Tag: Taron Egerton

  • Crítica | Rocketman

    Crítica | Rocketman

    Cine biografias compõem talvez o mais polêmico dos sub gêneros da sétima arte atualmente, especialmente quando os biografados estão vivos. Pois bem, sabendo disso, Dexter Fletcher foi incumbido de dirigir Rocketman, um musical bem ao estilo teatral que fala sobre Elton John, e já em seu início ele ousa, quebrando a quarta parede ao mostrar o seu Elton Hercules John na rehab, em um grupo de apoio semelhante ao alcoólicos (ou narcóticos anônimos), onde o astro fala um pouco sobre sua vida, e sobre seu passado, como Reggie Dwight. Incrivelmente, tanto Taron Egerton (que inclusive contracena com o cantor em Kingsman: O Círculo Dourado) quanto Matthew Illesley representam as duas versões principais do musicista.

    Já nesse início é mostrado o personagem mentindo para os outros, e um pouco para si, ao falar de sua família, mas a sinceridade invade a trama quando assume que Reginald utilizava a música para ser aceito. Nessa gênese é dado o caos de sua família, e é entre uma interpretação bem caricata de Bryce Dallas Howard, que faz sua mãe. Mas mesmo diante desses erros, os números musicais são magistrais. Esse quadro aliás só melhora no terço final, com alguns reencontros repletos de amargura, e aí assim, com significado e fatos a discutir além da simples rejeição gratuita.

    O roteiro de Lee Hall não é perfeito, mas remonta bem a popularidade da Rockabilly, além de lidar bem com os clichês de clássicos como Juventude Transviada, trazendo essa abordagem para a atualidade de uma forma transgressora, pervertida e em alguns momentos, encantadora. Há uma fluidez temporal absurda e Fletcher usa e abusa da montagem videoclíptica, que aliás, beira o brilhante em Pinball Wizard, mergulhando nas fases da música de Elton John, mas sem parecer ter pressa em passar pela discografia do sujeito, que aliás, é tão resumida, que faltaram hits.

    Etergon segura um mundo de emoções em seus olhos, garganta e expressão facial, a todo momento parece estar prendendo seus sentimentos, segurando o fôlego e fingindo ser feliz e nesse ponto, a obra que o cineasta apresenta serve também como catarse, um exercício de desapego e desabafo, além de um descarrego em uma cine biografia nada chapa branca, mesmo que endeuse seu objeto de estudo e apele para algumas pieguices típicas dessas biografias, ao contrário da maioria dos seus pares, este possui alma, e muita alma.

    Rocketman representa a vida do astro nos intervalos das epifanias e insights nos poucos respiros que o personagem tem nas obrigações de ser uma estrela, e nesse ponto ele acerta demais, além de não ter medo de ser uma peça cantada queer,  ao contrário do que foi Bohemian Rhapsody, fugindo da pecha de filme família, mostrando a sexualidade do cantor, seu abuso dos vícios (lembre-se que a primeira cena é nessa toada) e não há pudor em mostrar personagens tridimensionais, realistas e palpáveis.

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  • Crítica | Kingsman: O Círculo Dourado

    Crítica | Kingsman: O Círculo Dourado

    A carreira de Mathew Vaughn enquanto diretor é bastante promissora. Sua filmografia passa principalmente por adaptações de quadrinhos, foi assim com Stardust, Kick-Ass, X-men: Primeira Classe e Kingsman: Serviço Secreto. Em Kingsman: O Círculo Dourado, oVaughn retorna para adaptar a continuação dos quadrinhos de seu amigo, Mark Millar, e mais uma vez repete toda a fórmula de sucesso que já está habituado.

    Para muitos, o primeiro Kingsman ficou entre os melhores filmes de 2014, o que é um exagero, uma vez que nele havia apenas o desenvolvimento de uma fórmula pré-estabelecida nas outras traduções do Millarverso, com protagonistas juvenis em situações limites e edição rápida, se valendo do formato de videoclipes. Talvez o diferencial de Círculo Dourado para Serviço Secreto seja o foco no emocional dos personagens, movimento esse muito parecido com o ocorrido em Guardiões das Galáxias Vol. 2.

