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  • Crítica | Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

    Crítica | Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

    Em 2008, após um hiato de 19 anos, finalmente Steven Spielberg e Harrison Ford retornariam a franquia do doutor, professor e arqueólogo Henry Jones Junior. Indiana Jones e o Reino da Caveira da Cristal parece ter uma ingerência muito maior de George Lucas, argumentista do filme e criador do personagem.

    Na trama, o velho Indiana é pego em uma emboscada, junto ao seu amigo George “Mac” McHale (Ray Winstone), que ajudou o aventureiro a espionar os soviéticos – o ano era 1957. O herói acaba raptado por um grupo de agentes russos que se infiltraram no Hangar 51 em Nevada, e tinha por objetivo pôr as mãos nos restos mortais de uma criatura estranha, que dez anos antes, foi vista em Roswell, Novo México. Para muitos, o tema extra-terrestre não combinava com as histórias de Indiana Jones, mas diante do montante de problemas, isso era o de menos.

    Ford está de fato velho demais para cenas de ação que demandam demais de sua energia. Na época da premiere ele já tinha 66 anos, mas apesar  de claramente não ter mais fôlego para cenas que exigem do seu bem estar físico, ele ainda mantém toda a aura de malandragem e autossuficiência cômica, inclusive conseguindo sobreviver a um teste de bomba nuclear entrando em uma geladeira revestida por chumbo, em uma manobra que de acordo com algumas pseudo-ciências, poderia ou não funcionar.

    Da parte da chamada velha guarda, ainda há um bom desempenho, mas dos personagens mais moços há uma clara defasagem no quesito construção de ideal. Shia LaBeouf faz Mutt Williams, um jovem motociclista que deveria ser o herdeiro do legado do herói, mas esbarra na falta de carisma de seu personagem, mesmo com seu intérprete sendo o carro chefe do elenco de outra franquia que Spielberg comandava (Transformers). A vilã russa de Cate Blanchett mal funciona, sua Irina Spalko é uma comunista falsa, caricata e interesseira, assim como eram os nazistas na trilogia original.

    Toda a parte de efeitos especiais também está defasada, e quase toda parte natural do filme soa bizarramente artificial, seja as perseguições com os carros ou os macacos saguis que ensinam o filho de Indy a balançar nos cipós. Algo realmente estranho aconteceu com a produção, pois David Koepp não é um roteirista ruim, fez Missão: Impossível, Jurassic Park e Homem-Aranha, no entanto, aqui ele claramente não conseguiu organizar um roteiro que salvasse as péssimas idéias que George Lucas tinha desde 1999 em Star Wars: A Ameaça Fantasma. A solução para a vilã Irina é terrível, a forma como as caveiras de cristal se mostram faz lembrar demais o desfecho de O Retorno da Múmia – retribuindo a referencia, já que o personagem de Brendan Fraser claramente é um Indiana Jones dos anos 90. A cena do casamento é péssima, pontuada inclusive com um momento simbólico, onde começa a tocar o tema do herói com o chapéu de Jones caindo sobre os pés de seu filho e com Ford retirando das mãos de Lebouf, negando a ele a ideia de continuidade, o que aliás pode ter sido uma boa alternativa, visto o equívoco completo da tentativa de continuações para o personagem. Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal consegue ser mais equivocado até que As Aventuras do Jovem Indiana Jones.

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  • Crítica | Inferno

    Crítica | Inferno

    inferno-dan-brownCertos autores são conhecidos pelo estilo e uma estrutura narrativa facilmente identificáveis em suas obras. Algo que podemos chamar de assinatura. Isso se reflete nos livros de autores como Nicholas Sparks, Stephen King, John Grisham, Nora Roberts, em maior ou menos grau. Em alguns casos, esses estilos são configurados pela crítica especializada como excessivamente formulísticos, e por vezes, repetitivos. É o que ocorre com Dan Brown.

    A cada lançamento de um novo livro, há grandes discussões acerca dos temas levantados pelo autor, gerando debates infindáveis sobre suas teses e teorias apresentadas em seus livros, geralmente discutidas por leitores que desejam refutar seus argumentos. No entanto, pouco se explica sobre seu sucesso e os milhares de exemplares vendidos a cada novo livro lançado. Roger Ebert dizia que não se deve analisar obras com objetivos distintos da mesma forma, assim deve-se estabelecer uma diferença ao analisar uma obra literária como Inferno, de Brown, e a Divina Comédia, de Dante Alighieri. Ou será que algum crítico escreveria sobre o poema épico de Dante alegando ser uma história menor, já que não conta com o dinamismo, divertimento e a tensão ininterrupta de um livro de Brown?

