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  • Crítica | Minions

    Crítica | Minions

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    Meu Malvado Favorito foi uma grande surpresa de público, e provavelmente nem os mais otimistas acionistas da Illumination Entertaiment — produtora que, além da franquia composta pelos Minions e o malvado Gru (Steve Carrel), possui apenas filmes de público médio-baixo em seu currículo — imaginariam. Fora o sucesso de público, que alcançou seu ápice com Meu Malvado Favorito 2 e seus retumbantes US$ 970 milhões alcançados mundialmente, e com a memeficação dos Minions, realizar uma prequel que explica como Gru encontrou seus capangas favoritos era questão de tempo.

    Apesar das animações de gosto duvidoso, o uso dos bichinho sem vocabulário é um acerto comercial de alto valor por parte do estúdio, pois trata-se de uma eficiente forma de comunicar-se com seu principal público: crianças pequenas. É obviamente um produto muito diferente de sua concorrente atual Divertida Mente, filme da Pixar com ambições muito mais elegantes e ousadas, e por isso mais restrita em público. Se a animação da Pixar foi capaz de fazer crianças chorarem com o desaparecimento de um querido personagem, Minions sequer arranha emoções muito profundas, ou mesmo uma profunda alegria.

    A aventura sobre a busca de um vilão mestre ao qual possam servir culmina no embate dos pequenos contra a vilã Scarlet (Sandra Bullock na versão original, e Adriana Esteves na dublagem nacional) e seu marido Herbert (John Hamm na original, e Vladimir Brichta na versão nacional), e busca desde o início incendiar-se feito rastilho, usando o característico déficit de atenção dos Minions para garantir que a cada período específico de tempo o cenário mude para um próximo e com ação ainda mais estridente. Esta estratégia é comum em animações que tentam seguir o ritmo de desatenção das crianças e falar a linguagem de seus espectadores, hoje acostumados com emojis e memes, seguindo para uma comunicação mais próxima do grunhido.

    Longe de lembrar a qualidade do humor físico de Looney Tunes e seus pares, a característica periódica dos acontecimentos pode afetar a a simpatia dos mais atentos, já que garante a certeza e previsibilidade de quase tudo o que se passa em tela, enquanto as piadas de duplo sentido, que têm os adultos como alvo, soam apenas enfadonhas e deslocadas.

    Assim, o ritmo não é frenético como se espera, e em comparação com a excelente trilha sonora — que passa por The Police e se concentra em The Beatles para ornar com o cenário —, falta harmonia entre as diversas notas que o filme gostaria de alcançar.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Crítica | Philomena

    Crítica | Philomena

    Philomena

    A película de Stephen Frears (de Alta Fidelidade e A Rainha) é pretensamente baseada em fatos reais. Martin Sixsmith – do competente Steve Coogan – é um ex-assessor de imprensa de um antigo ministro da Coroa, demitido injustamente, concordata esta motivada por um erro que não teria sido seu. As voltas com sentimentos auto-destrutivos e depressivos, bastante plausíveis diante do que lhe acometera, ele procura uma causa, algo que o motive a voltar a trabalhar com as palavras.

    A personalidade passiva e agressiva do protagonista logo é percebida, mostrando Sixsmith se utilizando de seu pouco tato com possíveis clientes da sua investigação jornalística. O modo como trata o caderno de interesses gerais é curioso por este achar o ofício um esforço fútil e voltado para mentes fracas. Graças a sua arrogância, quase perde a oportunidade de explorar o drama de Philomena Lee – Judi Dench – e seu filho há cinco décadas perdido, separado desta graças a rigidez predominante no convento onde residia. Através do relato da idosa mulher arrependida o drama é revelado ao público, em flashbacks contendo cenas de cunho extremamente emocional e que curiosamente contrastam muito com o discurso de Philomena, que até insiste em defender as freiras responsáveis pela separação desta de seu herdeiro.

    Por vezes a leveza da abordagem mascara os complicados e espinhosos temas propostos. Isto é causado muito pelo humor negro de Sixsmith e pelo gênio incompreendido de Philomena, variando entre sua docilidade costumeira e o claro incômodo de retornar às memórias incômodas e devastadoras, que por sua vez, a fazem agir hostilmente quando se vê confrontada, seja em relação ao conhecimento sobre a arquitetura do convento ou pela discussão de sua decisão de procurar o primeiro filho tão tardiamente.

    É interessante notar o momento da dupla de heróis, pois ambos passam por crises existenciais, e têm formas distintas de encarar isto, enquanto a situação de Martin acabara de acontecer e ele age de forma altiva diante das adversidades, Philomena prefere o silêncio, a resignação e condescendência diante a irônica forma como os indícios da localização de “Anthony” simplesmente sucumbira ante um incêndio “acidental”. A insegurança de Martin lhe é útil, visto que o faz ficar paranoico e aberto a teoria da conspiração, e que garante ao jornalista um furo e o arquitetamento de um evento midiático de proporções moderadas. O cinismo do redator é enorme e ele vê na história uma oportunidade de recuperar para o seu nome um pouco de notoriedade, enquanto a anciã vê a possibilidade de, após a viagem, achar seu filho.

    Frears usa mais uma vez um personagem inseguro, que cospe erudição para esconder seu vazio existencial e a vergonha por estar em tão constrangedora situação, como com Rob Gordon, em Alta Fidelidade. A gotejante simplicidade de pensamento e de julgamento por parte da senhorinha faz dela uma personagem simpática, mas não parece ultrapassar a sua emproada e blasé carapaça de isolamento, até um momento chave, em que mesmo sua máscara de indiferença cai, diante da péssima notícia que descobrira. Ele até mostra uma menor falta de escrúpulos do que a de sua editora, que o obriga a prosseguir sua busca e tentar demover a desconsolada mãe de retornar ao seu lar, para ter uma história grandiosa (ou o que mais se aproximar disso) publicada por Martin.

    O terço final varia entre momentos agridoces e de euforia extrema, é como uma montanha russa de emoções e emula as variações de humor de um típico caso de depressão diagnosticado, o que é natural dado a natureza da pessoa analisada e sua idade avançada, e, coincidentemente, também bateria facilmente com a situação do decadente Martin. A reconstituição do passado de Michael Hess e a forma como Philomena encara seu destino faz com que Martin a defenda ferozmente, sobretudo do complexo de culpa que ela insiste em exercer sobre si, fazendo-os entrar em atrito por momentos prolongados.

    Martin se vale de sua obstinação pela notícia para chegar ao fundo da história, e do acobertamento dos paradeiros de mãe e filho, entrando nas brechas deixadas pelos religiosos e se valendo de sua ácida e corrosiva personalidade para provocar os culpados e obrigá-los a contar a verdade. A reação de Philomena é de perdoar seus malfeitores, ao contrário da fúria que permeia a atitude do investigador. As distintas formas de enxergar o todo se cruzam ao final, e chegam a uma conclusão em comum. O impressionante é que mesmo após a epopeia e o turbilhão de emoções pelas quais passam Lee e Maxsmith, os dois não mudam seu modo de viver, ao contrário, o roteiro de Coogan e Jeff Pope mostra como duas partes tão diferentes entre si podem agir juntas e produzir uma tão doce, agradável e sucinta história de auto-descoberta, abordando as debilidades inerentes a uma longa existência mas sem desolar o espectador com cenas de cunho melancólico.