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  • Crítica | Um Dia de Chuva em Nova York

    Crítica | Um Dia de Chuva em Nova York

    Um Dia de Chuva em Nova York começa com os tradicionais letreiros dos filmes de  Woody Allen,  e logo após os créditos, mostra aulas em um campus de faculdade, onde Gatsby de Timothée Chalamet estuda e narra sua própria historia, em primeira pessoa. Ao longo dos pouco mais de noventa minutos, o que se vê é uma mini odisseia, onde ele e sua namorada Ashleigh (Elle Fanning) tem programado um final de semana romântico em Nova York, e quase nada sai como ele planejou.

    Como é de se esperar, Allen coloca alguns personagens como versões de si mesmo, e isso se vê não só no jovem apaixonado por Nova York que Chalamet vive, mas também em outros avatares, e esses outros aparecem depois, quando sua amada Ash resolve aceitar um trabalho em Manhattan, enquanto os dois deveriam ter seus momentos de intimidade.

    A narração de Gatsby é um bocado invasiva, mas também dá o tom de como ele vive e funciona, mostra também suas fragilidades emocionais, carências e defeitos de auto estima.  A historia é repleta de flertes que  por sua vez são muito verborrágicos. As discussões sobre sexo, traições e frescuras casa bem com todas as polêmicas envolvendo a imposição do sexo como forma de subir no showbussines.

    Rollard, o diretor vivido por Liev Schreiber não demora a aparecer, e seus defeitos e inseguranças com o filme que está sendo rodado o tornam um ser atraente a jovem Ashley. É incrível como esse roteiro conversa bem com parte da biografia de Allen, mas não no mal sentido, de certa forma, os personagens centrais mostram uma faceta de seu realizador, em algum ponto de seus mais de cinquenta anos de carreira. Apesar desse advento de vaidade extrema, como sua historia é simples e cheia de personagens jovens e carismáticos, beira o impossível não ter simpatia por cada um dos enlaces e romances apresentados no filme, desta obra que quase não conseguiu ver a luz do dia graças ao resgate da polêmica envolvendo a acusação de sua ex-mulher e filha adotiva.

    Fanning interpreta uma personagem soberba, Ash é apaixonante, não só pela beleza física de sua interprete, mas também pela curiosidade em entender os meandros do cinema de pessoas, além disso, Um Dia de Chuva em Nova York trabalha demais a melancolia do pseudo traído, mas sem deixar de ser leve na abordagem dramática.

  • Crítica | Crimes e Pecados

    Crítica | Crimes e Pecados

    A maneira como pequenos fatos podem tomar grandes proporções, afetarem terceiras pessoas ou simplesmente se perderem entre as casualidades da vida são o ponto de partida de uma ideia que viria a acompanhar toda a obra de Woody Allen.

    Talvez Crimes e Pecados não seja o filme mais cultuado da extensa filmografia de Woody Allen, mas sem dúvidas é um dos mais importantes. Sua trama central viria a servir como pilar para algumas outras tramas do diretor: Os Trapaceiros, Match Point e Homem Irracional, por exemplo.

    Nele, Martin Landau apresenta Judah Rosenthal, um oftalmologista bem sucedido, casado com uma filha já educada. Judah se enxerga como um homem de moral irreparável,mas há um porém…  Ele tem uma amante, Dolores. Para ela, essa relação já não se sustenta e não se conforma mais com a situação. Ou Judah deixa sua família para ficar com ela, ou Dolores conta tudo sobre sua relação para a esposa do doutor. É quando então seu Jack, irmão de Judah que mantém vínculos criminosos, oferece uma solução alternativa (e final) para seu imbróglio familiar.

    Como grande maioria dos roteiros escritos por Woody Allen, Crimes e Pecados dispõe de uma extensa árvore genealógica da arte, sendo Crime e Castigo, o livro quase homônimo de Fiodor Dostoiévski, sua principal referência. A partir do momento em que o crime é consumado, a culpa pesa sobre o protagonista que passa a refletir sobre sua vida, criação e a situação confortável e ao mesmo tempo hipócrita que vivia.

    Embora o filme aconteça em duas vias distintas, a história principal do filme é a de Martin Landau: o crime, a culpa e a moralidade entorno do protagonista; enquanto a história de Cliff, o documentarista vivido pelo próprio Woody existe para empregar mais valor aos temas propostos. Isso é feito de maneira bastante assertiva,pois assim também trata dos desdobramentos do amor e da vida de aparências da alta sociedade, que entram em discussão em sua narrativa primária. A culpa de Judah é evocada em abstrações que vão desde conversas imaginárias com um de seus pacientes, que é um rabino, até flashbacks lúcidos que trazem o passado para sua frente. Judah e Cliff traçam histórias diferentes que constroem a ideia que será discorrida no último diálogo do filme, numa espécie de touché que parte do autor.

    Antes de ser um filme sobre um crime, este ainda é um filme de Woody Allen. Então mesmo com um assassinato na trama, o foco do diretor está em pontos subjetivos, em explorar da melhor maneira possível os personagens dentro daquele universo e como eles lidam com as questões morais propostas. Sendo assim, o crime não é mostrado. É revelado pela história com apenas um telefonema.

    Crimes e Pecados é uma das obras mais sombrias dentre todas as de Woody Allen – junto de Interiores, Setembro e A Outra, onde o diretor também se encontra em grande forma filosófica.O monólogo do final do filme, proferido por Cliff é curto e grosso:a ordem natural universo é o caos.Mesmo aqueles que praticam o mal podem acabar recompensados perante a desordem total da vida – onde alguns privilegiados detém maior controle de sua rotina que outros. Sendo assim então, a culpa é uma escolha e é possível sim conviver com ela de alma leve e sono saudável.

    Texto de Gabriel Caetano.

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  • Os Maiores Indicados ao Oscar de Melhor Direção

    Os Maiores Indicados ao Oscar de Melhor Direção

    Todo ano, desde 1929, a Academia seleciona o melhor diretor em uma lista de cinco indicados. O prêmio mais desejado da indústria do Cinema dá direito ao vencedor de receber a cobiçada estatueta e de fazer um breve discurso — quase sempre interrompido por uma música indesejada. Contudo, o objetivo deste artigo não é de celebrarmos os grandes vencedores da premiação, mas relembrarmos os cineastas que mais vezes foram indicados ao longo de toda a história da Academia. Para não tornar a lista extensa demais, fizemos um recorte de diretores com um número de no mínimo 6 indicações.

    8. Frank Capra (1897 – 1991)

    Francesco Rosario Capra nasceu em 18 de maio de 1897, em Bisacquino, na Sicília, Itália. Mudou-se para os Estados Unidos ainda criança, com os pais e mais seis irmãos, vindo a se instalar numa comunidade italiana em Los Angeles. Capra trabalhou desde muito jovem, formando-se no California Institute of Technology com diploma de engenharia química. Alistou-se no exército do EUA, servindo como segundo-tenente durante o último ano do conflito, mas voltou para casa após contrair gripe espanhola. Com a morte do pai, Capra passou os anos seguintes sem emprego fixo. Durante essa época se tornou cidadão americano, assumindo o nome de Frank Russell Capra.

    O interesse por Capra pelo cinema se deu durante os anos 1920, quando trabalhou em pequenos estúdios, como assistente de câmera, edição, escritor, assistente de direção, entre outras atividades. Acabou contratado pela Columbia Pictures para produzir novos longas-metragens e competir com os principais estúdios da época. Inovador, rapidamente Capra se adaptou para o “cinema falado” e toda nova tecnologia do som, enquanto grandes nomes da indústria lutavam para realizar essa transição.

    Na década de 1930, Capra já havia abandonado os filmes B e era considerado como um dos diretores mais influentes de sua época, entregando comédias escapistas e inovadoras. Nessa época, diversos sucessos vieram à luz e muitas de suas estruturas cênicas são utilizadas até os dias de hoje. Aconteceu Naquela Noite (1934) se torna um marco para o diretor, que em sua segunda indicação como diretor já se torna um dos premiados. Capra repete o fato bienalmente, com O Galante Mr. Deeds (1936) e Do Mundo Nada se Leva (1938).

    Com o advento da Segunda Guerra Mundial, Capra novamente se alista. Suas contribuições no conflito se dão em forma de uma série de documentários informativos aos soldados. Com o fim da Guerra, faz um de seus maiores filmes: A Felicidade Não Se Compra, uma mensagem de esperança após o horror vivido. Com as mudanças da indústria e do gosto do público, o cineasta abandona Hollywood em 1952, retornando para dirigir seus últimos três filmes entre 1959 e 1964. Falece em 1991, passando seus últimos anos se dedicando à ciência. Capra recebeu 5 indicações ao Oscar, sendo premiado em 3 delas, apenas na década de 1930. Sua última indicação ocorreu pelo clássico já mencionado, A Felicidade Não Se Compra, de 1946.

    Indicações: 6
    Dama por um Dia (1933), Aconteceu Naquela Noite (1934), O Galante Mr. Deeds (1936), Do Mundo Nada se Leva (1938), A Mulher Faz o Homem (1939) e A Felicidade Não Se Compra (1946).

    Premiações: 3
    Aconteceu Naquela Noite (1934), O Galante Mr. Deeds (1936) e Do Mundo Nada se Leva (1938).

    7. Woody Allen (1935 – )

    Nova iorquino nascido no Brooklyn, em 1 de dezembro de 1935, Allen Stewart Konigsberg mudou seu nome para Heywood Allen quando tinha 17 anos, e posteriormente, Woody Allen. Vindo de uma família judia de classe média, Allen começou a escrever monólogos e fazer comédia stand-up ainda adolescente. Seu pai trabalhou com diversas profissões, de vendedor a barman, motorista de táxi a joalheiro, entre diversas outras. Essa rotina de certo modo influenciou o modo de Allen ver o mundo laboral, saltando de um projeto sempre que o aborrecesse. Sua relação com a mãe se dava de maneira agressiva, com constantes discussões e castigos físicos.

