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  • Crítica | Homem de Ferro 2

    Crítica | Homem de Ferro 2

    O segundo filme de Jon Favreau com o personagem do Homem de Ferro começa com a declaração do protagonista, Tony Stark de Robert Downey Jr. assumindo ser o alter ego do herói robótico, assistido por um senhor idoso que está a beira da morte em país europeu, acompanhado por seu filho, o inventivo Ivan Vanko (Mickey Rourke), conhecido nas revistas como Chicote Negro, que aparentemente quer dar a Stark uma lição.

    É nesse mistério que Homem de Ferro 2 começa, sabiamente apelando para um pouco de drama, para só depois mostrar as presepadas engraçadas de Tony, agindo como Homem de Ferro, pousando de terno embaixo da armadura, em um evento onde é esperado como um popstar. O diretor equilibra bem uma situação mais engraçada com outras mais sérias e esse equilíbrio é talvez seu maior mérito como realizador nessa duologia, isso inclusive faria muita falta não só nos filmes do personagem, mas em outras obras da Marvel Studios pós compra da Disney.

    Existe uma escalada de importância em um dos temas que é apenas arranhado no primeiro filme, que é a questão armamentista, e embora seja mais pretensiosa e arrogante aqui – até um pouco reducionista – explorar esse argumento aqui faz algum sentido, embora todo o envolvimento dos personagens de Sam Rockwell, Justin Hammer, nem o de Don Cheadle, Jim Rhodes. Os personagens inclusive são mostrados de maneira um pouco gratuita, e um deles prossegue apresentado sem qualquer importância maior.

    O filme se perde um pouco nos show offs de ação que faz, tanto no momento em que mostra uma briga entre Happy (personagem de Favreau que ganha mais minutos de tela) com a bela Natasha Rushman, de Scarlett Johansson, que a essa altura não é mais surpresa para ninguém sua identidade com Viúva Negra (isso inclusive torna mais palatável a gratuidade de sua aparição e disfarce), mas no caso da exibição de Tony como piloto de corrida, interrompida pelo vilão Chicote Negro há só preciosismo mesmo, uma desculpa para mostrar outra variação de armadura. A sequência ao menos termina bem graças ao caráter massa veio que ela toma, mas as piadas envolvendo Pepper Potts de Gwynett Paltrow soam vazias e infantis demais para um filme desse porte.

    Outro ponto fraco é o quão caricato é Vanko, falando em russo, com seus cabelos com mechas brancas artificiais e com um palito na boca, parece  saído de um filme de brucutu de Stallone ou Van Damme, com características e clichês típicos dos anos oitenta e noventa, assim como Rockwell também faz uma caricatura de milionário mal intencionado, que se apóia e alguém fisicamente forte.

    Isso, somado as cenas que Stark faz uma festa e dança bêbado, munido de sua armadura não combina em nada com o resto do tom do filme, e mesmo ao tratar da questão do alcoolismo do personagem, que existe nos quadrinhos, é aqui tratada como uma simples piada infanto juvenil, mesmo que hajam algumas tiradas engraçadas. O tom debochado faz imbecilizar todo o restante da trama, e piora demais quando Rhodes utiliza o traje protótipo de Máquina de Guerra. Em alguns momentos a luta é tão artificial que parece um gameplay de Virtua Fighter onde ambos players escolhem Dural, a chefe do primeiro jogo da franquia, com a obvia diferença de que estes não são personagens pixelados.

    Nota-se um desgaste  da formula do primeiro filme, apesar de novas participações do Agente Coulson (Clark Gregg), de Nick Fury (Samuel L. Jackson) e da Viúva, as piadas e tiradas de Tony soam repetitivas, não só em comparação com o filme um, mas também com o personagem em si. Ele se leva pouco a sério, mas o filme continua se levando muito a sério, e isso causa um problema de identidade grande.

