Tag: Scarlett Johansson

  • Crítica | Viúva Negra

    Crítica | Viúva Negra

    Desde Homem de Ferro 2, Scarlett Johansson prometia protagonizar um filme solo de sua personagem no universo Marvel. Na época, não se imaginava que isso só ocorreria mais de dez anos depois e,  após diversos adiamentos agravados por uma pandemia, Viúva Negra estreou com algumas “estranhas” responsabilidades.

    O longa de Cate Shortland tenta não só fazer jus a uma personagem querida do público, mas faz isso após ter seu fim mostrado em Vingadores: Ultimato. Além disso, ainda tem de pavimentar a passagem de bastão para o legado da personagem, apresentando a figura de Yelena de Florence Pugh.

    A história possui algumas linhas temporais distintas. A primeira mostra a pequena Natasha Romanoff vivendo com uma família soviética, no estado de Ohio nos anos noventa, que finge ser um ajuntamento suburbano estadunidense. A segunda avança mais de vinte anos no futuro, brincando com elementos de filmes de espião, mexendo com crianças cobaias, abusos experimentais com mulheres, com direito a misturas de referencias bem diversas, como Stalker de Andrei Tarkovski e o filme galhofa de James Bond: 007: Contra o Foguete da Morte.

    De positivo, há a utilização do vilão O Treinador que lembra um metal hero de tokusatsu. O visual arrojado é certamente um dos maiores acertos do filme, embora a historia de seu passado seja terrível. Esse, aliás, é uma produção que imita bem os maiores defeitos da Formula Marvel de fazer filme pós Kevin Feige. Possui atores famosos como antagonistas, completamente desperdiçados, como foi Jeff Daniels em Homem de Ferro ou Tim Roth em O Incrível Hulk. Aqui tanto Olga Kurylenko quanto Ray Winstone não são bem explorados mesmo quando tem tempo de tela.

    Outro ponto positivo é o núcleo familiar que permite que David Harbour, Rachel Weisz, Pugh e Johansson convivam juntos. As partes divertidas são resultantes da inteiração entre eles, com discussões pontuais a respeito da abusiva rotina de quem tinha que fingir ser quem não era. Fora essa questão, o roteiro é raso. Não muito por conta de uma visão estereotipada dos soviéticos (que até existe, mas é tão inócua quanto a ausência de crítica ao nazismo em Capitão América: O Primeiro Vingador). Quem tinha expectativa de assistir algo no estilo Capitão América: O Soldado Invernal  certamente se frustrou, pois mesmo nos momentos que exploram questões típicas de teoria da conspiração a trama não surpreende, talvez porque o mundo pós pandemia de Covid 19 é tão estranho que eventos de estranheza fictícia já não causam mais tanto choque.

    As cenas de ação perdem força gradativamente ao longo da exibição. Até em Falcão e Soldado Invernal as cenas de luta são melhor pensadas. Não se teme pela vida de praticamente nenhum personagem, e isso compromete demais a crença na trama.  Tudo é apressado e Viúva Negra parece um filme tardio, sem importância e imponência, deslocado demais do restante do universo Marvel recente. Assisti-lo após saber o fim de Natasha também não ajuda, e mesmo os temas importantes e as críticas políticas se diluem. Se o filme tivesse sido lançado nas Fases 2 ou 3 do universo Marvel, talvez se encaixasse melhor. No final, se destaca o bom desempenho de Pugh, carismática e com presença, mas em uma situação bastante distante de um hit da Marvel.

  • Crítica | Jojo Rabbit

    Crítica | Jojo Rabbit

    O novo filme de TaikaWaititi, Jojo Rabbit começa com seu protagonista, Jojo Betzler de Roman Griffin Davis olhando para frente, onde ele dedica um discurso ao soberano da Alemanha, Adolf Hitler, em um juramento ao exercito de Jungvolk, onde em breve ele irá acampar. Seu sonho é ingressar na juventude hitlerista, e sob sua ótica infantil e inocente, ele tenciona se tornar um cidadão alemão fiel e temente a palavra nazista que impera em seu país, a Alemanha.

    É bizarro como nessa comédia o mundo varia entre uma versão alternativa e ao mesmo tempo é real, onde o nazi-fascismo alemão tem uma popularidade semelhante a Beatlemania, pontuado inclusive por uma versão da música I Want to Hold Your Hands. É fato que na Alemanha havia realmente uma idolatria cega, que é bem exemplificada pelos desejos do pequeno e esperto Jojo, que inclusive, tem sonhos e ilusões com figuras políticas importantes do Regime. O quadro só tem uma mudança real quando a mãe do menino é apresentada, a Rosie de Scarlett Johansson, mas até o seu drama é levado de maneira lenta e gradual.

    Assusta um pouco o fato de crianças usarem a saudação nazista típica da SS – Heil Hitler – e tal artifício serve para mostrar como ocorre a dominação de corações e mentes. Antes mesmo de receber a  alcunha que dá nome ao filme, Jojo aparece tendo contato com Adolf, personagem de Taika que obviamente usa as roupas do Fuhrer, e que serve de inspiração bizarra/alter ego do protagonista, numa relação semelhante a do Clarence Worley de Christian Slater com Elvis em Amor a Queima Roupa. No imaginário geral, Hitler é um herói, que precisa de adulação e adoração cega, tal qual boa parte das maléficas e egoístas entidades das religiões soberanas no ocidente.

    Há um sem numero de versões de músicas famosas, como I Don’t Wanna Grow Up dos Ramones, sendo embaladas pelas crianças, que dentro do campo de verão, sob a supervisão do estranho e louco Capitão K (Sam Rockwell, engraçadíssimo por sinal), brincam com armamentos reais, e lidam com o bullying dos garotos arianos mais velhos.

    A descoberta do menino a respeito do que Rosie guardava em casa se dá em um momento bem semelhante a um filme de terror, em que a menina judia, Elsa, feita por Thomasin McKenzie aparece  realmente como um fantasma, ou comum uma mulher possuída que se escondia nas paredes. É natural que para uma mente fraca e que apóia o nazismo, a moça pareça um monstro, numa clara alusão ao documentário alemão O Eterno Judeu, mas há nisso também uma crítica muito inteligente, pois somente uma mente imatura e sem caráter formado poderia achar a iconografia e o visual bonito dos uniformes nazistas algo lúdico o suficiente para ser seguido. A demonização dos judeus só poderia ocorrer por via de mentes sujas, porcas ou ignorantes, e o caso do protagonista é o terceiro.

    Mesmo nessa versão fantasiosa da Alemanha nazista, há espaço para estanhamento, e muito. O lugar onde o rapaz se recupera é um ginásio, onde K e seus assistentes Finkel (Alfie Allen) e Fraulein Rahm (Rebel Wilson)  treinam os futuros soldados, fazendo-os pular na piscina com roupas e fardas de escoteiros, não sem conviver com jovens mutilados, por ações de armas e de bombas. Os novos e possíveis membros dos alistados lidam com os feridos como se nada de errado houvesse naquela vida, e mesmo Jojo defende o ideal da guerra, invocado claro por Adolf, na mesa  de jantar junto com sua mãe.

    Há um largo uso de piadas repetitivas e de momentos fálicos, como quando o personagem de Stephen Merchant, o oficial Deertz afirma que o boato de que Hitler tinha apenas uma bola era mentira – ele teria quatro na verdade – mas também há muita tensão e receio de que Elsa seja pega, pois dela, vinha afeição e carinho.

    O terço final se passa na virada da guerra, e é assustador de certa forma, tornando esse Jojo Rabbit um irmão em espírito da temática de A vida é bela, denunciando os males do extremismo e sendo pragmático, ao menos em seu encerramento. A fantasia adocicada e colorida  do menino é interrompida de maneira  brusca pela guerra e pelo sangue derramado de justos e dos injustos. Em determinado ponto, por vias tortas e sentimentais, Jojo para de ter contato com Adolf, numa alusão clara ao amadurecimento, mostrando que sua jornada mudaria ali, ainda que guardasse em si um pouco da ingenuidade infantil, não havia mais espaço para a intolerância, pois Elsa é a prova viva de que o anti semitismo era algo cruel e fútil, alem do que, discriminar qualquer pessoa por uma condição de nascença não faz sentido em um mundo civilizado, nem em um mundo sem uma visão adulta das coisas.

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  • Crítica | Homem de Ferro 2

    Crítica | Homem de Ferro 2

    O segundo filme de Jon Favreau com o personagem do Homem de Ferro começa com a declaração do protagonista, Tony Stark de Robert Downey Jr. assumindo ser o alter ego do herói robótico, assistido por um senhor idoso que está a beira da morte em país europeu, acompanhado por seu filho, o inventivo Ivan Vanko (Mickey Rourke), conhecido nas revistas como Chicote Negro, que aparentemente quer dar a Stark uma lição.

    É nesse mistério que Homem de Ferro 2 começa, sabiamente apelando para um pouco de drama, para só depois mostrar as presepadas engraçadas de Tony, agindo como Homem de Ferro, pousando de terno embaixo da armadura, em um evento onde é esperado como um popstar. O diretor equilibra bem uma situação mais engraçada com outras mais sérias e esse equilíbrio é talvez seu maior mérito como realizador nessa duologia, isso inclusive faria muita falta não só nos filmes do personagem, mas em outras obras da Marvel Studios pós compra da Disney.

    Existe uma escalada de importância em um dos temas que é apenas arranhado no primeiro filme, que é a questão armamentista, e embora seja mais pretensiosa e arrogante aqui – até um pouco reducionista – explorar esse argumento aqui faz algum sentido, embora todo o envolvimento dos personagens de Sam Rockwell, Justin Hammer, nem o de Don Cheadle, Jim Rhodes. Os personagens inclusive são mostrados de maneira um pouco gratuita, e um deles prossegue apresentado sem qualquer importância maior.

    O filme se perde um pouco nos show offs de ação que faz, tanto no momento em que mostra uma briga entre Happy (personagem de Favreau que ganha mais minutos de tela) com a bela Natasha Rushman, de Scarlett Johansson, que a essa altura não é mais surpresa para ninguém sua identidade com Viúva Negra (isso inclusive torna mais palatável a gratuidade de sua aparição e disfarce), mas no caso da exibição de Tony como piloto de corrida, interrompida pelo vilão Chicote Negro há só preciosismo mesmo, uma desculpa para mostrar outra variação de armadura. A sequência ao menos termina bem graças ao caráter massa veio que ela toma, mas as piadas envolvendo Pepper Potts de Gwynett Paltrow soam vazias e infantis demais para um filme desse porte.

    Outro ponto fraco é o quão caricato é Vanko, falando em russo, com seus cabelos com mechas brancas artificiais e com um palito na boca, parece  saído de um filme de brucutu de Stallone ou Van Damme, com características e clichês típicos dos anos oitenta e noventa, assim como Rockwell também faz uma caricatura de milionário mal intencionado, que se apóia e alguém fisicamente forte.

    Isso, somado as cenas que Stark faz uma festa e dança bêbado, munido de sua armadura não combina em nada com o resto do tom do filme, e mesmo ao tratar da questão do alcoolismo do personagem, que existe nos quadrinhos, é aqui tratada como uma simples piada infanto juvenil, mesmo que hajam algumas tiradas engraçadas. O tom debochado faz imbecilizar todo o restante da trama, e piora demais quando Rhodes utiliza o traje protótipo de Máquina de Guerra. Em alguns momentos a luta é tão artificial que parece um gameplay de Virtua Fighter onde ambos players escolhem Dural, a chefe do primeiro jogo da franquia, com a obvia diferença de que estes não são personagens pixelados.

    Nota-se um desgaste  da formula do primeiro filme, apesar de novas participações do Agente Coulson (Clark Gregg), de Nick Fury (Samuel L. Jackson) e da Viúva, as piadas e tiradas de Tony soam repetitivas, não só em comparação com o filme um, mas também com o personagem em si. Ele se leva pouco a sério, mas o filme continua se levando muito a sério, e isso causa um problema de identidade grande.

