Tag: Geoffrey Rush

  • Crítica | Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar

    Crítica | Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar

    Há um pensamento encrustado no ideário popular de que o bom jogador de poker sabe a hora de parar de apostar. Ao que tudo indica, Jerry Bruckheimer e os estúdios Disney ainda não chegaram a essa conclusão a respeito da franquia Piratas do Caribe e do destino de seu personagem principal, Jack Sparrow (Johnny Depp). Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar é o quinto volume da série já bastante desgastada, e coube aos noruegueses Espen Sandberg e Joachim Rønning conduzir esta que estava prevista para ser o último evento da saga.

    Há dois elementos novos que dividem a centralização da trama, o primeiro deles é o casal da vez, formado por Henry Turner (Brenton Thwaites) e Carina Smith (Kaya Scoledario), uma dupla de jovens que tem motivações ligadas aos seus pais desaparecidos, e que buscam ambos tentar alcançar o auge da geração anterior. O outro elemento é Salazar (Javier Bardem) um homem que foi ludibriado por Sparrow no passado e que busca vingança, por conta de mais uma maldição genérica, como visto nos outros quatro filmes da franquia. Dessas ideias, a que mais funciona é presente na personificação de Carina, que consegue ser a única personagem forte e com qualquer substância, compondo uma bela e forte heroína, graças muito ao talento de Scoledario, que já tinha se mostrado uma boa atriz em Maze Runner.

    Sandberg e Rønning não podem ser encarados como novatos em Hollywood. O primeiro longa em parceria foi Bandidas, lançado há mais de dez anos, em 2006, e os erros apresentados nesse se assemelham demais ao filme citado anteriormente. Os acertos que ambos tiveram em Kon-Tiki não se reprisam, ao contrário, já que claramente se percebe uma falta de carisma geral nos personagens novos, em especial Henry, que não convence em nenhuma de suas ações, fazendo Thwaites soar como um Orlando Bloom genérico, comprovando que sozinho ele não segura o filme, como já era ensaiado em outras de suas participações no cinema, como Doador de MemóriasMalévola e Deuses do Egito.

    Há uma tentativa de resgatar a honra de Barbossa, há muito achincalhado no filme anterior. Os rumos de seu destino são diferenciados e ainda assim fracos, mas nada tão desrespeitoso como havia sido sua transformação em agente da coroa britânica no tomo quatro. Geoffrey Rush tenta dar uma maior profundidade ao seu personagem, uma vez que os holofotes também estão sobre ele. O veterano não faz feio, e consiste em si as melhores participações, ao contrário de Bardem, que durante todo o longa-metragem se mostra no “piloto-automático”.

    O capítulo cinco peca por não empolgar ou divertir seu público. Esse é claramente o filme que depende menos de Depp, possivelmente motivado pelos escândalos extra-tela que o ator protagonizou. A realidade é que a carreira do ator já vinha perdendo popularidade, graças ao abuso de seus trejeitos e projetos controversos. Quase nada que ele fez nos últimos anos foi digno de entusiasmo ou nota, nem no retorno a parceria com Gore Verbinski em Cavaleiro Solitário. O que já era decadente tornou-se morto após as acusações que sofreu e nem em seu campo de domínio há uma unanimidade.

    Os ganchos e cenas pós-créditos são terríveis e covardes, brincando mais ainda com a expectativa do público. Do ponto de vista técnico, se nota um trabalho de som competente, fator que acrescenta um tom épico as cenas de escalas grandiosas, ajudando criar um clima fantástico fantástico que funciona basicamente só nesses momentos. No entanto, esses aspectos não salvam o filme da fórmula medíocre típica da Hollywood atual, tornando Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar mais uma obra dispensável e esquecível, ainda que levemente superior as outras continuações. É muito tarde para quaisquer mudanças nessa saga que insiste em não se deixar encerrar.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Crítica | Minions

    Crítica | Minions

    mns_scarlet1sht_rgb_0126_1_0

    Meu Malvado Favorito foi uma grande surpresa de público, e provavelmente nem os mais otimistas acionistas da Illumination Entertaiment — produtora que, além da franquia composta pelos Minions e o malvado Gru (Steve Carrel), possui apenas filmes de público médio-baixo em seu currículo — imaginariam. Fora o sucesso de público, que alcançou seu ápice com Meu Malvado Favorito 2 e seus retumbantes US$ 970 milhões alcançados mundialmente, e com a memeficação dos Minions, realizar uma prequel que explica como Gru encontrou seus capangas favoritos era questão de tempo.

