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  • O Esquadrão Suicida: Melhor filme da DC?

    O Esquadrão Suicida: Melhor filme da DC?

    Vamos aos fatos: por mais que eu seja um grande fã dos quadrinhos da DC e tenha sempre torcido para que seu universo cinematográfico fosse tão bem-sucedido quanto o da Marvel, todos concordamos que a casa de grandes personagens como Batman, Superman e o Esquiador Escarlate vem patinando em suas adaptações live action. Fica muito claro que, para se afastar da concorrente, a DC apostou em retratar seu universo de forma mais realista, sombria, séria… O que se mostrou ser uma tremenda de uma bomba, já que seu universo capitaneado pelo “visionário diretor Zack Snyder” se mostrou muito aquém do esperado. O Homem de Aço, primeiro filme desse universo estendido, mostra um Superman confuso e sombrio, o oposto do que ele deveria ser e representar. Estaria tudo bem se isso fosse arrumado na continuação, mas Batman vs Superman: A Origem da Justiça consegue ser ainda mais confuso e fora de propósito. Os fãs, evidentemente, esperariam que tudo se encaixasse no Liga da Justiça, de 2017, e a lambança foi ainda maior! Para que esse universo faça algum sentido, foram precisas uma versão estendida de BvS e um novo corte de 4 horas de Liga da Justiça de Zack Snyder. Ainda assim, é muito mais fácil acompanhar vinte e tantos filmes da Marvel do que ter que fazer um curso de várias semanas para entender minimamente o tal Universo Estendido da DC.

    Mas aí vieram uns pontos fora da curva. Aquaman deu uma banana marinha pra essa linha darkzêra e nos mostrou um filme extremamente colorido e divertido, com uma história aventureira que fez com que o herói mais zoado dos Superamigos se tornasse cool nos dias de hoje! Shazam! foi outra grata surpresa, trazendo um quê de Ben 10 pro personagem e imediatamente criando identificação tanto com o público infantil quanto adulto (que viu ali aquele clima nostálgico do Tom Hanks em Quero Ser Grande, só que com poderes). Arlequina e as Aves de Rapina também foi um filme muito divertido, tendo como principal qualidade o fato de irritar nerdolas que reclamam de “lacração” (hahahahahahahahahaha, eu não me aguento! Hihi!). E logo depois, no mesmo ano, a diretora Patty Jenkins provou que mulheres podem, sim, estar no mesmo patamar de diretores homens que fazem filmes ruins, lançando Mulher Maravilha 1984, que inovou em seu estilo sendo uma bomba de qualidade inversamente proporcional a do primeiro filme da Amazona, de 2017.

    E aí temos O Esquadrão Suicida!

    Voltemos no tempo um pouquinho antes de falar dessa novo filme. Esquadrão Suicida, filme de 2016 que nos apresentaria pela primeira vez nos cinemas a Força-Tarefa X, foi um fiasco! A história que chegou aos cinemas quase não fazia sentido, a equipe pequena deixava claro que quase ninguém morreria (exceto o injustiçado Amarra) e a ameaça que eles enfrentaram era risível (uma feiticeira rebolante). Fora o Coringa, que andava pelo entorno do filme sem propósito algum para a trama e que não faria falta alguma se fosse completamente limado do corte final. Aliás, dizem que existe um “snydercut” do filme do David Ayer que seria melhor do que aquilo que vimos. Bobagem, não tem conserto não! Mas por alguma razão que ninguém sabe qual (cof, cof, Arlequina, cof), o filme acabou caindo nas graças da galera do marketing e rendeu boas vendas de cadernos, camisetas e tatuagens de palhacinhas. Esquadrão Suicida, afinal, era uma excelente ideia, só que porcamente executada. Merecia uma segunda chance. E aí veio o filme de 2020.

    Os primeiros 14 minutos de O Esquadrão Suicida é tudo que o filme inteiro de 2016 deveria ter sido! Uma missão secreta de infiltração com vilões altamente dispensáveis, ação, traição, mortes e execução por deserção, tudo está ali! Em CATORZE minutos! Não é preciso muito tempo de tela pra se explicar do que se trata a Força-tarefa X, nem por quê eles têm o apelido de Esquadrão Suicida, nem muito tempo explicando o background de cada personagem, porque eles são descartáveis. Um cara russo que é proficiente em arremesso de dardos, um que ninguém sabe quais são os poderes, outro que é, literalmente, uma doninha… Ótimo, vamos pra ação!

    Uma coisa que vemos muito em filmes de heróis é a economia de personagens, principalmente vilões. Geralmente, não usam muitos para não desperdiçar o que poderia ser usado mais tarde, ou apenas mostram um vislumbre, como foi com o Darkseid no Snydercut, para que se plante a semente de um filme futuro que, na real, nunca acontece. James Gunn faz o oposto disso. Nunca usaram o Starro como vilão em nenhum filme da Liga? Bora botar ele aqui! Pacificador, Sanguinário, Bolinha…? AH, MANDA PRO PAI! Não tem nenhuma vergonha de se utilizar de personagens que, vamos ser sinceros, não teriam outra chance de aparecer no cinema mesmo! Diferente de Snyder, que parece ter vergonha de personagens galhofa como o Jimmy Olsen (que ele matou na versão estendida de BvS), Gunn abraça a estética dos comics em todos os elementos de seu filme, seja nos uniformes bregas como o de Dardo ou do Pacificador, seja na própria narrativa. O diretor não tem vergonha de colocar dois personagens em CGI totalmente irrealistas para os padrões Snyderescos, e nos brinda com Doninha e Tubarão-Rei, sendo esse segundo o mais carismático de todo o filme (com voz do Garanhão Italiano Sylvester Stallone).

    O Esquadrão Suicida é um filme que não tem vergonha de suas origens nos gibizinhos. Ao contrário, abraça todo esse absurdo, conta com a suspensão de descrença do público e nos entrega diversão amalucada e violenta da mais alta qualidade! Claro que, passada algumas semanas de seu lançamento, já sabemos que o filme flopou nas bilheterias. Infelizmente, isso se dá mais por questões externas, como o marketing confuso (é uma sequência, um remake ou um reboot?), a classificação indicativa alta, o elenco com grande número de personagens desconhecidos e, obviamente, a pandemia que impossibilita a lotação das salas de cinema. Ainda assim, é possível que o filme tenha lançado algumas das sementes que germinarão nos próximos filmes da DC, tanto no tom quando na estética e, esperamos, com bons roteiros e direção ousada. Pode não ser o melhor filme da DC de todos os tempos, mas com certeza é o mais importante dessa década!

  • VortCast 68 | Rambo

    VortCast 68 | Rambo

    Bem-vindos a bordo. Filipe Pereira, Jackson Good (@jacksgood), Rafael Moreira (@_rmc), Mario Abbade (@AbbadeMario) e Carlos Brito para comentar sobre Rambo e a série de filmes iniciada em 1982, protagonizada por Sylvester Stallone e baseada no romance de David Morrell.

    Duração: 94 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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    Crítica Rambo: Programado Para Matar
    Crítica Rambo II: A Missão
    Crítica Rambo III
    Crítica Rambo IV
    Crítica Rambo: Até o Fim

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  • Crítica | Rambo III

    Crítica | Rambo III

    John Rambo é um dos principais personagens da cultura pop mundial. Vivido pelo astro Sylvester Stallone, o personagem caiu nas graças do público logo no primeiro filme, Rambo: Programado Para Matar, que conta a história de um boina verde que voltou à América após o fiasco da Guerra do Vietnã. Rambo é praticamente um andarilho e, confundido com um vagabundo, acaba por sofrer nas mãos da polícia de uma pequena cidade. O soldado, usando de suas habilidades de guerra, acaba caçando os policiais com maneiras muito primitivas, chamando a atenção de seu antigo companheiro, o Coronel Trautman, vivido por Richard Crenna. O filme é até considerado um drama (dos bons), o que difere do segundo e terceiro filme, onde o soldado volta ao campo, primeiro para libertar prisioneiros de guerra e segundo para salvar o próprio Coronel Trautman.

    À época de seu lançamento, Rambo III foi considerado pelo Guiness Book, o livro dos recordes, o filme mais violento já feito, dada a contagem de mortes, explosões e atos e violência. Contudo, a produção passou por diversos problemas, dentre eles a demissão do diretor Russel Mulcahy e de boa parte da equipe. Mulcahy estava em alta por ser o responsável pelo clássico Highlander: O Guerreiro Imortal. Apesar dos problemas na produção, o diretor de segunda unidade Peter MacDonald assumiu a bronca, fazendo com que Rambo III fosse sua primeira empreitada na cadeira de direção.

    Como mencionado, o Coronel Trautman vai até John Rambo para pedir ajuda numa missão para intervir a favor do povo do Afeganistão que está sofrendo nas mãos dos russos. Vale destacar que o episódio de fato ocorreu, quando os Estados Unidos, secretamente ajudaram o povo afegão com o fornecimento de armamento. Rambo nega o pedido de seu amigo que parte sozinho para a missão, sendo capturado por um tirano coronel soviético, não restando outra alternativa ao soldado, senão salvar seu mentor e amigo. Fica registrada aqui a “ivandragonização” dos personagens soviéticos, que assim como em Rocky IV, são extremamente caricatos.

    MacDonald claramente tenta mostrar um lado mais humano de Rambo, fazendo-o interagir com o povo que está assolado pela guerra. Os momentos de humanidade presente no personagem procuram ser mais extensos do que aquele momento em que o vemos sentindo um certo carinho uma informante e que morre pouco tempo depois no segundo filme. Só que, talvez por força do personagem, o Rambo que melhor funciona em tela é o soldado implacável.

    Assim como nos dois primeiros filmes, vemos o personagem passando por muitos apuros e ganhando novas cicatrizes e por que não, fazendo seus próprios curativos? Aliás, esse é o ponto alto do filme, quando um detrito de uma explosão atinge Rambo, que fica com o artefato atravessado em sua barriga. Numa cena que faz com que os mais durões roam as unhas, o combatente retira o artefato, despeja pólvora no buraco do ferimento e ateia fogo em si mesmo para estancar o sangramento. Sem mais.

    Mas com uma história interessante e que pega emprestado um fato que realmente aconteceu, o filme não empolga. As sequências de ação que eram para ser a especialidade do diretor não emplacam e o que se vê é um amontoado de cenas e cenários que parecem não se encaixar, principalmente no segundo e terceiro ato. O filme foi recebido pela crítica como uma bomba e para se ter noção do nível, Sylvester Stallone ganhou o Framboesa de Ouro como pior ator. O filme teria sido uma triste despedida para o personagem se Rambo IV não tivesse sido feito anos depois.