    Sam Rockwell consegue ser ainda menos sutil do que foi Bridges no primeiro filme, alias o arco de Rhodes não faz sentido, além da mudança do ator aparentemente foi trocada também sua mentalidade e código ético. Jim jamais se voltaria contra Stark, mesmo com os erros do milionário. Mesmo em sequências de acerto, o filme teima com algumas gags desnecessárias. Após uma cena eletrizante de ação com a Viúva, há uma discussão de relação totalmente desnecessária entre Tony e Pepper, em mais um escapa cômico bobo, que ao menos, termina com outra boa cooperação entre Rhodes e Stark, contra os capangas robóticos de Hammer.

    O final é um pouco piegas, além de também ter uma cena pós crédito gratuita, como foi em O Incrível Hulk, que faz referência ao próximo filme do estúdio, Thor, mas ainda assim há boas sequências de luta, e o carisma de Tony e Natasha ainda dão  alguns motivos para celebrar a obra, é uma pena que os produtores tiveram pressa em lançar logo um segundo filme, pois se tivesse um roteiro um pouco menos apressado, Homem de Ferro 2 teria ainda mais méritos do que tem. Ao menos serviu para solidificar a ideia do personagem como o ponto de partida desse novo universo compartilhado, melhorando bastante o nível do que ocorreu no filme do Hulk.

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  • Crítica | Vingadores: Ultimato

    Crítica | Vingadores: Ultimato

    Não é de hoje que vinha sendo dito que Vingadores: Ultimato marcaria o encerramento da Saga do Infinito, que começou lá em 2008 com Homem de Ferro e que se estendeu por 11 vitoriosos anos e 22 filmes, ao todo. As Joias do Infinito foram aos poucos sendo introduzidas e cada filme mostrava um pouco daquilo que estava por vir. Tudo muito bem programado e arquitetado pela Marvel, que se mostrou uma estrategista sem igual no que diz respeito ao planejamento. Obviamente, ao longo de 22 filmes, vimos uma montanha russa no quesito qualidade. Alguns filmes são realmente bons, como o ótimo Capitão América: O Soldado Invernal, ou como o primeiro Guardiões da Galáxia, sendo que outros são bem fraquinhos e que não vale a pena nem comentar. Aliado a isso, tivemos o início desse encerramento em Vingadores: Guerra Infinita, que foi um dos grandes momentos da história do cinema, reunindo num só filme os principais heróis dessas histórias contadas por mais de 10 anos. E é com Vingadores: Ultimato que esse ciclo se encerra.

    Após reunir todas as Joias do Infinito, Thanos (Josh Brolin) dizimou metade da população de todo o universo e o filme se inicia bem nesse momento para, logo em seguida, situar seus principais personagens, como os Seis Originais, vividos por Capitão América (Chris Evans), Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), juntamente com Máquina de Combate (Don Cheadle), Homem-Formiga (Paul Rudd) e os Guardiões da Galáxia, Rocket Racoon (voz de Bradley Cooper) e Nebulosa (Karen Gillan), sobreviventes no filme anterior. Se Guerra Infinita tinha uma pegada mais urgente e ainda assim sobrou tempo para trabalhar os personagens, em Ultimato, esse tempo não existe e se o espectador não for ligeiro, ficará sem entender nada em alguns momentos. Inclusive, vale destacar que algumas das teorias são verdadeiras e muitas coisas que fãs acreditavam que aconteceria, realmente acontecem! Só que ninguém falou que aconteceria logo na primeira meia hora de fita e o desenrolar, aos poucos, vai perdendo aquele tom de obviedade, tornando tudo uma grata surpresa.

    Importante dizer que Ultimato é bem diferente de seu antecessor, Guerra Infinita, tanto no que diz respeito ao tom, quanto no que diz respeito ao rumo que cada personagem tomou após o drástico evento. Embora parte dos Vingadores estivesse operando em vários locais do mundo e tentando seguir a vida da maneira como podem, outros foram terrivelmente afetados pela aniquilação. Alguns foram para caminhos muito sombrios e outros foram para caminhos extremamente bizarros e desnecessários. Estes em específico causaram uma notória divisão dentro da sala do cinema. Parte ria, parte se revoltava, principalmente com os rumos tomados por Thor, que foi a maior surpresa de Guerra Infinita.

    É interessante como os diretores Joe & Anthony Russo e os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely se propuseram a criar uma história mais intrincada e épica que a anterior. Embora conte com um número mais reduzido de personagens, a missão dos Vingadores é maior e cheia de detalhes, sem contar que é a mais audaciosa de suas vidas. Audacioso também é o desafio proposto pela equipe criativa, porque paralelamente à história principal, após sua primeira hora, dá-se início a uma série de homenagens e surpresas que celebram os mais de 50 anos de histórias da Marvel Comics, além de celebrar os 11 anos do seu Universo Cinemático – UCM. São tantos detalhes, que talvez seja necessário um texto inteiro para apontar esses acontecimentos, que são desde cenas inteiras, passando por frases marcantes. E é aí que nas duas horas seguintes você para de analisar o filme com frieza e volta a ser criança, principalmente no último ato, quando a sala do cinema se entrega de vez à diversão, algo que acontece até o último segundo.

    Se Guerra Infinita era um filme sobre Thanos, Ultimato é um filme sobre os Vingadores. E é impressionante como Gavião Arqueiro, Viúva Negra, Homem de Ferro e Capitão América se destacam no meio de tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. Robert Downey Jr e Chris Evans tem uma atuação de gala e entregam neste filme suas melhores atuações no UCM. A carga emocional que os personagens enfrentam do primeiro ao último minuto de tela é transportado para os olhos do espectador com maestria pelos atores. Não é a toa que os (vários) melhores momentos do filme são protagonizados pelo Homem de Ferro e pelo Capitão América. E não é a toa que os momentos mais emotivos também são protagonizados pelos dois.

    Emoção é um sentimento que define bem Vingadores: Ultimato. Um filme que não só fecha a Saga do Infinito, mas que também coloca ponto final nos arcos de vários personagens, fecha algumas portas, abre outras e principalmente encerra um ciclo de pouco mais de uma década que foram relevantes para a história do cinema. Inclusive, após o seu final, o título original em inglês, Endgame passa a fazer mais sentido do que nunca. A Marvel Studios sai de cabeça erguida e com a promessa de se manter no topo, mas com um novo e mais complicado desafio. Avante, Vingadores!

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

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  • Crítica | Ilha dos Cachorros

    Crítica | Ilha dos Cachorros

    É fácil perceber que se está diante de um filme de Wes Anderson, mas não só pelos motivos “aparentes” e esperados, em especial neste filme de 2018. Incorporando sua identidade rigorosamente meticulosa na elaboração visual de toda a sua mise-en-scène, com a história do garotinho Atari em busca de seu cachorro numa ilha japonesa dominada por raças caninas simpáticas e inteligentíssimas, forma-se uma (tentativa raquítica e apática de) jornada sobre liberdade e amizade e que começa e termina na vã estratégia de ser um Cinema autoral e de entretenimento ao mesmo tempo, algo que Anderson sempre conseguiu, mas que aqui simplesmente não consegue basilar-se nas suas pretensões. Resumindo: Sobra estilo e esquematização, e faltam conflitos e emoções reais em Ilha dos Cachorros, como se isso fosse tudo.

    Wes Anderson não acredita na sua história pois não assume risco algum; fato. Zona de conforto total, e que impressiona dada a mente brilhante que está por trás desse projeto, o filme inteiro parece ser um ato só: Coisas se desenvolvendo com a leveza do vento e sem alcançar patamares significativos em absoluto – nem na filmografia de Anderson, nem no Cinema recente. Mesmo quanto as peculiaridades do cineasta, seus travellings ultra planejados e seu ritmo incessante, ágil e palco para um humor negro irresistível, em A Ilha dos Cachorros tudo torna-se desinteressante pela primeira vez na carreira do cara. E, caso a obra não mereça ser chamada de “desinteressante”, o oposto tampouco atinge na percepção sensorial de quem esperava a regularidade de sempre do autor de Moonrise Kingdom, e de uma das grandes animação dos últimos anos: O Fantástico Sr. Raposo.

    Entre gangues formadas por diversas raças de cães e que lutam pela sobrevivência em um território que dominam, e muito corre-corre vazio, a história grita desesperada por um nível básico digamos de naturalismo que jamais poderia encontrar junto a alguém cuja frontalidade sempre foi orgulhosamente cênica, à beira do artificial. Parece que Anderson quer escapar um pouco do seu estilo e tentar ser mais solto, mais humanizado igual sua cachorrada solta em terreno japonês seguindo Atari. Mas nesse desejo de se expandir, poucas vezes nessa década se viu uma animação tão carente de carisma e tão atolada por uma artificialidade oca; um vai e vem que, se diverte mais ou menos, não chega em lugar algum. Entre um cinismo estrutural e um apoio extremo na beleza e outras virtudes da sua técnica, Ilha dos Cachorros é o típico filme calculado em demasia que não aguenta a essência da sua sensível trama frondosa, e banalmente desenvolvida.

    Neste exemplar do seu gênero, nem a boa trilha-sonora de um Alexandre Desplat ou o fascínio que técnicas de animação promovem não enganam ninguém (pelo menos aqui), e apenas embalam superficialmente a falta de envolvimento de todos os lados com a produção. Anderson apresenta uma mão surpreendentemente pesada na direção, e a trama centrada em amigos inesperados (e uma subtrama política feita às pressas por meio de analogias baratas) tampouco combina com o seu estilo de aventuras hiper organizadas em seu espaço/ tempo tão particular, e sempre tão delicioso – até agora. Estamos falando de um quase filme, de uma ideia que talvez merecia ser contada mas de uma forma muito mais calorosa – o clímax do filme é ordinário. Nem as boas sacadas visuais evitam a apatia e o aborrecimento em meio as tramoias de espécies humanas e caninas, aqui. Parece que todo cineasta precisa ter um mau exemplo da sua visão no currículo, e é uma pena Anderson não ser uma exceção.

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  • VortCast 57 | Vingadores: Guerra Infinita

    VortCast 57 | Vingadores: Guerra Infinita

    Bem-vindos a bordo. A pedido dos ouvintes, Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), David Matheus Nunes (@david_matheus) e Jackson Good (@jacksgood) se reúnem para comentar sobre o filme Vingadores: Guerra Infinita.

    Duração: 103 min.
    Edição: Julio Assano Junior
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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  • Crítica | Vingadores: Guerra Infinita

    Crítica | Vingadores: Guerra Infinita

    Como eu havia escrito no meu texto sobre as expectativas em torno de Vingadores: Guerra Infinita, a hora havia chegado. O filme que marca os 10 anos do conhecido Universo Cinematográfico Marvel – UCM chegou aos cinemas com muitas dúvidas, desde as mais óbvias no que diz respeito ao encaixe de dezenas de heróis e seus coadjuvantes em tela, passando pelas apostas sobre qual herói seria o candidato a morrer e a partir os corações dos fãs, até a pergunta mais óbvia e com extrema relevância para a trama: onde está a Joia da Alma?

    Vingadores: Guerra Infinita entrega aos fãs e ao espectador aquilo que satisfaz desde os mais aficionados até aqueles que não estão tão familiarizados assim com o UCM e melhor, além de encher os olhos daquele que assiste, causando as mais diversas sensações, amarra todo o universo iniciado em 2008 com Homem de Ferro, tendo Pantera Negra como último “representante”, solucionando todas as dúvidas e amarrando todas as pontas soltas no decorrer do caminho, além de jogar no ar muitas outras perguntas que, talvez comecem a ser respondidas nas produções Homem-Formiga e a Vespa, Capitã Marvel e, obviamente, na quarta aventura da equipe que estreará somente em 2019, embora já esteja em estágio final de filmagem.

    Tentando evitar spoilers ao máximo neste texto, Guerra Infinita, como todos já sabem, marca a busca do vilão Thanos (Josh Brolin) pelas Jóias do Infinito e tem como ponto de partida os minutos seguintes da cena pós-créditos de Thor: Ragnarok, quando a nave da nova Asgard é abordada por outra gigantesca nave. Logo em seus primeiros minutos o filme já mostra quem de fato é Thanos e ele é assustador. Assim, deu-se início ao maior filme da curta, porém, de sucesso história da Marvel.

