Tag: Takeshi Kitano

  • Crítica | Battle Royale

    Crítica | Battle Royale

    O Japão se tornou um país totalitário. De tempos em tempos, o governo seleciona uma turma de estudantes para se matarem em uma espécie de jogo.Os jovens são levados a um local isolado, recebem suprimentos mínimos, uma arma aleatória e só. Apenas um poderá sobrar no final, caso contrário todos morrem. Isto é Battle Royale.

    Toda essa loucura foi adaptada de um livro homônimo lançado um ano antes, em 1999, e que impactou todo o Japão. A trama extremamente violenta envolvendo adolescentes realmente não é recomendada para todos os públicos.

    A direção ficou a cargo do experiente Kinji Fukasaku, sendo este um dos últimos filmes de sua carreira, uma vez que faleceu em 2003. No elenco temos bons talentos. Tatsuya Fujiwara ficou conhecido recentemente por encarnar Light Yagami nas adaptações em live action do anime Death Note, bem como interpretou o vilão Makoto Shishio em dois filmes de Samurai X. O veterano Takeshi Kitano já foi o espadachim cego em Zaitochi. No geral, as atuações são um pouco exageradas e caricatas, algo até comum em filmes japoneses. O tom do filme se manteve mais na ação e humor negro, enquanto que o livro gera um clima muito mais tenso e perturbador.

    A enorme quantidade de personagens impossibilita o desenvolvimento da maioria deles. Foi um acerto escolherem um núcleo de personagens para terem um desenvolvimento maior, inclusive com flashbacks. Mesmo assim, ainda é um desenvolvimento superficial, fazendo com que as mortes causem muito menos impacto. Reparem, causam menos impacto, não significa que são leves. O gore do filme é intenso, agravando-se pelo fato de serem adolescentes. Várias mortes descambam pro trash, o que seria quase inevitável, tendo em vista a brutalidade excessiva de algumas mortes. A cada morte, é mostrado o nome da vítima e quantos estudantes restam.

    As duas horas de filme tem um ritmo muito bom, sempre está acontecendo algo. No final das contas, o filme é uma bela compilação de mortes brutais com um subtexto interessante, mas que o pouco tempo de tela não permitem aprofundar tanto. Mesmo assim, temas como pedofilia e suicídio estão ali. E por incrível que pareça, o filme não se leva tão a sério quanto deveria, o que não é um defeito. Talvez o maior problema seja a excessiva quantidade de mortes em pouco tempo de filme, o que as tornam um pouco banais e, mais uma vez, diminuem seus impactos.

    Interessante notar que os personagens são bem humanizados. Talvez muitas pessoas esperariam que todos os estudantes sairiam matando feito loucos, porém não é isso que acontece. Alguns se negam a “jogar”, outros ficam perdidos sem saber o que fazer e, claro, existem aqueles que vão matar sem dó nem piedade.

    Analisando separadamente, Battle Royale é um bom filme de ação, e vai agradar os amanes de gore e violência. Comparado ao livro, obviamente é uma obra mais rasa, sem o clima de tensão e horror. A grande quantidade de personagens impede um grande desenvolvimento de todos, e desta forma não criamos empatia com a maioria deles. De uma forma geral, é uma adaptação decente, que funciona bem independente da obra original, mesmo que ambos tenham muitas semelhanças. Mas fica a recomendação: se puder, leia o livro, de preferência antes do filme, e já fique avisado (de novo) que ambas as obras são muito violentas.

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  • Crítica | A Vigilante do Amanhã: Ghost in The Shell

    Crítica | A Vigilante do Amanhã: Ghost in The Shell

    Recentemente, M. Night Shyamalan disse que a onda de remakes e continuações em Hollywood está perto do fim. Tal declaração ocorreu quando o diretor divulgava seu novo trabalho autoral, Fragmentado e esse palpite certamente não alcançou A Vigilante do Amanhã: Ghost in The Shell, produção dirigida por Rupert Sanders e que já vinha sendo prometida a muito tempo. Cercado de polêmicas a respeito da mudança de etnia da maioria dos personagens, tal aspecto passa longe de ser o  maior defeito de concepção do produto.

    Sanders repete qualidades e defeitos de seu filme anterior Branca de Neve e o Caçador, mais uma vez trazendo um visual belo com um texto pasteurizado e repleto de clichês. Sua abordagem resgata alguns dos elementos do anime de Mamoru OshiiO Fantasma do Futuro, com referências inclusive ao background do diretor de animes, além de manter parte da essência do mangá Masamune Shirow através de fan-services ora pontuais ora gratuitos, no entanto, falta sutileza no tratar dos assuntos chaves.

    A personagem principal é chamada de Major e é interpretada pela celebridade Scarlett Johansson. A atriz está bem quando se exige dela um talento dramatúrgico, ainda que em alguns momentos sua performance aparente preciosismo, culpa evidentemente do roteiro de Jamie Moss e William Wheeler. O texto escolhe investir em uma discussão mais óbvia e obsoleta sobre a questão da alma e espírito sobre a inteligência artificial. É nessa transposição da linguagem tipicamente japonesa para uma visão mais ocidental, vista nas refilmagens dos Estados Unidos, que mora o principal demérito do longa. A questão filosófica de vida inteligente é minimizada para uma questão individual, no caso, relacionada a heroína da trama.

    A centralização narrativa é tanta que quase não sobra substância para os outros personagens explorados. Batou (Pilou Asbaek) por exemplo é um dos personagens mais queridos da franquia, mas soa como um sidekick de luxo. De positivo há o trabalho de Juliette Binoche como a Doutora Ouelet, Takeshi Kitano como o chefe Aramaki e o surpreendente Michael Pitt, que rouba a cena quando aparece, como Kuze. No entanto, a motivação dos três personagens em momento nenhum se justifica e se torna quase tão risível quanto a performance e background do vilão clássico, Cutter (Peter Ferdinando), antagonista que torna a experiência aborrecida.

    Apesar de não ser tão brilhante quanto a dos outros filmes, a trilha sonora casa bem tanto com o visual cosmopolita que remete à Blade Runner quanto com as sequências de ação. Para quem é fã da saga de Motoko Kasanagi e todo o universo de Ghost in The Shell há algumas referências básicas e pontuais, como cenas filmadas de maneira idêntica, uso de nomes importantes da saga além de uma preocupação por parte da direção de arte, que conseguem retratar com qualidade um cenário futurista cyberpunk capaz de se diferenciar até dos filhos da série como Matrix.

    É curioso que o título brasileiro Vigilante do Amanhã se distancie tanto do nome original, exceto pelo subtítulo em inglê. A sensação após o filme é a de se apreciar algo diferente dos materiais anteriores. Não é uma adaptação ofensiva  – ainda mais graças a toda reverência as obras de Oshii e Shirow – mas acrescentando bem pouco a franquia como um todo, uma vez que a temática é tão modificada que parece outra história, em um roteiro de qualidade baixa principalmente ao forçar o trama para uma possível continuação.