização de seu filme de modo independente. O ressentimento por ter a audácia retribuída com isso fez com que Lucas se isolasse ainda mais, tendo de abrir mão de ter Spielberg como diretor, optando então por Richard Marquand, o mesmo de O Buraco da Agulha, baseado no livro de Ken Follet.

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    O Retorno de Jedi se inicia com o anúncio de que o Imperador visitará as instalações da nova Estrela da Morte – ainda em construção – e claro, o retorno da aventura a Tatooine, para encontrar Jabba the Hutt, que tem em seu poder o Capitão Solo, preso em carbonita, argumento utilizado no filme anterior para o caso de Ford não aceitar renovar seu contrato.

    A exploração do submundo de crimes de Tatooine é interessante, mostrando uma nova gama de personagens e criaturas, com um conjunto estranhíssimo de alienígenas, fato que deixa ainda mais claro o intenso racismo do Império, visto que quase não há criaturas não-humanas nas fileiras do exército dos poderosos, somente nas bordas da galáxias, nos subúrbios do universo.

    Outro ponto curioso é notar a evolução postural de Luke, tão convincente que se faz perguntar se ele não retornou ao planeta pantanoso nesse meio tempo. Fator destacável é a fraqueza de mente dos subalternos de Jabba, quase todos facilmente manipuláveis, exceção feita ao próprio chefão do crime e ao caçador de recompensas de visual interessante Boba Fett. A fragilidade é tanta dentro da instituição que a maioria dos personagens se infiltra sem quase dificuldade nenhuma,

    O decréscimo de qualidade é bastante notado, desde a descida de Skywalker a Dagobah, onde o antigo “mestre zen” está convalescendo, se despedindo melancolicamente do seu aluno, até a conclusão de que o treinamento que jamais foi findado, não o será graças a esta saída – metalinguagem para a decadência cinematográfico do tomo anterior para este. A aura de Retorno é muito mais sombria, não no aspecto fotografia, mas sim dos figurinos. O traje de Luke é negro, sua nova espada reluzente é esverdeada, e quase todos os cenários onde está são repletos de lodo e escuridão, mesmo quando está na lua de Endor.

    A problemática ocorre graças a gravidade das circunstâncias, algo que claramente poderia ser maior, tendo seu teor banalizado pelas aventuras semi-infantis com o ewoks, os “ursinhos irracionais” capazes de preparar armadilhas para os generais rebeldes e as tropas imperiais. É neste filme também que as cenas de amor constrangedoras começam a ocorrer, ainda que sejam muito menos incômodas do que nos filmes dos anos 2000.

    Outro fator complicado é a desnecessário sexualização de Carrie Fischer de sua personagem. Leia era uma personagem forte, feminina e operante no espectro político, tinha argumentos e justificativas corretas em relação à revolução e no debate da democracia. Se algo funcionava no confuso cenário de Star Wars, transformá-la em um bibelô, vestido em um biquíni dourado, faria ser lembrada mais por isso do que, por exemplo, ter sido ideia dela a fuga bem-sucedida da Estrela da Morte, e ainda seria motivo de piada em filmes B como Mortal Kombat. A diminuição da personagem é de uma covardia sem escrúpulos, fruto de uma ação provavelmente mal pensada da parte dos roteiristas, que não percebiam o sexismo bobo em que enfiavam a personagem, mesmo que tal ato tenha vindo de uma figura nojenta com Jabba.

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    Para compensar tal problema, há a construção da batalha espacial, entre a resistência e o poderoso governo tirânico. Um dos argumentos que justifica a construção tosca do ideário dos rebeldes é a tentativa de fortalecer a figura do Imperador interpretado por Ian McDiarmid, fortificando a teoria de que o Império só poderia perder para ele mesmo, e que o acerto dos “mocinhos” só ocorreu pela arrogância dos opositores, factoide que teoriza um dos motes principais de O Despertar da Força, e que serviu de base para inúmeras aventuras no Universo Expandido posterior à trilogia clássica.

    Star Wars é uma saga familiar, trata dos dramas caros a Anakin e Luke Skywalker, ao contrário do que foi vendido pela “nova” trilogia, de que seria a trajetória trôpega de um jedi que passou por ambos os lados da Força. A vitória final é em conjunto, entre Vader e seu filho, com o Darth derrotando seu antigo mestre, dando finalmente a chance aos revoltosos de acertar o âmago do seu inimigo. Mesmo os finais adocicados e cafonas, reunindo os aventureiros em torno da lua, não fazem o sacrifício dos personagens perder a força simbólica que ostentam. O fechamento da saga merecia um final melhor, o que motivou claramente Lucas a rever tudo, modificar o que achava equivocado, montando  equívocos ainda maiores para criar prequels tão fracassadas quanto os spin-offs focados nos ewoks. A força da trilogia original é tão grande que suplanta mesmo esses delitos e transgressões por parte de seu criador, que claramente tem problemas em perceber que sua história não pertence mas a si, e sim ao público que o fez rico, que trata de forma cara seu objeto de idolatria, e que segue mantendo carinho em um objeto que maltratou demais seus apreciadores, mas que prossegue vivo, claro, graças ao selvagem capitalismo visto nos produtos derivados. A obra se mantém ainda viva graças à magia da fábula que Campbell previu.

    A Força sobrevive, apesar de midi-chlorians, corridas de pods e piadas, além do Universo Expandido, subsistindo, há muito tempo, em uma galáxia distante e no ideário de seus devotos.

    Leia nosso especial sobre Star Wars.

  • Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força

    Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força

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    Após um recomeço informal mas ainda assim acertado na franquia Missão Impossível e misturar novidade e reverência a um seriado laureado em Star Trek, J. J. Abrams finalmente dá vazão ao objeto que era seu sonho e o de muitos aficionados. Star Wars – O Despertar da Força começa tradicional, acompanhado do famoso letreiro vertical, iniciando sua trama novamente com uma perseguição espacial desigual, atendendo finalmente ao anseio de uma legião de seguidores, após péssima última trilogia.

    A condução do filme beira a excelência. Se em Star Trek os exageros de Abrams fez torcer o nariz de grande parte dos fãs, em Despertar da Força as injeções de adrenalina funcionaram muito bem. A começar pelo fato de o projeto nascer a partir de um roteiro de Lawrence Kasdan, que também escreveu os textos de O Retorno de Jedi, Império Contra Ataca e Os Caçadores da Arca Perdida, além do trabalho de Michael Arndt.

    O produto final também contou com a colaboração do diretor, que conseguiu imprimir um equilíbrio visual pontual, dando destaque para os restos do império, sobrevoando Star Destroyers caídos sobre a areia, usando o cenário como elemento da narração, e não despiste como nos últimos filmes de George Lucas. O diretor é equilibrado, emulando uma escola de cinema americana clássica, a um estilo semelhante de Clint Eastwood e John Ford, claro, guardadas as devidas proporções ao gênero blockbuster, trazendo harmonia entre visual e textual, fugindo de o histrionismo imagético  que povoou o cinema recente de Star Wars.

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    O argumento trata de um período complicado politicamente, claramente não explicitado em detalhes minuciosos, possivelmente para exploração do novo Universo Expandido autorizado pela Disney, que, a priori, considerará tudo como canônico. As lacunas temporais servem de estofo para o mistério, fomentando a curiosidade de público e de personagens com o paradeiro de Luke Skywalker (Mark Hammill). A história dessa vez é contada a partir do olhar de Finn (John Boyega), um personagem repleto de carisma e ligado ao lado negro. Sem demora, seu destino é entrelaçado com o do exímio piloto Poe Dameron (Oscar Isaac), e de seu “mascote” BB8, em Jakku, um planeta arenoso, como Tatooine. Nesses momentos, são introduzidos também o vilão Kylo Ren (Adam Driver), em cenas belíssimas e repletas do massa véio fan service esperado da parte de um diretor que um dia já foi também um fanboy da saga de Lucas.

