Tag: Vladimir Brichta

  • Crítica | Um Homem Só

    Crítica | Um Homem Só

    Dirigido por Cláudia Jouvin, Um Homem Só é um conto sobre um sujeito fracassado e preso a rotina. Arnaldo (Vladimir Brichta) está em um casamento que se aproxima do fim, em um emprego enfadonho, e não consegue cumprir sequer suas funções maritais básicas, como ter disposição sexual para se relacionar com a esposa que está em período de ovulação. Sua vida é cortada por uma novidade estranha, e não demora para o filme embarcar por um caminho que o faz se assemelhar com o cinema de ficção científica.

    Após mais um dia terrível, ele ouve sobre a possibilidade louca de se clonar e colocar uma cópia mais dócil feita em laboratório no lugar de si mesmo em sua casa. Após conhecer a ruiva e fogosa Josy (Mariana Ximenes), ele decide se submeter ao estranho experimento, e antes que esse ocorra, acaba desistindo, dando aí uma guinada em sua moral, para fazer o que jamais fez: tomar atitude e sair da letargia.

    A partir desse ponto a historia muda, deixando de ser mais um conto psicodélico para se tornar um exemplar de perseguição. A mistura de tipos diferentes de narrativa faz o resultado sofrer, uma vez que o que Jouvin propõe não soa nem como um sci-fi brasileiro completo, nem como um thriller minimamente interessante. No entanto, as escolhas da diretora na composição de seus cenários são interessantes, como por exemplo, a repartição em que o protagonista passa seu tempo tem predominância da cor azul, que contrasta com a monotonia e chatice de seu cotidiano monótono e repetitivo.

    Os momentos finais são um pouco mais eletrizantes, mas não o suficiente para salvar o filme. Apesar de seu elenco estelar, não há grandes desempenhos. A tentativa de apelar para um cinema de gênero também não encontra êxito, fazendo de Um Homem Só apenas mais um produto carente de boas qualidades. Abaixo da linha medíocre.

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  • Crítica | Bingo: O Rei das Manhãs

    Crítica | Bingo: O Rei das Manhãs

    Cinebiografia é um nicho do cinema complicado de ser realizado, uma vez que normalmente se tem um receio de incomodar o biografado, quando o mesmo ainda está vivo, ou depreciar sua memória quando ele já é falecido. Bingo: O Rei das Manhãs, de Daniel Rezende, se propunha ser uma comédia dramática ácida, e ele até se apresenta assim em seu início, mas o tom do longa muda ao longo de seu desenvolvimento.

    Rezende se tornou celebridade graças ao seu trabalho de edição não só no Brasil – com Cidade de Deus e Tropa de Elite – mas também no exterior, em 360, Diários de Motocicleta e Árvore da Vida. Bingo é o primeiro longa que dirige e desde a primeira cena em que o protagonista (Vladimir Brichta) aparece, se nota um enorme apuro visual e ímpeto de se contar uma história que glamourosa. O herói da jornada é Augusto Mendes, um ator que vem de uma família de artistas e tem a ambição de se tornar uma estrela das telenovelas. A realidade que lhe compreende envolve a realização de pornochanchadas, onde o que mais aparece é sua bunda e não seu talento, e é a partir dessa exposição que o personagem começa a traçar seus planos rumo ao estrelato.

    O personagem de Brichta é recusado em alguns testes e decide rumar sua vida em outra direção, para uma rede de televisão onde teria mais visibilidade. Sempre levando seu filho Gabriel (Cauã Martins) junto, o sujeito acaba por se testar para o papel de Bingo, um palhaço que é sucesso em franquia americana, podendo enfim fazer algo que agradaria seu filho e daria chance a ele de brilhar como a estrela que sempre sonhou.

    Nesse meio tempo, é mostrada uma vida de excessos, com uso livre de drogas e álcool, e claro, tentativas mil de galantear toda mulher que passa à sua frente, incluindo aí a diretora da atração das manhãs, Lúcia (Leandra Leal), uma mulher religiosa e decidida, que não se permite seduzir facilmente. A questão maior é que quase todos os personagens usam pseudônimos, obviamente para evitar processos, mas a trajetória do palhaço/ator é ainda assim muito fiel a biografia de Arlindo Barreto, o Bozo em que se baseou o filme de Rezende, com direito até a aproximação religiosa de Barreto.

    Outro problema do texto é o excesso de tempo dedicado a trama de pai e filho. Quando o restante da história de altos e baixos de Arlindo/Augusto parece engrenar, surge mais uma vez a trama boba e óbvia do menino que se sente solitário por seu pai não dedicar todo tempo que gostaria a ele. Há uma exposição do uso de drogas e entorpecentes por parte do protagonista, mas claramente se nota uma exploração comedida do drama, que deve ter sido suavizado como parte do pedido de Barreto, que somente permitiu que sua história ocorresse caso no final, houvesse a exposição de sua conversão ao evangelho.

    Mesmo com problemas relacionados ao modo de contar sua história, Rezende concebe um filme interessante e tocante. A sequência em que o protagonista se enxerga na televisão próxima ao final é de uma beleza sem tamanho e de uma sensibilidade igualmente inspirada. Bingo: O Rei das Manhãs é repleto de momentos inspirados e poéticos, e mesmo ao seu final, com a já inspirada conversão de Augusto, ainda se foca em uma outra faceta do personagem trazido a tela, que é o amor e a obsessão pelos palcos e pelos holofotes.

