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  • Crítica | Stretch

    Crítica | Stretch

    Ainda que o diretor Joe Carnahan tenha ótimos trabalhos como Narc e A Perseguição, Stretch não foi lançado em circuito. Relegado ao lançamento on demand, o longa está no catálogo da Amazon Prime Vídeo escondido pela miniatura de um pôster muito feio de divulgação. Porém, não se enganem. Além de contar com Carnahan na direção e roteiro, possui um grande elenco com como Patrick WilsonBrooklyn Decker, um quase irreconhecível Chris Pine, Ed Helms, Jessica Alba, Ray Liotta e outros.

    O filme conta a história de Kevin “Stretch” Bryzowski, um motorista de limusine que está se esforçando para superar seus vícios em drogas e jogos de azar, além de uma decepção amorosa. Porém, ainda endividado até o pescoço, o chofer aceita o trabalho de conduzir um excêntrico bilionário conhecido por dar grandes gorjetas a quem lhe presta serviços.

    Diretor e roteirista, Carnahan já de início imprime um ritmo ágil ao filme, com diálogos rápidos e cenas movimentadas que vão apresentando os personagens e suas motivações. Nota-se que há um carinho em retratar o protagonista, mas em nenhum momento ele é mostrado como alguém que o espectador deve se compadecer. Ao contrário, ele mostrado como alguém consciente das escolhas erradas que faz ao longo da vida e que agora precisa se virar para resolver seus problemas. Isso é potencializado pela ótima interpretação de Wilson.

    Situações absurdas ocorrem em escala gradual, mas em nenhum momento o filme parece inverossímil. Todos os atos tem consequências, que se não são imediatas, influenciam diretamente em outros momentos do longa. Nada fica impune em Stretch, nem mesmo as boas ações. O diretor trabalha muito bem a tensão e há uma boa dose de comédia durante o filme, principalmente nos momentos em que Helms está em cena, ainda que em vários momentos os risos são de nervoso, posto que a situação do momento, ainda que cômica, pode representar até mesmo o fim da vida do protagonista. Carnahan faz ainda um ótimo trabalho de direção de atores de todo o elenco de coadjuvantes, principalmente Pine. O Capitão Kirk dos novos Star Trek está especialmente surtado como o bilionário que é a razão da noite insana que Stretch enfrenta.

    Não se deixem enganar pela figurinha que retrata o péssimo pôster de divulgação. Stretch é um ótimo e injustiçado filme que não teve o merecido destaque à época de seu lançamento.

  • Crítica | O Fantasma da Ópera (2004)

    Crítica | O Fantasma da Ópera (2004)

    Em 2004, Joel Schumacher lançou sua versão para O Fantasma da Ópera, começando seu drama sem cores, remetendo ao clássico de 1925, de Lon Chaney. Somos apresentados ao Teatro de Ópera Popular de Paris, com os espetáculos sendo organizadas, até que o patrono do lugar, LeFevre (James Fleet), anuncia sua aposentadoria, liberando o papel para que Raoul de Ghagny (Patrick Wilson) seja o novo financiador do negócio, junto ao seu pai, Firmin (Ciarán Hinds).

    Esta versão se foca bastante na trama romântica, apresentando as bailarinas, Meg Giry (Jennifer Allison) e Christine Daee (Emmy Rossum), por meio de uma conversa sobre o novo responsável pelo lugar, além da busca pelo sucesso como artistas. Quando a diva Carlotta Guidicelli (Minnie Driver) se retira, abre uma oportunidade para Christine ir ao centro do palco.

    As músicas de Andrew Lloyd Webber são impecáveis, o desempenho vocal do elenco é igualmente acertado. Até Batman & Robin, lançado sete anos antes havia uma aura mais fantasiosa e colorida típica dos musicais, aqui o que se vê é uma segurança e austeridade tão desnecessárias que soam até covardes. Talvez tenha sido a crítica frequente ao diretor que não o permitiu um pouco de ousadia, optando por trabalhar numa linha mais conservadora.

    Sobre o Fantasma, a maioria dos personagens é bastante consciente sobre a lenda que ronda o teatro, ao ponto de se falar abertamente sobre deixarem um camarim vazio para ele – e até mesmo um salário. Talvez o maior pecado do filme resida exatamente no papel principal, Gerard Butler tem uma presença que varia entre uma face calma e tediosa, e um lado histérico-agressivo que até faz convencer. No entanto o ator é irregular, acertando em alguns pontos, mas seu tom dramático não convence nenhum pouco.

    Os acertos de Schumacher moram nas cenas de ação, a luta de espadas entre o Fantasma e Raoul é bem feita, mas o filme carece de identidade. Se comparar com versões musicais com outro diretor de filmes do Batman, Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet de Tim Burton por mais criticado que seja, tem a cara de seu cineasta, e Schumacher parece mais preocupado em trazer uma versão austera, segura e econômica. Seu filme carece de alma, nenhuma atuação sai do tom, é tudo muito higiênico, e os protagonistas masculinos são fracos.

