Tag: Chris Pine

  • Crítica | Stretch

    Crítica | Stretch

    Ainda que o diretor Joe Carnahan tenha ótimos trabalhos como Narc e A Perseguição, Stretch não foi lançado em circuito. Relegado ao lançamento on demand, o longa está no catálogo da Amazon Prime Vídeo escondido pela miniatura de um pôster muito feio de divulgação. Porém, não se enganem. Além de contar com Carnahan na direção e roteiro, possui um grande elenco com como Patrick WilsonBrooklyn Decker, um quase irreconhecível Chris Pine, Ed Helms, Jessica Alba, Ray Liotta e outros.

    O filme conta a história de Kevin “Stretch” Bryzowski, um motorista de limusine que está se esforçando para superar seus vícios em drogas e jogos de azar, além de uma decepção amorosa. Porém, ainda endividado até o pescoço, o chofer aceita o trabalho de conduzir um excêntrico bilionário conhecido por dar grandes gorjetas a quem lhe presta serviços.

    Diretor e roteirista, Carnahan já de início imprime um ritmo ágil ao filme, com diálogos rápidos e cenas movimentadas que vão apresentando os personagens e suas motivações. Nota-se que há um carinho em retratar o protagonista, mas em nenhum momento ele é mostrado como alguém que o espectador deve se compadecer. Ao contrário, ele mostrado como alguém consciente das escolhas erradas que faz ao longo da vida e que agora precisa se virar para resolver seus problemas. Isso é potencializado pela ótima interpretação de Wilson.

    Situações absurdas ocorrem em escala gradual, mas em nenhum momento o filme parece inverossímil. Todos os atos tem consequências, que se não são imediatas, influenciam diretamente em outros momentos do longa. Nada fica impune em Stretch, nem mesmo as boas ações. O diretor trabalha muito bem a tensão e há uma boa dose de comédia durante o filme, principalmente nos momentos em que Helms está em cena, ainda que em vários momentos os risos são de nervoso, posto que a situação do momento, ainda que cômica, pode representar até mesmo o fim da vida do protagonista. Carnahan faz ainda um ótimo trabalho de direção de atores de todo o elenco de coadjuvantes, principalmente Pine. O Capitão Kirk dos novos Star Trek está especialmente surtado como o bilionário que é a razão da noite insana que Stretch enfrenta.

    Não se deixem enganar pela figurinha que retrata o péssimo pôster de divulgação. Stretch é um ótimo e injustiçado filme que não teve o merecido destaque à época de seu lançamento.

  • Crítica | Mulher-Maravilha 1984

    Crítica | Mulher-Maravilha 1984

    Mulher-Maravilha 1984 se tornou uma das esperanças da Warner Bros. e DC Comics para retomar o sucesso do universo cinematográfico dos super-heróis da casa, após a recepção morna da Liga da Justiça. Além disso, era também aguardado que, após o fechamento forçado dos cinemas devido a pandemia, o filme, cuja estreia foi programada para dezembro, traria um retorno aceitável de bilheteria, mesmo que sua exibição fosse simultânea com o streaming da HBO Max.

    Novamente conduzido por Patty Jenkins, o início do filme marca um retorno a ilha das amazonas, Themyscera, resgatando boa parte do que deu certo em Mulher-Maravilha em 2017, com o caráter épico do filme solo da heroína. Essa sequencia em particular dura onze minutos, e logo a linha do tempo vai para o presente, os super coloridos anos oitenta do século XX. O segundo filme protagonizado por Gal Gadot faz lembrar seu par da editora concorrente, Capitã Marvel, que brincava com clichês de 1990, mas com diferenças cabais entre as narrativas e a necessidade de se apelar para outra época.

    O elenco é estrelado com destaque especial para Pedro Pascal fazendo o canastrão Maxwell Lord. Nos quadrinhos, surgiu como um ganancioso empresário da Liga da Justiça da fase J.M. Demattheis e Keith Giffen, mas que sempre que vai para outras mídia é retratado como um vilão puro e simples. Os problemas do filme começam justamente na hora de desenvolver as relações entre personagens. O exemplo disso é visto entre a doutora e especialista em geologia Barbara Minerva (Kristen Wiig) e a princesa amazona, uma relação cujo roteiro guarda semelhanças com Batman Eternamente, entre Edward Nygma e Bruce Wayne, mas sem ser tão caricatural. Fora isso, as intimidades dos personagens não parecem realistas, e sim um pastiche do que seriam os relacionamento entre pessoas reais. Ao menos a dinâmica e química entre Gadot e Chris Pine segue bem e firme, as piadas que funcionam são exatamente as que invertem os papeis da pessoa em um mundo novo, que antes contemplava Diana e agora, acometem Steve Trevor.

    Porém, o retorno do par romântico da heroína, ajuda a deflagrar um dos defeitos do filme: a conveniência do roteiro de Geoff Johns, David Callaham e Jenkins. O que incomoda é o apelo a suspensão de descrença. Em alguns pontos é bem comum os exageros nas historias em quadrinhos, mas aqui há também excessos e muita convenviências narrativa. Em especial ao artifício do objeto mágico de desejo, que muda suas regras a todo momento. Além disso, os personagens são quase todos muito genéricos, e as cenas de ação são artificiais e muito mal pensadas. As que ocorrem no deserto variam entre momentos com uma iluminação nada realista, unido a resgate de crianças que são feitas por bonecos tão fajutos quanto os vistos em Sniper Americano.

    Outra questão complicada é a participação da Mulher Leopardo. Sua versão é bem diferente dos gibis, e isso não necessariamente é um fator negativo. O problema mesmo é ela ser cercada de clichês, igual a tantos outros opositores de filmes de herói,  movido por algo maligno e ancestral, representando o esteriótipo de uma pessoa boa mas que é corrompida.

    Já o drama de Lord, no final, por mais bizarro que seja, ainda guarda boas surpresas, ao refletir sobre o apego ao poder absoluto, mostra como um homem comum pode se corromper. Os momentos finais guardam momentos grotescos e soluções que não fazem sentido, envolvendo os dois opositores, cujos fins são vergonhosos, assim como a utilização da tão esperada armadura da heroína em O Reino do Amanhã aqui sub aproveitada.

    Apesar de Deborah e Zack Snyder assinarem como produtores executivos, claramente se ignora completamente as falas sobre Diana estar escondida desde a Primeira Guerra Mundial, como é aludido em Batman VS Superman e Liga da Justiça (a saber se no vindouro Snydercut da Liga, haverá alguma explicação a respeito). Na verdade, James Wan já havia ignorado fatos sobre o rei atlante em seu Aquaman, mas aqui não há qualquer pudor da heroína em se expor, mesmo que fiquem dúvidas na imprensa sobre suas intenções e origens.