    Em 1953, Allen frequenta a New York University, mas falha miseravelmente em adquirir o diploma de produção cinematográfica. Abandonando os estudos, rapidamente consegue um trabalho de roteirista para a TV, incluindo no popular programa Your Show of Shows, que lhe rendeu uma indicação ao Emmy. Mas rapidamente Allen se entedia e retorna ao stand-up, tornando-se popular num clube de comédia de Nova York.

    No entanto, apenas no meio da década de 1960 que o diretor começa a destacar nos cinemas. Sua estreia como diretor ocorreu apenas em 1966 com com O Que Há, Tigresa?. Contudo, alcançou um novo patamar apenas em 1977 com Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, estrelado pelo diretor e Diane Keaton, com quem Allen se envolveu de maneira romântica. O filme ganhou quatro prêmios da Academia, inclusive de melhor fotografia, melhor direção e melhor roteiro. No ano seguinte foi novamente indicado ao Oscar de melhor direção por Interiores.

    Na década seguinte foi indicado por 3 vezes, pelos maravilhosos Broadway Danny Rose (1984), Hannah e suas Irmãs (1986) e Crimes e Pecados (1989). Em 1994, Tiros na Broadway, com John Cusack e Dianne Wiest, foi indicado em diversas categorias, rendendo um Oscar para Wiest. Ao longo dos anos 90, infelizmente, o nome do diretor esteve mais relacionado aos tabloides de fofoca do que pelo conteúdo de seus filmes, por conta do casamento controverso com a filha adotiva de sua ex-namorada, Mia Farrow.

    Nos anos 2000, Allen fez grandes filmes, vindo a ser indicado algumas vezes por roteiro original, sendo hoje o roteirista que mais vezes foi indicado: dezesseis indicações. Apenas em 2011, a academia o indicou novamente pelo lindo trabalho em Meia-Noite em Paris. O cineasta é “um dos grandes tesouros de Hollywood”, como dito pelo saudoso crítico de cinema Roger Ebert. Dono de um texto ácido, divertido e crítico, Allen tem uma produção por trás das câmeras de mais de 50 longas-metragem.

    Com o advento dos escândalos envolvendo o nome do produtor Harvey Weinstein, Allen se viu mais uma vez envolto em acusações e uma série de boicotes. Em 2014, Dylan Farrow, filha da atriz Mia Farrow escreveu uma carta onde detalha ter sido abusada sexualmente quando tinha sete anos de idade. O caso foi judicializado anos atrás, e o diretor foi absolvido das acusações.

    Indicações: 7
    Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), Interiores (1978), Broadway Danny Rose (1984), Hannah e suas Irmãs (1986), Crimes e Pecados (1989), Tiros na Broadway (1994) e Meia-Noite em Paris (2011).

    Premiações: 1
    Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977).

    6. Fred Zinnemann (1907 – 1997)

    Natural de Viena, Fred Zinnemann começou no universo cinematográfico como assistente de câmera em Paris e Berlim antes de imigrar para Hollywood em 1929. Começou dirigindo curtas na MGM em 1937 e, em poucos anos, tornou-se diretor, realizando grandes filmes como A Sétima Cruz (1944) e Meu Irmão Fala com Cavalos (1947). O trabalho inovador de Zinnemann se deu em Ato de Violência (1949), um forte filme noir sobre os sentimentos de culpa de um ex-prisioneiro de guerra. Anos mais tarde, mudou completamente o tom, dirigindo uma emocionante versão cinematográfica do musical da Broadway, Oklahoma! (1955).

    As escolhas de elenco de Zinnemann eram muitas vezes tão ousadas quanto perigosas. Em sua adaptação da peça Cruel Desengano (1952), o diretor escolheu a atriz Julie Harris, de 26 anos, para interpretar a protagonista do filme, uma personagem de 12 anos. A ousadia rendeu a Harris uma indicação ao Oscar. Em A Um Passo da Eternidade (1953), que trouxe o primeiro Oscar para o diretor, ele lançou Frank Sinatra, que estava no ponto mais baixo de sua popularidade. Como o loser Maggio, Sinatra ganhou um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Audrey Hepburn, anteriormente lançada em deliciosos papéis cômicos, deu o desempenho de sua carreira como a angustiada Irmã Luke no altamente aclamado Uma Cruz à Beira do Abismo (1959).

    Ao longo de sua carreira, Zinnemann preferiu protagonistas moralmente impulsionados a agir heroicamente em defesa de suas crenças. Hepburn no já citado Uma Cruz à Beira do Abismo e Gary Cooper em Matar ou Morrer (1952), decididos a enfrentar os ultrajantes selvagens com fome de vingança, são dois exemplos proeminentes. Paul Scofield como Sir Thomas More em O Homem Que Não Vendeu Sua Alma (1966), que trouxe o segundo Oscar de direção ao cineasta, deu um retrato brilhante de um homem impulsionado pela consciência para seu destino final.

    Zinnemann foi um diretor que abraçou todos os gêneros, fazendo incursões no cinema noir, melodrama e musicais, sabendo retirar de seu elenco grandes atuações, e claro, fazendo de seu trabalho um cinema de grandes temas e difíceis lições, compromissado com a razão e a autenticidade.

    Indicações: 7
    Perdidos na Tormenta (1948), Matar ou Morrer (1952), A Um Passo da Eternidade (1953), Uma Cruz à Beira do Abismo (1959), Peregrino da Esperança (1960), O Homem Que Não Vendeu Sua Alma (1966) e Júlia (1977).

    Premiações: 2
    A Um Passo da Eternidade (1953) e O Homem Que Não Vendeu Sua Alma (1966).

    5. Steven Spielberg (1946 – )

    Nascido em 18 de dezembro de 1946 em Cincinnati, Ohio, Steven Spielberg, assim como muitos diretores de hoje, começou a experimentar o cinema no início de sua vida. Na adolescência, o cineasta fez filmes exibidos somente a sua família. Filho dos Judeus Leah Posner Spielberg Adler, restauradora e pianista de concerto, e Arnold Spielberg, um engenheiro eletricista envolvido no desenvolvimento de computadores, o casal se separaria poucos anos após seu nascimento. Por conta de sua origem judia, sofria preconceito, muitas vezes dos próprios vizinhos.

    Sendo o irmão mais velho de três irmãs, Spielberg usava-as costumeiramente como cobaias em seus filmes caseiros. Aos 13 anos de idade, venceu seu primeiro concurso de curta-metragem com o filme Fuga do Inferno. No mesmo ano, 1963, fez sua estreia profissional com o curta-metragem Amblin’ que conta a história de um casal de jovens que se encontram no deserto de Mojave. O curta tinha duração de 24 minutos, foi exibido no Festival de Filmes de Atlanta e foi premiado em festivais importantes como o de Veneza.

    Apesar do início promissor, Spielberg não conseguiu cursar cinema na University of Southern California, e terminou por cursar literatura inglesa em outra escola. Depois de dirigir alguns programas de TV e curtas, Spielberg finalmente criou seu primeiro longa-metragem profissional Sugarland Express em 1974. Embora o filme não tenha sido um sucesso na bilheteria, o cineasta foi visto como uma estrela potencial por muitos críticos e executivos da indústria. No ano seguinte, no entanto, Tubarão (1975) lançaria Spielberg ao estrelato. Com um orçamento de US$ 8 milhões e que arrecadou uma incrível soma de US$ 191 milhões no ano de seu lançamento.

    Após Tubarão, o próximo filme de Spielberg foi uma ficção científica, Encontros Imediatos de Terceiro Grau (1977), obtendo 6 indicações ao Oscar, incluindo o de Melhor Diretor. Em 1981, foi indicado novamente por Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981), e no ano seguinte, com outro filme de ficção científica, ET – O Extraterrestre (1982). Apenas em 1993, com A Lista de Schindler, Spielberg recebeu seu primeiro Oscar de Melhor Diretor. O filme tinha como personagem central Oskar Schindler (Liam Neeson), um industrial alemão que ajudou a salvar mais de 1.000 judeus durante o Holocausto.

    Em 1999, foi premiado novamente por O Resgate do Soldado Ryan (1999), que lhe rendeu mais 5 Prêmios da Academia. O cineasta continua fazendo filmes bem-sucedidos e segue observado de perto pela Academia, sendo hoje um dos maiores diretores da indústria cinematográfica.

    Indicações: 7
    Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), Os Caçadores da Arca Perdida (1981), E.T. – O Extraterrestre (1982), A Lista de Schindler (1993), O Resgate do Soldado Ryan (1998), Munique (2005) e Lincoln (2012).

    Premiações: 2
    A Lista de Schindler (1993) e O Resgate do Soldado Ryan (1998).

    4. David Lean (1908 – 1991)

    De origem inglesa — mais precisamente em Croydon, Surrey —, e nascido em 25 de março de 1908, David Lean foi educado na rígida Leighton Park School. Contudo, sem obter grandes méritos, abandonou os estudos e foi trabalhar com o seu pai no ofício de contador. Não durou muito na profissão, que achou simplesmente insuportável e em 1927, aos 19 anos, candidatou-se a um emprego nos estúdios Gainsborough, sendo contratado sem salário e por um período de experiência como continuísta, ficando responsável pela claquete. Posteriormente, exerceu sucessivamente as funções de assistente de câmera e terceiro assistente de direção. Desse modo, Lean mergulhou de cabeça no universo cinematográfico, com atenção especial ao trabalho realizado na sala de montagem, com o chefe do departamento, Merrill White, que havia sido montador de Ernst Lubitsch em Hollywood. Sua reputação subiu ainda mais em 1938, quando trabalhou como montador no clássico Pigmaleão, de Anthony Asquith e Leslie Howard, baseado na peça de Bernard Shaw. Um ano depois, esteve de novo com Asquith em Caçadora de Corações, adaptação da comédia de Terence Rattigan, e, subsequentemente, montou importantes filmes britânicos dos anos 40 como Espionagem de Guerra (1940), Major Barbara (1941), Invasão de Bárbaros (1942)e E… um Avião não Regressou (1942).

