Tag: mariana ximenes

  • Crítica | Um Homem Só

    Crítica | Um Homem Só

    Dirigido por Cláudia Jouvin, Um Homem Só é um conto sobre um sujeito fracassado e preso a rotina. Arnaldo (Vladimir Brichta) está em um casamento que se aproxima do fim, em um emprego enfadonho, e não consegue cumprir sequer suas funções maritais básicas, como ter disposição sexual para se relacionar com a esposa que está em período de ovulação. Sua vida é cortada por uma novidade estranha, e não demora para o filme embarcar por um caminho que o faz se assemelhar com o cinema de ficção científica.

    Após mais um dia terrível, ele ouve sobre a possibilidade louca de se clonar e colocar uma cópia mais dócil feita em laboratório no lugar de si mesmo em sua casa. Após conhecer a ruiva e fogosa Josy (Mariana Ximenes), ele decide se submeter ao estranho experimento, e antes que esse ocorra, acaba desistindo, dando aí uma guinada em sua moral, para fazer o que jamais fez: tomar atitude e sair da letargia.

    A partir desse ponto a historia muda, deixando de ser mais um conto psicodélico para se tornar um exemplar de perseguição. A mistura de tipos diferentes de narrativa faz o resultado sofrer, uma vez que o que Jouvin propõe não soa nem como um sci-fi brasileiro completo, nem como um thriller minimamente interessante. No entanto, as escolhas da diretora na composição de seus cenários são interessantes, como por exemplo, a repartição em que o protagonista passa seu tempo tem predominância da cor azul, que contrasta com a monotonia e chatice de seu cotidiano monótono e repetitivo.

    Os momentos finais são um pouco mais eletrizantes, mas não o suficiente para salvar o filme. Apesar de seu elenco estelar, não há grandes desempenhos. A tentativa de apelar para um cinema de gênero também não encontra êxito, fazendo de Um Homem Só apenas mais um produto carente de boas qualidades. Abaixo da linha medíocre.

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  • Crítica | Os Penetras 2: Quem Dá Mais?

    Crítica | Os Penetras 2: Quem Dá Mais?

    Continuação de Penetras, comédia de Andrucha Waddington que fez um certo sucesso de 2012, Penetras 2: Quem Dá Mais? traz de volta o diretor e seus protagonistas globais, Marcelo Adnet e Eduardo Sterblitch, mas sem o êxito do primeiro. O filme traz os personagens do primeiro episódio, trazendo Marco e Beto, dois trambiqueiros discutindo sobre amizade e companheirismo, para logo depois o primeiro dar uma volta no outro.

    Após o golpe de Marco, cada um dos personagens segue seu rumo, e Beto vai parar em um hospício internado pelos seus pais. Lá, ele encontra youtubers como Whinderson, PC Siqueira, Julio Cocielo e outros menos famosos, até receber uma carta, que dizia que seu amigo morreu. Logo, ele reencontra Nelson (Stepan Nercessian) e Laura (Mariana Ximenes), ex-sócios da dupla, somente para se certificarem de que o sujeito está morto.

    A trama se bifurca entre dois fatos importantes, que são a visita do fantasma de Marco à cabeça demente de Beto, e a tentativa dos que sobraram dar um golpe no novo personagem, Santiago (Danton Mello). Ao contrário do primeiro, há poucos momentos realmente hilários, sobrando apenas as mesmas piadas sexistas e homofóbicas de sempre, sem ter o mesmo carisma ou qualquer coisa que o valha ou o faça assemelhar aos filmes de trapaça de Steve Martin e companhia.

    Sterblitch não segura o filme sozinho, vacilando imensamente em prender a atenção do espectador, graças principalmente a direção frouxa de Waddington e ao roteiro raso. O desfecho, ao invés de parecer sacana, exala uma quantidade de covardia tremenda, trazendo a possibilidade até de uma terceira parte da trama, que dificilmente ocorrerá graças ao insucesso em bilheteria que o longa teve, sendo esse só mais uma prova de que ter atores globais como chamariz não é suficiente para garantir boa arrecadação junto ao público brasileiro.

    https://www.youtube.com/watch?v=2GLM3-TDt3Q

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  • Crítica | Sing : Quem Canta Seus Males Espanta

    Crítica | Sing : Quem Canta Seus Males Espanta

    Sing : Quem Canta Seus Males Espanta mais nova animação dos criadores de Meu Malvado Favorito, chega cheio de energia e recheado de canções capazes de encantar o público.

