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  • Falcão e Soldado Invernal | As Referências dos Quadrinhos

    Falcão e Soldado Invernal | As Referências dos Quadrinhos

    Os fãs de filmes e produtos da Marvel no audiovisual ficaram bastante mal acostumados com o decorrer da historia de Wandavision. Durante o período das 8 semanas em que a série foi ao ar (lembrando que foram 9 episódios, mas que dois foram lançados juntos) se cogitou a presença de Namor, Ultron, membros do Quarteto Fantástico e principalmente Mefisto e Pesadelo. Teorias esdrúxulas, reclamações tolas e expectativas mil foram frustradas.

    Pois bem, quando Falcão e Soldado Invernal teve início semanas atrás, a série trouxe várias referências direta dos quadrinhos. Algumas mais óbvias, outras nem tanto, e para esclarecer o leitor elencamos-as aqui. O texto possuirá alguns spoilers, então se você se incomoda com isso, recomendo que veja primeiro a série para depois realizar esta leitura.

    Capitão América (Sam Wilson)

    Decidi começar por ele devido ao final de Vingadores: Ultimato, que já dava conta da passagem do legado de Steve Rogers para seu sempre presente amigo, Sam Wilson, que atendia pelo codinome Falcão. Nos quadrinhos, Sam foi cogitado para ser o substituto quando Steve Rogers abandonou o manto em Capitão América: Nunca Mais. Um dos motivos para não ter sido escolhido refletia o preconceito da década de 80, ainda mais intransponível em diálogo que hoje.

    Em quadrinhos mais recentes, um vilão chamado Prego de Ferro enfrenta Steve Rogers e drena o soro do Super Soldado. e parte da sua habilidade consiste em drenar o soro do Super Soldado. Steve ao ter que lutar contra ele diretamente, tem seu poder e jovialidade consumidos virando então um idoso. O parceiro Sam o Salva e logo Rogers apresenta-o como seu substituto. Seu arco como Capitão abordava questões pontuais de racismo e problemas envolvendo de imigração, fatos que foram resgatados na série, inclusive no arco dos vilões apátridas. Curiosamente, o dito país da liberdade suprema não o aceitou como Capitão, sofrendo resistência e rejeição dos leitores.

    Agente Americano – John Walker

    Walker já teve algumas encarnações nos quadrinhos: primeiro como Super Patriota, depois como Capitão América e, algum tempo depois, se tornou o Agente Americano. Sua índole era estranha, mas de fato ele jamais foi um vilão. Na série, após Sam Wilson entregar o escudo ao governo, é John Walker o escolhido para ostentar as cores da bandeira e o nome heroico.

    O personagem reúne clichês do Capitão América e também do Justiceiro. Já substituiu o Cap. original, inclusive com um Bucky como dupla e outros sidekicks. Após confrontos com o personagem original, que retorna em um uniforme preto se auto-intitulando Capitão, Walker se redime, troca de uniforme e passa a se chamar de Agente Americano. Futuramente se tornaria parte dos Vingadores da Costa Oeste com algumas participações no Vingadores originais. Também trabalhou com os Thunderbolts.

    Isaiah Bradley

    Uma boa surpresa da série foi o fato de abordar um personagem que não está exatamente no mainstream dos heróis Marvel. Embora seja complicado o modo de lidar com o lado político do sujeito, Isaiah é praticamente um espantalho de um revolucionário.

    Nos quadrinhos, ele já foi o Capitão América. Foi inserido como um retcon (continuidade retroativa) e sua primeira aparição foi em uma minissérie própria, Truth: Red, White & Black #1 de janeiro de 2003, jamais publicada no Brasil até o presente momento.

    Criado por Axel Alonso, Robert MoralesKyle Baker, o personagem foi um sobrevivente de uma tentativa de replicar o Soro do Super Soldado. Uma experiência feita com quase 300 americanos que morreram no processo. Interessante observar como sua narrativa se aproxima do caso real de homens negros sendo testados em experiências para curar a sífilis, sem saber que eram cobaias. A experiência trouxe muita sequelas aos envolvidos e, de certa forma, a experiência do soro faz essa aproximação. Nos quadrinhos, Isaiah sofre de Alzheimer, fruto da degeneração do soro.

    Em Truth, ele rouba o traje do Capitão, sendo preso por isso. Apesar de muitas problemáticas em relação ao lado político desse personagem na série, ao menos se abre uma boa questão, ao se indagar se Steve Rogers sofreria o que Isaiah sofreu caso não tivesse desaparecido por década. Na série, o ator Carl Lumby se entrega maravilhosamente ao personagem.