    Logo no início desse texto foi falado que um dos maiores desafios da produção seria encaixar tantos heróis, protagonistas e coadjuvantes em tela, e após o término do filme, tem-se se a sensação que cada um dos milhares de nomes que aparecem nos créditos finais, desde a direção de Joe e Anthony Russo, passando pela história escrita por Christopher Markus e Stephen McFeely, até prestadores de serviço como o “cozinheiro de Robert Downey Jr”, ou o “cabeleireiro de Don Cheadle”, merecem ser aplaudidos de pé. O cuidado com a história é tão minucioso que coisas “bobas”, mas que poderiam ter ficado de fora estão lá. Um pequeno exemplo disso é que devemos lembrar que Bruce Banner (Mark Ruffalo), por exemplo, abandonou o planeta ao final de Vingadores: Era de Ultron e ficou anos fora do ar, enquanto, na Terra, acontecia os eventos de Guerra Civil, Homem-Formiga, Doutor Estranho, Homem-Aranha: De Volta ao Lar e Pantera Negra. Banner acaba sendo atualizado de algumas coisas de uma maneira muito divertida.

    Aliás, Banner, a julgar pelo que aconteceu nos últimos anos, está mais leve, sem aquela agonia constante que o personagem entregava nos demais filme e isso contribui para alguns momentos de humor serem protagonizados por Mark Ruffalo. Humor esse que está presente em todo o transcorrer da fita, cada um a sua maneira. As partes dos Guardiões da Galáxia são tão autênticas que parecem que foram escritas por James Gunn e isso foi bem acertado no filme, já que aqui, um não invade o território do outro no que diz respeito ao estilo de cada personagem e assim, meio que temos um núcleo de personagens habilidosos com o humor e outro núcleo bem mais sereno. Tudo isso aliado à diversas cenas de luta e ação desenfreada, todas muito bem feitas e bem resolvidas.

    Em Guerra Infinita todo herói tem seu momento de protagonismo. O roteiro e a direção, de maneira habilidosa, cedem espaço para todos, sem exceção, algo que foi muito bem construído por Joss Whedon no primeiro filme, mas totalmente esquecido pelo diretor em Era de Ultron e pelos Irmãos Russo em Guerra Civil, quando há momentos em que Visão (Paul Bettany) e Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), dois dos mais poderosos no campo de batalha, simplesmente desaparecem, buscando de maneira preguiçosa, deixar a batalha mais equilibrada. Aqui, ninguém é esquecido e pra adicionar ainda mais um desafio para produção, ainda temos gratas surpresas, como o retorno de alguns bons personagens, além da inclusão de outros novos. Contudo, com relação ao seu herói preferido, fica o alerta de que você poderá ficar um pouco decepcionado se considerarmos o tamanho de sua expectativa. Guerra Infinita não tem tempo para desenvolver os personagens e as relações entre eles e os motivos são tanto relacionados ao desenvolvimento da produção, como ao desenvolvimento da história, porque Thanos, simplesmente, não deixa. E isso nos leva a dois destaques: o já mencionado titã louco e o deus do trovão, Thor (Chris Hemsworth).

    O Thanos de Brolin é incrível. Ele não é um vilão clássico, megalomaníaco, que busca somente destruir tudo e todos em busca única e exclusiva de poder, desbancando Loki (Tom Hiddleston) do trono de melhor vilão do UCM. Thanos tem um propósito até justificável e percebe-se que ele sofre por carregar esse fardo, tanto que a cada conquista, em vez de comemoração, vemos certo desânimo em seu semblante e chega num determinado momento em que você fala consigo mesmo “vai, Thanos!” tamanha a serenidade do personagem. A clássica vilania fica por conta de seus filhos Fauce de Ébano (poderosíssimo), Proxima Meia-Noite, Corvus Glaive e o brutamontes Estrela Negra.

    Já Thor sofreu mudanças significativas em Ragnarok e o personagem, dentro dos principais, foi o que mais evoluiu se levarmos em conta seus dois primeiros filmes que foram ruins e suas duas participações nos dois primeiros filmes dos Vingadores. E também, o contato junto dos Guardiões, fez com que o semideus se sentisse em casa, se encaixando na equipe como uma luva. Thor sempre foi um herói dotado de extrema arrogância e em Guerra Infinita podemos perceber que ele é um grande guerreiro.

    Muito se especulou sobre a empreitada ser um enorme filme que foi dividido em duas partes, assim como as produções finais de Harry Potter, Crepúsculo e Jogos Vorazes e embora, ambas histórias tenham tido filmagens simultâneas, optou-se por ser duas produções distintas e com títulos próprios e o que se vê em Guerra Infinita é a síntese disso. Um filme próprio, com começo, meio e fim bem distribuídos. Além disso, ao término da produção, fica claro que o filme é sobre Thanos, algo que foi incrivelmente acertado, deixando a entender que o próximo será sobre a equipe.

    O sentimento que Guerra Infinita deixa é de alegria e dever cumprido, o que aumenta ainda mais a expectativa para o próximo filme que chega aos cinemas daqui aproximadamente um ano. Enquanto isso, ficamos no aguardo da San Diego Comic Con em julho, que pode trazer as primeiras imagens e informações da misteriosa conclusão da história.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Vingadores: Guerra Infinita | Teorias e análises sobre o primeiro trailer

    Vingadores: Guerra Infinita | Teorias e análises sobre o primeiro trailer

    As primeiras imagens de Vingadores: Guerra Infinita foram mostradas em julho durante o evento da Disney chamado D23 e causou furor entre os presentes. Os fãs que estavam lá tiveram o “privilégio” de ver que os Vingadores, Guardiões da Galáxia e demais heróis do chamado Marvel Cinematic Universe – MCU terão muito, mas muito trabalho para enfrentar Thanos e seus soldados da Ordem Negra.

    Eis que a espera acabou e o resto do mundo pôde ver o que está por vir com a liberação do primeiro trailer oficial do filme. Informamos que a partir daqui, o texto poderá conter diversos spoilers, assim como teorias que poder ser verdades ou não.

    Logo no início, Nick Fury, Tony Stark, Visão, Thor, Natasha Romanoff proferem aquilo que seria o embrião da Iniciativa Vingadores, iniciada há quase 10 anos com a cena pós créditos de Homem de Ferro, de que havia uma ideia de reunir pessoas incríveis para ver se eles poderiam ser algo mais e que, então, se as pessoas precisassem deles, eles poderiam lutar as batalhas que as pessoas jamais poderiam lutar. Nas imagens já vemos Tony Stark (Robert Downey Jr) completamente acabado em sofrimento, onde se acredita que ele está segurando a mão de alguém que veio a padecer. Vemos também Bruce Banner (Mark Ruffalo) caído e assustado dentro de um buraco, sendo observado pelo Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch) e Wong (Benedict Wong), quando a imagem corta para o Visão (Paul Bettany), em sua forma humana, num momento de carinho com Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), ao mesmo tempo em que Thor (Chris Hemsworth) aparece a bordo da Millano.

    As imagens a seguir já mostram Stark junto de Banner e Dr. Estranho dentro do Sanctum Sanctorum, enquanto Peter Parker (Tom Holland), dentro de um ônibus, tem seus pelos do braço completamente arrepiados para, logo após, observar uma enorme máquina circular pairando no céu de Nova Iorque. Embora as imagens sejam rápidas, é possível perceber que Stark tem um novo reator em seu peito e é muito provável que esse reator não seja somente um reator, mas também a fonte de onde sairá a sua armadura, o que remete, de certa forma, à armadura Extremis dos quadrinhos, muito embora, seu design seja bastante inspirado na Bleeding Edge, também dos quadrinhos.

    Temos também imagens de Thanos (Josh Brolin) chegando provavelmente na Terra através de um portal, enquanto o Homem-Aranha, vestindo a sua armadura mais tecnológica apresentada ao final de De Volta ao Lar, procura um jeito de desativar a máquina circular, enquanto T’challa (Chadwick Boseman) ordena que a cidade seja evacuada, que todas as defesas sejam acionadas e que peguem um escudo para o homem que sai das sombras. O homem é nada mais nada menos que Steve Rogers (Chris Evans), que inclusive, aparece em cena segurando uma lança atirada pela vilã Próxima Meia Noite. Vale destacar que esse escudo do qual T’Challa menciona, não deverá ser o tradicional escudo do Capitão América, mas sim um escudo usado em Wakanda, onde o guerreiro possui duas placas retráteis de vibranium nos braços.

    O trailer tem um caráter muito urgente e passa a impressão de que é mais tenso do que o primeiro trailer de Vingadores: Era de Ultron. Nas imagens, ainda podemos ver a Hulkbuster chegando em Wakanda, que inclusive receberá uma enorme batalha, onde Capitão América, Falcão (Anthony Mackie), Viúva Negra (Scarlett Johansson), Soldado Invernal (Sebastian Stan), junto do Pantera Negra, Máquina de Combate (Don Cheadle), Hulk e a líder das Dora Milaje, Okoye (Danai Gurira), liderarão o exército de Wakanda contra o exército do Titã Louco, formado pelos Batedores ou pelos Vrexllnexians que já apareceram na série Agents of S.H.I.E.L.D., o que, de certa forma, causa surpresa, uma vez que a decisão mais óbvia seria usar novamente o exército Chitauri do primeiro filme. O trailer termina com Thor perguntando quem são as pessoas para quem ele está olhando e a imagem aponta para os Guardiões da Galáxia, aqui formados por Senhor das Estrelas (Chris Pratt), ostentando um bigodão setentista, Groot (voz de Vin Diesel), em sua forma adolescente, Gamora (Zoe Saldana), Mantis (Pom Klementieff), Rocket Racoon (voz de Bradley Cooper) e Drax (Dave Bautista).

    No que diz respeito ao enredo propriamente dito, é muito provável que o filme já comece com Thor sendo atropelado junto com outros destroços pelos Guardiões da Galáxia e que, ao ser resgatado pela equipe, começa a contar o que houve com ele, onde a nave contendo a Nova Asgard foi interceptada e destruída pela nave de Thanos. Existe a possibilidade dos Guardiões já estarem numa investigação com o intuito de saberem o que aconteceu com o Colecionador (Benicio Del Toro) e com a Tropa Nova, uma vez que nas imagens do trailer, o vilão possui duas Joias do Infinito e uma delas é justamente o Orbe, que estava sob a posse da tropa, sendo que a outra é o Tesseract, que deve ter sido entregue por Loki (Tom Hiddleston) durante o ataque à nave. E é durante esse ataque que existe a possibilidade de Heimdall (Idris Elba), sob às ordens do Deus do Trovão, enviar Bruce Banner para pedir socorro a Stephen Strange, o que justificaria sua queda exatamente dentro do Sanctum Sanctorum. Banner contacta Tony Stark e eles, provavelmente, serão os primeiros a receberem a investidas de Thanos e sua Ordem Negra. Uma imagem chocante é aquela em que vilão, após colocar a segunda joia em sua manopla, dá um duro golpe que nocauteia o Homem de Ferro de forma muito violenta.

    Vale destacar que o filme deve possuir alguns núcleos separados e somente em certo momento que o Capitão América, Falcão e Viúva Negra irão para Wakanda requerer auxílio ao Pantera Negra e ao Soldado Invernal. Antes disso, o grupo deve estar junto de Visão e Feiticeira Escarlate que sofrem um ataque da Proxima Meia Noite e de Corvus Glaive e é nesse momento que deve acontecer a primeira baixa da equipe, quando o sintetizoide possivelmente terá a jóia que carrega em sua cabeça extraída por Glaive.

    E deve ser Bruce Banner e o Coronel Rhodes que farão o elo de ligação entre os dois fronts de batalha, o de Nova Iorque com o de Wakanda. Por isso, acredita-se que é Banner quem pilota a Hulkbuster, que fará o transporte do cientista até o país africano. Curiosamente, a gigante armadura também aparece na batalha. Se for realmente Banner dentro dela, a teoria é que o herói esteja inseguro em se transformar em Hulk novamente, temendo que o Gigante Esmeralda tome por completo sua consciência, o que faz sentido, contudo, não vale de nada, uma vez que o monstro também aparece nas imagens.

    Obviamente, tudo isso se trata de suposições, afinal, alguns personagens e heróis ainda não apareceram, como o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), Homem-Formiga (Paul Rudd) e a Nebulosa (Karen Gillan), além do fato dos trailers serem montados de maneira aleatória. De qualquer forma, as primeiras imagens de Vingadores: Guerra Infinita fizeram tanto sucesso que bateram recorde de visualizações em menos de 24 horas de seu lançamento.

