Tag: Kathryn Hahn

  • Review | WandaVision

    Review | WandaVision

    No mundo pós-pandemia os seriados televisivos e os serviços de streaming ganharam muita projeção entre o público que consome cultura pop. Pudera, sessões de cinema quando abertas tiveram pouca aderência e bilheteria, estratégias foram feitas algumas com êxito por parte de empresas como Paramount, Disney e Warner Bros, outras tantas deram errado, e em meio a isto, os programas televisivos da Disney Plus tem tido algum acerto, apesar de serem muito poucos. Wandavision surgiu nesse cenário, e trouxe boas surpresas além de ter criado um hype absurdo, gerando nos espectadores um número quase infinito de teorias, tal qual foram os áureos anos de Lost nas pós sessões anos atrás.

    A história se mostrou bem diferenciada. Com direção dos nove episódios assinada por Matt Shakman, que dirige séries desde 2002 contando obras como The Boys, Billions, Game of Thrones e a recente The Great, além de ser criada e roteirizada em sua maioria por Jac Schaeffer, que foi a roteirista de As Trapaceiras e argumentista do novo filme da Viúva Negra, ainda a ser lançado. O formato dos primeiros episódios brinca com a formula de sitcons, os episódios são formatados de forma semelhante ao que era comum TVs dos anos 50 até os 2000, com elementos de clássicos de I Love Lucy até Modern Family, além de outras tantas.

    Um dos pontos mais positivos  ao longo da minissérie – que a princípio, não terá uma segunda temporada embora o produtor Kevin Feige não garanta isso – é romper com o status quo dos filmes da Marvel, ao menos na maior parte de seu início. Essa não é uma mera historia escapista de super heróis, e sim uma reflexão sobre maus sentimentos, isso evidentemente gerou um número de reclamações o que sinceramente é injustificável, já que também há espaço para lidar com questões de bravura e luta, como é típico das fitas antigas de seres super poderosos.

    A série gerou muito burburinho, por conta de possíveis aparições de personagens do universo Marvel, e apesar de ter muitas cameos e aparições breves e outras mais longas, ainda assim ocorreram muitas críticas e reclamações por conta de decepções. Ora, a minissérie se debruça emocionalmente sobre a questão do luto. O modo gradativo como isso é registrado é bem pensado , qualquer reclamação nesse sentido chega a ser ilógica. Além  disso, o programa dá chance de atuações maiores e mais detalhadas não só para Elizabeth Olsen e Paul Bettany, mas também para ótimos atores, entre conhecidos do público nerd e novados. Além disso, ela também conversa com bons e inteligentes momentos do Universo Compartilhado da Marvel, como foi na depressão que fez Thor se descuidar da aparência em Vingadores: Ultimato, o precedente estava ali e poucas pessoas perceberam, ou se perceberam, não reclamaram porque a ação frenética estava lá. Se Homem-Aranha: Longe de Casa não reflete sobre as tragédias pós ataque de Thanos, Wandavision sim. O seriado reflete, repensa e mastiga questões como depressão, vontade de inexistir e até suicídio. É tragédia, com muitas cores e ações heroicas, mas é tragédia, e ainda pega elementos dos quadrinhos, como Dinastia M, Vingadores: A Queda e Visão: Pouco Melhor Que Um Homem.

    Os pretextos de usar clichês de séries antigas para discutir como seria a vida de um casal recém reunido são  inteligentes, uma piscadela para o espectador, além de ser uma versão criativa e bem inventiva dos simulacros, diferente do que foi em Tron: Odisseia Eletrônica e Matrix, mas reunindo elementos desses, e até da recente série Life on Mars. Outra referencia,  é o clássico O Show de Truman: O Show da Vida. Em comum com o filme de Peter Weir há a carga emocional, Truman Burbank e Wanda Maximoff são pessoas que perderam algo, um não tem mais a liberdade, a outra perdeu todos os entes queridos, e ambos lidam com isso em meio a um cenário de ter sua realidade olhada por agentes externos, embora um seja passivo enquanto  a moça é ativa. Ainda assim, a questão de controle da redoma é discutida e desenrolada vagarosamente ao longo dos curtos capítulos (alguns, sem créditos, mal chegam a vinte minutos), o que aliás, favorece as teorias da conspiração que brotaram nas últimas nove semanas.