    Apesar de Finn  unir o alívio cômico a uma personalidade valente, é a jornada de uma personagem feminina a de maior destaque. A Rey composta pela até então desconhecida Daisy Ridley é a heroína, sendo esta a principal semelhança entre todos os espelhamentos deste roteiro ao de Nova Esperança, já que ela também é orfã,  de profissão simplória (catadora de sucata), habitante de um lugar desolado e sem esperança e que ainda assim, insiste em ter sonhos e anseios. Além das óbvias referências a Luke, lhe cabe também o intervencionismo da antiga princesa Leia e o caráter voluntarioso de Mara Jade, a jedi do lado sombrio introduzida em Herdeiro do Império. Seus enfrentamentos e as surpresas do roteirosão de encher os olhos e a composição de suas características são pontuais, acentuadas pelos closes que Abrams usa em suas cenas, que invadem sua psique e revelam pouco a pouco o seu ideário, além  de claro, trazer uma história detalhada em imagens.

    Talvez o problema mais flagrante – e não o maior – em Despertar da Força seja o cenário político. Nos filmes, a apresentação da sociedade era maniqueísta: existia o Império, malvado e cruel, em contraponto ao mambembe grupo de revolucionários da Rebelião. Quando Lucas tentou tornar complexo, soou pueril, e nesta, os detalhes são muito mais sugeridos do que trabalhados,  soando mais rico do que qualquer filme tocado por seu criador. O pouco que se sabe é que Nova República foi instaurada e sofreu um duro golpe a partir de um traidor que se alistou aos resquícios do Império Galáctico, unidos sobre o nome da Primeira Ordem, que tem no General Hux (Domhall Gleeson) um líder ideológico, e em Kylo Ren a figura religiosa, reprisando a dupla Tarkin/Vader, ainda que bem menos inspirados. Os mistérios ao redor do tal líder supremo Snoke, dublado e executado por Andy Serkis são tão grandes quanto o entorno de Luke, e parecem só ser revelados ao longo desta nova saga.

    As referências ao III Reich são ainda mais escrachadas com a Primeira Ordem do que eram com o Império, com cenas de discursos inflamados que soaram tão semelhantes a persona de Hitler em A Queda: As Últimas Horas de Hitler que pareciam inclusive serem pronunciados no idioma alemão. Apesar da distância ideológica, há uma intimidade implícita entre os distintos lados, com uma revelação familiar revelada logo de início, fugindo da possibilidade de gerar um burburinho de uma cópia do impacto ocorrido no episódio V.

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    A participação dos personagens clássicos varia entre momentos épicos e futuros plausíveis, mas um pouco decepcionantes. Han Solo finalmente retornaria a pele de Harrison Ford, que consegue com maestria expressar sentimentos de remorso e culpa, pelos rumos que a galáxia e que sua vida pessoal tomaram, mas seu ofício atual é muito pouco para o potencial que sempre apresentou, ainda assim, é menos incoerente que os rumos do antigo Universo Expandido. Leia Organa interpretada por Carrie Fischer consegue equilibrar o papel de líder político resignada e mulher forte que sobreviveu a tantas mágoas. Chewbacca (Peter Mayhew) tem menos momentos de ação e mais de comédia, bem como C3PO (Anthony Daniels), que se destaca em uma engraçada cena para os fãs que conheciam a lenda da perna dourada, que permeou os filmes originais. Nenhum destes ofusca a trajetória de Rey, Finn, Dameron e BB8.

    A edição de som é primorosa em mais um trabalho dedicadíssimo de Ben Burtt, que dá consistência e volume a todo o aspecto mecânico da obra, incluindo até sons da fuselagem da Milenium Falcon e outras naves. O equilíbrio entre efeitos práticos também ajuda a textura do filme em relação aos produtos antigos e a propensão de easter eggs soa interessante também.

    J. J. Abrams usa extensivamente planos longos, ao estilo de Terence Malick, ainda que os significados sejam diferenciados, já que os cenários não são exatamente personagens da trama, e sim complementos de um ambiente já vasto. As ligações com o antigo Universo Expandido servem para inserir no antigo fã algum consolo pela destituição de todo o ideário construído por anos e consumido por muitos. A estrutura social que deverá ser explorada em livros e spin-offs tem em sua base o conceito pensado por Timothy Zhan em sua trilogia Thrawn e eventos posteriores, especialmente na figura de Kylo Ren, ainda que sua concepção encontre alguns problemas, não da sedução para o lado da força, e sim por detalhes que precisavam de uma minúcia maior. Ainda assim, nas cenas em que revela seu rosto, Adam Driver consegue soar dúbio e cruel.

    Apesar de não ter uma batalha tão equilibrada quanto em Yavin ou Endor, os momentos finais são carregados de emoção, em especial nas cenas de ação. O final, com clima de cena pós-crédito, sobra em emoção e edificação, trazendo um nostalgia semelhante a vista em toda a postura do Ben Kenobi de Alec Guiness. A ideologia e espiritualidade da força retorna como nunca, repleta de alma, nostalgia e aura lendária, finalmente revivida após trinta e dois anos sem qualquer resquício do rastro dos bravos jedi, da aliança rebelde – chamada agora de resistência – e de todo o ideário que geraram sonhos em tantas gerações. Um capítulo primordial do que pode ser uma saga tão clássica quanto a primeira.

     

  • Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força

    Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força

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    A franquia Star Wars talvez seja a maior e mais bem sucedida do cinema. Com o lançamento de Uma Nova Esperança, em 1977, O Império Contra-Ataca, de 1980 e O Retorno de Jedi, em 1983, a saga criada por George Lucas se solidificou de forma poderosa, mudando para sempre a maneira de fazer cinema, devido ao seu pioneirismo nos efeitos especiais, principalmente, além de espetaculares cenas de ação que envolviam batalhas travadas no espaço. A história do jovem órfão Luke Skywalker que, de repente, se vê no meio do embate entre a Aliança Rebelde contra o temido Império Galático, ao lado de icônicos personagens como Han Solo, Chewbacca, Princesa Leia, os simpáticos C-3PO e R2-D2 e o temido Darth Vader, angariou uma horda de fãs espalhados pelo mundo todo. E é assim até hoje.

    No final dos anos 90, para deleite dos fãs, Lucas resolveu mostrar ao mundo como a Galáxia foi dominada pelo Império. Novamente centrando toda carga em cima de um membro da família Skywalker, o resultado foi desastroso. O diretor também foi responsável pelos roteiros e, novamente, foi pioneiro ao usar câmeras digitais, porém, deu um tiro no próprio pé, ao dar uma ênfase maior ao visual, se esquecendo quase que por completo da história. Não adiantou muito contar o que todo mundo já sabia sem ter diálogos ou situações que se sustentassem por si só. Assim, A Ameaça Fantasma, O Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith são considerados pelos mais velhos uma mancha na história da franquia.

    Desde o começo, Lucas planejou três trilogias para contar a história da família Skywalker, uma terceira parte que nunca sairia do papel, deixando para os fãs imaginarem o que teria acontecido com os personagens. Contudo, antes mesmo da trilogia prequel, liberou os direitos da história para que o escritor Timothy Zahn desse continuidade à história que se passava alguns anos depois de O Retorno de Jedi.