    A adaptação para os cinemas de Inferno, novamente dirigida por Ron Howard, traz às telas os pontos mais frágeis das obras do escritor. Inferno é excessivamente expositivo, irritantemente bobo e rapidamente esquecível. A trama intensa e rápida, típica dos livros do autor, serve apenas como um meio para que o público esqueça dos problemas narrativos de sua versão cinematográfica e que não se atenha aos absurdos e buracos que aparecem pelo caminho.

    Nesta nova aventura de Robert Langdom (Tom Hanks), o bilionário Bertrand Zobrist (Ben Foster) cria um agente patogênico capaz de dizimar metade da raça humana, já que esta estava em perigo devido a superpopulação mundial. A fórmula de Brown se mantém como de costume em pistas deixadas por um homem morto, arte renascentista, organizações secretas, investigações, diálogos expositivos e perseguição ao protagonista.

    Howard inicia a trama como um bom thriller hitchcockiano, ao captar uma cena de perseguição ao personagem de Zobrist encurralado ao topo de uma torre, remetendo ao clássico Um Corpo Que Cai.  Na cena seguinte, Langdom está no hospital, aparentemente ferido e sem memória, apresentando ao espectador a história que ele irá contar nos próximos minutos. Deixando de lado o fato de se tratar de uma muleta narrativa que utiliza a amnésia dos seus protagonistas para empurrar sua história, infelizmente o longa abusa da boa vontade e sempre introduz alguma lembrança convenientemente nos momentos em que o protagonista mais precisa daquela informação. Isso é realizado até mesmo em pontos-chave da trama onde esta atinge um clímax, para logo após ser interrompido por seções de flashback ou de diálogos explanativos, apesar da obviedade da informação fornecida.

    Se a trama gira em torno de um senso de urgência, o que motiva essa corrida contra o tempo não se reflete de maneira justificável, já que a desculpa utilizada soa risível. O mesmo pode ser dito sobre a participação de Langdom na série, já que suas intervenções aqui são bem menores, podendo ser substituído por qualquer outro personagem sem o menor problema, servindo até mesmo como mero fornecedor de dados históricos da obra de Dante Alighieri, diferente dos filmes anteriores. O que fundamenta o tom genérico do roteiro.

    O roteiro de David Koepp não consegue amarrar as pontas soltas ao longo de sua narrativa. O amigo de Langdom, Ignazio Busoni (Cesare Cremonini) é trazido à trama, mas é rapidamente ignorado, pouco importando o destino da personagem, bastando um e-mail dizendo que ele havia fugido de seus perseguidores. O mesmo vale para a personagem Sienna Brooks (Felicity Jones, realizando uma interpretação burocrática e ligada no piloto automático), apresentada como uma mulher metódica – curiosamente o diretor cria um plano-detalhe da personagem arrumando cuidadosamente os objetos deixados na mesa – no entanto, isso é prontamente esquecido na composição da personagem.

    Tom Hanks segue mais solto como Robert Langdom do que nos filmes anteriores, mas quem rouba cena é Irrfan Khan e Omar Sy, ambos confortáveis em seus papéis. A trilha sonora de Hans Zimmer não erra, e certamente é um dos pontos altos da trama, mesclando o clima renascentista existente na obra do autor florentino com o clima de ação e suspense de Brown.

    Ron Howard entrega um filme excessivamente didático, onde os maiores méritos de seu trabalho como cineasta se transmuta com sua retratação da obra máxima de Dante, idealizado pela obra Inferno de Dante, de Sandro Botticelli. Infelizmente o roteiro peca pela sua falta de personalidade, burocratismo e furos, não transmitindo o dinamismo e a urgência dos livros de Dan Brown. Um desfecho amargo para a trilogia.

  • Crítica | O Mundo Perdido: Jurassic Park

    Crítica | O Mundo Perdido: Jurassic Park

    De começo inofensivo, mostrando uma família rica em uma região praiana, a continuação de Jurassic Park começa tão jocosa quanto seu protagonista, o Doutor Ian Malcolm (Jeff Goldblum), único remanescente do episódio primário. A mostra dos pequenos dinossauros atacando uma criança é bastante grotesca, dando o tom de como seria a exploração da trama spielberguiana – com auxílio de David Koepp e Michael Crichton.