    Antes da iniciativa de adaptar  histórias de Falcão e Soldado Invernal, Loki e a própria Wandavision, as séries de televisão tinham poucas ou nenhuma ligação com o que ocorria nos cinemas. Agentes da Shield, Manto e Adaga, as séries do Demolidor, Jessica Jones e demais da Netflix, mesmo com produção executiva de Jeph Loeb, tinham alguma participação ou outra de personagens dos filmes, mas sempre com timidez mesmo para citar os heróis dos Vingadores. Esse novo paradigma, de seriados com grandes atores do cinema certamente estão em outro patamar, e dificilmente  teriam continuações, só teriam essas caso o isolamento forçado prossiga por muito mais tempo. Os contratos de atores como Paul Bettany, Liz Olsen e até de Tom Hiddlestone são caros para produções, suas participações certamente ocorreriam em programas como da HBO, Showtime, e não em Tv aberta, onde seriados ainda tem 20 e poucos episódios. A escolha pode ser polêmica e restritiva, mas  dentro de sua proposta, garante uma chance maior de apuro e cuidado.

    Wandavision trata de temas muito caros, e por mais que não tenha sido pensado para ser exibido em um tempo tão delicado, aborda temas tristes de maneira inteligente e sentimental na medida. Seus personagens novos são carismáticos, seja a mulher que não tem receio de ser sexual que a personagem de Kathryn Hahn é (em uma releitura bem esperta do clichê das bruxas), ou na impetuosidade de Monica Rambeau de Teyonah Parris. Wanda brilha nesta versão, se expande como personagem e como maga, mas seu encontro com uma condição de ser quase onipotente só ocorre por conta da interferências de outras personagens femininas fortes, e mesmo diante de problemas técnicos, como o uso artificial de computação gráfica em algumas lutas e um último capítulo com furos e que possivelmente foram apressados graças a pandemia, o produto que Schaeffer e Shakman trazem é redondo, não tem receio em ousar e experimentar novos formatos, abrindo novos rumos para o destino da fase quatro do MCU bem ao estilo dos outros produtos dessa saga.

  • Review | Mrs. Fletcher – 1ª Temporada

    Review | Mrs. Fletcher – 1ª Temporada

    Mrs. Fletcher, comédia de humor negro de Tom Perrotta focada na cuidadora de idosos vivida por Kathryn Hahn, brinca com os absurdos da meia-idade em contraponto aos desprazeres da terceira idade, além da emancipação típica dos jovens.

    Eve Fletcher se vê em uma situação difícil, seu filho Brendan (Jackson White) está se mudando, e com sua saída ela começa a perceber que pode mudar certos hábitos, principalmente daqueles envolvendo a forma como ela encara o sexo. Hahn acerta demais ao mostrar o receio de uma mulher que tenta sair do seu recato. Em torno dela, orbitam pessoas que lidam muito bem com sua sexualidade, Brendan mesmo é um exemplo disso, e essa é uma das possibilidades que explicam o afastamento dos dois, além da admiração do garoto pelo pai.

    A trama é bastante sexualizada, todo o subtexto brinca com isso e a adaptação do livro de Perrotta, nessa temática, é desenvolvida de maneira gradual. A timidez da protagonista vai sendo abandonada aos poucos, ao longo dos sete episódios dessa temporada. É curioso, pois alguns anos antes, Hahn protagonizou junto a Juno Temple o longa As Delícias da Tarde, que lidava com temas similares, ainda que não fosse ela a personagem causadora do furor, já se via ali um potencial semelhante ao que Eve demonstra em sua série.

    Graças ao seu tempo ocioso, a personagem-título gasta horas em um grupo de apoio para novos escritores, onde reside seu convívio social mais básico além do trabalho, e em casa, passa a se utilizar do cinema pornográfico para dar vazão aos seus impulsos sexuais.