    Foi então que o inesperado aconteceu. No final de outubro de 2012, a Disney anunciou a compra de todo o grupo da Lucasfilm e, neste mesmo anúncio, foi dada a notícia que, enfim, veríamos na tela do cinema os Episódios VII, VIII e IX, além de filmes derivados. Obviamente a notícia, além de cair como uma bomba na indústria, trouxe mais perguntas do que respostas. Perguntas respondidas aos poucos até a estreia de Star Wars – O Despertar da Força.

    J.J. Abrams foi o encarregado de dar vida ao Episódio VII. Porém, o diretor tinha uma bomba nas mãos: o roteiro de Michael Arndt não era bom o suficiente, além de parecer que o escritor quis desenvolver uma nova história em vez de trazer de volta os velhos conhecidos dos fãs, o que obrigou Abrams a substituir Arndt por Lawrence Kasdan, roteirista de O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi. Com isso, aos poucos, foi ganhando a confiança dos fãs, o suficiente para que a frase “in J.J. we trust” fosse replicada pela internet. Contudo, Abrams tinha um prazo apertadíssimo nas mãos para faze-lo da forma merecida, com efeitos práticos e uma história justa tanto para aqueles que amam a franquia, quanto para os novos espectadores.

    O despertar da força - 01

    Seguindo a “fórmula” das duas trilogias anteriores, o trio de protagonistas foi composto por novatos. A atriz britânica Daisy Ridley nunca tinha atuado em um longa metragem, John Boyega tinha em seu currículo o bom Ataque ao Prédio, cabendo a Oscar Isaac o posto de “veterano” por ser mais conhecido do público. No lado dos antagonistas, temos o ótimo Andi Serkis, Domhnall Gleeson e Adam Driver. O time se junta com Mark Hamill, Carrie Fisher, Harrison Ford, Anthony Daniels e Peter Mayhew, deixando o filme com excesso de personagens, prejudicando, de certa forma, a aparição e o tempo de tela de certos alguns destes.

    Em que pese os créditos iniciais focarem a história no desaparecimento de Luke Skywalker (Hamill), fica claro que a protagonista de O Despertar da Força é Rey (Ridley), uma jovem deixada por sua família no planeta Jakku. Enquanto seus familiares não retornam, Rey sobrevive precariamente no planeta desértico recolhendo sucata em troca de pouca comida como forma de pagamento. O caminho de Rey cruza com BB-8, o robô do piloto da Resistência, Poe Dameron (Isaac). O droide fugindo de um ataque da Primeira Ordem, liderado por Kylo Ren (Driver), esconde informações importantíssimas sobre o paradeiro de Luke Skywalker. A semelhança com Uma Nova Esperança é notória, mas, em momento algum prejudica o desenvolvimento da trama, sendo que em paralelo a estes acontecimentos, também somos apresentados a FN-2187 (Boyega), um stormtrooper sem nome e sem propósito algum para lutar pela Primeira Ordem e que mais tarde é batizado de Finn.

    O primeiro ato é marcado pela química entre os 3 novos protagonistas que funciona bastante. Dameron é cínico e sarcástico, mas de bom coração, Finn é o responsável pelo lado lúdico que a franquia sempre adotou (mas sem soar chato) e Rey é o destaque do filme. Sabe pilotar qualquer veículo, além de ser muito inteligente e conhecer tudo sobre mecânica.

    Demora um pouco para vermos os personagens antigos, porém, a espera vale cada centavo gasto na sala do cinema. Embora a aparição da dupla Han Solo (Ford) e Chewbacca (que não envelheceu um ano sequer, vivido novamente por Peter Mayhew) seja por conta de uma coincidência difícil de acreditar, considerando o tamanho da galáxia (um dos pontos preguiçosos do roteiro), pôde-se perceber que muita coisa mudou desde O Retorno de Jedi. Fato comprovado quando Rey pergunta se o mercenário em cena era Han Solo, a resposta é clara: “eu costumava ser” e a situação a seguir é um divertido momento do filme mostrando um Han Solo mercenário, algo que o espectador nunca tinha visto na prática. Com certeza teremos mais momentos assim se seu filme solo for confirmado.

    Se o lado da Resistência segue na busca por Luke Skywalker, também é esse o objetivo da Primeira Ordem. Aliás, o resquício do Império é um dos pontos mal trabalhados no filme, o que deixa claro que os personagens da Resistência tiveram mais atenção do que os da Primeira Ordem que aparenta ser mais poderosa e mais organizada quando da época do Imperador Palpatine. Aqui, temos a liderança do General Hux (Gleeson, frio, sem nenhum carisma), o cavaleiro Kylo Ren, ambos liderados pelo misterioso Supremo Líder Snoke (Serkis), que ganha este adjetivo por simplesmente ser uma incógnita, uma vez que não faz sentido algum termos um personagem com a magnitude que aparenta ter. Também está presente a Capitã Phasma (Gwendoline Christie), uma stormtrooper imponente com sua armadura cromada, bastante adorada pelos fãs nos trailers, mas que foi uma decepção. A participação de Phasma chega a ser pior que as presenças descartáveis de Bobba Fett e Darth Maul nos filmes anteriores.

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    Kylo Ren é um destaque à parte. Devoto de Darth Vader, jurou destruir o último Jedi e terminar o que Vader começou. O cavaleiro que não pode ser considerado um Sith é poderoso no uso da Força e não pensa duas vezes em se exibir. O curioso é que Kylo ainda é um tanto quanto cru e demonstra não ter habilidade suficiente com seu sabre de luz, além de ser tão jovem quanto Rey nos momentos em que aparece sem sua máscara.

    A história faz um longo desvio do caminho percorrido por Uma Nova Esperança quando a personagem de Lupita Nyong’o, Mas Kanata, surge em tela. A agradável e milenar alienígena consegue enxergar através dos olhos das pessoas e se torna responsável por esclarecer algumas coisas à Rey, o que faz com que a trama tome um belo caminho, enchendo os olhos de quem assiste, preparando um terceiro ato grandioso, repleto de momentos incríveis, ainda que retorne ao paralelo do filme original.

    O Despertar da Força é repleto de ótimos momentos, tanto do que diz respeito às situações mais engraçadas, quanto nos momentos de ação, bem como de tensão. A perseguição de um caça Tie Fighter à Millennium Falcon faz com que você se agarre na cadeira. – podemos perceber que a equipe da ILM – Industrial Light And Magic teve um cuidado especial com a Falcon (uma nave respeitada inclusive pelos membros da Primeira Ordem). Embora Star Wars não respeite as leis da física, é fácil perceber que a nave de Han Solo é bem mais pesada que o Tie Fighter, fazendo esses e outros pequenos detalhes arrancarem sorrisos tímidos vez ou outra.

    A expectativa cresce quando os personagens clássicos entram em cena. A sensação de nostalgia percorre toda a fita. O veterano e mestre John Williams, mais uma vez, é responsável pela ótima trilha sonora, e assim como em todos os filmes, traz uma trilha original onde busca, em alguns momentos, revisar seus clássicos imortalizados na primeira trilogia. O departamento de arte e o design de produção também são certeiros. As naves que todos conhecemos estão lá, assim como o posicionamento das câmeras, tomadas, ângulos e principalmente nos cockpits dos X-Wings e dos Tie Fighters. O mesmo podemos falar das roupas dos personagens. Como Han Solo diz, sua jaqueta é nova, mas podemos perceber sua clássica camisa branca, sua calça militar e seu cinto com o coldre são os mesmos.

