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  • Review | O Justiceiro – 2 ª Temporada

    Review | O Justiceiro – 2 ª Temporada

    A segunda temporada de Justiceiro já começa com uma tarefa ingrata, que é existir em meio a uma sequencia de cancelamentos das suas séries irmãs, independente da aceitação positiva ou não de suas respectivas temporadas, visto que para muitos Punho de Ferro melhorou ligeiramente, Luke Cage subiu alguns degraus em qualidade a terceira temporada de Demolidor atingiu o auge no áudio visual do personagem. Além disso, houveram algumas polêmicas externas com a motivação política do personagem, que supostamente, enfrentaria um vilão fanático religioso.

    Joe Bernthal retorna como Frank  Castle, levando em conta os eventos da temporada um de Justiceiro, dirigindo completamente ensanguentado, como é praxe em se tratando do seu personagem. Não demora evidentemente para a linha temporal voltar a uma época mais simples, onde o protagonista tenta agir como alguém comum, bebendo em um bar. Ele utiliza o nome Pete, e se envolve com a bartender, mas mesmo quando consegue dar vazão a uma manifestação de afeto, a aliança de sua falecida esposa aparece, pendurada em seu pescoço, e aparentemente, pesando mais do que deveria uma pequena joia.

    Aparentemente o destino de Frank é o de agredir e agir com violência extrema, ao ajudar uma desconhecida ele não hesita em espancar todas as pessoas que tentam agredi-la, e ao ser confrontado pelos mesmos armados, ele mata absolutamente todos que se levantam contra ele e contra o seu novo interesse amoroso. O personagem sai de lá banhado de sangue, fazendo confundir qual é o seu e qual é o de seus inimigos.

    É um pouco boba a caracterização do Retalho, com o sua contra parte Billy Russo (Ben Barnes) tendo sessões de terapia, onde ele usa uma máscara branca. Todo o mistério envolvendo suas feições fazia acreditar que ele após os eventos do ano um estava completamente desfigurado, mas não foi o caso, pois ele tinha cicatrizes no rosto, mas nada perto do que havia nos quadrinhos ou outras versões do cinema, sobretudo Justiceiro: Zona de Guerra, onde Retalho é totalmente desfigurado.

    O personagem polêmico é John Pilgrim (Josh Stewart), e ele pratica atos maléficos supostamente movido por uma ação do sobrenatural, por ordens cuja origem tem o seu repertório ligado a religião. Ele repete frases da Bíblia, para justificar o que pratica e de certa forma lembra bastante o personagem Frolo, do clássico de Victor Hugo e da animação Corcunda de Notre Dame de Disney, no sentido de ser um homem que usa o Divino como desculpa para justificar seus próprios pecados. A diferença é que aqui se dá tempo de tela para mostrar seus atos maus, que incluem ai o uso da chibata como instrumento de auto punição. Em todo momento que ele erra, se chicoteia e seu modo de agir não é tão diferente do que o Justiceiro sempre faz, mostrando que o passado ligado a guerra não é a justificativa para a violência empregada.

    A policial Dinah Madani (Amber Rose Revah) é um pouco sub aproveitada no começo, depois a historia depende de si para se desenrolar, incluindo aí um encontro e parceria com o veterano de guerra, começando ai uma parceria que faz sentido acontecer. Independente dos problemas de ritmo que a série tem, tal qual todas as outras da Marvel Netflix, o primeiro encontro face a face entre Frank e Billy Russo é muito bom, e carregado de simbolismos. Castle usa a mesma camisa do capitulo treze  da ultima temporada, ainda cheia de sangue e com furos de balas, enquanto Russo não consegue mais esconder seu rosto atrás da pequena máscara que carrega. O episodio 7, One Bad Day em que isso ocorre é um dos melhores entre esses 13.

    Duas coisas impressionam bastante nos últimos episódios da temporada, a primeira delas é o fato de Castle se enxergar como igual a Russo a maior parte do tempo, precisando ser convencido por terceiros de que ambos escolheram caminhos diferentes para trilharem, de certa forma replicando uma discussão que ocorreu nos quadrinhos de Guerra Civil sobre as posturas de Capitão America e do próprio Justiceiro, embora Frank seja aqui o mais correto entre os dois arquétipos, o que até faz sentido, pois a abordagem de Mark Millar foi bastante sensacionalista ali, afinal o Justiceiro só foi punidor em sua época porque para a Marvel e para os quadrinhos da época era conveniente esse tipo de abordagem. O outro fator é a escalda de violência que o religioso emprega em sua rotina, se entregando de certa forma a fúria cega típica do Velho Testamento, onde o revanchismo e o olho por olhos dente por dente era o comum.