    Brendan é um sujeito odiável, vaidoso e sabotador. Aos poucos ele vai mudando, aprendendo com gente diferente, e parece ser mais aberto a novas experiências, ao menos em um nível superficial. Ele não consegue ter mais relações exatamente por conta das travas sociais e sexuais comuns a vida de mulheres de meia idade. O drama que mãe e filho vivem são bem diferentes, um goza plenamente de privilégios comuns a vida de qualquer jovem de classe média, já a mulher não se sente merecedora de usufruir sequer de momentos breves de intimidade.

    O último episódio é um pouco morno em seu início, e reflete basicamente sobre as questões emotivas não resolvidas de mãe e filho, as carências respectivas de cada um deles e o modo agressivo com que se relacionam com outras pessoas, cada um ao seu modo, colecionando pecados e inseguranças entre si.

    Mrs. Fletcher termina com um gancho covarde, com intervenções bruscas, reiterando que Eve não tem momento nenhum de paz, nem para se reinventar e muito menos para experimentar coisas novas. Fica a expectativa de que ocorra mais lastro para o desempenho de Hahn como epicentro deste cenário onde a melancolia impera, rumo a uma jornada que tenha ao menos um pouco de paz e não só tensão e angústia.

  • Crítica | Perfeita é a Mãe!

    Crítica | Perfeita é a Mãe!

    Na mais nova comédia dirigida por Jon Lucas e Scott Moore, Perfeita é a Mãe acompanharemos uma série de Mães que decidem reverter o quadro de suas vidas através de aventuras e descobertas, lógico, perante uma série de situações hilárias.
    Assim que a personagem Amy Mitchell (Mila Kunis), uma mulher bastante dedicada e independente, descobre que seu marido mantém um relacionamento extraconjugal virtual, ela logo percebe que mudanças serão necessárias em todos os âmbitos de sua vida. Não obstante todos os problemas vindo à tona em seu relacionamento, Amy ainda terá de enfrentar o antagonismo de Gwendolyn (Christina Applegate), que em primeira instância denota ser dona de um caráter totalmente oposto ao seu.
    A obra segue uma cartilha bastante conhecida do grande público, se assumindo de forma despretensiosa e sem grandes ambições, almejando apenas o entretenimento. Algumas questões técnicas me incomodaram bastante, entre elas – o uso excessivo do elemento cênico conhecido como Slow motion ’- que no filme é levado ao extremo, fazendo com que à obra em determinados momentos se pareça com um “clipe” musical estendido! Entre uma chuva de clichês, achei algumas piadas bastante deslocadas, um elenco que em quase todo o tempo nos entrega atuações mecânicas, salvo Kathryn Hahn (Carla), que está bem em seu papel.
    Mesmo diante tantas questões que particularmente não dialogam comigo, justamente por achar o filme dono de uma fórmula bastante artificial e desgastada, reconheço sua intenção, e creio que dentro de sua proposta funcione bem. É uma certeira pedida para o espectador que busca momentos de comicidade, sabendo que tem em sua frente um produto que não terá a presunção de enganá-lo e que lhe entregará possíveis gargalhadas.

    Curiosamente apesar de alguns problemas, ao fim, de uma forma singela o filme nos passa uma mensagem bastante interessante sobre à importância das Mães e seus respectivos papéis angulares seja em nosso cotidiano ou no aspecto social, importância essa, que pode gerar uma pertinente reflexão há ser analisada pelo público.

    Texto de Autoria de Tiago Lopes.

  • Crítica | Um Amor a Cada Esquina

    Crítica | Um Amor a Cada Esquina

    Um Amor a Cada Esquina 1

    Após um período aproximado de dez anos sem lançar um filme, o premiado diretor Peter Bogdanovich, retorna suas forças para uma comédia romântica estilosa, que lembra bastante a fase áurea de Woody Allen no gênero. Um Amor a Cada Esquina acompanha os relatos de Isabella Patterson (Imogen Poots), uma moça que usa da verborragia para se expressar, e que começa um conto sobre como a própria largou o ofício de prostituta para então, tentar a sorte como atriz.