    Sam Rockwell consegue ser ainda menos sutil do que foi Bridges no primeiro filme, alias o arco de Rhodes não faz sentido, além da mudança do ator aparentemente foi trocada também sua mentalidade e código ético. Jim jamais se voltaria contra Stark, mesmo com os erros do milionário. Mesmo em sequências de acerto, o filme teima com algumas gags desnecessárias. Após uma cena eletrizante de ação com a Viúva, há uma discussão de relação totalmente desnecessária entre Tony e Pepper, em mais um escapa cômico bobo, que ao menos, termina com outra boa cooperação entre Rhodes e Stark, contra os capangas robóticos de Hammer.

    O final é um pouco piegas, além de também ter uma cena pós crédito gratuita, como foi em O Incrível Hulk, que faz referência ao próximo filme do estúdio, Thor, mas ainda assim há boas sequências de luta, e o carisma de Tony e Natasha ainda dão  alguns motivos para celebrar a obra, é uma pena que os produtores tiveram pressa em lançar logo um segundo filme, pois se tivesse um roteiro um pouco menos apressado, Homem de Ferro 2 teria ainda mais méritos do que tem. Ao menos serviu para solidificar a ideia do personagem como o ponto de partida desse novo universo compartilhado, melhorando bastante o nível do que ocorreu no filme do Hulk.

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  • Crítica | Homem de Ferro

    Crítica | Homem de Ferro

    O marco um da iniciativa da Marvel em realizar seu próprios filmes contou com um diretor de filmes independentes conhecido por atuar em comédias de gosto duvidoso. Vendo a obra de Jon Favreau nos dias atuais é difícil enxergar como estava sua carreira em 2008, e o começo de seu Homem de Ferro é  igualmente diferenciado, nele Robert Downey Jr. tentava se reinventar como ator, no papel do milionário Tony Stark.

    O chamado à aventura ocorre após um grupo terrorista interceptar o carro onde Stark era escoltado, para surpresa de poucos, pois o roteiro deixou claro em todo o seu percurso se tratar de uma viagem perigosa, mas o personagem subestimou por completo a situação, como é de praxe em seu comportamento. Já nesse momento se percebe o quão inconsequente e bon vivant é o personagem de Downey Jr., inclusive, deixando seu amigo Jim Rhodes (Terrence Howard) em uma enrascada.

    Apesar da faceta engraçada e despreocupada, Tony é mostrado como um sujeito que não permite que as pessoas se aproximem demais, em um misto do que seria a personalidade do personagem criado nos anos 1960, embora tenha um pouco da personalidade de Bruce Wayne/Batman e da ironia de Dr. Stephen Strange, tanto que no filme Doutor Estranho, isso teve que ser de certa forma suprimido. A participação de Downey Jr. foi tão boa e icônica que influenciou até nas versões do herói nos quadrinhos.

    Na parte oriental da trama, há alguns problemas, como estigmatização dos árabes como vilões do mundo, apesar de aqui isso ser bem tímido em comparação com outros tantos filmes de ação mais recentes ou do mesmo período, é como se esse fosse um dos últimos grandes filmes há ainda apelar para esse espectro, com o roteiro ainda tendo vergonha de ser assim, tanto que neste momento, ele tem um belo assistente, Yinsen, interpretado muito bem por Shaun Tob. Nos quadrinhos, ele é um dos mentores do futuro Homem de Ferro, mas é chinês (seu nome é Ho Yinsen), no entanto, até essa mudança é plenamente cabível dentro do filme.

    Apesar de não ser perfeito, ele funciona como filme de origem bem diferente de outros como Superman, Batman e Homem-Aranha se tornando referência para contar histórias de outros filmes do Marvel Studios, apoiado ainda no equilíbrio entre drama, ação e humor, além do elenco afiado com seus personagens, não só Downey Jr. e Howard, mas também Gwynett Paltrow e Paul Bettany como Peppert Potts e o mordomo eletrônico Jarvis.

