Tag: Lily James

  • Crítica | Yesterday

    Crítica | Yesterday

    Fantasia de estilo dramático misturado com elementos de musicais, Yesterday é o novo filme de Danny Boyle, e foca na historia de Jack Malik (Himesh Patel), um musico fracassado que só tem o publico de Ellie (Lily James), sua paixão platônica (e agente musical) e mais dois amigos. Depois de muito tocar, para plateias cada vez menores, ele chega a conclusão que só um milagre o fará obter o sucesso. Um dia, um apagão pega toda o mundo de surpresa, e algo bizarro acontece. Nesse meio tempo, o herói da jornada é atropelado, perde alguns dentes e tem sua barba cortada, objeto esse que ele amava manter grande.

    É bizarro como nessa historia viajandona, onde todos simplesmente perderam a maior banda de rock da historia de vista e lembrança ainda há muito pragmatismo e semelhanças visuais e de estilo com outros filme de Boyle. A saída de Jack do hospital lembra muito o visto em Extermínio, inclusive na condição de que o herói está isolado e bem diferente do resto do mundo, em uma condição de saúde mental bem distinta dos outros, já que ele continua recordando dos garotos de Liverpool e de outros tantos itens que sumiram, como Cigarro, Coca Cola e a banda Oasis.

    Malik não tem muitas travas morais, ao mínimo sinal de que pode se aproveitar da situação ele vai e o faz. O roteiro de Richard Curtis é muito bem elaborado em torno desse espírito, de ser direto e de mostrar que mesmo um sujeito honesto, quando é tentado a se apropriar do que é de outro, o faz sem muito pensar. Além disso, a transição do homem que só toca em lugares e ambientes terríveis, onde o talento não é valorizado, para o sujeito que ganha oportunidades de desconhecidos também é ultra rápido.

    O carisma dos personagens e a trilha sonora absurda fazem toda a mágica ocorrer facilmente. Patel e James brilham muito, juntos e quando estão sozinhos. Eles são divertidos, tem química e causam simpatia praticamente automática, mas lá pela metade da historia, o filme perde um pouco de sua força. O vigor vai se perdendo, o que é uma pena, pois esse ritmo cai quando o personagem principal está em turnê com as músicas clássicas. Quando se desenrola a gênese do amor dos dois protagonistas já é tarde demais, pois toda a química entre os dois vai pelo ralo quando tentam se tornar um casal, e para um filme baseado em romance, isso é algo que denigre e muito.

    Talvez se pensasse mais em desenvolver os meandros das mudanças que ocorreram após o apagão e fosse menos focado no namorico que não evolui entre Ellie e Jack, o filme faria mais sentido. A discografia dos Beatles tem baladas de amor, mas não se resume a isso, e até a questão dele ser ou não uma farsa é subalterno, tudo para desenvolver só o semi namoro dos dois. Apesar de ambos personagens terem carisma, é pouco, para segurar um longa-metragem de grandes proporções e de orçamento não barato. O final evoca redenção, mas abre espaço para novas fraudes, mostrando um homem acima do bem e do mal que aparentemente não aprendeu sua lição, ao contrário. Yesterday ao menos é uma boa homenagem ao quarteto de Liverpool, uma reverencia tremenda ao trabalho de Paul, Ringo, George e John travestido de uma historia água com açúcar que acerta em alguns pontos em sua exploração de historinha de amor pura e simples.

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  • Crítica | O Destino de uma Nação

    Crítica | O Destino de uma Nação

    O Destino de Uma Nação – cinebiografia que tem como foco a ascensão de Winston Churchill ao posto de Primeiro-ministro do Reino Unido – é o novo filme de Joe Wright (Desejo e Reparação, Peter Pan e Anna Karenina), que traz Gary Oldman muito bem enquadrado e inspirado em reproduzir a figura do controverso político.

    A trama toda se passa no mês de Maio de 1940, quando Churchill era uma alternativa para o cargo de Primeiro-ministro, principalmente por conta dos acontecidos envolvendo a Segunda Grande Guerra. O filme mostra a rotina diária, familiar e metódica do personagem, em um tentativa de humanizá-lo ao mostrar seus muitos defeitos de convivência.

    O filme de Wright se vale muito do lançamento de Dunkirk, de Christopher Nolan, já que que o roteiro de Anthony McCarten tem uma base forte na grande batalha de Dunkirk, inclusive com lamúrias e reclamações do personagem principal pelos motivos que fizeram a empreitada dar errado. O tema bélico faz parte das questões envolvendo a vida política do de Churchill, mas se gasta um tempo demasiado nesses desenvolvimentos, basicamente para esticar os momentos de tensão, onde invariavelmente Oldman vai bem, mas que em outros pontos, soa caricatural, tal qual Anthony Hopkins, em Hitchcock.