    Os aspectos visuais também são estranhos. Sai a fotografia super escura para uma clara e esquisita, em um trabalho assinado por Mathew Jansen, bem diferente do que havia feito em Poder Sem Limites, Game Of Thornes e The Mandalorian e até mesmo no primeiro filme. Ao menos a música de Hans Zimmer não interfere tanto na trama como em outros de seus trabalhos.

    Jenkins apresenta um filme desequilibrado, que faz lembrar os momentos mais atrozes de Mulher Gato, A Ascensão Skywalker ou A Torre Negra. Os poucos momentos que são inspirados ficam isolados, como ilhas no meio do oceano, soterradas por uma tempestade marinha capaz devastar tudo, incluindo as boas qualidades. Nem o sacrifício de heroísmo de Diana faz sentido, e a mensagem presente no diálogo entre ela e Lord é tão barata e piegas que faz temer pelos próximos trabalhos dos envolvidos. Naturalmente, já há uma parte três confirmada pelo estúdio.

  • Crítica | Legítimo Rei

    Crítica | Legítimo Rei

    Quem não recorda de Coração valente (filme de 1995 dirigido e estrelado por Mel Gibson)? Um épico e excelente longa com suas quase três horas, que conta a história verídica do revoltoso escocês William Wallace. Líder popular que liderou um pequeno exército de resistência ao jugo inglês.

    Para quem gostou do filme, há um outro mais recente que é imperdível: Legítimo Rei (Outlaw King). Lançado esse ano, o filme dirigido por David Mackenzie apresenta a história de Robert the Bruce – o oitavo do seu nome (Chris Pine), filho do também chamado Robert the Bruce – o sétimo do seu nome (James Cosmo), Rei de uma Escócia subjugada pela Inglaterra em finais do século XIII e início do XIV. Foi justamente a sanha de domínio de todas as terras britânicas por parte do Rei Edward I (Stephen Dillane), da Inglaterra, que despertou a resistência revoltosa de William Wallace e seus seguidores.

    Depois que o exército do Rei Edward I conseguiu capturar, executar e esquartejar o corpo de Wallace (ponto exato da história onde termina o filme de Gibson), começa a exibir partes de seu corpo pela Escócia. Aproximadamente no mesmo período Robert the Bruce – o pai (o VII) falece. Revoltada com o que o Rei Edward I faz com Wallace, parte da população escocesa, liderada por Robert the Bruce – o filho (o VIII), decide iniciar nova resistência ao Rei inglês. Sem adentrar em muitos detalhes para não gerar informação prévia (spoiler) sobre o filme, importa dizer que ele sofre derrotas, grandes perdas e desterro. Passa anos fugindo até se organizar e retornar para sua terra para lutar contra o Rei inglês (nesse momento já não mais Edward I, falecido, mas seu sucessor Edward II).

    O ponto baixo do filme é a aceleração da trama para ficar dentro do padrão comercial, duas horas de duração. Fosse produzido com mais ousadia, e com trama desenvolvida mais em consonância com o espaçamento temporal da história real, a película alcançaria o nível das inesquecíveis como alcançou a de Gibson.

    Legítimo Rei é uma bela produção. Locações fenomenais (a Escócia tem paisagens naturais deslumbrantes), figurinos e ambientações mais qua adequados e convincentes; fotografia que transmite a sensação de estarmos dentro da época e das cenas, com destacado papel na composição das emoções. Talvez uma pequena falta seja a trilha sonora, praticamente inexistente.

    Como destaque final ficam as atuações de Pine e Dillane. Se a direção de Mackenzie (A Qualquer Custo) não chega a ser um primor, ao menos não compromete a qualidade do filme. A história de Robert the Bruce (o VIII) é fenomenal e cativante. Não há dúvidas de que merecia uma película dedicada a ela; poderia ser um pouco melhor, contudo. Importante saber que Robert the Bruce VIII é ascendente de James I da Inglaterra (reinou os dois países, unificado-os), da casa de Stuart, e que permanece como linhagem direta da atual família real britânica.

    Texto de autoria de Marcos Pena Júnior.

    https://www.youtube.com/watch?v=V6Msl1HFJv0

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  • Crítica | Uma Dobra no Tempo

    Crítica | Uma Dobra no Tempo

    O filme perfeito para mostrar aquele(a) amigo(a) que não valoriza o trabalho de James Cameron em Avatar. O irônico disso mora justamente no quanto a proposta criativa de Uma Dobra no Tempo casa com o cinema family friendly da Disney: Após ir para o espaço em busca de novas comprovações de uma teoria científica, um piloto interespacial fica perdido em algum recanto celestial (E felizmente não é interpretado por Matt Damon, mas por Chris Pine, cada vez mais um ótimo ator) e nunca mais é resgatado, literalmente ficando perdido no espaço. Nisso, seus dois filhos acabam entrando em contato com entidades de universos paralelos, e embarcam numa aventura alucinógena em busca do elo emocional perdido que tanta falta faz, em casa.

    Só que às vezes uma fórmula dá errado – e a quebra da mesma, também. A Disney e todos os conglomerados de mídia parecem estar aprendendo isso hoje em dia, sendo que tudo muda mais rápido do que nunca nos tempos atuais. Talvez o público não esteja mais interessado em histórias assumidamente sentimentais sobre deterioração familiar e como isso pode ser revertido pela ótica da ficção. Talvez o apelo também para esse padrão universal de história precise ser reavaliado, mas nada exclama mais auto que o péssimo roteiro de Uma Dobra no Tempo ter sido o fator decisivo para seu absoluto fracasso crítico, e comercial. Ao juntar alternativas para uma aventura genuinamente memorável, como essa parece querer ser, é preciso saber o que se quer contar, não? A história totalmente indecisa se atropela, se sabota, com suas decisões narrativas retirando o próprio brilho que poderia surgir de determinadas cenas, e a direção evocativa de Ava DuVernay tampouco ajuda o filme na memória.