    Na história um Coala que preside um decadente teatro, resolve inovar e promover um gigantesco concurso de talentos musicais, visando assim trazer o anfiteatro de volta para seus tempos áureos. Desde o início somos apresentados aos futuros concorrentes que buscam seu lugar ao sol no mundo do show business através de seu talento musical, personagens que vão desde um Gorila que contraria as expectativas de seu pai para buscar seu sonho de ser cantor até uma Elefoa dona de uma bela voz que espera ansiosamente ser descoberta e provar seu valor.

    A animação segue uma cartilha bastante habitual e nada ousada e é aí que reside seu grande ponto falho. Por mais que o filme seja bem feito e conte com grandes dublagens, ele não ousa ir além e se acomoda em sua fórmula. A obra tem boas sacadas como à escolha da trilha que se alterna o tempo todo e acentua bons momentos com canções que vão do clássico ao pop, de Stevie Wonder até Carly Rae Jepsen. Infelizmente a pluralidade de sua ótima playlist acaba não conseguindo se sustentar por si só.

    Há medida que história avança, ela vai deixando pelo caminho a oportunidade de explorar melhor tudo àquilo do qual ela (a história) dispõe, não se aprofundando em seus personagens e acabando com isso por não gerar ou estabelecer uma grande conexão entre suas estrelas centrais e o telespectador. O final que vai sendo construído o para ser catártico o tempo todo,  acaba se transformando em uma simples resolução dos fatos apresentados. O tão almejado grand finale inerente há musicais e há histórias que buscam consagrar seus indivíduos acaba por soar sem peso suficiente.

    Curiosamente, o filme não é de todo descartável, a narrativa tem seus ápices ao conseguir muitas vezes encantar através da suas respectivas interpretações musicais, é competente em sua comicidade e de certa maneira inspiradora na retratação da obstinação de suas personagens e seus sonhos. Sing : Quem Canta Seus Males Espanta pode não acertar o tempo todo, porém, está longe de ser um desastre. No frigir dos ovos vale a pipoca, vale a diversão.

    Texto de Tiago Lopes.

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  • Crítica | Zoom

    Crítica | Zoom

    Zoom - Poster

    Novo trabalho do jovem diretor Pedro Morelli, a coprodução (Brasil-Canadá) Zoom chega aos cinemas apresentando histórias interligadas que explicitam de maneira regular o recurso da metalinguagem e das multitelas.

    Como um ouroboro – a serpente que morde a própria cauda – o filme de Morelli nos apresenta a quadrinista Emma (Alison Pill), uma jovem que trabalha numa loja de bonecas sexuais e tem na arte um escape para a não aceitação do próprio corpo. Em meio a transas com seu colega de trabalho durante o expediente, Emma também se dedica à criação de uma história em quadrinhos que narra as aventuras de Eddie, um cineasta de filmes de ação interpretado por Gael Garcia Bernal. Eddie tenta provar para o mercado que é capaz de dirigir um filme mais artístico e, para tal, escala Michelle (Mariana Ximenes) como protagonista de seu longa-metragem. Por sua vez, Michelle quer mostrar para o mundo que é mais do que um corpo perfeito. A modelo/atriz decide então escrever um romance, que nos conta justamente a vida de Emma, a quadrinista.

    Temos assim um triângulo equilátero perfeito. Uma trama se desenrola (e interfere) na outra. É curiosa a escolha do diretor em trabalhar, inclusive, estilos diferentes em cada uma das narrativas que compõem o filme. Se a história de Emma tem ares de comédia nonsense de baixo orçamento, o arco de Michelle faz lembrar o cinema de ação dos anos 90, com suas plot twists e algumas explosões de gosto duvidoso.

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    O maior acerto aqui se dá justamente na trama interpretada por Bernal. Todo estilizado em quadrinhos, é esse segmento do todo que consegue de fato atingir o objetivo principal de um produto cinematográfico: entreter. Feito em rotoscopia, as cores, a fluidez do texto e timing cômico impressionam e falam muito sobre a personalidade da equipe por trás do projeto.

    As atuações são um ponto bastante positivo. Embora Mariana Ximenes tropece em algumas cenas, é possível perceber o esforço da atriz ao interpretar uma personagem que também é atriz, em outro idioma e em um universo (roteiro) pouco crível. Alison Pill resolve bem suas cenas, mas é a menos desafiada pelo papel. Já Gael interpreta debaixo de camadas de recursos gráficos que ajudam a construir o universo dos quadrinhos. Ainda assim, o talento do ator fica evidente. São dele também os melhores parceiros de cena, o que contribui muito para sua boa performance.

