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  • Crítica | Rambo: Até o Fim

    Crítica | Rambo: Até o Fim

    Após um novo grande hiato, de 11 anos entre Rambo IV e esse, Rambo Até o Fim é mais uma tentativa de revival de filmes de ação, filão esse que geralmente traz bombas e fracassos em matéria de ressurreição, como foi com Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer, e outros poucas divertidas. O quinto filme da saga de John James Rambo, dirigido por Adrian Grunberg tenta driblar a pecha da primeira hipótese citada, mas acaba sendo um hibrido entre os dois clichês de tipo.

    O filme começa em meio a chuva, onde o veterano de guerra trabalha como voluntário no resgata a desastres  naturais.  A cena inicial é eletrizante, e mostra Sylvester Stallone agindo como um bom herói de ação de uma maneira que não fica implausível para um senhor sexagenário. Ele lamento muito por não conseguir resgatar todos os que sofrem as ações da natureza, e logo volta para sua casa, onde tem um rotina bem diferente da vista nos outros quatro filmes. O “esconderijo” dele é bem rústico, enquanto Maria (Adriana Barraza), e Gabriela (Yvette Monreal), vivem na casa maior dentro da propriedade. Se nota que há um sentimento comum ali, de núcleo familiar, onde há harmonia e onde ele se medica com remédios controlados, que visam enjaular a fera que ele tem dentro do peito.

    Neste início, o filme soa tão bom quanto sua premissa, o problema é quando se exige dramaturgia. Grunberg tem apenas um filme no currículo como diretor, o engraçado Plano de Fuga com Mel Gibson. Sua carreira é maior como diretor assistente, fez Narcos, Apocalypto e Chamas da Vingança. Para um texto que pretende ser complexo, seria de bom grado ter um cineasta mais experimentado. Mesmo bons conceitos, como os túneis subterrâneos construídos pelo herói e suas lembranças de guerra soam repetitivas e obvias demais.

    O conceito de homem solitário, que perdeu seus amigos pela  chegada da guerra é banalizada com a péssima forma de tratar a relação familiar dos bem feitores. Gabriela é uma moça bonita, com a vida toda pela frente, mas sua relação com John é muito gratuita, nada se constrói, mas se sugere do que se trabalha em matéria de emoções. Nem mesmo o fato do personagem-título não assumir para si a alcunha de Rambo tem muito efeito, resultando apenas em uma piscadela para o público.

    Da parte dos aspectos técnicos, os efeitos visuais são péssimos, ainda mais quando se usa fundo verde. As rejeições familiares também parecem forçadas, mostradas ali para encurtar a trama, soam frívolas ao invés de parecer algo sentimental. O roteiro de  Stallone e Matt Cirulnick tem problemas sérios com as personagens femininas, que ou são cordeiros ou são vilanizadas. Nenhuma delas ultrapassa a barreira do estereotipo, é como se só  John fosse alguém bom ou capaz de tomar uma decisão que não seja protocolar, além é claro de possuir uma cena bem complicada, que pode ser encarada como uma apologia a violência contra mulher.

    A ação só começa de fato por volta dos 40 minutos, com direito a fratura exposta de capanga genérico. Ao menos esses momentos são bem legais, Rambo não é indestrutível, e por mais que a violência catártica seja zerada de significado (ao menos nesses momentos de perseguição em particular), não há como o fã de filmes de ação dos anos 80 e 90 não se empolgar como todo o gore e com o grafismo das lutas que dilaceram capangas.

    Da parte política, há muitos problemas. O filme repete de maneira bem piorada a xenofobia vista em Sicário de Dennis Villeneuve, mas sem qualquer sutileza que é própria dos textos de Taylor Sheridan, ao contrário. Os mexicanos que não são vilões parecem todos abatidos ou fracassados, a espera das migalhas que os estadunidenses por ventura possam dar.

    Este Rambo 5 repete o ciclo de perdas que Rambo 2: A Missão traz, e ensaia um retorno as origens  do personagem, que sempre foi visto como um assassino com crises sociopatas  que tinha no nomadismo o seu norte. O homem que fincou raízes já não tem mais motivos para fincar terreno em nenhum lugar, os dez anos em paz cessaram, e nada a ele pertence. Os momentos finais tem semelhanças com o visto em Scarface de Brian de Palma, mas com o sentido invertido e com lições de guerras retiradas dos antigos inimigos de John. Agora, é ele que utiliza táticas de guerrilha ao estilo dos vietcongues como contra ataque aos narco traficantes que machucaram seu ego e seu coração.

