Tag: M. Night Shyamalan

  • Agenda Cultural 70 | Infiltrado na Klan, Green Book, Shazam!

    Agenda Cultural 70 | Infiltrado na Klan, Green Book, Shazam!

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira) e Filipe Pereira se reúnem para resgatar os filmes não comentados nos últimos tempos na Agenda Cultural. Plot-twist é uma assinatura de M. Night Shyamalan? Podemos ter otimismo com o progressismo da academia do Oscar? Shazam! é mesmo um filme bobo? Tudo isso e muito mais na agenda deste mês.

    Duração: 103 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Crítica | Vidro

    Crítica | Vidro

    Mal avaliado pela crítica internacional, Vidro, nova obra de M. Night Shyamalan possui dentro de si dois filmes bem distintos que em alguns momentos se tocam e se condensam, um dele é mais escapista e leva com base as historias em quadrinhos de super heróis, e outra mais audaciosa e pretensiosa mira um enredo com elementos de teoria da conspiração. O ponto de partida para esta historia é a captura de dois seres de capacidades sobre humanas, David Dunn, personagem de Bruce Willis que protagonizou Corpo Fechado, e Kelvin Wendell Crumb, que foi o personagem central de Fragmentado, de novo executado por James McAvoy.

    Esta parte mais megalomaníaca é  claramente inferior a questão que faz referencia aos quadrinhos, e boa parte dela é motivada pela personagem de Sarah Poulsen, a doutora Ellie Staple, que é designada para cuidar de David, Kelvin e também de Elijah Price (Samuel L. Jackson), o Mister Glass, que é um homem de uma mente muito poderosa, e que permanece sempre sedado para não executar seus planos malignos. Aqui se nota um cuidado do roteiro em expandir a mitologia, seguindo a ideia do filme de 2000 de tentar encaixar os super seres em um ambiente e cenário plausível, pois cada um desses homens tem uma cela e condições especiais para frear suas habilidades e fúrias.

    No entanto, Staple é uma personagem cética. Em um primeiro momento se mostra  completamente incrédula nas capacidades dos pacientes internos da instituição, e usa a teoria de Mister Glass como base para desbaratar a questão e mostrar que os feitos do trio ocorreram por conta de estados alterados da mente  ou por outras questões com alguma explicação mais terrena do que a crença de que os quadrinhos contam historia e feitos de pessoas reais. Até certo ponto essa questão é bem desenvolvida e faz sentido, mas é nela que moram grande parte dos problemas do roteiro.

    As cenas de ação, as sequências de luta e o resgate aos personagens antigos e periféricos são aspectos bem legais da trama. Spencer Treat Clark, Anya Taylor-Joy e Charlayne Woodard conseguem reprisar bem seus papeis, e todos eles são ressignificados e com quadros evoluídos. Há ressentimentos, culpa e um sentimento de impotência em comum com Joseph Dunn, Claire Foley e a mãe de Elijah e o desenrolar desse aspecto da historia é feito de um modo muito inteligente e maduro, uma vez que personagens secundários sempre foram parte importante do cânone dos heróis seja nas Eras de Ouro, Prata ou moderna dos quadrinhos.

    Shyamalan foi relegado por grande parte de público e crítica a condição de péssimo diretor, e isso obviamente é um exagero. Muito desse sentimento rancoroso ocorreu por conta do seu belo início como cineasta e com as comparações desnecessárias que a imprensa fez da sua filmografia com a de Steven Spielberg, mas isso é pouco culpa dele. Após Dama na Água seus filmes sofreram um terrível declínio, mas o fato de ter realizado obras execráveis não apaga seus méritos anteriores, o que aliás é um exercício de futilidade terrível. Outros cineastas famosos também sofreram um bocado com isso, desde Bryan Singer e Christopher Nolan mais recentemente, até Tim Burton e esse tipo de afetação é algo desnecessário demais.