    O chamado aventura começa com a revelação de que Malcolm rompeu o contrato de sigilo sobre os fatos ocorridos no filme anterior, tendo absolutamente negado pela família de John Hammond (Richard Attenborough), especialmente por seu sobrinho e advogado Peter Ludlow (Arliss Howard). Hammond convoca Malcolm para conversar com ele sobre uma ilha reserva, próximo da Costa Rica, onde cultivava os animais pré-históricos, que graças a acidentes naturais, foram liberados. A mudança de postura do ancião é notada logo em seu discurso, de maior preocupação com as criaturas do que com os lucros, mas sua esperteza ardilosa também se nota, especialmente ao analisar o modo de convívio dele junto a Ian, pondo seu antigo par como a estudante de paleontologia responsável pelo grupo.

    Mesmo contrariado, o matemático prolixo decide ir ao lugar, para resgatar sua amada como uma espécie de príncipe encantado às avessas. A busca por Sarah Harding (Julianne Moore) revela cenas belíssimas, de estegossauros se exibindo em meio a mata desbravada. O resto do grupo é formado pelo fotografo Nick Van Owen (Vince Vaughn) e Eddie Carr (Richard Schiff), antigos aliados da moça, o que faz com que o isolamento de Ian seja ainda maior, compondo assim um papel de párea no mesmo grupo que deveria liderar. A diferença de objetivos era notória, transitando entre o resgate e documentação fílmica do que ocorria na ilha.

    Ainda sob uma égide de contar uma história (também) para crianças, o filme demora a ter baixas humanas, exibindo-se em quase uma hora antes de matar personagens, mesmo os que aparentemente tem mau caráter, como os caçadores liderados por Roland Tembo (Pete Postlethwaite). A excursão que deveria ser de quatro (na verdade cinco) pessoas logo é mostrado em dezenas, homens que buscam capturar os monstros para leva-los a cidade.

    O primeiro momento de absoluto suspense, ocorre quando há um confronto entre o cuidado com as crias, mostradas com a caça da casal de tiranossauros indo atrás do quinteto, que tem a posse do pequeno filhote destes. A cena da queda do carro trailer é emblemática e simbólica, pois revela a fragilidade do homem diante das monstruosidades, revelando a impotência destes mesmo quando eles se esforçam para ser justos e bons com as criaturas. Outro bom confronto, é o esmero de Ian com sua filha Kelly, que o enganou, partindo junto a ele, escondido em sua bagagem, refutando qualquer possibilidade do protagonista de fugir daquela paternidade incomum que exerce. No âmago dos “dois pais”, há somente o desejo por ter seus filhotes em um habitat seguro, no alto, longe da ação frenética típica da predação.

    A escolha por tons mais escuros e por lugares mal iluminados, revela uma evolução na narrativa proposta pelo realizador. Não havia mais espaço para a idílica fantasia de Parque dos Dinossauros, ao contrário, o que sobreviveu foi o espírito de caça e caçador, com o homem sendo o principal alvo da fome, apesar dos esforços de Tembo e de seus homens.

    A baixa auto estima, unida a clara ganância fizeram Ludlow escolher errado, tolamente decidir por levar um dos tiranossauros para San Diego, planejando exibi-lo onde seria o mais novo parque temático dos Hammonds. Não demora para esta decisão se mostrar a mais  desacertada possível, com a fuga da criatura, que atemoriza agora um ambiente urbano, igual ao visto no filme de 1925.

    Apesar de os momentos finais deste apresentarem ainda mais maniqueísmo da parte dos T-Rexs, substituindo o Deus Ex Machina do primeiro volume pela vingança a la Charles Bronson, Mundo Perdido consegue ter um desfecho um bocado mais definitivo, completando o arco em si, impossibilitando em partes futuras continuações caça-níqueis, tratando os dinossauros como vítimas da ação predatória e irresponsável humana. Apesar de não conter um caráter tão edificante, o discurso de Hammond valida a frase que foi responsável por deixar Ian Malcolm famoso, de que a vida encontrará um jeito, claro, se o homem não interferir mais entre as criaturas.

