Tag: Robert Rodriguez

  • VortCast 108 | The Mandalorian e O Livro de Boba Fett

    VortCast 108 | The Mandalorian e O Livro de Boba Fett

    Bem-vindos a bordo. Filipe Pereira (@filipepereiral | @filipepereirareal), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar | @hecatesgaspar) e David Matheus Nunes (@david_matheus) se reúnem para comentar sobre as séries mais recentes do universo expandido de Star Wars: The Mandalorian e O Livro de Boba Fett.

    Duração: 89 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Review | The Mandalorian – 2ª Temporada

    Review | The Mandalorian – 2ª Temporada

    Depois de uma temporada inicial apoteótica, The Mandalorian retorna em 2020 repleta de expectativas por parte dos espectadores e da crítica. O destino do caçador de recompensas e da criança que lhe serve de parceiro e pupilo é explorado em cenários que lembram os bons momentos dos western spaghetti, e claro, aventuras de ficção científica.

    Em menos de dez minutos do primeiro episódio, Din Djarin se mete em um cenário de luta livre com diversos personagens alienígenas já conhecidos, inclusive os “suínos” gamorreanos que serviam de guardas de Jabba brigando e arrumando confusão. A sensação de que se expandiu o mundo introduzido em Uma Nova Esperança na cantina de Mos Eisley segue viva, claro, com pitadas do novo cânone e muitas referências a The Clone Wars e Rebels.

    Jon Favreau sempre disse que era um apaixonado pela trilogia clássica e tudo que foi produzido a respeito da saga, e isso se vê tanto na escolha de estender essa parceria com Dave Filoni, responsável pelas séries animadas em 3D que se localizavam entre os filmes, como também no retorno aos cenários clássicos e no uso de feitos visuais práticos, como era nos longas dos anos 70 e 80. O cuidado em dar volume e substância aos confins e subúrbios da galáxias fomenta a importância da jornada estabelecida entre o Mandaloriano e a criança, resultando numa boa releitura dos mangás do Lobo Solitário.

    A estrutura dos episódios segue a mesma da primeira temporada: há uma linha guia, mas alguns episódios são ligados a questões pontuais. A presença de velhos conhecidos dos fãs permanece neste ano, ainda que ocorra de forma breve. Essas aparições garantem fôlego a série e dão um pouco da dimensão do quanto o antigo universo expandido maltratou os personagens, especialmente Boba Fett, embora haja um resgate de elementos de quadrinhos antigos do selo Legends como em  Boba Fett: Engenhos da Destruição e Jango Fett: Temporada de Caça.

    Entre os diretores dos oito episódios, há de destacar Bryce Dallas Howard, que rege de maneira ainda mais firme do que havia sido na primeira temporada em The Sancturay, e também Robert Rodriguez, que produz um capítulo curto, mas repleto de ação e diversão, fato que rendeu ao diretor de Alita: Anjo de Combate a produção executiva da nova série da Disney +, The Book of Boba Fett. A presença de Rosario Dawson também é ótima, finalmente trazendo à luz um personagem que só tinha aparecido em versão animada.

    Os dois episódios finais são frenéticos, mostram boa parte dos personagens secundários com muito destaque, além de conter boas referências ao cinema recente, como uma clara alusão a cena do jogo de adivinhação em Bastardos Inglórios, e claro, o resgate a um conceito do universo expandido, os robôs de combate Dark Troopers. Para quem gosta de Star Wars, The Mandalorian é um prato cheio. Simples, direta, divertida e cheio de personagens carismáticos.

  • Agenda Cultural 70 | Infiltrado na Klan, Green Book, Shazam!

    Agenda Cultural 70 | Infiltrado na Klan, Green Book, Shazam!

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira) e Filipe Pereira se reúnem para resgatar os filmes não comentados nos últimos tempos na Agenda Cultural. Plot-twist é uma assinatura de M. Night Shyamalan? Podemos ter otimismo com o progressismo da academia do Oscar? Shazam! é mesmo um filme bobo? Tudo isso e muito mais na agenda deste mês.

    Duração: 103 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Crítica | Grande Hotel

    Crítica | Grande Hotel

    Em 1995 a Miramax do produtor Lawrence Bender resolveu juntar quatro diretores para fazer um filme colaborativo onde Quentin Tarantino, Robert Rodriguez, Alexandre Rockwell e Allison Anders contariam cada um uma história curta, em Grande Hotel. A abertura animada talvez seja o ponto mais memorável do filme, normalmente esquecido por boa parte dos fãs dos cineastas dado seu caráter nada sério. A realidade é que boa parte dos segmentos não são inesquecíveis de fato, compondo assim histórias genéricas em sua maioria.

    The Missing Ingredient tenta soar transgressor, mas não consegue ir além de um humor pastelão misturado a pitadas de sensualidade da parte do elenco feminino que Anders conduz. O outro quadro, Wrong Man, de Rockwell, começa por um pedido de gelo de um dos quartos, que é na verdade feito pelo personagem do produtor, Lawrence Bender, mas acaba em um mal entendido com um casal que tem fantasias em fingir participar de um sequestro. As histórias são chatas e enfadonhas, sendo a segunda ligeiramente melhor.

    The Misbhavers é dirigido por Rodriguez e tem Antonio Banderas fazendo um pai nervoso, que obriga Ted a cuidar de seus dois filhos enquanto ele está fora. Aqui claramente o cineasta mexicano usufrui de alguns dos elementos que poria na franquia Pequenos Espiões, e apesar de alguns absurdos e surpresas do roteiro, não há muito diferencial. A última parte cabe a Tarantino, que estrela, dirige e escreve uma história sobre um cineasta hospedado no hotel que tem muitas exigências. Chester Rush é uma versão do próprio realizador de Pulp Fiction, em uma brincadeira onde ele revela sua vaidade, que o fez tentar durante um bom tempo emplacar uma carreira como ator. O grave problema é que The Man From Holywood é repleto de diálogos, mas nenhum tão inspirado quanto de costume.

    E assim termina Grande Hotel, um filme que pretendia ser uma alternativa despretensiosa a filmografia dos que estão ali envolvidos, mas que é tão desprendida de compromissos com histórias bem desenvolvidas que soa apenas como um pequeno filme onde cineastas famosos podem exercer alguns de seus caprichos em um micro-universo onde os personagens e situações se cruzam, mas que não tem qualquer significado ou qualidade ímpar.

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  • Crítica | Sin City: A Cidade do Pecado – Versão Estendida

    Crítica | Sin City: A Cidade do Pecado – Versão Estendida

    A versão estendida do filme codirigido pelo mexicano Robert Rodriguez e o roteirista de quadrinhos Frank Miller começa com a história do Bastardo Amarelo, narrada em primeira pessoa pelo policial Hartigan, de Bruce Willis, característica que remete à obra original de Miller e os típicos policiais noir. Hartigan é o herói falido, o homem capaz de morrer a qualquer momento, graças a velhice e seu problema cardíaco que se agrava. Constantemente ele tem que convencer a si mesmo que é capaz de superar seus problemas.

    A historia é violenta, mas tem um lirismo impar. A escolha da dupla de diretores pela filmagem que destaca o preto e branco, com pequenas notas coloridas – em especial o vermelho, seja do sangue, do batom das beldades ou dos vestidos. Por sua vez, no decorrer do longa, alguns personagens também ganham cores. O simbolismo indica de maneira sentimental quem é especial e quem é descartável. Dos filmes que Rodriguez dirigiu ate então, esse pode não ser aquele que possui o melhor roteiro (difícil ignorar a trilogia Mariachi e seu tom épico), mas certamente é o mais prosaico e filosófico. Incrível como uma história urbana e moderna, localizada em uma cidade imunda e repleta de pecados poderia falar tanto sobre os detalhes da intimidade do homem e da dificuldade dele em envelhecer e perceber que é falível. Tal qual as peças de Shakespeare, o amor, seja sexual ou paternal é acompanhado de dois fatores: a violência, vista não só neste tomo com Hartigan, mas em todos os outros capítulos, assim como o segundo fator, a tragédia, que recai sobre o protagonista.

    Em O Cliente Tem Sempre Razão existe a cena que antes abria o filme, com o personagem de Josh Hartnett, assassinando as duas mulheres interpretadas por Marley Shelton (The Customer) e Alexis Bledel (Becky). Um exterminador de anjos. Essas duas cenas foram as que mais perderam, pois fora do contexto em que eram apresentadas, elas não fazem sentido, em uma perdendo a força e na outra antecipa boa parte da história que virá.

    O Difícil Adeus tem Marv, de Mickey Rourke, como protagonista. O ogro, que só tinha relações sexuais por dinheiro tem em suas mãos Goldie (Jaime King) , uma mulher que se entrega e ainda é uma deusa para seus olhos. De novo as cores determinam o que é especial, a colcha onde o amor se estabeleceu, os cabelos ruivos da musa e sua pele, ainda que morta. A obsessão de Marv é só uma: encontrar o responsável pelo assassinato de Goldie. Marv se vê entorpecido pelos fantasmas de sua própria mente.