    A personificação dos três personagens poderosos varia de qualidade. David é muito bem interpretado por Willis, que aliás, volta a ter um desempenho bom e isso faz falta em sua filmografia recente, e isso tudo se dá graças principalmente a antiga parceria com o diretor. Jackson faz um personagem enigmático, manipulador e carismático, é quase impossível de não simpatizar, já McAvoy segue afetado, com algumas de suas personalidades melhor exploradas e outras sub aproveitadas, como foi no filme anterior. Já Sarah Poulsen faz uma personagem que tenta soar  complexa, mas que só consegue reunir em si a má vontade típica dos antagonistas, e ela deveria ser uma mulher de caráter dúbio, mas falta construção de roteiro para sua personagem, e claramente não é culpa da interprete. Nem as revelações sobre suas ligações com o passado salvam ela de um destino mal construído pelo roteiro.

    Vidro está longe de ser perfeito, seu roteiro carece de uma melhor construção, mas mesmo com tantos defeitos ele sobrevive até ao fato de seu antecessor Fragmentado ser superestimado. Conseguir reunir três personagens tão icônicos e cheios de detalhes diferenciados é um mérito grande, além do que também se  harmoniza isso tudo de maneira coesa é certamente, constituindo então um belo acerto do autor de Sexto Sentido. O fato do final ter um final surpreendente não é necessariamente um problema, apesar incomodar bastante a gangorra emocional próxima do desfecho, enchendo os minutos finais de reviravoltas meio bobas e que estão lá basicamente para chocar. Incrivelmente, Shyamalan até nesse defeito em sua obra emula uma característica típica dos quadrinhos recentes, que é a predileção para uma narrativa épica meio forçada e frustrada pela fregilidade de sua construção.

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  • Crítica | Corpo Fechado

    Crítica | Corpo Fechado

    O primeiro filme de M. Night Shyamalan após Sexto Sentido começa aludindo aos aficionados por quadrinhos, julgando os males e o bem provindos do colecionismo desenfreado para logo depois saudá-lo através da história de David Dunn, personagem de Bruce Willis, sujeito esse que faz lembrar momentos clássicos dos roteiros de Stan Lee, Jerry Siegel e Jack Kirby. Antes de apresentar o seu protagonista, o roteiro mostra uma mulher negra dando a luz a uma criança tão fragil que tem as pernas quebradas.

    A desconstrução dos mitos dos quadrinhos começa ao mostrar que David não é perfeito. A câmera que se esconde entre os bancos do trem o espiã flertando com Kelly, e também flagra ele escondendo sua aliança de casamento. Dunn fracassa duplamente, primeiro em seu quase flerte, interrompido pela própria moça , e erra também para e não conseguir ter um fim no sofrimento emocional que tem sido sua vida, pois quando descarrila o trem em que está, ele é o único sobrevivente, sem nenhum osso quebrado.

    O milagre que ocorreu não foi celebrado. Sua relação com a esposa já está falida e ele mal fala com seu filho, a escolha de Shyamalan foi de focar a clássica jornada do herói de Joe Campbell em uma figura nada invejável, comum, que tem um trabalho chato e uma intimidade estranha. A Touchstone era um estúdio menor que a Disney utilizava para fazer filmes independentes ou que não se encaixavam muito no estilo super fantástico e feliz que normalmente abarcava seus filmes animados e em live action.

    A cadência da história lembra demais as histórias de origem nos quadrinhos. Peter Parker vai descobrindo aos poucos seus poderes após sofrer um acidente radioativo, mesmo os X-Men descobrem lentamente, quando chegam a puberdade. Para Dunn o paradigma é diferente, ele só percebe sua estranha condição na meia idade, e ele não consegue lidar bem com isso, precisando de consultoria.