    O que pesa contra o filme são os vilões. O Obadiah Stane de Jeff Bridges além de desperdiçar seu intérprete já parecia se tratar de um sujeito malvado desde sua primeira cena. O personagem de Faran Tahir também é maniqueísta, sendo somente um capanga ganancioso e inconsequente.

    No entanto, as razões que fazem os vilões perseguirem Stark fazem muito sentido, principalmente por toda a trama envolvendo o mercado de armas. A ideia de não antecipar a trama envolvendo o Máquina de Guerra nesse filme foi inteligente, pois dá espaço para o herói ser desenvolvido sozinho, ainda que ele não tenha um antagonista à altura. A presença de Clark Gregg como Agente Coulson só ganha importância nos quarenta minutos finais, e o mistério que o envolve faz muito sentido, ainda mais quando é  revelado.

    Os aspectos visuais são bem trabalhados por Favreau, e sua duração é o suficiente para entreter e introduzir o vingador dourado como pontapé inicial desse universo. Ainda assim, o momento mais espirituoso ficou para o final, com Tony Stark assumindo publicamente a alcunha de Homem de Ferro, seguido logo depois pelo clássico Iron Man do Black Sabath, acompanhado de uma disposição de créditos bem estilizada, e claro, pela participação especial de Samuel L. Jackson, na cena pós-crédito, embrião do Universo Compartilhado da Marvel.

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  • Crítica | Vingadores: Guerra Infinita

    Crítica | Vingadores: Guerra Infinita

    Como eu havia escrito no meu texto sobre as expectativas em torno de Vingadores: Guerra Infinita, a hora havia chegado. O filme que marca os 10 anos do conhecido Universo Cinematográfico Marvel – UCM chegou aos cinemas com muitas dúvidas, desde as mais óbvias no que diz respeito ao encaixe de dezenas de heróis e seus coadjuvantes em tela, passando pelas apostas sobre qual herói seria o candidato a morrer e a partir os corações dos fãs, até a pergunta mais óbvia e com extrema relevância para a trama: onde está a Joia da Alma?

    Vingadores: Guerra Infinita entrega aos fãs e ao espectador aquilo que satisfaz desde os mais aficionados até aqueles que não estão tão familiarizados assim com o UCM e melhor, além de encher os olhos daquele que assiste, causando as mais diversas sensações, amarra todo o universo iniciado em 2008 com Homem de Ferro, tendo Pantera Negra como último “representante”, solucionando todas as dúvidas e amarrando todas as pontas soltas no decorrer do caminho, além de jogar no ar muitas outras perguntas que, talvez comecem a ser respondidas nas produções Homem-Formiga e a Vespa, Capitã Marvel e, obviamente, na quarta aventura da equipe que estreará somente em 2019, embora já esteja em estágio final de filmagem.

    Tentando evitar spoilers ao máximo neste texto, Guerra Infinita, como todos já sabem, marca a busca do vilão Thanos (Josh Brolin) pelas Jóias do Infinito e tem como ponto de partida os minutos seguintes da cena pós-créditos de Thor: Ragnarok, quando a nave da nova Asgard é abordada por outra gigantesca nave. Logo em seus primeiros minutos o filme já mostra quem de fato é Thanos e ele é assustador. Assim, deu-se início ao maior filme da curta, porém, de sucesso história da Marvel.

    Logo no início desse texto foi falado que um dos maiores desafios da produção seria encaixar tantos heróis, protagonistas e coadjuvantes em tela, e após o término do filme, tem-se se a sensação que cada um dos milhares de nomes que aparecem nos créditos finais, desde a direção de Joe e Anthony Russo, passando pela história escrita por Christopher Markus e Stephen McFeely, até prestadores de serviço como o “cozinheiro de Robert Downey Jr”, ou o “cabeleireiro de Don Cheadle”, merecem ser aplaudidos de pé. O cuidado com a história é tão minucioso que coisas “bobas”, mas que poderiam ter ficado de fora estão lá. Um pequeno exemplo disso é que devemos lembrar que Bruce Banner (Mark Ruffalo), por exemplo, abandonou o planeta ao final de Vingadores: Era de Ultron e ficou anos fora do ar, enquanto, na Terra, acontecia os eventos de Guerra Civil, Homem-Formiga, Doutor Estranho, Homem-Aranha: De Volta ao Lar e Pantera Negra. Banner acaba sendo atualizado de algumas coisas de uma maneira muito divertida.

