Tag: Sam Worthington

  • Crítica | Fratura

    Crítica | Fratura

    Fratura é uma das recentíssimas produções da Netflix exclusivamente voltadas aos thillers de suspense e terror. Obviamente, as histórias não tem nada a ver umas com as outras, mas, contudo, buscam um denominador comum, trazer algo inovador e com uma grande reviravolta ao final.

    Ray Monroe (Sam Worthington) está voltando da casa de seus sogros, dirigindo pela estrada junto de sua esposa, Joanne (Lily Rabe) e sua simpática filha de seus anos, Peri (Lucy Capri). Logo de início, pela conversa do casal dentro do carro, percebe-se que os pais de Joanne não gostam muito de Ray, que é um alcoólatra em recuperação. As pilhas do player de música da pequena Peri acabam e Ray decide parar num posto na estrada para comprar pilhas para sua filha e um refrigerante para sua esposa, enquanto as duas vão ao banheiro. Ray, ao olhar para a geladeira da loja de conveniência, fica tentado a comprar duas doses de bebida, abrindo mão das pilhas para sua filha. Enquanto Joanne volta ao banheiro para buscar algo que esqueceu, Peri deixa o veículo para ir atrás de um balão que está preso numa construção ao lado da loja de conveniência, quando é encurralada por um cão. Ray tenta afugentar o animal com uma pedra, mas ele junto de Peri cai de uma altura considerável. Quando Joanne chega ao local, Ray, demonstrando nervosismo e preocupação para com sua filha, acaba por empurrar a esposa que cai no chão. Ele se recupera, coloca as duas dentro do carro e parte desesperadamente para o hospital mais próximo. É a partir desta premissa, que Fratura, de fato, começa.

    O hospital é bastante estranho. Seus funcionários parecem não se importar com os pacientes e quando Peri finalmente é atendida, o médico demonstra ser uma ótima pessoa. Porém, quando a menina é levada para fazer exames e é acompanhada por sua mãe, Ray, após passar o dia inteiro esperando-as, descobre por meio de uma atendente que as pessoas com aqueles nomes nunca deram entrada naquele hospital. Começa então uma busca frenética pela verdade para provar que o hospital, de fato comete crimes dentro de suas dependências.

    O filme é dirigido por Brad Anderson, um especialista no assunto, responsável por bons filmes como O Operário e Expresso Transiberiano e que vem se dedicando consideravelmente a dirigir alguns episódios de diversos seriados. Anderson demonstra que sabe fazer com que seu elenco passe ao expectador o sofrimento e a dor vivida ali por eles, merecendo elogios à competente atuação de um sumido Sam Worthington, que não está e sua melhor forma, mas ainda consegue carregar filmes como estes em suas costas. Contudo, o roteiro de Alan McElroy deixa um pouco a desejar, andando de mãos dadas com uma produção ruim, que pode ter sido prejudicada por um orçamento baixo e uma fotografia opaca (talvez intencional).

    Os momentos em que Ray está em busca de sua família são muito bons, mas, como dito no início deste texto, o filme traz uma reviravolta em seu final que dividirá quem assiste. Uns vão adorar o que acontece e outros torcerão seus narizes e ficarão com aquela sensação de “putz”. Mas o final e os “poréns” não chegam a ofuscar o filme, que cumpre o que propõe desde seu início.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

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  • Crítica | A Cabana

    Crítica | A Cabana

    A Cabana é um best-seller, escrito pelo canadense Philip P. Young, no ano de 2007. Curiosamente, foi uma história que não nasceu para ser publicada, já que Young a imprimiu para entregar aos seus filhos durante o Natal de 2005, pois se tratava de algo que ele escreveu para confortar a si mesmo. Contudo, após despertar o interesse de dois produtores, a história foi reescrita algumas vezes e foi rejeitada em todas as editoras religiosas que poderiam publicá-la, até que os dois produtores (ambos ex-pastores) em questão, Wayne Jacobsen e Brad Cummings resolveram abrir sua própria editora e lançarem o livro. A aceitação foi tamanha que atingiu, além do público alvo, pessoas de diversas outras religiões, além daqueles que não são “pessoas de fé”. Com isso, o livro foi traduzido para o mundo todo, além de figurar na lista de best-sellers dos principais meios de comunicação ao redor do globo o que rendeu, inclusive um desentendimento jurídico entre Young, de um lado e Jacobsen e Cummings, de outro, onde o escritor pleiteou na justiça royalties que não teriam sido repassados.