    Isso porque DuVernay mostra-se extremamente hábil com os momentos familiares dos Murry, entre os filhos do piloto e a sua esposa, deixados para trás para lidar com brigas familiares, e outros conflitos mundanos. Mas quando o filme carece de criar uma mitologia sólida e ser marcante com e por isso, a diretora falha em quase todos os aspectos, não conseguindo nem ao menos trabalhar elementos fantasiosos na tela para alcançarem o mínimo do impacto emocional que momentos reais (como a briga na escola, logo no começo do filme) produzem com a sensibilidade dos espectadores. Em determinado ponto, não se sabe mais aonde começa a tentativa de entretenimento e onde termina o esforço para não nos deixar dormir, tamanho o tédio e a previsibilidade que abocanha a história, minuto após minuto – e nós sabemos o quanto sessenta segundos são importantes numa tela, certo?

    Um projeto de alegoria fílmica épica sem personalidade alguma, e que custou mais de 100 milhões de dólares, e apenas serviu tanto para se pagar, quanto para manchar a carreira de DuVernay, um grande talento em ascensão bom demais para as fórmulas recicladas das máquinas de marketing imperialistas. Diante de outros triunfos recentes e fracassos da mídia mainstream, Uma Dobra no Tempo, mesmo com um ótimo elenco e direção, amargura com gosto o uso do rótulo de decepção. E faraônica, se contar a dimensão do espetáculo – o grande pesadelo de Cameron. É também o pior fiapo de ideia dependente de um projeto de worlbuilding surreal em 3D que eu já vi em muitos anos, na Disney ou em qualquer outro estúdio americano de cinema com coragem o bastante para bancar uma brincadeira dessas (Sucker Punch, de 2011, faz tudo isso parecer elogio). Cruzes.

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  • Crítica | Mulher-Maravilha

    Crítica | Mulher-Maravilha

    A expectativa em relação ao universo cinematográfico da DC Comics passou a importar ainda mais nos últimos tempos, seja pelos contratempos que fizeram Zack Snyder delegar a Joss Whedon a função de conduzir as cenas adicionais de Liga da Justiça, bem como as expectativas do último filme solo de herói antes da tão aguardada reunião do panteão de deuses da editora. Com uma responsabilidade enorme sobre si, Mulher-Maravilha causava uma espera enorme por parte dos fãs de quadrinhos, em especial depois dos fracassos de Batman vs Superman: A Origem da Justiça e Esquadrão Suicida, e seu resultado final é muito satisfatório.

    Patty Jenkins é uma diretora que começou muito bem. Seu primeiro filme, Monster: Desejo Assassino, foi premiado e muito bem falado, mas de lá para cá passaram-se treze anos, e muitas contribuições em séries de TV. A espera, ao se perceber um filme conduzido por ela era de um produto com muito girl power e referências ao feminismo, e há um bocado de ambos, ainda que esse não seja um filme categoricamente feminista, fato que não chega a ser demérito, uma vez que grande parte das histórias clássicas de William “Charles” Moulton Marston eram o oposto disso, abusando do sexismo e soando fetichista em alguns momentos. O roteiro de Allan Heinberg erra em alguns pontos, mas não na argumentação pró-igualdade entre os sexos.

    O filme começa com uma bela introdução da parte mitológica de origem de Diane Prince, com uma Gal Gadot que aparece somente com algum tempo de tela, e cada vez mais à vontade em seu papel. Themyscira é mostrada como um paraíso, repleto de belas paisagens e governado por mulheres, em especial pela Rainha Hipólita (Connie Nielsen) e sua irmã Antíope (Robin Wright). A primeira, governa a política da ilha, enquanto a outra serve de guarda e prepara a defesa do local. Entre ambas há a preocupação com o futuro de Diana, que tem sobre si uma promessa, de ser ela a chave para acabar com os resquícios do deus da Guerra, Ares.

    O chamado à aventura ocorre quando Steve Trevor (Chris Pine) cai acidentalmente através do disfarce geral do arquipélago, causando na herdeira do trono uma curiosidade atroz pelo mundo externo, lançando-se assim ao mundo dos homens, apesar das reprimendas de seus parentes, e a partir daí começa uma jornada com um humor afiado, ao estilo dos melhores filmes da Marvel Studios.

    Nota-se um uso grande do artifício do slow motion, semelhante aos filmes dirigidos por Snyder, ainda que aqui seja utilizado de maneira mais funcional, e não tão corriqueira. O filme é pontual e econômico, e não abusa da fotografia escurecida de outros produtos do DCEU. A escala das cenas é grandiosa e os personagens secundários acrescentam a trama, sem precisar de um tempo demasiado para desenvolver origens ou ligações com a heroína.

    Jenkins acerta no tom, produzindo um filme que consegue ao mesmo tempo agradar plateias mais progressistas e interessadas em analisar personagens femininas fortes e independentes, sem descuidar do público nerd desejoso por uma aventura escapista. A química entre Gadot e Pine é muito bem aproveitada, bem como o potencial de piadas com os conhecimentos que a amazona passa a ter no novo mundo a ser explorado. De negativo, há uma utilização pouco proveitosa do vilão, que tem um plano mirabolante para arredar a personagem principal, fato que evidentemente não dá certo, uma vez que todos os eventos posteriores ocorrem quase cem anos após essa aventura, mais ainda assim, nada que tire o brilho desta Mulher-Maravilha, fato este que faz ter curiosidade por mais exemplares na filmografia cinematográfica da diretora, bem como também uma avidez por mais participações da mesma nesse universo compartilhado com Batman, Superman e cia.

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  • Crítica | A Qualquer Custo

    Crítica | A Qualquer Custo

    O western talvez seja o gênero mais emblemático do cinema americano. As histórias ambientadas no velho oeste dos EUA povoaram durante décadas os cinemas do mundo, atéperder força na década de 1970 e praticamente sumir do circuito comercial. Com exceção de algumas obras pontuais, o gênero deixou de ter a atenção dos espectadores, sendo substituído por películas de ação. Porém, essas mencionadas obras pontuais sempre foram capazes de reavivar o carinho e interesse do público, com direito a modificações precisas, caso desse A Qualquer Custo, situado no tempo presente mas, ainda ainda, um western. E daqueles muito bons.

    Na trama escrita por Taylor Sheridan,  dois irmãos, interpretados por Chris Pine e Ben Foster, iniciam uma série de assaltos a um banco específico do Texas. Eles procuram sempre roubar pequenas quantias de dinheiro com o intuito de usar o montante para quitar dívidas referentes à fazenda da família para dar uma vida melhor para seus filhos. Jeff Bridges vive o policial no crepúsculo de sua carreira que aceita a incumbência de detê-los.