    Aliás, Banner, a julgar pelo que aconteceu nos últimos anos, está mais leve, sem aquela agonia constante que o personagem entregava nos demais filme e isso contribui para alguns momentos de humor serem protagonizados por Mark Ruffalo. Humor esse que está presente em todo o transcorrer da fita, cada um a sua maneira. As partes dos Guardiões da Galáxia são tão autênticas que parecem que foram escritas por James Gunn e isso foi bem acertado no filme, já que aqui, um não invade o território do outro no que diz respeito ao estilo de cada personagem e assim, meio que temos um núcleo de personagens habilidosos com o humor e outro núcleo bem mais sereno. Tudo isso aliado à diversas cenas de luta e ação desenfreada, todas muito bem feitas e bem resolvidas.

    Em Guerra Infinita todo herói tem seu momento de protagonismo. O roteiro e a direção, de maneira habilidosa, cedem espaço para todos, sem exceção, algo que foi muito bem construído por Joss Whedon no primeiro filme, mas totalmente esquecido pelo diretor em Era de Ultron e pelos Irmãos Russo em Guerra Civil, quando há momentos em que Visão (Paul Bettany) e Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), dois dos mais poderosos no campo de batalha, simplesmente desaparecem, buscando de maneira preguiçosa, deixar a batalha mais equilibrada. Aqui, ninguém é esquecido e pra adicionar ainda mais um desafio para produção, ainda temos gratas surpresas, como o retorno de alguns bons personagens, além da inclusão de outros novos. Contudo, com relação ao seu herói preferido, fica o alerta de que você poderá ficar um pouco decepcionado se considerarmos o tamanho de sua expectativa. Guerra Infinita não tem tempo para desenvolver os personagens e as relações entre eles e os motivos são tanto relacionados ao desenvolvimento da produção, como ao desenvolvimento da história, porque Thanos, simplesmente, não deixa. E isso nos leva a dois destaques: o já mencionado titã louco e o deus do trovão, Thor (Chris Hemsworth).

    O Thanos de Brolin é incrível. Ele não é um vilão clássico, megalomaníaco, que busca somente destruir tudo e todos em busca única e exclusiva de poder, desbancando Loki (Tom Hiddleston) do trono de melhor vilão do UCM. Thanos tem um propósito até justificável e percebe-se que ele sofre por carregar esse fardo, tanto que a cada conquista, em vez de comemoração, vemos certo desânimo em seu semblante e chega num determinado momento em que você fala consigo mesmo “vai, Thanos!” tamanha a serenidade do personagem. A clássica vilania fica por conta de seus filhos Fauce de Ébano (poderosíssimo), Proxima Meia-Noite, Corvus Glaive e o brutamontes Estrela Negra.

    Já Thor sofreu mudanças significativas em Ragnarok e o personagem, dentro dos principais, foi o que mais evoluiu se levarmos em conta seus dois primeiros filmes que foram ruins e suas duas participações nos dois primeiros filmes dos Vingadores. E também, o contato junto dos Guardiões, fez com que o semideus se sentisse em casa, se encaixando na equipe como uma luva. Thor sempre foi um herói dotado de extrema arrogância e em Guerra Infinita podemos perceber que ele é um grande guerreiro.

    Muito se especulou sobre a empreitada ser um enorme filme que foi dividido em duas partes, assim como as produções finais de Harry Potter, Crepúsculo e Jogos Vorazes e embora, ambas histórias tenham tido filmagens simultâneas, optou-se por ser duas produções distintas e com títulos próprios e o que se vê em Guerra Infinita é a síntese disso. Um filme próprio, com começo, meio e fim bem distribuídos. Além disso, ao término da produção, fica claro que o filme é sobre Thanos, algo que foi incrivelmente acertado, deixando a entender que o próximo será sobre a equipe.