    Como quase todo sucesso literário vira filme, com A Cabana não foi diferente.

    Mack Phillips, interpretado por Sam Worthington, é um pai de uma bela, perfeita e feliz família, que toda semana, sem falta, entregam parte de seu tempo para celebrar Deus e os ensinamentos das Escrituras nos cultos de sua congregação. Percebe-se que Mack está lá apenas para acompanhar sua esposa, Nan (Radha Mitchell), a mais religiosa entre os 5 membros da família. A identidade que Nan tem com Deus é tamanha que ela e sua filha menor o chamam de Papai, que seria algo mais carinhoso do que apenas “Pai”. Durante um fim de semana em que Nan precisa trabalhar, Mack leva seus filhos, os adolescentes Kate (Megan Charpentier) e Josh (Gage Munroe) e a pequena Missy (Amélie Eve) para passar o fim de semana acampando nas montanhas, junto de um lago como costumam fazer quase que sempre. Durante o camping, um dos adolescentes se afoga e ao sair para socorrê-lo junto de outras famílias, Missy é sequestrada e nunca mais é encontrada. Inclusive, vestígios de que a menina sofreu abusos e uma consequente morte foram encontrados numa cabana abandonada nas montanhas.

    Com esse terrível acontecimento, a história salta alguns meses no tempo e podemos perceber que a família foi destroçada pelo fato. Nan é a mais centrada no que se diz respeito à perda da filha, porém, Mack, Kate e Josh, simplesmente pararam com os sorrisos que tinham anteriormente para viverem uma vida de depressão e desgosto, cada um à sua maneira. As coisas começam a mudar quando Mack tira de sua caixa de correio um envelope com o seguinte recado: “te espero na cabana”. Atormentado por poder confrontar o assassino de sua filha, o protagonista não pensa duas vezes e embarca numa viagem que mudará a sua vida para sempre.

    Com essa premissa, rapidamente, a jornada de Mack vai muito além do que ele imagina, sendo que na verdade, ele acaba por encontrar Jesus Cristo, vivido pelo israelense Avraham Aviv Alush, que imediatamente transforma o local afetado por um tenebroso inverno numa bela, ensolarada e colorida floresta. Não demora muito para conhecermos Deus, representado de forma proposital pela figura feminina de Octavia Spencer, além da jovem Sarayu (Sumire Matsubara), que representa o Espírito Santo.

    O filme se estende por um longo período em que Mack, além de ajudar a Trindade nos afazeres domésticos (algo bem leve e lúdico uma vez que cozinha com Deus, faz serviços de carpintaria com Jesus e planta com Sarayu), os confronta, muitas vezes com ódio, sobre os por porquês de Deus ter deixado sua filha ser brutalmente assassinada. E é assim que conhecemos Sophie (Alice Braga), que coloca Mack numa emocionante situação. O filme oscila o tempo todo com as emoções do espectador. Num determinado momento arranca risos da plateia, sendo que, minutos depois, é possível ouvir choros na sala do cinema. Esse mix de sensações se deve ao roteiro leve de John Fusco, que tem em seu currículo, clássicos como A EncruzilhadaJovens Pistoleiros e mais recentemente era a mente por trás da série Marco Polo, da Netflix. Fusco usa tudo em seu favor e consegue fazer piada até com o fato de Jesus conseguir andar sobre a água. Também não podemos deixar de mencionar a direção do inexperiente, porém, competente, Stuart Hazeldine, que até então só tinha um único filme e não sentava na cadeira do diretor desde 2009.