    Elijah Bradley

    Apresentado aqui como um adolescente comum, ao menos aparentemente, Elijah é neto de Isaiah Bradley. Nos quadrinhos, viraria também um herói: O Patriota. O personagem possivelmente retornará em uma adaptação ainda não anunciada dos Jovens Vingadores, grupo de apoio nos quadrinhos, que no MCU estão sendo gradativamente apresentados: em Wandavision conhecemos Célere e Wicano. Na vindoura série do Gavião Arqueiro, teremos a Gaviã Arqueira de Katherine Elizabeth Bishop.

    O Patriota dizia que sofreu experimentos com o soro do Capitão, mas usava na verdade uma droga chamada Hormônio do Crescimento Mutante, substância que dava poderes por um curto período de tempo. Esse vício repetia o drama de Allan Heinberg um dos criadores do personagem que também teve problemas com vício em drogas. Na cronologia, Elijah consegue poderes de maneira definitiva, depois de receber uma transfusão de sangue de seu avô. Fez parte da primeira formação dos Novos Vingadores.

    Mercador do Poder

    As duas versões do Mercador do Poder, a mais recente e Curtis Jackson.

    Criado por Jack Kirby,  a primeira versão do personagem é Curtis Jackson, um mercenário que fornece poderes a quem pagar uma quantia alta. É ele que dá poder a dois personagens heroicos: Lemar Hoskins e John Walker. Na série, ele é a fonte do poder dos Apátridas. Nos gibis, sumiu por um tempo, teve uma aparição em Machine Man de 1978, retornou apenas no titulo solo do Coisa em 1986. Junto ao doutor Carl Malos (personagem que já apareceu em outro  produto da Marvel, Jessica Jones, 2ª Temporada), fez experimentos com várias pessoas em posição vulnerável, entre eles, Joaquin Torres, abordado nesse texto também. Jackson foi forçado em histórias posteriores a experimentar o soro do super soldado. Então ficou gigante, tão musculoso e desforme que não conseguia andar. Malos então fez para ele um exo-esqueleto.

    Há outra versão do Mercador do Poder que surge após a morte do primeiro. Sua identidade é desconhecida, o que se sabe é que ele é bem diferente de Jackson. Sua primeira aparição foi em Avengers: The Initiative Annual #1, de 2008, ecom criação de Dan Slott e Christos N. Gage. Na série, o personagem é diferente, reúne elementos das duas versões e tem sua identidade revelada somente no último episódio.

    Batroc, O Saltador

    Esse é um personagem antigo, criado pela dupla Stan Lee e Kirby, datado de 1966. No MCU já havia aparecido em Capitão América 2: O Soldado Invernal, também interpretado pelo lutador profissional Georges St. Pierre. No filme, havia sido detido pela Hydra/SHIELD, e só reapareceu agora. Nos quadrinhos, é um mercenário francês, especialista em Savate, uma arte marcial semelhante ao Boxe, embora o vilão use bastante os pés. Não tem poderes, combate desarmado e, nos gibis, tem um certo código de honra não atacando jamais adversários em desvantagem numérica.  Já lutou ao lado do Capitão América. Fez parte dos Thunderbolts de Zemo e de Wilson Fisk, o Rei do Crime, mas é mais conhecido por ter seu próprio grupo de personagens caçadores de recompensa, Brigada de Batroc.

    Apátrida

    Apátrida era um vilão das revistas do Capitão América. Na série, é transformado em um grupo terrorista, os Apátridas. As principais diferenças dessas versões moram nas intenções. Karl Morgenthau é um vigilante antinacionalista, algumas vezes tratado erroneamente como anarquista. Em comum  com a versão em carne e osso, há o desejo de um mundo sem fronteiras, embora aqui soe um pouco confuso, pois o grupo de opositores dos heróis buscam trazer o mundo a condição antes da volta das pessoas do Blip.

    O grupo é liderado por uma moça idealista e que passa longe da condição de vilã clássica. Seu nome é Karli Morgenthau interpretada por Erin Kellyman. O maior problema no seriado é que os Apátridas são presos a teorias da conspiração, e tem sua motivação revolucionária também como motivo de chacota. O grupo também tem poderes oriundos do Soro do Super Soldado fornecido pelo Mercador do Poder.