    Zoom está longe de ser um filme ruim. O problema aqui está na disparidade entre aquilo que o projeto promete e o que ele de fato entrega. Não é fácil para o espectador ‘cruzar a ponte’ entre territórios tão distintos e, por vezes, assistir às passagens de uma plot para outra torna-se um exercício cansativo e burocrático. No momento em que as três pontas do triângulo se cruzam, o longa ganha fôlego e possui seus bons momentos. Entretanto, as histórias individuais não se sustentam sozinhas. Sobra estilo, audácia, competência técnica e a assinatura de um diretor que não faz mais do mesmo. Mas falta a base para um bom filme: um bom roteiro.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

  • Crítica | O Fim de Uma Era

    Crítica | O Fim de Uma Era

    O Fim de Uma Era 1

    O mais teatral, e também repleto de classicismo, filme da trilogia de Sonia Silk, O Fim de Uma Era, contém prelúdios, mesmo com uma duração inferior ao tempo cronometrado de uma partida de futebol. O roteiro de Bruno Safadi e Ricardo Pretti (também diretores) contempla o ócio de quem já trabalhou com a arte, ainda que o texto seja o hiato entre as obras, focando a metalinguagem inerente à busca por inspiração poética.

    Os momentos do filme se dividem segundo as etapas do processo criativo que desemboca na produção cinematográfica, incluindo Ricardo Pretti como elemento narrativo da história, uma vez que seu filme é uma ode ao “fazer um filme”. Os recursos de quebra entre os segredos de público e cineastas inclui uma reciprocidade poucas vezes vistas no cinema comercial, agravada e muito pelo caráter ensaísta, que insistentemente goteja sobre a cabeça do espectador, relembrando o espírito de experimento da fita.

    A narração e a ausência de cores faz lembrar o recente filme de Taciano Valério e Jean-Claude Bernardet, Pingo D’água, inclusive nos problemas de ritmo e de captura de atenção do público. Da trilogia, este é o filme de estética menos palatável para o público médio, exigindo de quem assiste a ele uma atroz paciência com os recorrentes maneirismos  e propostas que atravessam a normalidade cinematográfica.

    As viagens de carro visam remontar o deslocamento comum entre uma locação e outra, fazendo menção à falta de um lar que o artista tem ao se lançar no nomadismo comum em rotinas de viagens. O roteiro até tenta acompanhar a beleza das imagens, mas sem lograr êxito, somente arranhando a superfície do que deveria ser uma redação realmente profunda.

    Mesmo com uma duração somente um pouco maior que uma hora, é às vezes necessário o público acordar entre uma cena e outra, tendo interesse genuíno em poucas falas, excetuando, talvez, os diálogos que desconstroem a figura mítica do ator. Um caminho inverso da supervalorização do ofício da interpretação, cargo em que, normalmente, se atribuem os maiores méritos do sucesso de uma empreitada audiovisual.

    O enfado e cansaço tornam-se sensações comuns ao espectador, que prossegue até o final de O Fim de Uma Era, sem maiores conclusões ou aprofundamento filosófico. É na poesia rasa o mote de sua trama, com dificuldades tanto em emocionar quanto em fazer qualquer sentido além da simples frivolidade pretensiosa de um artista iniciante, pecados esses incondizentes com as filmografias e carreiras de Safadi e Pretti.

  • Crítica | O Rio Nos Pertence

    Crítica | O Rio Nos Pertence

    O Rio 1

    O segundo capítulo da chamada Operação Sonia Silk – iniciada com O Uivo da Gaita – inicia-se em um breu absoluto, onde a fúria do som predomina sob a paz que a escuridão deveria propagar. Após os preâmbulos, notam-se duas pessoas interagindo, com Marina (Leandra Leal) nua, poetizando sobre o corpo desnudo de seu parceiro, em um momento de extrema intimidade, convidando o público a usufruir do instante de epifania de ambos. O significado de amor líquido prossegue na nova história.

    O filme dirigido por Ricardo Pretti reúne uma aura de mistério exacerbada. Iniciada pelo retorno de Marina a sua terra natal, que se deu por motivos misteriosos, com conhecimentos aquém de sua existência. Ao atravessar as areias praianas, a bela mulher ouve urros, sons indecifráveis de criaturas possivelmente sobrenaturais, responsáveis por uma insônia que a assola, que aumenta a angústia de sua vida e a faz se isolar ainda mais.