    O jovem Elijah Price, interpretado por Johnny Hiram Jamison quando novo recebe um presente de sua mãe, um número de Active Comics, uma revista que faz óbvia referência a Action Comics onde apareceu o Super Homem , e o garoto abre um embrulho, dado pela sua mãe como prêmio por ter saído. Já aqui há mostrar do que Price se tornaria, pois mesmo quando ele vira o gibi para o lado correto, a câmera acompanha o movimento de rotação, mantendo o conto de fadas moderno de luta do bem contra o mal sempre com um ângulo invertido, embaralhando na cabeça do rapaz as noções de moralidade. Adulto, ele é executado por Samuel L. Jackson, um colecionador de histórias em quadrinhos que acredita que a nona arte é um modo de contar a história da humanidade, como quando os egípcios faziam hieróglifos. Ele chama Dunn, e explica toda sorte de loucura crédula de que David é poderoso e aquilo o deixa com um misto de apreensão e susto.

    Os aspectos técnicos fazem todo o roteiro e M. Night funcionar a perfeição, como a fotografia Eduardo Serra, que ajuda a tornar todo o escopo ainda mais grandioso, e a música de James Newton Howard, que reúnem elementos mais modernos, além de referências claras ao trabalho de John Williams e Superman e Danny Elfman em Batman.

    A revisão do filme permite chegar a algumas conclusões que talvez não fossem alcançadas vendo somente uma vez, não só em pistas mas também em semelhanças de trajetórias. Elijah e David parecem ter uma ligação espiritual, pois ambos tem uma fase depressiva que ocorre quase simultaneamente, entre os dois. A união e rivalidade entre eles parece mesmo fadada a a acontecer de qualquer forma, muito semelhante ao que ocorreu com Lex Luthor e Clark Kent, e que é selada quando finalmente eles tocam as próprias mãos, com o herói percebendo enfim o óbvio.

    A epifania que Dunn tem pode ser explicada como ele chegando a obvia conclusão provinda das pistas reunidas, por raciocínio lógico romantizado ali, mas a possibilidade daquilo ser uma fantasia causada pelo toque de mãos, separada apenas pela luva de Elijah, explicando que foi a união dos opostos que o fez ter a tal visão é algo muito mais poderoso, escapista e condizente com a história que Shyamalan propaga. Este final foi erroneamente criticado por não possuir um plot twist tão forte quanto o de O Sexto Sentido, mas aqui cabe demais e faz dele um filme inteligente e condizente com a cena de adaptações de quadrinhos da época, como muito mais coragem para abraçar a fantasia do que boa parte até da cena de heróis recente.

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  • Crítica | Fragmentado

    Crítica | Fragmentado

    A carreira de M. Night Shyamalan é bastante irregular, com um começo mainstream de indiscutível qualidade – em especial O Sexto Sentido e Sinais – e alguns filmes cuja qualidade é discutida até hoje – A Vila e A Dama na Água – e uma fase claramente decadente – Fim dos Tempos, O Último Mestre do Ar e Depois Da Terra. Há pouco tempo, houve uma melhora considerável em seus trabalhos individuais, com A Visita sendo esse um filme absolutamente elogiado, inclusive por quem execrava o realizador. O drama Fragmentado buscava ser um retorno as origens ainda maior, com uma história complexa, envolvendo questões mentais como múltiplas personalidades, ao passo que o orçamento da produção também era mais modesto, fato que permitiria ao cineasta ser mais criativo e inventivo, como no começo de sua carreira.

    A história acompanha a rotina de três adolescentes que são sequestradas por um estranho homem careca. Este é Kevin (James McAvoy), um sujeito que tem um transtorno dissociativo de identidade, fato que o faz ser capaz de alternar para suas personalidades acessórias de maneira incalculável, sendo essas um total de 23. O perfil do raptor varia entre a hostilidade e docilidade, de acordo com qual individuo está no comando de sua psique e os infortúnios das moças começam por não saber o que esperar de seu raptor.

    A quase ausência de trilha sonora no início ajuda a se criar uma atmosfera de pânico, com o suspense sendo sustentado principalmente através das expressões de temor das raptadas, em especial Casey (Anya Taylor-Joy, a mesma que protagonizou A Bruxa). Em alguns momentos por volta da primeira hora do longa há um sem número de situações muito parecidas entre si. Tal aspecto faz o filme parecer moroso para os olhares menos atentos, ainda que o intuito do texto seja mostrar o quão desesperadora é a rotina de quem é mantido preso quanto sua vontade e o quanto a reprise de momentos chaves pode ser incômoda e terrível para quem já está em uma situação limite por um tempo considerável, como ocorre com Casey.