    O sentimento que Guerra Infinita deixa é de alegria e dever cumprido, o que aumenta ainda mais a expectativa para o próximo filme que chega aos cinemas daqui aproximadamente um ano. Enquanto isso, ficamos no aguardo da San Diego Comic Con em julho, que pode trazer as primeiras imagens e informações da misteriosa conclusão da história.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Mortdecai: A Arte da Trapaça

    Crítica | Mortdecai: A Arte da Trapaça

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    Retomando a parceria com o diretor e roteirista David Koepp, com quem realizou o bom suspense Janela Secreta, adaptado de um conto de Stephen King, Johnny Depp retorna às telas com mais um papel evidenciando sua predileção por personagens bem caracterizados pela estranheza e afetação.

    Mortdecai – A Arte da Trapaça se baseia em uma personagem criada por Kyril Bonfiglioli, um romancista britânico que compôs uma trilogia cômica sobre um anti-herói aristocrata negociador de artes, principalmente no circuito alternativo. Com um proeminente bigode francês, a personagem, ao lado de seu fiel ajudante Jock (Paul Bettany), é considerado um pícaro. Um tipo que representa uma espécie de malandro, um homem que transita na sociedade sobrevivendo como possível dentro ou fora da lei. Normalmente nessas obras, o riso é provocado pelas situações, uma maneira de satirizar o conjunto da sociedade.

    Na trama, o Lord Mortdecai passa por uma crise financeira e aceita a proposta do inspetor Martland (Ewan McGregor) para investigar a morte de uma restauradora de quadros em troca da dívida perdoada. Ao mesmo tempo, tenta manter o investigador longe de sua esposa Johanna (Gwyneth Paltrow), pela qual é apaixonado. O humor focado em uma personagem estranha não é cativante. Afetado em demasia, como se vivesse em um mundo à parte, Mortdecai e o roteiro parecem ambientar-se em dois momentos diferentes. Mesmo que o anacronismo seja proposital para criticar uma visão atrasada da aristocracia britânica, o riso crítico se perde em meio a muitas piadas cênicas e corporais.

    Depp dá prosseguimento a sua má fase na carreira em mais um papel afetado que revela uma repetição dos trejeitos de outros personagens recentes e bizarros, como o capitão Sparrow de Piratas do Caribe e o vampiro de Sombras da Noite. Ainda popular devido a outras caracterizações marcantes, há certo tempo o ator não entrega uma grande interpretação, tanto de sua vertente estranha quanto de um papel mais tradicional, como o cientista do péssimo Transcendence – A Revolução.

    Esteticamente, o filme utiliza recursos de computação gráfica e ângulos diferentes em cenas de transição para promover uma agilidade à farsa. Mas esses procedimentos aumentam o tom bobo e superficial da trama e não são capazes de trazer o timing cômico à história. As piadas estão presentes, mas não trazem a carga de efeito necessária. E o roteiro frágil ajuda a ampliar a sensação de vazio, como uma obra trabalhando um potencial bom personagem, composto sem o cuidado adequado, como se o humor não fosse tão requintado quanto o drama.

  • Crítica | Se7en: Os Sete Crimes Capitais

    Crítica | Se7en: Os Sete Crimes Capitais

    Por vezes, o cinema é acometido por coincidências relativas a lançamentos de filmes sobre temas parecidos na mesma época. Nos anos 90, vimos uma sequência de filmes de investigação criminal sobre serial killers que foram sucesso de público, desde produções excelentes como O Silêncio dos Inocentes, até genéricos como Beijos que Matam e O Colecionador de Ossos. Em 1995, o então novato diretor David Fincher também se arrisca nessa empreitada com o filme Se7en – Os Sete Crimes Capitais, tendo Andrew Kevin Walker como roteirista.