    A Grande Matança tem um início despretensioso, com Shellie (Brittany Murphy) discutindo com seu ex, Jackie Boy (Benicio Del Toro), onde o sujeito era violento com a garota, que agora está acompanhada de Dwight (Clive Owen). Em comum com as outras histórias, existe a questão do herói se deparar com um vilão bobo, mas influente, fato que só vai ser revelado mais tarde, após introduzir à Cidade Velha e suas habitantes, as meninas de Gail (Rosario Dawson). A figura esquisita de Jackie faz lembrar um monstro dos filmes de horror do expressionismo alemão.

    Jackie Boy é morto por um golpe de espada. Na cidade antiga a guerra se instalaria e na ânsia por resolver o problema que ele mesmo trouxe, Dwight tenta em vão solucionar o problema sozinho, mesmo que existam evidências suficientes para provar seu fracasso. No caminho, ele demonstra uma predileção para a insanidade ou para mediunidade, conversando com um detetive morto. Após esses eventos, o justiceira revela suas tendências suicidas, mas ele ainda tem missões a cumprir.

    O amontoado de cenas de ação no final causa frisson, o ritmo que se acelera deixa o público com expectativa por mais violência gráfica e mortes plasticamente belas. O torpor das belas mulheres é compartilhado com quem assiste, e é uma sensação ruim perceber que o longa acaba, mesmo com 140 minutos de história, pois caberia mais historia e mais episódios como esses, que não encontraram na continuação, Sin City 2: A Dama Fatal um filme que fizesse jus ao original.

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  • Crítica | Era Uma Vez no Mexico

    Crítica | Era Uma Vez no Mexico

    Era Uma Vez no México começa apresentado um novo personagem, o desconfiado Sands (Johnny Depp). Ele ouve de um homem comum sobre uma lenda envolvendo um casal de assassinos. Logo somos apresentados aos personagens de Antonio Banderas e Salma Hayek em uma cena onde assassinam os homens de Márquez (Gerardo Vigil)..

    Robert Rodríguez não resistiu em transformar o nome do longa em uma homenagem ao clássico de Sergio Leone, e Era Uma Vez no México não copia apenas o nome de Era Uma Vez no Oeste, mas também boa parte da estrutura narrativa, piorando ainda mais a quantidade de mentiras por segundo, em cenas de ação muito inspiradas e constituídas, com boa parte delas ocorrendo após algumas baladas do pistoleiro.

    Já produzido pela Troublemaker de Rodriguez, os créditos iniciais, tocados por Banderas, com a música Malagueña Salerosa, que também está presente em Kill Bill embala a fantasia que seguirá, o conto sobre um assassino triste, que não se conforma com suas perdas, mas que é capaz de novamente tocar suas canções. A expectativa do espectador por mais combates e uma história repleta de emoção não demora a ser cumprida.

    Rodriguez traz personagens visualmente icônicos, não só com Depp e seus parceiros de longa data Danny Trejo e Cheech Marin, mas também com Mickey Rourke, que faz Billy, um mafioso que sempre anda com seu pequeno cão a tiracolo (chamado Moco, como o vilão de El Mariachi), e o chefe de cartel Barillo, de Willem Dafoe. As fantasias que Sands usa e os sonhos do Mariachi – chamado pelo primeiro de “El” – são bem legais, e mesmo com o tom irreal, existem momentos muito bonitos, como o casamento do Mariachi com Carolina.

    Incrivelmente esses momentos mais sentimentais se harmonizam com todo tom jocoso e satírico. E este é certamente o filme mais sério da trilogia, e também é o menos engraçado da filmografia recente do diretor, mesmo com toda a suspensão de descrença impressa nos feitos de Banderas e dos outros heróis. Aqui mora um dos problemas do filme, que ocorre nas festividades do Dia dos Mortos. A solução encontrada para pegarem Sands é muito conveniente, assim como a participação de Ajedrez nisso. As conseqüências disso ao menos garantem bons momentos de ação, com o personagem tendo que confiar mais em seus instintos.

    Mas é sobre o Mariachi que repousam os momentos mais épicos, e quando ele tenta proteger o presidente ocorrem assassinatos retirados dos autênticos westerns italianos, onde os corpos dos vilões voam como se a gravidade inexistisse. A vingança do músico finalmente é alcançada, e apesar de alguns acontecimentos violentos, o idílico e ilusório predominam os momentos finais de Era Uma Vez no México, como uma ode de Rodríguez não só aos cinemas que sempre amou mas também a pátria onde nasceu.

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  • Crítica | A Balada do Pistoleiro

    Crítica | A Balada do Pistoleiro

    A Balada do Pistoleiro começa com Steve Buscemi entrando em um bar, sendo atendido por Cheech Marin. Buscemi fala para o bartender e para as demais pessoas que querem ouvir sobre a lenda de um pistoleiro careta, que bebia refrigerante e andava com uma case de violão, sendo como um anjo exterminador, capaz de matar todos que lá estão de maneira tão estilizada que parece ter saído de uma história em quadrinhos.

    O longa não é tão inventivo quanto seu antecessor, mas é carregado de charme e carisma, a começar por seu herói, vivido por Antonio Banderas, que é acompanhado em alguns momentos do primeiro Mariachi, Carlos Gallardo. Esta versão tem sua própria identidade e caráter, que prosseguem canastronas, mas de um jeito diferente. Se Rodriguez lançasse somente esse epílogo como um curta, certamente seria premiado, pois funciona muito bem como exemplar único. Aqui, Rodriguez abusa do poder de introduzir seu herói, mas as sequências iniciais são boas demais para serem descartadas, tendo todas elas o poder em reinventar o mito do pistoleiro musical.

    A história desta parte dois tem muitas semelhanças com a primeira, com Banderas fazendo as vezes do Mariachi e de Azul, as diferenças moram na preparação. O artista transferiu todo o seu talento em fazer música para o ofício de matar, uma vez que sua mão esquerda não mais tem firmeza para segurar as cordas do violão. Sua caixa não pode mais carregar um instrumento que embala a alegria das pessoas, restando espaço apenas para os armamentos. Mesmo com um texto simples, há espaço para a exploração de um lirismo típico das letras das baladas mexicanas, além é claro de semelhanças enormes do enredo com o estilo cinematográfico e teatral dos musicais, sem obviamente, ter as músicas, pois se tocadas, feririam o personagem principal, não só em suas mãos mas também em seu coração.

    A introdução do pistoleiro em ação finalmente acontece após uma cena com Quentin Tarantino, do tempo que o diretor achava que poderia se tornar ator, e é sensacional por não ter qualquer apego a realidade e ser escapista ao extremo, mostrando um Mariachi diferente e evoluído, que esconde suas armas dentro do corpo de um violão e nas mangas do seu terno, finalmente justificando o uso de roupas tão pesadas em um ambiente tão quente. Na jaqueta que o personagem principal usa, há um desenho com cores tão fracas que mal aparecem em sua totalidade. O escorpião lembra muito o do assassino vivido por Ryan Gosling em Drive, de Nicolas Widing Refn, e coincidentemente existe o uso dos mesmos simbolismo.

    Bucho, de Joaquim de Almeida é um vilão tão ou mais caricato quanto Moco, mas os capangas e demais assassinos são vilões carismáticos, como o Navajas de Danny Trejo, que tem um fim precoce por conta da covardia dos seus inimigos. No entanto, entre os coadjuvantes, quem rouba a cena é Carolina, feita por Salma Hayek no auge de sua beleza. Com ela e o pistoleiro juntos, acontecem cenas onde o imponderável é a tônica, acrobacias não soam irreais e as fugas das balas não parecem tão inverossímeis.

    As curvas finais tem uma dramaticidade, mas não tão bem construídas quanto as do primeiro filme. Mas no quesito ação Rodriguez evoluiu muito, mostrando a mesma linguagem cinematográfica sofisticada do primeiro filme, com um orçamento mais pomposo, que lhe dá liberdade para prestar reverência a Sam Peckinpah, Don Siegel e Clint Eastwood, alguns cineastas posteriores ao western spaghetti que também fizeram filmes dignos.

    As participações de Albert Michel jr. e Carlos Gallardo também são bem legais e pontuais, celebrando a memória do antigo filme que levou Rodriguez ao estrelato. Os momentos finais não tem tanto apelo quanto a batalha campal anterior, mas tem emoção de sobra, com confronto familiar e um pseudo-abandono da função de justiceiro, A Balada do Pistoleiro faz jus a história original, sendo uma continuação bastante digna, que expande bem o universo de aventura escapista.