    O filme estreia dia 26 de abril aqui no Brasil.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Vingadores: Guerra Infinita | Confira a descrição do fantástico trailer exibido na D23

    Vingadores: Guerra Infinita | Confira a descrição do fantástico trailer exibido na D23

    A  Disney é tão enorme que precisa de um evento nos mesmos moldes das Comic Cons para anunciar novidades e imagens exclusivas de seus mais aguardados projetos.

    Felizmente, o terceiro filme dos Vingadores, intitulado de Guerra Infinita, promete ser o maior filme da história do cinema, não só pela quantidade absurda de heróis (todos aqueles que já apareceram até então), mas também por ser um ambicioso projeto trazido pela Marvel.

    O painel do filme contou com o presidente Kevin Feige e o co-diretor, Joe Russo, que conseguiu reunir no palco ninguém mais, ninguém menos que os Vingadores, Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Don Cheadle, Anthony Mackie, Tom Holland, Benedict Cumberbatch, Chadwick, Boseman, Sebastian Stan, os Guardiões da Galáxia, Karen Gillan, Dave Bautista, Pom Klementieff e o vilão, Josh Brolin.

    O trailer foi exibido somente para o público presente no salão e foi fantástico. Confira a descrição.

    De início, vemos um momento de tensão, onde os Guardiões da Galáxia, a bordo da Milano, esbarram no corpo inconsciente de Thor (com o uniforme de gladiador de Thor: Ragnarok). Ao ser trazido para dentro da nave, o asgardiano é acordado por Mantis. Assustado, Thor pergunta quem são aquelas pessoas.

    As imagens passam a mostrar a Terra com vários trechos de devastação. Vemos um Loki nada amistoso em posse do Tesseract e Peter Parker, num ônibus, tendo os pelos do braço sendo arrepiados, o que, aparentemente, é o seu sentido de aranha.

    Vemos Thanos pela primeira vez em um planeta alienígena usando a Manopla do Infinito e ele consegue soltar parte de uma lua provocando uma chuva de meteoros. Doutor Estranho, Guardiões da Galáxia e o Homem de Ferro estão na batalha.

    Também vemos em outras imagens o Homem-Aranha vestindo um novo uniforme, o Pantera Negra em Wakanda, alguns Vingadores, juntos do Hulk, apanhando dos asseclas de Thanos e também um Capitão América barbudo e uma Viúva Negra loira.

    O trailer tem um tom dramático, semelhante aos de Homem de Ferro 3 e Vingadores: Era de Ultron.

    Vale destacar que as filmagens do corte principal do filme se encerraram na última sexta-feira e a produção da continuação ainda sem título já teve início de imediato.

    Vingadores: Guerra Infinita estreia em 4 de maio de 2018.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Sing : Quem Canta Seus Males Espanta

    Crítica | Sing : Quem Canta Seus Males Espanta

    Sing : Quem Canta Seus Males Espanta mais nova animação dos criadores de Meu Malvado Favorito, chega cheio de energia e recheado de canções capazes de encantar o público.

    Na história um Coala que preside um decadente teatro, resolve inovar e promover um gigantesco concurso de talentos musicais, visando assim trazer o anfiteatro de volta para seus tempos áureos. Desde o início somos apresentados aos futuros concorrentes que buscam seu lugar ao sol no mundo do show business através de seu talento musical, personagens que vão desde um Gorila que contraria as expectativas de seu pai para buscar seu sonho de ser cantor até uma Elefoa dona de uma bela voz que espera ansiosamente ser descoberta e provar seu valor.

    A animação segue uma cartilha bastante habitual e nada ousada e é aí que reside seu grande ponto falho. Por mais que o filme seja bem feito e conte com grandes dublagens, ele não ousa ir além e se acomoda em sua fórmula. A obra tem boas sacadas como à escolha da trilha que se alterna o tempo todo e acentua bons momentos com canções que vão do clássico ao pop, de Stevie Wonder até Carly Rae Jepsen. Infelizmente a pluralidade de sua ótima playlist acaba não conseguindo se sustentar por si só.

    Há medida que história avança, ela vai deixando pelo caminho a oportunidade de explorar melhor tudo àquilo do qual ela (a história) dispõe, não se aprofundando em seus personagens e acabando com isso por não gerar ou estabelecer uma grande conexão entre suas estrelas centrais e o telespectador. O final que vai sendo construído o para ser catártico o tempo todo,  acaba se transformando em uma simples resolução dos fatos apresentados. O tão almejado grand finale inerente há musicais e há histórias que buscam consagrar seus indivíduos acaba por soar sem peso suficiente.

    Curiosamente, o filme não é de todo descartável, a narrativa tem seus ápices ao conseguir muitas vezes encantar através da suas respectivas interpretações musicais, é competente em sua comicidade e de certa maneira inspiradora na retratação da obstinação de suas personagens e seus sonhos. Sing : Quem Canta Seus Males Espanta pode não acertar o tempo todo, porém, está longe de ser um desastre. No frigir dos ovos vale a pipoca, vale a diversão.

    Texto de Tiago Lopes.

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  • Crítica | A Vigilante do Amanhã: Ghost in The Shell

    Crítica | A Vigilante do Amanhã: Ghost in The Shell

    Recentemente, M. Night Shyamalan disse que a onda de remakes e continuações em Hollywood está perto do fim. Tal declaração ocorreu quando o diretor divulgava seu novo trabalho autoral, Fragmentado e esse palpite certamente não alcançou A Vigilante do Amanhã: Ghost in The Shell, produção dirigida por Rupert Sanders e que já vinha sendo prometida a muito tempo. Cercado de polêmicas a respeito da mudança de etnia da maioria dos personagens, tal aspecto passa longe de ser o  maior defeito de concepção do produto.

    Sanders repete qualidades e defeitos de seu filme anterior Branca de Neve e o Caçador, mais uma vez trazendo um visual belo com um texto pasteurizado e repleto de clichês. Sua abordagem resgata alguns dos elementos do anime de Mamoru OshiiO Fantasma do Futuro, com referências inclusive ao background do diretor de animes, além de manter parte da essência do mangá Masamune Shirow através de fan-services ora pontuais ora gratuitos, no entanto, falta sutileza no tratar dos assuntos chaves.

    A personagem principal é chamada de Major e é interpretada pela celebridade Scarlett Johansson. A atriz está bem quando se exige dela um talento dramatúrgico, ainda que em alguns momentos sua performance aparente preciosismo, culpa evidentemente do roteiro de Jamie Moss e William Wheeler. O texto escolhe investir em uma discussão mais óbvia e obsoleta sobre a questão da alma e espírito sobre a inteligência artificial. É nessa transposição da linguagem tipicamente japonesa para uma visão mais ocidental, vista nas refilmagens dos Estados Unidos, que mora o principal demérito do longa. A questão filosófica de vida inteligente é minimizada para uma questão individual, no caso, relacionada a heroína da trama.

    A centralização narrativa é tanta que quase não sobra substância para os outros personagens explorados. Batou (Pilou Asbaek) por exemplo é um dos personagens mais queridos da franquia, mas soa como um sidekick de luxo. De positivo há o trabalho de Juliette Binoche como a Doutora Ouelet, Takeshi Kitano como o chefe Aramaki e o surpreendente Michael Pitt, que rouba a cena quando aparece, como Kuze. No entanto, a motivação dos três personagens em momento nenhum se justifica e se torna quase tão risível quanto a performance e background do vilão clássico, Cutter (Peter Ferdinando), antagonista que torna a experiência aborrecida.

    Apesar de não ser tão brilhante quanto a dos outros filmes, a trilha sonora casa bem tanto com o visual cosmopolita que remete à Blade Runner quanto com as sequências de ação. Para quem é fã da saga de Motoko Kasanagi e todo o universo de Ghost in The Shell há algumas referências básicas e pontuais, como cenas filmadas de maneira idêntica, uso de nomes importantes da saga além de uma preocupação por parte da direção de arte, que conseguem retratar com qualidade um cenário futurista cyberpunk capaz de se diferenciar até dos filhos da série como Matrix.

    É curioso que o título brasileiro Vigilante do Amanhã se distancie tanto do nome original, exceto pelo subtítulo em inglê. A sensação após o filme é a de se apreciar algo diferente dos materiais anteriores. Não é uma adaptação ofensiva  – ainda mais graças a toda reverência as obras de Oshii e Shirow – mas acrescentando bem pouco a franquia como um todo, uma vez que a temática é tão modificada que parece outra história, em um roteiro de qualidade baixa principalmente ao forçar o trama para uma possível continuação.

  • Crítica | Mogli: O Menino Lobo (2016)

    Crítica | Mogli: O Menino Lobo (2016)

    mogli-o-menino-loboQuando anunciado pela Disney, que estaria refilmando um de seus clássicos de animação, Mogli – O Menino Lobo, de 1967, em uma versão live-action repleta de efeitos computadorizados e dirigida por Jon Favreau, poucos foram os que não tiveram ressalvas com a decisão do estúdio, afinal a animação clássica permanece bastante viva no imaginário das pessoas como um dos filmes mais queridos do estúdio, além de ser uma das grandes obras do estúdio nos anos 1960 ao lado de 101 Dálmatas – também adaptado em live-action em 1996.

    Convém lembrar que a decisão de refilmar esses clássicos tem sido uma constante do estúdio Disney nos anos de 2010: Cinderela, de Kenneth Branagh, Malévola (releitura de A Bela Adormecida), de Robert Stromberg, e Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton. Apesar do sucesso de bilheteria, todos os filmes dividem opiniões da crítica, e por muitos soam como uma tentativa cínica de arrecadar dinheiro à custa da nostalgia de muitos. Mogli: O Menino Lobo, apesar de ter esse objetivo, felizmente é um desses exemplos de obra que, apesar de seus imperativos comerciais, pode ser repleto de originalidade, criatividade e paixão em sua realização.

    A história do longa-metragem é uma adaptação de um dos contos do livro de Rudyard Kipling, O Livro da Selva (compre aqui), que traz a história de Mogli (Neel Sethi), uma criança que tem como protetora a pantera Bagheera (Ben Kingsley) e é criada por uma matilha de lobos após ter seu pai morto nas selvas da Índia. A história ganha novos contornos quando a selva indiana passa por um período de seca e todos os animais se reúnem em um pequeno vale, onde ainda se encontra água. Por conta disso, é evocada uma das leis da selva que obriga uma trégua temporária naquela região onde nenhum animal precisaria temer em se tornar uma presa de outro animal.

    No entanto, a chegada do tigre Shere Khan (assustadoramente dublado pelo grande Idris Elba) coloca em risco a vida de Mogli, e Bagheera não vê outra escolha a não ser levar o menino de volta a uma aldeia de homens para que ele possa crescer em segurança. A partir de então, o filme ganha contornos de um “road movie“: a jornada de Mogli até a aldeia dos homens. Como nos típicos filmes de estrada, há um ponto de chegada pré-definido, no entanto não definitivo, já que a própria jornada do protagonista se torna mais relevante. A jornada é mais importante que a chegada, e a verdadeira finalidade das personagens.

    mogli - o menino loboEm sua jornada, Mogli se depara com vários animais, e cada um deles oferece ao protagonista um caminho diferente a ser traçado. Bagheera é marcado pela preocupação benevolente, prezando unicamente pela segurança de Mogli e deixá-lo entre os seus; Kaa (Scarlett Johansson) oferece um desfecho rápido através de seus olhos hipnotizantes e sedutores; por sua vez, Baloo (Bill Murray) entrega uma visão de mundo inicialmente escapista, mas que ao longo da trama se mostra repleto de ternura, enquanto o Rei Louie (Christopher Walken) surge como a demonstração da ganância e a ambição humana. Além disso, dentro da matilha de lobos, Akela (Giancarlo Esposito) e Raksha (Lupita Nyong’o) são as representações das figuras paterna e materna de Mogli.