    O filme se inicia apresentando primeiramente a cidade, que não é nomeada, mas que é representada como um local extremamente urbanizado e decadente, onde a chuva não dava trégua e caía intensamente, contribuindo para dar um peso dramático extra ao ambiente. Com uma atmosfera noir, a cidade possui construções degradadas, becos velhos e sujos, lixo no chão e um submundo onde a lei não costuma entrar, lembrando muito as diversas composições de Gotham no cinema, em especial as de Tim Burton.

    Os personagens principais são os detetives da polícia local, William Somerset (Morgan Freeman) e David Mills (em limitada, porém honesta e emotiva interpretação de Brad Pitt), sendo que este último acaba de se mudar para a cidade por causa da vaga de detetive, mostrando uma ambição fora do comum. Ávido por participar, sua personalidade contrasta com a paciência e calma de Somerset, que, por conhecer a fundo a escuridão da cidade e seus habitantes, não consegue mais se empolgar com nada.

    Ao serem chamados para atender uma morte incomum (um obeso que morreu de tanto comer), ambos logo chegam à conclusão de homicídio ao analisar a cena, onde o homem morto estava preso, o que é confirmado pela autópsia. Após outro corpo, de um importante advogado da cidade, ser encontrado com a inscrição “AVAREZA”, levando-os a encontrar a palavra “GULA” no corpo do caso anterior, fica claro a Somerset que mais assassinatos parecidos virão, e que, por isso, quer abandonar o caso, já que está próximo de se aposentar, enquanto Mills quer assumir o caso de todo jeito.

    Fincher escolhe contrastar a escuridão e violência do mundo, mostrados através de seus assassinatos, com a vida particular de Mills, na qual sua esposa Tracy (Gwyneth Paltrow) luta para se adaptar a uma cidade hostil e a um apartamento perto da linha de trem que treme cada vez que surge uma locomotiva. Tracy é responsável, inclusive, por unir Somerset a Mills, convidando este para jantar em sua casa. A partir dali, a relação entre os dois passa a ser mais harmoniosa. A câmera de Fincher, aqui, já consegue mostrar algumas das características que irão marcar seu estilo, como a composição das cores em tons pastéis e a escuridão sempre rodeando cada cena, como se estivesse o tempo toda pronta para engolir os protagonistas. Além da preferência por temas obscuros que envolvem a humanidade, que irá ser debatida em toda a sua filmografia subsequente.

    Quando os detetives resolvem suas questões pessoais, a investigação assume o foco ao tomarem destaque as passagens citadas pelo assassino em seus crimes, fazendo com que os policiais busquem os livros da biblioteca pública e quem os emprestou. Assim, chegam, de forma um pouco fácil demais, ao apartamento do assassino, que foge espetacularmente, mas não sem antes de ferir seriamente Mills, que, possesso, passa a cometer erros de julgamento que irão ter seu impacto mais tarde no desenrolar da história.

    Se7en consegue compor uma investigação criminal clássica, mas não se resume unicamente a isso, pois a obra também traz à tona a discussão de que não basta somente encontrar e prender o assassino, mas sim tentar entender o que está por trás de tamanha perversidade e como evitar que mais iguais a ele surjam. Nesse ponto, o filme dialoga com um espírito cansado e desgostoso em relação à modernidade  algo que os irmãos Coen expõem em Onde os Fracos Não Têm Vez –, um sentimento ao qual qualquer pessoa atualmente consegue se relacionar.

    Dentro desta lógica, o que menos importa é justamente o resultado da investigação, tanto que o assassino (interpretado por Kevin Spacey) se entrega após ter realizado suas ações, e a explicação por trás das razões de seus crimes soa terrivelmente familiar para nós, já que a indiferença e o egoísmo das pessoas do cotidiano isolam todos em seus mundos, e somente algo chocante pode tirá-los da realidade. A atração magnética de sua personalidade lembra o icônico Hannibal Lecter, e a nossa mórbida curiosidade em saber o que move tais mentes em direção a atos tão horrendos nos faz desejar que as explanações do assassino não parem.