    Com a rápida projeção como editor, Lean recebeu várias propostas para dirigir filmes de qualidade duvidosa, porém acabou rejeitando-as, temendo que a participação em filmes B viessem a prejudicar sua carreira. A oportunidade de dirigir surgiu quando o produtor criativo Filippe Del Giudice, persuadiu o consagrado escritor Noel Coward a realizar um filme para a sua companhia, Two Cities. Assim surgiu Nosso Barco, Nossa Alma (1942). Lean co-dirigiu o filme com Coward e a parceria se estendeu na adaptação de mais três peças do escritor: Este Povo Alegre (1942), Uma Mulher do Outro Mundo (1945) e o delicado Desencanto (1945), que lhe rendeu três indicações ao Oscar, inclusive na categoria de Melhor Direção. O grande autor inglês Charles Dickens foi a próxima fonte de inspiração para o diretor, que realizou dois clássicos absolutos dos anos 1940 Grandes Esperanças (1946) — indicado a 5 Oscars, inclusive direção — e Oliver Twist (1948).

    No final dos anos 1950 e começo de 1960, Lean se tornou um dos diretores mais consagrados, entregando superproduções bem-sucedidas e icônicas do cinema, como A Ponte do Rio Kwai (1957), que lhe valeu o primeiro Oscar de direção; Lawrence da Arábia (1962), o segundo Oscar da categoria; e Doutor Jivago (1965), pelo qual foi novamente indicado ao prêmio. Em 1970, dirigiu o fracasso de público e crítica A Filha de Ryan, e decidiu se afastar do cinema, retornando mais de dez anos depois para dirigir aquele que seria seu último trabalho, Passagem Para a Índia (1983), indicado a 11 prêmios — inclusive direção e melhor filme — e conquistando dois deles: Peggy Ashcroft venceu o Oscar de melhor atriz coadjuvante e Maurice Jarre conquistou seu terceiro prêmio de melhor trilha sonora.

    David Lean recebeu, em 1984, o título de Cavaleiro do Império Britânico e faleceu no dia 16 de Abril de 1991, em Londres, pouco tempo antes de começar as filmagens de Nostromo, filme que seria baseado na obra homônima de Joseph Conrad. Lean é citado como referência e principal influência de grandes cineastas como Steven Spielberg e Martin Scorsese.

    Indicações: 7
    Desencanto (1945), Grandes Esperanças (1946), Quando o Coração Floresce (1955), A Ponte do Rio Kwai (1957), Lawrence da Arábia (1962), Doutor Jivago (1965) e Passagem para a Índia (1984).

    Premiações: 2
    A Ponte do Rio Kwai (1957) e Lawrence da Arábia (1962).

    3. Martin Scorsese (1942 – )

    Nascido em 17 de novembro de 1942, em Nova York, EUA, Martin Scorsese é conhecido por seu estilo de cinema meticuloso, além de ser considerado um dos diretores mais importantes de todos os tempos. A paixão de Scorsese pelos filmes começou ainda bem jovem, quando dividia seu tempo entre a comunidade siciliana no distrito de Little Italy em Manhattan, a devoção católica e a obsessão pelo cinema. Essa paixão pelo cinema teve relação com uma forte asma que afligia o diretor. E com uma certa limitação para realizar atividades físicas, passou a maior parte de seu tempo livre na frente da televisão ou no cinema do bairro. Aos 8 anos de idade, já criava seus próprios storyboards. Criado como um católico praticante, durante a juventude cogitou entrar para o sacerdócio, no entanto, a ideia foi deixada de lado ao ganhar uma bolsa de estudos de US$ 500 para cursar cinema na New York University.

    Depois de formado, Scorsese trabalhou brevemente lecionando como instrutor de cinema, tendo como seus alunos Jonathan Kaplan e Oliver Stone. Em 1968, completou seu primeiro longa-metragem, Quem Bate à Minha Porta?, primeira parceria do diretor com o ator Harvey Keitel e a montadora Thelma Schoonmaker. O longa foi indicado ao Festival Internacional de Cinema de Chicago. Em 1973, Scorsese dirigiu Caminhos Perigosos, seu primeiro filme a ser amplamente reconhecido como uma obra-prima. Revisitando personagens de “Quem Bate…”, o filme mostrou elementos que se tornaram marcas comerciais da filmagem de Scorsese: temas pesados, personagens antipáticos, religião, máfia, técnicas de câmera incomuns para o padrão da indústria e música contemporânea. O longa também introduziu uma nova e prolífica parceria na filmografia do diretor ao lado de Robert De Niro.

    Ao longo dos anos 1970 e 1980, Scorsese dirigiu filmes de grande impacto que ajudaram a definir uma geração de cinema. Sua graciosa obra-prima de 1976, Táxi Driver, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes e fixou o status de De Niro como uma lenda viva do cinema. Scorsese e De Niro, mais uma vez juntos, realizaram Touro Indomável (1980), considerado por muitos como um dos melhores filmes de todos os tempos. O longa foi marcado por ser a primeira indicação na Academia como melhor diretor — Táxi Driver foi indicado em Melhor filme, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Trilha Sonora; enquanto Alice Não Mora Mais Aqui (1974) foi indicada nas categorias de Melhor Roteiro Original e Melhor Atriz Coadjuvante e premiando Ellen Burstyn na categoria de Melhor Atriz. Em 1986 alcançou seu primeiro grande sucesso de bilheteria com A Cor do Dinheiro, com Paul Newman e Tom Cruise.

    Foi indicado novamente como melhor diretor no final dos anos 1980 pelo polêmico A Última Tentação de Cristo (1988), e dois anos depois pelo clássico Os Bons Companheiros (1990). Durante os anos 2000, Scorsese se revigorou com outra importante parceria, dessa vez com o ator Leonardo DiCaprio, com quem estrelou diversos papéis como protagonista e que o agradece profundamente por mostrar um outro caminho dentro de Hollywood. A Academia indicou-o novamente como diretor por Gangues de Nova York (2002) e O Aviador (2004), mas só recebeu o esperado Oscar de direção por Os Infiltrados, de 2006.

    Em 2011, o cineasta realizou seu primeiro filme 3D, a aventura fantástica sobre o cinema, A Invenção de Hugo Cabret. Embora não tenha sido um sucesso de bilheteria, mostrou ao público e crítica como utilizar um recurso que muitos ainda utilizam de maneira pífia. O longa conquistou 11 indicações ao Oscar, além de um Globo de Ouro para Melhor Diretor. Scorsese permanece trabalhando e é considerado um dos maiores nomes do cinema norte-americano.

    Indicações: 8
    Touro Indomável (1980), A Última Tentação de Cristo (1988), Os Bons Companheiros (1990), Gangues de Nova York (2002), O Aviador (2004), Os Infiltrados (2006), A Invenção de Hugo Cabret (2011) e O Lobo de Wall Street (2013)

    Premiações: 1
    Os Infiltrados (2006)

    2. Billy Wilder (1906 – 2002)

    Samuel Wilder, nasceu em 22 de junho de 1906, em Sucha Beskidzka, Polônia, em uma família de judeus, onde foi apelidado de Billie por sua mãe — ao chegar na América, se tornou Billy. Seus pais possuíam uma bem-sucedida loja de bolos em uma estação de trem de Sucha e tentaram, sem sucesso, persuadir seu filho a se juntar ao negócio familiar. Mas Billy Wilder optou por seguir a carreira de jornalista e se mudou para Berlim. Após trabalhar por um tempo como freelancer, o cineasta foi aceito em um tabloide e sua habilidade no ofício ajudou a desenvolver o interesse como roteirista, uma vez que havia se tornado um amante da sétima arte. Durante os anos 1930, Wilder colaborou com alguns roteiros ainda na Alemanha.

    Com a ascensão do Partido Nazista, Wilder se muda para Paris e acaba realizando seu primeiro trabalho como diretor em Semente do Mal (1934). Antes do lançamento do filme, e com o crescimento da extrema-direita na Europa, Wilder se muda novamente, dessa vez para os EUA. A mãe, a avó e o padrasto do cineasta seriam assassinados no Holocausto anos depois.

    Já nos EUA, Wilder retoma sua carreira como roteirista, vindo a dirigir novamente apenas em A Incrível Suzana (1942). Seu filme seguinte, Cinco Covas no Egito (1943), que assina o roteiro em co-autoria com Charles Brackett — parceiro de Wilder em muitos filmes — , chamou a atenção da Academia, que acabou indicando o filmes para Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Montagem. Seu terceiro filme como diretor, Pacto de Sangue (1944) foi um grande sucesso. Um filme noir, indicado a 7 Oscar, incluindo Melhor Diretor e Roteiro. Co-escrito com o grande Raymond Chandler — o criador do detetive Philip Marlowe e ainda hoje um dos grandes nomes da literatura policial —, Pacto de Sangue não só estabeleceu convenções para o gênero noir (como a iluminação e a narração em off), mas também foi um marco na batalha contra a censura de Hollywood, uma vez que o adultério era um ponto central da trama mas que, no entanto, feria o Código Hays, um conjunto de regras de censura que tinha por objetivo subordinar as produções teatrais e de cinema dos EUA a padrões determinados por um grupo de instituições religiosas.

    Em 1946, Wilder ganhou o prêmio de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, além do ator Ray Milland ter recebido o prêmio de Melhor Ator, por Farrapo Humano (1945). O longa ainda foi indicado nas categorias de Melhor Fotografia, Montagem e Trilha Sonora. Cinco anos depois, Wilder é indicado em 11 categorias por Crepúsculo dos Deuses (1950) e venceu em Melhor Roteiro Original, Direção de Arte e Trilha Sonora. O longa retratava os bastidores de Hollywood, na figura de uma estrela de cinema reclusa e com delírios de grandeza, e de um aspirante a roteirista oportunista.