    Embora seja um filme de J.J. Abrams, Star Wars – O Despertar da Força, não é um típico filme do diretor, que procurou de forma respeitosa manter o legado brilhante criado por George Lucas. O resultado é um ótimo filme, repleto de ótimos personagens em uma história divertida, cheia de ação e principalmente emocionante. Promovendo mais um marco cinematográfico e apontando novos caminhos para o universo desta galáxia muito, muito distante.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Star Wars – Episódio VI: O Retorno de Jedi

    Crítica | Star Wars – Episódio VI: O Retorno de Jedi

    Retorno de Jedi - Star Wars

    (Este texto usará como fonte a versão do filme lançada no Blu-ray em 2011, que somou as alterações feitas em 1997 e 2004 na obra original. Essas mudanças no episódio VI podem ser vistas com detalhes neste video)

    O Retorno de Jedi foi lançado em 1983 com grandes expectativas após O Império Contra-Ataca, de 1980, que é considerado pela maioria dos fãs da saga como seu melhor filme. Tamanha qualidade atingida por seu antecessor colocou em cima de “Jedi” uma enorme pressão, já que tal acerto dificilmente se repetiria.

    Dirigido por Richard Marquand, com roteiro de Lawrence Kasdan e George Lucas, e contando com todo o elenco original (Mark Hamill como Luke Skywalker, Harrison Ford como Han Solo, Carrie Fisher como Leia Organa, Anthony Daniels como C-3PO, Billy Dee Williams como Lando Calrissian, Peter Mayhew como Chewbacca, etc), Jedi muda significativamente o legado de Império ao mexer em pontos chave da saga, como motivações e personalidades de personagens, além de inserir outros elementos na história. Não à toa é o filme mais criticado da saga original.

    A obra começa com a busca por Han Solo, ainda congelado em Carbonite e mantido no palácio de Jabba. Toda essa sequência inicial que nos mostra um Luke Skywalker amadurecido também causa um certo estranhamento, pois não é de fato necessária a trama da saga, ou mesmo deste capítulo dela. Com duração de aproximadamente 37 minutos, parece alongada demais se comparada à sequência inicial de Império, criada com o propósito de explicar as marcas no rosto de Luke Skywalker, já que Mark Hamill havia se acidentado gravemente algum tempo antes. Neste filme aliás, Hamill entrega uma atuação não excelente por causa de suas limitações enquanto artista, mas muito melhorada em relação aos primeiros filmes, enquanto Harrison Ford parece estar a todo tempo brincando de atuar, não parecendo querer estar ali.

    Logo após, o filme se divide entre a jornada de Luke voltando para Dagobah a fim de terminar seu treinamento com Yoda, e lá interage novamente com Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness) a respeito da revelação do filme anterior de que Vader é seu pai. Ao mesmo tempo, a Aliança Rebelde prepara um novo plano de ataque à nova Estrela da Morte que o Império está construindo em Endor. Este ponto vai atrair as duas maiores falhas do filme. O primeiro é reciclar a história de A Nova Esperança, onde o clímax também envolvia destruir a mesma arma do Império em um ataque espacial. O outro ponto é a inserção dos tão mal falados “ewoks” (nome nunca citado no filme) como coadjuvantes no ataque.

    Originalmente a ideia era realizar esta sequência em Kashyyk com os wookies, mas a opção pelos ewoks já mostra alguns sinais de onde George Lucas estava indo. Os ewoks são uma tentativa clara de infantilizar a trama e torná-la mais leve e palatável às crianças, grande nicho consumidor de produtos da franquia. A captura dos membros da Aliança pelos ewoks e seu ataque contra as tropas do Império que guardavam o gerador do escudo da nova Estrela da Morte é definitivamente o ponto mais baixo da trilogia. Os ataques de paus e pedras contra soldados de armaduras parece um esquete de programa de comédia da TV, tornando a ameaça representada pelo Império mais diluída e enfraquecida frente a sua magnanimidade apresentada no filme anterior.

    Porém, o que salva é toda a sequência entre Luke Skywalker, Darth Vader e o Imperador, que, ciente de tudo o que estava acontecendo, arma um engenhoso plano para tentar trazer Luke ao lado sombrio da Força. Se na luta de Império Luke era um brinquedo na mão de Vader, aqui é o contrário, e assim consegue vencê-lo de forma brutal, flertando com o lado negro. Mas ao perceber o quanto se parece com seu pai, o poupa da destruição total, frustrando os planos do Imperador, que decide então eliminar sua maior ameaça, com “force lightning”, até ser salvo por Vader, que se redime (cena estragada na edição especial, que adiciona dois “No” ditos por Vader, como se essa cena precisasse de algo além). Apesar de na cena final estarmos lidando com três sequências diferentes ao mesmo tempo (Endor, batalha espacial e Luke x Vader), não se torna confuso como no Episódio I, que possui quatro.

    Em perspectiva, a luta final entre Vader e Luke, apesar de curta, se mostra intensa, ao contrário dos balés estéreis dos novos filmes. O sabre é apenas uma ferramenta de um jedi (fato afirmado pelo Imperador, que não o utiliza); a Força é algo subjetivo; as batalhas espaciais são bem filmadas, bem colocadas e possuem propósito claro. Apesar de seus defeitos, é uma produção de qualidade, ainda mais se vista a versão lançada no cinema (com Sebastian Shaw na cena final dos “force ghosts”, e não a cabeça digitalmente inserida de Hayden Christensen, a alteração mais polêmica e preguiçosa da saga, já que Luke nunca conheceu ou viu seu pai mais novo, não podendo assim reconhecê-lo). A inserção de outros planetas comemorando uma suposta queda do Império é também questionável, afinal como todos esses planetas ficariam sabendo disso tudo em questão de horas? E, mesmo se soubessem, como iriam desmobilizar as forças remanescentes do Império em tão pouco tempo?

    Retorno de Jedi foi considerado por muito tempo o ponto mais fraco da saga. Porém, a nova trilogia, de tão absurdamente ruim, fez com que ele fosse redimido. Causa um certo desconforto ver os desajeitados ewoks lutando contra o Império, mas a batalha espacial e o confronto dos Skywalkers dentro da estrela da morte acabam pesando a balança a favor da produção, que, se não encerra com chave de ouro a maior saga da história do cinema, ao menos dá a seus protagonistas um desfecho digno, já que ela ainda possui vários elementos dos filmes anteriores, com seus pequenos toques e características que transformaram a franquia em algo tão grande. Além, é claro, de ainda contar com a sorte de um George Lucas não tão egomaníaco.

    (Para ver todas as mudanças feitas em Star Wars desde seu lançamento, acesse aqui – Em Inglês)

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Star Wars – Episódio V: O Império Contra-Ataca

    Crítica | Star Wars – Episódio V: O Império Contra-Ataca

    Star Wars - Episódio V - O Imperio Contra-Ataca

    Há muito tempo, em uma galáxia
    muito, muito distante…

    Episódio 5
    O Império Contra-Ataca

    É um período crítico para as
    Forças Rebeldes. Embora a
    Estrela da Morte tenha sido
    destruída, as Tropas Imperiais
    conseguem expulsar os
    Rebeldes de sua base
    secreta e os perseguem por
    toda a galáxia.