    Apesar das animações de gosto duvidoso, o uso dos bichinho sem vocabulário é um acerto comercial de alto valor por parte do estúdio, pois trata-se de uma eficiente forma de comunicar-se com seu principal público: crianças pequenas. É obviamente um produto muito diferente de sua concorrente atual Divertida Mente, filme da Pixar com ambições muito mais elegantes e ousadas, e por isso mais restrita em público. Se a animação da Pixar foi capaz de fazer crianças chorarem com o desaparecimento de um querido personagem, Minions sequer arranha emoções muito profundas, ou mesmo uma profunda alegria.

    A aventura sobre a busca de um vilão mestre ao qual possam servir culmina no embate dos pequenos contra a vilã Scarlet (Sandra Bullock na versão original, e Adriana Esteves na dublagem nacional) e seu marido Herbert (John Hamm na original, e Vladimir Brichta na versão nacional), e busca desde o início incendiar-se feito rastilho, usando o característico déficit de atenção dos Minions para garantir que a cada período específico de tempo o cenário mude para um próximo e com ação ainda mais estridente. Esta estratégia é comum em animações que tentam seguir o ritmo de desatenção das crianças e falar a linguagem de seus espectadores, hoje acostumados com emojis e memes, seguindo para uma comunicação mais próxima do grunhido.

    Longe de lembrar a qualidade do humor físico de Looney Tunes e seus pares, a característica periódica dos acontecimentos pode afetar a a simpatia dos mais atentos, já que garante a certeza e previsibilidade de quase tudo o que se passa em tela, enquanto as piadas de duplo sentido, que têm os adultos como alvo, soam apenas enfadonhas e deslocadas.

    Assim, o ritmo não é frenético como se espera, e em comparação com a excelente trilha sonora — que passa por The Police e se concentra em The Beatles para ornar com o cenário —, falta harmonia entre as diversas notas que o filme gostaria de alcançar.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Crítica | A Melhor Oferta

    Crítica | A Melhor Oferta

    melhor-oferta-poster

    Virgil Oldman é mostrado como um sujeito excêntrico, meticuloso, calculista e detalhista. Não há nada na introdução de A Melhor Oferta que chame mais atenção do que o comportamento do personagem enquanto exerce o seu ofício de especialista em arte.

    Geoffrey Rush evidencia o seu talento ao interpretar o elegante e metódico protagonista. O (irritante) nível de perfeccionismo de Oldman o faz tornar-se uma figura próxima da antipatia, quase misantrópica, o que assinala ainda mais a condição de seu status, mostrando que sua reputação enquanto avaliador de peças caras é quase infinito.

    Seu personagem muda um pouco de faceta nos leilões, onde é preciso mostrar carisma para conseguir as melhores ofertas possíveis. Como orador, ele chega a provocar risos na plateia ao lidar diretamente com os ricos investidores. Não parece haver nada que não esteja ao seu domínio ou longe de sua mãos poderosas, a não ser, é claro, a sua galopante superstição e crença no azar. Oldman tem o silêncio interrompido por um pedido desesperado de Claire Ibbetson – conhecida na fita apenas por sua voz -, cujo pai havia dito que uma peça precisava ser analisada por Virgil. Após muita insistência, ele resolve visitar a casa antiga da família Ibbetson e lá encontra um objeto estranho que atrai a sua atenção.

    A curiosidade no pequeno pedaço de metal que encontra na casa dos Ibbetson não justifica em nada o seu interesse, a priori. Sua volúpia por resolver o mistério interfere até em seus esquemas de compra de objetos por preços baixos para revendê-los a alto custo. A obsessão causa nele uma miopia inapropriada para o seu repertório. A fotografia de Fabio Zamarion ajuda dar leveza à película, uma vez que o registro de cores caracteriza-se predominantemente por tons claros, e a iluminação é favorável a tal análise. A edição de Massimo Quaglia também colabora com a trama, especialmente por sua rapidez emular um senso de urgência muito singular, que se torna ainda mais exitoso graças à direção de atores que Giuseppe Tornatore exerce em seu elenco.

    A fixação no “quadro” aumenta o escopo, e Virgil passa a se interessar demasiadamente na figura agorafóbica de Claire Ibbetson, inclusive vigiando-a em segredo para enfim ver a sua figura fora de seus aposentos prisionais. Sylvia Hoeks mostra a sua bela figura pouquíssimas vezes: quando sua personagem é vista, logo entra em desespero, de modo que só se acalma com a presença de Virgil. A relação passa por rusgas quando a moça descobre que foi ele quem a analisava, mas, pouco a pouco, os dois se reconciliam.