    O filme é passado nas terras áridas do Texas e as paletas de cores utilizadas ajudam a acentuar a característica. O roteiro de Sheridan nos apresenta um Texas empobrecido, quase decrépito, onde os habitantes das cidades semi-fantasmas ainda carregam costumes antigos, como os chapéus e as armas no coldre o tempo todo. É nesse mundo que somos apresentados a arquétipos clássicos dos antigos westerns, o bandido impulsivo que está sempre a um passo de colocar tudo a perder, seu parceiro inexperiente e comedido que só entrou na jogada para tentar proporcionar uma vida melhor, o xerife aposentado que disfere insultos e piadas ao seu melhor amigo que é membro de alguma minoria étnica (no caso, o personagem é meio índio e meio mexicano). O texto demonstra grande habilidade ao delinear muito bem os personagens e sustentar seu roteiro principalmente nas relações humanas, uma vez que a trama é linear e concisa.

    O diretor David Mackenzie, auxiliado pela linda fotografia de Giles Nuttgens e pela linda trilha sonora composta por Nick Cave e pelo musicista Warren Ellis, explora com maestria esse mundo apresentado, usando de longas tomadas panorâmicas que explicitam toda a imensidão do Texas ao passo que mostra toda a sua aridez e opressão. Interessante observar também que o diretor estabelece um ritmo constante ao seu filme, com momentos de ação ao final de cada arco. Além disso, ao contrário de produções que em um determinado ponto se esquecem das personagens para se concentrarem somente na ação em busca de um clímax megalomaníaco, A Qualquer Custo mantém-se fiel à sua origem em um filme sobre suas personagens.

    No que tange às atuações, Bridges se destaca, ainda que seu personagem pareça demais com o de Bravura Indômita. O ator cria uma ótima interpretação para um personagem relutante em encerrar sua carreira na força policial e que faz da investigação aos assaltos empreendidos pelos irmãos uma espécie de seu canto do cisne como homem da lei. Ainda vale ressaltar que a dobradinha com Gil Birmingham, que interpreta seu parceiro descendente de índios e americanos, rende alguns diálogos povoados de incorreção política, mas impagáveis. Pine mostra a habitual competência como Toby, o irmão assaltante que quer dar uma vida melhor pros filhos e Foster, como o irascível Tanner, também está muito bem em cena. Entretanto, Foster está se tornando um ator de um papel só, visto que o personagem se assemelha a vários outros da carreira do ator.

    Indicado ao Oscar de melhor filme, ator coadjuvante (Bridges), roteiro original e edição, A Qualquer Custo é um grande faroeste, com direito a estar no mesmo patamar de grandes clássicos do gênero.

  • Crítica | Star Trek: Sem Fronteiras

    Crítica | Star Trek: Sem Fronteiras

    cartaz

    É curioso como, hoje em dia, a tela de cinema precisa se desdobrar, entortar, capturar mais que 180º para conseguir dar conta de nos mostrar um universo, mais que plausível, que a tecnologia já consegue moldar, e uma câmera quase não consegue emoldurar mais. Nunca me esqueço de uma sessão em IMAX 3D de Gravidade, o clássico de Cuarón em 2013, quando, enquanto espectadores passivos que somos, nos deixávamos engolir pela tela e quase não conseguíamos tornar mensuráveis as dimensões à frente dos olhos, tamanha a escala obtida. Tudo muito grandioso, e assim, aos poucos, hipnotizados, de espetáculo em espetáculo, com exceção do já citado épico com Sandra Bullock e outros gatos pingados que sabem usar a tecnologia afim de algo maior que explosões e acrobacias, fomos nos esquecendo de que cinema não é apenas diversão, mas pode ser representação e conscientização social, especulação da nossa realidade, filosofia, palco para futuros triunfos científicos, e tudo o mais que a série Star Trek nos anos 1960 foi. Claro que este Sem Fronteiras, de 2016, não resgata tudo isso ao belo e desmotivado cinema de ação dos anos 2000, mas chega às maiores telas do mundo como um lembrete dos bons ao público – além de ser nostálgico, sem ofender a memória dos mais velhos.

    Tratada como uma caravela espacial forte, e quase indestrutível, comandada pela tropa de Kirk, Spock e cia., a espaçonave Enterprise é desmontada feito um castelo de lego, logo de cara, num impressionante uso de mise-en-scène interno e externo, muito bem orquestrado para sentirmos na pele a dor de um engenheiro ao ver as camadas e a estrutura interior de uma enorme construção ser implodida. É na subversão simbólica da principal personagem de Star Trek, ou seja, a nave que guia a todos, que percebemos a audácia e o desejo de voltar à essência e ao espírito de ficção-científica puro da era de ouro da TV. E o filme literalmente nos transporta àquela era, sendo mais um longo (porém rápido) episódio da série clássica, que uma continuação da ideia boba de prequel, dos dois outros regulares e moderninhos filmes da nova franquia. Não resta dúvida a relevância de Sem Fronteiras para a série ao compará-lo, mesmo que superficialmente, com os filmes de J.J. Abrams, pois este é, sem dúvida, o melhor exemplar da nova série dos exploradores cósmicos e seus buracos de minhoca, em plenos 50 anos terráqueos de suas viagens intergalácticas.

    Left to right: Simon Pegg plays Scotty, Sofia Boutella plays Jaylah and Chris Pine plays Kirk in Star Trek Beyond from Paramount Pictures, Skydance, Bad Robot, Sneaky Shark and Perfect Storm Entertainment

    Aqui, a história e a caravela de Cabral finalmente caem pelo abismo para, assim, elevar a qualidade do todo. Ao buscar criatividade e novos temas abordados nos rumos que o universo reciclado de Gene Roddenberry precisa tomar, ao invés de ficar jogando e tirando a Enterprise de buracos de minhocas e detritos espaciais como Abrams agora vai jogar Star Wars, aparentemente a série, com a ajuda do trekker e roteirista Simon Pegg, está disposta a encontrar seu lugar no atual cinema-pipoca, além de provar ser muito mais coerente e realista em seus princípios e, novamente, nos seus temas abordados, que o universo oriundo da mente infantil de George Lucas nunca foi capaz de alcançar. Star Trek parece ter achado seus nobres tom, bússola e paradeiro. Parece ter achado onde nasce suas alusões ao real e suas hipóteses futuras (Sulu, o comandante da nave, é assumidamente gay, uma representação sexual atingida antes pela quota racial em 1966 por Uhura, a primeira personagem feminina e negra a beijar um homem branco, na TV americana), afinal, antes de usarmos celulares, tablets, tradutores de idiomas e outras tecnologias, Star Trek apostava na futurologia e também nos preparou para o uso dos aparelhos – na época, parte de uma ficção hipotética, distante e científica.