    As confissões ocorrem em um consultório psicanalítico, semelhantes em espírito ao processo de espiação de pecados ocorrido na igreja católica. Patterson fala então de seu envolvimento no passado com Arnold Albertson (Owen Wilson), um homem solitário sentimentalmente que depois de fazer uso de seus trabalhos como prostituta, resolve convidá-la a sair, começando a partir dali a se importar com seus sonhos, de tentar ser atriz. O motivo dessa importância é bastante óbvio, já que Arnold é um diretor de teatro, entediado com seu casamento malfadado. A resolução dele envolve gastar 30 mil para que a moça largue o atual ofício e se dedique a se tornar uma atriz, de fato.

    O roteiro de Bogdanovich e Louise Stratten se desconstrói com menos de trinta minutos, revelando que o ato de “desapego” não era isolado já que ocorreu outras vezes para o diretor e tampouco inspirado já que ele ajudou moças com outros interesses, compondo assim uma prática comum de um sujeito cuja monotonia frequentemente invade sua rotina, fazendo dele e dos demais personagens que o cercam criaturas dignas de pena, mas não de torcida ou apego.

    Exceto Arnold e Isabella, que são trabalhados anteriormente, os outros personagens se valem de arquétipos, tendo poucas das suas características reveladas, o suficiente para cada um ter sua importância dentro do cenário romântico/amoroso complicado, com intenções escusas se misturando ao desejo.

    O personagem que se diferencia do trivial é a atriz e esposa de Arnold, Delta, vivida por uma (cada vez mais) inspirada Kathryn Hahn que, ao se descobrir traída, tem uma série de atitudes cujo estado emocional condiz em excesso com todo o desrespeito que sofre. Bogdanovich consegue se reinventar, após tanto tempo longe das câmeras, reunindo em sua comédia um humor não escrachado, condizente com o moderno cinema dos membros da produção executiva Wes Anderson e Noah Baumbach, digerindo o cinema desses para fazer algo com identidade própria e com um magnetismo hiperbólico.

  • Crítica | A Visita

    Crítica | A Visita

    A Visita - Poster

    Dezesseis anos após sua ascensão no cenário internacional com O Sexto Sentido, o diretor indiano M. Night Shyamalan volta a se provar como diretor, trazendo nova ideias autorais e uma nova disposição, um renovado Shyamalan. A Visita pode não ser seu retorno triunfante, mas mostra que o diretor ainda tem muito a oferecer.

    No thriller, os irmãos Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould) vivem apenas com a mãe, depois que o pai os abandonou. Eles vão passar uma semana na casa dos avós, que nunca conheceram. Becca é uma aspirante a cineasta, e decide documentar a visita, que vai tomando traços cada vez mais estranhos conforme seus avós começam a agir de forma completamente sem sentido.

    Surpreendentemente, A Visita não é o filme de terror que todos esperavam que fosse. Ao invés de se afundar nos estereótipos e nos clichês do gênero, o diretor nos brinda com um tipo de comédia de terror, brincando sem medo com seu próprio filme, desde os sustos fáceis até a bizarrice dos movimentos corporais, usando até mesmo a estrutura em que a história nos é apresentada, como fosse o produto final do documentário de Becca.

    Ainda assim, se fazem presentes algumas das marcas do diretor. A tensão psicológica se faz presente, tornando qualquer comportamento do filme inesperado, além dos planos mais “complexos”, que elevam o espectador ao estado de observador das situações, além de seus clássicos plot twists.

    Se apresentando sem uma gota de pretensão, A Visita nos traz um renovado Shyamalan, com um apurado sentido (e senso) de humor autoconsciente, mostrando que aprendeu com os erros passados, e que o diretor já não tenta provar nada para ninguém, apenas deixando explícita sua originalidade, mesmo que ela nunca tenha saído de lá.

    Lentamente, Shyamalan aparece reconstruindo sua carreira.

    Texto de autoria de Matheus Mota.