    No ano seguinte, o cineasta se uniu com Kirk Douglas e fez A Montanha dos Sete Abutres, um conto de exploração midiática sobre um acidente ocorrido em uma caverna no interior dos EUA. Na década de 1950, Wilder também dirigiu duas adaptações de peças da Broadway, o drama de guerra O Inferno Nº 17 (1953), que resultou em um Oscar de Melhor Ator para William Holden, e o romance de mistério escrito por Agatha Christie, Testemunha de Acusação (1957). Ainda nos anos 1950, Wilder fez grandes comédias como Sabrina (1954), indicado em Melhor Direção, Roteiro Adaptado, Fotografia, Direção de Arte, Atriz e vencedor na categoria de Melhor Figurino; O Pecado Mora ao Lado (1955), considerada pela American Film Institute como a melhor comédia americana já feita; e Amor na Tarde (1957), primeira colaboração de Wilder com o escritor-produtor I.A.L. Diamond, uma parceria que continuou até o final da carreira de ambos os homens.

    Se Meu Apartamento Falasse (1960) venceu como Melhor Filme, Direção, Roteiro Original, Direção de Arte e Montagem, além de ter sido indicado em mais cinco categorias, no entanto, a carreira de Wilder diminuí a partir de então, realizando filmes menores como Irma la Douce (1963) e Beija-me, Idiota (1964). Trabalhos como A Vida Íntima de Sherlock Holmes (1970) se tornou conhecido pelos diversos cortes realizados pelo estúdio e até hoje não foi totalmente restaurado. Filmes posteriores como Fedora (1978) e Amigos, Amigos, Negócios à Parte (1981) não conseguiram impressionar os críticos e não tiveram uma boa resposta de bilheteria. Já no fim de sua vida profissional, Wilder reclamou que estava sendo discriminado, devido à sua idade. Infelizmente, os estúdios não o contrataram novamente. Faleceu em 27 de março de 2002, aos 95 anos de idade, vítima de pneumonia após lutar contra diversos problemas de saúde, incluindo câncer. Nos dias de hoje, a filmografia segue sendo revista e resgatada por diretores, roteiristas e amantes do cinema.

    Indicações: 8
    Pacto de Sangue (1944), Farrapo Humano (1945), Crepúsculo dos Deuses (1950), O Inferno Nº 17 (1953), Sabrina (1954), Testemunha de Acusação (1957), Quanto Mais Quente Melhor (1959) e Se Meu Apartamento Falasse (1960).

    Premiações: 2
    Farrapo Humano (1945) e Se Meu Apartamento Falasse (1960).

    1. William Wyler (1902 – 1981)

    William Wyler tinha reputação como o artesão mais minucioso de Hollywood, um perfeccionista que exigia múltiplas tomadas para capturar as nuances de cada cena. Esses métodos tornaram-no o diretor que mais vezes foi indicado ao Oscar (doze para ele próprio como Melhor Diretor, além de diversas outras indicações), vindo a receber três prêmios na categoria citada, empatando em números com Frank Capra, e ficando atrás apenas de John Ford, que detém a incrível marca de 5 Oscars por direção.

    Nascido de uma família judaica em 1 de julho de 1902, em Mülhausen, Alemanha, desde muito cedo, sua mãe levava Wyler e o irmão mais velho para assistir concertos, ópera, teatro e o cinema ainda em fase embrionária. Às vezes, em casa, sua família e seus amigos organizavam teatros amadores para se divertirem. Sua reputação e mau comportamento levaram-no a ser expulso de diversas escolas. Com o advento da Primeira Guerra Mundial, a família acaba se mudando para Paris. Em virtude da situação financeiro, Wyler emigrou para os EUA ainda jovem, para trabalhar na Universal Pictures, em um emprego oferecido pelo primo de sua mãe, Carl Laemmle, que tinha o hábito de ir para a Europa anualmente, buscando jovens promissores para trabalhar na América.

    Por volta de 1923, Wyler chegou a Los Angeles e começou a trabalhar na Universal Pictures limpando e movendo os sets. A ruptura veio quando foi contratado como um segundo editor assistente. No entanto, Wyler frequentemente abandonava o trabalho para jogar bilhar do outro lado da rua ou organizar jogos de cartas durante o horário de trabalho, o que acarretou em sua demissão. Depois de alguns altos e baixos, Wyler foi recontratado e se concentrou em se tornar diretor. Começou como terceiro assistente de direção e, em 1925, torna-se diretor de filmes B. Em 1929 chama a atenção com o filme Os Três Padrinhos (1929), e pouco a pouco se torna uma referência dentro de Hollywood nos anos seguintes.

    Nos anos 1930, faz filmes seminais como O Conselheiro (1933); A Boa Fada (1935); Infâmia (1936); Fogo de Outono (1936), indicado em 6 categorias, incluindo Melhor Filme, Direção e Roteiro Adaptado; Meu Filho é Meu Rival (1936), co-dirigido com Howard Hawks e Richard Rosson; Beco Sem Saída (1937), indicado a quatro categorias, incluindo Melhor Filme; Jezebel (1938), vencedor do Oscar de Melhor Atriz para Bette Davis, e Atriz Coadjuvante para Fay Bainter; e O Morro dos Ventos Uivantes (1939), que lhe rendeu sua segunda indicação como Melhor Diretor.

    Wyler é indicado em mais dois momentos — A Carta (1940) e Pérfida (1941) — até receber seu primeiro Oscar em Rosa de Esperança, de 1942. O longa ganhou seis prêmios da Academia, tornando-se o melhor sucesso de bilheteria de 1942. Nessa mesma época, Wyler decide servir como oficial na Aeronáutica durante a Segunda Grande Guerra, realizando diversos documentários, incluindo The Fighting Lady (1944), vencedor do Oscar. Com o fim da guerra, fez um de seus maiores filmes, o antibélico Os Melhores Anos de Nossa Vida (1946), vencedor de 7 oscar, incluindo Melhor Direção.

    Durante os anos 1950 fez filmes magistrais como Tarde Demais (1949), indicado como Melhor Diretor; Chaga de Fogo (1951), novamente indicado como Melhor Diretor e com uma bela performance de Kirk Douglas; Perdição por Amor (1952); A Princesa e o Plebeu (1953), que tinha como roteirista Dalton Trumbo, mas que só foi creditado anos depois por constar na lista negra do Macartismo por ser um comunista declarado; Horas de Desespero (1955); Sublime Tentação (1956); e Da Terra Nascem os Homens (1958). Mas apenas em 1959 Wyler receberia seu último Oscar de diretor, no épico Ben-Hur, ganhador de mais 10 Oscar.

    Em 27 de julho de 1981, faleceu vítima de um ataque cardíaco, aos 79 anos de idade. Wyler até o fim de sua carreira entregou filmes inesquecíveis como Infâmia (1961); O Colecionador (1965); Funny Girl: A Garota Genial (1968); e A Libertação de Lord Byron Jones (1970). Seu trabalho e dedicação como diretor é lembrado por vários atores, desde Bette Davis a Charlton Heston, que sempre ressaltaram seu talento e criatividade, além de ser o diretor com maior número de performances de atores indicados ao Oscar do que qualquer outro na história. Sua técnica de profundidade de campo é utilizada, estudada e copiada ao longo de décadas por diversos diretores.

    Indicações: 12
    Fogo de Outono (1936), O Morro dos Ventos Uivantes (1939), A Carta (1940), Pérfida (1941), Rosa de Esperança (1942), Os Melhores Anos de Nossa Vida (1946), Tarde Demais (1949), Chaga de Fogo (1951), A Princesa e o Plebeu (1953), Sublime Tentação (1956), Ben-Hur (1959) e O Colecionador (1965).

    Premiações: 3
    Rosa de Esperança (1942), Os Melhores Anos de Nossa Vida (1946) e Ben-Hur (1959).

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  • Crítica | Roda Gigante

    Crítica | Roda Gigante

    A filmografia recente de Woody Allen, normalmente, tem oscilado em termos de qualidade, com longas não muito inspirados e outros absolutamente tocantes. Roda Gigante pertence a segunda classificação. Em uma trama simples, onde desenvolve uma história sobre o cotidiano de pessoas comuns, se valendo de muitos núcleos de personagens.

    Na trama, acompanhamos inicialmente a história de Carolina (Juno Temple) que serve como desenvolvimento do o caos em que vive a família comandada por seu pai, o turrão Humpty (Jim Belushi), sua madrasta Ginny (Kate Winslet) e seu irmão postiço, o pequeno Richie (Jack Gore).

    Não demora a se desenrolar a história de Ginny, que parece ser o que mais se aproxima de um protagonista usual, já que ela tem mais tempo de tela e seus dramas são os mais tangíveis. A história é narrada pelo salva-vidas e futuro dramaturgo Mickey, interpretado por Justin Timberlake, que diferente de suas últimas participações no cinema, se equivoca bastante em suas inserções na história, não pelos fatos em si, mas pela falta de naturalidade com que age, quase sempre acima das ações das personagens que o rodeiam. Talvez seja ele o avatar do diretor, ainda que esse não reúna o conjunto de semelhanças que Owen Wilson fez em Meia-Noite em Paris ou Larry David em Tudo Pode Dar Certo. Ginny vive seus dias de maneira monótona e tediosa, e não demora a tentar se aventurar por novos caminhos sexuais, fato que a faz reabrir velhas feridas.