    O uso da contagem de dias no mês de Maio é extremamente enfadonha, tal qual algumas necessidades de tornar literal situações que o personagem tem de passar. Ao ser aconselhado pelo rei Rei George VI (Ben Mendelsohn), Churchill vai ao metrô para ouvir o povo, e decide então seguir seu instinto, ao contrário dos companheiros de partido, Viscound Hallifax (Stephen Dillane) e Neville Chamberlain (Ronald Pickup), decidindo seguir em guerra contra o Eixo. Apesar de emocional, a cena é piegas e desnecessária.

    O início de O Destino de Uma Nação é promissor, fazendo acreditar que seria emocional e econômico, e obviamente não chegando a um equilíbrio dessas duas condições, tendo um desfecho bastante melodramático e que remete a cinebiografias recentes como A Teoria de Tudo e O Jogo da Imitação, fato que surpreende, uma vez que o cinema do diretor costuma ser mais equilibrado nesse sentido.

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  • Crítica | Em Ritmo de Fuga

    Crítica | Em Ritmo de Fuga

    Trauma é comumente definido como um dano, físico ou emocional, que ocorre como resultado de algum acontecimento forte na vida do indivíduo. No caso do trauma emocional, a represália pode incluir sequelas sentimentais e até corporais. O novo filme de Edgar Wright usa em sua premissa um protagonista que sofre desse mal, graças a um evento do passado que vitimou seus pais. Em Ritmo de Fuga (Baby Driver) conta a história de Baby (Ansol Elgort), um garoto solitário, calado, que dirige para criminosos em troca do perdão de uma dívida que tem com Doc, personagem interpretado por Kevin Spacey.

    O rapaz cuja jornada o espectador acompanha possui uma estranha obsessão por música, igualando-o de certa forma ao mesmo ideal visto no personagem de Chris Pratt, em Guardiões das Galáxias também na ligação afetiva e nostálgica com a figura materna. Apesar disso, seu modus operandi lembra demais as referências que Nicolas Winding Refn utilizou em Drive, inclusive no reverenciar aos grandes filmes antigos, tanto de assalto quanto de corrida. A diferença básica entre esse e o filme do dinamarquês é a disposição de cores e a atmosfera alto astral que Wright emprega em seu filme, resultando em um produto repleto de suspense e perseguições, sem descuidar, é claro, de uma diversão desenfreada.

    Além de conduzir cenas de fuga absurdamente bem feitas e eletrizantes – fator esse muito exitoso graças especialmente a edição de som  e  a fotografia de Bill Pope – há também um cuidado em apresentar personagens que, mesmo com pouco tempo de tela, se exacerbam em carisma. Griff (Jon Bernthal), Buddy (Jon Hamm), Darling (Eiza González) e Batts (Jamie Foxx) roubam a cena sempre que interagem com Baby, seja no planejamento das contravenções, como também na ação. Mesmo Elgort supera o estigma de menino vitimado, de A Culpa É Das Estrelas, para apresentar uma nova faceta, de um garoto que mesmo do alto de seu silêncio e jeito abobalhado, consegue atingir seus objetivos, ainda que tenha que perverter seu próprio código ético em alguns momentos.

    Um dos pontos mais positivos no longa é a utilização livre dos clichês. Apesar de conter ali inúmeros arquétipos batidos, como o do negro sábio e indefeso em Joseph (CJ Jones), e da garota bela em perigo vista em Debora (Lily James), há um arco de quedas e recomeços por meio de eventos de ações extremamente inesperadas e entrópicas. A montanha de absurdos que se avolumam em torno de Baby tornam suas escolhas em eventos mais graves ainda, e fazem refletir não só sobre os rumos que o rapaz é obrigado a tomar, como também sobre a inexorabilidade do destino trágico que o cerca, sendo este, mal comparando, uma versão mais jovem de outros tantos protagonistas trágicos, como o Michael Corleone, de O Poderoso Chefão Parte 3, ao menos na questão das intenções de não estar mais presente naquele ambiente hostil.

    O maior indício físico do trauma que ocorre com Baby se manifesta no zumbido em seu ouvido, que é abafada pelas músicas que seus iPods executam. A perspectiva sonora que Wright propõe além de inserir o público no mundo novo ali estabelecido, também gera uma simpatia praticamente automática entre interlocutor e receptor. As idas e vindas desse som podem ser encarados apenas como a perspectiva do personagem sendo utilizada ou não, mas abre-se também a possibilidade de interpretação de que aquela situação incômoda somente ataque o personagem-título quando ele está executando as atividades das quais ele não deseja mais participar, reforçando a ideia de que um menino tão doce não pertence aquele ambiente repleto de adrenalina e maldade, ainda que consiga se sair bem quando é cobrado de si uma atitude mais enérgica. Essa dualidade deixa Em Ritmo de Fuga em um patamar nunca antes visto na carreira e filmografia de Wright, elevando-o a um lugar que antes não se pensava de seu cinema, agradando o nicho que sempre foi o seu, mas indo além desse público.