    Como se acertou em não explorar mais o personagem de Microchip, já que sua versão ficou um pouco estranha, e por mais que Amy (Giorgia Whigham) funcione como uma ajudante do vigilante, sua motivação é melhor explorada do que o da primeira temporada. Há um bocado esperança  neste provável fim de série, mas mesmo com esse otimismo não estraga todo o teor dos 13 episódios, que terminam com uma sinalização de parceria entre Madani e Frank, ainda que velada, tal qual Batman e o Comissário Gordon.

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  • Crítica | Em Ritmo de Fuga

    Crítica | Em Ritmo de Fuga

    Trauma é comumente definido como um dano, físico ou emocional, que ocorre como resultado de algum acontecimento forte na vida do indivíduo. No caso do trauma emocional, a represália pode incluir sequelas sentimentais e até corporais. O novo filme de Edgar Wright usa em sua premissa um protagonista que sofre desse mal, graças a um evento do passado que vitimou seus pais. Em Ritmo de Fuga (Baby Driver) conta a história de Baby (Ansol Elgort), um garoto solitário, calado, que dirige para criminosos em troca do perdão de uma dívida que tem com Doc, personagem interpretado por Kevin Spacey.

    O rapaz cuja jornada o espectador acompanha possui uma estranha obsessão por música, igualando-o de certa forma ao mesmo ideal visto no personagem de Chris Pratt, em Guardiões das Galáxias também na ligação afetiva e nostálgica com a figura materna. Apesar disso, seu modus operandi lembra demais as referências que Nicolas Winding Refn utilizou em Drive, inclusive no reverenciar aos grandes filmes antigos, tanto de assalto quanto de corrida. A diferença básica entre esse e o filme do dinamarquês é a disposição de cores e a atmosfera alto astral que Wright emprega em seu filme, resultando em um produto repleto de suspense e perseguições, sem descuidar, é claro, de uma diversão desenfreada.

    Além de conduzir cenas de fuga absurdamente bem feitas e eletrizantes – fator esse muito exitoso graças especialmente a edição de som  e  a fotografia de Bill Pope – há também um cuidado em apresentar personagens que, mesmo com pouco tempo de tela, se exacerbam em carisma. Griff (Jon Bernthal), Buddy (Jon Hamm), Darling (Eiza González) e Batts (Jamie Foxx) roubam a cena sempre que interagem com Baby, seja no planejamento das contravenções, como também na ação. Mesmo Elgort supera o estigma de menino vitimado, de A Culpa É Das Estrelas, para apresentar uma nova faceta, de um garoto que mesmo do alto de seu silêncio e jeito abobalhado, consegue atingir seus objetivos, ainda que tenha que perverter seu próprio código ético em alguns momentos.

    Um dos pontos mais positivos no longa é a utilização livre dos clichês. Apesar de conter ali inúmeros arquétipos batidos, como o do negro sábio e indefeso em Joseph (CJ Jones), e da garota bela em perigo vista em Debora (Lily James), há um arco de quedas e recomeços por meio de eventos de ações extremamente inesperadas e entrópicas. A montanha de absurdos que se avolumam em torno de Baby tornam suas escolhas em eventos mais graves ainda, e fazem refletir não só sobre os rumos que o rapaz é obrigado a tomar, como também sobre a inexorabilidade do destino trágico que o cerca, sendo este, mal comparando, uma versão mais jovem de outros tantos protagonistas trágicos, como o Michael Corleone, de O Poderoso Chefão Parte 3, ao menos na questão das intenções de não estar mais presente naquele ambiente hostil.