    Os efeitos visuais abrangem quase que exclusivamente não só todos os personagens -exceção feita a Sethi interpretando Mogli – mas também todo o ambiente do longa-metragem. O filme se mostra extremamente bem-sucedido nesse esplendor tecnológico, apesar de, em alguns momentos, o nível cair e deixar um pouco a desejar. O trabalho do diretor de fotografia Bill Pope ao lado de Favreau é consistente, evocando cenas belíssimas e dando um clima mais sombrio se comparado à animação de 1967, mas de maneira alguma deixa de ser um filme bem-humorado.

    Diferente da animação clássica, Mogli: O Menino Lobo, conta apenas com dois números musicais, o já clássico The Bare Necessities, canção de Baloo e interpretado com a leveza de Murray; e I Wan’na Be Like You, em um belo bepop interpretado por Walken em sua personagem Rei Louie; e aos não-adeptos de musicais, importante dizer que ambas as canções interpretadas são dois grandes momentos do filme, não se tratando de casos que retirem o espectador da imersão do filme, mas muito pelo contrário.

    No final das contas, Mogli: O Menino Lobo é um longa repleto de ternura, sensibilidade e intensidade. Curiosamente, um filme praticamente desprovido de seres humanos, mas repleto de humanidade.

  • Crítica | Capitão América: Guerra Civil

    Crítica | Capitão América: Guerra Civil

    Capitao America - Guerra Civil

    O mundo tem se tornado um lugar cada vez mais complexo, embora menos violento, fazendo com que a tomada de decisões se torne uma função cada dia mais ingrata. Se antes era fácil decidir o que era certo e o que era errado, hoje a matiz se diversificou.

    Após o final da Segunda Guerra Mundial, o cientista Oppenheimer fala a público sobre sua participação no Projeto Manhattan (que formulou as bombas jogadas em Hiroshima e Nagasaki). Com amargura, cita Bhagavad Gitá e o texto Mahabarata da cultura Hindu, quando Vishnu tenta convencer o príncipe a cumprir seu dever, e para impressioná-lo assume sua forma com múltiplos braços: “Agora eu tornei-me a morte, a destruidora de mundos”. Já a visão de parte da tripulação do avião que carregava as bombas atômicas, endossada pelo presidente Truman, era “Eu estava obedecendo ordens. Eu fiz o meu dever”. Escolher o argumento do dever é escolher não conviver com a culpa e a responsabilidade, um mecanismo de defesa frequente no qual se convence que não teve escolha. Em uma visão quase romântica, que só poderia ter sido assim, tal como foi. Exatamente qualquer ato malévolo pode ser igualmente reduzido apenas ao cumprimento do dever, isso, porém, não dissolve as questões éticas e atemporais da maldade. Este tipo de reflexão é crucial para evitar que épocas fascistas de nossa história não sejam hoje vistas com romantismo imaturo ou postura blasé.

    Capitão América: Guerra Civil tem início com o grupo dos Vingadores já estabelecido como uma força civil de combate ao terrorismo em diversos países do mundo sem obedecer fronteiras. Com incidentes recorrentes, como os que se deram em Vingadores: Era de Ultron e a falta de participação de governos nas decisões do grupo, surge o medo de o que é se viver num mundo onde se tem heróis fantásticos. Após uma missão frustrada na Nigéria surge o apelo pela responsabilização dos Vingadores em seus atos, quando entra em ação o então secretário de defesa General Ross (vivido Willian Hurt aqui e em O Incrível Hulk) com a missão de colocar os Vingadores sob sua tutela, e assim obedecer as ordens do conselho de segurança da ONU. Ao trazer a questão para o mundo real, ações moralmente duvidosas como o uso de drones para julgar e executar criminosos no oriente médio recebem aceitação popular simplesmente por estarem atreladas a um governo, mas seriam seriamente repreendidas caso viessem da sociedade civil.

    Vivemos em uma época de prosperidade, mas em cuja inocência se extinguiu. Não é mais possível comprar um item sem sequer estar compactuando com trabalhos escravos, exploração da natureza, ou com o terror em países abandonados à própria sorte.

    Steve Rogers (Chris Evans) une todos esses paradoxos em si. Um homem profundamente solitário que busca lutar pelo coletivo. Descrente de instituições em uma visão foucaltiana, que considera as instituições como naturalmente perversas, compreende que o mundo é obscuro e não há inocência na mais simples ação, mas também acredita poder saber o que é o certo e o que é o errado, sem precisar democratizar suas decisões. Tony Stark (Robert Downey Jr, em uma interpretação muito mais sensível que em suas outras aparições) da mesma forma usa seu ego e genialidade para moldar o mundo à sua imagem e semelhança, como um construtor moderno, um futurista que, pela potência de suas ações, faz o mundo se curvar para elas. Repetidamente se observa Stark, assim como Vishnu, tornar-se o destruidor de mundos.

    A incapacidade de ter certezas e a impossibilidade de não agir destrói o interior desses dois personagens, que no fundo veem a tentativa de controle como uma forma de evitar a profundeza de suas consciências e, assim, lutam para garantir algum propósito a suas existências.

    Os irmãos Russo, diretores de Capitão América 2: O Soldado Invernal e dos próximos Vingadores, conseguem discutir estas questões sem dar respostas, a não ser a de que é necessário cuidado ao se entregar por completo a uma crença, ou a corrupção e destruição serão o próximo passo. Distante de criar uma dicotomia fácil, buscam tornar crível o embate entre ao dois lados liderados por Capitão América e Homem de Ferro, ao desenvolvê-lo tão humano quanto possível. A referência aqui é Hamlet, de William Shakespeare, primeiro homem moderno da literatura, que no confronto com a morte diante da caveira questiona sua própria existência e aquilo que se é. Capitão América se torna, assim, o príncipe confuso e amargurado, mas de bom coração e ideais tão robustos quanto falhos, que se tornaria rei mesmo que ainda vivesse em uma casca-de-noz.

    Com uma melhora clara na direção com relação ao filme anterior, em belas cenas de câmera à mão e na opção por usar planos ligeiramente mais longos sem cortes aparentes em diversas cenas, o ritmo de Capitão América: Guerra Civil é impecável, embora o tempo de projeção seja sentido devido ao volume de informação. O trunfo para lidar com tantos personagens é fazer do antagonista uma face alternativa da moeda que será jogada, tornando-o mais um conceito do que um personagem. Tal aposta traz algo recorrente nos filmes do Universo Marvel: a falta de vilões poderosos e capazes de seduzir o espectador, compensada pela boa atuação e os ideais cativantes do Barão Zemo (Daniel Brühl em boa atuação). A impressão é que tudo é gerado pelo caos e aleatoriedade, mas cinema é narrativa, e mesmo que não seja a grande peça de cultura pop que foram outros filmes, claramente inferiores a este, essas opções elevam Guerra Civil como obra.

    Os irmãos Russo lidam bem com o desafio de balancear os protagonismos melhor do que ninguém, conseguindo tornar críveis as opções de roteiro que são puramente funcionais e, com a melhora na direção, as atuações se mostram acima dos diálogos eventualmente verborrágicos de filmes anteriores do Universo Marvel, e com alívios cômicos capazes de contribuir para a dramaturgia vista na tela.

    É o dilema filosófico clássico: uma ideia contra uma ação. O quanto um ideal se sustenta frente às questões práticas de um mundo onde tudo que se pode fazer é uma contenção de danos? De certo modo, o dilema é o mesmo mostrado em Batman vs Superman: A Origem da Justiça, ao mostrar heróis afogados pelo niilismo e em busca de sua própria humanidade, podendo refletir um caminho revisionista do super-herói no cinema — tal qual Deadpool, embora numa direção diferente. Em Guerra Civil, porém, o respiro alcançado é dado de maneira mais carismática e redentora que na obra da DC Comics / Warner, alcançando a luz por meio do sacrifício daquele que é capaz de apanhar o dia inteiro por pura fibra moral, por aquele que prevê um mundo melhor aos seus filhos, pela nobreza herdada, ou pela simplicidade da ótica de um menino de 16 anos que passou a vida apanhando e hoje é capaz de fazer a diferença com seus dons. Com destaque para James Rhodes (finalmente bem utilizado), o Pantera Negra (Chadwick Boseman), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e para o excelente Homem-Aranha/Peter Parker, os diversos personagens trazidos aqui são o fio de entusiasmo que faz com que se siga em frente sem perder seu caminho.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

     

  • Crítica | Woody Allen: Um Documentário

    Crítica | Woody Allen: Um Documentário

    A evolução de um artista se mede pelo catálogo conjurado ao longo de tantos anos. De lá pra cá, uma lista que atesta o gênio de um comediante não pode ser menos que homérica, ou mais digna de ser debatida, filme por filme, num documentário feito sob medida a fãs, estudantes e curiosos sobre a vida (e obra) de Woody Allen, o criador dos monólogos, diálogos e de toda a comédia mais textual que visual de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (seu melhor filme), Memórias e Meia-Noite em Paris. Uma mente a serviço de um gênero que dedicou sua vida a aprimorar, muito além do estilo de comedia americana, das lições de Buster Keaton, Charles Chaplin e os lendários irmãos Marx, a trindade que ainda tanto espira Allen em sua máquina de escrever, de onde saíram seus mais de 50 roteiros, sem exceção ou afetações tecnológicas. Ao costurar a vida de um artista, o jornalista Robert B. Weide, fã do humorista, não escapa do humor leve e afiado de seu ídolo no ritmo de seu filme, e tampouco esquece que ninguém é perfeito.

    A tarefa de mistificar Woody Allen e ser justo, ao mesmo tempo, com os altos e baixos da carreira de quem faz praticamente um filme por ano, há quase oito décadas, nunca seria fácil. Reunindo velhos amigos como Diane Keaton e Mia Farrow, as duas musas do judeu inseguro e inquieto, tal qual Penélope Cruz e Scarlett Johansson, um pouco de sangue novo, entrevistas inspiradas pretendem mais revelar que comentar, expondo a arte mais nobre dos documentários a favor da reflexão: levar o fato ao público e deixá-lo ruminar, sem condicionar o rebanho a uma única opinião. E igual nossa relação de amor e ódio com os loucos e normais personagens criados pelo artista, aos poucos vamos descobrindo segredos e resgatando fatos, interessantes o bastante para merecer o registro, de uma vida tão polêmica quanto produtiva, ainda que parcial aos talentos e desejos de Woody. O próprio Martin Scorsese, colega desde os anos 70 (Taxi Driver e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa são clássicos da mesma época), admite que poucos têm tanto a dizer quanto a mente por trás de A Rosa Púrpura do Cairo, Zelig e A Era do Rádio.

    Das mãos de onde saíram tantas reinvenções de um gênero que não se limita mais, também pela contribuição inteligente do cineasta, a provocar apenas aquela risada fácil, Woody Allen: Um Documentário nos remete a lições extraídas dos filmes, dos livros e da carreira que postula e converge numa vida curiosa, voltada à análise das emoções humanas, das traições entre casais, dos laços familiares, das fugas ao passado, do desejo pelas mulheres, das paranoias de viver em sociedade, universos inevitáveis nas histórias do autor. Elevar ao hall das lendas esses aspectos é tarefa de fã, o que certamente torna mais doce o desafio, ainda que incompleto, de emoldurar carreiras tão prolíficas numa obra que vai do jazz à psicologia, sendo divertido e deliciosamente previsível, como pede o figurino. Imagine um documentário sobre Scorsese (o que já está na hora de acontecer): o culto a diversidade cultural e a violência qualificada seriam omitidas? Resposta óbvia.

    Seria loucura afirmar que o documentário de Robert Weide não tem lugar entre os livros sobre o artista, em especial o hilário e amplamente pessoal Conversas com Woody Allen, da editora Cosac Naify, livro-chave para conhecer mais a fundo o que move e mantém na ativa a ostra octogenária que, com suas pérolas, nunca subestimou a inteligência do público. Um documentário quase à altura das fases do ídolo, se não a falta de precisão entre a arte da pessoa, e a pessoa da arte. Se o homem vale mais que o mito, ou vice-versa, o filme não se dá o direito de concluir essa questão, à margem de nosso juízo a partir dessa pendência, dessa falta de postura e coerência. Destaque, mesmo, ao equilíbrio entre o que é lendário na carreira de Allen e o simplório, tal seu platônico amor por sua eterna parceira: uma clarineta.