    O roteiro de Vaughn e Jane Goldman  introduz um novo grupo de vilões, uma organização chamada Círculo Dourado, capitaneada pela excêntrica Poppy (Juliane Moore), uma especialista em robótica que resolve regularizar seus negócios ilegais. Para isso, ela organiza um ataque a Kingsman, obrigando Eggsy (Taron Egerton) e Merlin (Mark Strong) a reinventar a organização, indo até os Estados Unidos, trabalhar com a Statesman, filial americana do serviço.

    A viagem aos EUA serve para fazer diversas piadas com o American Way of Life, seja na figura grotesca do seu presidente (Bruce Grenwold), que é mais uma caricatura inteligente de Donald Trump e seu reacionarismo, como também no modo agressivo e descerebrado que alguns personagens vivem, tanto Poppy, uma psicopata adorável que faz questão de consumir todos os traidores de seu clã, quanto com os membros do alto escalão do Statesman.

    O problema maior dessa versão é que parte dos seus méritos passam longe de serem inéditos, que funciona no primeiro volume funciona, e não tão brilhantemente em sua continuação – fato que talvez justifique as notas baixas nas cabines do filme. As lutas em computação gráfica, por exemplo, abusam de bonecos digitais sem textura, e em transmissões em IMAX se percebe o quão toscos são os personagens brigando. Outro grave sintoma dos novos tempos de filme de heróis, é o retorno de Harry (Colin Firth), que não foi sequer escondido nos primeiros trailers. Não há sequer um impacto emocional do seu retorno em tela, uma vez que já havia sido anunciado em todos os materiais de divulgação.

    Ainda assim e apesar das reclamações por parte dos críticos que achavam o primeiro filme um pseudo-libelo de originalidade no subgênero de super-heróis, Kingsman: O Círculo Dourado segue divertidíssimo, com piadas rápidas e um tom de humor superior ao original, inclusive com uma participação bem ativa de Elton John. Mesmo tendo um discurso sobre a guerra às drogas um pouco anacrônico, todo o restante da aura de espiões super-fantásticos funciona bem, o carisma dos personagens segue intacto, só uma pena que claramente haja uma repetição tão evidente de ciclos dentro do subgênero, e a tendência com o tempo é que tal filão caia em impopularidade, como foram os filmes de brucutus dos anos 1980 e 1990 ou os faroestes pós anos 1960. Somente o futuro dirá.

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  • Crítica | Sing : Quem Canta Seus Males Espanta

    Crítica | Sing : Quem Canta Seus Males Espanta

    Sing : Quem Canta Seus Males Espanta mais nova animação dos criadores de Meu Malvado Favorito, chega cheio de energia e recheado de canções capazes de encantar o público.

    Na história um Coala que preside um decadente teatro, resolve inovar e promover um gigantesco concurso de talentos musicais, visando assim trazer o anfiteatro de volta para seus tempos áureos. Desde o início somos apresentados aos futuros concorrentes que buscam seu lugar ao sol no mundo do show business através de seu talento musical, personagens que vão desde um Gorila que contraria as expectativas de seu pai para buscar seu sonho de ser cantor até uma Elefoa dona de uma bela voz que espera ansiosamente ser descoberta e provar seu valor.

    A animação segue uma cartilha bastante habitual e nada ousada e é aí que reside seu grande ponto falho. Por mais que o filme seja bem feito e conte com grandes dublagens, ele não ousa ir além e se acomoda em sua fórmula. A obra tem boas sacadas como à escolha da trilha que se alterna o tempo todo e acentua bons momentos com canções que vão do clássico ao pop, de Stevie Wonder até Carly Rae Jepsen. Infelizmente a pluralidade de sua ótima playlist acaba não conseguindo se sustentar por si só.