    Fugindo da terrível Frota
    Imperial, um grupo de
    rebeldes chefiados por Luke
    Skywalker, estabelece uma
    nova base secreta no remoto
    mundo gelado de Hoth.

    O senhor do mal, Lorde Darth
    Vader, obcecado pela idéia de
    encontrar o jovem Skywalker,
    enviou milhares de sondas
    remotas para os pontos mais
    longínquos do espaço…

    Assim são as letras amarelas que fazem a introdução da sequência de Star Wars – Uma Nova Esperança. Tive uma certa dificuldade para criar uma introdução decente para essa crítica, então resolvi apelar um pouco. A primeira parte da saga, com toda a sua aventura e sensacionais batalhas especiais estabeleceu um patamar alto de qualidade, o que gerou uma expectativa do tamanho de uma galáxia para esta segunda parte. Geralmente, sequências no máximo conseguem se equiparar ao seu predecessor. Em casos raríssimos, conseguem superar o original. Este O Império Contra – Ataca é um desses casos raríssimos.

    George Lucas contratou a escritora de ficção científica e roteirista Leigh Brackett, tida na época como a “a rainha da space opera”. Durante algum tempo, os dois discutiram ideias sobre como deveria ser o roteiro. Entretanto, Lucas não gostou do rumo que a história estava tomando e pegou para si a responsabilidade de criar o argumento para o filme. O diretor não teve tempo de discutir com Brackett sobre as novas idéias, pois a diretora morreu de câncer pouco depois. Desenvolvendo sua nova história, Lucas teve a ideia de estabelecer Darth Vader como o pai de Luke Skywalker, num dos plot twists mais chocantes da história do cinema. Alguns outros esboços depois, George Lucas pediu que Lawrence Kasdan desse um trato final no argumento. Juntamente com Gary Kurtz e Irwin Kershner (diretor contratado porque o criador da saga não queria acumular funções) o roteiro adquiriu um tom mais sério, adulto e mais escuro, em oposição ao tom solar do Episódio IV.

    É interessante observar o desenvolvimento do filme. Tudo é muito redondo desde o início, com eventos sucessivos que não deixam espaços para pontas soltas. A partir da espetacular batalha de Hoth, duas vertentes são estabelecidas. Um tom aventuresco e eletrizante com a fuga de Han Solo, Leia e Chewbacca da frota do Império e um tom intimista e quase psicológico com Luke indo treinar com o Mestre Yoda no Sistema Degobah. Aqui, vemos um prosseguimento da saga do herói, ao passo que Luke deixa de ser um garoto mimado e hesitante em sua liderança para assumir o seu papel de símbolo da Aliança Rebelde e principal arma contra Darth Vader e o Imperador Palpatine. Além de Luke estar mais maduro, maturidade é algo evidente em Han Solo e Leia, pelo menos no que diz respeito às suas responsabilidades dentro da Aliança, ainda que Han seja relutante e queira abandonar tudo para limpar a sua barra com Jabba The Hutt e voltar a sua vida de aventuras. Porém, no que tange a sentimentos mútuos, os dois são imaturos, indo das rusgas até um momento romântico impagável antes de Solo ser congelado.

    Kershner se mostra um grande maestro de cenas de ação e aventura na sequência de batalha inicial e na já referida fuga desesperada da Millennium Falcon. Só que mais importante que isso, é o fato do diretor conseguir captar a essência do roteiro e conferir profundidade dramática a todos os personagens, coisa que George Lucas nunca conseguiu. O canastrão Mark Hamill tem aqui o seu melhor momento como Luke Skywalker, possivelmente por influência de Kershner. Outro ponto positivo do diretor Irwin é a ótica dele sobre cada ambiente. Ele consegue transmitir toda a imensidão e a frieza de Hoth, a opressão que Dagobah exerce sobre Luke e a arquitetura labiríntica dos corredores de Bespin.

    Com relação ao trabalho técnico, mais uma vez foi sensacional. Há de se destacar os efeitos criados pela Industrial Light & Magic. Se no primeiro filme a empresa criou eletrizantes batalhas de larga escala, aqui ela compreendeu todo o conceito de dogfight (batalhas aéreas de curta distância – Top Gun explica bem do que se trata) e criou momentos fantásticos como a batalha de Hoth e a fuga da Millennium Falcon através do campo de asteroides. O som e os efeitos sonoros ajudam a envolver o espectador no clima do filme.

    Nas atuações, há uma clara evolução do trio principal. Mark Hamill está bem mais à vontade no papel de Luke Skywalker, transmitindo a maturidade que o personagem adquiriu com o passar do tempo. Isso inclusive ajuda a torná-lo mais carismático. Carrie Fisher continua competente como a Princesa Leia e a faz ainda mais decidida e impetuosa. Porém, o destaque novamente é Harrison Ford. Sua interpretação para Han Solo é brilhante, uma vez que o ator consegue compreender todas as nuances do personagem, sejam suas qualidades ou falhas de caráter. Ele é responsável por um dos grandes momentos do filme, quando Solo está para ser posto em animação suspensa num esquife de carbonita. O ator resolveu improvisar após repetir várias vezes um momento romântico entre Han e a Princesa Leia e terminou por criar algo memorável. Com relação aos novos e importantes personagens introduzidos no filme, Billy Dee Williams conseguiu o tom certo para seu Lando Calrissian, um antigo conhecido de Han Solo e o Yoda mecânico de Frank Oz é excepcionalmente bem manipulado, com expressões faciais muito críveis.

    Tentando resumir em poucas palavras após essa quase monografia: O Império Contra-Ataca é sensacional, supera e muito o original e merece ser reconhecido como um dos grandes filmes da história do cinema, tal como já é feito por inúmeras publicações e críticos.

  • Crítica | Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança

    Crítica | Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança

    Star Wars - Episodio IV - Uma Nova Esperança

    A Teoria do Caos é uma das leis mais importantes do nosso universo. Presente em tudo que nos cerca, faz com que uma mudança na trajetória de um evento altere completamente seu final, podendo trazer as mais variadas e imprevisíveis consequências. E foi da Teoria do Caos que nasceu o Efeito Borboleta, estudo promovido e comprovado pelo meteorologista Edward Lorenz, na década de 60 e posteriormente corroborada por outros estudiosos. Lorenz dizia que o simples bater de asas de uma borboleta poderia causar tufões no outro lado do mundo.

    O diretor e roteirista George Lucas, que veio da mesma “escola” de monstros como Coppola e Spielberg, não tinha nenhuma noção do que estava por vir quando a primeira parte daquele calhamaço de papel que carregava havia sido aprovada para virar um filme. A única coisa que ele sabia é que tinha um prazo apertado e um orçamento limitado para deixar o filme pronto, sendo que tudo parecia conspirar contra a produção que foi muito conturbada e que, após a escolha do elenco, passou por diversas dificuldades no deserto da Tunísia, onde, pelo menos 1/3 do filme foi feito. Passadas todas essas dificuldades, o pior ainda estava por vir, uma vez que o conceito sci fi estabelecido por Lucas, apesar de não ser pioneiro, exigia certa habilidade técnica que os profissionais da época não tinham. E esse, talvez, foi o maior trunfo do visionário diretor, que acabou por criar sua própria empresa de efeitos especiais, Industrial Light & Magic (a maior do mundo), uma empresa de mixagem de som (Skywalker Sound), uma empresa de sistema de som (THX) e a Pixar, com o intuito de desenvolver animações.