  • Crítica | Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros

    Crítica | Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros

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    Imagine a seguinte situação: com o avanço da medicina, e consequentemente do estudo da genética, tornou-se possível coletar DNA preservado de animais extintos e cloná-los. E se, em vez de recriarmos mamutes e tigres dentes-de-sabre, recriássemos os maiores e mais temidos animais que este planeta já hospedou? O diretor Steven Spielberg tornou isso possível e foi um sucesso.

    Após o bizarro Hook – A Volta do Capitão Gancho (um de seus piores filmes), Spielberg juntou forças com os roteiristas Michael Crichton e David Koepp para criar um dos filmes mais extraordinários já feitos: Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros. O filme revolucionou com efeitos especiais nunca antes vistos e com um realismo absurdo, fenômeno esse que acontece de tempos em tempos na história do cinema. O resultado? Um sucesso de bilheteria que faturou mais de um bilhão de dólares. Vale lembrar que até o pôster e o logotipo do filme são sensacionais.

    De início, somos apresentados aos arqueólogos e doutores Alan Grant (Sam Neill) e Ellie Sattler (Laura Dern), que estão muito preocupados com seu trabalho, uma vez que não conseguem mais financiamento para escavações. Porém, as coisas parecem mudar com a chegada de John Hammond (Richard Attenborough), um simpático senhor que os convida para uma viagem. No caminho, conhecem Tim (Joseph Mazello) e Lex (Ariana Richards), netos de Hammond e o Dr. Ian Malcolm, vivido por Jeff Goldblum e, após passarem por paisagens fantásticas, o helicóptero em que se encontram aterrissa numa misteriosa ilha. Não demora muito para que o primeiro Braquiossauro salte na tela em busca de uma folha num galho de uma árvore gigantesca. A história do cinema estava sendo feita. A cara do Dr. Grant nesse momento, aliada à trilha sonora certeira do maestro (e mestre) John Williams, imprime bem as feições de cada espectador naquele momento: como eles fizeram isso? Para ele, os dinossauros. Para nós, os dinossauros.

    Passada a excitação inicial, os protagonistas fazem um pequeno tour que explica exatamente o parágrafo inicial desta crítica, além de mostrar o primeira momento de tensão entre os doutores Grant, Sattler e Malcolm ao descobrirem que a equipe de geneticistas do Sr. Hammond clonou Velociraptors e um Tiranossauro Rex, tidos no filme como as espécies mais perigosas. Assim, são demonstradas, também, as reais intenções do Sr. Hammond, que acabou por construir um parque, nos mesmos moldes da Disney World, para, futuramente, abri-lo ao público, após a consultoria dos especialistas que ali estão. O problema é que uma grande tempestade se aproxima, anunciada por um tímido Samuel L. Jackson e que põe a perder todo o plano.

    Jurassic Park tem o que Spielberg sabe fazer de melhor: cenas de ação misturadas com suspense e até mesmo terror, algo que ele explorou muito bem em Os Caçadores da Arca Perdida, Contatos Imediatos de Terceiro Grau e Tubarão. E, sim, é possível se divertir, ficar tenso e sentir medo com as mais variadas situações e pequenas subtramas que compõem a trama.

    E os dinossauros? Ah, os dinossauros…

    O filme foi lançado em 1993, mas se você assistir a ele hoje, verá que ainda é atual. Os efeitos em CGI, junto com os dinossauros animatrônicos (efeitos práticos) criados pela Industrial Light & Magic são bastante realistas, o que justifica a surpresa do Dr. Grant e do espectador em relação aos dinossauros. Chega a ser emocionante a cena em que ele, juntos de Tim e Lex correm junto à “manada” de Galimimos. Aliás, é possível se deparar com diversas raças, mas, realmente, quem rouba a cena é o Tiranossauro Rex. Dotado de um rugido ameaçador e com um instinto assassino no mínimo cruel, aquele que foi o topo da cadeia alimentar há milhões de anos protagoniza uma das melhores e mais aterrorizantes cenas do longa, roubando para si o título de clímax do filme antes mesmo do final.

    Felizmente, não há do que reclamar de Jurassic Park, um filme para ficar na memória e na estante de qualquer apaixonado por cinema.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Mortdecai: A Arte da Trapaça

    Crítica | Mortdecai: A Arte da Trapaça

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    Retomando a parceria com o diretor e roteirista David Koepp, com quem realizou o bom suspense Janela Secreta, adaptado de um conto de Stephen King, Johnny Depp retorna às telas com mais um papel evidenciando sua predileção por personagens bem caracterizados pela estranheza e afetação.