    As constantes citações ao “Inferno” de Dante e a outros clássicos da literatura que flertam com a escuridão da alma humana deixam clara a mensagem que Se7en e seu assassino querem passar, a da eterna danação da espécie humana ao lidar com nossos demônios. A cena final, impactante, ecoa até hoje nas mentes dos fãs de cinema como uma das mais marcantes de todos os tempos, afirmação que possui tanto verdade quanto exagero.

    Portanto, Se7en é melhor apreciado se relativamente afastado do clássico gênero policial e encarado como uma jornada por dentro da própria humanidade, e apesar de não se aprofundar muito nos temas que se propõe, por si só já garante um destaque frente às produções semelhantes do período.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Homem de Ferro 3

    Crítica | Homem de Ferro 3

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    Atenção, texto contendo spoilers.

    Para muitos, a questão primordial era pra onde ir após Os Vingadores. A grandiosidade alcançada pelo grupo não poderia ser repetida nos filmes solo dos heróis, mas isso não é um problema. Boas histórias sempre podem ser contadas, em diferentes escalas. Além do mais, o anúncio da chamada Fase 2 da Marvel no cinema indicava mais uma vez um planejamento bem controlado sobre as futuras produções, conduzindo a Vingadores 2 em 2015. Porém, tudo isso parece ter sido deixado completamente de lado. Entre uma ânsia incontrolável em dar um “fechamento” à trilogia (não deveria ser um reinício?), e questionáveis direcionamentos de roteiro, Homem de Ferro 3 na verdade deveria se chamar “As Aventuras de Tony Stark”. E não, isso não é uma coisa boa.

    A intenção básica de Shane Black, que assumiu a direção no lugar de Jon Favreau e também co-assina o roteiro, foi de humanizar Tony Stark. O que começa muito bem, mostrando o bilionário sofrendo uma espécie de estresse pós-traumático devido aos eventos de Nova York. Entre pesadelos, privação de sono e ataques de pânico, ele se dedica a aperfeiçoar suas armaduras, para estar preparado pra qualquer coisa que o mundo jogar contra ele ou seu amor agora assumido, Pepper Potts. E o próximo perigo já desponta no horizonte: o terrorista Mandarim, com seus ataques sem deixar pistas e seus vídeos ameaçando os EUA. Também entram na jogada dois cientistas presentes no passado de Tony, Aldrich Killian e Maya Hansen, trazendo o projeto Extremis, uma espécie de terapia genética capaz de dar superpoderes a humanos normais.

    A partir do ataque à mansão de Stark é que as coisas começam a desandar. O ritmo fica confuso, cria-se uma barriga na história (nada no universo explica ou justifica a presença a daquele garotinho), surgem furos gritantes no roteiro, como os planos e ações do vilão que se contradizem e parecem mudar de uma hora pra outra. Porém, o erro fatal do filme acaba sendo mesmo a velha mania de TIRAR A ARMADURA. Entende-se a necessidade de usar Robert Downey Jr ao máximo, até pra fazer valer o milionário cachê que ele está levando. Mas é forçado demais ver Stark transformado num James Bond, invadindo locais e combatendo bandidos com apenas alguns apetrechos, demonstrando incríveis habilidades físicas. As cenas de ação envolvendo as armaduras são ótimas, o resgate dos passageiros do avião e a batalha final quase valem o ingresso. Mas é pouco, ainda mais quando se esperava que esse terceiro capítulo redimisse o maior defeito dos dois anteriores. Se ficava um gostinho de quero mais em relação às lutas, principalmente no segundo, pelo menos as histórias eram bem amarradas. Neste, nem isso.

