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  • Review | WandaVision

    Review | WandaVision

    No mundo pós-pandemia os seriados televisivos e os serviços de streaming ganharam muita projeção entre o público que consome cultura pop. Pudera, sessões de cinema quando abertas tiveram pouca aderência e bilheteria, estratégias foram feitas algumas com êxito por parte de empresas como Paramount, Disney e Warner Bros, outras tantas deram errado, e em meio a isto, os programas televisivos da Disney Plus tem tido algum acerto, apesar de serem muito poucos. Wandavision surgiu nesse cenário, e trouxe boas surpresas além de ter criado um hype absurdo, gerando nos espectadores um número quase infinito de teorias, tal qual foram os áureos anos de Lost nas pós sessões anos atrás.

    A história se mostrou bem diferenciada. Com direção dos nove episódios assinada por Matt Shakman, que dirige séries desde 2002 contando obras como The Boys, Billions, Game of Thrones e a recente The Great, além de ser criada e roteirizada em sua maioria por Jac Schaeffer, que foi a roteirista de As Trapaceiras e argumentista do novo filme da Viúva Negra, ainda a ser lançado. O formato dos primeiros episódios brinca com a formula de sitcons, os episódios são formatados de forma semelhante ao que era comum TVs dos anos 50 até os 2000, com elementos de clássicos de I Love Lucy até Modern Family, além de outras tantas.

    Um dos pontos mais positivos  ao longo da minissérie – que a princípio, não terá uma segunda temporada embora o produtor Kevin Feige não garanta isso – é romper com o status quo dos filmes da Marvel, ao menos na maior parte de seu início. Essa não é uma mera historia escapista de super heróis, e sim uma reflexão sobre maus sentimentos, isso evidentemente gerou um número de reclamações o que sinceramente é injustificável, já que também há espaço para lidar com questões de bravura e luta, como é típico das fitas antigas de seres super poderosos.

    A série gerou muito burburinho, por conta de possíveis aparições de personagens do universo Marvel, e apesar de ter muitas cameos e aparições breves e outras mais longas, ainda assim ocorreram muitas críticas e reclamações por conta de decepções. Ora, a minissérie se debruça emocionalmente sobre a questão do luto. O modo gradativo como isso é registrado é bem pensado , qualquer reclamação nesse sentido chega a ser ilógica. Além  disso, o programa dá chance de atuações maiores e mais detalhadas não só para Elizabeth Olsen e Paul Bettany, mas também para ótimos atores, entre conhecidos do público nerd e novados. Além disso, ela também conversa com bons e inteligentes momentos do Universo Compartilhado da Marvel, como foi na depressão que fez Thor se descuidar da aparência em Vingadores: Ultimato, o precedente estava ali e poucas pessoas perceberam, ou se perceberam, não reclamaram porque a ação frenética estava lá. Se Homem-Aranha: Longe de Casa não reflete sobre as tragédias pós ataque de Thanos, Wandavision sim. O seriado reflete, repensa e mastiga questões como depressão, vontade de inexistir e até suicídio. É tragédia, com muitas cores e ações heroicas, mas é tragédia, e ainda pega elementos dos quadrinhos, como Dinastia M, Vingadores: A Queda e Visão: Pouco Melhor Que Um Homem.

    Os pretextos de usar clichês de séries antigas para discutir como seria a vida de um casal recém reunido são  inteligentes, uma piscadela para o espectador, além de ser uma versão criativa e bem inventiva dos simulacros, diferente do que foi em Tron: Odisseia Eletrônica e Matrix, mas reunindo elementos desses, e até da recente série Life on Mars. Outra referencia,  é o clássico O Show de Truman: O Show da Vida. Em comum com o filme de Peter Weir há a carga emocional, Truman Burbank e Wanda Maximoff são pessoas que perderam algo, um não tem mais a liberdade, a outra perdeu todos os entes queridos, e ambos lidam com isso em meio a um cenário de ter sua realidade olhada por agentes externos, embora um seja passivo enquanto  a moça é ativa. Ainda assim, a questão de controle da redoma é discutida e desenrolada vagarosamente ao longo dos curtos capítulos (alguns, sem créditos, mal chegam a vinte minutos), o que aliás, favorece as teorias da conspiração que brotaram nas últimas nove semanas.