    Há medida que história avança, ela vai deixando pelo caminho a oportunidade de explorar melhor tudo àquilo do qual ela (a história) dispõe, não se aprofundando em seus personagens e acabando com isso por não gerar ou estabelecer uma grande conexão entre suas estrelas centrais e o telespectador. O final que vai sendo construído o para ser catártico o tempo todo,  acaba se transformando em uma simples resolução dos fatos apresentados. O tão almejado grand finale inerente há musicais e há histórias que buscam consagrar seus indivíduos acaba por soar sem peso suficiente.

    Curiosamente, o filme não é de todo descartável, a narrativa tem seus ápices ao conseguir muitas vezes encantar através da suas respectivas interpretações musicais, é competente em sua comicidade e de certa maneira inspiradora na retratação da obstinação de suas personagens e seus sonhos. Sing : Quem Canta Seus Males Espanta pode não acertar o tempo todo, porém, está longe de ser um desastre. No frigir dos ovos vale a pipoca, vale a diversão.

    Texto de Tiago Lopes.

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  • Crítica | Kingsman: Serviço Secreto

    Crítica | Kingsman: Serviço Secreto

    Kingsman - Serviço Secreto

    A semelhança estabelecida entre Kingsman, a história em quadrinhos, e o filme, é parcial. Há um mote fundamental e cada desenvolvimento é feito à sua maneira, levando-se em consideração as diferentes mídias abordadas. Evitando apropriações indevidas, quadrinhos e cinema dialogam de maneira sincronizada, sem que um exagero de recurso de um ou de outro destoe da história.

    A narrativa de um grupo especial focado em operações especiais sigilosas surgiu durante a parceria do diretor Matthew Vaughn e o roteirista Mark Millar na adaptação de Kick Ass – Quebrando Tudo. Dessa maneira, cada um trabalhou com o mesmo ponto de partida, mantendo certa originalidade nesta obra, que é uma homenagem explícita aos filmes de espionagem antigos que apresentavam um mundo mais polarizado entre bem e mal.

    A referência quadrinesca do longa se mantém nas cenas de ação impossível, mas o foco principal é a paródia dos cinemas de espionagem. Mantêm-se, assim, as referências conhecidas pelo público, modificadas por uma visão que demonstra o quanto tais personagens são anacrônicas e estereotipadas.

    Vaughn continua seguindo em sua carreira uma tendência mista de adaptar quadrinhos mantendo o estilo de cada um mas trabalhando simultaneamente com a linguagem do cinema. As cenas de ação são bem compostas e evitam as câmeras lentas – usadas somente em uma cena de alto impacto –, preservando a referência contemporânea de filmes de ação com cenas ágeis ou brutas.

    Samuel L. Jackson interpreta outro personagem coadjuvante interessante, outra tipificação após o papel de velho escravo em Django Livre. Dessa maneira, o habitual excesso interpretativo do ator (conhecido como o motherfucker Jackson ou o massavéio dos massavéios) é deixado de lado para dar vida a um vilão bobo, um plano maligno e megalomaníaco como de costume, e uma língua presa que explicita sua caracterização de bobo.

    Na fronte dos mocinhos, representando um dos agentes Kinsgman, está Colin Firth como o tradicional britânico educado. O ator evidencia conforto nesse papel de ação e comprova estar sempre coerente em sua interpretação sendo, sem dúvida, um dos britânicos em atividade com maior habilidade em sustentar uma gama de personagens diferentes.

    Exagerando na metalinguagem, com personagens que falam sobre a própria impossibilidade dos filmes de espionagem, Kingsman ri do gênero como Kick-Ass riu dos super-heróis, uma replicação de um conceito realista que, mesmo parecendo cópia, foi bem-sucedida. Como roteirista, Millar demonstra talento em criar narrativas do zero, sem personagem pré-fabricados do eixo DC/Marvel. Ainda que uma parcela de seus leitores aponte-o hoje como um escritor que compõe suas tramas pensando na futura adaptação cinematográfica, o sucesso da produção confirma que o gênero quadrinhos é hoje uma das fontes de inspiração do cinema, tanto como novo argumento quanto como reciclagem de novas maneiras de narrar velhas histórias.