  • Crítica | Vingadores: Era de Ultron

    Crítica | Vingadores: Era de Ultron

    Vingadores 1

    Fechando a Fase Dois dos filmes da Marvel, passando por qualquer expectativa ao filme de 2012, Joss Whedon finalmente se despede dos filmes da Marvel Studios, utilizando uma desculpa até hoje mal contada, mas que não o impediu de produzir um filme que atingisse todos os requisitos de uma boa sequência, ainda que sua produção tenha alguns defeitos pontuais.

    O início da trama é frenético, com sequências de ação desenfreadas que fazem o filme se assemelhar à fita de Simon West, Os Mercenários 2. Não perdendo qualquer segundo com explicações, o filme já demonstra como os heróis agem em grupo e o quão coesa é aquela união, mais intensa graças à queda do sigilo e das operações da antiga S.H.I.E.L.D, como mostrado em Capitão América 2 – O Soldado Invernal. Os opositores seguem como os membros da HYDRA, ainda que toda a confecção dos vilões seja um óbvio MacGuffin, como Hitchcock adorava fazer, um despiste que não consegue ludibriar qualquer espectador mais experiente.

    Tal artifício cobre seus efeitos, já que toda a construção prévia rui em questão de minutos, mesmo com toda a crescente de importância dos até então vilões. O fato do roteiro se basear em uma história recente de sucesso por um lado compromete a cena pós-créditos de Vingadores, mas consegue manter o clima de escapismo, equilibrando pontuais questões sérias, adicionando cor e docilidade, com cenas de ação ainda mais bem orquestradas – marca forte de Whedon enquanto diretor – mesmo que o exército dos inimigos seja absolutamente descartável, como tantos capangas acéfalos dos tokusatsus famosos, equiparando a antiga tropa de Tony Stark (Robert Downey Junior) aos esquálidos bonecos de massa que enfrentavam os Power Rangers.

    A ideia de explorar as diferenças entre os membros do grupo segue concentrando um enorme pedaço do desenvolvimento do roteiro.  Não há nisto qualquer novidade, mesmo o acréscimo dos novos personagens – os gêmeos Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e Mercúrio (Aaron Taylor-Johnson) – já era esperado, por ser um clichê de filme de equipe. O fato de não precisar mais contar qualquer origem gera no público uma avidez por mais aspectos novos, que não são plenamente cumpridos, ainda que o excesso de adrenalina quase chegue a cumprir essa expectativa.

    A discussão a respeito da antiga questão da supervisão do vigilantismo beira o brilhantismo. Diferente do executado por Zack Snyder em Watchmen, a indagação do “quem vigiará os vigilantes” não é tratada de modo pasteurizado, ao contrário, pois os pecados de Banner/Hulk (Mark Ruffalo) e do Homem de Ferro são cobrados com os próprios em vida, sem qualquer tentativa de fuga da responsabilidade ou de complacência dos seus atos impensados. Ultron é fruto do medo da humanidade de ser perseguida, e toda a sua arrogância – unida ao potente trabalho vocal de James Spader – faz com que todo o pânico inerente aos homens de sangue quente se fortifique, manifestando-se através de uma liderança insensível e absolutista, referência claras à tirania de personagens históricos, tradicionalmente trazendo a ideia de arquétipo vilanesco.

    O ritmo veloz quase faz com que se esqueçam os problemas pontuais do argumento, como a troca de interpretação do androide Ultron, relegando a Hank Pym um papel absolutamente subalterno, já definido como coadjuvante de “seu” futuro filme solo. Outro aspecto que não fica exatamente claro é até onde o filme do gigante esmeralda protagonizado por Norton foi descontinuado, já que não há qualquer referência à vida – ou não – de Betty Ross, mesmo sendo este um dos pilares do personagem.

    Apesar das reprimendas, o background do Hulk é o aspecto mais rico e melhor trabalhado, além, é claro, da acessória questão da humanizada Natasha Romannoff, além de fazer uso – finalmente – dos dotes dramáticos de Scarlett Johansson, afora suas já tão conhecidas curvas. Sua importância no filme é magnânima, cabendo a Viúva restaurar o equilíbrio do grupo, tanto no proceder com o Monstro – em outra referência ótima ao canône do personagem – quanto no importante lembrete de que, além de todo o poder e destruição potencial dos heróis, e com toda a magnitude dos semi deuses, ainda sobravam nos personagens aspectos humanos que fazem emocionar, unindo personagens e público no mesmo invólucro de emoções.

    Apesar de ter conceitos pouco explorados, graças à pressa dos produtores do filme – como a absoluta e interessante ação dos gêmeos, ou o sub-aproveitamento do Falcão no filme – há mais a se destacar positivamente do operar dos Vingadores do que reclamações. Thor (Chris Hemsworth) segue no automático, assim como Stark, apesar de neste filme o filantropo se achar muito mais vulnerável, assim como em Homem de Ferro 3. Mas é o acréscimo do conceito de evolução que mais se destaca, usando como avatar a figura do Visão, de Paul Bettany, que cumpre todos os papéis que deveriam ser do Ultron perfeito, reunindo aspectos de onisciência e onipotência, com uma destacável questão pretensamente filosófica. De modo bem pragmático, o filme salienta que o complexo do Doutor Manhattan não precisava ser tão ligado ao autismo, como no filme de Snyder de 2008.

    Mesmo que a cena pós-créditos seja bem menos empolgante do que se imaginava – ainda mais em comparação com a suposta cena do Cabeça-de-Teia, vazada há pouco tempo – o desfecho do filme remete à esperança da humanidade no panteão de heróis liderados por um Capitão América (Chris Evans) bem mais inspirado que anteriormente. Um filme que organiza elementos dissonantes de modo harmônico e coeso, sem fazer perder o fôlego em momento algum. Que não supera seu antecessor em termos de qualidade, mas que entrega o esperado de modo idôneo, sem apelar para fórmulas batidas em detrimento de conteúdo.

  • Crítica | Vingadores: Era de Ultron

    Crítica | Vingadores: Era de Ultron

    Vingadores - Era de Ultron - Poster

    Três anos, quatro filmes e uma série (e meia). Isso é que separa as duas aventuras dos Maiores Heróis da Terra no já mais do que estabelecido Universo Marvel cinematográfico. Mas a sensação em A Era de Ultron é de que pouca coisa teve importância nessa pós-Batalha de NY. Para o bem e para o mal: as besteiras de Homem de Ferro 3 sumariamente ignoradas é de lavar a alma, não deixa de ser um desperdício os elementos de O Soldado Invernal e de Agentes da S. H. I. E. L. D. (fim da Shield, Hidra, Inumanos) na prática não fazerem muita diferença.

    A Hidra está lá, claro, mas apenas como um gatilho para o início da trama. Após atacar a última base da organização terrorista, os heróis recuperam o cetro de Loki. Fazendo uso do imenso poder do artefato, Tony Stark coloca em prática um projeto de inteligência artificial que deveria ser a solução final em termos de paz mundial (e substituir os Vingadores). Como em qualquer história com esse tema, as coisas obviamente dão errado, e surge o vilão Ultron, uma ameaça que vai colocar à prova não somente a capacidade da super equipe de proteger o planeta, como também a confiança entre seus membros.

    A força do filme, a exemplo do primeiro, está no equilíbrio que já virou marca registrada da Marvel no cinema. Há um passo além no desenvolvimento de personagens e no que se pode chamar de maior maturidade, mas as cenas de ação de encher os olhos e o bom humor (felizmente bem dosado e colocado) estão lá. E enquanto sequência, o longa habilmente se aproveita do universo e indivíduos já familiares para se concentrar em contar sua história em ritmo acelerado, sem qualquer enrolação ou preocupação com didatismo ao introduzir os vários novos personagens.

    Wanda e Pietro são rapidamente estabelecidos como “vilões por engano”, e organicamente fazem a transição. Havia potencial para maior exploração de ambos, principalmente do velocista, mas como micro origem num contexto maior, a participação dos gêmeos foi satisfatória. Em relação ao vilão de fato, Ultron sofreu um pouco com a expectativa: os trailers sugeriam algo muito mais sinistro. Contudo, considerada a proposta Marvel de ser, ele desempenhou bem seu papel de ameaça da vez. Além de claramente servir muito mais como ferramenta para desenvolver outros personagens, como Stark e o Visão.

    Visão, aliás, que foi a mais gratificante das novidades e talvez o grande acerto do filme. O conceito de um ser que está entre o artificial e o humano ficou bem representado, passando pela inteligente adaptação da origem do personagem e pela atuação precisa de Paul Betany. A dignidade semifilosófica e semimelancólica do herói foi transposta com perfeição dos quadrinhos para a telona.

    Dentre os velhos conhecidos, é interessante notar as relações de afinidade entre os membros da equipe, moldada a partir dos ideais e visões de mundo de cada um. Capitão América e Thor aparecem bem entrosados em batalha, o soldado e o guerreiro, ambos confortáveis em continuar travando o bom combate em prol dos inocentes. Na contramão, claramente, Stark e Banner. Cientistas, não lutadores, ambos concordam que o foco deve ser o de acabar com a necessidade de lutar. E por sua vez, Clint e Natasha ficam num meio-termo, mostrando um certo cansaço dessa vida, mas cientes de seu papel. Os dois também se assemelham no sentido de que o roteiro busca humanizá-los ainda mais; só que enquanto o espaço maior dedicado ao Gavião Arqueiro surpreende e agrada muito, o romance da Viúva com o Hulk soa pouco convincente.

    Em linhas gerais, A Era de Ultron sem dúvida entrega o que promete, perdendo talvez alguns pontos por não trazer nada efetivamente bombástico ou inovador. Como uma boa megassaga dos quadrinhos, o filme é divertido, grandioso, traz mudanças no status quo e entrega pistas do que vem por aí. Mas, como nos quadrinhos, há a sensação de mais do mesmo, ainda não um problema de fato, mas já perceptível. Fica a expectativa para as cenas dos próximos capítulos: a discordância entre Tony e Steve, Wakanda e mais uma vez as Joias do Infinito são elementos que até podem passar sem grande alarde para os não entendedores, mas mantêm aceso o interesse dos fãs.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Melhores Filmes de 2014, segundo Doug Olive

    Melhores Filmes de 2014, segundo Doug Olive

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    Se o leitor ainda não conferiu os filmes abaixo, faça-se o favor.

    10 – Carvão Negro, Gelo Fino, de Yi’nan Diao

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    Inspirada versão chinesa, colorida e divertida do coreano Memórias de um Assassino. Misto de drama de ação com denúncia sócio-política dos tempos atuais no país, o filme, através de cenas filmadas em excelência total de consciência do poder de suas situações, sem medo de explorá-las no que diz respeito à concepção de cada plano, tratados aqui como se fossem muito mais que unidades de cena, se torna memorável em proposta, abordagem e resultado.

    9 – O Conto da Princesa Kaguya, de Isao Takahata

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    A animação do ano vem novamente, assim como Vidas ao Vento em 2013, do lendário estúdio Ghibli, fato que torna qualquer justificativa dispensável. A intensidade sentida no amor, na sutileza e ternura por cada imagem narrada na história é algo que em 2014 foi similar apenas com O Menino e o Mundo, pérola brasileira do gênero. Contudo, a adaptação e apropriação pelo Cinema de uma antiga lenda japonesa por Takahata impressiona e hipnotiza, graças a uma rara magia e sedução, raramente atingidas na década presente.

    8 – Norte, o Fim da História, de Lav Diaz

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    A brutalidade e a graça está sob o filtro de uma experiência, ou seja o treino demorado do olhar, da percepção, vibração emocional e a calma leitura fotográfica que o filme nos permite. De uma panorâmica aérea sobrevoando a aldeia que um prisioneiro deixou pra trás, até o fim do voo entre as grades da prisão: é por essas e por outras que o filme parece ter uma hora de duração (São 250 minutos a favor da liberdade de expressão, em terra de ditadura e insegurança civil, tudo traduzido em narrativa visual nas cores e costumes culturais da belíssima Filipinas). Lav Diaz também realizou em 2014 o ótimo Do Que Vem Antes, com 338 minutos quase tão fortes quanto.