    Fragmentado mistura thriller com filme de monstro, evocando os porões da alma humana como fonte do seu terror. Mostra a personalidade mais cruel como a de um intolerante fanático religioso, em uma cena próxima do final que faz lembrar ótimos momentos dos jogos eletrônicos de survival horror, em especial Silent Hill e Resident Evil. O desfecho une vítima e o infligidor do mal em uma rede sentimental que faz sentido para quem assiste, ainda que essa associação seja absolutamente macabra e preocupante sob o ponto de vista sociológico, sem dar quaisquer chances de chamar tal interação de Síndrome de Estocolmo, ao menos não na conclusão final.

    O filme em alguns momentos carece de um ritmo mais dinâmico, mas os instantes finais fazem lembrar os bons predicados de Shyamalan, no sentido de criar tensão, sem dessa vez precisar de um plot-twist genial para chamar a atenção de seu público, ainda que haja uma bela surpresa na cena pré-créditos. A atuação de McAvoy rivaliza com o bom nível de suspense como aspecto mais positivo do longa, que certamente é uma retomada audaciosa a filmografia que explora os mistérios da alma e mente humana, com Shyamalan costumava fazer, resgatando também o espírito The Twilight Zone típico de suas obras mais antigas.

  • Crítica | A Visita

    Crítica | A Visita

    A Visita - Poster

    Dezesseis anos após sua ascensão no cenário internacional com O Sexto Sentido, o diretor indiano M. Night Shyamalan volta a se provar como diretor, trazendo nova ideias autorais e uma nova disposição, um renovado Shyamalan. A Visita pode não ser seu retorno triunfante, mas mostra que o diretor ainda tem muito a oferecer.

    No thriller, os irmãos Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould) vivem apenas com a mãe, depois que o pai os abandonou. Eles vão passar uma semana na casa dos avós, que nunca conheceram. Becca é uma aspirante a cineasta, e decide documentar a visita, que vai tomando traços cada vez mais estranhos conforme seus avós começam a agir de forma completamente sem sentido.

    Surpreendentemente, A Visita não é o filme de terror que todos esperavam que fosse. Ao invés de se afundar nos estereótipos e nos clichês do gênero, o diretor nos brinda com um tipo de comédia de terror, brincando sem medo com seu próprio filme, desde os sustos fáceis até a bizarrice dos movimentos corporais, usando até mesmo a estrutura em que a história nos é apresentada, como fosse o produto final do documentário de Becca.

    Ainda assim, se fazem presentes algumas das marcas do diretor. A tensão psicológica se faz presente, tornando qualquer comportamento do filme inesperado, além dos planos mais “complexos”, que elevam o espectador ao estado de observador das situações, além de seus clássicos plot twists.

    Se apresentando sem uma gota de pretensão, A Visita nos traz um renovado Shyamalan, com um apurado sentido (e senso) de humor autoconsciente, mostrando que aprendeu com os erros passados, e que o diretor já não tenta provar nada para ninguém, apenas deixando explícita sua originalidade, mesmo que ela nunca tenha saído de lá.

    Lentamente, Shyamalan aparece reconstruindo sua carreira.

    Texto de autoria de Matheus Mota.

  • Crítica | O Sexto Sentido

    Crítica | O Sexto Sentido

    O Sexto Sentido - poster

    Após quinze anos de lançamento, não é exagerado afirmarmos que o desfecho de O Sexto Sentido é conhecido por grande parte do público. Desde sua estreia, a obra recebe elogios e foi responsável pelo destaque a M. Night Shyamalan, que dirige uma trama sobre um garoto que vê fantasmas e é ajudado por um psicólogo juvenil, em um suspense que reverencia o cinema de Alfred Hitchcock.