    Um fato curioso é que, em seu final, o filme é dedicado ao povo do Afeganistão, sendo que, anos depois a película passou a ser ainda mais odiada após os horríveis ataques terroristas ocorridos em 11 de setembro de 2001, liderados por Osama Bin Laden.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

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  • Crítica | Rambo II: A Missão

    Crítica | Rambo II: A Missão

    Pois bem. Em  Rambo Programado Para Matar, o veterano John Rambo era um homem atormentado pelos horrores que viveu no Vietnã que se rebelava contra uma o xerife preconceituoso de uma cidadezinha interiorana dos Estados Unidos. O filme baseado no livro de David Morrell era excelente em vários aspectos, carregava uma crítica à Guerra do Vietnã e ao tratamento dado aos seus ex combatentes. Porém, em uma virada inesperada, Rambo acabou adotado por Ronald Reagan e acabou se tornando um símbolo de seu período como presidente da nação mais bélica do planeta. O ex-boina verde passou a ser um símbolo do conservadorismo dos militantes do Partido Republicano.

    O ano era 1985 e a Guerra Fria estava no fim. A União Soviética estava enfraquecida e os EUA se consolidando como potência mundial. Porém, havia a mancha da derrota da Guerra do Vietnã. É nessa esteira que o Coronel Trautman (vivido por Richard Crenna) tira Rambo da prisão para uma última missão: resgatar soldados americanos ainda feitos prisioneiros pelo exército vietnamita. Supervisionada pelo burocrata Marshall Murdock, a missão é praticamente suicida, mas os traumas de Rambo, a possibilidade de se livrar da pena a que fora condenado depois dos eventos do primeiro filme o fazem aceitar e uma espécie de revanche simbólica (talvez este o maior motivo) contra o Vietnã fazem Rambo aceitar a missão. O que sucede depois disso é uma colagem de cenas de ação inventivas e icônicas, além de algum drama e uma ou outra reviravolta .

    Baseado em uma história de Kevin Jarre, o roteiro do filme foi escrito por James Cameron e Sylvester Stallone. Infelizmente, a diferença é gritante para o primeiro filme. Há uma indigência muito grande no script, reduzindo a complexidade do personagem e o tornando em uma unidimensional máquina de matar. Há uma clara xenofobia no texto, com os não americanos sendo tratados como sádicos, selvagens e inferiores. Fora que a ideia de prisioneiros de guerra sendo mantidos até 10 anos depois do fim do combate sem nenhum proposito maior por trás não faz o menor sentido. Resumindo em poucas palavras, o roteiro é apenas pretexto para mostrar Stallone destruindo tudo em sequências de ação muitíssimo bem orquestradas.

    George Pan Cosmatos, que também dirigiu Stallone Cobra, conduz de forma primorosa algumas sequências de ação, com destaque especial para aquelas em que Rambo usa o arco e flecha e o helicóptero. Porém, a minha preferida é aquela que Rambo se camufla na floresta e vai abatendo o pelotão de soldados um a um das formas mais inventivas possíveis. A cena da lama é maravilhosa. Cosmatos até consegue extrair uma dinâmica interessante entre o ex boina verde e Co Bao, seu contato vietnamita. A moça passa longe de indefesa e salva John em alguns momentos, inclusive trazendo de volta um pouco da sua humanidade esquecida em grande parte do roteiro. São os melhores momentos dramáticos de Stallone no filme, visto que o ator desfila sua canastrice de forma espetacular na tela, enquanto Crenna (coronel Trautman) e Charles Napier (o burocrata Murdock) se dedicam basicamente a discutir e suar abundantemente durante quase todo o filme. Julia Nickson se vira bem enquanto está em cena e o eterno vilão Steven Berkoff faz aquilo sabe melhor: ser um odioso vilão sádico.

    Quando esquecemos o caráter panfletário, Rambo II se mostra como um grande filme de ação e ótimo exemplar do cinema brucutu que tomou de assalto os anos 80. Porém, ao ligarmos o senso crítico e prestarmos atenção na história, a trama do filme acaba se tornando difícil de engolir. Sendo assim, é melhor desligar o senso crítico e apreciar todas as grandes sequências de ação do filme que ainda possui uma grandiosa trilha sonora do mestre Jerry Goldsmith.

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  • Crítica | Rambo IV

    Crítica | Rambo IV

    Poucas franquias contrariam tanto sua obra original, comumente a que guia capítulos subsequentes, quanto a saga de John Rambo. Não que o original Rambo: Programado Para Matar fosse exatamente contrário às ideias contidas nos três filmes realizados entre 1985 e 2008, mas a trajetória de Rambo após sua trágica incursão por seu próprio país pós-Guerra do Vietnã, culminando em sua transformação numa máquina de guerra cínica e quase mitológica, dificilmente seria imaginada por quem assistisse ao primeiro filme, cujo desfecho apresentava uma improvável sensibilidade diante das experiências de alguém treinado pra se tornar um guerreiro perfeito. Mas assim como o pragmatismo militar tão apreciado por Hollywood (mesmo quando os filmes trazem questionamentos à tona), Rambo IV faz valer a força de uma existência voltada para uma cultura bélica e empreende todo o possível pra transformar a guerra não apenas em espetáculo, mas também em uma necessidade, ou ao menos em algo inevitável.

    Trazendo um cansado e desencantado John Rambo (Sylvester Stallone, que também dirigiu e co-escreveu o filme) vivendo às margens de um rio (e da sociedade) na Tailândia, sustentando-se de bicos e quietude duas décadas após a apoteose combativa que protagonizou no Afeganistão, Rambo IV rapidamente nos introduz a um grupo humanitário cristão que visa chegar a Burma para levar medicamentos e provisões à população local, vitimada por conflitos civis longe de qualquer resolução, e que pretende contratar os serviços do ex-combatente para transportá-los até a região. Inicialmente relutante, especialmente ao ponderar sobre o caráter pacifista do grupo, Rambo aceita levá-los após a intervenção de Sarah (Julie Benz), esposa do líder do grupo missionário, Michael (Paul Schulze), que o convence através de uma insuspeita demonstração verbal de altruísmo. Uma vez a bordo do barco de Rambo e rumo ao destino pretendido, não demora para que os viajantes sejam atacados por bandidos (viajavam, afinal, por uma região inóspita e hostil), pronta e brutalmente repelidos pelo protagonista, para horror dos missionários – e assim Rambo é dispensado dos seus serviços, voltando à sua vida pacata na Tailândia apenas para, pouco tempo depois, ser procurado por outras pessoas pra liderar um time de militares privados e resgatar os missionários da (previsível) situação em que se encontram após serem capturados pelos algozes (dotados de vileza ímpar, diga-se) da população que visavam amparar.

    A lógica narrativa de Rambo não é absurda, e nem mesmo torpe, ao apresentar o mundo (visto pelos olhos do inativo boina verde) como um lugar onde dificilmente as coisas não são resolvidas através de violência e onde o altruísmo costuma custar bem caro, já que geralmente vem acompanhado de ingenuidade e boa vontade incompatíveis com a realidade. Poderíamos dizer que Rambo é o retrocesso em pessoa após os eventos do primeiro filme, no qual gradualmente o mundo fora da zona de guerra não oferecia lugar a alguém condicionado a se tornar alguém que só teria lugar num front, mas a verdade é que o Johm Rambo visto em Rambo é uma figura consequente e natural dos desenvolvimentos em seus segundo e terceiro filmes – de alguém desesperado para compreender como voltar à sociedade após uma guerra que não foi capaz de vencer, Rambo passou a alguém que foi ativamente em busca de guerras que seria capaz de vencer (sozinho, se fosse o caso) -, e conseguimos encarar o recrudescimento da personagem como algo aceitável, mesmo que nada agradável e até melancólico. O problema, que no filme não é apresentado exatamente como um problema em si, é que Rambo é tão capaz de justificar suas ações quanto é capaz de executá-las, e Rambo até tenta qualificá-lo como alguém disposto a encontrar outro caminho para trilhar (o que, em retrospecto, foi *deixado para a próxima* assim que o quinto filme da franquia foi anunciado), mas o fato é que o homem forjado pelo Coronel Trautman (bom personagem de Richard Crenna nos três primeiros filmes) é bom demais no que faz para que ideias de paz sejam mais viáveis do que a lógica inapelável da guerra.

    Stallone, como figura do meio cinematográfico, seja como ator, roteirista ou diretor, sempre permaneceu firme na proposta de usar colarinho azul, e Rambo é um ótimo exemplo desta abordagem; estetica e narrativamente, Rambo é um filme simples e objetivo, que não se ocupa de floreios e não esconde o jogo tramando viradas e buscando surpreender o espectador com algo impensado. Assim como seu protagonista, Stallone compõe em Rambo, tanto como ator como quanto realizador, uma experiência singela, que mesmo quando propõe a aceitação de vários baluartes do cinema de ação mais reacionário (a necessidade da intervenção, a eficácia da violência, a disposição para reconhecer que o mundo inevitavelmente será pautado pela ação de quem abandona a inércia em prol da guerra justificada – seja qual for a justificativa), não se exime de apresentar o horror gráfico de um conflito. Ainda assim, mesmo que as cenas de ação sejam bem enquadradas, elaboradas e executadas pra que pareçam enxutas e sanguinolentas, é impossível deixar de notar a catarse oferecida por Rambo através da violência; quando nos lembramos que a brutalidade de John Rambo em Rambo 1 era ao mesmo tempo um recurso e um desafogo, e que gradualmente o traumatizado soldado deu lugar a alguém que acatou tudo o que não conseguia compreender e aceitar, temos a sensação conflitante de que algo genuíno se perdeu, mesmo que um novo filme tente provar que esta é a única maneira sensata de Rambo fazer parte, qualquer parte, de algo maior do que a própria lenda. Vale a reflexão acerca da facilidade com a qual Rambo mata em nome de uma causa: se não aceitarmos que ele está certo, muito além de ter ou não alguma outra escolha diante do cenário apresentado, nem toda a honestidade do mundo conseguiria tornar a violência vista em Rambo em algo digno de purificação e expiação (talvez Mel Gibson fosse o diretor ideal pra filmes contemporâneos sobre John Rambo). É revelador como as duas personagens icônicas vividas por Stallone (com o peso do mundo nas costas, embora Rocky seja bem mais humano) só se sentem confortáveis, ou ao menos bem acomodados, em meio ao nada que costuma sobrar de suas vidas outrora bem movimentadas.

    Navegando rio asiático adentro entre abordagens que variam sem sair do raso entre o marketing e o horror de um conflito, Rambo é um filme competente, mesmo que seja desprovido de ferramentas que permitam uma oferta mais generosa de estofo (e algo além do espetáculo de vísceras e sangue que o filme apresenta como algo cotidiano quando se quer fazer uma diferença). E o tempo torna cada vez mais óbvio que o desespero do combatente agarrado a Trautman (seu mentor E seu superior) ao final da sua primeira aparição nas telonas se devia muito menos à constatação de quem Rambo havia se tornado, e muito mais ao vislumbre de quem ele teria de se tornar, sabendo o que sabe e fazendo o que faz, se um dia almejasse uma vida honesta (principalmente consigo mesmo). Se Programado Para Matar era um ponto de partida, Rambo IV é, ao menos provisoriamente, a lastimável e coerente chegada.