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  • Crítica | Cinderela (2015)

    Crítica | Cinderela (2015)

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    E viveram felizes para sempre (Ninguém precisa saber o que vem depois, porque o depois existe tanto quanto Branca de Neve e Aladdin). Porque viver nas “delícias da incerteza” para sempre é o melhor ponto final que um filme poderia ter, sendo que, mesmo a um esquizofrênico, a vida não acolhe infinitos. Mas no cinema, num livro, na arte, querer saber o depois é demais, não interessa. Perde-se a elegância, e o sonho já começa a virar real. Perde-se a graça, indo embora o que faz do sonho um sonho – nada mais, nada menos. E sabe quando você assiste a um filme e dois minutos depois do início você sabe perfeitamente como tudo vai ser? Essa obviedade de sentidos é o grande trunfo de Cinderela, a melhor e mais serena releitura do filme que salvou os estúdios Disney em 1950, fato. Um bom exercício de interpretação é assistir a esse encantador manifesto de Kenneth Branagh e emendar com a versão Romero Britto de Alice, de Tim Burton. O que há de diferente e qual proposta (intenção) combina e enriquece mais a abordagem (realização)? É tudo apenas uma questão de estilo e gosto? Perguntas que convido o leitor a responder.

    Um manifesto a favor do que de melhor o Cinema pode oferecer a um material caído no colo da cultura popular – a jovem borralheira de madrasta má, blábláblá –, e que por isso não carece de cópia ou desconstrução da mitologia original. Um manifesto pelo direito de dar continuidade à magia sem vomitar regras, e principalmente, de seduzir o público pelo resgate dessa magia em tempos tão realistas quanto o nosso. Choram as rosas, poesia é o que não falta, e cor, clareza nas ideias e olhos nos olhos, dança e sorrisos, lágrimas e trilha sonora num filme-spoiler assumido e orgulhoso por ser assim: deliciosamente previsível. Um filme renascentista, no melhor uso do termo, em que a harmonia entre os conflitos é inquebrável, como nas peças de Shakespeare, e o luto do erudito é incabível como nos poemas de Florbela.

    Tudo parece tão frágil e tão quebradiço que o respeito e admiração ao universo da gata borralheira são inevitáveis. A própria construção do caráter amargo da madrasta gira em torno da magia: é simplesmente uma mulher enterrada numa realidade burguesa de aparências e que não pertence ao mundo de emoções puras de nossa princesa, num belíssimo jogo de figurinos que parecem disputar na tela, senão pelo ótimo equilíbrio presente entre os elementos visuais, a quem isso possa interessar, qual o mais belo. O cineasta e romântico Branagh (o professor Lockhart do segundo Harry Potter) faz de Cinderela uma alternativa dialética à celebração vazia do novo, e uma ovação declarada às glórias indiferentes às mudanças do tempo. A história é contada como se fosse da primeira vez, exaltando e promovendo mitologias na pegada mais deslumbrante e direta possível, com o gato da malvada perseguindo os ratos tratados com amor pelo coração inocente, por exemplo, numa clara metáfora dos abusos a ser cometidos ao longo do conto.

    Entre cenas criativas (a transformação da abóbora em carruagem e da carruagem em abóbora são extraordinárias) e a preservação da elegância da história refletida na fluidez dos planos, a Disney finalmente combina, aqui, a evolução do Cinema com a necessidade do espetáculo para assegurar uma bilheteria alta, sem esquecer-se do seu próprio estilo de criação épica. A vontade não era essa, mas a fábula humilha quaisquer outras versões recentes do lendário estúdio americano, entre juízos de fato e valores que mais remetem a Princesa Kaguya, animação sublime dos estúdios Ghibli, de Hayao Miyazaki.

    Era uma vez uma comparação válida, tamanho o esmero concedido e júbilos derivados, inclusive, de atores inspirados em condições que favorecem suas presenças. E assim como a antiga releitura francesa de Jean Cocteau para o clássico A Bela e a Fera de 1946, em 2015, com Cinderela a nos encantar, temos uma obra ciente do que pode ser e do que não precisa ser, e que por isso se compromete a honrar o passado sem deixar de conseguir novas opções, para que as visões e os vastos compromissos da arte possam ser, felizmente para sempre, recriados a partir de suas fundações.