    É o ímpeto por esta trilha perspicaz, indo à frente do seu tempo “aonde ninguém jamais foi”, que por fim acaba sendo refletido no uso inteligente, divertido e sábio da modernidade técnica que hoje tanto se explora (efeitos visuais e sonoros impressionantes), e isso não poderia ser de forma alguma melhor – e mais surpreendente, pois quem comanda o show é o até então inexpressivo Justin Lin, de Velozes e Furiosos. Um show despretensioso e equilibrado em suas motivações primordiais, mesmo tocando em vários assuntos, apostando no êxtase da nostalgia, da boa e velha ação, d’um bom e novo vilão (no ano que tivemos o desprezível Apocalipse de X-Men, um antagonista como Krall faz bem até aos olhos, por mais assustador que seja, e pelo fato de ser Idris Elba na pele do destruidor da Enterprise), mas tudo sem ignorar a especulação quanto ao rico universo em mãos, deixando jamais quaisquer personagens ou sub-tramas do filme de lado, sequer sub-aproveitadas, numa verdadeira ópera nas estrelas – e sempre apontando suas resoluções para frente.

    É esse sentido utópico, é tal reconhecimento idealista que se configura Star Trek, e por mais que Sem Fronteiras não carregue todos os motivos que fazem da série um triunfo da, e para, a cultura pop, já indica que os próximos filmes e a série recém-anunciada pela CBS e Netflix (Eba!) podem chegar a um novo futuro e conquistas, sem esquecer os louros de um passado eternamente presente, contudo não plagiado. Por isso, ao tecer tais expectativas e constatar os fatos, torna-se indiscutivelmente prazeroso, afinal, assistir a novos arranjos aos sonhos de antigos mestres do Cinema, como Meliès e Cecil B. De Mille, bem conceituados e aproveitados nas dimensões cada vez maiores da experiência extraída de uma tela, em prol de uma das matinês mais divertidas (e interessantes) de 2016. Nice job.

     

  • Crítica | Horas Decisivas

    Crítica | Horas Decisivas

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    Baseado no livro homônimo de Casey Sherman e Michael J. Tougias – com roteiro de Scott Silver e Paul Tamasy, e direção de Craig Gillespie – o filme conta a história, ocorrida em 1952, do naufrágio de dois petroleiros durante uma nevasca na costa de Cape Cod, Nova Inglaterra. Um barco de pequeno porte da Guarda Costeira consegue resgatar boa parte da tripulação de um deles, o SS Pendleton. O navio foi partido ao meio durante a tempestade, e a tripulação restante na metade que não submergiu luta para mantê-lo flutuando enquanto aguarda o resgate incerto.

    Uma vez que os oficiais do SS Pendleton estavam na parte que afundou, coube ao primeiro-engenheiro, Ray Sybert (Casey Affleck), a responsabilidade de orientar e comandar o restante da tripulação a fim de evitar o desastre iminente. Enquanto isso, no litoral de Massachussets, em Chatham, o oficial Daniel Cluff (Eric Bana) ordena que o capitão Bernie Webber (Chris Pine) organize uma operação de resgate apesar das condições adversas – por que não dizer? – suicidas.

    É uma temática que, mesmo sem saber qual estúdio produziu, seria fácil identificar como “filme Disney”. Há ali toda a ideologia de superação, de trabalho em equipe, de perseverança característicos das produções do estúdio. Os temas não são problema. O problema é a forma como são explorados no filme, do modo mais clichê possível, com frases de efeito que poderiam estar em para-choques de caminhão. E ainda há o agravante de que, por ser baseado em fatos reais, o espectador já começa a assisti-lo sabendo que os personagens terão sucesso e sobreviverão. Parte da tensão e do suspense já se vai aí.

    A narrativa alterna entre o navio prestes a afundar e Bernie com seus companheiros enfrentando o mar furioso em um barco diminuto. O que ocorre com a tripulação é extremamente tenso, com ótimas sequências de ação e momentos de suspense, contando com uma boa atuação de Affleck e dos demais, que conseguem manter o público interessado no futuro desses personagens. Por outro lado, Bernie é um personagem fraco, interpretado por um ator que carece de carisma, não conseguindo dar a Bernie a importância devida e, provavelmente por conta disso, incapaz de causar empatia com o público. Sem contar que o filme se inicia como se fosse uma história de romance água-com-açúcar, algo que talvez desencoraje muitos a continuar a vê-lo. E mesmo a única cena tensa na pequena embarcação – quando estão tentando ultrapassar os bancos de areia – perde força, pois já sabemos que eles conseguirão. Os roteiristas despenderam tempo mostrando as inúmeras tentativas de Bernie, enquanto poderiam ter optado por prolongar as cenas da tripulação do navio, onde realmente estava a tensão da narrativa.

    Não há dúvida de que os personagens são estereotipados. De um lado, Bernie, um oficial cujos companheiros não confiam e que não consegue impor respeito, principalmente por fazer tudo conforme as regras, mas que no final se redime ao tomar atitudes que garantem o resgate dos 32 tripulantes. De outro, Sybert, o engenheiro confinado à sala de máquinas do petroleiro, desprezado pelos demais e que acaba se tornando o herói relutante, por ser o único em condições de juntar a tripulação, já que era o único a ter ideia do que fazer para mantê-los vivos. A diferença é que Affleck dá a Sybert tridimensionalidade e torna-o um personagem que gera interesse do público. Enquanto que a atuação de Pine não muda de tom, mesmo depois de infringir as regras para efetuar o resgate ou após conseguir resgatar a todos.

    Ainda que visualmente o filme seja agradável, com a direção de fotografia de Javier Aguirresarobe – conhecido por seu trabalho em Os Outros -, o roteiro falha em manter o ritmo da narrativa, resultando em excessos que dão vontade de abandonar a história antes do desfecho. E se a fotografia é boa – exceto nas cenas românticas -, o mesmo não se pode dizer da trilha sonora que, excessiva, quer se fazer presente a qualquer custo, insistindo em conduzir os sentimentos do espectador.

    Longe de ser um épico, longe mesmo de ser memorável, é uma aventura Disney que enaltece o heroísmo e o espírito de equipe. Deixe-se assistir, apesar do romance mal encaixado e da falta de ritmo nas cenas do barco de resgate.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Quero Matar Meu Chefe 2

    Crítica | Quero Matar Meu Chefe 2

    Quero Matar Meu Chefe 2 - Poster BR

    Após os acontecimentos de Quero Matar Meu Chefe, o trio protagonista torna-se famoso ao participar de um programa de entretenimento matinal para falar sobre a sensação de ser seu próprio chefe, invertendo o paradigma do episódio original. A direção de Sean Anders diferencia-se demais da do anterior, Seth Gordon, por ter uma linguagem bem mais popular, a começar pelo fracasso de inserir uma tentativa de empreendedorismo de Nick, Dale e Kurt (Jason Bateman, Charlie Day e Jason Sudeikis respectivamente), transformando os três no centro da patetice da fita.