    Texto de Henrique Rodrigues.

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  • Crítica | Rambo: Até o Fim

    Crítica | Rambo: Até o Fim

    Após um novo grande hiato, de 11 anos entre Rambo IV e esse, Rambo Até o Fim é mais uma tentativa de revival de filmes de ação, filão esse que geralmente traz bombas e fracassos em matéria de ressurreição, como foi com Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer, e outros poucas divertidas. O quinto filme da saga de John James Rambo, dirigido por Adrian Grunberg tenta driblar a pecha da primeira hipótese citada, mas acaba sendo um hibrido entre os dois clichês de tipo.

    O filme começa em meio a chuva, onde o veterano de guerra trabalha como voluntário no resgata a desastres  naturais.  A cena inicial é eletrizante, e mostra Sylvester Stallone agindo como um bom herói de ação de uma maneira que não fica implausível para um senhor sexagenário. Ele lamento muito por não conseguir resgatar todos os que sofrem as ações da natureza, e logo volta para sua casa, onde tem um rotina bem diferente da vista nos outros quatro filmes. O “esconderijo” dele é bem rústico, enquanto Maria (Adriana Barraza), e Gabriela (Yvette Monreal), vivem na casa maior dentro da propriedade. Se nota que há um sentimento comum ali, de núcleo familiar, onde há harmonia e onde ele se medica com remédios controlados, que visam enjaular a fera que ele tem dentro do peito.

    Neste início, o filme soa tão bom quanto sua premissa, o problema é quando se exige dramaturgia. Grunberg tem apenas um filme no currículo como diretor, o engraçado Plano de Fuga com Mel Gibson. Sua carreira é maior como diretor assistente, fez Narcos, Apocalypto e Chamas da Vingança. Para um texto que pretende ser complexo, seria de bom grado ter um cineasta mais experimentado. Mesmo bons conceitos, como os túneis subterrâneos construídos pelo herói e suas lembranças de guerra soam repetitivas e obvias demais.

    O conceito de homem solitário, que perdeu seus amigos pela  chegada da guerra é banalizada com a péssima forma de tratar a relação familiar dos bem feitores. Gabriela é uma moça bonita, com a vida toda pela frente, mas sua relação com John é muito gratuita, nada se constrói, mas se sugere do que se trabalha em matéria de emoções. Nem mesmo o fato do personagem-título não assumir para si a alcunha de Rambo tem muito efeito, resultando apenas em uma piscadela para o público.

    Da parte dos aspectos técnicos, os efeitos visuais são péssimos, ainda mais quando se usa fundo verde. As rejeições familiares também parecem forçadas, mostradas ali para encurtar a trama, soam frívolas ao invés de parecer algo sentimental. O roteiro de  Stallone e Matt Cirulnick tem problemas sérios com as personagens femininas, que ou são cordeiros ou são vilanizadas. Nenhuma delas ultrapassa a barreira do estereotipo, é como se só  John fosse alguém bom ou capaz de tomar uma decisão que não seja protocolar, além é claro de possuir uma cena bem complicada, que pode ser encarada como uma apologia a violência contra mulher.

    A ação só começa de fato por volta dos 40 minutos, com direito a fratura exposta de capanga genérico. Ao menos esses momentos são bem legais, Rambo não é indestrutível, e por mais que a violência catártica seja zerada de significado (ao menos nesses momentos de perseguição em particular), não há como o fã de filmes de ação dos anos 80 e 90 não se empolgar como todo o gore e com o grafismo das lutas que dilaceram capangas.

    Da parte política, há muitos problemas. O filme repete de maneira bem piorada a xenofobia vista em Sicário de Dennis Villeneuve, mas sem qualquer sutileza que é própria dos textos de Taylor Sheridan, ao contrário. Os mexicanos que não são vilões parecem todos abatidos ou fracassados, a espera das migalhas que os estadunidenses por ventura possam dar.

    Este Rambo 5 repete o ciclo de perdas que Rambo 2: A Missão traz, e ensaia um retorno as origens  do personagem, que sempre foi visto como um assassino com crises sociopatas  que tinha no nomadismo o seu norte. O homem que fincou raízes já não tem mais motivos para fincar terreno em nenhum lugar, os dez anos em paz cessaram, e nada a ele pertence. Os momentos finais tem semelhanças com o visto em Scarface de Brian de Palma, mas com o sentido invertido e com lições de guerras retiradas dos antigos inimigos de John. Agora, é ele que utiliza táticas de guerrilha ao estilo dos vietcongues como contra ataque aos narco traficantes que machucaram seu ego e seu coração.

    Tudo bem que as dificuldades que ele sofre para derrotar seu inimigo, não fazem muito sentido, mas diante de toda a problemática de Rambo: Até o Fim, o desfecho covarde não causa tanto alvoroço negativo quanto o terço inicial e do meio. As dilacerações, decapitações, a destruição de membros e os tiros acertados nos opositores se justificam, mesmo que haja um cunho bem xenofóbico em toda essa sequência, mas isso nem é uma novidade na franquia, que se perdeu em clichês a partir do segundo filme. Só é uma pena que não tenha ocorrido coragem o suficiente por parte dos produtores em sepultar a franquia de vez, deixando ela descansar como boa parte dos filmes dos anos 80 faz hoje. A necessidade de abrir possíveis nos capítulos é cansativa, e nem Sly ou o público parecem ávidos por mais momentos como esse, ainda mais se os próximos episódios piorarem o caráter já mediano desse tomo cinco.

    https://www.youtube.com/watch?v=yd71hmhobAg

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  • Crítica | Rota de Fuga 3: O Resgate

    Crítica | Rota de Fuga 3: O Resgate

    Depois de um filme divertido e despretensioso, que reunia dois atores de ação famosos em Rota de Fuga, Sylvester Stallone resolveu dar o aval para fazer não uma, mas duas continuações da saga Escape Plan. Enquanto Rota de Fuga: Hades estreava, já vinha sendo rodado Rota de Fuga 3: O Resgate, dessa vez conduzido por John Herzfeld, que é mais conhecido por fazer o documentário making off de Os Mercenários que pelas obras de ficção.

    Ao contrário do ultimo, esse tem uma participação maior de Sly no início, embora haja mais foco em outra sub trama, a de Shen, um lutador (meio genérico, diga-se) feito por Jin Zhang, envolvendo o rapto de uma filha de um executivo de Hong Kong. O roteiro é zero original, um parente de um antigo vilão comete atrocidades, cometendo mais sequestros de pessoas importantes e até de Abigail (Jaime King), que aparentemente, tem algo a mais com Ray.

    Também falta carga dramática, fato que não é salvo sequer pela trilha sonora manipuladora e gratuita. As perdas que os personagens sofrem também não fazem muito sentido, pois as pessoas que são mortas são tão descartáveis que não causam qualquer impacto positivo ou negativo em quem assiste. Há uma cena especificamente que resume o quão fajuto é esse Rota de Fuga 3, momento esse que Stallone assiste um assassinato inesperado e  chora. A cena é tão patética e mal feita que faz perguntar como houve coragem por meio de diretor e produtores de deixar ela assim. Nem as lutas funcionam bem, e esse foi um aspecto positivo do filme dois, aqui elas são genéricas, mesmo que hajam adversários mais fortes de Breslin

    Mesmo momentos que poderiam ser bons, como a luta feroz entre Jhang e Daniel Bernhardt tem  coreografia de luta menosprezada, graças as péssimas escolhas de ângulos que o diretor fez, valorizando pouco o conflito, mexendo demais a câmera, piorando toda a composição de imagem com um sangue digital bastante falso.

    No final, Stallone, e Dave Bautista (seu personagem Trent DeRosa retorna nesse, mas de maneira bem protocolar) aparecem com cicatrizes, com o rosto roxo de pancadas que levaram, maquiados de um jeito que é impossível negar que passaram um tempo sendo mexidos por profissionais da área. O aspecto visual é tão pateticamente falso que faz esse ser ainda pior que o filme anterior, que também era bem fraco. Após apenas 87 minutos ainda há uma longa sequencia musical, para se despedir do elenco, como se houvesse um sentimento nostálgico em volta dessa franquia, fato que dificilmente ocorre de fato, uma vez que as continuações são genéricas e descartáveis.

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  • Crítica | Rambo: Programado Para Matar

    Crítica | Rambo: Programado Para Matar

    Se analisado de maneira séria e sóbria, o nome brasileiro para First Blood não poderia ser mais injusto. O longa, de Ted Kotcheff, usa a alcunha de seu protagonista, unido a um subtítulo que não faz jus a vida que o veterano de guerra tenta levar, pois Rambo: Programado Para Matar é na verdade um clássico anti guerra, que reflete sobre o modo irresponsável e inconsequente que os Estados Unidos tratava os que lutavam seus conflitos. Essa é a ideia por trás também do livro de David Morell, que via seu personagem se afastar cada vez mais do seu cerne com o passar das continuações.

    John Rambo visita uma cidade interiorana, com um sorriso no rosto, a espera de encontrar um velho amigo. O tal companheiro havia lutado com ele, no Vietnã, e ao se aproximar de lá, descobre que o mesmo pereceu, vítima de  câncer, em mais um eco da batalha na Ásia, já  foi o gás laranja que o adoeceu. Sem rumo, ele passa perto de Gateway, um vilarejo provinciano, onde ele encontra Will Teasle (Brian Dennehy), um xerife que aparentemente é simpático e inofensivo, mas que o trata mal gratuitamente e obriga a sair do lugar.

    É curioso como os elementos técnicos fortificam a ideia de não pertencimento e inadequação pelo qual passa John. A musica de Jerry Goldsmith manipula um pouco, mas dá bem o tom de melancolia que o ex-soldado tem, ao perceber que mesmo tendo arriscado sua vida, mesmo sofrendo e perdendo companheiros, ainda é mal visto e mal recebido pela nação que jurou proteger. A fotografia que Andrew Laszlo apresenta também fortifica o aspecto depressivo da fita, seu registro harmoniza bem os trajes em cores não vivas de Rambo, além de encaixar bem o cenário bucólico de cidade pequena e conservadora.

    A vitima do filme certamente é o personagem título, não só pelos motivos óbvios da ingratidão dos cidadãos que não sabem lidar com quem só obedecia ordens em uma guerra tão suja quanto foi o Vietnã. Todo o processo de aprisionamento do homem, que deveria ser simples, serve de gatilhos para seus traumas, para lembrar dos momentos de tortura e de privações no Vietnã, assim também faz ele retirar da jaula o animal acuado que esteve adormecido até então.