    Tudo bem que as dificuldades que ele sofre para derrotar seu inimigo, não fazem muito sentido, mas diante de toda a problemática de Rambo: Até o Fim, o desfecho covarde não causa tanto alvoroço negativo quanto o terço inicial e do meio. As dilacerações, decapitações, a destruição de membros e os tiros acertados nos opositores se justificam, mesmo que haja um cunho bem xenofóbico em toda essa sequência, mas isso nem é uma novidade na franquia, que se perdeu em clichês a partir do segundo filme. Só é uma pena que não tenha ocorrido coragem o suficiente por parte dos produtores em sepultar a franquia de vez, deixando ela descansar como boa parte dos filmes dos anos 80 faz hoje. A necessidade de abrir possíveis nos capítulos é cansativa, e nem Sly ou o público parecem ávidos por mais momentos como esse, ainda mais se os próximos episódios piorarem o caráter já mediano desse tomo cinco.

    https://www.youtube.com/watch?v=yd71hmhobAg

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  • Crítica | Cake: Uma Razão Para Viver

    Crítica | Cake: Uma Razão Para Viver

    Cake 1

    Apontando a desistência da vida como mote para a mudança de postura, o filme de Daniel Barnz mostra um grupo de apoio mútuo formado por mulheres, em sua maioria depressivas, que sofrem dores intensas devido a doenças raras. Juntas, elas lamentam o suicídio de uma das integrantes mais novas, Nina (Anna Kendrick). O ato quase teatral é valorizado através das ações de uma desfigurada Jennifer Aniston, que abre mão de sua intensa beleza para interpretar Claire Simmons, uma mulher desesperançada, que guarda em sua face marcas e sinais de descuido próprio, que em suma representam as muitas feridas que ainda manifestam-se dentro de si.

    Assistida somente por sua serviçal Silvana (Azana Bezerra), Claire não tem qualquer alento em sua rotina. Mesmo os poucos sentimentos passionais a que tem direito são frutos do comércio, com visitas noturnas de um amante que sequer entra pela porta da frente. Do alto de seu desespero sentimental, a protagonista não aparenta dar muito valor à mulher que a ajuda, suprimindo até seus vícios ilícitos. O momento primário em que a heroína, falida e monotônica, demonstra qualquer reação destemperada é quando esta assiste à própria piscina. A despeito de seu ateísmo, a protagonista vê boiando a figura de Nina, trajada de maneira sensual, conversando com ela através do além-túmulo.

    Sem ter certeza se a aparição era fruto de um delírio após o uso das substâncias das quais lançava mão, Claire começa a se interessar pelo dia a dia de Nina, chegando a ponto de dar vazão à agressividade que já era anunciada anteriormente ao ameaçar a organizadora do grupo, pedindo os dados e o endereço da menina que viu. Na antiga casa da moça, ela encontra Roy, interpretado por Sam Worthington, o marido da falecida, o qual permite que a depressiva mulher dê vazão ao seu comportamento tresloucado.

    Toda a compreensão que Claire não achava nas forçadas reuniões, ela passa a achar nas interações com Roy, unidos pela dor, desespero e também por interesses sexuais – que, ao próprio entender destes, significam intenções escusas – de ambas as partes. Trabalhando a culpa pelos atos ainda não praticados, um vê no outro a chance de finalmente se reabilitar, trabalhando os traumas de uma forma que, em algum dia, ambos possam finalmente dar prosseguimento a sua existência.

    O que se vê na segunda metade do filme é uma jornada de combate ao medo, onde a confiança de ambos é posta à prova, envolvendo os seres que dependem deles, como o filho de Nina e Roy, o pequeno Casey  (Evan O’Toole). É bastante curioso observar o quão tacanho é o flerte entre ambos e o quão pesado é o modo de lidar com seus fantasmas. Quando está começando a mostrar alguma melhora, Claire tem um terrível encontro com a figura de Leonard (William H. Macy), que seria o catalisador de sua angústia existencial. O dramático reencontro faz a protagonista ter uma recaída nos seus antigos erros.

    As “visitas” de Nina seguem crescentes, manifestando, entre outros sentimentos, a vontade de suicídio, além do profundo remorso por estar roubando da defunta a possibilidade de uma boa vida, sentimentalmente plena, apesar das dores. O desespero aumenta de tal forma que os espíritos, da delirante mulher e da personagem espectral, quase se encontram.

    A trajetória vista no roteiro de Patrick Tobin é de total reconstrução, de moral e autoestima através de ações espontâneas. Um panorama que não demonstra compadecimento de suas personagens, tampouco aplaca ou suaviza a mensagem para o espectador, ainda que todo o conteúdo se baseie em conceitos do senso comum. O mérito maior certamente está na atuação de Jennifer Aniston, ainda que não seja algo tão digno de nota quanto foi alardeado, especialmente pela proximidade de outra obra em que se destaca o desempenho de Juliane Moore, em Para Sempre Alice. Em Cake – Uma Razão Para Viver, sobressai uma atuação de sua maior estrela  conduzida na monotonia de um espírito único, sem liberdade para nuances.