    Outro fator prejudicado foi o humor. Como o trailer sugeria, a trama tentou ser mais séria, densa. Contudo, não quiseram deixar as piadinhas de lado, e o resultado é que elas ficaram parecendo mais bobinhas do que o habitual, e com um timing terrível. A cada momento pretensamente dramático, entrava alguma gracinha pra quebrar o clima. O destaque foi perto do clímax do filme, onde isso ficou inacreditavelmente ruim. Até por conta disso, a tal humanização não convenceu, pois não houve drama ou perigo real. Tudo se resolve facilmente para Tony Stark, com ou sem armadura. Aliás, ele ter que se virar sem seus trajes por tanto tempo também acaba se revelando uma forçada de barra incoerente, em grande parte por Jarvis ser retratado cada vez mais como uma entidade onipresente e onisciente, e não como uma inteligência artificial.

    Citando algo positivo, os aspectos técnicos são impecáveis como sempre. Ficou bacana o visual dos soldados Extremis, apesar de meio genérico, pareceu ameaçador. O trabalho de Shane Black enquanto diretor não compromete. Se a menos a Marvel o tivesse controlado melhor enquanto roteirista… os atores também fazem um bom trabalho. Nada de novo a ser dito sobre O CARA, nem sobre Gwyneth Paltrow. Já Don Cheadle, coitado, esse sofreu. A marqueteira “atualização” do Máquina de Combate para Patriota de Ferro até rendeu uma zoada legal. Mas Rhodes também foi vítima do ódio dos realizadores contra armaduras, e só fez pose até perder a sua também. A ele restou uma curta participação como o sidekick que combate o mal usando camisa polo. Rebecca Hall não teve muito a fazer com sua personagem sem muita utilidade na trama, enquanto Guy Pearce mandou bem fazendo o seu canastrão habitual.

    Já o Mandarim merece uma análise a parte. Ele parece estar concentrando quase toda a polêmica sobre o filme, cegando as pessoas para os problemas muito mais graves. Este vilão não é, MESMO, o temível nemesis do Homem de Ferro que é nos quadrinhos. Mas embora o fã tenha razão em bradar “nãããooo, o Mandarim é muito mais foda do que isso”, foi uma adaptação interessante. Coerente na proposta do filme de criticar (ainda que de forma rasa) a indústria armamentista e a manipulação da mídia, além de um sensacional tapa na cara de quem diz que os trailers entregam tudo e não existem mais surpresas guardadas para o cinema. E Ben Kingsley merece aplausos.

    Por outro lado, houve incoerência no modo como o filme tratou a postura do protagonista diante do Extremis. Na ótima saga de Warren Ellis e Adi Granov, Tony usa o vírus aprimorado em si mesmo, para adquirir maior controle sobre armadura e poder vencer o inimigo. Faria todo o sentido do mundo ver algo parecido no cinema, ainda mais no cenário criado do herói passando a temer ameaças desconhecidas. E nem precisou de algo cósmico, mágico, nada disso, ele viu surgir em seu próprio mundinho científico um adversário que não poderia superar só com suas armaduras tradicionais. Mas eis que então, indo na contramão de absolutamente tudo que o próprio filme havia plantado, Stark segue outro caminho.

    Que$tõe$ contratuais e a vontade de Downey Jr em si (ainda indefinida, é bom que se diga) são possíveis explicações, claro. Mas nada de bom resultou disso: Homem de Ferro 3 contradiz a si mesmo, se coloca fora da Fase 2 e nada faz para introduzi-la, e ainda prejudica monstruosamente Vingadores 2. Fica a expectativa que esse tropeço, o primeiro, não tire a Marvel Studios dos trilhos, e que os próximos filmes voltem a acertar a mão. E que essa não seja a última vez que vemos o Homem de Ferro/Tony Stark/Robert Downey Jr nos cinemas, pois seria uma despedida melancólica, ao som de uma marcha fúnebre ao invés do bom e velho AC/DC. Aliás, caramba, até isso faltou…

    Ps: cena pós-créditos fazendo ligação com os próximos filmes, tendo alguma relevância? Pra quê, né?

    Texto de autoria de Jackson Good.