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  • Crítica | Um Drink no Inferno

    Crítica | Um Drink no Inferno

    Uma viagem de loucos pelo deserto, cuja estrada por onde passam predomina o sangue das vítimas desses dos irmãos Gecko. Esse é o tom inicial de Um Drink no Inferno. De certa forma, a loucura em que se metem Seth e Richard tem eco na antiga parceria entre o diretor Robert RodriguezQuentin Tarantino, que adaptou um roteiro a partir do argumento de Robert Kurtzman, um sujeito muito mais acostumado a trabalhar no setor de maquiagem e efeitos especiais do que com roteiros.

    A primeira sequência do filme é inacreditável, mostrando o confronto dos personagens de Tarantino e George Clooney com o dono de um armazém/loja de conveniência. Em poucos minutos o espectador vê o assassinato de um policial, por meio de um assassino sangue frio e com claros distúrbios mentais. No caminho, os dois andam em um carro surrado pela areia, com uma mulher de meia-idade no porta-malas, ao som do clássico Dark Knight tocada por The Blaster, de certa forma prevendo o que ocorreria com os dois, no Titty Twist mais tarde.

    É impossível não pensar neste filme e não lembrar da Miramax, estúdio que ajudou a reunir Tarantino e Rodriguez. A realidade é que mesmo com os sucessos de Pulp Fiction, Cães de Aluguel, A Balada do Pistoleiro e El Mariachi, essa história envolvendo desajustados não teria sido finalizada e comercializada, já que o filme apesar de se pagar, não foi muito alem disso. O longa se tornou um dos muitos fenômenos de locadoras, sendo redescoberto no mercado de vídeo, só então ganhando o status de cult, além do trash que muitos já amputavam a si.

    Há dois dramas familiares na história, que na maioria das vezes não são explorados de maneira séria, mas que não deixam de soarem pesados. Pelos Geckos, há a preocupação de Seth com a sede assassina do caçula, feito por sua vez por um Tarantino que representa um completo desequilibrado. Da outra parte, existe a fé falida de Jacob Fuller, que viaja com seus filhos, Kate e Scott, a procura de se distrair após a morte da mãe da família. Harvey Keitel faz um ex-presbítero que diz não acreditar mais em Deus, pela perda que teve e ainda tem que lidar com a criação de dois adolescentes, sendo um deles interpretados por Juliette Lewis no auge da beleza, claramente sem idade para interpretar uma pessoa na puberdade.

    Há também duas ideias de moralidade bem distintas, uma adormecida, em Jacob que diante da situação limite de quase morte, não permite que seus filhos façam algumas coisas pequenas como beber em um bar latino de strip-tease, e outra a de Seth, que agride seu irmão após o mesmo estuprar e matar a senhora que era sua refém. Ainda que seja um ladrão, Seth tem alguns limites morais e éticos e é uma decepção que seu irmão não compartilhe desse pensamento. Obviamente que esse pensamento ético não o impede de fazer dos Fuller seus reféns, inclusive deixando a jovem Kate a mercê das fantasias e assédios de seu irmão.

    É curioso como o roteiro trata dessas questões de maneira leve, mas sem deixar de julgar tais fantasias e loucuras como algo nefasto. A questão do retardo de Richard deixa de ser uma opção teórica para se demonstrar factual, quando o irmão mais velho manda ele colocar seu aparelho dental, ele é um sujeito capaz de matar alguém mas não se lembra de cuidar de seus dentes, e precisa de outro “adulto” para tal. Dos 108 minutos de duração, quarenta e poucos são para construir a ideia de um filme policial clichê com dois bandidos inconsequentes em fuga.

    O grito do mestre de cerimônias, que é um dos três personagens de Cheech Marin é o resumo básico de como funciona o Titty Twister, um lugar onde as pessoas agem de forma libertina, e onde acontecem coisas tão bizarras que sequer parecem reais. Uma caricatura, onde mexicanos, americanos, motoqueiros e caminhoneiros brigam, bebem enquanto são servidos por mulheres seminuas. Além de acontecerem algumas brigas e um quase conflito entre Seth e os funcionários do bar, há um sem número de personagens engraçados e carismáticos, a banda Tito e Tarantula fazendo eles mesmos, o mestre de efeitos especiais Tom Savini fazendo o canastrão Sex Machine, o personagem de Fred Williamson Frost, que não tem seu nome citado nem por si e nem por ninguém, e claro, Satanio Pandemonium a dançarina que Salma Hayek encarna, que carrega o nome de um filme mexicano de horror de 1975, também conhecido como  Sexorcista, de Gilberto Martinez Solares, que foi lançado na esteira de O Exorcista.

    Tudo ocorre na mais perfeita ordem, até um trio de funcionários atacar Richard, agravando o ferimento de sua mão. Esta parte tem um mise-en-scène muito bem trabalhado. Os detalhes que Rodriguez utiliza neste momento são sutis inicialmente, para dali em diante se tornar ponto de virada onde até as poucas amarras com a realidade tangível são largadas para tornar-se este uma completa fantasia com momentos dignos das comedias pastelão.

    Começa uma guerra campal, onde corpos são guitarras e onde os monstros atacam e se alimentam das pessoas. Cabeças decepadas rodam pelo assoalho, e há milhares de móveis que podem imediatamente se tornarem armas contra essas criaturas da noite. O fato das regras inteligentes dos filmes de vampiro serem completamente ignoradas combinam perfeitamente com a aura irônica do longa, a prudência dos mortos-vivos inexiste, a dos vivos também, seja nas travadas de Satanico, que se gaba em frente a Seth, ou do próprio personagem de Clooney, que quase permite que seu irmão ande, mesmo já não tendo alma.

    Rodriguez resgata a aura dos filmes de monstros da Universal, e as perverte completamente, adicionando a isto a estética dos filmes de zumbi de George Romero com o gore dos giallos que Mario Bava e Dario Argento faziam na Itália. Uma marca de Tarantino no filme é a conversa entre sobreviventes que falam sobre teorias de como matar os vampiros, de suas fragilidades e das fraquezas que a cultura pop amputou a esse segmento, linhas de diálogos essas que jamais ocorreriam se não fizessem parte de um conto fantasioso com participação do próprio.

    Apesar de brincar com crenças sérias e de aludir ao cristianismo como fonte segura de defesa contra o mal, a graça de Um Drink no Inferno reside no total desprendimento da realidade ou das normas de um bom filme de gênero, ele é uma mistura de muitos elementos e uma ode ao cinema de Wes Craven, Tobe Hooper, John Carpenter e até alguns cineastas menores como Tom Holland (Brinquedo Assassino) e Mick Garris, temperado é claro com toda a iconografia do cinema e cultura do México aludindo a um oeste de Alejandro Jodorowsky e as comédias de humor negro, em uma mistura que tinha tudo para dar errado, mas que acertou em tom e que certamente entrou para história do cinema como um clássico do cinema escapista da década de noventa.

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  • Critica | El Mariachi

    Critica | El Mariachi

    Muitas lendas envolvem a feitoria do filme de “estreia” de Robert Rodríguez, El Mariachi, e sua presença na cultura pop que abriu não só as portas para seu diretor e autor, como trouxe também duas continuações e uma novela no México. As primeiras cenas do longa são quase artesanais, onde a câmera passeia pelos cenários improvisados, dando um ar de sofisticação ao elenco de atores amadores e ressignificando o que poderia ser apenas uma cena de abertura de um filme b genérico.

    Não há muita novidade no inicio da historia, o combate entre forças, dentro de uma prisão com pessoas pobres enfrentando pessoas pobres a mando de uma magnata é uma trama velha como o mundo, tipica das series que passavam nas matinês nos cinemas, alem de reunir elementos básicos de filmes de western, sobretudo os italianos de Sergio Leone e Gianfranco Parolini, emulando os ângulos de câmera dessa escola.

    Dois herois do bang bang a italiana, Sabata- O Justiceiro, dirigido por Parolini e interpretado por Lee Van Cleef, que acompanha um homem ja idoso que faz justiça com as próprias mãos em troca de recompensas, e claro, o Django, criação de Sergio Corbucci (que dedicaria sua carreira a fazer filmes de faroestes sobre o México no oeste selvagem) e interpretado por Franco Nero. Django carregava um misterioso caixão que escondia um caixão, assim como ocorre com o Mariachi de Carlos Gallardo, que carrega um case de violão, que em.determinado ponto da trama, deixa de ser o receptáculo de seu instrumento para guardar as mensageiras da morte: as armas.

    Se estabelece no começo uma rivalidade entre Mauricio Moco (Peter Marquadt) o poderoso bandido, e Azul (Reinol Martinez), com o segundo correndo atrás do primeiro, deixando um rastro de sangue com os fluidos dos capangas. A trilha de homocídios vai piorando com o tempo, e os caminhos de Azul e do violeiro são confundidos, tudo por conta da caixa instrumental.