    Como dito, o filme é longo e acaba por perder um pouco o ritmo. Nota-se que o segundo ato se estende demais com situações que podem ser consideradas desnecessárias e quase não deixa espaço para a conclusão, que, aparentemente, foi bastante acelerada na sala de edição. Ainda assim, A Cabana tem pouquíssimos aspectos negativos, mas deixa muito claro qual a mensagem que Young, Fusco e Hazeldine queriam passar, tanto no livro, quanto no longa metragem. E podemos dizer que a missão foi cumprida com sucesso. Vale destacar que o filme foi feito para todas as pessoas, uma vez que não existem momentos de “pregação”, mas, obviamente, é um filme que atinge um público específico.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | O Exterminador do Futuro: A Salvação

    Crítica | O Exterminador do Futuro: A Salvação

    Exterminador A Salvação 1

    Trazendo Christian Bale para a franquia antes pensada por James Cameron, McG tinha a princípio todos os fatores que denotariam uma boa alternativa ao reinício da saga Terminator, exceto, é claro, pelas muitas interferências do estúdio, agora pela Warner – a quarta produtora de quatro filmes. O Exterminador do Futuro: A Salvação começa em 2003, com um recordatório de Marcus Wright ( Sam Warthington), que assina um termo antes de sua sentença de morte, cujo documento está ligado a Cyberdine, embrião do que seria a Skynet.

    A trama viaja ao futuro, em 2018, anos antes da vitória dos homens sobre os temidos exterminadores. A primeira cena de ação envolvendo John Connor (Bale) é bastante intensa e graficamente interessante, com o pretenso salvador se exibindo de um modo bastante viril, como se esperava do herói que seria a última esperança da Terra, como foi dito pelo Kyle Reese de Biehn em O Exterminador do Futuro. Connor pisa sobre a cabeça da carcaça mecânica de poder, simbolizando a ordem hierárquica estabelecida entre ele e seus inimigos, talvez no momento de mais inteligência no script de Michael Ferris e John D. Brancato.

    O entorno da resistência é bem exemplificado através de personagens universais, que se não têm muito tempo para se aprofundar no caráter destes, ao menos possuem carisma e simpatia, como funciona com General Ashdown (Michael Ironside), Kate Connor (Bryce Dallas Howard) e claro, com a nova faceta de Kyle Reese (Anton Yelchin). A úncia personagem que destoa dos demais até perto de uma hora de exibição é a nova encarnação de Wright, que se assemelha demais a uma figura misteriosa e messiânica, que furta o tempo dela que poderia ser de Connor e Reese.

    O declínio do filme ocorre da metade para o final, curiosamente no ponto em que toda franquia inicia também sua derrocada, uma vez que foi em A Rebelião das Máquinas que se iniciou a parte fraca e incongruente de toda a saga. Os furos de argumento iniciam-se pela premissa de um autômato tão avançado ter precedido a máquina de matar, que seria o T800 de Arnold Schwarzenegger.

    A referência visual que McG faz dos membros da resistência em comparação com os humanos sobreviventes de Matrix é um easter egg inteligente, especialmente por retribuir a influência que os Watchowski retiraram de Terminator, mas, ao final, tudo se assemelha demais a uma masturbação visual semelhante ao que ocorre no restante das boas sequências de ação do filme, que em suma reprisam os erros de tantos outros produtos, com roupagens interessantes e conteúdo nulo, assim como foi com os dois As Panteras e com o que seria a quadrilogia Transformers.

    É curioso que o plot de mútua cooperação entre Connor e um exterminador tenha sido revisitado em Exterminador do Futuro Gênesis, e de maneira igualmente tosca, que resulta também na retirada de protagonista do Messias futurista. Mesmo que rivalize muito em nível de absurdos, O Exterminador do Futuro: A Salvação consegue ser bem mais repleto de conceitos furados, como o que ocorre com o protagonista de Avatar, que tem seu seu poder atrelado a Skynet e no entanto se rebela sem maiores consequências para si, ao contrário, ele é reformado e decide mais uma vez mudar de lado enquanto a inteligência artificial assiste a tudo passivamente.