    A história reúne elementos da Odisseia de Ulisses e da tragicomédia moderna, com eventos engraçados que se sobrepõem e uma quantidade cavalar de elementos cômicos simbólicos. O filho de Ginny, por exemplo, vive ateando fogo em tudo que pode. Seus atos intempestivos são pequenas demonstrações do desequilíbrio emocional que ronda todos os integrantes de sua família, é como se a casa humilde que se localiza dentro do parque de diversões onde Humpty trabalha fosse o epicentro da insanidade, atraindo para si pessoas cada vez mais loucas.

    O problema desse quadro que valoriza a loucura não passa muito além dos estereótipos. Humpty é o típico homem que fica violento ao beber, Carolina é inconsequente e aventureira, e Ginny que até aparenta ser mais complexa e bem trabalhada também se restringe ao seu arquétipo de mulher talentosa e frustrada viciada em remédios. Fora os momentos proporcionados pelas luzes e cenários em torno da tal roda gigante – que formam belas imagens, ainda mais quando enquadram Winslet e Temple – não há muito a se adjetivar positivamente em termos de construção de persona.

    Roda Gigante é uma historia cíclica e singela, que não busca ser alvo de discussões mais sérias e profundas. Sua ambição talvez more em tentar mostrar personagens destemperados, mas que no final das contas retornam todos para o status inicial, como uma roda gigante, para basicamente retomar a máxima de que esse é um retrato bonito porém sincero do que é a bucólica e enfadonha localidade de Connie Island.

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  • Review | Crisis in Six Scenes

    Review | Crisis in Six Scenes

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    Muitos cineastas de renome migraram para a televisão norte-americana nas últimas décadas quando esse meio passou a ser considerado tão ou mais inovador do que o cinema comercial. Com os novos sistemas de exibição e o boom dos portais de streaming, as formas de consumo de seriados de televisão se transformaram drasticamente, e foi nessa esteira de mercado que a Amazon, produtora de séries como Transparent, convidou o veterano cineasta Woody Allen a realizar sua primeira empreitada no formato.

    Crisis in Six Scenes se passa nos anos 1960 e segue o casal Sidney (interpretado pelo próprio diretor) e Kay Munsinger (Elaine May), enfocando os conflitos e transformações em suas vidas ocasionados pela visita inesperada de Lenny (Miley Cyrus), uma militante revolucionária de esquerda em fuga da polícia. A série se divide em 6 episódios de cerca de 23 minutos. Ao longo da narrativa, fica claro o profundo desconhecimento de Allen com relação ao modelo seriado: podemos afirmar que ele não só não domina essa linguagem, mas que possivelmente não construiu o hábito de assistir a séries, tamanha a inadequação do cineasta ao meio.

    Vemos um Woody Allen constrangido, de sequências despropositadamente longas, com piadas repetidas à exaustão (algumas delas claramente emprestadas dos seus filmes). O ritmo cômico, que o diretor domina tão bem no cinema, é aqui vacilante e inseguro e por vezes tem-se a impressão de estar diante de um sitcom envelhecido prematuramente, de um modelo de comédia situacional perdido nos anos 1950/60, com piadas sublinhadas ad infinitum e diálogos repetitivos.

    Por outro lado, a estrutura dos episódios é extremamente frágil: não se trata de células narrativas coesas, mas de um longa-metragem que parece ter sido mal cortado em pedaços, fato bastante repetido (e com razão) pela crítica norte-americana no lançamento da obra. Se Allen tenta criar ganchos entre os episódios, eles são fracos e esquemáticos, de forma que o diretor fica perdido entre o formato seriado e o stand-alone (estrutura de muitos shows do passado, em que um episódio constitui uma unidade dramática fechada em si mesma), sem atender bem a nenhum deles.

    O charme alleniano se mantém, aqui e ali, e para os fãs a série é capaz de prender o interesse, a despeito da questionável atuação de Cyrus como a militante arraigada que questiona os valores burgueses do casal. De fato, à parte o prazer sempre renovado de vermos Allen em cena ou algumas piadas acertadas (em especial nos episódios finais), Crisis in Six Scenes não se sustenta de forma alguma. Se o cineasta desejar retornar ao formato (o que parece improvável, a julgar por suas declarações com relação à experiência), vai precisar estudar melhor a linguagem televisiva contemporânea e (por que não?) tratá-la com um pouquinho mais de deferência.

    Texto de autoria de Maria Caú.

    https://www.youtube.com/watch?v=6KOsQMfEMXM

  • Crítica | Café Society

    Crítica | Café Society

    Cafe Society - poster

    Desde o início dos tempos uma capacidade e uma verdade vieram para separar o ser humano dos demais animais. A capacidade é o uso do polegar opositor, usado para apanhar e agarrar, nos permitindo produzir e manipular ferramentas e assim construir mundos. A verdade é a inexorabilidade do tempo, que traz consigo a presença constante da morte e irreversibilidade dos fatos, e assim saber que todos os mundos construídos, reais ou platônicos, uma hora verão seu fim. Será doloroso, haverá angústia, haverá rebelião, mas o tempo atropelará a todos.

    O filme inicia-se com uma declaração de estranheza e amor com a Hollywood de antes e de hoje, com seus egos inflados, vidas boêmias e casamentos de fachada, a Califórnia parece vir sempre com um filtro laranja fazendo de suas paisagens um paraíso tão brilhante quanto estéril, e por isso geratriz de tantas ficções. Desta forma o jovem Bobby (Jesse Eisenberg) muda-se de Nova York para a ensolarada California atrás de dias menos monótonos trabalhando para o seu tio (Steve Carrel), onde se apaixona por Vonnie (Kirsten Stwart).

    E é assim o tempo, compositor dos destinos e tambor dos ritmos.

    É natural pensar que com o passar dos anos Woody Allen tenha tido tempo para repensar sua vida e ações, mas aqui surge o filme onde ele é mais colocado de escanteio, permitindo-se análises mais cruas. Se não é incomum que ele se reinterprete como protagonista de suas histórias, ou que outros atores façam o papel de Woody Allen, aqui ele se coloca como um estereótipo intelectual que faz pouco mais do que um coadjuvante. Um cunhado comunista versado em filosofia, último na hierarquia familiar dos EUA.

    Poucos morrem de amor. Talvez ninguém. Uma hora melhora, e se não melhora é porque há mais do que a rejeição para ter de lidar. Muitos se apoiam na carreira, na ambição, no adorno de ter ao seu lado alguém que satisfaça suas necessidades pessoais e sociais. A parceria amorosa gera todo um ecossistema de vida ao redor, amigos se misturam, amigos são agregados e em algum momento as pessoas optam por substituir a pessoa antiga por outra que lhe sirva a este papel. Este ecossistema nos nutre e dá algum arcabouço para uma vida mais plena e satisfatória. Tão importante quanto o romance é a sua bagagem, e na vista de um amargurado a bagagem é mais importante que a pessoa em si. Nisso estabelece-se protocolos de “gostar” que nunca serão alcançados por uma pessoa real, e não importando mais quão boa a vida, esta será sempre frustrante. A vida é uma comédia roteirizada por um sádico.

    Mas o amor ingênuo, aquele quase impossível surge eventualmente como nota amarga do champanhe de final de ano. Um amor que nunca seria mais do que acabou sendo não deveria pautar vidas inteiras, mudanças de endereço, mudanças de comportamento e nem mesmo saudade. Mas o faz, e faz por percebermos que simplesmente não há amor suficiente para todos.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

     

  • Crítica | Homem Irracional

    Crítica | Homem Irracional

    Homem Irracional 1

    Baseado na aleatoriedade da filmografia recente de Woody Allen, que apresenta quase sempre um filme interessante seguido de um rançoso, Homem Irracional é tão assertivo quanto uma bala que penetra a testa após uma roleta russa. O trailer e materiais promocionais apontavam para mais uma simples história de superação, onde o deprimido e resignado escritor e mestre Abe Lucas – executado por Joaquin Phoenix em uma forma rotunda quase irreconhecível – chega a um novo ambiente: uma universidade pequena para lecionar, onde conhece a jovem e apaixonante Jill (Emma Stone), que provocaria nele uma virada de perspectivas, comum em tantas comédias românticas recentes.

    O fato da premissa se assemelhar com a do filme de Marc Lawrence, em seu  recente Virando a Página, quase fez o filme sofrer o mesmo estigma que A Origem sofreu quando teve seu drama comparado ao de A Ilha do Medo. Mas o paralelo só serviu de despiste, o primeiro de tantos outros, uma vez que o argumento não se rende a essa solução fácil de inspiração baseada em outrem para funcionar.

    A saída para a crise existencial de Abe não é ligada a libido, ou ao frescor causado pela volúpia de consumir “carne nova”. Pelo contrário. Suas mudanças posturais ocorrem em decorrer da nova motivação que toma para si e para os efeitos que seguem após suas atitudes mais enérgicas na tentativa de mudar o status quo – ou ao menos é esta a desculpa que o homem entrega para si.

    A escolha de Allen por um estilo diferenciado em Homem Irracional se prova uma saída excelente para a mesmice que sua filmografia insistia em cair, dando um motivo metalinguístico plausibilíssimo para a verborragia que normalmente permeia suas obras. Justifica até as narrações variadas entre Jill e Abe, em um resgate e quase homenagem  a tradição de Scorsese vista em Os Bons Companheiros, ainda que o mote e os significados sejam bastante diferentes neste do que foi no pretenso filme de máfia, guardando algumas poucas e notáveis semelhanças entre os dois produtos.

    O texto tem bastante do conteúdo ideológico de Um Homem Sério, ainda que as semelhanças pareçam muito mais ideias que ululam pela cabeça do roteirista do que influência direta. O caráter da discussão no entanto é muito parecido, como se fossem estes parentes distantes, cujo ideário cresceu similar apesar da gritante distância entre um e outro.