    Os elementos visuais se misturam de modo curioso, a começar pela figura da tartaruga na estrada, que vive no imaginário do musicista apos cruzar com ele no asfalto quente, sendo esse o primeiro dos sinais oníricos e meio fantasiosos dele, e o segundo o modo meio novelesco com que as cenas são conduzidas por Rodriguez. Os movimentos de câmera são muito rápidos e acompanhados de gritos dão fazem variar as sensações, entre desespero, receio da morte e total impotência de quem não habita o cenário do crime, por perceber-se fraco e incompetente diante das forças criminosas.

    Os momentos mais ricos do filme são os oníricos, onde o Mariachi tem visões com crianças e presságios de que a morte se aproxima. A confusão que acontece entre ele a identidade de Azul faz ele despertar o conjunto de habilidades até então desconhecidos, ou talvez ele ja tivesse habilidade de fuga impar, de qualquer forma ele parece ser predestinado a algo maior, e mesmo acontecimentos básicos, como quando conhece a bela Dominó (Consuelo Gómez) parecem capitulos importantes da jornada de um heroi que não pediu para ser assim.

    Chega a ser engraçado o modo como Azul vive, seus esconderijos não possuem luxos, as camas são apenas colchões largados no chão, e ele dorme com três mulheres ao mesmo tempo. O roteiro se vale de muitos atalhos para mostrar o caráter de seus personagens. Mesmo Moco, um homem abastado só tem mostrado o lado externo de sua mansão, com uma pequena piscina, onde uma bela mulher de biquíni serve seus drinques, tudo isso fruto do baixo orçamento que Rodriguez tinha para fazer sua obra. Nao falta inventividade ao contar sua historia.

    Os figurinos claramente são dos interpretes – ou pensados para parecerem – e as cenas das pessoas pegando o telefone e mostradas de maneira acelerada dão um charme artesanal ao filme, que fortifica a ideia de que os maiores e mais indiscutíveis méritos do longa são de seu realizado.

    A estrutura do roteiro brinca demais com a completa falta de talento de seus personagens para manterem-se vivos. Toda a cartilha do bom herói é rasgada, o Mariachi é um acéfalo, um burro com sorte que sempre sai a rua despreparado, Dominó não sabe agir como garota refém subvertendo o clichê inclusive, Azul não é sutil e não consegue jamais deixar de parecer ameaçador, os capangas são burros e Moco é o chefão do crime mais telegrafado possível, tão inconveniente e inconsequente que usa as pessoas para riscar seus fósforos que acendem seus cigarros.

    O combate final lembra os momentos finais do Scarface de Brian de Palma, e seriam reprisados não só nas continuações mas também em outros filmes de Rodriguez, como Machete, claro, com outras ressignificações. Antes do protagonista reaparecer há uma demonstração cabal das diferenças morais entre Moco e Azul, com um mostrando ter coração e no outro restando apenas um autoritarismo baseado em nada.

    A cidade que parecia trazer sorte a ele trouxe só azar e agouro, o final trágico de El Mariachi marca a rotina do personagem-titulo de maneira irreparável, mudando toda a.l configuração de seus futuros trabalhos como musico, causando sacrifícios em seu coração e mudando o que seria seu caráter apos todos os acontecimentos. É discutível o que teria atraído o que, se o drama acompanhou o baladeiro ou se o imã era essa historia dignas das serestas feitas pelas bandas mexicanas, uma vez que todas as pessoas tiveram suas vidas radicalmente modificadas, inclusive o exercito de Moco, que se mostrou nada grato as ordens terríveis a que se submetiam. Mesmo em seus moralismos bobos Rodriguez acerta, fazendo desse um conto moderno sobre a vida e a morte, sem deixar as tradições de seu próprio povo de lado.

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  • Crítica | Alita: Anjo de Combate

    Crítica | Alita: Anjo de Combate

    Pelos meados dos anos noventa, James Cameron pensou em adaptar A obra Gunnm ou Gun-Mu, de Yukito Kishiro, uma historia sobre uma adolescente encarnada em uma inteligência artificial capaz de matar qualquer pessoa. O tempo passou e entre as duas maiores bilheterias do cinema, Titanic e Avatar e Cameron passou um bom tempo sem dirigir produtos para o cinema, e graças a sua dedicação as continuações de Avatar, a adaptação de Alita: Anjo de Batalha recaiu sobre outro diretor, Robert Rodriguez, que é um cineasta de produtos mais autorais mas que também sabe fazer filmes que rendem bem. Cercado de expectativas, ele possui alto e baixos, mas não erra tanto quanto outras versões americanas de mangás.

    A historia da adolescente guerreira começa com a introdução de Ido, um doutor interpretado por Christoph Waltz que tem por costume consertar ciborgues. O cenário aqui é muito bem explorado, se explica bem como funcionam o sistema de castas dessa sociedade, com a elite vivendo no alto, em uma cidade flutuante, e a ralé vivendo em baixo. Os restos da ciborgue/androide são encontrados no lixão, como restos de Zalem, a tal moradia dos ricos, mas obviamente que ela é mais do que isso.

    A primeira hora do filme consegue dar vazão a toda a mitologia que Kishiro pensou, e embora hajam problemas sérios com as motivações dos personagens periféricos a protagonista, em especial Ido, que faz o mentor clichê que não tem qualquer firmeza como figura paterna (além de ter uma assistente que sempre está presente mas quase não profere palavras), de Hugo (Keen Johnson) que é o interesse romântico da personagem-título cuja vontade de ascender socialmente o faz um personagem confuso moralmente (além de oportunista), a interpretação de Rosa Salazar como Alita é bastante crível e verossímil, e conseguir atuar embaixo de muita maquiagem já é difícil, sendo uma boneca digital então é mais difícil ainda, e tanto visualmente quanto em espírito, Salazar consegue imprimir uma menina carismática, intrigante e que gera muito interesse no espectador não só sobre seu passado, mas também como ocorrerá o seu futuro.

    Há um pequeno problema de ritmo no filme, a segunda metade se dedica demais a construção do possível romance entre Alita e Hugo, e não há qualquer química entre os dois, talvez pela dificuldade de Johnson em lidar com um par digital, além disso, se dá muita vazão a alguns vilões bobos, como os personagens de Mahershala Ali (Vector) e Jennifer Connoly (Chiren), essa ultima, ao menos no final, consegue se redimir de certa forma.

    No entanto, toda a configuração tirada do mangá como a questão dos caçadores de recompensas que lidam com os ciborgues marginais e o esporte Motorball são exemplificadas de modo muito rico, e é nessa parte que se percebem semelhanças visuais com Jogador Nº1 de Steven Spielberg, filme recente que tem coincidências temáticas. De resto, há também referencias a Blade Runner e a continuação mais recente Blade Runner 2049, e a dúvida que pairava sobre Rodriguez conseguir lidar com computação gráfica de orçamento alto foram completamente sanadas, e o resultado é lindíssimo visualmente, muito por mérito da fotografia de Bill Pope, de Mogli: O Menino Lobo e Homem-Aranha.

    As cenas de ação são muito bem coreografadas, e por mais que perca tempo demais com os personagens periféricos e em draminhas fúteis, a construção da personagem de Alita é muito bem feita, ao menos no que tange a personagem não há muitas liberdades poéticas ou suavização de qualquer drama seu. Há uma possibilidade de  continuação em um dos confrontos finais, fator que preocupa, pois além do filme ser caro, em torno de 200 milhões, os vilões são péssimos, em especial o visual de Nova, feito por Edward Norton que está irreconhecível no papel. Mesmo não tendo uma execução tão divertida quanto no mangá, Alita: Anjo de Combate acerta mais do que erra, e talvez seja a adaptação Hollywood mais fiel  ao material original e que consegue imprimir melhor o caráter da arte japonesa, embora obviamente não seja tão complexa em temática e reflexão.

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  • Crítica | Hell Ride

    Crítica | Hell Ride

    Silencioso em seu início, Hell Ride é movido pela ilusão de uma musa que inebria o imaginário de Pistoleiro, personagem de Larry Bishop, ator que também dirige o filme. Logo no começo, ela é cortada, já que assim que abre a boca, termina com qualquer possibilidade de santidade na abordagem da fita. Em menos de quatro minutos de exibição, os signos visuais já demonstram a rotina do seu herói, ligada  – e muito –  a sexualidade e violência extremas.

    O arquétipo gráfico provindo dos filmes noventistas de Robert Rodriguez e Quentin Tarantino (produtor do filme) é notado de cara, ao mostrar um deserto repleto de sangue, chumbo, cadáveres e referências à figura diabólica, além de uma ode à pornografia em geral. A tentativa de emular os momentos de Um Drink no Inferno é válida, no entanto, o excesso de flashbacks e a linha temporal pouco afeita à normalidade são maneirismos que irritam o público logo no início, a despeito até da estética de “sexo, drogas e rock’n roll“.