    Mais do que mero simbolismo, a cena da cirurgia cardíaca, cujo plot e ideia são completamente desnecessários, visa tentar justificar a presença de Wright entre os principais personagens, no entanto a tentativa falha por só exibir um fracassado modo de redenção do roteiro. A insegurança passada durante a produção, que contou até com Bale fazendo um tremendo escândalo, condiz demais com gigantesca confusão que resulta em O Exterminador do Futuro: A Salvação, que até tenta ser salvo, tolamente pelas mãos atabalhoadas de McG, claro, sem sequer arranhar a expectativa de redenção da franquia.

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  • Crítica | Aviãozinho de Papel

    Crítica | Aviãozinho de Papel

    Paper Planes 2

    Trama infantil de Robert Connolly – diretor também de Balbo e Underground: A História de Julian AssangeAviãozinho de Papel é focado nas experiências de Dylan Webber (Ed Oxenbould, o mesmo de Alexandre e o Dia Terrível, Horrível, Espantoso e Horroroso), um menino deslocado dos colegas de mesma idade, graças ao anacronismo em que vive. A situação do rapaz muda após lançar um pequeno avião de papel diante de um professor, descobrindo assim um novo talento, que o credenciaria para uma competição.

    A atmosfera de despreocupação típica da escola, onde as cores vivas prevalecem, escondem a realidade do menino de 11 anos que vive em condições complicadas, quase sem dinheiro, inclusive para se inscrever nos campeonatos. Durante a noite, ele sonha com a figura materna, ausente por um motivo não dito no início do roteiro. O único a quem ele recorre é seu desatento pai, Jack, executado pelo igualmente péssimo Sam Warthington que basicamente não precisa atuar.

    Dylan prossegue em seus objetivos, sem apoio dos que o cercam, especialmente de seu pai, que além de não ajudar a financiá-lo ainda o atrapalha, pondo-o de castigo sem motivo plausível logo após passar para as finais do campeonato australiano. O fato serve de alegoria para a recusa que os parentes mais velhos tem em aceitar o destino que seus filhos escolhem.

    Aos poucos, o quadro dos Webber muda e eles partem em viagem, para tentar realizar o sonho do garoto, ainda que por vias tortas. Apesar de todo o efeito lúdico, típico da mentalidade infantil, há  forte carga subliminar. Além de uma discussão sobre abandono, orfandade e senilidade, a cargo de cada um dos homens da família Webber, reunindo nos personagens padrões as mesmas questões amplamente discutidas em consultórios psicanalíticos, com a grave diferença de não haver qualquer doutor para tratar das dores emocionais dos personagens, tampouco para enxugar suas lágrimas.

    Todo o esforço de Dylan é basicamente para que seu pai o note, como um grito desesperado por atenção, um clamor não atendido pelo homem graças a depressão causada pela precoce viuvez. Através de falas padrão, o menino consegue finalmente alcançar o emocional do patriarca, a quilômetros de distância, quando já está locado no Japão para o torneio internacional. Como era de se esperar, as palavras edificantes causam comoção no homem que se retira da inércia para enfim se lançar em direção ao seu rebento.

    A história termina de modo nada inédito como a trajetória de superação de inúmeros filmes da década de oitenta, emulando características desde Karatê Kid, até o recente e oscarizado O Discurso do Rei. Os poucos méritos de Aviãozinho de Papel estão em sua conjuntura infantil, já que vem de Dylan toda a força para realizar seus próprios sonhos, sem nenhuma figura de mentor indiscutível, semelhante ao visto na composição muitos dos heróis do faroeste, que só podiam contar consigo mesmo.

  • Crítica | À Beira do Abismo

    Crítica | À Beira do Abismo

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    De maneira semelhante ao personagem Bill Halleck, de A Maldição do Cigano, a obra de Stephen King nos cinemas ou televisão carrega um fardo. O panorama dessas adaptações revela um gráfico desigual sem equilíbrio entre excelentes tramas ou versões descartáveis. A vasta obra do autor, tanto em romances quanto em contos, naturalmente, pode apresentar pontos altos e baixos. Porém, pressupõe-se que uma trama adaptada seja forte o suficiente para uma boa produção.

    Dessa forma, chega a ser incompreensível o contraste entre tais produções feitas com esmero e outras cuja história não ultrapassa a potência de uma ideia. Lançado em 2012, À Beira do Abismo se encaixa na segunda categoria. Baseada em um conto de Sombras da Noite, primeiro livro de histórias curtas do autor, a produção se desenvolve a partir da premissa de um ex-policial fugitivo que, para provar sua inocência, ameaça suicidar-se.