    Por mais que seja conhecido como um herói de ação, o Rambo de Sylvester Stallone e Kotcheff é um personagem trágico, que não quer guerra, que odeia a violência, mas que responde a agressividade com um instinto de sobrevivência atroz. No desespero, John rouba, utiliza uma moto como meio de transporte de fuga, e para despistar seus algozes, vai para a lama, em uma metáfora representativa e bem óbvia da onde ele se sente seguro, no meio da lama, nos lugares mais baixos e no habitat de animais e não de humanos. A selvageria combina mais com seu estado de espírito atual, e lhe serve bem mais que a suposta civilização de Gateway e dos seus cidadãos.

    Quando os policiais descem ao seu “nível”, se instala um inferno. Eles que se achavam os maiores predadores possíveis, e invencíveis, se deparam com um homem sem qualquer escrúpulo, violento e disposto a matar para retribuir a violência que sofreu.  Sua programação não é assassina e sim de sobrevivência, tanto que a fatalidade única e comprovada que ocorre na floresta – há um sujeito que cai de uma janela no começo do filme ainda na cidade, mas não se garante que o mesmo morreu – acontece por erro do policial, que aliás, é o mais canalha e abusador dentre as autoridades policiais locais.

    Com quase uma hora de filme, há o advento de um personagem do passado de John. Vem a ser o Coronel Trautman, personagem do veterano Richard Crenna, de filmes como Montanhas Ardentes e Perigo no Espaço (ou Fogo no Céu). Ele intervém após ver a repercussão na televisão dos atos de seu pupilo, e percebe, mesmo sem conhecer os locais, que se ele nada fizer, certamente seu subordinado matará a todos. Mesmo sendo um personagem canastrão e bidimensional, se nota uma certa complexidade no que ele fala, e uma real preocupação com o soldado, tanto que ele ao chamar seu aluno, faz questão de relembrar todos os nomes do seu esquadrão.

    É claro que o que fica marcado são as frases de efeito de Trautman, como quando seu conselho é de que comprem muitos caixões e sacos de corpos, mas a real relação entre os dois é a de um pai que quer o melhor para o seu filho, e esses são de uma guerra perdida, que não terminou para muitos, para Rambo obviamente, mas também para o coronel, que vai até o “filho adotivo” suprir sua carência parental e cumprir sua responsabilidade moral de educar seus soldados.

    Os atos finais do exercito de um homem só envolvem a cidade, que foi evacuada, e se tornou o lugar onde Rambo e Teasle. A incompreensão pelo qual ele passa finalmente o atinge emocionalmente, claro, isso só é devidamente desenvolvido após o encontro pessoal entre ele e seu mentor. As emoções reprimidas finalmente vem à tona, e ele se desequilibra, chora e desespera, em uma cena que só não é mais forte pela falta de talento dramático de Sly. Não fosse por esse momento, sua atuação sairia impecável, mas claramente não há como culpá-lo por isso, pois apesar de ser produtor desta obra, e apesar de ter mexido em seu roteiro, todo o restante do filme é complexo, violento, visceral e triste, dado que ele não tem qualquer otimismo em seu desfecho.

    Há um final alternativo (até bem fácil de encontrar pela internet, dado que foi até gravado e finalizado) onde Rambo se suicida na frente de Trautman, utilizando a arma de seu amigo. Esse desfecho obviamente faria mais sentido, mas deixar John Rambo vivo é uma atitude que faz repensar muito mais, no intuito de tentar entender como conviver com os que cometeram assassinatos em nome de uma nação pretensamente soberana, e como reinserir eles de volta  ao quadro social comum. O homem perturbado morrendo seria uma solução muito fácil, e definitivamente o roteiro de Rambo: Programado Para Matar não é simplista, apesar de exalar simplicidade, contendo complexidade e bastante crítica ao modo de viver do estadunidense.

    https://www.youtube.com/watch?v=p0c9G8WfaTk

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  • Crítica | Rota de Fuga 2: Hades

    Crítica | Rota de Fuga 2: Hades

    Após Rota de Fuga ter tido um sucesso moderado, mas tão saboroso quanto um bolo feito por  dois chefs bem experientes, Sylvester Stallone se sentiu a vontade para idealizar um novo episódio para a franquia, com praticamente cinco anos de atraso. Batizado no Brasil com o sugestivo nome Plano de Fuga 2: Hades, o longa mostra novamente Ray Breslin (Sly) como responsável por testar a eficiência das penitenciárias dos Estados Unidos, em atenção especial das de segurança máxima, e uma nova missão é dada a ele, a de entrar num local conhecido apenas como Zoológico, a fim de ajudar um colega seu a escapar de lá.

    Antes de apresentar essa versão dos fatos, é mostrado um sujeito refém, sendo maltratado, espancado e trancafiado, em um cenário sujo, que tenta parecer sério mas que soa um bocado mambembe. É nesse curto espaço de tempo que ocorre uma cena de briga bem legal, com Xiaoming Huang, que interpreta Shu, mas mesmo as coreografias de luta sendo bem legais, se perdem em meio a cenas de fumaça, que fazem perguntar se objetivo não era exatamente desviar o foco de uma das poucas coisas boas. Sly/Ray só aparece com quase dez minutos de filme (que aliás, é bem curto, com só 93 minutos), basicamente para discutir com um dos seus funcionários, que por sua vez, fracassou em seu trabalho.

    O empregado que está preso no tal “zoológico” (no original, Hades) é Shu, o preso número 1764, e esse lugar é misterioso, possuindo lutas ao clandestinas entre os detentos, bem ao estilo rinha de galo. O conceito é sofisticado demais para um produto tão barato e genérico como isso, ainda mais se levar em conta seu diretor Steven C. Miller, conhecido por fazer filmes pouco comentados como Gritos do Além, Natal Sangrento, além de três filmes recentes com Bruce Willis, Operação Resgate, Assalto Ao Poder, Caçada Brutal sendo um mais genérico que o outro.

    Outro grave problema da história mora no fato de retratar personagens secundários como estereótipos raciais é algo normalíssimo, embora completamente incorreto, tanto politicamente como em termos criativos, a abordagem aqui aparentemente já foi vista e revista em dezenas de fitas de ação. A participação de Stallone é bem pequena nesse episódio da franquia, há mais espaço para Shu, para o nerd Hush (feito por 50 Cent, que aqui prefere ser chamado de Curtis Jackson), Luke (Jesse Metcalife) e Jaspar Kimbral (Wes Chatham). Mesmo Jaime King aparece quase tanto quanto ele, fazendo a secretária  Abigail, e parte dela a indicação de um profissional que poderia ajudar eles, Trent Derarosa, interpretado por Dave Baustista, o Drax de Guardiões das Galáxias, que funciona como o substituto de Schwarzanegger. Ele aliás é bem mais badass e casca grossa que Ray, que aparentemente, se arrasta pelas paredes e chão, para dar conta de uns poucos capangas armados.

    Plano de Fuga 2: Hades peca por quase não dar vazão a mitologia do primeiro e por soar infantil no pouco que tenta ousar e por ter batalhas contra inteligência artificial, pieguice que beira a literatura de auto ajuda e sub aproveitamento das estrelas, que estavam lá basicamente para angariar alguns fãs, que não veriam um filme tão bobo e tão desinteressante quanto esse caso não houvesse um grande astro por trás deles.

    https://www.youtube.com/watch?v=WUCcwGMI7x0

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  • Agenda Cultural 70 | Infiltrado na Klan, Green Book, Shazam!

    Agenda Cultural 70 | Infiltrado na Klan, Green Book, Shazam!

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira) e Filipe Pereira se reúnem para resgatar os filmes não comentados nos últimos tempos na Agenda Cultural. Plot-twist é uma assinatura de M. Night Shyamalan? Podemos ter otimismo com o progressismo da academia do Oscar? Shazam! é mesmo um filme bobo? Tudo isso e muito mais na agenda deste mês.

    Duração: 103 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Crítica | Creed II

    Crítica | Creed II

    O retorno do herói é um tema batido na cultura pop, em especial no cinema, normalmente quando um filme de linguagem popular vai bem nas bilheterias é praticamente obrigatório ter uma continuação. Foi assim com a franquia Rocky, que teve cinco filmes, além de um sexto capítulo feito décadas depois. A decisão de ter uma continuação para Creed: Nascido Para Lutar foi natural e obviamente que havia um bocado de receio que Creed II não fosse uma aventura escapista que honrasse o primeiro filme de Ryan Coogler, e por mais que obviamente não seja tão bem construído narrativamente quanto o primeiro, o filme de Stevan Caple Jr é bastante emocionante, e vale toda a espera pela sequencia dos dias do Adonis Creed de Michael B. Jordan.

    O roteiro de Juel Taylor e Sylvester Stallone (baseado no argumento de Cheo Hodari Coker) não é tão inspirado quanto o primeiro, e perdeu o fator surpresa obviamente por não ser mais uma novidade, mas ele compensa isso com muita emoção ao longo das suas mais de duas horas de duração. O filme começa já com uma luta de Adonis “Donnie” Creed, finalmente vencendo o torneio na categoria dos pesos pesados. Em meio a decisões sobre seu futuro, onde deseja cortejar Bianca (Tessa Thompson) para finalmente casarem, ele recebe um convite, um desafio vindo da Ucrânia, de um lutador pouco conhecido, chamado Viktor Drago (Florian Munteanu), filho de Ivan Drago, o mesmo que assassinou seu pai dentro de um ringue na década de oitenta e que treinou seu filho para seguir seu legado e conseguir o que ele não conseguiu, o cinturão.

    Obviamente que esse confronto foge do pragmatismo que seria a trajetória de um campeão de boxe. Aqui há claramente um apelo ao sentimento de vingança puro e simples, de justiça custe o que custar, onde a aceitação de  Donnie só apresentaria possibilidade de perdas e nenhum ganho, tanto desportivamente como emocionalmente pois  muitas feridas poderiam ser abertas. Nesse ponto, o roteiro é extremamente previsível, tanto nas curvas dramáticas quanto nas reações emocionais de seus personagens, mas é tudo tão crível que essas obviedades não chegam a incomodar tanto.

    Rocky e Donnie são muito cúmplices e um dos acertos do diretor foi apostar nessas relações familiares e de parcerias, pois se crê bastante na relação não só de Rocky com Adonis, mas também no casal que é Bianca e Adonis e até no sentido de Balboa ser um conselheiro do casal, com ambos ouvindo seus ensinamentos além até do ringue.