    O maior indício físico do trauma que ocorre com Baby se manifesta no zumbido em seu ouvido, que é abafada pelas músicas que seus iPods executam. A perspectiva sonora que Wright propõe além de inserir o público no mundo novo ali estabelecido, também gera uma simpatia praticamente automática entre interlocutor e receptor. As idas e vindas desse som podem ser encarados apenas como a perspectiva do personagem sendo utilizada ou não, mas abre-se também a possibilidade de interpretação de que aquela situação incômoda somente ataque o personagem-título quando ele está executando as atividades das quais ele não deseja mais participar, reforçando a ideia de que um menino tão doce não pertence aquele ambiente repleto de adrenalina e maldade, ainda que consiga se sair bem quando é cobrado de si uma atitude mais enérgica. Essa dualidade deixa Em Ritmo de Fuga em um patamar nunca antes visto na carreira e filmografia de Wright, elevando-o a um lugar que antes não se pensava de seu cinema, agradando o nicho que sempre foi o seu, mas indo além desse público.

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  • Crítica | O Lobo de Wall Street

    Crítica | O Lobo de Wall Street

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    Em algum lugar entre o humor negro, fino e cáustico e o sonho de total prosperidade presente no American Dream está o discurso de Jordan Belfort, na quinta paragem envolvendo Leonardo DiCaprio nos filmes de Martin Scorsese. O ator amadureceu e cada vez mais mostra-se digno das películas de seu mentor, e prova disso é a completa ausência de temor que o artista mostra ao falar de forma fluída e direta com a câmera.

    O que Scorsese faz ao montar uma história baseada numa narração chega a ser transgressor dada sua qualidade. A abordagem usa de imagens lúdicas e justapostas para exemplificar o total desapego moral do panteão de personagens e a evolução de malcaratismo que o homem pode (e deve) experimentar. A afeição do realizador por ramos marginais de comércio faz dele o sujeito certo para explorar todas as “traquinagens” do profissional especulativo dos agentes da bolsa de valores, as nuances, os enganos, os blefes e, claro, os excessos de quem tem muito dinheiro e o que o uso desmedido dele pode fazer de “bom e ruim” com o sujeito. Em alguns momentos chega a passar uma mensagem voltada para o moralismo, até para desdenhar desse pensamento e mostrar o quanto ele se torna diminuto diante dos abissais excessos comportamentais de quem passa a vida brincando com um alto patrimônio econômico de terceiros.

    A falta de escrúpulos de Jordan é um diferencial, o que o torna um vencedor entre os perdedores que prosseguem na profissão e os que não se submetem a tentar novas coisas e a buscar desafios. Esta ousadia é muito bem registrada pela lente de Rodrigo Prieto e pontuado pelo texto interpretado magistralmente por DiCaprio. As fontes de renda que seu personagem vai arrecadando ultrapassam a barreira da criminalidade. O objetivo de atingir a riqueza absoluta também não conhece limites dentro do aceitável. O auge da charlatanice é a invenção da Straton Oakment por Belfort, que já começa como uma enorme rede de mentiras, obviamente criada por um sujeito que parece ter nascido com um talento único de trapacear.

    O modus operandi da companhia é regrado a orgias e práticas sexuais necessariamente infiéis a qualquer matrimônio possível. Estar chapado por entorpecentes durante o processo criativo era prática comum, assim como toda sorte de pecados provenientes do ser de cromossomo Y. O mundo é tão machista e chauvinista que é quase clássico, ignorando toda e qualquer regra politicamente correta atual. O cinismo de Jordan é passado para seus empregados como um bom aprendizado proveniente da relação entre mestre e pupilos.

    Ainda que Jonah Hill tenha recebido um sem número de indicações por sua performance – plenamente justificável em referência à cena em que demonstra os efeitos dos barbitúricos – o coadjuvante que merece menção por roubar a atenção do público é Max Belfort, o Mad Max, interpretado por Rob Reiner, com suas tiradas sensacionais e acessos de raiva contínuos e sua calma estabelecida de modo instantâneo.

    O glamour da vida bandida de Belfort ajuda a aumentar a simplicidade no entendimento do público, mesmo no espectador menos afeito ao vocabulário do mercado econômico. Sem falar que Jordan é um personagem que angaria a simpatia do público muito facilmente como o anti-herói cheio de fanfarronices que faz mesmo o espectador mais conservador torcer contra a lei e a ordem. O pecado mortal do bando passa pelo preciosismo e a completa falta de cuidado em conduzir as ações marginais, fazendo as transações de forma tresloucada e sob efeito das drogas mais pesadas que estes poderiam lançar mão. A inteligência no tratamento profissional deles era inversamente proporcional à maturidade em realizar as transações de modo ordeiro. A batalha pelo telefone da mansão dos Jordan entre Donnie e Jordan mostra do modo mais degradante e engraçado possível o quanto as relações entre os membros do grupo são loucas, inclusive estabelecendo uma comparação entre o espinafre do Marinheiro Popeye e a cocaína do protagonista. A situação faz o chefe de operações se precaver mais, o que evidencia sua evolução. Incrível como, mesmo com toda a sua hipocrisia, ele permanece amado e inspirador para todos ao seu redor.