    Ultrapassada essa excessiva transição temporal desmedida, é contada uma trajetória de vingança que remete a um infante que assiste à morte de uma índia cherokee inocente, resultado de uma inimizade entre duas gangues de motoqueiros que cobram um alto preço pela morte. Os dois lados opostos são os Victors, liderados na contemporaneidade pelo Pistoleiro, e os 666 Wings, afiliados a Billy Wings (Vinnie Jones), que com sua metralhadora/besta, impinge aço àqueles que se opõem a sua vontade e ao seu regime.

    A volúpia por repetir alguns dos elementos de ebriedade vistos em Sem Destino soa risível. Bishop filma momentos em que são manejadas drogas pesadas, causando na lente uma diminuição de velocidade, como se o mundo tentasse adequar-se à tontura causada pelo uso excessivo de entorpecentes. O artifício funcionou para os anos sessenta, mas em 2008 soa como um pastiche, como um conto caricatural sobre os elementos típicos do estilo de vida sob duas rodas.

    O elenco de coadjuvantes é estrelado pelas figuras carismáticas de Michael Madsen, David Carradine e Dennis Hopper, que tentam esconder a falta de capacidades dramáticas dos protagonistas, especialmente de Eric Balfour, que vive o novato Comanche dos Victors. Toda a curta duração do filme se encaminha para o embate entre Pistoleiro e Billy Wings. Uma vez alcançado, o entrave mostra-se truncado, mas com uma boa dose de violência extrema, qualidade que demora demasiadamente a ser explorada, mas que ainda assim é insuficiente para as expectativas ligadas a um filme B, como esse.

    Todo o sangue e depravação que vêm dos quase noventa minutos de duração do filme de Larry Bishop escondem uma mensagem de fraternidade e honra, que, no entanto, não é super explorada, uma vez que o roteiro se rende até aos clichês mais básicos como a tão repetida questão do amor imortal, tendo a justiça como o norte e objetivo a ser seguido. Em paralelo aos comentários sociais e anárquicos dos filmes que o inspiraram, Hell Ride não diz quase nada, serve apenas uma distração munida de elementos comuns aos produtos de mountain bike.

  • Crítica | Sin City 2: A Dama Fatal

    Crítica | Sin City 2: A Dama Fatal

    O começo, repleto de cortes rápidos, é seguido por uma cena em que Frank Miller faz uma aparição típica de Stan Lee nos filmes da Marvel, aproveitando-se das benesses de ser um criador e também realizador do longa. O início, excessivamente escapista, faz mais referência ao último filme de Miller (The Spirit: O Filme) do que ao Machete de Rodriguez, o que faz acreditar que o criador do texto original teria maior ingerência na direção compartilhada, a despeito de toda a boataria que envolveu a produção do primeiro episódio.

    O preâmbulo é feito por Marv, personagem, vivido por Mickey Rourke, que, curiosamente, morreu no episódio anterior. Mais uma vez, uma bela apresentação dos créditos estilizada. Na história paralela de Johnny (Joseph Gordon Levitt), são resgatados plots que envolvem personagens cujo destino já havia sido decidido outrora, envolvendo-os em outros pecados, outros vícios tão torpes quantos os que preconizaram a primeira fita. Sin City parece ser um lugar tão escuso que até mesmo os que não vivem mais no mundo dos vivos costumam visitar a cidade. A pendenga de Johnny com Roark (Powers Boothe) é de cunho pessoal e familiar.

    Os subplots se misturam, compartilhando a mesma linha temporal, variante nos núcleos e nos múltiplos amoralismos. A plataforma plural claramente revela momentos mais interessantes com histórias menos apetecedoras. A trama envolvendo Dwight (Josh Brolin) demonstra isto exemplarmente, mesmo que suas cenas sejam de um grafismo agressivo ímpar tanto nos atos violentos quanto no torpor sexual, que causa no personagem um complexo de submissão quase automática à sua musa, Ava (Eva Mendez). Ao menos é nesse período em que é mostrada a cena mais gore e trash do filme, tão digna de nota quanto de gargalhadas.

    A sedução típica da dama fatal envolve os personagens e, claro, o espectador, não só pela nudez bem fotografada por Rodriguez, mas também pelo trabalho sonoro, praticamente perfeito, seja na montagem, seja na voz rouca de Green. As curvas femininas continuam obviamente sendo um dos pontos altos do filme, no entanto têm de conviver com constrangedoras cenas em que as belas mulheres se submetem a show-offs e exibições toscas de poderio armamentista, enquanto são reapresentadas às mulheres de Old Town. As soluções sensuais, fora as da personagem-título, são demasiadamente fáceis, apresentando uma desnecessária aura de pastiche, não condizente até mesmo com o universo milleriano. O tremor da perigosa relação entre Ava e Dwight finalmente se cumpre, e de um modo até surpreendente se comparado com o que o roteiro apresentou até então.

    A banca continua a aceitar as apostas de Johnny, mesmo após sua quase completa destruição. A designação da disputa quase edipiana termina anticlimática, mas é ramificada, abrindo a chance de Nancy Callahan (Jessica Alba) dar vazão a sua raiva e ao seu desejo de vingança. Em alguns momentos, a atriz até demonstra um pouco mais de dramaticidade se comparada a sua habitual filmografia, mas nada que fuja do ordinário e lugar comum de pautar toda a sua apresentação apenas em sua bela aparência. A cena em que sua personagem chora, à frente da TV, transita entre a empatia do público junto à carismática personagem esbarrando na dificuldade da sua intérprete em passar emoção.

    Por mais que o primeiro filme tenha tido um impacto enorme entre os fãs de quadrinhos e do cinema blockbuster violentíssimo, a sensação deixada por este Sin City 2 é o de um filme datado, que deveria ter sido lançado logo após o episódio um, se valendo do hype, mas que não o foi. Tudo na abordagem da película faz pensar que o projeto não era a prioridade de Robert Rodriguez, dado seus outros produtos autorais para a televisão e cinema, além da óbvia demora na produção deste filme. Tudo piorado pela sensação de A Dama Fatal ser um produto requentado, sem muito alma e substância, coisas que sobraram no filme exibido há nove anos.

  • Crítica | Lado a Lado

    Crítica | Lado a Lado

    O cinema é, de todas as artes, aquela que mais depende da tecnologia para ser produzida. Segundo Walter Benjamin, essa condição torna o cinema uma obra de arte única, fruto do avanço tecnológico e industrial do século XX. Ainda mais singular que a fotografia, o cinema irá gerar debates imensos e comparações sobre o “valor” de sua arte (pode ser um pintor comparado a um operador de câmera?). Portanto, o documentário Lado a Lado, dirigido por Christopher Kenneally e protagonizado por Keanu Reeves, atualiza um pouco o debate nesse sentido, ao confrontar várias personalidades da indústria cinematográfica (como George Lucas, Martin Scorsese, James Cameron, Lars von Trier, Andy e Lana Wachowski, David Fincher, Joel Schumacher, Robert RodriguezSteven Soderbergh, David Lynch etc) com a questão da substituição da película pelo filme digital.

    Com uma proposta didática de ensinar ao espectador o básico da diferença entre os formatos, o documentário assume uma postura um pouco cansativa a quem não é muito interessado no aspecto técnico do cinema. Porém, ao público alvo, possui um formato muito interessante e de fácil compreensão. Dividido em várias partes com subtemas que vão e voltam (tanto na parte criativa, quanto técnica), e entrevistando um grande número de pessoas com frases curtas e cortes muito rápidos, às vezes um pouco da informação é perdida. Mas nada que afete a compreensão geral da obra.

    O filme começa com um debate sobre a facilidade do processo de filmagem digital atualmente, onde tudo pode ser visto enquanto é filmado, enquanto no uso da película é necessário, após o término da filmagem, levá-la a um laboratório onde será revelada e o diretor só poderá ver o que foi filmado no outro dia. São colocados argumentos muito bons dos dois lados do debate, tanto no lado criativo quanto técnico.

    Após essa breve explanação, somos levados a um histórico das câmeras digitais, desde o surgimento do primeiro chip de captação digital de imagem, criado pela Sony nos anos 60, até sua popularização nos anos 90 e seus primeiros usos como ferramenta na produção cinematográfica com o movimento Dogma 95, que depois influenciou outros cineastas, como o inglês Danny Boyle a usar o digital na filmagem do seu longa de zumbis Extermínio em 2003.

    Porém, ainda nessa época a qualidade de resolução do digital era muito pequena em relação à película, e chegava no máximo ao HD (1280 x 720), enquanto a película em 35mm poderia chegar a 4096 x 3072. Mas tudo isso mudou com a chegada de novas câmeras no mercado no final dos anos 2000, onde a resolução começou a dar saltos exponenciais e o argumento a favor da película começou a ficar mais fraco.