    A participação dos personagens resgatados da saga Rocky é muito bem vinda. Dolph Lundgren mesmo não sendo um ator conhecido por ser dramaticamente bem dotado acerta em seu tom de pai carrasco e treinador severo, embora ainda haja um ranço pueril a respeito de como os derrotados eram tratados na União Soviética. Sua participação é muito bem explorada, e faz brilhar ainda mais a figura de Sly, que mesmo sem ter momentos de redenção forte como foi no primeiro Creed onde se recuperava de um câncer, ainda consegue emocionar demais ao ser a figura paterna de Donnie, sendo muito mais que o tio que ele tanto chama.

    A ideia de Adonis em voar solo é passada de maneira bem orgânica, e o jovem Creed finalmente assume as rédeas de seu destino, assumindo as consequências de seus atos sem ignorar os erros e acertos que comete não só nesse filme, como também no outro. Apesar de haver momentos em que as lições de moral abundam a historia, até esse tratamento é feito com um carinho e delicadeza muito grande por parte de Caple enquanto diretor. A escolha de entregar o filme a ele foi um grande acerto, pois como fez em The Land, seu filme anterior, a jornada do herói criado por Ryan Coogler é desenrolada de modo bonito, simples e em alguns momentos, até poético.

    Há toda sorte de clichês dos filmes Rocky, no entanto a abordagem deles é adorável, as lutas são eletrizantes, o senso de justiça dos personagens idem. O final é apoteótico, apela para a nostalgia mas não perde a mão e não abusa da pieguice, há muitos ecos de Rocky IV mas até  a sensação saudosa com o filme/propaganda que Sly dirigiu e protagonizou em 1985  não faz perder a identidade desse Creed II, que consiste em uma obra reverencial e que possui luz própria.

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  • Crítica | Guardiões da Galáxia: Vol. 2

    Crítica | Guardiões da Galáxia: Vol. 2

    O cinema que James Gunn executa tem uma identidade própria e muito bem definida. Seus filmes atravessam multi-gêneros, variando entre o humor, a aventura escapista e até mesmo ao gore. Foi assim no terror de invasão alienígena Seres Rastejantes, filme que faz rir e constranger graças as nojeiras estabelecidas ao longo de sua duração, e foi assim também com seus dois filmes anteriores, Super e Guardiões das Galáxia que, a sua maneira, trataram de reformular o modo de contar histórias audiovisuais com elementos do universo dos quadrinhos.

    Guardiões das Galáxia Vol. 2 repete tudo que dá certo no primeiro exemplar, conseguindo através dos esforços de seu diretor e elenco superar os detalhes que já eram bons. Os principais expoentes cômicos certamente são o brucutu Drax, de Dave Bautista, que finalmente encontrou seu timing de comédia, e a pequena animação gráfica do Baby Groot, dublado por Vin Diesel.

    As promessas de expansão são cumpridas, em especial no clima aventuresco, que se torna ainda maior do que toda a disputa que havia ocorrido no volume um contra Ronan, O Acusador. Dessa vez, se explora o passado de Peter Quill (Chris Pratt), mostrando um preâmbulo ainda na Terra durante os anos 1980, onde é mostrado o personagem de Kurt Russell, Ego, fazendo às vezes do Starman, de John Carpenter, reutilizando de maneira cômica alguns dos elementos vistos até em Prometheus, ainda que o tom aqui seja completamente outro. A relação estabelecida entre Star-Lord e o personagem novo abre uma nova gama de assuntos, dando até uma inteligência emocional poucas vezes vista em filmes de super-heróis, uma vez que não se abre mão de toda a diversão típica da trupe centrada, assim como não há qualquer artifício que subestime o espectador.

    Além de explorar bem o background de Gamora (Zoe Saldana) – em especial no que diz respeito a sua irmã adotiva, Nebula (Karen Gillan) – sendo este também um enorme acerto do roteiro, ainda há um crescimento de importância para outros personagens secundários, como ocorre com Yondu, que por sua vez é interpretado pelo amigo de longa data de Gunn, Michael Rooker. O ator sempre causou nos espectadores de seus filmes e séries um incomodo tremendo, uma vez que sempre foi medíocre, além de normalmente encarnar personagens sem carisma ou sem predicados que tornassem a associação dele a uma figura minimamente simpática. Dessa vez tudo que o que ocorre com ele ganha uma importância enorme, em especial por sua ligação com Stakar Ogord (Sylvester Stallone) e com Peter. Em poucas oportunidades se viu uma transformação tão boa de uma figura de ódio para um mentor, ainda mais em tão pouco tempo.

    A trilha sonora continua repleta de hits de qualidade indiscutível, bem como continua muito interessante a participação de Rocket Racum (Bradley Cooper) como o rabugento carente que guarda consigo as sacadas cujo humor é mais refinado, ainda que certamente sejam de Drax os momentos mais escandalosamente hilários. Apesar de pouco acrescentar a mitologia da saga e franquia – ao menos se contar apenas elementos estruturais – há um salto de qualidade em níveis de escala, sendo esta a continuação da Marvel que mais se permite experimentar, sem abrir mão das marcas registradas de Gunn, que são a mistura de humor rasgado com crises existenciais, a edição videoclipe, e claro, um gore que apesar de não incomodar uma parcela do público, ao menos faz referência aos seus produtos mais antigos. Nesses quesitos, Guardiões das Galáxias prossegue como uma franquia quase irrepreensível, com histórias ainda caras e pungentes e uma visão de cinema bastante peculiar e diferenciada.

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  • Crítica | Rocky IV

    Crítica | Rocky IV

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    Acho que esse talvez seja o filme em que Rocky perde de vez a sua identidade. Nos dois primeiros filmes, vemos o personagem sempre lutando pra se estabelecer, seja financeiramente, como um boxer de ponta ou mesmo como homem. Até mesmo no terceiro filme há uma história de superação, ainda que bem mais rasa do que nos anteriores. Porém, uma subtrama política foi incluída de forma bem hábil no roteiro. Era o final da Guerra Fria e o filme tornou-se uma grande propaganda pró-EUA. Nada melhor que o personagem que foi a personificação do sonho americano para fazê-la.

    Desde o início estabelece-se a campanha pró-EUA. Com o surgimento de Ivan Drago (Dolph Lundgren), tido como um super-humano criado em laboratório, os soviéticos são demonstrados como os grandes vilões do mundo, sempre frios, arrogantes e calculistas, enquanto os americanos se portam sempre como os grandes mocinhos do planeta. O auge desse duelo se estabelece na trágica luta entre Apollo Creed (Carl Weathers) e Drago. Apollo aparece como uma alegoria do Tio Sam e o ginásio está todo decorado com motivos americanos. Isso tudo se agrava com o show de James Brown e a música “Living in America”. Chega um pouco de falar sobre o duelo EUA x URSS. Vamos falar um pouco do filme.

    Sylvester Stallone assume o leme da direção pela terceira vez e novamente demonstra bastante competência. Sly demonstra grande talento ao filmar as sequências de ação do filme, tais como a luta de Apollo e Drago, toda a montagem de treinamento em que são sobrepostas as técnicas de Rocky e do pugilista soviético e na luta final dos dois. Essa última sequência merece destaque, pois Balboa e Ivan Drago são frequentemente retratados como dois titãs dos ringues. A luta chega a ser exagerada em vários momentos, mas o diretor/ator evita que tudo caia no ridículo. Toda a parte sentimental, ainda que mais rasa do que em momentos anteriores, sofre um trato bacana por parte de Stallone, com o ponto alto ocorrendo na cena em que Balboa sai de casa para poder pensar sobre a morte de Apollo e ponderar a respeito da luta com Drago.

    Com relação ao roteiro, a mudança de tom do drama para a ação acaba deixando alguns personagens mais rasos, principalmente o protagonista. Rocky não tem mais que batalhar pra conseguir migalhas de dinheiro, o que faz com que ele torne quase um bobalhão esbanjador. Beira ao ridículo a empregada-robô que Rocky presenteia seu cunhado Paulie. Outro absurdo do roteiro é Rocky Jr. ficar completamente sozinho nos EUA enquanto toda a família Balboa parte para a União Soviética. Só nos resta pensar que a empregada-robô ficou cuidando do garoto. Só que uma questão interessante é levantada pelo roteiro: Drago é um atleta desenvolvido em laboratório que faz uso absurdo de anabolizantes durante seu treinamento. Recentemente, aconteceram denúncias sobre o doping de atletas russos e uma enorme investigação está em curso, uma vez que as tais denúncias poderão confirmar suspeitas que existem desde a década de 80.

    Encerrado com um discurso pró-EUA dotado de pieguismo e propaganda, Rocky IV cumpre bem o que se propõe. Um filme de ação com um certa profundidade emocional que funciona como uma diversão escapista, mas o que cumpriu com louvor o objetivo de ser um panfleto ideológico.

  • Crítica | Creed: Nascido Para Lutar

    Crítica | Creed: Nascido Para Lutar

    creed nascido para lutar

    O ano era 1976. Gerald Ford era o Presidente dos EUA após suceder Richard Nixon em decorrência do escândalo Watergate ocorrido anos antes. As políticas de bem-estar social começaram a apresentar um declínio que altera mudanças nas estruturas econômicas e políticas do país, culminando no modelo neoliberal aplicado por Ronald Reagan. Quatro anos antes, a Guerra do Vietnã havia chegado ao fim com a saída dos EUA, após forte pressão política da política externa e interna. Havia um sabor amargo na boca dos americanos e uma descrença do seu poderio e hegemonia frente ao mundo, aliado ao contexto de uma possível guerra nuclear, a qual poderia ocorrer por qualquer movimento em falso de uma das principais potências do século XX que tinha o mundo como um tabuleiro de xadrez. Se isso não fosse o bastante, o país enfrentava uma forte recessão, desemprego e inflação, criando um cenário de instabilidade e crise interna. É nesta conjuntura em que Rocky: Um Lutador é forjado por Sylvester Stallone, e por diversas vezes este cenário, e a própria história de Stallone, se mesclaria a personagem de Balboa e não mais saberíamos diferenciar o criador da criatura.

    Creed: Nascido Para Lutar não poderia ser diferente. O sétimo filme da franquia concebida pelo astro nos anos 1970 faz jus ao filme original sem desrespeitar seu próprio caminho. Os elementos conjunturais do primeiro filme se modificam, mas a crise global e o clima de incertezas e inseguranças permanecem, com as características típicas do do século XXI, tornando o novo longa uma bela releitura do filme de 1976. O ainda iniciante Ryan Coogler, responsável por Frutivale Station: A Última Parada, sabe utilizar muito bem a fórmula da série a seu favor e tem um talento natural para posicionar sua câmera e contar histórias de underdogs – azarões, personagens excluídos e à margem da sociedade.