    A partir desta ação, a narrativa apresenta a motivação da personagem. A tentativa de suicídio, porém, é uma distração para revelar outra história paralela, tão inverossímil como a primeira. A situação extrema causa impacto mas se apresenta de maneira fria, sem uma justificativa plausível.

    Ainda aproveitando o sucesso de Avatar, Sam Worthington estrela a produção sem o impacto necessário em sua interpretação – um fato que atravessa sua carreira como um todo – sendo pontual somente na urgência do policial Nick Cassidy. A falta de credibilidade da personagem principal transforma em mais aparentes as falhas narrativas, ainda que o público anseie descobrir sua motivação e a das demais personagens.

    O fraco impacto do thriller não se sobressai nem mesmo em algumas cenas que tentam aprofundar-se nos personagens ao redor do policial, mas que parecem fora de tom em relação à obra em geral. Sendo uma potencial boa história de um excelente escritor que, mais uma vez, sofreu o peso da maldição de sua obra mal adaptada para o cinema.

  • Crítica | Jogada de Mestre

    Crítica | Jogada de Mestre

    Jogada de Mestre - poster
    Diretor responsável pelas duas partes finais da trilogia sueca Millennium, William Brookfield retoma um fato real acontecido em 1983, quando um dos presidentes da companhia Heineken foi sequestrado por um grupo de amigos, sucedendo uma ação destacada na imprensa como um dos resgates mais caros da história.

    Jim Sturgess, Sam Worthington e Ryan Kwante estrelam Jogada de Mestre, produção que parece testar a popularidade destes atores ainda em início de carreira com apoio de Anthony Hopkins como coadjuvante, um nome de peso para dar credibilidade à trama. Vivendo um momento delicado em um empreendimento realizado em conjunto, os amigos decidem mudar de vida após um empréstimo negado pelo banco. Diante desta adversidade natural, evitam qualquer conceito moral e escolhem o sequestro de um homem rico como a maneira de lhes salvar.

    A situação crítica vivida pelo grupo se apresenta nos primeiros momentos da produção, mas sem a carga dramática necessária que justifique uma transgressão deste porte. O grupo arquiteta o sequestro com detalhes, realizando o assalto a um banco para construir, dentro de um galpão, o cativeiro no qual ficará o homem. Enquanto aguardam a resposta para o pedido de resgate, o tempo da ação se torna maior do que o esperado, e embates começam a surgir no grupo.

    O roteiro escrito por William Brookfield se baseia no livro de Peter R.  de Vries, que também assina o roteiro,  o qual é desenvolvido a partir de depoimentos que apresentam a visão de um dos sequestradores. No filme, porém, a história transcorre de maneira linear, apresentando um grupo como um todo. A ausência de um ponto específico não traz nenhuma particularidade para a narrativa. Os atores centrais, que sempre representaram personagens carismáticas em outros filmes, não desenvolvem nenhum aspecto que faça o público ao menos torcer temporariamente por eles. Assim como o veterano Hopkins faz uma interpretação no automático representando o personagem rico que parece não se importar com o sequestro, sentindo falta apenas do ambiente de conforto onde normalmente vive.

    Permanece a impressão de que a trama deseja apenas uma apresentação e dramatização dos fatos, sem nenhuma profundidade ou empatia com personagens e dramas envolvidos em um sequestro. O resultado é uma história comum e apática que nem mesmo o prestígio do nome de Hopkins faz valer a exibição.

  • Crítica | Cake: Uma Razão Para Viver

    Crítica | Cake: Uma Razão Para Viver

    Cake 1

    Apontando a desistência da vida como mote para a mudança de postura, o filme de Daniel Barnz mostra um grupo de apoio mútuo formado por mulheres, em sua maioria depressivas, que sofrem dores intensas devido a doenças raras. Juntas, elas lamentam o suicídio de uma das integrantes mais novas, Nina (Anna Kendrick). O ato quase teatral é valorizado através das ações de uma desfigurada Jennifer Aniston, que abre mão de sua intensa beleza para interpretar Claire Simmons, uma mulher desesperançada, que guarda em sua face marcas e sinais de descuido próprio, que em suma representam as muitas feridas que ainda manifestam-se dentro de si.