    Antes da iniciativa de adaptar  histórias de Falcão e Soldado Invernal, Loki e a própria Wandavision, as séries de televisão tinham poucas ou nenhuma ligação com o que ocorria nos cinemas. Agentes da Shield, Manto e Adaga, as séries do Demolidor, Jessica Jones e demais da Netflix, mesmo com produção executiva de Jeph Loeb, tinham alguma participação ou outra de personagens dos filmes, mas sempre com timidez mesmo para citar os heróis dos Vingadores. Esse novo paradigma, de seriados com grandes atores do cinema certamente estão em outro patamar, e dificilmente  teriam continuações, só teriam essas caso o isolamento forçado prossiga por muito mais tempo. Os contratos de atores como Paul Bettany, Liz Olsen e até de Tom Hiddlestone são caros para produções, suas participações certamente ocorreriam em programas como da HBO, Showtime, e não em Tv aberta, onde seriados ainda tem 20 e poucos episódios. A escolha pode ser polêmica e restritiva, mas  dentro de sua proposta, garante uma chance maior de apuro e cuidado.

    Wandavision trata de temas muito caros, e por mais que não tenha sido pensado para ser exibido em um tempo tão delicado, aborda temas tristes de maneira inteligente e sentimental na medida. Seus personagens novos são carismáticos, seja a mulher que não tem receio de ser sexual que a personagem de Kathryn Hahn é (em uma releitura bem esperta do clichê das bruxas), ou na impetuosidade de Monica Rambeau de Teyonah Parris. Wanda brilha nesta versão, se expande como personagem e como maga, mas seu encontro com uma condição de ser quase onipotente só ocorre por conta da interferências de outras personagens femininas fortes, e mesmo diante de problemas técnicos, como o uso artificial de computação gráfica em algumas lutas e um último capítulo com furos e que possivelmente foram apressados graças a pandemia, o produto que Schaeffer e Shakman trazem é redondo, não tem receio em ousar e experimentar novos formatos, abrindo novos rumos para o destino da fase quatro do MCU bem ao estilo dos outros produtos dessa saga.

  • Crítica | O Virgem de 40 Anos

    Crítica | O Virgem de 40 Anos

    Judd Apatow ficou conhecido nos anos  90 por fazer parte de uma geração de humoristas que dava muita vazão  ao improviso. Depois de participar da produção de  séries como Freaks and Geeks e Undeclared, ele se tornou diretor de cinema focado em comédias de costumes, e O Virgem de 40 Anos talvez seja a mais conhecida entre suas obras, que fala a respeito de Andy, um quarentão que tem a vida tranquila e cheia de hobbys, e que percebe que sua condição de celibatário nesta idade o faz ser completamente diferente dos demais colegas de trabalho lojistas.

    A rotina de Andy consiste nele acordando sempre sozinho com uma ereção monstra, que não cessa sequer depois urinar. Sua casa é repleta de bonecos e action figures de séries e filmes nerds  e até seus vizinhos o enxergam como um sujeito que precisa transar, mas a realidade que até o próprio protagonista é que sua vida não tem muito sentido além de ir trabalhar na loja Smarth Tech. Nesse cenário tudo é enfadonho e tende a se repetir, o show de Michael MacDonald que toca televisões grandes da loja, a convivência com o elenco de humoristas que hoje seria praticamente impossível de reunir – há Jane Lynch, Seth Rogen, Elizabeth Banks, Paul Rudd – e basicamente todos os seus colegas de trabalho tem só um sentimento por ele, que é o de ou desprezar ou ignorar ele, por ser tímido e diferente dos demais.

    Há todo tipo de dementes sexuais em volta de Stitzer, David (Rudd) não consegue superar sua ex, Cal (Rogen) se enfia em qualquer relação amorosa escatológica e Jay (Romani Malco) trai sua parceira a todo tempo, e o trio o julga, achando que pode dar dicas de vida para ele, doutrinando o sujeito na estrada que seria a vida de um homem sexualmente ativo, e esses momentos garantem momentos bem engraçados, como o sentimento de epifania que cada um tem ao perceber o óbvio, mas também revela o quão infantil é o homem heterossexual, que medem sua masculinidade pela quantidade de mulheres com que transaram na vida.