    O longa se inicia por meio de um flashback que introduz o protagonista Adonis “Donny” Johnson (Alex Henderson) no início de sua adolescência em um centro de detenção juvenil de Los Angeles, internado por conta de pequenos delitos e do seu comportamento agressivo. Sua infância se resumiu a saltar de orfanatos e casas de detenções para menores. No entanto, sua vida muda completamente após receber a visita de Mary Anne Creed (Phylicia Rashad), que lhe diz ser filho ilegítimo de Apollo Creed (Carl Weathers), seu falecido marido e ex-campeão peso pesado de boxe.

    Os anos se passam, Adonis (Michael B. Jordan) permanece com Mary Anne na mansão construída nos áureos tempos em que Apollo era vivo, e divide seu tempo em tentativas abortadas de uma carreira empresarial e lutas clandestinas no México aos finais de semana. A genética paterna fala mais alto e Adonis decide se dedicar exclusivamente ao boxe, apesar do desgosto de sua mãe, e parte para Filadélfia para tentar convencer um velho amigo de seu pai a treiná-lo e tentar provar a si mesmo que faz jus ao legado de seu pai.

    Se para Donny é difícil carregar o peso de seu sobrenome e seu passado, o fardo é dividido e compartilhado entre seu treinador, Balboa, já que o ringue não tem mais espaço para seu corpo cansado. O tempo o venceu. E o tempo, tema tão caro para Stallone nos últimos anos, novamente retoma como um dos pontos-chave para o desenvolvimento de Rocky no longa. Em seu primeiro diálogo com Donny, ele é questionado do motivo de Apollo ter perdido a luta realizada entre eles tantos anos atrás, “Foi o tempo que o venceu. O tempo derruba a todos. Ele é imbatível”, responde Rocky. Novamente ficção e realidade se misturam na vida do astro.

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    As construções dos relacionamentos existentes em Creed: Nascido Para Lutar se alicerçam principalmente na relação entre treinador e aluno. Há uma doçura existente na presença desses personagens e o florescimento da relação se dá de maneira gradual, graças ao talento de ambos,  Stallone certamente entrega a melhor atuação de sua carreira até então, andando em uma linha tênue e encantadora de resignação, com a chegada da velhice, e o desejo e a esperança de se ver novamente no jogo, nem que isso se realize na figura de seu discípulo. A importância das relações é impressa também na personagem de Tessa Thompson, Bianca, uma jovem cantora que se envolve com Adonis. 

    Se os relacionamentos são importantes para a construção e a verossimilhança dessas personagens, são nos detalhes que o filme cresce, como em pequenos momentos de Rocky subindo a colina e conversando no túmulo de Adrian e Paulie; na divertida cena de manifestação física de nervosismo de Donny pedindo para que retirassem suas luvas minutos antes de sua primeira luta pois precisava ir ao banheiro; ou mesmo na intimidade do jovem lutador ouvindo músicas e fazendo tranças em Bianca. Apesar de Bianca possuir um problema de perda de audição progressiva, isso não toma um caráter melodramático para a trama. A doença existe e não é tratada como um ponto de virada simbólico dentro do roteiro, apenas como um fato na vida da personagem.

    A confiança de Stallone em, pela primeira vez, entregar o roteiro da série Rocky para terceiros se mostra uma escolha acertada, o texto de Coogler e Aaron Covington compreendem a essência de Rocky e as nuances contidas na personagem desde sua concepção. O trabalho de direção é impecável, seja na sutileza em retratar esses pequenos universos como também para apresentar os ringues, e isso fica claro na primeira luta profissional de Adonis. Em um plano sequência de tirar o fôlego, a cena transporta o espectador para dentro do ringue, com toda a visceralidade e brutalidade existente em uma luta de boxe.

    Coogler demonstra um nível de maturidade alto e realiza a transição entre o cinema independente e o cinema de grande estúdio sem perder sua assinatura. Enquanto isso, Stallone se reinventa, desconstrói para se reconstruir. Embaixo do brucutu que nos habituamos a ver por tantos anos – e que tanto insistiu em nos mostrar – existe um ator comprometido na composição de um personagem fragilizado, com uma mensagem universal de que a vida sempre nos deixará de joelhos, pouco importando o quão duro sejamos capazes de bater, cabendo a nós aguentarmos os golpes e seguirmos em frente.

  • Crítica | Rocky III: O Desafio Supremo

    Crítica | Rocky III: O Desafio Supremo

    Rocky III - blu ray
    Dando continuidade ao arco do amado, querido e agora verdadeiramente ídolo de uma cidade, o pugilista Rocky Balboa começa a enfrentar conflitos pessoas e profissionais. Após as lutas com Apollo e com o lutador de luta livre Thunderlips (Hulk Hogan), em um evento beneficente, Rocky deseja se aposentar.

    No entanto, é desafiado por Clubber Lang, interpretado por Mr.T, um lutador agressivo e desmoralizante, que se torna o maior desafio na carreira de Rocky, até então. Consequentemente, Rocky está afetado pela fama e pelo sucesso recorrente, o que determina sua “aparente” falta de comprometimento aos treinos, acarretando na derrota pra Clubber e na perda do cinturão dos pesos-pesados.

    Nesta continuidade de filmes mais sérios, a terceira parte caminha para uma perspectiva mais sábia. As cenas de lutas permanecem agressivas e ferozes, não havendo passividade e defesa. Além, claro, do triste acontecimento que ocorre após a luta, perturbando Rocky.

    Sylvester Stallone, como sempre, emprega muito carisma e personalidade a seu icônico personagem. A química com Carl Weathers apresenta uma nova interface, desta vez como aliados e iniciando uma reformulação em conjunto. O segundo e terceiro atos são basicamente construídos por seus diálogos e cenas de sabedoria.

    A direção é mais elétrica, se mostrando até um pouco acelerada em alguns momentos, mas sem atrapalhar a montagem das cenas. O uso de uma trilha sonora mais sortida, além da clássica Eye of the Tiger deixa as cenas mais vivas.  O roteiro até mesmo explora o racismo e outras vertentes sociais, mas sem tendenciar, por exemplo, Paulie como preconceituoso maléfico.

    Rocky III é um ótimo serviço de manutenção e glorificação do personagem principal. A partir deste filme, que ele começa a aprender e adquirir uma filosofia que o leva consigo, ensinando outros personagens, e principalmente seu filho, em Rocky Balboa.

    Texto de autoria de Adolfo Molina Neto

    Compre: Rocky III – O Desafio Supremo

  • Crítica | Rocky II: A Revanche

    Crítica | Rocky II: A Revanche

    Rocky 2 - blu ray

    Os primeiros minutos do filme dirigido por seu astro, Sylvester Stallone, começa com os momentos finais de Rocky – Um Lutador, mostrando a luta de Balboa (Stallone) e seu adversário, o campeão inconformado com a resistência do Garanhão Italiano, Apollo Creed (Carl Wheaters). A luta que deveria ser apenas amistosa tornou-se uma versão diminuta de uma guerra, o resultado de toda uma vida de sofrimentos, do capanga da máfia residente na Filadélfia que do alto de seu fracasso agarra as chances de enfrentar o maior atleta do mundo, por pouco não o nocauteando.

    O anúncio de Rocky II – A Revanche só acontece decorridos cinco minutos de exibição, após os espólios do capítulo anterior, e tem como primeira cena uma corrida de ambulância, muito bem executada por Sly, repleta de cortes rápidos e de simbolismo, associando o trajeto percorrido à tragédia do homem comum, do pobre e moribundo. No lobby do hospital, Creed se contradiz e o convida para uma nova luta, para provar ao mundo que a odisseia televisionada há pouco foi pura sorte de principiante.

    Apesar de todos os problemas sociais a que é acometido, Balboa toma sua pequena Adrian (Talia Shire), casando-se com ela para finalmente livrá-la dos braços do agressivo irmão Pauli (Burt Young). O decorrer da rotina do aposentado boxer inclui passeios pelas ruas da Filadélfia à noite; convites para investimentos de risco feitos por seu antigo patrão, Gazzo (Joel Spinelli); e gastos com o dinheiro que sequer tem, em tentativas malfadadas de virar garoto propaganda, já que não há talento dramatúrgico que o faça conseguir atuar minimamente bem diante de uma câmera.

    O roteiro deste lembra muito em estrutura o primeiro, ainda que neste haja o cuidado em contrapor Apollo e Rocky em momentos de derrocada distintos, com o vencedor se lamentando e não aceitando a quase derrota que sofreu, piorada sua situação com as cartas que recebe dos fãs raivosos. Sua moral só não está pior que a de seu adversário azarão, que é humilhado nos sets de propaganda. A mensagem passada é que o status quo prossegue intacto, e que todas as consequências da luta serviram apenas de verniz, um despiste para a realidade do mesmo homem sem sucesso.

    Rocky II d

    A limitação de Rocky aumenta, ele não é mais somente um fracassado, é também um deficiente visual, o que impede de seguir seus instintos e sua luta por dignidade. Continuações normalmente são caça-níqueis péssimos, sem chance para evolução de conceito, somente replicando fórmulas e as exagerando. Rocky II apela para todos esses defeitos, exceto na dificuldade em seguir da onde parou, já que o curso natural dos fatos contradiz o convencional e não incorre nas mesmas redenções bobas que permeariam os roteiros futuros de Stallone.

    Após mais uma carga de mini tragédias, depois da autorização de sua esposa, Rocky corre no mesmo trajeto que antes, perseguido por crianças e adolescentes, como orgulho da cidade que um dia o viu como pobre coitado. O pique que consegue executar está longe de ser um exercício puro e simples, é o símbolo tenaz da busca do ignorado e do subestimado por um lugar ao sol, pela oportunidade de enfim brilhar e de desempatar a disputa em aberto, e tal arremedo não é pouco, ainda mais na carreira de um diretor iniciante.

    É neste capítulo que os métodos de treino começam a beirar a insanidade, com táticas esquisitíssimas de Mike (Burgess Meredith), incluindo corridas atrás de galeto, socos desferidos com um dos braços amarrados, entre outros. A distância do método deste para o ministrado por Duke (Tony Burton), ao seu lutador, há claramente um receio enorme por parte de todos os envolvidos no certame, exceto no orgulhoso detentor do cinturão. É arrogância de outrem que poderia facilitar a volta do arruinado pugilista.

    A revanche se diferencia visualmente e em espírito do visto no filme inicial, a começar pelos calções de Apollo, não ostentando a bandeira americana. A postura é invertida também para o Garanhão Italiano, que decide usar uma estratégia que começa contida e que se torna agressiva com o tempo. O tema de Bill Conti ganha contornos de resolução e virada, tendo seus acordes finalmente alinhados com a vitória do protagonista.