    Como num processo vagaroso, os dois se aproximam de modo a formar um par de fato, primeiro como um restaurador da moral da moça, claro, sem deixar de lado sua face do hábil e experiente sedutor que é. O romance é lapidado por Virgil num exercício sobre-humano de sua parte, já que esse não é o costume de sua persona. No entanto, a confiança de Claire é um objeto de frágil manuseio, difícil demais de ser mantido, o que faz da jornada um caminho trôpego.

    Como em espécimes anteriores da filmografia de Tornatore, A Melhor Oferta trata da obsessão humana, novamente tocando na ligação sentimental amorosa e no desejo ao proibido, como era em Malena, ainda que inverta a idade dos protagonistas dos dois filmes. A afinidade entre o leiloeiro e sua cliente os faz crescer mutuamente. Ambos vencem as suas fobias, assim como os movimentos compulsivos com os quais os dois sofrem.

    A anunciada e improvável evolução de Claire e Virgil, que havia ocorrido de modo natural, ajudou a mascarar e muito a falsidade de intenções. O factoide só foi agravado pela lembrança da série de percalços “vencidos” através do auxílio de Virgil. O experiente analista aparece desolado após o forte golpe que sofreu, sensação otimizada pela expressão incrédula de Rush. A desolação que Oldman sofre é enorme e contrasta eficazmente com a ilusão que tinha pela espera da responsável pelo seu estado de nervos, e ora o personagem é mostrado como um sujeito supostamente engodado, ora em uma casa de repouso para debilitados mentais, mostrando como funciona a mente do homem após a traumática separação que sofreu.

  • Crítica | A Menina Que Roubava Livros

    Crítica | A Menina Que Roubava Livros

    the book thief - movie poster

    O livro de Markus Zusak, em que se baseia o filme, é muito, muito bom. É um daqueles que dá vontade de reler. Seu grande trunfo é ser narrado pela própria morte, o que confere à trama um ponto de vista único, incomum. Além do narrador, o mais interessante do livro é o contraponto entre o encantamento de Liesel pela leitura e suas experiências com a morte. Há nele um quê de Fahrenheit 451 e de Preciosa, ao focar no poder transformador, libertador, redentor da leitura e da escrita. Contudo, devido a um roteiro que se preocupou apenas em pinçar os eventos – mas não as reflexões – que ocorrem no livro, esse enfoque se perdeu totalmente. E o filme se tornou apenas mais um (melo)drama de guerra. Uma pena. E mesmo o ato de “roubar livros” é vazio de significado, já que pouco se explora a motivação das personagens, tampouco a evolução do relacionamento entre elas – a ladra, Liesel, e a proprietária dos livros, Ilsa Hermann.

    A direção é bastante burocrática, com poucos arroubos e nenhuma inovação. A falta de criatividade confirma-se na previsibilidade do desfecho de algumas cenas, mesmo para os que não leram o livro. E, apesar de o ritmo ser arrastado, o final é abrupto. Como se, de repente, o diretor se desse conta de que não tinha mais tempo e precisava concluir tudo em menos de 10 minutos. O que, obviamente, acaba deixando o espectador com a impressão de que perdeu um trecho da história.

    Do elenco, vale destacar a atriz Emily Watson como Rosa Hubermann, mãe de Liesel. Apesar de sua performance não ter grandes momentos, é, sem dúvida, a personagem com o arco dramático melhor escrito e desenvolvido. Geoffrey Rush – Hans Hubermann – como sempre não decepciona e consegue uma boa interação com Sophie Nélisse – Liesel.

    É um detalhe, mas incomoda bastante se o espectador começar a reparar: o sotaque alemão dos personagens, que vai e vem indiscriminadamente. Todo mundo já está habituado a assistir filmes ambientados em países “não-ingleses” e falados em inglês. Ninguém mais questiona por que em Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, que se passa na Suécia, todos falam inglês. Tarantino, em Bastardos Inglórios, optou por colocar os personagens falando em seu idioma nativo. São duas boas opções amplamente aceitas pelo público. Então, por que optar por utilizar um sotaque alemão? E por que abrir mão disso temporariamente e colocar o prefeito da cidade discursando em alemão?

    Mais uma adaptação de livro que decepcionou. Como filme “independente” é apenas mediano – a melhor nota seria 2,5. Como adaptação fica bem aquém das expectativas dos leitores. Quem não leu o livro, talvez aprecie um pouco mais.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | O Amor Custa Caro

    Crítica | O Amor Custa Caro

    o amor custa caro

    Todo grande cineasta, vez ou outra, se depara com projetos onde precisa ceder para conquistar público ou agradar seus empregadores a fim de mantê-los felizes o suficiente para continuarem bancando seus projetos pessoais, e poucos são os felizardos que nunca precisaram passar por isso. Com um orçamento de U$ 60 mi e uma renda mundial de U$ 120 mi, pode-se dizer que neste aspecto o filme atingiu seus objetivos. Artisticamente falando, porém, a produção não faz jus à filmografia dos Coen.