    É engraçado como o roteiro de Apatow e Steve Carrell perverte suas próprias regras, utilizando a masculinidade frágil, seus clichês e defeitos para desconstruir a visão das pessoas sobre os nerds (o ano era 2004, bem longe da alcunha soar cool como soa hoje), assim como mostra um sujeito tão sensível e respeitador que não consegue se aproximar do belo sexo. Todos os outros homens são mostrados como mesquinhos e escrotos, e os próprios verbalizam que Andy ter guardado sua essência pode ter sido algo bom.

    A comédia serve bem a Carrell desenvolver seu humor físico. Aquela altura, ele estava terminando a primeira temporada de The Office, e seu papel aqui é bem diferente de Michael Scott, embora ele também tenha um sem número de inseguranças, e lide muito mal com as mulheres. Incrivelmente ela não culpa as moças, tal qual a maioria dos celibatários fazem, isso já o faz distinguir da maioria do comportamento agressivo dos Incels, mas ele claramente tem problemas sérios.

    Mesmo sendo arisco e pouco afeito a relações, dois fatores sobressaem no modo de pensar do protagonista, sendo o primeiro o fato de apesar dele fugir da normalidade a condição de homem normal o enoja,em especial no fato da maioria dos caras tratarem as mulheres  como meros objetos, ele é diferente dos machões trogloditas que se divertem quebrando lâmpadas fosforescentes por prazer. Ele não exalar barbarismo, e isso inflige o segundo fator, ele não sente pena de si mesmo, e isso é inédito entre praticamente todos os homens em tela. Os momentos que ele se vê como o errado, são induzidos por seus novos amigos.

    A necessidade de aceitação que Andy sofre o faz cair em momentos absurdos, como quando ele vai se depilar em uma casa coreana, onde ele pragueja contra todos, ou ele agindo como um robô xavecador que faz a personagem de Elizabeth Banks se interessar por ele, onde ele não  fala e não age como um ser humano de carne e osso, tal qual a própria Beth, que também é uma caricatura de mulher. Ao mesmo tempo que isso ocorre, ele consegue ser patético e romântico ao ponto de encher o quarto de velas, virar os bonecos e retratos ao ligar uma fita de filme pornográfico, ao som de Hello de Lionel Ritchie.

    Aos poucos se percebe que a vida dos amigos supostamente mais maduros de Andy é triste, um é stalker, outro mente descaradamente para todos os conhecidos, outro não sabe lidar com sua orientação sexual, que é bissexual, aliás, todos os três funcionários da Smart Tech tem problemas em lidar com homossexualidade, e ficam fazendo piada com isso o tempo todo, mostrando que a base da sua sexualidade era insegura, Andy provoca nas pessoas uma memória, sobre suas primeiras experiências sexuais, elas são sinceras até demais consigo, mas ele não consegue ser com Trish (Catherine Keener).

    Os momentos mais ricos, irônicos e engraçados moram nas piadas de situações de suposto cotidiano, como quando Trish e Marla (Kat Dennings) discutem asperamente sobre sexo, uma vez que a filha mais nova quer fazer sexo, mas é impedida por ela. Toda a sequencia na casa da mulher e depois numa clínica de controle de natalidade é absurdamente engraçada, e mostra que a maioria absoluta dos homens mede sua força e poder pela extensão de seus pênis, e como e quando são usados.

    A única vez que Andy age como um sujeito ruim ocorre quando se sente confrontado por sua parceira, que vê o celibato como algo ruim e sente necessidade de tornar física a relação. Por mais clichê que isso seja e por mais que se apele para algo básico das comédias sexuais, sua reação é esperada, ele sem ter experiência age como se estivessem tentando extinguir o seu estilo de vida, agindo de maneira preciosista e desnecessária ao extremo. O homem volta a estágio mais básico, imaturo e irracional de sua existência.

    Evidente que ele dá vazão no final a mais piadas adolescentes, como transas de apenas um minuto, e o homem deixando a mulher estafada por ter muita energia retida enquanto ela é uma pessoa comum de meia idade. O Virgem de 40 Anos assume todo seu caráter satírico, ao mostrar os personagens cantando Age of Aquarius, como em um musical da Broadway como parte de um rito de passagem para os homens e mulheres, e por mais que seja uma comédia boba, há muito conteúdo de discussão, sem soar panfletaria ou ligada a movimentações de justice warriors, e esse é um filme muito mais aclamado por parecer um besteirol, ainda que seja uma total desconstrução disso tudo.

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