  • Crítica | Rocky: Um Lutador

    Crítica | Rocky: Um Lutador

    Rocky - poster - blu ray

    A década de setenta foi um período difícil pro cidadão americano. Também conhecida como a Era da Recessão, a OPEP  (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) triplicou o valor do barril após os EUA apoiarem Israel na guerra do Yom Kippur, fazendo com que a inflação aumentasse de forma considerável e, consequentemente, a desvalorização do dólar. Ademais, o povo pôde acompanhar de perto pela televisão o Caso Watergate, que depôs o até então presidente republicano Richard Nixon, eleito de forma esmagadora. O caso em questão, a título de curiosidade, consistiu numa investigação de dois jornalistas do jornal Washington Post sobre o assalto ao prédio Watergate, sede do Partido Democrata, um dos diversos atos de espionagem promovidos pelo Partido Republicano para dar a Nixon certa vantagem na disputa presidencial. Com diversas provas apreendidas, o caso levou-o à renúncia.

    Muitos não entendem o motivo de Rocky – Um Lutador ter feito tanto sucesso. Como pôde um filme de boxe ganhar 3 Oscar, sendo o de melhor filme, melhor diretor e melhor edição? A produção não é um simples filme de boxe, mas um drama que fala sobre superação e, principalmente, sobre as oportunidades que aparecem na vida nas pessoas e no quanto se deve abraçá-las por mais difícil que seja o momento. Justamente o que o povo americano precisava em 1976, quando o filme escrito e estrelado pelo novato Sylvester Stallone foi lançado. A situação não seria ainda mais curiosa se um dos rivais de Rocky – Um Lutador e maior ganhador do prêmio da Academia, em 1977, não fosse Todos Os Homens do Presidente, ótimo filme que conta a história justamente do Caso Watergate. Neste mesmo ano, também disputavam a estatueta grandes filmes como Taxi Driver, Rede de Intrigas, King Kong e Carrie – A Estranha.

    Na trama, Rocky Balboa é um jovem boxeador nascido nos subúrbios da Filadélfia que vive de pequenos trabalhos para se sustentar. O boxe, esporte que ama, não arrecada dinheiro suficiente, o que obriga o tímido lutador a trabalhar para um agiota local. Seu trabalho consiste em cobrar os clientes e eventualmente surrá-los quando se encontram inadimplentes. Uma rotina relativamente mecânica. Acorda no fim da madrugada quando ainda é noite, bebe uma vitamina de ovos crus, sai para correr, passa pela feira e ganha alguma fruta, cobra algum devedor, vai treinar na academia surrada de seu técnico, o velho rabugento Mickey (vivido brilhantemente por Burgess Meredith) e, na volta pra casa, passa numa pet shop para comprar suprimentos para seus peixes e também para ver Adrian (Talia Shire), uma jovem tímida que nunca reage às piadas sem graça que o boxeador lhe conta. Muito de sua timidez vem do assédio moral e do machismo de seu irmão Paulie (Burt Young) que vive alcoolizado.

    A vida de Rocky muda quando o campeão mundial de boxe, Apollo Doutrinador (Carl Weathers) convida-o para uma luta, dando a oportunidade única de um lutador pequeno enfrentar o campeão. Uma bela jogada de marketing visando os milhões de dólares que seriam arrecadados com a luta. É possível sentir um bizarro sadismo por parte de Apollo em querer humilhar Rocky fora dos ringues, aproveitando-se de sua condição social e seu intelecto comum. Aliás, quando se trata da vida da personagem central, podemos perceber a certeira e clara intenção da fotografia ser mais monocromática, adicionando um certo drama decadente e deprimente ao subúrbio da fria e úmida Filadélfia, sendo uma analogia com a situação da classe trabalhadora americana em épocas de recessão. A analogia social que o filme imprime continua no emocionante embate entre Rocky, O Garanhão Italiano e Apollo Doutrinador, onde Rocky claramente representa o povo americano sofrido e diminuto contra o boxeador famoso, o ídolo que representa, de certa forma, o lado orgulhoso dos Estados Unidos.

    Quando os dois boxeadores entram no ringue, os méritos da luta em questão se devem realidade empregada pelo diretor, pela destreza dos atores e pela maquiagem hiper realista das violentas marcas deixadas nos rostos dos lutadores. Vale destacar um ponto curioso da versão dublada brasileira que acabou por alterar o resultado da luta.

    O sucesso do filme se apoia diversos fatores, a começar pela atuação de Stallone que conseguiu emular uma atuação no melhor estilo gente como a gente, fazendo com que a maioria das pessoas, em algum momento, se visse na pele da personagem. O ator também soube calibrar bem sua relação com os outros coadjuvantes, a começar com a química que teve com Talia Shire, principalmente na cena em que Rocky leva Adrian para patinar no gelo e terminando, mais tarde, na cena de seu primeiro beijo. Também fica marcado quando o protagonista está com Mickey, um rabugento que não hesita em criticar Rocky na maioria das vezes que está no ringue, relação essa bem retratada nos filmes seguintes. E, por fim, a relação do diminuto Rocky com o absoluto Apollo. É possível perceber o quanto Rocky é frágil em sua essência, tentando ser gentil ou engraçado e falhando nessa missão, além de estar completamente desacostumado com todas as pompas promovidas por um grande evento de boxe, como entrevistas coletivas, sessões de imprensa e as tradicionais provocações fora do ringue.

    Diante destes fatores, ainda é necessário destacar uma das cenas mais emblemáticas da história do cinema que mostra o treinamento de Rocky para a grande luta com Apollo. Acompanhada de uma trilha carregada emocionalmente pela música Gonna Fly Now, escrita por Bill Conti e terminando nas escadarias do Museu de Arte da Filadélfia, um dos locais mais visitados no mundo por fãs de cinema, a cena faz com que o telespectador se reconheça na motivação de Rocky para também dizer “eu posso, eu consigo”, levando tal situação como exemplo para qualquer situação que possa enfrentar em sua vida, o que vai ao encontro a discussão do início, devido ao paralelo da situação que o cidadão se encontrava ante a péssima situação econômica que seu país vivia.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Falcão: O Campeão dos Campeões

    Crítica | Falcão: O Campeão dos Campeões

    Falcão - O Campeão dos Campeões

    Esse é possivelmente um dos filmes estrelados por Sylvester Stallone mais adorado pelo povo do nosso Brasil varonil. Só não é justo dizer que isso acontece devido às suas incontáveis reprises na Sessão da Tarde. Neste filme, Sly coloca todo o seu carisma à prova e sustenta sozinho toda a trama, o que não é uma tarefa das mais fáceis. Infelizmente, o público não comprou muito a ideia, e Falcão foi um grande fracasso de bilheteria, o que não quer dizer que seja um filme ruim

    Na trama, Stallone interpreta Lincoln Falcão (tradução literal do nome Lincoln Hawk, feita pela distribuidora brasileira da película), um solitário caminhoneiro que tenta se reconectar com o filho após um longo período ausente. Ele então vai até o encontro do garoto em uma academia militar para que juntos partam em uma jornada através do Estados Unidos para se conhecerem e cujo destino final é o campeonato mundial de luta-de-braço (ou queda-de-braço, braço-de-ferro…). Porém, enfrentarão alguns problemas no percurso, como a grave diferença de personalidades e gostos que possuem e o avô do garoto que o quer de volta de qualquer forma.

    Escrito por Stirling Silliphant e pelo próprio Stallone, o roteiro do filme é um baita amontoado de clichês, sejam eles os de superação ou relacionados ao drama familiar que sustenta a subtrama do filme. Porém, enquanto a jornada de superação e glória consegue ser bem tratada, o subplot que envolve a ex-mulher e mãe do filho de Stallone chega a se assemelhar a um dramalhão mexicano. A segunda subtrama, envolvendo todas as armações do avô do garoto para reavê-lo, consegue ser um pouco menos piegas. Já a jornada do herói Falcão é edificante e bem redonda. Ainda que possa parecer estranho, ele não chega a ser aquele herói unidimensional que permeou a carreira de Stallone. Falcão é aquele cara “gente como a gente”, que trabalha pra caramba pra se sustentar e ainda tem que se virar pra garantir uns trocos a mais. Existem alguns outros rombos de roteiro na parte final do filme, mas que não cabe ficar citando aqui. Ficam bem óbvios e não precisa nem de muita atenção para percebê-los.

    A direção de Menahem Golan, responsável por Comando Delta (estrelado por Chuck Norris), é bastante limitada. Porém, ela se sobressai no terço final do filme, quando ocorre o torneio de luta-de-braço. O diretor transforma a disputa em um grande evento com momentos empolgantes. É interessante a maneira com a qual o diretor apresenta os competidores, colocando-os como se estivessem participando de uma entrevista que posteriormente fará parte de um documentário. É uma excelente sacada. A trilha sonora incidental composta por Giorgio Moroder ajuda a tornar tudo ainda mais empolgante.

    Sylvester Stallone abusa de seu carisma para dar vida ao caminhoneiro Falcão, muito por ter ciência de suas limitações dramáticas. O ator compensa esse entrave com muita entrega ao papel e muita energia na atuação. Já David Mendenhall, que interpreta seu filho Mike, é mais canastrão do que Sly jamais foi em toda a sua carreira. A interpretação ruim do garoto torna-o irritante ao extremo, causando o desejo de que Falcão o jogue do caminhão em movimento. Já o veterano Robert Loggia está competente como sempre no papel do vilanesco ex-sogro do protagonista.

    Mesmo que seja um filme um pouco piegas, datado e reprisado ao extremo, Falcão: O Campeão dos Campeões ainda provoca aquela vontade de assisti-lo quando é exibido em alguma reprise. Vocês podem não admitir, mas ainda torcem pelo Falcão, mesmo sabendo de cor o que vai acontecer.

    Compre: Falcão – O Campeão dos Campeões

  • Crítica | Os Mercenários 3

    Crítica | Os Mercenários 3

    Expendables 3

    Simbolicamente – e claro, a exemplo dos dois episódios anteriores – Os Mercenários 3 já começa em meio a ação, mostrando Barney Ross (Sylvester Stallone) e seu grupo de dispensáveis brucutus invadindo um trem em movimento, no intuito de resgatar o preso e antigo amigo do membro do grupo Surgeon, que é vivido por Wesley Snipes, que apesar de ser resgatado, permanece arredio. A quantidade de referências à vida pessoal do intérprete (este ficou um tempo longe dos holofotes por estar encarcerado) só não é maior que o paralelo feito com o retorno aos sucessos que cada um dos antigos heróis de ação teve após o primeiro filme de Sly e companhia.

    No entanto, uma mudança é notada logo de início. Apesar do conteúdo da fita permanecer agressivo, a faixa etária da classificação indicativa diminuiu drasticamente, o que impede a câmera do novato Patrick Hughes de exibir a quantidade colossal de sangue e dilacerações que permeavam os filmes anteriores. O retorno de Surgeon, além de causar uma marola na relação dos Mercenários (com uma referência, claro, a este como alcunha do clube) por este, como Christmas (Jason Statham) ser especialista em facas, reabre algumas feridas, como com as mostras das tags dos antigos companheiros mortos e claro, com a descoberta da sobrevivência de Conrad Stonebanks, encarnado por um bombadíssimo Mel Gibson.