    Joaquín Torres

    O seriado também apresenta Danny Ramirez como Joaquín Torres. O personagem é uma adição recente aos quadrinhos da Marvel. Nos quadrinhos ele tem uma historia bastante diferente do que é visto no seriado. Nas HQs ele é um experimento do doutor Karl Malus. Na época, o vilão misturava DNA de humanos com animais. Torres era um hibrido de humano com falcão, tinha elementos do DNA de Asa Vermelha, o mascote falcão de Sam Wilson (que nos filmes, é apenas um drone). Quando Wilson, já como Capitão América, salvou as vítimas de Malus. Joaquin foi uma das poucas experiências que não retornou ao estado humano. Ele tem uma conexão psíquica com o Asa Vermelha e por isso, tem ligação também com Sam.

    Quando o herói assumiu como Capitão, deu a Torres a incumbência de ser o Falcão, isso é até aludido dentro do seriado. Enquanto Falcão, Joaquin se torna parte do grupo Os Campeões, formado por jogadores jovens, que no MCU, deve se “fundir” com os Jovens Vingadores.

    Estrela Negra

    Lermar Hoskins, que no seriado foi interpretado por Clé Bennett, foi um parceiro do Capitão América de Walker. Criado por Mark Gruenwald e Paul Neary, era um ex-soldado das forças armadas americanas, e também teve acesso ao soro através do Mercador do Poder. Tinha poderes semelhantes ao do Capitão, era treinado em várias artes marciais e táticas. Já no seriado, não tem poderes, mas é habilidoso em termos de luta.

    Nos gibis, ele usava um escudo triangular de adamantium. Era o Bucky de John Walker, mas mudou o nome para Estrela Negra após a Marvel receber várias cartas que afirmavam que o termo era usado de modo racista contra negros. Lemar foi membro dos Vingadores Secretos e teve participação importante no evento Guerra Civil.

    Condessa Valentina Allegra de Fontaine

    Interpretada por Julia Louis-Dreyfus, Valentina Allegra de Fontaine foi uma das grandes surpresas do seriado. A Condessa nos quadrinhos tem fortes ligações com Nick Fury, com Walker e com o grupo de vilões em recuperação os Thunderbolts, tanto que a comparação mais comumente feita com ela é de que seria uma Amanda Waller da Marvel.

    Nos quadrinhos, ela foi apresentada na HQ Strange Tales #159 em 1967. De origem italiana, ela faz parte de equipes da SHIELD e rapidamente se torna uma das melhores agentes da organização. Curiosamente, a personagem já se envolveu romanticamente com Nick Fury nas HQs e chegou a flertar também com o Capitão América de Steve Rogers. Outra alcunha que ela já teve foi Madame Hydra que já fez uma aparição (com esse nome) no seriado Agentes da Shield.

    Intui-se que Valentina seja uma espécie de Nick Fury para os anti heróis, podendo formar tanto os Thunderbolts como os Vingadores Sombrios. É uma forte possibilidade que esteja também no filme da Viúva Negra, e na futura série a respeito dos Skrulls,  Invasão Secreta.

    Doutor Wilfred Nagel

    Essa é uma aparição breve no terceiro episódio, mas é bastante importante. Nagel é interpretado por Olli Haaskivi. Nos quadrinhos foi introduzido em Truth: Red, White, and Black #1, a mesma história que dá origem a Isaiah. Nagel foi o cientista inescrupuloso que liderou os experimentos nos soldados de Camp Cathcart no Mississipi, que usou 300 soldados negros como cobaias com a maioria falecidos.

    Na série ele é bem diferente, mais jovem, fez experiências com amostras de sangue de super soldados. No capítulo em que aparece fica subentendido que ele usou o sangue de Bradley para chegar a esta versão do soro. O sonho dele era superar o detentor da criação do soro original, Dr. Eskrine.

    Outras menções

    Há resgate do vilão Barão Zemo (que finalmente coloca a máscara roxa semelhante aos quadrinhos) e da agente especial Sharon Carter (que também mudou muito). Além dessas referências já estabelecidas nos outros filmes, há também algumas boas menções, como a ilha Madripoor onde o Wolverine passava boa parte de seus dias como Caolho. Também o Tigre Sorridente,  alter-ego de Conrad Mack, um híbrido de homem e animal (na série é, aparentemente, um homem de visual estilo cafetão dos filmes blaxploitation). Além disso, o apelido de Lobo Branco para Bucky faz referência a um rival do Pantera Negra nos quadrinhos (totalmente diferente aqui). O próprio Soro do Super Soldado é uma referência que merece menção devido a presença constante,  além de nutrir poderes aos Apátridas, Bucky, John Walker e Isaiah, também foi implantado como variante no filme O Incrível Hulk de Louis Laterrier, tanto em Bruce Banner que se tornou o Hulk e em Emil Blonsky, que virou o vilão Abominável.