    Outra vantagem citada do digital era não precisar mais das pausas para trocar os rolos de filmes nas câmeras, que duravam aproximadamente 10 minutos, e eram muito caros. Então havia uma pressão para o ator enquanto ouvisse o barulho do filme rodando, enquanto no digital não há pausa e nem cortes. Depois tudo é editado digitalmente (o processo de edição também é brevemente citado). Após a filmagem, o filme ainda tinha de ser entregue ao laboratório, revelado, preparado, encaixotado e transportado para depois ser visto, e dependendo da quantidade de vezes que era exibido, poderia se deteriorar. Já no digital, nada disso acontece, e a equipe tem todo o fruto do trabalho nas mãos imediatamente.

    Portanto, o filme se foca muito na questão do custo de produção, que cai absurdamente com o digital, o que tem feito muitos estúdios optarem principalmente por este formato. Tudo isso também graças ao pioneirismo de George Lucas que, vendo o potencial do digital, forçou seu uso ao experimentar esse tipo de projeção com seu Episódio I em 1999 e ao filmar, pela primeira vez na história, um longa 100% em digital, com o Episódio II. Porém, Christopher Nolan assume a defesa incondicional da película pela sua qualidade em captar as nuances de cores e as profundidades (já que utilizou esse formato para filmar a trilogia nova do Batman), mas sem menosprezar o digital, que já dá sinais de ser um verdadeiro tsunami tecnológico dentro da indústria.

    Outro ponto interessante debatido em relação ao digital é a massificação não só da produção, como também do consumo, e como o digital afeta essa relação, pois gerações mais novas estão habituadas a assistirem filmes em celulares e laptops em suas casas, e não mais somente no cinema, o que pode ser considerado vantagem por alguns e desvantagem para outros, em um tópico bem interessante, que se relaciona também com a quantidade crescente de obras sendo produzidas. É melhor mais com menos qualidade ou menos com mais qualidade? Um afeta diretamente o outro? São proporcionais? Inversamente proporcionais? Hoje em dia praticamente qualquer pessoa pode fazer um filme em casa com um orçamento baixíssimo devido ao digital. Mas isso significa algo em termos de qualidade? É o debate proposto, cabendo ao espectador a resposta.

    No final, há a especulação de a película se tornar obsoleta ou morrer de vez enquanto formato (já que nenhuma fábrica de câmera está produzindo mais modelos novos para película). Mas, um dos dados mais interessantes apresentados pelo documentário é em relação justamente a preservação. A indústria do digital muda muito, e a cada década novos meios de reprodução e mídias de armazenamento são inventados, inutilizando seu predecessor, enquanto a película se mantém viva, sendo ao mesmo tempo a mídia de reprodução e de armazenamento com grande qualidade. Esse fato gera uma situação irônica, pois os grandes defensores do formato digital dizem ter várias cópias de filmes em mídias digitais, mas que não conseguem reproduzi-las simplesmente por não existirem mais os aparelhos que o façam.

    Sem tomar um lado ou propor uma solução, o documentário termina mostrando que, apesar da briga, o digital veio para ficar e é somente uma ferramenta a mais, que depende muito da forma como é usada. Portanto, é um filme indispensável a qualquer um que se interesse por cinema de forma mais profunda.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Full Tilt Boogie

    Crítica | Full Tilt Boogie

    Full Tilt Boogie

    O documentário de Sarah Kelly começa com um pequeno spot, mostrando pedaços fundamentais de Um Drink No Inferno, para depois acompanhar a dupla de astros que anos mais tarde se tornariam diretores respeitadíssimos. Quentin Tarantino e George Clooney cortam os bastidores do estúdio ao som de Earth, Wind & Fire, num ritmo tão louco quanto o de seus personagens. A câmera de mão ajuda a preconizar o tom cômico, que acaba com os dois passando pela loja de conveniência que explodiria, mesclando ambas as películas.

    Full Tilt Boogie – jamais lançado no Brasil – conta com imagens raras de bastidores, mas não é um making off, até por seu clima ser demasiado artesanal. Ele mergulha nas influências de Robert Rodriguez (ainda acima do peso, se comparado à figura esguia atual) e de um ainda em início de carreira Tarantino, que explicam o seu intuito ao fazer o filme, o de brincar com clichês de filmes B, e claro, e o twist após uma hora de exibição. É interessante notar como ambos funcionam bem juntos já à época, assim como os dotes de composição de Robert Rodriguez.

    As filmagens cortam as semanas e mostram produtores como Lawrence Bender e a preparação do elenco, bem como os ensaios com os figurantes fantasiados de vampiros, bonecos mecatrônicos, além de cenas estendidas, muito mais violentas do que as mostradas na grande tela – esse trecho é mostrado primeiramente por Greg Nicotero. Em determinado ponto, mostra-se até um concurso para julgar a bunda mais bonita do set, sem revelar quem era o seu dono, e em um dos contestes quem vence é um dos contrarregras, que era homem.

    O documentário também foca o imbróglio econômico entre os estúdios e produtores Tarantino-Bender. A condição para que injetassem dinheiro era que uma série de exigências fosse cumprida, algumas delas por implicâncias a produtos anteriores de Bender, uma caça a pelos em ovos. A produção de Full Tilt Boogie tentou a todo custo realizar contatos com Lyle Trachtenberg, a pessoa que poderia responder às dúvidas deles, mas a simples menção ao nome de Quentin os fez serem recusados. Prevendo que sua fita poderia ser pasteurizada, os realizadores decidiram por as mãos na massa eles mesmos, arrumando meios próprios para a produção do filme.

    Os últimos momentos se dedicam às cenas externas, de maior dificuldade, não por acaso sendo gravadas por último, além de mostrar a contribuição de Richard Parks no texto de seu personagem, o que marcaria o ator para trabalhar em futuras produções de Tarantino e Rodriguez.

    O filme fecha com um tom leve, emulando o clima de toda a produção envolvendo o diretor, roteiristas e elenco. Há um bocado de camaradagem entre os iguais, sem qualquer forçação, mesmo que toda a docilidade mostrada tente contradizer isto. Os créditos finais mostram os profissionais analisados, não somente os atores, mas cada um dos expoentes da produção, pondo todos em pé de igualdade. Além das ótimas informações sobre as atividades do processo de realização do Cinema, há uma forte carga de memória emotiva, que reverbera de modo ainda mais singular quando vista por quem é fã de Um Drink No Inferno.

  • Review | Um Drink no Inferno – 1ª temporada

    Review | Um Drink no Inferno – 1ª temporada

    Um Drink No Inferno Serie 1

    Remakes são quase sempre relacionados a uma temeridade atroz, especialmente quando a obra repaginada é conhecida por ser tão ímpar, caso da primeira parceria entre Quentin Tarantino e Robert Rodriguez. O diferencial de Um Drink No Inferno é a total e irrestrita condição de ter dado certo, apesar de todos os fatores externos puxarem as chances da produção acontecer para condições quase nulas. O filme somente deu certo por uma variação de elementos completamente aleatórios que dificilmente se repetiriam se fossem elencados novamente: o humor involuntário, o clima trash, o plot twist dos mais tresloucados, e por incrível que pareça, a sutileza com que tudo é mostrado em tela.

    Um dos principais problemas do seriado/reboot é a falta de sutileza e a tentativa de Rodriguez produzir uma origem tendenciosa que flerta com uma teoria da conspiração, transformando um dos irmãos Gecko, um louco psicopata, em um sujeito que ouve vozes do além que o levariam a um bar repleto de sugadores de sangue. A premissa do primeiro filme só funcionou graças à jocosidade e ao humor de não se levar a sério em momento nenhum. Era uma porralouquice pura e simples. Levar esta história por um viés mais sério se mostrou um erro com a primeira continuação e repetindo-se na produção de uma série. A repaginação dos irmãos, fora os já citados defeitos, não é das piores, mas não contém o carisma de Clooney e Tarantino.

    A narrativa é entrecortada por flashbacks, um artifício que permite contar a linha narrativa principal e, paralelamente, mostrar o background de alguns dos personagens coadjuvantes. A filmagem dos episódios é realizada por diretores renomados. O próprio Robert Rodriguez dirige alguns (o piloto e os episódios 2, 4, 7). Dentre os outros realizadores há Eduardo Sanchez, de A Bruxa de BlairJoe Menendez, do longa Ladrón que roba a ladrónNick Copus, com participação em The 4400 e ArrowFede Alvarez, responsável pelo remake de A Morte do Demônio; além de Dwight H. Little, cujo currículo tem 24 Horas, Prison Break e filmes como Halloween 4 e Marcado Para a Morte. Little  foi o único além de Rodriguez que acumulou mais de um episódio nesta temporada, inclusive dirigiu o season finale.