    Além de guardar o ódio de seus antigos colegas, Stonebanks alveja Caesar (Terry Crews), e o põe em um perigo de vida imenso, o que faz Barney pensar mais seriamente em uma aposentadoria, não por si, mas por seus companheiros. A caçada do herói passa a ser solo, resgatando mais algumas figuras de seu passado, cortando a estrada em busca do que deu errado, e do porquê de Conrad ainda estar vivo. Nesse ínterim, ele é apresentado a uma nova gama de personagens, entre eles o novo encarregado da CIA vivido por Harrison Ford, Drummer – que consegue ser um trocadilho até pior que Church – o selecionador de novos talentos Bonaparte (Kelsey Grammer) e o acrobata cinquentenário Galgo (Antonio Banderas) e alguns outros meninos novos, com disposição e com todos os dentes na boca, que deveriam substituir os trabalhos de seus antigos colegas.

    Refugados por seu antigo líder, Lee e os outros veem a força tarefa da nova geração embarcar junto a Barney e Trench (Arnold Schwarzenegger), repleta de rostos bonitos, sorrisos encantadores, remetendo visualmente às séries consumidas pelos adolescentes atuais, em mais uma artimanha de Stallone em alcançar o público juvenil. A dura realidade de estar novamente relegado a um papel secundário, em um campo onde antes reinavam, acomete Lee, Gunnar (Dolph Lundgren), Toll Road (Randy Couture) e Surgeon, e até o que poderia ser um defeito do guião acaba sendo uma boa anedota, a banalização da figura do brucutu serve como uma excelente motivação dentro da proposta.

    O legado que Ross tenta deixar é o de proteger os que lhe são caros, mesmo que isso signifique tirar da ação aqueles que sempre foram fiéis, o que faz o embate com seu antigo parceiro ser ainda mais aviltante, uma vez que Conrad considera que ambos são iguais. O antagonista não vê diferença nas posturas tomadas pelos sexagenários mercenários, e em meio a uma troca de papéis nos arquétipos de gato e rato, Stonebanks rapta a nova equipe de Barney, o que faz com que o dream team retorne das cinzas, em mais uma manobra redentora típica dos filmes que Sly dirigia nos anos 80.

    O modo como Hughes conduz a câmera é competente em sua proposta, uma vez que, ao contrário dos outros filmes onde se fazia um pastiche dos filmes de ação oitentistas, esse serve para mergulhar na mente e na operação de seus protagonistas. A fita é repleta de humor, especialmente nas figuras de Galgo, mas o viés de reflexão é mais sobre a obsolescência do que qualquer outra coisa, não que haja alguma inteligência maior do que nos outros momentos da franquia, mas a emoção é muito mais elevada, a busca é em comover a audiência através do drama de seus heróis.

    Nas cenas finais, é a velha guarda que toma as rédeas da situação, protagonizando as partes mais interessantes do embate, que infelizmente usa e abusa dos efeitos em CGI. Um dos diferenciais da franquia até então eram os combates filmados in loco, com técnicas que podem ser vistas como rudimentares pelo expectador novato, mas que garantiam às fitas mais veracidade e textura.

    No entanto, os erros de concepção ficam ainda mais evidentes. O vilão poderia ter sido melhor construído, ele não é nem tão digno de ódio quanto Villain era em Os Mercenários 2. Falta sentir apuro pelos personagens principais, a todo momento parece que os velhacos se safarão sem arranhões, são raros os embates físicos, que até são precedidos por frases feitas de cunho excelente, mas pouco mostram, ainda que a breve luta de Stonebanks e Ross seja interessante. O grave problema deste Os Mercenários 3 é ser bem menos divertido do que as fases pretéritas, deixando espaço para enxergar seus defeitos.

    A mensagem deixada em seu final vai de encontro a tudo o que foi mostrado na carreira de Stallone e também nesta franquia. O modo como Barney olha para aqueles que seriam os seus alunos, trinta anos mais jovens fazendo tudo o que ele cansou de fazer em tela dá a tônica de como funciona atualmente a mente e a intimidade do ator, diretor e cineasta, talvez até antevendo uma possível aposentadoria, se não da carreira de cineasta, ao menos do filão de filmes de ação. Esse subtexto acaba sendo mais rico que toda a arquitetura, pirotecnia e atitude bad ass que sempre preconizaram as ações de Barney e seus asseclas.

  • Crítica | Ajuste de Contas

    Crítica | Ajuste de Contas

    ajuste-de-contas-poster

    Aos 67 anos de idade, Sylvester Stallone ainda está no auge, esculpindo o mesmo material de sempre. A crítica insiste em afirmar o óbvio sobre sua limitação como intérprete e sobre seu esforço natural em agarrar-se a uma década em que seu sucesso – bem como o de seus colegas brucutus – era astronômico.

    Sly sofre do preconceito do ator em um único estilo de papel. Síndrome que não afeta somente astros de ação, mas atinge-os com maior fatalismo. A decadência da perfeição física pode destruir a personificação viril e violenta dos personagens ostentados por sua carreira. Não deixa de ser verdadeiro que o ator manteve-se em sua zona de conforto, mas poucos são os atores que se arriscam em estilos diversos e são bem sucedidos no processo.

    A nostalgia que cerca Ajuste de Contas, além da força de Sly, vem do fato de que dois grandes personagens boxeadores se evocam memorialmente em cena: Rocky Balboa, defendido em seis filmes pelo boquinha torta, e Jake LaMotta, uma das interpretações máximas de Robert de Niro em talento, aumento de peso e maquiagem protética.

    A união destes atores traz a mística em torno da produção que faz do boxe enredo central. Sly e De Niro são pugilistas em fim de carreira que aceitam o desafio de uma revanche. A trama alinha-se com o conceito de personagens antigas que retornam para mais um assalto. Porém, em vez de trazerem à tona as personagens citadas, situam-se pela memória afetiva do público que deseja ver os atores de novo no ringue.

    Juntos formam a dupla que ri de si mesma em uma história focada no humor. Riem da velhice, do anacronismo de atores que viveram outra época, no auge, em que a popularidade pesava mais que efeitos especiais. A predileção pela comédia é um foco necessário para que o filme não seja mais um que faz da luta uma redenção. A mudança de polo dramático pode não oferecer originalidade, mas evita que o memorialismo evoque a potência dos dramas de Balboa e LaMotta.

    Pela segunda vez no ano, De Niro entrega uma boa interpretação. Não que seu papel exija muito do ator. Porém, considerando sua guinada desde a década de 2000, com performances canhestras, as atuações em Trapaça e nesta produção lhe dão um fôlego breve.

    A aguardada luta dos rivais é bem realizada e não parece que os atores estão parcialmente em cena, substituídos por esportistas profissionais em diversos ângulos neste improvável crossover.

    A parte mais insossa da produção centra-se no papel de Kevin Hart. O personagem é responsável pela realização da luta mencionada, mas se transforma no típico falastrão, como um Chris Tucker genérico. No elenco de apoio, Alan Arkin faz o mesmo velho debochado de sempre e, ainda que, como Sly, esteja repetindo o mesmo personagem desde Pequena Miss Sunshine, seu papel funciona pelo desconcerto e pela verborragia de palavras de baixo-calão que ainda divertem.

    Rir de si mesmo e reverenciar o próprio passado evidenciam o anacronismo destes atores em relação ao modus operandi atual da indústria cinematográfica. De maneira leve, mesmo que sem completa coesão, realizam uma boa trama.

  • Crítica | Rota de Fuga

    Crítica | Rota de Fuga

    Escape-Plan

    O sonho de consumo de todo fã de filmes de ação era ver os dois maiores brucutus dos anos 80 contracenando juntos – preferencialmente num embate de vida ou morte. Isso ocorreu em doses homeopáticas nos dois episódios da franquia Mercenários. Rota de Fuga viria para suprir a lacuna de um filme inteiro em que Sylvester Stallone (Ray Breslin) e Arnold Schwarzenegger (Emil Rottmayer) interagiriam com tempo de sobra.

    A história não tenta reinventar nada, é somente um filme de fuga da prisão, mas com uma pompa que se mostra desnecessária com minutos de exibição. O roteiro de Jason Keller e Miles Chapman não é lotado de clichês, seu excesso é nos devaneios (mal filmados) de Ray Breslin e nas “saídas de situações” confusas. A desorganização geral tira o poder do clímax, joga o que deveria ser importante na vala comum e torna os dramas mostrados em tela em situações vexaminosas.

    A história não é de todo o ruim, mas as escolhas do elenco são muito equivocadas, especialmente a da dupla de protagonistas. Este era um filme para atores quarentões e canastras, como Tom Cruise e Ben Affleck por exemplo, e não os geriátricos Sly e Schwarza – acreditar que os dois senhores podem fugir de prisões como querem é demais até para a “suspensão de descrença”. É mais fácil crer que eles são capazes de derrubar republiquetas, atirar com metralhadoras na altura da barriga e matar tudo que vive e respira ao redor… é possível até vê-los salvando o mundo de aliens ou de ameaças humanas, mas colocá-las como engenhosos arquitetos e planejadores geniais não é galhofa, é só mau gosto.

    Não chega a ser um dos piores exemplares da filmografia dos dois astros, mas não parece em momento nenhum que os papéis foram feitos para eles. A frustração deste Rota de Fuga é semelhante ao sentimento horrendo de assistir-se As Duas Faces da Lei, que reunia Pacino e DeNiro. O carisma dos atores não garante uma experiência prazerosa, e nem os profissionais com maior talento dramatúrgico podem exercê-lo, dado o podamento que eles sofrem.

    Escape Plan falha como action movie, gera uma expectativa que não é para si. A presença de Stallone e Schwarzenegger faz com que cresça um sentimento de avidez por ação, que não é satisfeito em praticamente momento nenhum, e outro grave defeito da obra é que o problema citado é notado muito cedo no filme.

    As sequências finais são até bem feitas, o suspense e a perseguição fazem o espectador ficar atento como nunca no filme, mesmo com o péssimo antagonista vivido por Jim Caviezel. A última luta, entre Stallone e Vinnie Jones tem bons momentos, mas termina de forma melancólica, com um desfecho aquém do esperado de uma batalha entre brucutus de diferentes gerações – até lembra visualmente o entrave entre Villain e Barney em Mercenários 2. Já o momento em que Rottmayer toma uma metralhadora em punho e começa a atirar nos capangas poderia ser mais sangrenta, o que não ocorre, mesmo este sendo um filme Rated R, o que é lastimável por si só.