    Assistida somente por sua serviçal Silvana (Azana Bezerra), Claire não tem qualquer alento em sua rotina. Mesmo os poucos sentimentos passionais a que tem direito são frutos do comércio, com visitas noturnas de um amante que sequer entra pela porta da frente. Do alto de seu desespero sentimental, a protagonista não aparenta dar muito valor à mulher que a ajuda, suprimindo até seus vícios ilícitos. O momento primário em que a heroína, falida e monotônica, demonstra qualquer reação destemperada é quando esta assiste à própria piscina. A despeito de seu ateísmo, a protagonista vê boiando a figura de Nina, trajada de maneira sensual, conversando com ela através do além-túmulo.

    Sem ter certeza se a aparição era fruto de um delírio após o uso das substâncias das quais lançava mão, Claire começa a se interessar pelo dia a dia de Nina, chegando a ponto de dar vazão à agressividade que já era anunciada anteriormente ao ameaçar a organizadora do grupo, pedindo os dados e o endereço da menina que viu. Na antiga casa da moça, ela encontra Roy, interpretado por Sam Worthington, o marido da falecida, o qual permite que a depressiva mulher dê vazão ao seu comportamento tresloucado.

    Toda a compreensão que Claire não achava nas forçadas reuniões, ela passa a achar nas interações com Roy, unidos pela dor, desespero e também por interesses sexuais – que, ao próprio entender destes, significam intenções escusas – de ambas as partes. Trabalhando a culpa pelos atos ainda não praticados, um vê no outro a chance de finalmente se reabilitar, trabalhando os traumas de uma forma que, em algum dia, ambos possam finalmente dar prosseguimento a sua existência.

    O que se vê na segunda metade do filme é uma jornada de combate ao medo, onde a confiança de ambos é posta à prova, envolvendo os seres que dependem deles, como o filho de Nina e Roy, o pequeno Casey  (Evan O’Toole). É bastante curioso observar o quão tacanho é o flerte entre ambos e o quão pesado é o modo de lidar com seus fantasmas. Quando está começando a mostrar alguma melhora, Claire tem um terrível encontro com a figura de Leonard (William H. Macy), que seria o catalisador de sua angústia existencial. O dramático reencontro faz a protagonista ter uma recaída nos seus antigos erros.

    As “visitas” de Nina seguem crescentes, manifestando, entre outros sentimentos, a vontade de suicídio, além do profundo remorso por estar roubando da defunta a possibilidade de uma boa vida, sentimentalmente plena, apesar das dores. O desespero aumenta de tal forma que os espíritos, da delirante mulher e da personagem espectral, quase se encontram.

    A trajetória vista no roteiro de Patrick Tobin é de total reconstrução, de moral e autoestima através de ações espontâneas. Um panorama que não demonstra compadecimento de suas personagens, tampouco aplaca ou suaviza a mensagem para o espectador, ainda que todo o conteúdo se baseie em conceitos do senso comum. O mérito maior certamente está na atuação de Jennifer Aniston, ainda que não seja algo tão digno de nota quanto foi alardeado, especialmente pela proximidade de outra obra em que se destaca o desempenho de Juliane Moore, em Para Sempre Alice. Em Cake – Uma Razão Para Viver, sobressai uma atuação de sua maior estrela  conduzida na monotonia de um espírito único, sem liberdade para nuances.

  • Crítica | Sabotage

    Crítica | Sabotage

    Sabotage

    A ação desenfreada é notada logo nos primeiros segundos de filme, pouco após os créditos do estúdio. Uma situação de sequestro é aventada e assistida por John ‘Breacher’ Wharton, personagem do geriátrico astro de ação Arnold Schwarzenegger. Logo após o preâmbulo, uma ação impingida pelo esquadrão do DEA é executada, muito semelhante ao tom do segundo filme da franquia Os Mercenários, logicamente com um cunho muito menos galhofado. Sabotage é um legítimo tributo aos bem montados filmes de ação oitentistas, com uma dose de violência ainda mais evidente, graças a classificação etária elevada.