    É muito difícil não enxergar a seriedade proposta no roteiro como um exercício de futilidade. A incabível razão espiritual que justifica a loucura de Richard (Zane Holtz, um Michal Shannon genérico) empobrece o personagem que havia sido originalmente feito por Quentin Tarantino. Ele deixa de ser um louco desvairado para ser um assassino à sangue frio que tem a sua volúpia por sangue justificada por uma manipulação sobrenatural. A falta de noção do espécime do filme dos anos 90 dava um charme ao personagem e fazia dele um sujeito imponderável e imprevisível. A característica obviamente não se propaga, dando lugar a um joguete nas mãos de Satanico Pandemonium.

    Outro ponto que não funciona plenamente, é a quantidade de teorias da conspiração envolvendo a família Fuller. Os antes caricatos membros do clã dão lugar a pessoas indóceis, que parecem fazer parte de um rascunho dos filmes de Asghar Farhadi, mas obviamente sem a complexa construção de caráter. Os filhos, Kate e Scott, são desconfiados, armados, muito diferentes das crianças inocentes do filme primordial. Kate (Madison Davenport, linda, mesmo com a pouca idade) é a autêntica menina-problema, que não confia em seu pai por não ter certeza de que este tenha feito tudo para salvar a matriarca da família. Scott (Brandon Soo Hoo) é ousado e bom ator, uma vez que consegue esconder a sua pecha de badass dos irmãos Gecko.

    Um Drink No Inferno Serie 2

    Do elenco secundário, feito exclusivo para o seriado, o destaque é de Freddie Gonzalez (Jesse Garcia), o auxiliar de Earl McGraw (Don Johnsonn) que faz questão de voltar para assombrar o ranger e motivá-lo a ir atrás de seus assassinos. O policial tenta incessantemente provar seu valor, mas, assim como a ação dentro da série, o processo para provar que é um topguy é vagaroso.

    A personificação do ex-Reverendo Fuller, feita por Robert Patrick, é interessante, a despeito até dos seus poucos dotes artísticos. O ator já havia protagonizado o segundo episódio da cinessérie Um Drink No Inferno 2: Texas Sangrento na mais dispensável obra da franquia. Sua personagem é crível porque concentra em si quase toda a sobriedade válida dentro do roteiro. Seu passado com a falecida esposa é mostrado em algumas vídeo montagens, e a riqueza de detalhes faz justificar bem a sua descrença em Deus – já que o intuito é dar uma face séria à história, é importante que a sua motivação seja crível e verossímil.

    As partes “pornográficas” do original são suavizadas na série. O Titty Twister não tem nudez, não tem a aura trash e tampouco Tito e Tarantula. No lugar disso, uma boate comum, aberta enquanto o sol ainda brilha – o que levanta uma curiosidade, visto que os sugadores de sangue conseguem viver sob a luz solar. A abordagem menos humorística garante alguns pontos mais “pés no chão”, mas retirando a diversão, sempre ligada à série original. O maior sacrilégio certamente é com Satanico Pandemonium. Sua atual encarnação, Eiza González, é ótima, mas a beleza é muito diferente da de Salma Hayek (inigualável). Não se equipara nem de longe da gostosura galopante da original.

    Excluindo essa questão, ainda falta carisma à moça, mas sobram cenas de ação de conteúdo massavéio, mas nada tão escrachado como visto em Machete ou em outras produções recentes de Rodriguez. No sétimo episódio, Pandemonium é responsável pela violência desmoderada que finalmente ganha pé na briga generalizada do bar. Mas o clima de ação é quebrado por um discurso sabichão do Professor Aiden Tanner (Jake Busey), o Sex Machine desta realidade, que explica que aquele é um solo sagrado, um templo que visa ser a fonte de alimento para os mortos-vivos que ali habitam.

    O extermínio dos vampiros, ao final do episódio, é todo pautado na vergonha alheia. O grupo de heróis parece não correr qualquer risco de perecer. Com a aproximação do final, verifica-se a origem de Satanico, muito semelhante ao que foi mostrado em Drink No Inferno 3: A Filha do Carrasco, no qual a moça teria sido vítima de um culto pagão e condenada a vagar, imortal, pela Terra, ganhando, aos poucos, requintes de divindade. Mas sua figura é subalterna dentro deste panteão. Como em uma pirâmide, haveria outros seres acima dela: os chefes das Nove Casas, que precisam ser alimentados e mimados. Seu plano era ser libertada por Richie para, enfim, subir ao topo da cadeia alimentar.

    Os detalhes dos sacrifícios são muito curiosos, com rituais sangrentos e violentos, de clima soturno e fotografia suja. Os inícios dos episódios são um pouco lúdicos, mostrando algo não necessariamente relacionado à cronologia normativa. Flashbacks da vida dos Geckos revelam alguns pecados morais de Richie, levando-o a ser o escolhido de Satanico. Outra questão relacionada a escolhidos ocorre com o Otomi – raça guerreira aparentemente resistente aos vampiros da qual Gonzalez descobre fazer parte. Essa prerrogativa parece muito com a de outro personagem de Rodriguez, Wray, protagonista de Planeta Terror e interpretado por Freddy Rodriguez, que seria um guerreiro indestrutível e de enormes poderes, cuja origem jamais foi esclarecida.

    Há duas questões primordiais que fazem da série algo mais que um remake mercenário. Uma delas é a morte de Jennifer Fuller (Joanna Going) e a motivação de sua morte. A outra questão é a relação dos irmãos Gecko, primeiro com o pai, depois entre eles. As relações familiares são delicadas, e a tônica, a seriedade escolhida para a produção de Netflix. Tais conflitos internos expõem muitas divergências, posturas que, a prori, podem ser encaradas como traição ao próprio sangue, mas que em sua “diferenciação” revelam a vontade de manter tanto os Fullers quantos o Geckos unidos.

    O episódio derradeiro começa como um autêntico filme de assalto, algo que a película original não explorou nem um pouco – esse aspecto é interessante, uma vez que os personagens de maior destaque são criminosos arrombadores de cofres. Infelizmente a dupla de atores é muito inexperiente, não alcançando nem de longe o êxito dos originais, além, é claro, do uso de uma traminha conspiratória demasiadamente pretensiosa. Surpreendentemente, Robert Patrick não faz uma apresentação caricata, que se não chega a rivalizar com a de Harvey Keitel, ao menos garante momentos de forte emoção ao seu Jacob Fuller, assim como faz uma boa dupla com Madison Davenport no momento de seu sacrifício.

    Enquanto sobram mortes no clã Fuller, o mesmo não acontece com os Geckos. A saída é covarde nesse quesito e “corajosa” ao não negar o desejo carnal de Seth pela caçula do reverendo, pois no filme original o anti-herói termina tomando uma atitude ligada aos bons costumes. A sensação que se alastra é de que em qualquer momento pode acontecer um reencontro entre os personagens que sobraram, mas a sensação de prato requentado persiste, assim como o triste gosto de que a execução do seriado é desnecessária.

  • Crítica | Machete Mata

    Crítica | Machete Mata

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    A nova vida do personagem-título já é modificada logo no início da trama. Mais uma vez lançando-o numa caçada de vingança sem muita enrolação, a narrativa mostra-se tão louca e desvairada quanto a do primeiro filme. Machete prossegue com suas execuções, munido de lâminas gigantescas e dilacerando corpos como se fossem de papel, tornando-se um herói ainda mais imune a dor e coisas letais e uma figura imortal enquanto tiver uma missão.

    A abertura com um toque de psicodelismo e silhuetas femininas lembra as sessões de matinê, além de remeter obviamente aos preâmbulos de 007. O herói é obviamente um super agente à maneira mexicana. Nesse mundo exagerado, o presidente americano não poderia ser Obama, mas sim um branquelo, farpador, beberrão e drogado. Carlos Estevez o interpreta muito bem, especialmente quando narra o esdrúxulo plano contra o vilão latino: o discurso contém meia dúzia de frases de efeito, mas ainda assim sensibiliza o paladino xicano.

    O sorriso do Senador John McLaughlin no final do primeiro episódio é justificado. O elevado muro que planejou foi enfim construído, o que ocasionou um aumento substancial da violência nas ruas mexicanas, aumentando o poder dos cartéis. Mendez (Demian Bichir) é um justiceiro/soberano com desvios de comportamento e múltiplas personalidades, que, apesar de seus atos inconsequentes, busca uma alternativa justa para o seu país. O passado do personagem esconde motivações parecidas com as de Machete. Rodriguez usa toda a bagunça visual e os clichês de action movies para mostrar uma triste situação com sua pátria-mãe, e eleva ainda mais o herói mexicano em detrimento dos americanos motherfuckers. A crítica política aos americanos não envolve somente o menosprezo dos estadunidenses perante os mexicanos, contempla também a paranoia de não mais existir nenhum opositor demoníaco desde Bin Laden.