    Assim nasceu o efeito borboleta chamado Star Wars, filme que mudou para sempre, não só a história do cinema, mas também a maneira como se faz cinema, algo que teve um impacto impressionante na indústria e na população mundial, o que perdura até os dias de hoje.

    Logo no início, sabemos que a história se passa há muito tempo, em uma galáxia, muito, muito distante e após das clássicas letras amarelas que explicam o que está acontecendo naquele momento, somos abatidos por uma nave colossal que chega a preencher toda a tela, perseguindo uma nave menor. Assim somos apresentados a Darth Vader (David Prowse sendo dublado pela voz imponente de James Earl Jones), o maior personagem da história do cinema, com seu visual ameaçador, além da voz e respiração mecânicas.

    Temendo ser presa por Vader, a Princesa Leia (Carrie Fischer) esconde informações importantes dentro do simpático robô R2-D2 (Kenny Baker) e o despacha junto com outro robô, C-3PO (Anthony Daniel), para o planeta Tatooine, com o intuito de encontrar o misterioso Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness), tido por Leia como sua única esperança. Porém, a incursão dos droides em Tatooine não dá muito certo e eles acabam sendo vendidos ao jovem Luke Skywalker (Mark Hamill) que, sem querer, acaba conseguindo ler a mensagem de Leia. Assim, Luke desconfia que a bela moça esteja falando do “velho” Ben, tido por muitos como um bruxo que vive na região.

    Percebe-se nessa parte do primeiro ato que Luke é bastante curioso e reticente quanto ao seu desconhecido passado. Seus tios escondem ao máximo quem de fato foram seus pais. Assim, ele vê Ben como a última peça do quebra-cabeça ao descobrir que o nobre e sábio Obi-Wan Kenobi  é, na verdade, um cavaleiro Jedi, muito mais próximo de Luke do que ele podia imaginar, uma vez que Obi-Wan lutou ao lado do pai de Luke e encontro poderá mudar o destino da galáxia para sempre.

    Lucas desenvolveu uma história simples, mas funcional, do bem contra o mal, onde o mocinho precisa salvar a princesa, onde a minoria da Aliança Rebelde, com seus poucos recursos, tenta tirar do poder o Império Galático, que, no decorrer dos anos, devido à sua tirania, acabou por juntar muitos dissidentes, dentre os quais o mercenário canastrão Han Solo (Harrison Ford), que, por odiar o Império e, principalmente, por estar precisando de dinheiro, aceita a empreitada suicida de ir resgatar a Princesa Leia, juntamente de seu co-piloto, o wookie, Chewbacca (Peter Mayhew), além de Obi-Wan e Luke, que, detentor da Força, começa seu treinamento Jedi.

    A aventura em questão possui ótimos momentos e o segundo ato é repleto de tensão dentro da base do Império conhecida como Estrela Morte, uma estação espacial gigantesca com poder bélico suficiente para destruir um planeta inteiro e os melhores momentos, com certeza, ficam por conta do resgate de Leia, junto com o embate de Luke, Han e Chewbacca contra os soldados do Império, conhecidos como Stormtroopers. E não podemos esquecer de um dos momentos mais emocionantes da saga, onde Obi-Wan Kenobi enfrenta Darth Vader, numa luta com sabres de luz, mais intelectual do que física.

    Assim, pela primeira vez que está a um passo à frente do Império, os Rebeldes preparam uma investida contra a Estrela da Morte que resulta no melhor título que esse filme pôde ter. A “guerra nas estrelas” na qual Aliança e Império se propuseram é, de fato, muito boa e emocionante, com efeitos especiais nunca antes vistos. Os belos Tie Fighters do Império contra os X-Wings da Aliança Rebelde formam um balé no espaço digno de nota e que ajudou o filme a ser um dos maiores sucessos de bilheteria da história do cinema.

    O mérito de George Lucas não é apenas pelo fato da história ser boa, tão menos pela sua direção (longe de ser um primor e repleta de “homenagens” a Flash Gordon). Acontece que Star Wars beira a perfeição por diversos motivos. A começar pela trilha sonora certeira do mestre John Williams que, responsável por diversos clássicos do cinema, emplacou pelos menos outros 3 grandes sucessos só nesse filme. O jovem Harrison Ford definiu para sempre seu personagem. A elegância de Alec Guiness traz serenidade ao velho Obi-Wan. O ameaçador Darth Vader, o maior vilão da história do cinema. Além disso, a biodiversidade chega a ser absurda. Diversas raças de alienígenas convivendo entre si. Temos também os designs da produção, desde o figurino dos protagonistas, passando por toda a arte proposta ao Império, onde quase tudo é de cor escura, porém muito belo. E o que falar das naves? O Star Destroyer cruzando a tela logo na primeira cena, os Tie Fighters, caças imperiais rápidos, mortais e dotados de nenhuma aerodinâmica e ainda temos a Millennium Falcon, a nave de Han Solo. E também há espaço para destacar a sonoplastia, uma vez que o impacto poderia ter sido bem menor se os sabres de luz, as naves e o restante das armas não tivesses aqueles sons tão característicos.

    Enfim, todo esse conjunto definiu o que seria o cinema do ano de 1977 para frente. Todo esse conjunto definiu que o ser humano pode sim se apaixonar por um filme.

    Texto de autoria de David Matheus.

  • Crítica | A Incrível História de Adeline

    Crítica | A Incrível História de Adeline

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    Adeline (Blake Lively) é um fenômeno inexorável de origem puramente estatística, bem como todos o habitantes deste planeta. Cada nascimento específico tem uma probabilidade de cerca de 1 em 300 milhões, ou 0,0000003% de ocorrer, traduzindo-se em um fenômeno extremamente raro, e que a despeito desta raridade ocorre todos os dias. Adeline, uma mulher independente nascida no século XIX vive hoje como fruto de um fenômeno fabular apresentado pelo narrador que foi capaz de tornar cada uma de suas células indiferente à passagem do tempo. E assim, sem envelhecer, vê o tempo passar e destruir seus sonhos, mantendo existência, fazendo-a se reinventar a cada ponto de cisão de sua vida ou sempre que alguém percebe sua condição especial.

    O tempo físico se constitui de uma variável com sentido bem definido, representado no conceito de Seta do Tempo que diz que processos físicos seguem um sentido prioritário, não havendo a reversibilidade destes mesmos processos. Era, anteriormente à Teoria da Relatividade, um conceito absoluto. Hoje se sabe que é relativo, bem como o espaço trazendo consigo a ideia de que é de alguma forma possível agir sobre o tempo, lhe dando o status de fenômeno físico.

    Os ecos filosóficos de tais elaborações alcançam o imaginário popular, e este objeto de fascínio humano desde sempre vai se transformando como uma forma de protesto ao poderoso efeito do passar dos anos. Nietzsche com sua concepção do “Eterno Retorno” indica que estaríamos presos à uma série sucessiva de eventos fadados à repetição, que se repetiram no passado, ocorrem no presente e se repetem no futuro, tal como guerras ou acontecimentos históricos. Assim é A Incrível História de Adeline, uma repetição de muito do que se viu ou sabe-se sobre fábulas ou romances no cinema.

    Na era da ciência, o ser humano se tornou aquele que seria tratado como demônio, como anunciado por Nietzsche, que surgiria como portador da verdade sobre o tempo, ou que seria tratado como ser dividido caso esta verdade lhe tocasse. Não a toa a fábula de Adeline tem todo um verniz científico, atribuindo dados estatísticos, um contexto histórico tratado como fenômeno determinístico, e uns pequenos falsos fatos para a verossimilhança da trama. Não a toa, também, Adeline vê em conflito moral ao se apaixonar por um cientista sonhador às vésperas de sua próxima mudança de vida para fugir de seu futuro de questionamentos sobre o que ela é. Seu sofrimento consiste em aceitar ou não o demônio citado pelo filósofo, é a decisão entre escolher reviver sua vida ou reiniciar sua existência sem passado.