    O novo algoz do grupo é o magnata Bert Hanson (Christoph Waltz), um alto investidor que tem a chave para o sucesso dos protagonistas, podendo alavancar o produto que eles inventaram para, enfim, tirá-los do fardo de ter de trabalhar com patrões. A recusa inicial de seu filho, o jovial Rex Hanson (Chris Pine) é devido ao investimento considerado de alto risco. Logo, a persona de Bert se mostra tão controversa quanto a de seus antigos patrões, emulando a personalidade imbecil e incluindo um golpe financeiro.

    Após uma reunião sem qualquer apelo à realidade, os personagens decidem se vingar de Hanson, pensando em assassinato – artifício impossível para eles, inaptos – ou um sequestro do filho do milionário. Para prosseguir no plano, eles decidem pedir conselho ao único assassino que conhecem, Dave Harken (Kevin Spacey), o qual está preso e faz questão de humilhá-los, tratando-os como os idiotas, o que realmente são, ao agirem de modo tão infantil na parte 2. O comportamento do grupo era o mesmo de pessoas normais, que agem imbecilmente perante as situações nas quais não estão acostumados, como americanos medianos com o objetivo de assassinar pessoas próximas. O que antes era reação normal torna-se um comportamento padrão, o que é claramente desagradável e demasiado óbvio.

    A edição do filme, com narração e destaques dos defeitos dos personagens, é abandonada, fato utilizado principalmente para diferenciar o trabalho de Anders ao de Gordon. Com isso, um dos pontos mais charmosos do primeiro filme se perde, com o formato voltado para uma comédia de erros pura e simples, uma fórmula que lembra muito a de Se Beber, Não Case! Parte II, obra que explora personagens conhecidos do público em situações ainda mais controversas do que as vistas anteriormente.

    Apesar da tentativa de explorar outra vertente, não há nada de inovador na produção, pelo contrário. Quase todas as situações são repetidas, desde o já comum comportamento de Jason Bateman, que faz de Nick ainda mais parecido com o inseguro protagonista de Arrested Development, Michael Bluth, até os absurdos mostrados em tela. Mesmos as reviravoltas, que visam perverter os arquétipos de vilões e mocinhos, soam bastante forçadas. Sequer a pseudo-mudança de gênero para um filme de assalto, debochando de filmes recentes, como Truque de Mestre, salva o roteiro da mediocridade em que estacionou.

    O último dos plot twists até chega a surpreender, uma vez que os elementos antes mostrados não faziam desta reviravolta algo plenamente previsível. Alguns dos dramas vividos no final de Quero Matar Meu Chefe são reativados, com direito à repetição de papéis de Jamie Foxx como Motherfucker Jones, e Jennifer Aniston como a ninfomaníaca Julia Harris. Apesar deste ser o momento mais engraçado e nonsense do filme, não chega ao ápice de justificar os excessos dos quase 110 minutos de exibição, que, retirada a quantidade exorbitante de excedentes, mal completaria uma hora de exibição.

    Quero Matar Meu Chefe 2 é bastante inferior ao seu antecessor, como já de esperar, mas falha demais ao tentar fugir de um estereótipo para se prender em um ainda mais vexatório e repetitivo, em que até a química dos três interpretes é decrescida apenas para fortalecer o estabelecimento de uma franquia, isentando o produto final de qualquer substância e conteúdo relevante.

  • Crítica | Operação Sombra: Jack Ryan

    Crítica | Operação Sombra: Jack Ryan

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    O personagem Jack Ryan, criado pelo autor Tom Clancy, já esteve nas telas de cinema ao ser interpretado por vários atores: Alec Baldwin – em Caçada ao Outubro Vermelho; Harrison Ford – em Jogos Patrióticos e Perigo Real e Imediato; e Ben Affleck – em A Soma de Todos os Medos. Em todos, o intérprete sempre teve mais peso que o próprio personagem. Motivo suficiente para, que desta vez, o nome esteja no título (assim como estão Bourne e 007).

    Diferente dos demais, a trama não é adaptação de uma das obras de Clancy. Em parte prequel, em parte reboot, o roteirista David Koepp ambienta a história do jovem Ryan (Chris Pine) em tempos mais modernos, após os eventos de 11 de setembro – originalmente, o personagem nasceu nos anos 50. O espectador fica sabendo como Ryan conheceu sua esposa Cathy (Keira Knightley) e como foi o acidente que destruiu sua coluna e o deixou com a eterna dor nas costas. Após dar baixa do Exército, Ryan é abordado por Thomas Harper (Kevin Costner) que lhe faz a proposta de ajudar seu país de outra forma: ingressando na CIA como um analista. E como nos demais filmes, rapidamente ele deixa de ser apenas um analista e passa a atuar como um agente de campo, depois de descobrir os planos de Viktor Cherevin (Kenneth Branagh) de desestabilizar a economia dos EUA.

    Difícil não comparar esse Jack Ryan repaginado com Jason Bourne, principalmente nas poucas (e boas) cenas de luta – a do banheiro é de prender o fôlego – ou sequências de suspense. Não é demérito, uma vez que a fórmula usada nos filmes de Bourne funcionou bem a favor do personagem. Contudo, exceto por esses trechos mais tensos, a trama é bastante linear e poderia se enriquecer muito com subtramas que gerassem algumas reviravoltas a mais na história. Reviravoltas sim, mas não cenas tão aceleradas que são feitas desse modo apenas para encobrir imperfeições e falhas de roteiro que seriam percebidas mais facilmente se o espectador pudesse parar para refletir um pouco.

    Bem, e já que o personagem parece-se com Bourne, é justo que o ator tenha um porte físico semelhante ao dele e consiga convencer o público de sua capacidade de partir para o confronto físico quando necessário, mesmo que não seja a coisa mais agradável do mundo. E Pine é bastante competente nesse quesito. Knightley está ali basicamente como enfeite, apesar de haver um outro momento de comicidade causado pela sua ignorância a respeito do emprego real de seu marido. Branagh, que também dirige, dá credibilidade a seu vilão, inclusive disfarçando bem a dublagem de suas falas em russo.