    Mortdecai – A Arte da Trapaça se baseia em uma personagem criada por Kyril Bonfiglioli, um romancista britânico que compôs uma trilogia cômica sobre um anti-herói aristocrata negociador de artes, principalmente no circuito alternativo. Com um proeminente bigode francês, a personagem, ao lado de seu fiel ajudante Jock (Paul Bettany), é considerado um pícaro. Um tipo que representa uma espécie de malandro, um homem que transita na sociedade sobrevivendo como possível dentro ou fora da lei. Normalmente nessas obras, o riso é provocado pelas situações, uma maneira de satirizar o conjunto da sociedade.

    Na trama, o Lord Mortdecai passa por uma crise financeira e aceita a proposta do inspetor Martland (Ewan McGregor) para investigar a morte de uma restauradora de quadros em troca da dívida perdoada. Ao mesmo tempo, tenta manter o investigador longe de sua esposa Johanna (Gwyneth Paltrow), pela qual é apaixonado. O humor focado em uma personagem estranha não é cativante. Afetado em demasia, como se vivesse em um mundo à parte, Mortdecai e o roteiro parecem ambientar-se em dois momentos diferentes. Mesmo que o anacronismo seja proposital para criticar uma visão atrasada da aristocracia britânica, o riso crítico se perde em meio a muitas piadas cênicas e corporais.

    Depp dá prosseguimento a sua má fase na carreira em mais um papel afetado que revela uma repetição dos trejeitos de outros personagens recentes e bizarros, como o capitão Sparrow de Piratas do Caribe e o vampiro de Sombras da Noite. Ainda popular devido a outras caracterizações marcantes, há certo tempo o ator não entrega uma grande interpretação, tanto de sua vertente estranha quanto de um papel mais tradicional, como o cientista do péssimo Transcendence – A Revolução.

    Esteticamente, o filme utiliza recursos de computação gráfica e ângulos diferentes em cenas de transição para promover uma agilidade à farsa. Mas esses procedimentos aumentam o tom bobo e superficial da trama e não são capazes de trazer o timing cômico à história. As piadas estão presentes, mas não trazem a carga de efeito necessária. E o roteiro frágil ajuda a ampliar a sensação de vazio, como uma obra trabalhando um potencial bom personagem, composto sem o cuidado adequado, como se o humor não fosse tão requintado quanto o drama.

  • Crítica | O Quarto do Pânico

    Crítica | O Quarto do Pânico

    O início da década de 2000 não foi muito generoso com alguns dos maiores cineastas da modernidade. Os irmãos Coen patinavam com produções como O Amor Custa Caro e Matadores de Velhinhas; Terrence Malick trazia o bom, mas cansativo, O Novo Mundo; Martin Scorsese sofria com duras críticas ao filmes Gangues de Nova York e O Aviador, dentre outros exemplos. Nesse contexto, David Fincher não conseguiu escapar da curva com seu quinto filme como diretor: O Quarto do Pânico.

    O filme abre-se de maneira bem interessante, com tomadas externas de pontos específicos de Nova York, enquanto os seus componentes, como os prédios e seus vidros espelhados, se misturam, refletem e interagem com as letras dos créditos, causando um belo efeito visual. Após termos contato com toda a amplitude da cidade, o foco se volta aos personagens principais, Meg Altman (Jodie Foster) e Sarah Altman (Kristen Stewart), que visitam uma bela e enorme casa, incomum em Manhattan.

    Por estar se divorciando do rico marido, Meg procura uma nova casa para ela e sua filha, e dinheiro não é problema. Porém, a casa pertencia a um investidor paranoico que construiu em seu lar uma verdadeira fortaleza para resistir a tudo, especialmente invasores, transformando seu quarto em um “quarto do pânico” revestido de aço, concreto e com linha telefônica separada, sistema interno de TV, além de um estoque de água e outros itens de sobrevivência. Ao adentrar o quarto fechado, Meg se vê sofrendo os sintomas da claustrofobia, que estranhamente irá passar conforme o filme avança. Mas, mesmo assim, fecha o negócio e se muda para a casa.