    Como em Os Bons Companheiros e Cassino, os minutos finais sintetizam a decadência do criminoso e sua queda após todos os seus atos indignos. O cinismo chega ao auge quando ele tem de romper com o seu ethos ao ter de “entregar seus antigos companheiros”, mas o infrator ainda sofre algumas reviravoltas antes de ter sua sentença decretada. Não só a queda que coincide com o desfecho de Goodfellas, as reações dos protagonistas são semelhantes. O “Lobo” acerta no todo: a trilha sonora variando entre o nostálgico e o atual, o roteiro impecável, o clima odisseico/épico da trama, as atuações impecáveis, e, é claro, a lente ainda afiada e pontual de Martin Scorsese, que se mostra o sujeito de sua geração mais competente na contemporaneidade.

  • Crítica | Ajuste de Contas

    Crítica | Ajuste de Contas

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    Aos 67 anos de idade, Sylvester Stallone ainda está no auge, esculpindo o mesmo material de sempre. A crítica insiste em afirmar o óbvio sobre sua limitação como intérprete e sobre seu esforço natural em agarrar-se a uma década em que seu sucesso – bem como o de seus colegas brucutus – era astronômico.

    Sly sofre do preconceito do ator em um único estilo de papel. Síndrome que não afeta somente astros de ação, mas atinge-os com maior fatalismo. A decadência da perfeição física pode destruir a personificação viril e violenta dos personagens ostentados por sua carreira. Não deixa de ser verdadeiro que o ator manteve-se em sua zona de conforto, mas poucos são os atores que se arriscam em estilos diversos e são bem sucedidos no processo.

    A nostalgia que cerca Ajuste de Contas, além da força de Sly, vem do fato de que dois grandes personagens boxeadores se evocam memorialmente em cena: Rocky Balboa, defendido em seis filmes pelo boquinha torta, e Jake LaMotta, uma das interpretações máximas de Robert de Niro em talento, aumento de peso e maquiagem protética.

    A união destes atores traz a mística em torno da produção que faz do boxe enredo central. Sly e De Niro são pugilistas em fim de carreira que aceitam o desafio de uma revanche. A trama alinha-se com o conceito de personagens antigas que retornam para mais um assalto. Porém, em vez de trazerem à tona as personagens citadas, situam-se pela memória afetiva do público que deseja ver os atores de novo no ringue.

    Juntos formam a dupla que ri de si mesma em uma história focada no humor. Riem da velhice, do anacronismo de atores que viveram outra época, no auge, em que a popularidade pesava mais que efeitos especiais. A predileção pela comédia é um foco necessário para que o filme não seja mais um que faz da luta uma redenção. A mudança de polo dramático pode não oferecer originalidade, mas evita que o memorialismo evoque a potência dos dramas de Balboa e LaMotta.

    Pela segunda vez no ano, De Niro entrega uma boa interpretação. Não que seu papel exija muito do ator. Porém, considerando sua guinada desde a década de 2000, com performances canhestras, as atuações em Trapaça e nesta produção lhe dão um fôlego breve.

    A aguardada luta dos rivais é bem realizada e não parece que os atores estão parcialmente em cena, substituídos por esportistas profissionais em diversos ângulos neste improvável crossover.

    A parte mais insossa da produção centra-se no papel de Kevin Hart. O personagem é responsável pela realização da luta mencionada, mas se transforma no típico falastrão, como um Chris Tucker genérico. No elenco de apoio, Alan Arkin faz o mesmo velho debochado de sempre e, ainda que, como Sly, esteja repetindo o mesmo personagem desde Pequena Miss Sunshine, seu papel funciona pelo desconcerto e pela verborragia de palavras de baixo-calão que ainda divertem.

    Rir de si mesmo e reverenciar o próprio passado evidenciam o anacronismo destes atores em relação ao modus operandi atual da indústria cinematográfica. De maneira leve, mesmo que sem completa coesão, realizam uma boa trama.