    7 – O Expresso do Amanhã, de John-ho Bong

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    Difícil imaginar outro cineasta no comando do filme. Entre cenas de ação impecáveis, a situação de um mundo antes dividido fora do trem se propaga em ritos e choques sociais condensados entre paredes opressoras e frias, onde pessoas de várias nacionalidades se unem e se separam para sobreviver. Filmaço de ação à moda dos anos 80, ambicioso e que extrai da ambição os seus maiores méritos, mas cuja falta de publicidade atrapalhou maior repercussão com o grande público. A ser descoberto sem perda de tempo!

    6 – Um Pombo Sentou num Galho e Refletiu Sobre a Existência, de Roy Andersson

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    O surrealismo em doses cavalares a serviço do cenário, da tragédia e da salvação; tudo junto e misturado numa mistura deliciosa. De influência literária total, Andersson corrói a leitura que lhe inspirou e transforma as migalhas numa peça sólida de Cinema do mais alto nível de humor, a ponto de, com certeza, inspirar outros em outras jornadas artísticas num breve futuro à frente. O impacto da imaginação de dois homens exaustos de suas vidas não ganhou concorrência em 2014, com resoluções expressionistas ímpares na memória do espectador.

    5 – O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson

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    É o Cinema de Jacques Tati e Stanley Kubrick feito para todas as idades e mentalidades. Uma viagem dinâmica por um museu de curiosidades à prova do tempo, por razões perceptíveis a olho nu, com ótimas decisões conceituais e um sabor agridoce (precisamente) irresistível dentro e fora do colorido hotel homônimo, apenas outra instância do sertão volátil e astuto de Anderson. A senti-lo e deixá-lo absorver na maior tela possível, de peito aberto.

    4 – Mapa Para as Estrelas, de David Cronenberg

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    Sátira amarga a Hollywood, celeiro de bizarrices às vezes normais, outras nem tanto, mas jamais naturais ao espírito humano que Cronenberg coloca em escanteio, no seu modo chocante de fazer Cinema. Não há espaço para pessoas de bem ou pessoas do mal, apenas criaturas fazendo o que é necessário à sobrevivência e à morte inerente, seja como ela venha a aparecer aos personagens no fim, meio ou começo. O filme de terror não oficial do ano, com Juliane Moore na pele da celebridade que todo paparazzi quer ter em suas lentes. Aqui, não usar máscaras ou maquiagem não é ser natural, mas um crime.

    3 – Era Uma Vez em Nova York, de James Gray

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    Era uma vez, a esperança e um manifesto sobre suas facetas na pátria das promessas. No filme de Gray, o ouro é a ironia: A beleza da fotografia na feiura das condições que as prostitutas ainda são submetidas, os olhos da mocinha, a magia do showman, o bom mocismo do mocinho. Acima de tudo, o despertar da realidade em um liquidificador de causas e consequências apoiadas num primor de Cinema que só não transcende, por pouco, a tênue linha entre o certo e o errado num jogo trágico, e, ironicamente, lindo; imperdível.

    2 – Amar, Beber e Cantar, de Alain Resnais

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    A atuação coletiva de 2014, o último filme de Resnais, e outros marcos que o tempo nos irá revelar em relação ao filme. Grande homenagem humilde e profunda ao teatro, cinema, música e a qualquer forma de análise. O cineasta imita um pintor e injeta energia de principiante no verdadeiro cenário de seu epitáfio filmado: a nebulosa de seus atores, livres e soltos num frescor de renovação ideológica, se Fellini realmente estava certo ao dizer que “todo cineasta realiza o mesmo filme, sempre”. O canto de cisne do artista foi um trago da essência do que Resnais dedicou sua vida a aprimorar, desde os anos 40 até agora. Infelizmente, só até agora.

    1 – Bem-Vindo a Nova York, de Abel Ferrara

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    O cineasta pode ser o mais corajoso dos artistas quando quer ou precisa, e Ferrara, um dos maiores em atividade tanto na América quanto no mundo faz desconstruir estudos em prol da crueza, do escândalo, da denúncia e de tudo o que ainda é implacável, num mundo implacável. Retrato social nu e impressionante, totalmente artístico, totalmente real, atual, e 100% necessário em tempos que o Cinema tende a ser cada vez mais indolor, mostrando em Bem-Vindo a Nova York muito do que o público não gosta de ver, e por isso, merece exercer sua ética e lucidez ao desbravar o filme de maior impacto e especulação de 2014.

    Outras menções: O Lobo de Wall Street, de Martin Scorsese/ Ela Volta na Quinta, de André Novais de Oliveira/ Dois Dias, Uma Noite, de Jean-Pierre Dardenne/ Jersey Boys: Em Busca da Música, de Clint Eastwood/ Noites Brancas no Píer, de Paul Vecchiali/ Ventos de Agosto, de Gabriel Mascaro/ Relatos Selvagens, de Damián Szifron/ Adeus à Linguagem, de Jean-Luc Godard/ Sob a Pele, de  Jonathan Glazer/ e Ida, de Pawel Pawlikowski.

  • Crítica | Chef

    Crítica | Chef

    Chef - poster

    Depois de dirigir o espetacular Homem de Ferro e os não tão espetaculares Homem de Ferro 2 e Cowboys & Aliens, filmes de orçamentos altíssimos que foram cercados de expectativa, Jon Favreau parece que resolveu se reciclar e fazer algo mais intimista, em cujo projeto pudesse ter maior liberdade. O resultado final foi Chef, um autêntico “feel good movie”, mas que também pode ser chamado de feel hungry movie, como bem disse um amigo meu.

    Na trama do filme, Favreau interpreta Carl Casper, chef de cozinha de um badalado restaurante de Los Angeles. Casper volta e meia entra em rota de colisão com o dono do estabelecimento – interpretado por Dustin Hoffman – por querer inovar o cardápio do lugar ao invés de manter os pratos mais pedidos pelos clientes. Certo dia, um renomado crítico culinário vai ao restaurante e critica justamente a falta de imaginação do menu do lugar, o que deixa Casper furioso. O chef então, resolve rebater as críticas através do Twitter, desafia o crítico a voltar ao restaurante para preparar um cardápio especial pra ele. Porém, o dono do local acaba demitindo Casper e servindo o menu repetido. Em um acesso de fúria, Casper acaba fazendo um desabafo e desferindo uma série de desaforos pro crítico. Toda a confusão viraliza na internet, o que acaba lhe fechando as portas para trabalhar em outros restaurantes. Sem saída, ele acaba aceitando o conselho de sua ex-esposa (Sofia Vergara) para reiniciar a carreira em um caminhão de comida.

    Gostaria de dizer que esse filme não deve ser assistido de barriga vazia. Chef abre o apetite e, se bobear, há o risco de o espectador se pegar salivando em frente à TV. Jon Favreau praticamente filmou um pornô gastronômico em alguns momentos, tamanha a sua preocupação em exibir os mínimos detalhes dos ingredientes, do preparo e do resultado final de cada prato. Isso definitivamente não é uma coisa ruim, porque somente explicita o esmero do chef Carl Casper em fazer desde um café da manhã para seu filho até os pratos mais elaborados que são servidos ao longo do filme.

    Favreau também se esmera em filmar as relações humanas que ocorrem durante o filme, seja em diálogos constrangedores – como o que ele trava com o personagem de Robert Downey Jr. (em uma ponta hilária) – ou em momentos mais ternos, como os que ocorrem entre Casper e seu filho. Mais importante ainda é que mesmo os personagens um pouco mais caricatos, como o interpretado por Bobby Cannavale, não caem no ridículo em momento algum. O editor evita estereotipar os personagens. Interessante também é a visão que o diretor tem das redes sociais. Em nenhum momento Favreau as demoniza. Ao contrário do que costumam fazer em outros filmes e em outras mídias, aqui elas têm papel fundamental na trama sem que haja exagero sobre o alcance e o poder que possuem.

    Outro ponto importante é a ótima química entre Favreau, John Leguizamo e o garoto Emjay Anthony, intérprete de Percy, filho do chef. Os três atuam de forma bem natural e sem nenhum tipo de afetação, proporcionando momentos engraçados e alguns recheados de ternura. O restante do elenco estelar também se sai muito bem, com destaque para Robert Downey Jr., como dito no parágrafo anterior, a sempre competente (e linda) Scarlett Johansson, que interpreta a recepcionista do restaurante de Dustin Hoffman (também ótimo em sua pequena participação). Sofia Vergara foge do estereótipo da latina quente e espevitada de sua personagem na série Modern Family e entrega uma atuação mais contida e bem interessante.

    Entretanto, o filme peca um pouco justamente no seu desfecho. Quando poderia seguir por uma rota mais ousada, o roteiro acaba por entregar uma solução fácil, ainda que redentora e feliz. Nada que seja capaz de estragar o brilho dessa empreitada bem executada e cheia de tempero do multi-tarefas Jon Favreau.

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  • Crítica | Lucy

    Crítica | Lucy

    Lucy é um filme sobre uma mulher que consegue ativar de 50 a 100% de seu cérebro, para uma plateia que não consegue chegar a 5%. A ofensa com o espírito crítico e cultural do público, por boa parte dos produtores, gera contradição compatível no mundo pop a da cantora Beyoncé, cantando a plenos pulmões que a beleza fere e perverte, mesmo sendo a atual deusa da volúpia. As últimas – e primeiras – linhas resumem o que poderia ser tema de uma monografia sobre as manobras da indústria de cinema deste século; cada vez mais capital, cada vez menos arte. Uma crítica de três ou quatro blocos seria o bastante para expressar em breve estudo, a angústia de estar diante de boas intenções cuja realização é emergencial – nem a visão de Scarlett Johansson salva do umbral – onde todas as propostas junto ao pífio entretenimento do filme vêm a padecer ante o belo manto técnico de sempre, a esconder uma repulsiva cadeia de negações de todos os tipos, e contradições já comentadas.‏

    Em Sob a Pele, aliás, também estrelado pela moça (que ocupa o posto com Zoe Saldana de atriz hit do momento), Scarlett vive com elegância e intensidade dramática impressionantes uma mulher igualmente sem emoções, no passado ou futuro, porém com tentadora profundidade na construção da personagem; tentação oriunda do mistério que sua atuação evoca, misteriosa como uma diva noir, cuja beleza é essencial e respeitada a favor da premissa, analítica ao criticar nosso inevitável mundinho de aparências. Na conduta dessa mesma realidade distorcida em filmes de ação/ficção científica, Luc Besson (O Quinto Elemento) em Lucy faz sentir abstinência de A Origem até ao maior opositor de Christopher Nolan, que por pior que ainda seja a muitos, é eficaz quanto a encontrar bom-senso, trama e narrativa coerentes entre suas teorias e ideias surreais.

    Besson se torna especialista em antíteses do próprio projeto, um “pois sim-pois não” que dura uma hora e meia de reviravoltas que, pelo conjunto, beira o insuportável, à luz, ou melhor, à sombra de um roteiro lastimável, sem eira nem beira, uma espécie de jornada individual moderna de um herói, no caso, heroína. Um modelo que Akira Kurosawa imortalizou no japonês Yojimbo, e que encontra na sua cópia americana feminina e ultrajante, em gênero, número e grau, um dos seus piores exponentes a partir do que restou de vergonha e originalidade semi-extintas numa Hollywood que prefere estuprar seus mitos a arriscar novas lendas, visando revitalização e uma melhor reputação, impossíveis neste derradeiro cenário, sendo Lucy outra colher de terra, dessas que são produzidas em escala, contra o que já foi feito e aquilo que poderá florescer.

    Contudo é possível listar uma overdose de filmes, mangás e filosofias, de primeiro a quinto escalão, que o filme de Besson se apoia para existir, ao longo da projeção, desde sua sonoplastia baseada nos efeitos sonoros modernos de 007: Skyfall, Salt, A Origem e Sem Limites, sendo que do último furta ritmo e parte da frágil consistência, até  quando a protagonista, aparece na tela, sem qualquer tratamento de introdução, feito Toshirô Mifune no clássico samurai de ação. Ela é raptada, presa e se torna fera desgarrada logo em seguida, como em um reflexo de Oldboy. Besson se baseia em Sergio Leone e uma dízima de outras fontes de inspiração, mais abusadas e desmistificadas em seus valores que são relembradas em caráter de homenagem, como Quentin Tarantino, que se consagra hoje como melhor exemplo vivo disso, através de seus desvios de linguagem na forma de Cinema pessoal e peculiar.