    A paranoia fomentada por cartas recebidas em casa, com os dizeres “O RIO NOS PERTENCE”, convive  junto a afeição pela filosofia nietzschiana, profetizada pelo professor e estudioso vivido por Jiddu Pinheiro, um antigo amor de Marina. O reencontro entre ambos passa longe de ser tão calmo e resoluto quanto são as aulas do docente, excetuando os olhos atentos dos alunos ávidos por conhecimento. O que sobra são desprezos que visam retribuir  a ignorância ocorrida no pretérito, reflexos de uma parte da vida que o homem preferia esquecer, mas que insistentemente retorna.

    O regresso de Marina traz muitos infortúnios. Indagações da parte da personagem de Mariana Ximenes, que, impossibilitada de movimentar as pernas, anda com ajuda de muletas e faz questão de despejar sobre a protagonista seu azedume, o amargor do desprezo que ela achou sofrer com a partida de sua “igual”. A discussão que Marina tenta impetrar é adulta, diferente da fuga que sua irmã faz. O confronto aos fantasmas do passado é demasiado traumática para a mulher incapacitada, e bastante incômodo à “filha pródiga” que seguiu seus instintos.

    A ideia de remontar e costurar referências aos contos macabros de Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft é válida, apesar de não ser inédita em produções brasileiras – em especial o seriado Contos do Edgar –. Mas apesar das belas intenções, o sentido presente no roteiro de Pretti é vago em essência, supervalorizando o suspense e todo o misterioso caráter dele proveniente. Em muitos momentos, o texto soa pretensioso, com as mesmas características negativas do primeiro episódio de Sonia Silk. Utilizando elementos de filmes de terror, no entanto, a obra se faz ligeiramente mais interessante.

    A dubiedade presente na incerteza entre toda a aura maligna ser fruto de uma ação espiritual ou apenas um reflexo de uma depressão ideológica e de sonho da psique frágil de Marina, O Rio Nos Pertence se perde em meio a uma trama que pretende muito e entrega pouco, reeditando a tentativa vã de utilizar um viés erudito. Ainda que a experiência de assistir a O Rio Nos Pertence seja bem menos tediosa do que no filme de Bruno Safadi, falta consistência ao produto final.

  • Crítica | O Uivo da Gaita

    Crítica | O Uivo da Gaita

    O Uivo da Gaita 1

    Primeira parte de uma trilogia de “amor líquido”, O Uivo da Gaita é uma história regida por Bruno Safadi que tem na rotina amorosa a pauta da segurança enquanto unidade familiar. O início, contemplativo, revela belas imagens da costa litorânea carioca, reunindo todos os sentidos possíveis da história de amor. Já na areia, as duas personagens femininas fazem uma descompromissada corrida atrás do vento, sem qualquer sentido ou moral, unicamente seguindo seus instintos.

    Luana e Antônia se entregam ao prazer proibido, maximizado por suas duas belas intérpretes, Leandra Leal e Mariana Ximenes, que fazem produzir cenas tórridas, dignas de qualquer fantasia heterossexual masculina, possantes e potentes, mesmo nos parcos minutos iniciais, para logo depois revelar o presente, momento em que o roteiro pretende montar sua história.

    Abrindo mão de falas que poderiam prever qualquer movimento, o roteiro contempla a “vida real” de Antônia, presa em uma relação comum com Pedro (Jiddu Pinheiro), relacionamento cujo cotidiano pesa mais do que qualquer outro aspecto. Os ecos audíveis das pessoas flagradas em cena só ocorrem aos quinze minutos, com quase um quarto de filme, somente para reforçar a ideia de discussão de relação, ainda que a abordagem entre os antes iguais esteja claramente na curva descendente, às vésperas de acabar.

    É em uma das interações entre Pedro e Antônia que Luana surge, a princípio para “brincar” com eles, dançando em um ritmo louco, levantando possibilidades de poligamia, artifício comum em relações em fase de degradação, mas aos poucos os paradigmas mudam. Os jogos de sedução começam brandos, algo bem diferente do explícito exibido no começo da fita.

    Os ângulos que Safadi escolhe primam pela sensualidade, esbanjando bom gosto especialmente ao analisar as voluptuosas curvas de Leandra Leal e seu poder de alcançar o fetiche das duas partes do casal. A naturalidade dos seus movimentos mostra-se também para a câmera, que causa choro e emoção às duas partes do casal, mas que não consegue passar tal ebriedade ao público, pelo caráter lento da narrativa, ambiciosamente dividida em três longas-metragens.