    Na noite da mudança, três homens invadem a casa para roubar o cofre que se encontra justamente dentro do quarto secreto. Títulos ao portador que valiam milhões. Os invasores Burnham (Forest Whitaker), Raoul (Dwight Yoakam) e Junior (Jared Leto) não sabiam que teriam moradores na casa porque Junior se confunde com as datas: por meio de uma desculpa muito preguiçosa do filme de tornar tudo um simples “acaso”, Junior acha que 14 dias são três semanas, acreditando que só seriam contados os dias úteis. Raoul, o desconhecido que Junior traz sem avisá-lo do assalto, já se mostra desde o início portador de uma estranha e violenta personalidade, que assusta o pacato Burnham, funcionário de uma empresa em que trabalha instalando equipamentos de segurança, como os do quarto da casa.

    Os três decidem realizar o trabalho mesmo assim, mas ao descobrir que existem invasores no domicílio, Meg e Sarah se escondem no quarto do pânico, e aí que começam os problemas para ambos os grupos. A tensão é bem estabelecida e mantida durante o segundo ato, pois se dentro do quarto mãe e filha estão seguras, não houve tempo de ligarem todos os equipamentos de segurança, como o telefone, além de Sarah ser diabética e não ter levado sua injeção de insulina.

    Enquanto Junior e Raoul tentam de forma brutal achar um jeito de entrar no quarto, Bunham tenta tirar de lá as duas moradoras de várias formas, uma engenhosidade dos personagens, especialmente de Meg, que soa um pouco estranha, como se qualquer cidadão normal pudesse tê-la, ainda mais sob tamanho stress.

    A relação entre os próprios bandidos começa a mudar quando suas divergências sobre os métodos de como lidar com a situação começam a ir por caminhos muito diferentes. Bunham não quer machucar ninguém, e Raoul não se importa com isso, tanto que Junior é morto por este, agravando a tensão entre ambos.

    Após Meg conseguir fazer um contato mínimo com seu ex-marido, este aparece e é usado como refém pelos bandidos, o que força Meg a sair novamente do quarto. Porém, Sarah lá permanece e Meg consegue jogar para ela o estojo com a insulina.

    Bunham abre o cofre e pega os papéis, que eram muito mais valiosos do que pensavam. Mas Raoul, fazendo o claro clichê papel do bandido mau, tenta matar Meg, e Bunham acaba salvando-a, fazendo o papel do bandido bom, e é preso por isso. As sequências finais, com imenso potencial, acabam se perdendo em meio a tantas reviravoltas que abusam de clichês.

    Esse emaranhado de acontecimentos no terceiro ato são um exemplo claro do principal problema do filme. Apesar de ficarmos tensos ao acompanhar o desenrolar da trama, ela não tem uma base para se sustentar e não consegue cativar profundamente o espectador, já que trabalha sempre em cima de superficialidades. O filme se torna esquecível a partir do momento que acaba

    O Quarto do Pânico tem vários elementos que funcionam bem. A casa escura, grande e solitária, totalmente vigiada, ajuda a contar a história através de suas câmeras. Porém, o que acaba prejudicando a obra é justamente o fato da trama não ter muitos atrativos além do quarto e como várias coincidências são necessárias para se estabelecerem as tensões que a fazem andar. Dentro daquele universo, fica difícil saber se haveria algo mais a ser feito, mas o fato é que a produção falha em pisar fora do lugar comum das obras do gênero, tornando sua experiência quase que descartável após assisti-la, algo que deixa muito a desejar frente a uma filmografia tão grande e importante quanto a de Fincher. Felizmente, os outros filmes compensam.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Operação Sombra: Jack Ryan

    Crítica | Operação Sombra: Jack Ryan

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    O personagem Jack Ryan, criado pelo autor Tom Clancy, já esteve nas telas de cinema ao ser interpretado por vários atores: Alec Baldwin – em Caçada ao Outubro Vermelho; Harrison Ford – em Jogos Patrióticos e Perigo Real e Imediato; e Ben Affleck – em A Soma de Todos os Medos. Em todos, o intérprete sempre teve mais peso que o próprio personagem. Motivo suficiente para, que desta vez, o nome esteja no título (assim como estão Bourne e 007).

    Diferente dos demais, a trama não é adaptação de uma das obras de Clancy. Em parte prequel, em parte reboot, o roteirista David Koepp ambienta a história do jovem Ryan (Chris Pine) em tempos mais modernos, após os eventos de 11 de setembro – originalmente, o personagem nasceu nos anos 50. O espectador fica sabendo como Ryan conheceu sua esposa Cathy (Keira Knightley) e como foi o acidente que destruiu sua coluna e o deixou com a eterna dor nas costas. Após dar baixa do Exército, Ryan é abordado por Thomas Harper (Kevin Costner) que lhe faz a proposta de ajudar seu país de outra forma: ingressando na CIA como um analista. E como nos demais filmes, rapidamente ele deixa de ser apenas um analista e passa a atuar como um agente de campo, depois de descobrir os planos de Viktor Cherevin (Kenneth Branagh) de desestabilizar a economia dos EUA.