  • Review | Falcão e Soldado Invernal

    Review | Falcão e Soldado Invernal

    Um dos problemas das séries da Marvel veiculadas na Netflix era a total desconexão com os “primos ricos” do cinema. Demolidor, Luke Cage, Punho de Ferro e Jessica Jones tiveram seus momentos, mas careciam de coesão junto as produções de Kevin Feige. Quando o produtor passou a também comandar o setor foram anunciadas algumas séries, sendo a primeira delas Falcão e Soldado Invernal.

    Como ocorreu com Wandavision, que por conta da pandemia acabou sendo lançada primeiro, foi escolhido um diretor para a temporada inteira, Kari Skogland, e o comando da série ficou por conta de Malcolm Spellman. Isso garantiu coesão em abordagem temática e ação, sendo este último um dos aspectos mais positivos dos seis episódios. Os momentos de perseguição se assemelham aos de um thriller, com a mesma ambientação que os irmãos Russo impuseram em Capitão América: Soldado Invernal e Capitão América: Guerra Civil, incluindo também um sem número de referências a personagens e momentos da historiografia do Capitão América nos quadrinhos, de Joe Simon e Jack Kirby a Ed Brubaker.

    A série troca a ideia de mostrar sidekicks agindo em torno de um legado para apresentar uma temática de excluídos tentando provar seu valor. O Sam Wilson de Anthony Mackie e o Bucky Barnes de Sebastian Stan são encarados como fracos ou não dignos de confiança. Em suma, são temas que já foram abordados em outras séries, inclusive de super-heróis como Raio Negro ou Justiceiro, mas atualizados para os dias atuais. O problema maior é que no caso da produção da Disney essas questões são mais mencionadas que desenvolvidas, com o roteiro só arranhando a superfície, quando não faz pouco caso de pautas e discursos revolucionários no arco de pelo menos dois dos personagens que orbitam os protagonistas.

    Mesmo com essas problemáticas, o saldo é positivo. O mundo em reconstrução posterior a intervenção de Thanos em Vingadores: Guerra Infinita mostra como os homens se viraram para manter a sociedade e como essas questões terrenas tem implicações graves para o globo. Falcão é um herói pragmático, mundano, sem poderes e que ainda que se mostre inseguro não refuga sua missão de combater as injustiças. Essa trama contrasta com a personalidade e tentativa de imposição do novo Capitão América. O inconsequente e violento John Walker de Wyatt Russell é a antítese desse comportamento, é super idealista, mas super impulsivo. Seu arquétipo que parece funcionar melhor nos quadrinhos para alguns personagens à margem do heroísmo clássico, mas não é o ideal para seguir o rumo do manto que o governo escolhe lhe dar. Para além até das óbvias e injustas comparações de sua persona com os heróis de Zack Snyder, já que sua construção possui muito mais nuances que as versões sombrias dos filmes da DC pós Homem de Aço.

    Há algumas conveniências esquisitas no final, muitas pontas soltas são mal amarradas e os heróis claramente fazem vista grossa para o destino de personagens que já foram seus aliados no passado. O sexto capítulo é bastante apressado, tem boa parte dos problemas que o nono episódio de Wandavision, inclusive nas questões de obviedades ligadas aos mistérios que a série estabelece. No entanto, mesmo suas conveniências seriam mais aceitáveis caso os temas espinhosos e adultos fossem tratados de maneira menos polida e conciliatória. A estética de escapismo dos heróis parecia estar sendo dobrada neste Falcão e Soldado Invernal, mas o final se percebe realmente que esse é mais um fruto das histórias medíocres (no sentido literal da palavra) do universo Marvel comandado por Feige, pois apesar de apresentar alguma coragem inicial, acaba abraçando o discurso fácil, especialmente na figura do Falcão, que durante os outros cinco episódios, parecia o mais pé no chão entre os vigilantes, mas se torna o bobo idealista que acha que usando chavões e frases feitas ajudará o mundo a ser mais justo. É piegas e nada pragmático esse desfecho, que mais uma vez aposta na fórmula de referenciar futuras produções para esconder sua própria mediocridade.