    Apesar do conceito interessante, o filme sofre de problemas narrativos sérios como, por exemplo, lançar mão da narração em off para toda e qualquer grande resolução. Tal conceito soa normalmente preguiçoso, e o espectador percebe que o recurso será recorrente e constante. Estatisticamente previsível para aquele que já viu algum outro romance, a película se recusa a fugir de estereótipos mesmo que queira dar a entender que sua visão é diferente e eventualmente mais moderna do que seus pares.

    Um bom divertimento, aquém do que poderia ser, não funciona tão bem como fábula e nem como romance, mas é bem mantido pelo bom elenco que conta com surpresas e faz daqueles acontecimentos óbvios algo, ao menos divertido de se ver, novamente.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Crítica | Os Mercenários 3

    Crítica | Os Mercenários 3

    Expendables 3

    Simbolicamente – e claro, a exemplo dos dois episódios anteriores – Os Mercenários 3 já começa em meio a ação, mostrando Barney Ross (Sylvester Stallone) e seu grupo de dispensáveis brucutus invadindo um trem em movimento, no intuito de resgatar o preso e antigo amigo do membro do grupo Surgeon, que é vivido por Wesley Snipes, que apesar de ser resgatado, permanece arredio. A quantidade de referências à vida pessoal do intérprete (este ficou um tempo longe dos holofotes por estar encarcerado) só não é maior que o paralelo feito com o retorno aos sucessos que cada um dos antigos heróis de ação teve após o primeiro filme de Sly e companhia.

    No entanto, uma mudança é notada logo de início. Apesar do conteúdo da fita permanecer agressivo, a faixa etária da classificação indicativa diminuiu drasticamente, o que impede a câmera do novato Patrick Hughes de exibir a quantidade colossal de sangue e dilacerações que permeavam os filmes anteriores. O retorno de Surgeon, além de causar uma marola na relação dos Mercenários (com uma referência, claro, a este como alcunha do clube) por este, como Christmas (Jason Statham) ser especialista em facas, reabre algumas feridas, como com as mostras das tags dos antigos companheiros mortos e claro, com a descoberta da sobrevivência de Conrad Stonebanks, encarnado por um bombadíssimo Mel Gibson.

    Além de guardar o ódio de seus antigos colegas, Stonebanks alveja Caesar (Terry Crews), e o põe em um perigo de vida imenso, o que faz Barney pensar mais seriamente em uma aposentadoria, não por si, mas por seus companheiros. A caçada do herói passa a ser solo, resgatando mais algumas figuras de seu passado, cortando a estrada em busca do que deu errado, e do porquê de Conrad ainda estar vivo. Nesse ínterim, ele é apresentado a uma nova gama de personagens, entre eles o novo encarregado da CIA vivido por Harrison Ford, Drummer – que consegue ser um trocadilho até pior que Church – o selecionador de novos talentos Bonaparte (Kelsey Grammer) e o acrobata cinquentenário Galgo (Antonio Banderas) e alguns outros meninos novos, com disposição e com todos os dentes na boca, que deveriam substituir os trabalhos de seus antigos colegas.

    Refugados por seu antigo líder, Lee e os outros veem a força tarefa da nova geração embarcar junto a Barney e Trench (Arnold Schwarzenegger), repleta de rostos bonitos, sorrisos encantadores, remetendo visualmente às séries consumidas pelos adolescentes atuais, em mais uma artimanha de Stallone em alcançar o público juvenil. A dura realidade de estar novamente relegado a um papel secundário, em um campo onde antes reinavam, acomete Lee, Gunnar (Dolph Lundgren), Toll Road (Randy Couture) e Surgeon, e até o que poderia ser um defeito do guião acaba sendo uma boa anedota, a banalização da figura do brucutu serve como uma excelente motivação dentro da proposta.

    O legado que Ross tenta deixar é o de proteger os que lhe são caros, mesmo que isso signifique tirar da ação aqueles que sempre foram fiéis, o que faz o embate com seu antigo parceiro ser ainda mais aviltante, uma vez que Conrad considera que ambos são iguais. O antagonista não vê diferença nas posturas tomadas pelos sexagenários mercenários, e em meio a uma troca de papéis nos arquétipos de gato e rato, Stonebanks rapta a nova equipe de Barney, o que faz com que o dream team retorne das cinzas, em mais uma manobra redentora típica dos filmes que Sly dirigia nos anos 80.

    O modo como Hughes conduz a câmera é competente em sua proposta, uma vez que, ao contrário dos outros filmes onde se fazia um pastiche dos filmes de ação oitentistas, esse serve para mergulhar na mente e na operação de seus protagonistas. A fita é repleta de humor, especialmente nas figuras de Galgo, mas o viés de reflexão é mais sobre a obsolescência do que qualquer outra coisa, não que haja alguma inteligência maior do que nos outros momentos da franquia, mas a emoção é muito mais elevada, a busca é em comover a audiência através do drama de seus heróis.

    Nas cenas finais, é a velha guarda que toma as rédeas da situação, protagonizando as partes mais interessantes do embate, que infelizmente usa e abusa dos efeitos em CGI. Um dos diferenciais da franquia até então eram os combates filmados in loco, com técnicas que podem ser vistas como rudimentares pelo expectador novato, mas que garantiam às fitas mais veracidade e textura.

    No entanto, os erros de concepção ficam ainda mais evidentes. O vilão poderia ter sido melhor construído, ele não é nem tão digno de ódio quanto Villain era em Os Mercenários 2. Falta sentir apuro pelos personagens principais, a todo momento parece que os velhacos se safarão sem arranhões, são raros os embates físicos, que até são precedidos por frases feitas de cunho excelente, mas pouco mostram, ainda que a breve luta de Stonebanks e Ross seja interessante. O grave problema deste Os Mercenários 3 é ser bem menos divertido do que as fases pretéritas, deixando espaço para enxergar seus defeitos.

    A mensagem deixada em seu final vai de encontro a tudo o que foi mostrado na carreira de Stallone e também nesta franquia. O modo como Barney olha para aqueles que seriam os seus alunos, trinta anos mais jovens fazendo tudo o que ele cansou de fazer em tela dá a tônica de como funciona atualmente a mente e a intimidade do ator, diretor e cineasta, talvez até antevendo uma possível aposentadoria, se não da carreira de cineasta, ao menos do filão de filmes de ação. Esse subtexto acaba sendo mais rico que toda a arquitetura, pirotecnia e atitude bad ass que sempre preconizaram as ações de Barney e seus asseclas.

  • Crítica | Ender’s Game: O Jogo do Exterminador

    Crítica | Ender’s Game: O Jogo do Exterminador

    Ender's Game - O Jogo do Exterminador

    Baseado no romance de mesmo nome, de Orson Scott Card, com roteiro e direção de Gavin Hood, o filme conta a história de Andrew Ender Wiggin (Asa Butterfield), uma criança que, mesmo sendo um “terceiro” (o filho excedente), é inteligente e muito bem-sucedido na escola de combate. Após a Terra ter sido atacada por alienígenas conhecidos como Formics – devido à sua semelhança física com os insetos – é formada uma Armada Internacional, que se encarrega de treinar uma geração de jovens talentos incumbidos de realizar um contra-ataque 100% efetivo. O Coronel Hyrum Graff (Harrison Ford) convoca Ender, acreditando que ele tem potencial para se tornar um líder estrategicamente tão bom quanto o lendário Mazer Rackham (Ben Kingsley), responsável pela primeira vitória sobre os Formics.