    Difícil não comparar esse Jack Ryan repaginado com Jason Bourne, principalmente nas poucas (e boas) cenas de luta – a do banheiro é de prender o fôlego – ou sequências de suspense. Não é demérito, uma vez que a fórmula usada nos filmes de Bourne funcionou bem a favor do personagem. Contudo, exceto por esses trechos mais tensos, a trama é bastante linear e poderia se enriquecer muito com subtramas que gerassem algumas reviravoltas a mais na história. Reviravoltas sim, mas não cenas tão aceleradas que são feitas desse modo apenas para encobrir imperfeições e falhas de roteiro que seriam percebidas mais facilmente se o espectador pudesse parar para refletir um pouco.

    Bem, e já que o personagem parece-se com Bourne, é justo que o ator tenha um porte físico semelhante ao dele e consiga convencer o público de sua capacidade de partir para o confronto físico quando necessário, mesmo que não seja a coisa mais agradável do mundo. E Pine é bastante competente nesse quesito. Knightley está ali basicamente como enfeite, apesar de haver um outro momento de comicidade causado pela sua ignorância a respeito do emprego real de seu marido. Branagh, que também dirige, dá credibilidade a seu vilão, inclusive disfarçando bem a dublagem de suas falas em russo.

    Enfim, um reboot de um personagem que talvez se afirme melhor nos possíveis próximos filmes. Um filme de ação divertido e nada mais.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Operação Sombra: Jack Ryan

    Crítica | Operação Sombra: Jack Ryan

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    Kenneth Branagh fez sua carreira como diretor muito calcada em adaptações shakesperianas, como Hamlet, Henrique V, Muito Barulho por Nada. Sua última produção foi o marvel movie Thor, onde seus préstimos foram provados e até aplaudidos, dado o nível de qualidade do produto. O próximo passo do artista, seria adaptar uma história de Jack Ryan, protagonista de dezenas de thrillers de espionagem do autor Tom Clancy, e já levado ao cinema em algumas oportunidades. O ator escolhido seria Chris Pine, amparado por um elenco estrelado, com Kevin Costner, Keira Knightley e o próprio diretor. O roteiro foi produzido especialmente para o filme, somente tomando emprestado elementos dos livros, mas com o mote inédito.

    A maturidade da lente de Branagh é logo notada, pela fotografia competente, remetendo a abordagens de conterrâneos seus, como Christopher Nolan e Paul Greengrass. A influência deste último também é facilmente notada nas cenas de tensão, com câmera mais móvel e trêmula, mas Jack é claramente muito menos preparado e seguro que Jason Bourne, ele é passível de erros, é falho e mais condizente com a realidade.

    Mesmo não sendo tão perito quanto outros superespiões, sua maior prova de humanidade não é a inabilidade ou inexperiência no campo, mas sim a dificuldade em levar uma dupla identidade e conciliar sua vida pessoal, tendo o receio constante de decepcionar sua parceira e cônjuge, Cathy (Knightley), não podendo estar presente na maioria dos encontros típicos de um casal graças a natureza de seu trabalho, e claro, a sensação de paranoia que envolve toda a sua rotina, mesmo quando ele está (supostamente) fora de ação. Seu ofício não permite folgas, ele sempre tem que estar alerta e ele ainda demora um pouco para se convencer de que dividir o foco de sua atenção é demasiado difícil.

    As discussões entre o casal pareciam ser levadas para um lado mais sério e trágico, mas ganham contornos agridoces e até bem humorados, visto o alívio de Cathy ao descobrir que seu par não a traía. O senso de proteção dele faz com que eles se afastem, e a desconfiança da moça aumenta ao perceber que ele não confia nela, não por esta não ser digna, obviamente. A união entre os dois só é estabelecida através de um objeto simbólico – uma aliança de noivado.