  • Crítica | Delícias da Tarde

    Crítica | Delícias da Tarde

    Delicias da tarde - poster

    A inquietação de Rachel (Kathryn Hahn) em seu próprio carro, enquanto o veículo passa pelo lava a jato, resume o enfado que existe em sua rotina, presente na vida de muitas mulheres de meia-idade. Suas primeiras falas destacam o seu estado de ócio e a culpa em sentir-se vazia, por não ter muitas emoções além de sua vida acostumada ao ordinário. A análise com sua terapeuta, Doutora Lenora (Jane Lynch), deveria servir para ela contar a verdade, mas assumir suas derrotas é demasiado vergonhoso.  Ao finalmente acatar a sinceridade, a protagonista revela uma rotina na qual sua vida sexual é praticamente nula, mais uma vez reafirmando o drama de algumas mulheres que veem que a segurança de um belo lar suburbano não é o bastante.

    A abordagem escolhida pela diretora Jill Soloway arranha a imagem da mulher julgada pelo machismo. Propositalmente, é claro, visto que a realizadora tem uma experiência com o seriado protagonizado por Toni Colette, United States of Tara. As personagens da película são bastante reais, cada uma simbolizando uma faceta do universo feminino, elevando o conceito do seriado a um nível mais especulativo, não literal.

    O farsesco da comédia brinca com o grotesco inerente ao ser humano, quando envelhecer nem sempre é um exercício digno ou edificante. O mundo conflituoso da mulher de mais idade é invadido pela vontade de quebrar a rotina. As tentativas de reavivar a vida sexual do casamento da protagonista com Jeff (Josh Radnor), como a visita a um strip club, somente a assustam, não servem para reavivar nada além do asco comum aos seus dias solitários. Além disso, a primeira experiência com uma stripper de 19 anos, McKenna (Juno Temple), só a deixa mais tensa e insegura.

    A completa falta de perspectiva faz com que a dona de casa busque se aproximar da stripper, fazendo uso de outro nome, Sophia, numa busca por ser outro indivíduo. O destino das duas se entrelaça a ponto de McKenna ir morar na casa do casal. De repente, o lar ultra conservador é invadido por uma mulher que ganha a vida na maior parte do tempo sem roupa alguma. O diálogo travado entre as duas exibe realidades muito distantes umas das outras, uma em que a carência afetiva resulta no tédio, e outra resulta no ganho de vida através da prostituição.

    O principal fator para que as duas personagens focadas sejam diferentes é a maturidade, ainda que ambos os dramas sejam, numa análise fria, os mesmos. A empatia entre ambas ocorre sem maiores esforços, com Rachel se afeiçoando pela dramática história de vida de McKenna, sentindo pena pelo trabalho que ela se vê obrigada a fazer, uma vez que sua “família” precisa de dinheiro. A comiseração se confunde com identificação, por parte de Rachel.

    Ao acompanhar a jovem em seu trabalho, Rachel se depara com uma realidade inconveniente: por um lado, assiste à degradação de sua protegida; ao mesmo tempo, o cliente consegue atingir pontos que seu marido não alcança, metas simples, como olhar para ela enquanto chega ao clímax.

    Após o fatídico acontecimento, a cortina cai, e as mulheres percebem que não há como conviver harmoniosamente, a despeito da dependência mútua que um dia existiu. A quebra de confiança resulta na mágoa de ambas, pondo para fora o respectivo veneno que as duas tanto guardavam, usando estes como mecanismos de defesa em um ataque mútuo.

    Rachel se torna factualmente o arquétipo a que sempre sentiu pertencer. Era uma pária, um evento da entropia, orbitando um espaço galáctico longe demais de onde deveria (e queria) estar. Aos poucos, até os papéis de carente e ouvinte são trocados em seu cotidiano. Sua queixas param, seus problemas são superados através da comunicação com seu marido, que antes não funcionava. Apesar da clara evolução, o caráter do final da mensagem pode ser encarado como um viés de conformidade, aceitação de seu destino, distante do começo inquieto, mas resignado. A felicidade finalmente paira na vida da mulher, provando que a solução óbvia, longe das reclamações constantes, pode ser a melhor opção para uma vida plena.