  • VortCast 95 | Diários de Quarentena XX

    VortCast 95 | Diários de Quarentena XX

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Bruno Gaspar, Bernardo Mazzei, Jackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar um pouco sobre as bizarrices de Junji Ito, a visão de Zack Snyder e o sucesso das séries Marvel.

    Duração: 97 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Crítica | Capitão América 2: O Soldado Invernal

    Crítica | Capitão América 2: O Soldado Invernal

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    Apreensão. Medo. Angústia. A situação não era confortável após as duas derrapadas da Marvel Studios em sua Fase 2. Thor: O Mundo Sombrio e principalmente Homem de Ferro 3 sinalizavam que o estúdio perdia a mão após todos os acertos da Fase 1, os quais conduziram ao evento chamado Os Vingadores. Para a alegria dos decenautas recalcados, que finalmente tinham certa razão em sua ladainha de que a Marvel só faz filmes medianos e/ou para crianças. Pois bem: beijinho no ombro para os invejosos de plantão, pois o segundo filme do Sentinela da Liberdade se mostrou não apenas uma volta aos trilhos, mas também uma das melhores produções do gênero.

    Não havia espaço em Os Vingadores para focar o desenvolvimento da luta de Steve Rogers para adaptar-se ao mundo atual. Desta vez, naturalmente, sua jornada pessoal assume o centro da trama. Ele está vivendo em Washington e estudando incansavelmente para situar-se na História e cultura mundiais das últimas décadas. Mas como herói não tem vida mansa, o Capitão está trabalhando para a SHIELD, em missões secretas ao lado da Viúva Negra e de uma equipe especial chamada S.T.R.I.K.E.R. Porém, para um cara que lutava por uma idealizada liberdade, não é fácil aceitar nossos cínicos tempos de vigilância massiva e ataques preventivos, o que o leva a alguns atritos com Nick Fury. E as coisas se complicam de vez quando uma gigantesca conspiração dentro da agência é revelada, e mais de um elemento do passado de Steve voltam à tona.

    O Capitão América é um super-herói com um leve diferencial. Idealizado como um soldado, não faria sentido vê-lo, hoje em dia, simplesmente patrulhando um cenário urbano, como Batman ou Homem-Aranha. E pegaria muito mal colocá-lo na linha de frente do Iraque ou Afeganistão — até porque, convenhamos, lá não há tanta ação que justifique a presença de um supersoldado. A abordagem mais coerente para o personagem é aquela trabalhada com maestria pelo roteirista Ed Brubaker numa fase recente dos quadrinhos: espionagem, black ops, terrorismo. A partir dela, o filme não adapta uma história específica, mas transpõe todo o clima, ambientação e estilo narrativo. O próprio Soldado Invernal — com visual emocionalmente idêntico ao das hqs —, ao contrário do que o título do filme faz pensar, não é o coração da trama, mas sim uma peça de uma engrenagem muito maior. O que funciona muito bem, aliás.

    O roteiro é muito equilibrado, alterna de forma bastante orgânica os momentos calmos e expositivos e aqueles mais movimentados e frenéticos. Mas o que chama realmente a atenção é o bom uso dos vários personagens, em suas diferentes escalas de importância, mesmo os que aparecem bem pouco, como Batroc, Agente 13 e Maria Hill. Para os fãs, é ótimo ver nomes conhecidos dos quadrinhos em vez de figuras genéricas. Ajuda na sensação de que o universo do herói, e não apenas ele próprio, está sendo transposto. Ainda nesse campo, o filme destroça aquele velho e simplório argumento de que vários inimigos numa mesma história nunca dá certo. O problema é querer criar um arco individual para todos — abraço para Homem-Aranha 3. Sabendo dosar a importância e o espaço de cada um, Capitão América 2 emprega nada menos do que cinco vilões.

    Sempre massacrado, Chris Evans mostrou de novo que quase toda a implicância pra cima dele é injusta. Sua performance pode não emocionar ou ser tão marcante quanto a do colega Robert “Tony Stark” Downey Jr, mas o cara está inegavelmente mais maduro e confortável no papel. É possível, sim, enxergar Steve Rogers nele. Quem é limitado de fato é Sebastian Stan — isso é spoiler? sinto muito —, o que não atrapalha a construção do Soldado Invernal como figura ameaçadora. Mesmo quando a máscara cai, o ar de drogado cansado, que Stan já tem por natureza, ironicamente se encaixa no personagem. Como dito antes, ele acaba tendo uma participação pequena, mas sua introdução para uso futuro foi bem realizada. E o nome Soldado Invernal é legal sim, muito mais estiloso que “do inverno”, parem de reclamar.