    Os raptos e subterfúgios comuns a filmes de espionagem são construídos de modo que o espectador realmente teme pela vida dos personagens, no entanto este é um dos poucos pontos positivos deste quesito, uma vez que falta um suspense maior e a sensação de frio na barriga não é tão intensa. Há demasiadas cenas de Ryan auxiliando as investigações, e elas pouco acrescentam a trama principal, as gorduras da edição são facilmente notadas, o que é um erro cabal para um realizador experiente. Tais momentos buscam enfatizar a reticência e o método do investigador, mas acabam caindo na redundância.

    O final se conecta ao começo, valorizando a paranoia ligada ao terrorismo, presente no ideário do cidadão estadunidense há muito e piorado com o episódio de 11 de Setembro, o alvo coincide inclusive com o local que seria atingido, tornando a questão ainda mais pessoal para o herói da jornada. A falta de ação nas cenas de perseguição das partes médias do filme são compensados com o ritmo frenético da tentativa de atentado à “Grande Maçã”. Os signos visuais mostram a derrota do personagem de Branagh – Viktor Cherevin – antes mesmo dele ter a confirmação de seu fracasso, a escolha por deixar as partes inteligentes para seu personagem demonstram um pouco de vaidade e preciosismo do diretor, mas não chegam a atrapalhar tanto quanto as suas inserções em meio a trama de sequestros e rivalidades com o protagonista.

    O desfecho mostra o agente sendo chamado a uma sala privativa, supostamente na Casa Branca, aludindo a clara intenção de não só ter a continuação da franquia, como a subida de nível que Jack fez por merecer. Há referências a Cassino Royale de Martin Campbell por também rebootar uma saga, ainda que haja uma maior preocupação neste de preservar o máximo de realismo mais palpável do que seus primos mais tradicionais.

  • Crítica | Perigo por Encomenda

    Crítica | Perigo por Encomenda

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    Todo motorista que circula pelas ruas de São Paulo já está habituado aos motoboys. E quando digo habituado, refiro-me à presença deles e não às suas estrepolias no trânsito, geralmente súbitas e inseguras. Imagine se essa horda de “cachorros loucos” fosse formada por couriers pilotando bicicletas ao invés de motos. Conseguiu imaginar? Se sim, você acaba de visualizar Nova Iorque. Agora imagine que alguns desses “ciclistas” estejam correndo contra o tempo, não para fazer a entrega no menor tempo possível, mas para resolver um problema causado pelo conteúdo de uma das entregas. Imaginou? Então você acaba de vislumbrar o roteiro de Perigo por Encomenda.

    Wilee (Joseph Gordon-Levitt) é um quase advogado (falta fazer o exame final, algo similar ao da OAB) que trabalha como entregador-ciclista, ou bike messenger, suprindo sua demanda por adrenalina pedalando ferozmente pelas ruas de Nova Iorque. Na gíria dos ciclistas, ele é um fixeiro, ou seja, usa uma bicicleta sem marchas, sem roda livre (os pedais se movem o tempo todo junto com as rodas) e sem freios – já que os próprios pedais podem ser utilizados para frenagem. Ele é o que se poderia chamar de adepto do ciclismo “de raiz”.

    Bobby Monday (Michael Shannon, o General Zod de Homem de aço) é um policial viciado em jogo que quer o conteúdo de um envelope que deve ser entregue por Wilee. Vanessa (Dania Ramirez) é a ex-namorada, também entregadora, que desaprova o modus operandi de Wilee. Manny (Wolé Parks) é outro bike messenger da mesma empresa, que cobiça Vanessa e inveja Wilee.

    Gordon-Levitt literalmente deu o sangue pelo papel, sua atuação é intensa o bastante para convencer o espectador de que ele realmente consegue pedalar daquela maneira. Contudo, o filme basicamente se resume a perseguições frenéticas pelas ruas de Nova Iorque enquanto Bobby tenta impedir que o tal envelope chegue a seu destino, com direito a um alívio cômico proporcionado por um policial nova-iorquino, também ciclista. Alguns flashbacks intercalados explicam como cada personagem chegou à situação atual. Inserções no estilo Google Maps and Navigation ilustram as rotas a serem seguidas pelos messengers. E o próprio Wilee tem “previews” dos caminhos possíveis a seguir quando um obstáculo se apresenta.

    E é apenas isso. Um filme de perseguição, rápido, não cansativo, interessante de assistir num sábado de ócio no sofá com pipoca. Diverte sem ser tolo, apesar de algumas situações improváveis. Mas também não leva a qualquer reflexão pós-filme. Puro entretenimento.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.