    O livro, apesar de ser leitura (quase) obrigatória entre fãs de ficção científica, perdeu boa parte do seu impacto com o passar do tempo devido aos avanços tecnológicos. O que resta – e não é pouca coisa – é o questionamento filosófico por trás da história: Até que ponto o governo tem direito de “brincar de Esparta”, recrutando crianças para serem treinadas em táticas militares? Até que ponto é válido utilizar esse único ataque sofrido como motivo para um contra-ataque, sem qualquer comprovação de que haverá outro? Até que ponto é ético abusar psicologicamente das crianças a fim de manipulá-las de acordo com os interesses militares? Enfim, há outras tantas perguntas que são feitas e cuja importância no enredo independe das traquitanas tecnológicas.

    Infelizmente, o roteiro conseguiu deixar tudo isso de lado e prendeu-se apenas à superfície da história, atendo-se somente à jornada do herói de um modo que peca pela falta de criatividade. A obra cinematográfica deve ser analisada, a priori, de forma independente e, sob esse ponto de vista, deve se bastar, não necessitando de conhecimento prévio para ser compreendida. No entanto, o espectador passa boa parte do filme com a sensação de que há algo a mais na história que ele deveria saber para a trama ficar mais interessante. E, desconsiderando o fato de ser uma adaptação, da dificuldade de transpôr a narrativa de uma mídia a outra, o roteiro parece ainda mais insosso. Há vários momentos em que se tem a impressão de que a trama vai deslanchar – “hmmm, agora vai ficar legal!”. Alarme falso. O momento passa e o filme continua se arrastando.

    Outro problema é a construção dos personagens, todos unidimensionais e tão “profundos” quanto um pires. Se ao menos o protagonista fosse bem desenvolvido, se suas motivações fossem mais definidas, se as características que levam Graff a escolhê-lo fossem mais evidentes, talvez o público se importasse um pouco mais com seu destino. Ele pode ter um momento de genialidade, tomar uma atitude extremada, sofrer um viés drástico e o máximo de reação que se obtém do espectador é um “Ah, ok.”. Nem se pode culpar Butterfield por sua performance. Ele até consegue transmitir um pouco o dilema do personagem, mas o resultado é aquém da expectativa. O Ender do filme é um moleque antipático o tempo todo e arrogante quando lhe convém.

    Que diferença faz se os cenários são boas representações das descrições de Orson Card? De que adianta se a sala de gravidade zero, utilizada nos treinos dos alunos, é muito fiel ao livro se o restante carece de complexidade? Enfim, para quem assiste sem ter lido o livro, o filme deixa a desejar por ser superficial demais e por deixar vários buracos não preenchidos no roteiro. Para quem assiste aguardando uma boa adaptação, deleita-se com os cenários e os figurinos e nada mais. Vale mais a pena ler o livro. Pois só assim o final do filme adquire algum sentido.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Blade Runner

    Crítica | Blade Runner

    No dia 25 de junho Blade Runner fez 30 anos: relativo fracasso de público na época do lançamento, o filme também dividiu os críticos, mas acabou se tornando cult e então clássico e colocou Ridley Scott na lista dos grandes diretores contemporâneos.

    Blade Runner é uma das ficções científicas mais populares mesmo entre aqueles que não  gostam do gênero e junto com 2001: Uma Odisséia no Espaço provavelmente a mais estudada, analisada e louvada pelos críticos e teóricos do cinema. Talvez porque aqui Scott fale menos de espaço e futuro e mais do que nos faz humanos.

    Em 2019 a Tyrell Corporations alcançou tal tecnologia na construção de andróides (ou replicantes) que se tornou necessária a aplicação de testes sutis para diferenciar entre eles e os humanos. Além disso: uma nova linha em desenvolvimento passaria a possuir memória, ou seja, um senso de família, passado e identidade. A pergunta que paira no ar então é: por que continuamos a trata-los como coisa?

    A trama segue Deckard ( Harrison Ford) um caçador de andróides contratado para desativar (ou “aposentar”) 4 replicantes que fugiram das colônias espaciais onde habitam e vieram para a Terra, onde são proibidos devido aos riscos da rebelião. Ao ser informado da missão Deckard se pergunta “mas por que eles voltariam a terra?”

    Eles vieram em busca de respostas. Mais que isso, conscientes de que sua vida útil é propositadamente muito curta (apenas 4 anos) vieram descobrir como extendê-la. Replicantes temem a morte, não querem abandonar a existência e sentem que seu tempo no mundo é muito curto. Exatamente como humanos. Mas enquanto nossa morte é inevitável e nosso tempo de vida aleatório, o deles é arbitrário: os andróides sabem quem os criou e sabem que vivem apenas 4 anos por opção desses criadores, eles poderiam ser eternos, ou ao menos viver por centenas de anos, mas não são, e sendo assim vêm a Terra também por vingança.

    Ridley Scott parece ter uma posição a respeito da humanidade dos andróides, ele acredita em sua subjetividade e os atores enchem seus personagens de nuances, sensibilidade e expressões que são tudo, menos mecânicas. Em uma memorável sequência Roy ( Rutger Hauer ) pergunta a Deckard se ele sabe o que é viver com medo e afirma seu temor de que tudo que viu, sentiu e experienciou se perderia no mundo, como lágrimas na chuva. Não se pode ser muito mais humano que isso.

    A personagem de Rachel ( Sean Young ) vem reforçar essa ideia, ela é vulnerável, quase frágil e seu desejo e amor por Deckard são bastante genuínos. Seu figurino cheio de peles dá a impressão de textura, calor e acessibilidade e a fotografia, quase sempre escura e artificial, banha a atriz em luz dourada, em Blade Runner só vemos o sol com Rachel em cena. Certo, suas memórias são falsas, mas é necessariamente falsa a identidade que ela construiu em cima dessas memórias? Rachel tem as memórias da sobrinha do Dr. Tyrell, mas elas são a mesma pessoa?

    A direção de arte e fotografia, aliás, colaboram de maneira excelente com o roteiro e as questões levantadas, dando ao filme uma unidade estética rara. Nunca é dia nessa Los Angeles fictícia, a luz é sempre cinzenta ou colorida de neon, é um mundo artificial mesmo para os humanos “de verdade”. Também existem poucas formas arredondadas, orgânicas, os ambientes são vazios, ascéticos, desprovidos de tudo que aproxima, identifica, de tudo que torna pessoal.

    O diálogo entre Roy e Tyrell (Joe Turkel)  é cheio de ambiguidade e retrata bem a delicada relação entre criador e criatura: o misto de agradecimento e fascínio com ódio por ter sido feito mortal. Scott retoma essas questões 30 anos mais tarde em Prometheus e se pergunta de novo qual o limite da criatura e a recusa de qualquer um em abandonar a vida.

    Assim, Blade Runner é um ótimo filme de ação, mas sua essência e talvez sua permanência, estejam nessas perguntas e no incômodo que até hoje sentimos frente a possibilidade de recriar tão perfeitamente a humanidade a ponto de nos perguntarmos o que é mesmo que faz um humano?

    Texto de autoria de Isadora Sinay.