    Enfim, um reboot de um personagem que talvez se afirme melhor nos possíveis próximos filmes. Um filme de ação divertido e nada mais.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Operação Sombra: Jack Ryan

    Crítica | Operação Sombra: Jack Ryan

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    Kenneth Branagh fez sua carreira como diretor muito calcada em adaptações shakesperianas, como Hamlet, Henrique V, Muito Barulho por Nada. Sua última produção foi o marvel movie Thor, onde seus préstimos foram provados e até aplaudidos, dado o nível de qualidade do produto. O próximo passo do artista, seria adaptar uma história de Jack Ryan, protagonista de dezenas de thrillers de espionagem do autor Tom Clancy, e já levado ao cinema em algumas oportunidades. O ator escolhido seria Chris Pine, amparado por um elenco estrelado, com Kevin Costner, Keira Knightley e o próprio diretor. O roteiro foi produzido especialmente para o filme, somente tomando emprestado elementos dos livros, mas com o mote inédito.

    A maturidade da lente de Branagh é logo notada, pela fotografia competente, remetendo a abordagens de conterrâneos seus, como Christopher Nolan e Paul Greengrass. A influência deste último também é facilmente notada nas cenas de tensão, com câmera mais móvel e trêmula, mas Jack é claramente muito menos preparado e seguro que Jason Bourne, ele é passível de erros, é falho e mais condizente com a realidade.

    Mesmo não sendo tão perito quanto outros superespiões, sua maior prova de humanidade não é a inabilidade ou inexperiência no campo, mas sim a dificuldade em levar uma dupla identidade e conciliar sua vida pessoal, tendo o receio constante de decepcionar sua parceira e cônjuge, Cathy (Knightley), não podendo estar presente na maioria dos encontros típicos de um casal graças a natureza de seu trabalho, e claro, a sensação de paranoia que envolve toda a sua rotina, mesmo quando ele está (supostamente) fora de ação. Seu ofício não permite folgas, ele sempre tem que estar alerta e ele ainda demora um pouco para se convencer de que dividir o foco de sua atenção é demasiado difícil.

    As discussões entre o casal pareciam ser levadas para um lado mais sério e trágico, mas ganham contornos agridoces e até bem humorados, visto o alívio de Cathy ao descobrir que seu par não a traía. O senso de proteção dele faz com que eles se afastem, e a desconfiança da moça aumenta ao perceber que ele não confia nela, não por esta não ser digna, obviamente. A união entre os dois só é estabelecida através de um objeto simbólico – uma aliança de noivado.

    Os raptos e subterfúgios comuns a filmes de espionagem são construídos de modo que o espectador realmente teme pela vida dos personagens, no entanto este é um dos poucos pontos positivos deste quesito, uma vez que falta um suspense maior e a sensação de frio na barriga não é tão intensa. Há demasiadas cenas de Ryan auxiliando as investigações, e elas pouco acrescentam a trama principal, as gorduras da edição são facilmente notadas, o que é um erro cabal para um realizador experiente. Tais momentos buscam enfatizar a reticência e o método do investigador, mas acabam caindo na redundância.

    O final se conecta ao começo, valorizando a paranoia ligada ao terrorismo, presente no ideário do cidadão estadunidense há muito e piorado com o episódio de 11 de Setembro, o alvo coincide inclusive com o local que seria atingido, tornando a questão ainda mais pessoal para o herói da jornada. A falta de ação nas cenas de perseguição das partes médias do filme são compensados com o ritmo frenético da tentativa de atentado à “Grande Maçã”. Os signos visuais mostram a derrota do personagem de Branagh – Viktor Cherevin – antes mesmo dele ter a confirmação de seu fracasso, a escolha por deixar as partes inteligentes para seu personagem demonstram um pouco de vaidade e preciosismo do diretor, mas não chegam a atrapalhar tanto quanto as suas inserções em meio a trama de sequestros e rivalidades com o protagonista.

    O desfecho mostra o agente sendo chamado a uma sala privativa, supostamente na Casa Branca, aludindo a clara intenção de não só ter a continuação da franquia, como a subida de nível que Jack fez por merecer. Há referências a Cassino Royale de Martin Campbell por também rebootar uma saga, ainda que haja uma maior preocupação neste de preservar o máximo de realismo mais palpável do que seus primos mais tradicionais.

  • Crítica | Star Trek (2009)

    Crítica | Star Trek (2009)

    61 - Star Trek (Jornada nas Estrelas)

    Quando foi anunciado que J.J. Abrams seria o novo responsável por trazer de voltas às telonas a franquia Star Trek, confesso que não me importei, porque nunca liguei muito para essa franquia (e também porque naquela época ele não era tão conhecido quanto hoje). Não sei bem as razões, mas nunca tive vontade de ver a série em qualquer das gerações ou nenhum dos filmes. Talvez pela quantidade e pela eternidade que iria levar ver tudo, mas, mesmo assim, algumas características dos personagens e bordões criados pela série eram familiares, tamanha é a influência de Star Trek na cultura pop. Portanto, eu era o público-alvo do filme tanto quanto qualquer pessoa que não tivesse o mínimo de conhecimento da saga.

    Nesse aspecto, posso dizer que o filme agradou. Ao dar uma nova roupagem e modernizar os personagens, J.J. Abrams consegue criar um universo verossímil, mesmo fazendo algumas alterações que poderiam causar estranheza aos fãs da série clássica.

    O filme se inicia contando a história do pai do capitão James T. Kirk (Chris Pine) e como ele é morto por um ataque de romulanos e consegue salvar a vida de milhares de pessoas. Logo depois, vemos Kirk crescendo como um jovem impulsivo e que sempre testa seu limite, e o dos outros, na busca por emoções e desafios. Também nos é apresentada a origem de Spock (Zachary Quinto) em seu planeta natal, Vulcano, contrastando sua metade humana com sua metade vulcana, e como isso afeta e afetará sua vida. O que faltou foi um maior desenvolvimento aos outros personagens, como Dr. Leonard McCoy (Karl Urban), tornando a trama excessivamente centralizada em Kirk e Spock.

    A trama é relativamente simples, porém se utiliza de subterfúgios muito comuns em filmes do gênero quando os roteiristas estão encurralados sem saber para onde ir: a viagem no tempo. Porém, a forma como ela é usada serve de propósito ao desenvolvimento da história, então neste aspecto soa natural, apesar de essa mesma história ser contada no ritmo frenético que a ação moderna exige, fazendo com que o espectador possa se perder às vezes.