    Apesar de toda a construção do mundo comum que contemplaria mitologias semelhantes a Comando Para Matar e Cobra, as semelhanças são interrompidas, para dar lugar a uma trama um pouco mais séria. Na tal ação mostrada no começo há um roubo aos espólios do cartel, cuja soma excede dez milhões de dólares, e todo o grupo liderado por Breacher passa a ser suspeito, tendo os seus passos seguidos e monitorados por outros agentes da lei. Com o tempo, o caso é arquivado, e John é liberado para reunir seu esquadrão novamente, já que ninguém mais dentro da agência confiaria ou daria crédito a ele.

    A retomada é acompanhada de uma série de eventos suspeitos, em que os subalternos a Breacher vão sendo abatidos, como em uma “Queima de Arquivo“. A experiência de David Ayer em conduzir thrillers policiais o faz uma ótima escolha para conduzir o drama cheio de mistérios, conspirações, assassinatos e traições. A questão de mexer com cartéis de drogas já havia sido abordada em Dia de Treinamento, cujo roteiro era seu, assim como em Marcados Para Morrer, onde sua câmera na mão era o meio pelo qual contava sua história. Em Sabotage, o aspecto parece mais aprimorado, visto que ele usa a primeira pessoa para grafar algumas das sensações conflitantes dos personagens, como Paul Greengrass cansou de fazer na Trilogia Bourne.

    O personagem cujas nuances são mais verificadas pela câmera é a da investigadora Caroline Brentwood, vivida por Olivia Williams. Ela é a responsável pelo departamento de homicídios, por verificar a origem dos assassinatos ao grupo de federais. A investigadora é o alvo perfeito para a inserção do público na história, inclusive ao tomar noção das questões pessoais e de vingança que motivam Breacher.

    A questão é que, com o tempo, Caroline se vê em uma encruzilhada moral, entre ter de acreditar em John – já que ela, de maneira ingênua, se envolve emocionalmente com ele – ou dar prosseguimento a investigação da qual ele é um dos principais suspeitos. O roteiro de Skip Woods e Ayer consegue passar uma tensão interessante na troca de acusações entre os parceiros de ações, conseguindo bons momentos a despeito até das já esperadas atuações pífias de Sam Worthington, fazendo o ciumento e segundo em comando Monster.

    Não há qualquer complacência com o receptor, a fita inteira é violentíssima e completamente não condizente com o grande público, mesmo para o fã de filmes de ação do austríaco é necessário um pouco de estômago para tragar este Sabotage. A sanguinolência faz lembrar os filmes gore de terror, ou os espécimes de Quentin Tarantino e Takashi Miike, mas sem a capa de exagero irrealista típica da filmografia dos dois diretores. Todas as dilacerações são plenamente justificáveis dentro da lógica do filme, não existe qualquer pedido abusivo de suspensão de descrença.

    O peso dos anos denegriram o físico de Arnold, mas também o tornou um bocado mais afeito a passar através de suas expressões alguns sentimentos que antes não eram possíveis ver em suas participações. Seu papel permanece o de um homem duro e talhado pelo destino, com características de brucutu, mas ao analisar o seu rosto, nota-se uma carga escondida atrás do semblante fechado. Não há como esperar algo semelhante a Brando ou Pacino, mas nota-se que o papel encaixa bem em suas pretensões. As limitações dele servem à trama, a rigidez com que ele se move propicia um álibi perfeito, fazendo dele um improvável suspeito para quaisquer atos possivelmente ruins.

    Nos minutos finais o filme muda de gênero, fazendo crer que toda retórica mostrada antes era um despiste, um mcguffin para a questão maior, ligada à motivação do personagem principal. Toda a trajetória de John Wharton é muito bem construída, e é isso que faz com que o público compre a sua proposta e se afeiçoe a ele, claro, com a ajuda da face carismática de Schwarzenegger, mas sem abrir mão de uma condução de trama muito competente, como é a levada por David Ayer.