    A qualidade desta produção e uma consequente exigência do público de que outros filmes do diretor apresentassem um plot twist surpreendente e bem realizado talvez tenham sido significativas na derrocada de sua carreira, hoje quase sem credibilidade. Parece absurdo que este mesmo diretor, que na época conquistou comparações exageradas com o mestre do suspense – uma inspiração confessa de Shyamalan –, tenha realizado posteriormente uma adaptação regular do excelente desenho Avatar, feito um suspense bizarro sobre a natureza em Fim Dos Tempos e uma insossa ficção científica com Will Smith e o filho.

    O Sexto Sentido é um excelente thriller psicológico, bem executado no roteiro e na direção. Bruce Willis ainda era um ator de renome, em uma posição confortável de papel de destaque em filmes de ação – atualmente, Willis parece ter voltado somente para salvar filmes do gênero do desastre completo, vide G.I. Joe: Retaliação, R.E.D. – Aposentados  e Perigosos –, uma vertente interpretativa perdida em sua velhice. Confiando em sua performance, o ator é um premiado psiquiatra infantil que trata infantes com distúrbios mentais ou sociais. Após um evento traumático envolvendo um antigo paciente, o Dr. Malcolm Crowe estuda o caso de Cole Sear, um garoto tímido e deslocado socialmente.

    Abandonado pelo pai na infância, Cole estabelece uma relação paternal com Malcolm, transformando-o no único adulto confiável de seu círculo. A perda do pai é a primeira ruptura familiar do garoto, e também o princípio traumático que trazem à tona suas visões fantasmagóricas. Consciente de que nem todos são capazes de ver as entidades, o garoto teme contar seu problema à mãe por medo de rejeição. Enquanto a matriarca possui dois empregos para manter o sustento familiar, ela parece desconhecer ou ignorar os abusos que o filho sofre na escola.

    Manipulando tradicionais conceitos do terror, o roteiro estabelece uma boa justificativa para a presença de espíritos no mundo real, a mesma base presente em dogmas de certas religiões. Os espíritos seriam seres desencarnados que ainda desconhecem a própria morte e, por isso, permanecem na presença dos vivos. Manifestações físicas aparentemente com baixa temperatura, objetos que se movem, seriam tentativas de contato destes espíritos.

    Esta abordagem transforma a sugestão no melhor recurso cênico para provocar medo. Nem sempre o horror é visto na tela, mas imaginado pelo público com base em seus medos internos. Shyamalan realiza bonitas cenas em uma linguagem cinematográfica própria e repleta de símbolos visuais. O uso do vermelho indica cenas de maior tensão sobrenatural, um detalhe que permite ao espectador, em uma segunda exibição, observar as pistas dadas pelo roteiro até a revelação no desfecho da trama.

    A edição, com cenas breves e finalizadas em um rápido fade-out, passa a impressão de uma narrativa entrecortada. Somente ao final do filme, compreendemos o motivo da narrativa elíptica, que amarra suas histórias em pequenos três atos. Primeiro, o caso de Cole encerrado pelo Dr. Malcolm. Ao propor ouvir os mortos, o garoto encontra paz à sua maneira. Pressupomos que ele será um destes mediúnicos que dialogam diretamente com o outro mundo, à procura de ajudar mortos na passagem além-vida. Em seguida, Cole faz as pazes com a mãe em uma bonita cena em que revela sua percepção sensitiva ao observar os mortos em um acidente de trânsito à sua frente. Talvez em seu pensamento infantil, o garoto nunca imaginaria que a mãe poderia aceitá-lo. Por fim, o gancho que muda a perspectiva do roteiro e, sem dúvida, produz uma boa revelação.

    Diante desta informação, rever a obra é procurar pistas e inferências, inseridas, em cenas, diálogos e cenários, por Shyamalan. Na cena em que Cole revela ao doutor sua capacidade de ver fantasmas, a cena seguinte é um close no rosto de Bruce Willis. Em seguida, ao comentar sobre a falência de seu casamento, o psiquiatra menciona a mudança da relação após um problema – o acidente no início do filme. Um jogo que expõe pistas ao público de maneira pontual, até o final revelador.