    A história gira em torno de Miles Massey (George Clooney), um bem-sucedido advogado especialista em divórcios que está entediado e em busca de novos desafios em sua carreira e em sua vida particular. Marylin Rexroth (Catherine Zeta-Jones) é uma mulher que deseja se tornar rica através do dinheiro conseguido em diversas separações, e que conhece Miles por este ser o advogado de seu ex-marido, Rex Rexroth (Edward Herrmann). Miles consegue a separação a favor de Rex, mas acaba se apaixonando por Marylin.

    O elenco, como de costume, é bem escolhido e Clooney está exagerado na medida certa como o advogado caricato. Zeta-Jones às vezes destoa nas caras e bocas sensuais, mas faz bem o papel que lhe é dado. A boa sequência inicial com Geoffrey Rush (que serve inicialmente só para apresentar-nos a Miles) também rende uma participação maior e muito boa no final, assim como a pequena (mas importante) participação de Billy Bob Thornton.

    Porém, apesar de o filme conter algumas das principais características dos Coen (como o humor negro e as viradas de roteiro), esses elementos não são suficientes para salvar o roteiro de certo cansaço no avançar da história, que de certa forma se torna previsível. O que realmente a salva são os personagens empáticos e cenas hilárias (e infantis, na medida certa) que tiram sorrisos agradáveis do espectador, que, graças a essas qualidades, acaba esquecendo e relevando as falhas estruturais da narrativa.

    O Amor Custa Caro funciona como comédia romântica ao dar espaço para protagonistas inteligentes se apaixonarem, ao utilizar clichês do gênero ao seu favor e como diversão pura e simples, mas fica aquém da capacidade de uma dupla que já nos deu produções como Fargo, apesar de estar bem acima da média das comédias românticas dos últimos anos, gênero desgastado como poucos.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | A Lenda dos Guardiões

    Crítica | A Lenda dos Guardiões

    a-lenda-dos-guardioes-poster

    Após Watchmen, Zack Snyder se refugiou em uma animação, baseada no romance de Kathryn Lasky, A Lenda dos Guardiões é a chance do realizador em fazer penas de corujinhas caírem no seu ritmo conhecido, regado a muito slow motion.

    Desde 300, Snyder demonstra um enorme esmero com o visual e fotografia em seus filmes, e este não é diferente. O contraste entre as inúmeras espécies e subespécies de aves, suas cores, seu visual de asas abertas é algo estonteantemente belo.

    Apesar da maioria da filmografia do diretor ser de qualidade discutível, seus filmes ainda eram um bom entretenimento, conseguiam prender a atenção do individuo desatento, que pouco se importa com coesão ou de baixa expectativa em relação a consumir uma história bem construída. Era um entretenimento minimamente divertido, totalmente diferente desse Legend of the Guardians. O roteiro não é mal feito, mas a animação não distrai, não faz rir e não emociona. O alívio cômico só aparece depois de decorrido mais de um terço da trama, e ainda assim é não é nada demais. A trajetória dos aventureiros até encontrar os seus heróis é muito curta, falta perigos reais em sua jornada, os personagens são insossos e nada carismáticos, não há como se importar com o destino deles. As virtudes e auxílios se aproximam muito facilmente do grupo de alados.

    Ao menos, é passada uma mensagem muito boa, através do mentor do protagonista. Soren, a coruja dublada por Jim Sturges (do também “excelente” Cloud Atlas), ouve do seu herói idealizado, que um guerreiro não recebe louros após as batalhas, o que perdura e marca suas vidas são as cicatrizes, contudo, o importante é ter o foco em fazer o que é correto.

    As batalhas em câmera lenta entre corujas vestindo armaduras e armas brancas contra morcegos devem ser interessantes em algum lugar mas não aqui, torna-se ainda mais difícil se importar com o destino dos passarinhos, principalmente por causa do protagonista Loren – uma ave que só faz chorar, que é insegura e extremamente chata. A tentativa em tornar o herói em um ser mais humano esbarra no fato básico dele ser um animal. Falha miseravelmente no quesito, e torna todo esse drama deveras maçante.

    Os efeitos especiais não deixam a desejar, e infelizmente mal dá para analisar o estrelado – Geoffrey Rush, Helen Mirren, Hugo Weaving, Sam Neill – que estão no automático e quase não são acionados. A Lenda dos Guardiões é fraco e tem dificuldade em descobrir qual é o seu público.

    Ouça nosso podcast sobre Zack Snyder.