    O assassino do pai de Kirk, o romulano Nero (Eric Bana), volta no tempo para destruir os planetas de todos aqueles que não fizeram nada para evitar a destruição de seu planeta no futuro, e consegue efetivamente destruir o planeta Vulcano, para o desespero de Spock. No entanto, seu próximo alvo é a Terra, e algo precisa ser feito para impedi-lo.

    Enquanto Kirk e Spock ainda não são amigos e lutam para conseguir se manter no mesmo ambiente, Kirk é colocado para interagir com Leonard Nimoy, o eterno Spock da série clássica, tanto para explicar a questão da viagem no tempo, como para agradar os velhos fãs, pois só mesmo uma pessoa totalmente alienada da cultura pop não reconhecerá o rosto do velho ator, que dá uma boa contribuição, juntamente ao personagem Scotty (Simon Pegg), que garante boas risadas como o alívio cômico. Porém, o vício de Abrams em explicar demais a história para não correr risco de nenhum espectador perder o fio da meada também torna a sequência desnecessariamente longa e arrastada em seu final. No final, Kirk e Spock percebem que se completam, assim como todo o restante da equipe que encaixa muito bem nos novos atores, e conseguem enfrentar o vilão Nero em boas sequências de batalhas.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Além da Escuridão: Star Trek

    Crítica | Além da Escuridão: Star Trek

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    O novo Além da Escuridão – Star Trek comprova que J.J. Abrams conseguiu o que parecia impossível: unir todo o universo da franquia sem atrair a ira dos fãs – que levam muito a sério o assunto e costumam não ser tolerantes com o que consideram infidelidade. J.J. fez uma reciclagem de temas, conflitos e personagens. E obteve o que muitos filmes recentes não alcançaram: pegar um universo incrustado na cultura pop, fortemente associado a atores diferentes dos que dispõe e, de alguma forma, fazer com que todos se importem como antes, colocando o entretenimento de qualidade para caminhar lado a lado com a inteligência.

    Se, no primeiro filme que assinou, o diretor introduziu personagens famosos da série, optando por contar de onde eles vieram e como se tornaram cadetes, até virarem heróis, neste, J.J. esmiúça como as relações de respeito, amizade e carinho entre eles foram pavimentadas. O diretor usa o passado para criar algo novo. Presta uma grande homenagem à série, aos filmes e aos personagens. Se já tinha adiantado isso em relação a Kirk e companhia, ele agora causa impressão com outro ícone da franquia, o vilão Khan, o mais famoso de Jornada nas Estrelas, que ganhou uma roupagem completamente diferente na ótima interpretação de Benedict Cumberbatch (o Sherlock Holmes do seriado homônimo atualmente no ar na TV). O caso é o mesmo do Coringa de Batman, que, quando feito por Jack Nicholson no filme de Tim Burton, em 1989, parecia imbatível, até que Heather Ledger se apossasse do personagem na trilogia criada por Christopher Nolan. Este, por sinal, também foi uma influencia para J.J., não só nos temas, mas também nas belas imagens capturadas em IMAX, depois que o diretor de Star Trek assistiu, a convite do próprio Nolan, a O Cavaleiro das Trevas Ressurge.

    Apesar das várias referências que vão emocionar os fãs de primeira hora, Into Darkness também foi concebido para entreter o público que nunca foi ligado a esse universo. É um filme de ação feito com habilidade – um filme em que a ação está sempre a serviço da trama. É interessante que J.J., junto com o diretor de fotografia Dan Mindel, use o mínimo possível de truques de CGI nas cenas que envolvem atores e movimento – e, com isso, obtenha uma boa dose de realismo, mesmo nas sequências mais fantasiosas. Percebe-se que há uma aura de tensão constante sem que ela seja gratuita ou interfira na trama.

    Um grande mérito é que o novo filme faz exatamente o que a série sempre fez: usar um cenário futurista para fazer um comentário contemporâneo sobre algum tema em voga na sociedade – no caso, o terrorismo; suas causas e consequências; a legitimidade, ou não, de se criar uma guerra com o objetivo de eliminar uma ameaça futura; a necessidade bélica do ser humano; os limites do militarismo; e os que servem à guerra ao terror. Into Darkness apresenta alguns conflitos morais complexos, como os bons roteiros de Star Trek sempre fizeram. Um dos questionamentos parte de uma intenção de se matar um homem sem um julgamento justo, sob a alegação de que ele é terrorista. O filme é, em última instância, uma alegoria transparente de uma reação desproporcional contra um ato de terror. Bem de acordo com as crenças de Gene Roddenberry, a narrativa se concentra nos valores humanos e no papel do indivíduo dentro da sociedade. E, mesmo com tudo de espinhoso que o filme retrata, a visão otimista de Roddenberry está presente. Em Star Trek, o futuro convive bem com o passado: naves sobrevoam a cidade de São Francisco, enquanto os nostálgicos bondinhos continuam lá servindo a população.

    J.J. demonstra que, até a chegada desse otimismo, não foi fácil e houve uma longa caminhada. O roteiro de Roberto Orci e Alex Kurtzman recebeu um tratamento de primeira de Damon Lindelof, parceiro de longa data do diretor e também um dos responsáveis pelo fenômeno Lost na TV. Outra característica desse estilo de roteiro, que também esteve presente em Os Vingadores, sucesso no ano passado, é o aprendizado de lições de vida por parte dos personagens icônicos, como a do papel de um líder, para Kirk, e a da complexa fronteira entre a lógica e a sensibilidade, para Spock, isso tudo entre outros temas que se prestam ao escrutínio, como a amizade, a lealdade, a ética e as regras. Por trás da mensagem de “explorar novos mundos”, existe o descobrir a si mesmo.

    A descoberta de Spock é um tema à parte. O ator e diretor Leonard Nimoy, apesar de muito grato à sua vida profissional e de ser um entusiasta de Jornada nas Estrelas, logo quando a série clássica foi cancelada, foi o que mais renegou seu passado a serviço de seu personagem (inclusive, com o livro Eu Não Sou Spock). Mas é ele a ponte para a chegada do novo elenco. Esta é sua oitava participação em um filme da franquia feito para o cinema. São as ironias do destino – que é altamente ilógico.

    O mestre de J.J., o cineasta Steven Spielberg, também recebe seu tributo, engendrado na cena inicial – uma clara homenagem ao começo de Caçadores da Arca Perdida. Não é à toa que a célebre revista Cahiers Du Cinéma aponta J.J. Abrams como legítimo sucessor de Spielberg. E J.J. Já deu mostras de pode ir além: onde nenhum diretor jamais esteve.

    Texto de autoria de Mario Abbade.