    Mesmo visto após conhecer a revelação, o suspense estabelecido e a tensão dramática da obra ainda produzem um intenso thriller. Bom motivo que trouxe popularidade ao diretor, com um perfeito equilíbrio que nunca mais conseguiu compor. Chega ser espantoso que, hoje, ainda viva à margem deste brilhante filme sobre espíritos.

  • Crítica | Depois da Terra

    Crítica | Depois da Terra

    after earth - poster

    Muitos anos depois de os humanos serem responsáveis por uma catástrofe de proporções suficientes para destruir as condições de sobrevida na Terra, obrigando-os a se retirar do planeta, a humanidade encontra-se estabelecida em Nova Prime. Cypher Raige (Will Smith), general lendário que foi peça importante na colonização do novo planeta, garante à sua esposa, Faia (Sophie Okonedo), que após mais uma missão irá se aposentar. Na tentativa de aproximar-se do filho de 13 anos, Kitai (Jaden Smith), leva-o junto na viagem. Ao ser atingida por uma tempestade de asteroides, a nave em que estão realiza um pouso forçado – ou, melhor, cai – num planeta perigoso que, por acaso, é a Terra.

    Aliás, acasos, ou pré-condições para a trama se desenrolar, não faltam. Vejamos. Por acaso, pai e filho são os únicos sobreviventes humanos. Por acaso, o dispositivo para acionar o resgate está destruído. Por acaso, existe outro, mas está na traseira da espaçonave que, por acaso, caiu a 100 km de distância. Por acaso, Cypher fraturou ambas as pernas na queda e não tem condições de acompanhar o filho na busca. E, por acaso, um monstro predador de humanos, um(a) Ursa, que estava sendo transportado na nave, conseguiu sobreviver à queda. E, também por acaso, Cypher foi um dos primeiros a dominar a técnica necessária para derrotá-los.

    E com essa introdução, não é muito difícil antever o que se segue. Aliás, o roteiro não decepciona nesse quesito, pois é totalmente previsível. Não há qualquer surpresa, ou reviravolta súbita durante todo o filme. Não há ousadia alguma. Os clichês se acumulam – o filho que tenta impressionar o pai, o pai que o julga culpado pela morte da irmã, a necessidade de interação, o confronto, e por aí vai. Há até uma frase de efeito – “Danger is real, fear is a choice”, dita por Cypher – que tenta sem sucesso transformar a corrida contra o tempo de Kitai numa espécie de jornada espiritual ou num ritual de passagem. Certamente, por esses motivos (e mais alguns), apesar de se desenrolar em pouco mais de uma hora e meia de filme, a trama dê a impressão de se arrastar por infindáveis minutos.

    Quanto aos absurdos, há vários, mas dois especificamente abusam da suspensão de descrença e fazem o espectador comentar irritado: “Isto não faz o menor sentido!”. Um deles refere-se a uma auto-cirurgia que Cypher faz em uma das pernas para reverter um problema circulatório devido à fratura. E outro é digno de um filme Disney, quando Kitai consegue um amigo/protetor improvável, durante a sua jornada. Se o espectador ainda estiver tentando levar a estória a sério, esses dois momentos se encarregam de fazê-lo desistir.

    Num filme em que o desenvolvimento da estória se apoia em apenas dois personagens, espera-se que ao menos as atuações sejam memoráveis. Contudo isso não ocorre. Will Smith passa praticamente todo o tempo tentando assumir um ar autoritário e arrogante, mas consegue apenas fazer cara de quem comeu e não gostou. Enquanto que Jaden Smith não vai muito além, e passa a maior parte do tempo com cara de cachorro perdido, se lamentando.

    Enfim, se o espectador abstrair a enorme quantidade de acasos e relevar os absurdos, o filme consegue cumprir a função de entreter. Mas apenas isso. M. Night Shyamalan, mais uma vez, decepciona.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.