    Os aliados do herói também receberam merecida atenção; todos têm seu lugar ao sol. Nick Fury é uma espécie de gatilho para movimentar a trama, e em relação a ele — e à própria SHIELD — o filme empresta argumentos de outra hq recente, Guerreiros Secretos, escrita por Jonathan Hickman. E falar qualquer coisa de Samuel L. Jackson seria chover no molhado: ele É o personagem e pronto. Scarlett Johansson não consegue ser menos que maravilhosa, e surpresa nenhuma, mantém muito bem o posto de co-protagonista. Interessante ver um lado mais humano e espirituoso da Viúva Negra, além de aparecerem mais migalhas sobre seu passado. Ela menciona ter desertado da KGB, o que por consequência confirma que é também mais velha do que aparenta. Mas o filme não se importa em explicar isso — filme solo da Viúva, quando quiserem, viu.

    O Falcão vivido por Anthony Mackie é um ótimo coadjuvante e responsável por boa parte do humor do filme sem ser um alívio cômico — aliás, a comédia está presente mas bem dosada, voltando ao velho estilo da Marvel e corrigindo a principal falha da Fase 2, ALELUIA SENHOR. Nos quadrinhos, Sam Wilson é um dos melhores amigos do Capitão, e isso ficou bem retratado. A rápida e total fidelidade dele para com Steve, quase um bromance, pode parecer meio exagerada. Mas isso é perdoável, pois Sam é um militar, e se o Capitão é um ídolo geral da nação, imagine para essa classe. Alexander Pierce, vivido com elegância por Robert Redford, tem um papel importantíssimo, mas nesse caso é melhor evitar spoilers. Só vale dizer que faltou coragem: seria épico e coerente se certo boato tivesse se confirmado e outro conceito de Brubaker fosse aproveitado.

    Em relação a aspectos visuais, o longa merece todos os elogios e mais alguns. Não quanto aos efeitos, isso já é o básico do básico que se espera de grandes produções. Também não necessariamente às cenas de ação, que são maravilhosas. Chega a emocionar as perseguições no trânsito nas quais é possível VER com clareza os carros batendo e se destruindo, fugindo da maldita estética Bourne de câmera fechada e tremida. Não: o ponto mais satisfatório de Capitão América 2 são as lutas. Os realizadores normalmente esquecem que em filmes de super-heróis a “ação” não pode ser resumida apenas em correria, tiroteio, explosões. Tem que ter o combate. O mano-a-mano. PORRADA. Nele esse elemento foi trabalhado com perfeição, coreografias dignas de filmes orientais de artes marciais. O Capitão está mais ágil e fodão do que nunca. A luta contra Batroc é qualquer coisa de sensacional, e sempre que o Soldado Invernal aparece, dá vontade de mandar o projetor repetir a cena.

    Esse nível elevado acaba conduzindo a um dos pontos fracos do filme, que é a sequência final. Após tanta criatividade, decepciona um pouco a resolução genérica de “apertar um botão”, com explosões e destruições que já viraram carne de vaca no cinema blockbuster. Fica também um sentimento de que a Viúva e o vilão principal poderiam ter um papel mais grandioso no final. Finalizando o trabalho ingrato de apontar os defeitos, fica muito vago o que será a SHIELD daqui pra frente. Esse ponto acabou sendo explicado na série Agents of Shield, num episódio altamente conectado com Capitão América 2. Em termos de universo expandido, a conexão entre as mídias e valorização do seriado dão nota 10. Mas não deixa de ser uma falha do filme.

    Fugindo desse mundo mesquinho onde tudo funciona na base da comparação, cabe dizer apenas que Capitão América 2: O Soldado Invernal não deve nada aos melhores exemplares do gênero. Muitíssimo bem executado, é o filme que a Marvel e os fãs precisavam nesse momento. Os diretores Joe e Anthony Russo já estão confirmados na terceira parte aguardada para 2016, o que só comprova a confiança e satisfação com esse projeto. Antes, porém, como a ótima cena pós-créditos nos faz lembrar, o Capitão marca presença num tal de Vingadores: A Era de Ultron.

    Texto de autoria de Jackson Good.