    O desenvolvimento da trama é qualquer coisa. Ao fazer um paralelo com Jack Bauer e 24 Horas, inverte o lado da paranoia terrorista de forma jocosa. Rodriguez não tem receio de abandonar as ideias do primeiro filme e mudar o gênero. Como é prazeroso reassistir Mel Gibson em um papel canastrão por essência, sem que este esteja produzindo/dirigindo um filme. Luther Voz tem o cinismo do Doctor Evil, os olhares e carisma de Martin Riggs, e claro, protagoniza cenas homenageando seus filmes, inclusive dirigindo um carro enferrujado com close nos olhos, à la Road Warrior.

    O ambiente, supostamente hermético onde há a batalha final, é tosco, assim como as produções sci-fi dos anos 50/60. As lutas referenciam Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, Era Uma Vez no México, Kill Bill e até Império Contra-Ataca. Rodriguez põe pra fora todo o seu lado nerd e não se preocupa em ser taxado de presunçoso, em razão de toda a jocosidade do roteiro.

    O fim abre uma brecha enorme para o 3° episódio, uma Space Opera, e é absolutamente condizente com o resto do filme. Apesar do subtexto ser bem menos contestador, Machete Kills cumpre perfeitamente a função de ser uma anedota de um action movie exploitation, com latinos mordedores e clichês milMachete Mata é, sem dúvida, um dos melhores exemplares de ação do ano. Detalhes para todo o carisma de Danny Trejo, para o trailer no começo da exibição e para as cenas pós-créditos com pouco sentido.

  • Crítica | Machete

    Crítica | Machete

    machete poster

    O Projeto Grindhouse de Tarantino/Rodriguez não foi um sucesso de público, mas conseguiu alavancar a feitura de um filme derivado de um de seus trailers fakes, que eram exibidos entre os episódios. Este Machete é um pastiche por completo, a começar pelo seu protagonista, o sexagenário e coadjuvante de inúmeros filmes de brucutu – e colaborador de quase toda a filmografia de Robert RodriguezDanny Trejo, numa clara alusão humorística aos heróis de ação e claro, com uma violência exageradíssima e repleta de testosterona.

    O personagem principal é resignado, aparenta querer ser deixado em paz, escondendo dentro de si uma incômoda espera a um novo chamado à ventura – a oportunidade de retornar ao seu estado normal e à natureza de seus atos violentos. Seu código ético é incorruptível, busca justiça acima de tudo, mas não é seduzido pelo moralismo estúpido, e tem na vingança – por sua esposa morta – a grande motivação da sua vida. Mais clichê impossível, mas ainda assim, é bastante ousado.

    Há uma discussão óbvia sobre o tratamento dado pelos americanos aos imigrantes ilegais, usando-se de arquétipos absurdamente caricatos e maniqueístas, mas que escancara através do absurdo idealizado uma realidade dura e cruel. O estrangeiro é demonizado, comparado a inimigos do Estado como Saddam Hussein, e são até alcunhados como terroristas pelos antagonistas do herói da jornada.

    Mas é obvio que quem assiste Machete procura a plasticidade das mortes que Rodriguez sabe registrar como ninguém, e isso ocorre das mais variadas maneiras e formatos. Machete está acostumado a ser sabotado e sua recuperação dos ferimentos é praticamente automática, ele fica invisível debaixo de uma maca de enfermaria, o que faz crer que ele possua superpoderes. A cena do rapel de tripas tornou-se um clássico instantâneo na época e produz a mesma hilaridade hoje. As outras gags de humor também são muito bem feitas – o comercial de Osiris Amanpour (Tom Savini) são demais, aliás o personagem some da tela do nada, sem nenhuma preocupação com explicação. Há baseados mexicanos gigantes da espessura de charutos cubanos, as propagandas eleitorais do senador McLaughlin (De Niro), exaltando seu combate aos chicanos, comparando-os a pragas, o retorno com os personagens de Planeta Terror (o Doutor Felix e as gêmeas Electra e Elisa Avellan), os capangas arrependidos, com um discurso pró-imigrantes, os cortes rápidos em uma cena de Jessica Alba falando ao telefone imóvel, mas com a câmera mudando o ângulo a todo o momento, sem nenhum bom motivo aparente – tudo é pretexto para fazer piada, não dá para levar a sério um filme em momento nenhum.

    O personagem de Jeff Fahey, Michael Booth, conta todos os detalhes dos seu planos, tem uma boca aberta conveniente especialmente quando está sendo filmado, fato que também é muito engraçado. A batalha final é uma farofada enorme, tem de tudo, gente com carrinho de sorvete, ambulância assassina, escrotos se redimindo e voltando-se “para o bem”, ataque aéreo de moto. Até o desfecho épico para o personagem de Steven Seagal é perfeito, pois resume a sua carreira de “sujeito invencível e intransponível”, sendo somente ele um adversário a altura de seu próprio desafio, mas que sucumbe diante do que é justo.

    Atrás de toda essa capa de filme B, trash e de baixo custo com orçamento milionário, há um conteúdo forte de contestação. She de Michelle Rodriguez é um dos poucos personagens que se permitem ter um background decente. Suas motivações são nobres e óbvias, o que reforça ainda mais a escolha do roteiro por arquétipos prontos, montados para passar a ideia central. Ela veste a máscara de mentor e é um dos motivos de Machete reacender em si a vontade de agir a favor da justiça. Rodriguez – junto com Ethan Maniquis, também editor de Planeta Terror – traz um exemplar competente de exploitation e com uma temática presente em muitos dos seus filmes, a ode ao seu povo nativo e a valorização do imigrante ao território americano, em especial os mexicanos.

  • Agenda Cultural 24 | Ano Novo. Tudo Igual.

    Agenda Cultural 24 | Ano Novo. Tudo Igual.

    Bem Vindos à bordo. Edição especial do Agenda com uma seleção de diversos convidados de 2010! Além dos costumeiros Flávio VieiraAmilton Brandão e Mario Abbade, juntam-se ao bate-papo os colaboradores frequentes do blog, André (Kirano) e Levi Pedroso, além de vários convidados que participam em cada bloco do programa, tornando este primeiro episódio do ano um meretrício só deveras especial.

    Duração: 125 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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  • Crítica | Machete

    Crítica | Machete

    machete

    E Robert Rodriguez está de volta com seu cinema mexicano e trash. Após muito medo por parte das distribuidoras, que adiou a data de estréia umas 3 vezes, FINALMENTE Machete chega aos cinemas brasileiros. Com El Gigante Danny Trejo como Machete, policial federal mexicano incorruptível que prefere usar facas (machete) e grande elenco, entre eles, Robert De Niro interpretando um político corrupto e Steven Seagal como um traficante de drogas de cartel que usa espadas… Nada poderia ter uma premissa tão épica.

    O filme começa em estilo impactante mostrando a que veio em sua primeira grande cena. Machete e seu parceiro estão em seu carro indo resgatar uma jovem que foi presa por traficantes, enquanto isso, seu chefe os manda não fazerem nada, e é claro, é completamente ignorado. Machete entra com carro e tudo na casa do traficante e seu parceiro já morre aí. Os próximos minutos são recheados de facadas e cabeças voando até o momento em que o protagonista é pego na armadilha e sua família é morta.

    Não é um roteiro original, passa longe de ser um dos melhores roteiros que você verá por aí, mas não se vai ao cinema ver um filme do Rodriguez, principalmente se tratando de Machete, esperando algo grandioso. Machete é um filme trash e se assume como tal, não poupa esforços para fazer com que o expectador não se esqueça disso. Os clichês estão inseridos nas cenas, diálogos, personagens; TUDO vai às raízes do trash e torna o filme extremamente divertido. Jéssica Alba como policial latina da imigração e Lindsay Lohan como a filha drogada de um traficante são provas das piadas que esse filme pode contar.

    Bom, as atuações não são excelentes, não há nada de incomum ali, exceto alguns poucos exemplos, como do De Niro fora do piloto automático, por exemplo. Já Michele Rodriguez faz a machona de sempre, Danny Trejo não sai muito de suas caras e bocas tradicionais, Jeffrey Frahey (a.k.a Frank Lapidus) também não sai de seu personagem.

    Porém, o filme exagera em determinados momentos. Certas cenas perdem o propósito e soam forçadas até para os filmes do Rodriguez, parecem ter sido postas ali apenas por parecerem legais e acabam não sendo. Além dos efeitos parecerem MUITO falsos em determinados momentos, o que pode ter sido feito propositalmente para que não esqueçamos de quão trash o filme quer mostrar ser.

    No final Machete é um filme de Robert Rodriguez, que vem repetindo a fórmula filme após filme. O que não o torna menos divertido, ele paga cada centavo que você gasta com nossos caros cinemas em diversão. E se você sair do filme reclamando dele, você não é um macho de verdade. No mais Machete don’t text.

    Texto de autoria de André Kirano.