    Mostrando pessoalidade na confecção de seus heróis, o realizador insere uma desolação de alma no comportamento distinto de Luana, mostrando-a desagradável em sua rotina comum, longe das outras duas personagens. O affair construído causa uma interdependência que se assemelha à sensação abstêmia de quem é obrigado subitamente a deixar de usar uma substância da qual é dependente.

    O desfecho é inconclusivo, referenciando a segunda parte, O Rio Nos Pertence, que explora o mesmo elenco mas em tramas diferentes, tendo em comum o cenário da cidade maravilhosa. Depois das dedicatórias, há uma cena pós crédito que relembra a lentidão narrativa da obra, tornando erudito um texto simples, mas que pouco foge das convenções sofisticas. Apesar das boas imagens, o filme é mais digno de reprimendas do que de aplausos.

  • Crítica | Os Penetras

    Crítica | Os Penetras

    poster de os penetras

    Os penetras de direção e roteiro de Andrucha Waddington, além dos roteiristas Nina Crintzs, Rafael Dragaud e Marcelo Vindicato. Faz uma mescla de referências a diversas comédias de sucesso recente. Dentre as quais, filmes de penetras, como o próprio nome já diz. Desconhecidos que por acaso viverão uma aventura maluca. E coincidências que geram um grande problema e movimentam a história. Para assim contar a história de Beto (Eduardo Sterblitch), um inocente, que vem do interior para o Rio de Janeiro, afim de recuperar sua amada. E Marco Polo (Marcelo Adnet), um malandro carioca que leva a vida fazendo pequenos trambiques e golpes. Para manter seu padrão de bon vivant.

    A ligação entre os dois, se dá por Laura (Mariana Ximenes). Uma garota de programa, e também golpista, que está aplicando sua cartada final num rico fazendeiro, Coelho (Luiz Gustavo). Mas que Marco Polo, ao tentar ajudar Beto a recuperá-la em troca de algumas vantagens da situação, acaba se apaixonando.

    O plot do filme todo gira em torno disso, as situações cotidianas daqueles malandros entre uma festa e outra invadida. A obra tenta ainda, colocar todos os membros daquele círculo, seja o mais pé-de-chinelo, até a rainha do baile, como “farinha do mesmo saco”, basta apenas uma oportunidade para alguém aplicar um golpe, pular a cerca, ou enganar alguém. E a grande reviravolta da história, vem com o objetivo de dar um pano de fundo ao personagem Beto, e fazer graça com a situação toda, que tudo não passou de um mal entendido. Culminando então, em uma espécie de redenção para Marco Polo, que se solidariza com Beto, depois de tanto enganá-lo. Ao mesmo tempo que Beto se transforma num estalar de dedos, não mais no cara ingênuo, mas também um malandro, disposto a aproveitar a vida. Isso tudo porém, é explorado de maneira tão pueril, com um humor raso, que no maior esforço possível, no máximo consegue arrancar alguns sorrisos. Exceção seja feita, do curto período em que Xando Graça e Babu Santana aparecem em tela no papel de dois policiais, que estes sim, conseguem arrancar boas risadas, investindo em um humor do absurdo, mas ao mesmo tempo, não distante de se imaginar como realidade.

    Quase todos os traços cômicos de Os Penetras,  se baseia nos personagens já habituais de Adnet e Sterblitch. Com isso, o roteiro se torna pobre, que pouco cativa o espectador, tampouco faz rir. E esse acaba sendo o maior problema do filme. Por ser uma comédia, que não se propõe a quase nada além de fazer graça de situações cotidianas. Precisa de mais do que seu ator principal fazendo seu habitué ingenuo, dizendo palavras enroladas, gritando “Eu Mudei”, ou “Vamos botar para fuder” dito com todas as letras, como principal piada do filme. Ainda mais diante das possibilidades e liberdades criativas que um filme pode oferecer a esses comediantes, fora da TV.

    É possível ainda que Os Penetras agrade àqueles que são muito fãs do trabalho rotineiro de Marcelo Adnet e Eduardo Sterblitch. Fora isso, o longa tem pouco a oferecer com seu roteiro insosso, e tentativas forçadas de criar bordões fadados ao esquecimento 20 minutos após a projeção.