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  • Crítica | Real Beleza

    Crítica | Real Beleza

    Real Beleza 1

    Com um orçamento bastante baixo, mas munido de um elenco famoso, Jorge Furtado retorna ao cenário de longas-metragens de ficção após o interessante Mercado de Notícias. Com o casal Vladimir Brichta e Adriana Esteves, traz à luz um filme que deveria ser uma ode a arte e a universalidade da beleza, mas que acaba por valorizar conceitos familiares, ainda que por vias tortas.

    Real Beleza se passa no estado do Rio Grande do Sul, cenário comum aos bons filmes de Furtado, a exemplo de O Homem Que Copiava e tantos outros. Dessa vez, o foco não é a capital, e sim o interior. João (Brichta) é um fotógrafo que vive uma fase de decadência em sua carreira, algo apresentado já no início da fita através de uma das modelos que trabalham com ele. Uma sequência inicial começa muito bem, com um plano-sequência interessante, mas resulta em um momento esdrúxulo que revela um ataque de ego, cuja resposta imediata é um ímpeto de violência do artista

    Assumindo seu papel de subalterno, João viaja pelas cidades pequenas caçando modelos em potencial até encontrar Maria (Vitória Strada), uma moça que vive em um lugar isolado, com seus pais. Sem opções e entediado, o fotógrafo se lança nesta jornada até encontrar Anitta (Esteves), que se entrega a ele de um modo, a seu ver, único.

    Entre uma relação carnal e outra, há enormes discussões a respeito da arte clássica e do conceito de beleza, que revelam alguns diálogos e discussões bastante interessantes, mas que se perdem em meio a uma produção sinuosa. Pedro (Francisco Cuoco) mostra-se uma persona em fase de declínio ainda mais agravante do que do personagem mais moço, graças a sua imagem que se deteriora cada vez mais, e a velhice que lhe causou cegueira e teimosia. Sentimentos como desapego, gratidão e cuidado se confundem, piorando o quadro quando o debate entre as posições ideológicas dos dois deixa prevalecer o conceito de que a imagem normalmente vence o conteúdo, apesar das ressalvas de Pedro.

    A tentativa de fazer uma ode à beleza da arte é falha, especialmente em razão da fraqueza dos personagens secundários e da banalidade típica que está presente no roteiro. De positivo, há o argumento a respeito da invisibilidade do idoso, ainda que a abordagem da drama torne-se dúbia, já que, em quase todas as vezes que Cuoco encontra a lente de Furtado, há uma estranheza e enfoque em uma condição de senilidade extrema. Real Beleza tenta ser singelo, mas tropeça em um roteiro ainda mais pobre que o baixo orçamento utilizado em sua produção.

  • Crítica | Minions

    Crítica | Minions

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    Meu Malvado Favorito foi uma grande surpresa de público, e provavelmente nem os mais otimistas acionistas da Illumination Entertaiment — produtora que, além da franquia composta pelos Minions e o malvado Gru (Steve Carrel), possui apenas filmes de público médio-baixo em seu currículo — imaginariam. Fora o sucesso de público, que alcançou seu ápice com Meu Malvado Favorito 2 e seus retumbantes US$ 970 milhões alcançados mundialmente, e com a memeficação dos Minions, realizar uma prequel que explica como Gru encontrou seus capangas favoritos era questão de tempo.

    Apesar das animações de gosto duvidoso, o uso dos bichinho sem vocabulário é um acerto comercial de alto valor por parte do estúdio, pois trata-se de uma eficiente forma de comunicar-se com seu principal público: crianças pequenas. É obviamente um produto muito diferente de sua concorrente atual Divertida Mente, filme da Pixar com ambições muito mais elegantes e ousadas, e por isso mais restrita em público. Se a animação da Pixar foi capaz de fazer crianças chorarem com o desaparecimento de um querido personagem, Minions sequer arranha emoções muito profundas, ou mesmo uma profunda alegria.

    A aventura sobre a busca de um vilão mestre ao qual possam servir culmina no embate dos pequenos contra a vilã Scarlet (Sandra Bullock na versão original, e Adriana Esteves na dublagem nacional) e seu marido Herbert (John Hamm na original, e Vladimir Brichta na versão nacional), e busca desde o início incendiar-se feito rastilho, usando o característico déficit de atenção dos Minions para garantir que a cada período específico de tempo o cenário mude para um próximo e com ação ainda mais estridente. Esta estratégia é comum em animações que tentam seguir o ritmo de desatenção das crianças e falar a linguagem de seus espectadores, hoje acostumados com emojis e memes, seguindo para uma comunicação mais próxima do grunhido.

    Longe de lembrar a qualidade do humor físico de Looney Tunes e seus pares, a característica periódica dos acontecimentos pode afetar a a simpatia dos mais atentos, já que garante a certeza e previsibilidade de quase tudo o que se passa em tela, enquanto as piadas de duplo sentido, que têm os adultos como alvo, soam apenas enfadonhas e deslocadas.

    Assim, o ritmo não é frenético como se espera, e em comparação com a excelente trilha sonora — que passa por The Police e se concentra em The Beatles para ornar com o cenário —, falta harmonia entre as diversas notas que o filme gostaria de alcançar.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.