    O jogo de cores que Woody Allen escolhe tanto nos figurinos quanto nos cenários faz com que todo o falatório sirva apenas para explicar, para as plateias menos ávidas pela temática de mistério, o que transcorre na tela, como um autêntico mcguffin, tão comum nos filmes de suspense. A tonalidades das vestimentas de Abe evoluem para tons fortes, com o decorrer de sua mudança ideológica, passando de tons átonos para grafismos mais vívidos e claros, retornando a tons graves após as tomadas de decisões polêmicas que tomam. Todas as transformações espirituais que acometem o personagem são notadas pela sua mudança de vestuário, aspecto que também acolhe Jill.

    O estigma visual torna o roteiro ainda mais inteligente, valorizando o acaso primeiro em relação ao conteúdo teórico, e depois refutando a questão instintual, discussão esta tão repetida nos diálogos, mas que somente ganha contornos reais quando mostrado no ecrã, sem descrições de falas. Quando a imagem diz tudo por si só. Allen faz um brilhante retorno aos primórdios do cinema mudo, em que a narrativa imagética era o suficiente para entreter e embasbacar seu público, e no qual o inverter de expectativas era um aspecto básico da arte.

  • Crítica | Woody Allen: Um Documentário

    Crítica | Woody Allen: Um Documentário

    A evolução de um artista se mede pelo catálogo conjurado ao longo de tantos anos. De lá pra cá, uma lista que atesta o gênio de um comediante não pode ser menos que homérica, ou mais digna de ser debatida, filme por filme, num documentário feito sob medida a fãs, estudantes e curiosos sobre a vida (e obra) de Woody Allen, o criador dos monólogos, diálogos e de toda a comédia mais textual que visual de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (seu melhor filme), Memórias e Meia-Noite em Paris. Uma mente a serviço de um gênero que dedicou sua vida a aprimorar, muito além do estilo de comedia americana, das lições de Buster Keaton, Charles Chaplin e os lendários irmãos Marx, a trindade que ainda tanto espira Allen em sua máquina de escrever, de onde saíram seus mais de 50 roteiros, sem exceção ou afetações tecnológicas. Ao costurar a vida de um artista, o jornalista Robert B. Weide, fã do humorista, não escapa do humor leve e afiado de seu ídolo no ritmo de seu filme, e tampouco esquece que ninguém é perfeito.

    A tarefa de mistificar Woody Allen e ser justo, ao mesmo tempo, com os altos e baixos da carreira de quem faz praticamente um filme por ano, há quase oito décadas, nunca seria fácil. Reunindo velhos amigos como Diane Keaton e Mia Farrow, as duas musas do judeu inseguro e inquieto, tal qual Penélope Cruz e Scarlett Johansson, um pouco de sangue novo, entrevistas inspiradas pretendem mais revelar que comentar, expondo a arte mais nobre dos documentários a favor da reflexão: levar o fato ao público e deixá-lo ruminar, sem condicionar o rebanho a uma única opinião. E igual nossa relação de amor e ódio com os loucos e normais personagens criados pelo artista, aos poucos vamos descobrindo segredos e resgatando fatos, interessantes o bastante para merecer o registro, de uma vida tão polêmica quanto produtiva, ainda que parcial aos talentos e desejos de Woody. O próprio Martin Scorsese, colega desde os anos 70 (Taxi Driver e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa são clássicos da mesma época), admite que poucos têm tanto a dizer quanto a mente por trás de A Rosa Púrpura do Cairo, Zelig e A Era do Rádio.

    Das mãos de onde saíram tantas reinvenções de um gênero que não se limita mais, também pela contribuição inteligente do cineasta, a provocar apenas aquela risada fácil, Woody Allen: Um Documentário nos remete a lições extraídas dos filmes, dos livros e da carreira que postula e converge numa vida curiosa, voltada à análise das emoções humanas, das traições entre casais, dos laços familiares, das fugas ao passado, do desejo pelas mulheres, das paranoias de viver em sociedade, universos inevitáveis nas histórias do autor. Elevar ao hall das lendas esses aspectos é tarefa de fã, o que certamente torna mais doce o desafio, ainda que incompleto, de emoldurar carreiras tão prolíficas numa obra que vai do jazz à psicologia, sendo divertido e deliciosamente previsível, como pede o figurino. Imagine um documentário sobre Scorsese (o que já está na hora de acontecer): o culto a diversidade cultural e a violência qualificada seriam omitidas? Resposta óbvia.

    Seria loucura afirmar que o documentário de Robert Weide não tem lugar entre os livros sobre o artista, em especial o hilário e amplamente pessoal Conversas com Woody Allen, da editora Cosac Naify, livro-chave para conhecer mais a fundo o que move e mantém na ativa a ostra octogenária que, com suas pérolas, nunca subestimou a inteligência do público. Um documentário quase à altura das fases do ídolo, se não a falta de precisão entre a arte da pessoa, e a pessoa da arte. Se o homem vale mais que o mito, ou vice-versa, o filme não se dá o direito de concluir essa questão, à margem de nosso juízo a partir dessa pendência, dessa falta de postura e coerência. Destaque, mesmo, ao equilíbrio entre o que é lendário na carreira de Allen e o simplório, tal seu platônico amor por sua eterna parceira: uma clarineta.

  • Crítica | Magia Ao Luar

    Crítica | Magia Ao Luar

    Após uma longa e prolífica carreira, é absolutamente impossível desassociar a audácia e ineditismo ao ideal de um cineasta. Experimentar novos espaços e desafios diferentes do habitual é algo sempre cobrado de artistas que executam suas funções há muito tempo. A filmografia de Woody Allen é um bom exemplo a ser analisado, uma vez que o diretor já vivenciou mil infâmias fora do escopo artístico e  tantas outras declarações de que seu trabalho deveria ser cessado. Todos esses comentários são de origem e consequências discutíveis, e também foram baseadas na suposta aposentadoria  do diretor por tempo de ofício. Magia ao Luar chega sem muita pompa após um premiadíssimo filme. Não que o sucesso faça qualquer diferença para o seu realizador, que gosta de manter a discrição a reconhecer toda e qualquer canonização de suas obras.

    A história de Magic in Moonlight envolve o misterioso mundo do ilusionismo, focado em Stanley (Colin Firth), cujo sobrenome de difícil pronúncia muda de acordo com a ocasião e ao seu bel prazer. Stanley é um britânico caucasiano que interpreta um mago chinês conhecido como Wei Ling Soo, que no palco é carismático ao extremo, mas que tem em sua contra-parte um sujeito pretensioso, inteligente, genial em sua área e asqueroso no trato com outros seres humanos. Em suma, um misantropo.

    O começo do filme é típico, com uma música instrumental que remete ao ano de 1928, quando Wei Ling faz um show em Berlim, e onde os préstimos de beleza surreal do personagem principal são exibidos. Após a apresentação, Howard Burkan (Simon McBurney), um velho amigo de Stanley, também mágico, vai cumprimentá-lo. Sua compleição e comportamento são o extremo inverso de Stanley, pois Howard é inseguro, tem as costas arqueadas demonstrando ser uma presa fácil se comparado com o mito que está a sua frente. Woody Allen continua com a mania de se inserir nas tramas, ainda que sua presença esteja diluída em vários personagens, com Stanley fazendo o diretor idealizado pelo público e por parte dos críticos, enquanto Howard simboliza a sua visão sobre si mesmo: um velho americano careca, que apesar de ter muito talento, não se destaca mais do que o necessário, e ainda guarda uma série de hesitações provenientes de uma autoestima bastante baixa.

    O encontro entre os dois é basicamente para bajulação por parte de Howard e para a realização de um pedido, pois o experiente ilusionista diz ao seu amigo famoso que ele presenciou uma sumidade, uma moça que parece ter poderes mediúnicos e que, mesmo com todo o conhecimento do mágico, ele não conseguiu provar que ela era uma fraude. Após a recusa em primeiro plano, Stanley resolve assumir o pedido do amigo, e vai ao encontro da suposta charlatã.

    Como era de se esperar, o protagonista exala um sarcasmo extremo ao chegar no local onde deveria começar sua investigação. Sua alcunha falsa é uma representação do desprazer dele em exercer este fútil esforço para desmascarar outrem, e sua misantropia consegue ser percebida por todos ao seu redor, que se mostram imediatamente descontentes com tal desprezo. No entanto, ele prossegue naquela empreitada.

    O fino semblante da suposta advinha também era esperado. Sophie é interpretada por Emma Stone, que apesar de não ser uma figura de beleza tão destacada quanto outras musas de Allen, ainda assim guarda uma aparência de docilidade extrema, condizente com seus poucos anos de idade e com seu jeito meigo de tratar seus clientes, o completo inverso do ilusionista disfarçado. No entanto, já no primeiro contato com o veterano, a moça se afeiçoa pela figura dele.

    Stanley é definido por Sophie como um pessimista que, como Freud, não gosta de respostas fáceis. Chega a ser neurótico e deveras derrotista. Suas crescentes piadas escondem uma enorme carência: uma vontade de ser reconhecido por seus préstimos, além do desejo de receber elogios da imprensa e de especialistas. Entre todas as revelações, a questão amorosa é a que verdadeiramente o incomoda, uma vez que ele se mostra insatisfeito sempre que se refere ao seu par. Ainda que sua fala pareça elogiosa, suas feições contradizem o discurso.

    O ceticismo de Stanley segue firme, apesar de esbarrar nos talentos dedutivos da jovem. Sua deprimente existência – e a de toda humanidade – faz  com que ele não creia nem um pouco em um mundo metafísico, onde ectoplasmas definem a subsistência das criaturas racionais. No decorrer da trama, ele fica irritadiço ao perceber cada vez mais os poderes dela. O intuito do cineasta é dar um tapa na face dos céticos pretensiosos que se consideram superiores somente por não terem fé em nada.

    Os olhos azuis da dupla contemplam o céu também azul. A noite torna-se uma mostra muito mais positiva da observação do cosmo – e consequentemente da vida – do que era mostrado até então na película, muito disso graças às falas dos caracteres flagrados pela câmera. O intuito um tanto piegas desse ato é afirmar que, afinal, a vida não é tão previsível, nem os sentimentos podem ser enquadrados em um escopo tão matemático e exato quanto a pretensão humana às vezes insiste em definir.