    Resta a prova que a conta não fecha em filmes como esse. A comida perde o sabor quando requentada mil vezes, exceto, é claro, se o paladar que a degusta nunca a tenha provado antes. Coisa rara, mais que rara, em tempos nos quais Lucy sequer merece duas estrelas em seu céu de diamantes.

  • Crítica | Sob a Pele

    Crítica | Sob a Pele

    sob a pele

    O hype da nova produção sci-fi de Jonathan Glazer (diretor de Reencarnação) começou pela óbvia referência à nudez de Scarlett Johansson, até então nunca descortinada por completo. O vazamento da informação gerou curiosidade por parte do público fã de curvas femininas, dando a Sob A Pele uma popularidade que provavelmente não existiria por outro motivo. O anseio por enxergar a alva pele da atriz sem qualquer tecido encobrindo-a é saciada logo de cara, como se Glazer quisesse dizer que sua história é muito mais que uma bela mulher sem suas roupas.

    Scarlett faz às vezes de Mathilda May, que em Força Sinistra vampiriza humanos, também se valendo de sua sexualidade. Sem utilizar muitas palavras, somente observando, a alienígena passeia pela superfície terrestre, espreitando os seres que habitam o planeta. O filme se vale de edição de som e mixagem bastante singulares. Os barulhos servem para se fazer mergulhar no modo de se sentir da forasteira.

    O roteiro trata de usar os estereótipos da predação carnal/sexual em momentos em que a cor isola os personagens. Na primeira aparição da protagonista, em uma cena onde a extraterrestre toma as roupas de uma outra mulher, o ambiente é puxado para uma tonalidade alva. Quando esta precisa se enredar a um espécime masculino, a monocromia, de tons negros, remete à escuridão dos interesses do sujeito, que termina a sequência preso a uma superfície lodosa. Todos os homens que tentam alcançá-la caem nessa superfície movediça, semelhante a um limbo existencial, onde sofrem mutilações e transformações da matéria corporal.

    A sede e a fome do forâneo é insaciável. Ela parece só se mover para atingir o êxtase inacabável, que em uma análise maior pode ser associada à libido e à volúpia, não só as de suas vítimas – pessoas supostamente egoístas -, mas sim as inerentes ao sujeito comum, que busca o tempo todo fartar as suas necessidades até chegar ao ponto de saturá-las, atingindo o estágio de não vivência. Como destacado por MD Magno ao analisar a obra freudiana, a pulsão eleva o homem a vontade irrefutável de não existir, que jamais é atingida, nem mesmo com a morte, uma vez que ela não pode ser provada empiricamente.

    Após passados 77 minutos de filme, a lente visita cada particularidade da nudez de Scarlett Johansson. A própria personagem se encara diante de um espelho, testando a si mesma e aos seus limites, dobrando e esticando os membros inferiores. Recordando as pessoas que cruzam seu caminho, nota-se o óbvio padrão masculino, mas é também possível perceber que os que a desejam são em sua maioria pessoas solitárias, cuja busca por alento varia, não sendo só marcada pela luxúria, mas pela incrível predominância da carência.

    O modo com que a história é contada é pouco usual e quase nada normativo; em alguns momentos, a abordagem da temática erótica beira o surreal. O exílio da solitude visto antes nos homens é também contemplado na pele da “estrangeira”, que procura manter-se longe do contato humano, sentindo-se abusada quando é tocada de modo lascivo e à força. Mesmo com toda a história decorrida, ela ainda guarda em si uma sensibilidade feminina atroz, ainda que isso não seja, a priori, parte dos seus instintos primários. Ao final, os papéis se invertem: o predador age como a presa, inclusive conquistando os anseios de desejar a morte, pois, quando se vê em perigo, a criatura não se permite salvar. Sob A Pele usa um protagonista extraterrestre para tratar de características humanas básicas, como insegurança, egolatria e misantropia.

  • Crítica | Capitão América 2: O Soldado Invernal

    Crítica | Capitão América 2: O Soldado Invernal

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    Apreensão. Medo. Angústia. A situação não era confortável após as duas derrapadas da Marvel Studios em sua Fase 2. Thor: O Mundo Sombrio e principalmente Homem de Ferro 3 sinalizavam que o estúdio perdia a mão após todos os acertos da Fase 1, os quais conduziram ao evento chamado Os Vingadores. Para a alegria dos decenautas recalcados, que finalmente tinham certa razão em sua ladainha de que a Marvel só faz filmes medianos e/ou para crianças. Pois bem: beijinho no ombro para os invejosos de plantão, pois o segundo filme do Sentinela da Liberdade se mostrou não apenas uma volta aos trilhos, mas também uma das melhores produções do gênero.

    Não havia espaço em Os Vingadores para focar o desenvolvimento da luta de Steve Rogers para adaptar-se ao mundo atual. Desta vez, naturalmente, sua jornada pessoal assume o centro da trama. Ele está vivendo em Washington e estudando incansavelmente para situar-se na História e cultura mundiais das últimas décadas. Mas como herói não tem vida mansa, o Capitão está trabalhando para a SHIELD, em missões secretas ao lado da Viúva Negra e de uma equipe especial chamada S.T.R.I.K.E.R. Porém, para um cara que lutava por uma idealizada liberdade, não é fácil aceitar nossos cínicos tempos de vigilância massiva e ataques preventivos, o que o leva a alguns atritos com Nick Fury. E as coisas se complicam de vez quando uma gigantesca conspiração dentro da agência é revelada, e mais de um elemento do passado de Steve voltam à tona.

    O Capitão América é um super-herói com um leve diferencial. Idealizado como um soldado, não faria sentido vê-lo, hoje em dia, simplesmente patrulhando um cenário urbano, como Batman ou Homem-Aranha. E pegaria muito mal colocá-lo na linha de frente do Iraque ou Afeganistão — até porque, convenhamos, lá não há tanta ação que justifique a presença de um supersoldado. A abordagem mais coerente para o personagem é aquela trabalhada com maestria pelo roteirista Ed Brubaker numa fase recente dos quadrinhos: espionagem, black ops, terrorismo. A partir dela, o filme não adapta uma história específica, mas transpõe todo o clima, ambientação e estilo narrativo. O próprio Soldado Invernal — com visual emocionalmente idêntico ao das hqs —, ao contrário do que o título do filme faz pensar, não é o coração da trama, mas sim uma peça de uma engrenagem muito maior. O que funciona muito bem, aliás.

    O roteiro é muito equilibrado, alterna de forma bastante orgânica os momentos calmos e expositivos e aqueles mais movimentados e frenéticos. Mas o que chama realmente a atenção é o bom uso dos vários personagens, em suas diferentes escalas de importância, mesmo os que aparecem bem pouco, como Batroc, Agente 13 e Maria Hill. Para os fãs, é ótimo ver nomes conhecidos dos quadrinhos em vez de figuras genéricas. Ajuda na sensação de que o universo do herói, e não apenas ele próprio, está sendo transposto. Ainda nesse campo, o filme destroça aquele velho e simplório argumento de que vários inimigos numa mesma história nunca dá certo. O problema é querer criar um arco individual para todos — abraço para Homem-Aranha 3. Sabendo dosar a importância e o espaço de cada um, Capitão América 2 emprega nada menos do que cinco vilões.

    Sempre massacrado, Chris Evans mostrou de novo que quase toda a implicância pra cima dele é injusta. Sua performance pode não emocionar ou ser tão marcante quanto a do colega Robert “Tony Stark” Downey Jr, mas o cara está inegavelmente mais maduro e confortável no papel. É possível, sim, enxergar Steve Rogers nele. Quem é limitado de fato é Sebastian Stan — isso é spoiler? sinto muito —, o que não atrapalha a construção do Soldado Invernal como figura ameaçadora. Mesmo quando a máscara cai, o ar de drogado cansado, que Stan já tem por natureza, ironicamente se encaixa no personagem. Como dito antes, ele acaba tendo uma participação pequena, mas sua introdução para uso futuro foi bem realizada. E o nome Soldado Invernal é legal sim, muito mais estiloso que “do inverno”, parem de reclamar.

    Os aliados do herói também receberam merecida atenção; todos têm seu lugar ao sol. Nick Fury é uma espécie de gatilho para movimentar a trama, e em relação a ele — e à própria SHIELD — o filme empresta argumentos de outra hq recente, Guerreiros Secretos, escrita por Jonathan Hickman. E falar qualquer coisa de Samuel L. Jackson seria chover no molhado: ele É o personagem e pronto. Scarlett Johansson não consegue ser menos que maravilhosa, e surpresa nenhuma, mantém muito bem o posto de co-protagonista. Interessante ver um lado mais humano e espirituoso da Viúva Negra, além de aparecerem mais migalhas sobre seu passado. Ela menciona ter desertado da KGB, o que por consequência confirma que é também mais velha do que aparenta. Mas o filme não se importa em explicar isso — filme solo da Viúva, quando quiserem, viu.

    O Falcão vivido por Anthony Mackie é um ótimo coadjuvante e responsável por boa parte do humor do filme sem ser um alívio cômico — aliás, a comédia está presente mas bem dosada, voltando ao velho estilo da Marvel e corrigindo a principal falha da Fase 2, ALELUIA SENHOR. Nos quadrinhos, Sam Wilson é um dos melhores amigos do Capitão, e isso ficou bem retratado. A rápida e total fidelidade dele para com Steve, quase um bromance, pode parecer meio exagerada. Mas isso é perdoável, pois Sam é um militar, e se o Capitão é um ídolo geral da nação, imagine para essa classe. Alexander Pierce, vivido com elegância por Robert Redford, tem um papel importantíssimo, mas nesse caso é melhor evitar spoilers. Só vale dizer que faltou coragem: seria épico e coerente se certo boato tivesse se confirmado e outro conceito de Brubaker fosse aproveitado.

    Em relação a aspectos visuais, o longa merece todos os elogios e mais alguns. Não quanto aos efeitos, isso já é o básico do básico que se espera de grandes produções. Também não necessariamente às cenas de ação, que são maravilhosas. Chega a emocionar as perseguições no trânsito nas quais é possível VER com clareza os carros batendo e se destruindo, fugindo da maldita estética Bourne de câmera fechada e tremida. Não: o ponto mais satisfatório de Capitão América 2 são as lutas. Os realizadores normalmente esquecem que em filmes de super-heróis a “ação” não pode ser resumida apenas em correria, tiroteio, explosões. Tem que ter o combate. O mano-a-mano. PORRADA. Nele esse elemento foi trabalhado com perfeição, coreografias dignas de filmes orientais de artes marciais. O Capitão está mais ágil e fodão do que nunca. A luta contra Batroc é qualquer coisa de sensacional, e sempre que o Soldado Invernal aparece, dá vontade de mandar o projetor repetir a cena.

    Esse nível elevado acaba conduzindo a um dos pontos fracos do filme, que é a sequência final. Após tanta criatividade, decepciona um pouco a resolução genérica de “apertar um botão”, com explosões e destruições que já viraram carne de vaca no cinema blockbuster. Fica também um sentimento de que a Viúva e o vilão principal poderiam ter um papel mais grandioso no final. Finalizando o trabalho ingrato de apontar os defeitos, fica muito vago o que será a SHIELD daqui pra frente. Esse ponto acabou sendo explicado na série Agents of Shield, num episódio altamente conectado com Capitão América 2. Em termos de universo expandido, a conexão entre as mídias e valorização do seriado dão nota 10. Mas não deixa de ser uma falha do filme.

    Fugindo desse mundo mesquinho onde tudo funciona na base da comparação, cabe dizer apenas que Capitão América 2: O Soldado Invernal não deve nada aos melhores exemplares do gênero. Muitíssimo bem executado, é o filme que a Marvel e os fãs precisavam nesse momento. Os diretores Joe e Anthony Russo já estão confirmados na terceira parte aguardada para 2016, o que só comprova a confiança e satisfação com esse projeto. Antes, porém, como a ótima cena pós-créditos nos faz lembrar, o Capitão marca presença num tal de Vingadores: A Era de Ultron.

    Texto de autoria de Jackson Good.