    Aos poucos, Stanley cede, e a partir disso, todo o seu ideário muda. A desconstrução do niilista, começa apresentando novamente a fé no Divino em virtude do que se vê. Isso chega até a surpreender o espectador, mas a surpresa dura poucos instantes, pois não demora para que o britânico intua novamente que Sophie é uma fraude. A misantropia o fez enxergar a verdade por trás da traição. Novamente, seus “maus sentimentos” o salvam, como sempre fizeram. O otimismo continua a ser visto por ele como uma ilusão e perda de tempo. Um tempo inútil, empregado para o nada, muito semelhante ao modo que muitos misantropos, como Stanley, veem o amor e sentimentos semelhantes.

    No entanto nota-se uma evolução no comportamento do protagonista. Apesar de sua arrogância e rejeição a assumir suas falhas, ele reconhece ser caústico e desagradável. Sua análise parte de um viés realista, que o faz encarar o universo da mesma maneira com que enxerga que não precisava ser tão amargo ou azedo no tratamento daqueles que vivem em seu círculo. A superioridade do amor sobre os argumentos pomposos, e uma visão poetizada desse sentir não garantem que a emoção seja retribuída. Somente as relação afetuosas pragmáticas e insossas funcionam do modo apolíneo com que Stanley conduz suas relações.

    Talvez a única advertência taxativa que se pode fazer à condução do roteiro de Woody Allen seja a mudança de postura do protagonista. Não que não seja factível ou plausível, porque aliás, é carregada de verossimilhança, mas a expectativa era de que o personagem permanecesse em sua posição arrogante, acima das vicissitudes alheias. A opção por focar na crítica é um artifício inteligente, mas não é incomum para o diretor. Mais comum ainda é a atenção às facetas humanas que na maioria das vezes são ignoradas, como o diretor faz ao abordar a ostentação depressiva em Blue Jasmine e o enorme vazio existencial dos céticos em  Magia ao Luar. Quanto a esse aspecto, o filme é perfeito em seu molde.

     

  • Crítica | Blue Jasmine

    Crítica | Blue Jasmine

    Blue Jasmine

    Woody Allen, é um cineasta prolífico e obsessivo. São quase 50 filmes, muitos deles apresentando de alguma forma os mesmos temas, os mesmos personagens e as mesmas narrativas. Nas mãos de Allen isso não é um problema, sua obsessão genuína e seu humor fazem com que voltemos ao cinema para ver exatamente isso, Woody Allen sendo Woody Allen.

    Blue Jasmine é ao mesmo tempo algo novo na filmografia do diretor e algo profundamente clássico. É novo porque nunca ele havia se debruçado tanto sobre uma figura feminina, mesmo em Annie Hall, ela aparece pela perspectiva de Alvy, e em Vicky Cristina Barcelona a tríade de mulheres fragmenta a atenção. Aqui não, o filme é todo de Jasmine, é seu rosto que ocupa a tela em super-closes, é sua neurose e seus traumas que conduzem a narrativa, nós só sabemos o que ela está disposta a admitir.

    Também é novidade que Woody Allen dê tanta liberdade criativa a um ator. Na maioria de seus filmes, o intérprete acaba parecendo o próprio Allen (o caso mais notável deve ser Owen Wilson em Meia Noite em Paris), ou ao menos incorporando trejeitos e entonações típicas de seus filmes. Mas a Jasmine de Cate Blanchett é uma criação dela, sua postura, voz e jeito, são todos dela, ainda que a personagem seja uma clássica neurótica de Woody Allen.

    E é por isso que o filme é também clássico. Jasmine é uma personagem típica do diretor: neurótica, verborrágica, esnobe e, ainda assim, inexplicavelmente cativante. O ambiente que ela circula também é familiar, especialmente nos filmes dos últimos anos: a classe alta urbana, culta, cheia de jantares, ingressos para a ópera e obras de arte na sala de casa.

    Blue Jasmine é o resultado de dois esforços criativos, onde Allen entra com seu estilo habitual e Cate Blanchett injeta novidade e um outro ponto de vista, criando uma mulher que é sobretudo real. A atuação dela é antológica, o estado emocional e as oscilações da protagonista se refletem em sua postura, sua voz, até a aparência de seu rosto. Blanchett sempre foi uma ótima atriz e esse é sem dúvidas um de seus melhores trabalhos.

    Há um outro mérito em Blue Jasmine: Woody Allen erra menos que de costume ao tratar de classes menos favorecidas. O esnobismo do autor vem a seu favor quando olha para seu próprio meio, mas derrapa em todos os filmes em que ele tenta falar de classes baixas (à exceção, talvez, de O Sonho de Cassandra). Aqui, embora a irmã da protagonista e seus namorados não sejam exatamente bem construídos, eles são um pouco mais agradáveis e menos estereotipados que os personagens de, por exemplo, Os Trapaceiros.

    Filmado em São Francisco, o filme não chega a fazer da cidade a sua protagonista, o que é um respiro depois de infinitos filmes em que o cenário teve papel mais significativo do que os personagens em cena. Talvez por estar de volta ao seu país, Woody Allen se sinta a vontade para voltar para dentro de casa e para dentro de personagens neuróticos e obcecados, menos planos abertos, mais super-closes. Jasmine talvez cruze um pouco mais a linha da loucura do que a média dos personagens do cineasta. Allen também volta ao tema da sorte: é um acaso que a leva a recaída, é por um acaso que não tem saída.

    Blue Jasmine é exatamente isso: um filme de Woody Allen que soa como um filme de Woody Allen. Falta a parcela de genialidade de obras como Annie Hall e Manhattan, mas não importa, é ainda assim um filme bastante bom.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Amante a Domicílio

    Crítica | Amante a Domicílio

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    O filme começa com uma filmagem em Super 8, de aspecto bem caseiro, simbolizando um tom amadorístico, prenunciando a profissão que Fioravante – ou Virgil – teria. Também é possível interpretar isto como uma referência a carreira de diretor de John Turturro, com apenas cinco filmes, pouco se comparado a seu currículo como ator – que soma quase uma centena de obras. Quase tudo no roteiro de Fading Gigolo é carregado de mensagens ocultas.

    A direção de Turturro está muito mais madura, ele parece ter aprendido muito com seus amigos, em especial Joel Cohen. Seus ângulos são precisos e capturam todos os sentimentos em volta, a fragilidade, a dificuldade em se viver só, o humor característico e quase sempre racial, e é claro a sensualidade – aliás, o elenco feminino é de primeira qualidade, com destaque para a veterana Sharon Stone (passável, se comparada às bombas recentes) e a maravilhosa Sofia Vergara.

    A história é focada em dois amigos, Fioravante – o próprio diretor, numa demonstração de desapego sem igual visto com quem é obrigado a atuar – e o judeu Murray, interpretado por Woody Allen de várzea, engraçadíssimo, com toda a afetação, comportamento gestual exagerado e verborragia típica de seus papéis clássicos. Após ser obrigado a fechar o seu antiquário, Murray logo nos primeiros minutos faz uma proposta bastante incomum para que o amigo, um homem de meia idade e sem muitos atrativos físicos, participe de um ménage, e para isto seria pago e então ele se vê diante de uma “nova carreira”.

    Com o tempo, Fioravante pega gosto pelo ofício, e passa de um estado tímido e avergonhado a de um profissional decidido e à vontade com o seu trabalho. Não é só a direção que é excepcionalmente caprichosa, há um enorme cuidado também com a fotografia e departamento de  arte – com cores mais vivas nos quartos femininos e tons escuros no subúrbio judeu, onde há toda uma comunidade. A regência de atores também é primorosa, e o esmero com a parte visual não é um pretexto para descuidar da trama, que tem em si muito pouco moralismo. Seus discursos fogem da banalidade do complexo de bom mocismo.

    Na parte final acontece um evento emblemático, que pode ser encarado como a recusa ao chamado da aventura. A virilidade de Virgil, o gigolô, falha na eminência do “amor verdadeiro” que jamais se cumpre. Há uma análise do papel de submissão da mulher na religião judaica onde se contesta se a tradição deve passar por cima das necessidades humanas. Virgil se apaixona pela única pessoa que o recusa. Tal coisa o faz repensar sua vida, ainda que a história dê a entender que tal mudança é apenas temporária, como se a inexorabilidade fosse um fato consumado. Fading Gigolo é uma comédia de incômodos que estuda até onde é válido explorar a vulnerabilidade das pessoas.

  • Agenda Cultural 43 | Sandman, Clint Eastwood e Homem-Aranha

    Agenda Cultural 43 | Sandman, Clint Eastwood e Homem-Aranha

    Bem vindos à bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Pedro Lobato (@pedrolobato), Amilton Brandão (@amiltonsena), Carlos Brito e Isadora Sinay (@isasinay) comentam do que rolou no circuito cultural nas últimas semanas. (mais…)

  • Crítica | Para Roma com Amor

    Crítica | Para Roma com Amor

    To-Rome-with-Love

    Woody Allen é um cineasta de fórmulas: sua filmografia consiste em algumas histórias contadas repetidas vezes de forma mais ou menos parecida.  Porém o diretor é tão dono de seu estilo que é capaz de injetar frescor na obra e manter o interesse em filmes que apresentam pouca coisa de novidade.

    Mas, se o talento de Woody Allen é ser Woody Allen, seus filmes não são tão bons quando ele tenta ser outro diretor. Ainda que esse diretor seja Federico Fellini.

    Para Woody Allen (como para mim e, imagino, para a maior parte daqueles que já ficaram atrás de uma câmera de cinema), Roma é de Fellini, e ele enche seu filme de referências e homenagens ao diretor italiano: o núcleo do casal em lua-de-mel é adaptado de Abismo de um Sonho, o surrealismo da história de Leopoldo ou do “cantor de chuveiro” são absolutamente fellinianos.

    Mas de todas essas histórias a mais interessante é que tem menos Fellini e mais Woody Allen. O personagem de Jesse Eisenberg é um dos muitos alter-egos do diretor, um daqueles personagens inseguros, neuróticos, intelectuais e desajustados que ele analisa tão bem, mas que nesse filme não ganha espaço para ser olhado de perto, justamente por conta dos múltiplos núcleos.

    O forte de Allen são seus personagens e a forma como ele destrincha suas inseguranças, medos e neuroses. A graça de seus filmes é a lupa colocada nas nossas relações, nas brigas e detalhes de cada personalidade. Assim, ao optar por contar várias histórias ao mesmo tempo o diretor perde aquilo que tem de melhor e constrói um filme bastante simpático e eficiente, mas que não tem o carisma de seus melhores momentos.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos

    Crítica | Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos

    You Will Meet a Tall Dark Stranger

    O incansável Woody Allen retorna com mais um longa, mantendo sua média de lançar um novo filme por ano, dessa vez com Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos e infelizmente mostra apenas algumas fagulhas de relevância e originalidade em seu novo filme. Diferente de seu anterior (Tudo Pode Dar Certo), que apesar de seus elementos de comédia romântica, trazia um bom roteiro, cheio de boas ideias e diálogos afiados, o que não é o caso de seu último longa que acaba se perdendo e o resultado final não é tão satisfatório.

    Os filmes de Allen continuam seguindo como crônicas de nosso dia-a-dia, abordando problemas comuns que enfrentamos em nossas vidas. Na trama, temos uma série de histórias paralelas interligadas e acompanhamos a vida de Sally (Naomi Watts), que se vê infeliz em seu casamento com Roy (Josh Brolin), já que ele não está preparado para lhe dar um filho, além dos problemas financeiros que enfrentam, com isso ela passa a procurar atributos em seu chefe Greg (Antonio Banderas), e passa a admirá-lo. Roy por sua vez é um escritor de um único sucesso que nunca mais escreveu nada que o superasse, com a pressão de escrever um novo best-seller e os problemas no casamento, Roy se apaixona por sua vizinha, Dia, uma jovem musicista.

    Os pais de Sally também estão sofrendo problemas em seu casamento e se divorciam, pois Alfie (Anthony Hopkins) se torna um obsessivo para recuperar sua juventude já tão distante e parte em busca de um novo amor, e este se concretiza na figura de um prostituta. Sua exposa Helena (Gemma Jones) tenta preencher o vazio de sua vida entre sessões com uma vidente, alimentando-a de esperanças quanto ao seu futuro.

    O filme nem de longe é ruim, mas te traz uma sensação de um trabalho no piloto automático do Allen, sem se doar para o que está fazendo. Apesar disso, o filme tem ótimas sacadas, trazendo uma série de situações interessantes para o espectador, mas falta uma profundidade maior aos personagens, o que me dói dizer, já que os personagens do diretor sempre foram seu ponto forte.

    Quanto a trilha sonora, outra marca registrada do cineasta e um dos pontos fortes da trama, repleta de clássicos. As atuações são redondas, Hopkins, Adams, Brolin e Jones estão muito bem em seus pápeis. Tecnicamente o filme é competente, como todos os trabalhos do diretor, tendo uma fotografia belíssima, como de costume. O ponto fraco fica por conta do roteiro que não traz originalidade, já que o assunto em questão não é novidade para o diretor.

    Em Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, Allen nos mostra outra faceta do ser humano, a insatisfação. Não importando quem você tem ao seu lado e o que tem em sua vida, sempre tendemos a desejar coisas novas. Muitas vezes isso é idealizado na forma de uma pessoa, de um novo negócio, um novo objetivo de vida. Enfim, a felicidade inalcançável. Apesar de longe de seus trabalhos anteriores, Allen apresenta um filme acima da média com bons temas à ser discutidos. Talvez seja apenas nossa insatisfação se mostrando presente, assim como em seus personagens.

  • Agenda Cultural 24 | Ano Novo. Tudo Igual.

    Agenda Cultural 24 | Ano Novo. Tudo Igual.

    Bem Vindos à bordo. Edição especial do Agenda com uma seleção de diversos convidados de 2010! Além dos costumeiros Flávio VieiraAmilton Brandão e Mario Abbade, juntam-se ao bate-papo os colaboradores frequentes do blog, André (Kirano) e Levi Pedroso, além de vários convidados que participam em cada bloco do programa, tornando este primeiro episódio do ano um meretrício só deveras especial.

    Duração: 125 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao – Junot Díaz
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    X-Men – Garotas em Fuga
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    Séries – Com Carlos Tourinho e Jojo Nerd

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    Games Preferidos de 2010 – Com Pablo Rozados e Diego Gomes

    Super Mario Galaxy 2
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  • Crítica | Tudo Pode Dar Certo

    Crítica | Tudo Pode Dar Certo

    Tudo Pode Dar Certo

    Woody Allen é um workaholic inveterado. Atualmente aos 74 anos, Allen não demonstra sinais de cansaço e retorna às telonas com sua mais nova sequência: Tudo Pode Dar Certo.

    O Cineasta despontou na indústria em 1965 ao ser convidado para escrever o roteiro de O que é que há, gatinha?, comédia dirigida por Clive Donner, e que além de tudo contou com a atuação de Allen. Em 1969 dirigiu seu primeiro filme, mas somente em 1977 com Noivo Neurótico, Noiva Nervosa é que teve seu devido reconhecimento. O fato é que Allen desde os anos 60 não parou mais, seja como roteirista, diretor ou ator, mantendo uma incrível média de lançamento de um filme por ano, boa parte deles de extremo bom gosto. E dessa vez não foi diferente.

    Tudo Pode Dar Certo é um retorno às origens, Allen reúne tudo aquilo que o consagrou nos anos 70 e faz uma excelente comédia. Não estou de maneira alguma menosprezando seus últimos trabalhos, longe disso, são todos belíssimos, mas Tudo Pode Dar Certo nos remete  aos seus filmes daquela década que estabeleciam elementos como pessimismo, neuroses e excentricidades como sua veia cômica mais pungente. Uma boa razão para isso, talvez seja pelo fato do roteiro ter sido escrito nessa mesma década, com adaptações para os dias de hoje.

    Para o protagonista do longa, Allen convidou ninguém menos que Larry David para interpretar Boris (alter-ego de Allen), conhecido pela seu sarcasmo habitual, David deixa sua assinatura escancarada no personagem, o que pode agradar alguns e afastar outros. O personagem de David é um físico arrogante e excêntrico, repleto de neuras e ceticismo, além de ser profundamente pessimista ao mundo e aos que nele habitam. Boris já é um senhor, separou-se da mulher e passou a morar sozinho, tendo como amigos um pequeno e seleto grupo de estudiosos onde eventualmente ele se reúne.

    Sua vida rotineira termina na noite em que encontra Melody (Evan Rachel Wood), que foge de casa para tentar a carreira de atriz em NY, sem ter onde morar, Boris aceita que ela passe a morar com ele (Após muita relutância). A partir daí a vida dos dois muda bruscamente, Boris, passa a provocar transformações na vida da garota, antes uma menina fútil, agora passa a enxergar o mundo de outra maneira, discutindo questões existencialistas, se tornando outro “Woody Allen”, mas sem perder um pouco da inocência e até mesmo do otimismo, característica inata de quase todos os jovens.

    Rachel Wood mostra um refinamento artístico por não tornar o seu personagem caricatural, pelo contrário, apesar de todas as mudanças e o espelhamento e admiração que sua personagem tem por Boris, ela ainda consegue deixar sua marca e não emular outro ator, mas também, convenhamos que ter Allen como Diretor ajuda e muito. O elenco de apoio é todo muito bom e são peças fundamentais para o tema abordado no filme.

    Boris traz com ele uma quebra da quarta parede, ao se dirigir ao público e dialogar sobre seu ponto-de-vista e manifestando mais uma vez toda sua excentricidade, tornando a narrativa extremamente direta e fluída. Durante todo o longa, somos martelados com a ideia central do longa, da auto-descoberta, da não-repressão e da liberação de uma sociedade fundada por dogmas e convenções.

    Allen retorna mais uma vez para dizer a quem queira ouvir para abrir sua visão de mundo a novas ideias, experiências, descobertas e relações. Whatever Works (título original) mescla um roteiro repleto de questões existenciais com bom humor. Diversão garantida e uma ótima deixa para refletir sobre sua vida.

  • Agenda Cultural 03 | Bêbados de Lata, Pacifistas no Pacífico e o efeito de Purple Haze

    Agenda Cultural 03 | Bêbados de Lata, Pacifistas no Pacífico e o efeito de Purple Haze

    Terceira edição da Agenda Cultural com Flávio Vieira (@flaviopvieira), Amilton Brandão (@amiltonsena) e Mario Abbade (@fanaticc),  se reúnem para comentar tudo o que está rolando no circuito cultural dessa semana, com as principais dicas em cinema, teatro, quadrinhos e cenário musical. Em uma linha alternativa de dicas atemporais, selecionamos alguns petardos interessantes dentro do ramo literário também. Não perca tempo e ouça agora o seu guia da semana.

    Duração: 48 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: Gustavo Kitagawa

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    Quadrinhos

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    Games

    Red Dead Redemption

    Música

    Valleys of Neptune – Jimi Hendrix
    Mulher Acerola
    Voca People
    Johnny Rivers

    Séries

    The Pacific

    Teatro

    Lente de Aumento – Crítica Lente de Aumento por Mário Abbade

    Cinema

    A Casa Verde
    Os EUA vs John Lennon
    Crítica Tudo Pode Dar Certo
    Crítica Homem de Ferro 2

    Produto da Semana

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