    Emy Rossum tenta salvar o filme, mas não tem força suficiente para isso. Quanto a música de Webber funcionam à perfeição, assim como todo o design de produção de Anthony Pratt. O ato final carece de verve e emoção, Wilson e Butler não repetem os bons momentos do primeiro duelo, o que é de fato uma pena, pois um musical prescinde de um final apoteótico, e aqui é bastante anticlimático. Schumacher poderia ter ter feitos escolhas melhores.

  • Crítica | Midway: Batalha em Alto Mar

    Crítica | Midway: Batalha em Alto Mar

    O cinema de Roland Emmerich normalmente trata de eventos megalomaníacos, com filmes de ação frenéticos – Independence Day e Godzilla – e cinema-catástrofe – O Dia Depois do Amanhã e 2012. Este Midway: Batalha em Alto Mar é baseado na história real de um ataque da Segunda Guerra Mundial, em 1942, no Pacífico.

    O início do filme se dá em um cenário onde militares de alta patente e de nações diferentes discutem sobre os rumos da guerra, mas de modo bastante raso, ignorando as razões que fizeram o conflito resultar naquele fatídico ano de 1942. Chega a ser engraçado como a reconstrução dos anos quarenta faz o longa parecer pomposo, enquanto o sangue dos soldados e marinheiros americanos escorre pelo assoalho dos navios. Emmerich jamais foi um diretor de sutilezas, mas ao menos esses elementos tão diferentes se harmonizam bem, ao contrário do que a premissa faz pensar.

    O longa é um autêntico exemplar de cinema propaganda. Se na época da elevação do III Reich, Joseph Goebbels e Leni Riefenstahl faziam da arte uma forma de valorizar o discurso nazista, Midway serve não só para louvar os combatentes, mas também glorificar o instinto bélico que as autoridades estadunidenses parecem ter como ideal e natureza. Ao menos o realizador não é tão demorado quanto Michael Bay é em Pearl Harbor a assumir que seu produto é somente um exemplar genérico da propaganda de guerra dos EUA.

    O elenco com Ed Skrein, Dennis Quaid, Patrick Wilson, Luke EvansWoody Harrelson serve apenas para trajar seus uniformes de batalha e discutirem estratégias militares de forma genérica, sem qualquer aprofundamento em suas personalidades ou no cotidiano de qualquer um deles, e até mesmo quando suas famílias são mostradas não há nada que fuja do clichê ou do usual.

    Emmerich não consegue causar impacto ou empatia com nenhum de seus personagens, a maioria dos soldados não rompem com qualquer condição que fuja de seus arquétipos, e desse modo, é difícil se identificar com qualquer um deles, tampouco se importar. Midway: Batalha em Alto Mar é dispensável e rasteiro, e isso são péssimas qualidades para um filme de guerra.

  • Crítica | Annabelle 3: De Volta Para Casa

    Crítica | Annabelle 3: De Volta Para Casa

    Annabelle 3: De Volta Para Casa é mais um dos spin offs de Invocação do Mal, dirigido por Gary Dauberman, o roteirista de It A Coisa, A Freira, Annabelle, Annabelle 2: A Criação do Mal e outras fitas de terror recente (a maioria, de gosto bem duvidoso), alem de ser produtor e escritor desta nova versão já cancelada de Swamp Thing, o Monstro do Pântano. A promessa é que esta versão será a ultima da franquia da boneca maldita, e isso é muito esperado, dado que o resultado do filme não é sensacional, tal qual o restante da saga de Annabelle.

    O ponto de partida do roteiro de Dauberman (que teve a ideia do argumento junto a James Wan) é que houve um erro de julgamento com Annabelle, uma vez que ela é um condutor de espíritos, não um receptáculo dos mesmos – os espíritos são na verdade ávidos por corpos de carne, e não por um objeto inanimado – além de funcionar também como um imã desses mesmos seres espirituais. Portanto, ela é como uma estrada para esses seres sobrenaturais, e não um fim em si, e isso não é uma má ideia, a problemática mora em como é desenvolvido tal conceito.

    Esse aspecto é o mais positivo de todo o filmes, especialmente quando se discute a influência dos espíritos, distinguindo bem os que já foram humanos (fantasmas) e os provindos do inferno (demônios). Apesar de um bocado didática, esse é o momento mais inspirado de toda a história, que aliás, é muito apegada a Invocação do Mal, chegando ao ponto de mais parecer uma  parte 3 da saga Conjuring do que continuação dos Annabelles, em atenção ao que foi feito em Sobrenatural – A Origem, que era, como esse, uma prequel dos eventos em Sobrenatural, tal este é nas  aventuras em longa-metragens de Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga). O começo engana, tem bons momentos, e até os jumpscares são tímidos. Detalha bem o aprisionamento do mal  e expande de certa forma a mitologia dos Warren, uma vez que ele é focado em Judy, a filha do casal vivida por Mckenna Grace, e nas adolescentes que cuidam dela, a babá Mary Ellen e sua amiga Daniela, interpretadas pelas belas Madison Iseman e Katie Sarife. Apesar de nenhuma delas ser um primor dramático, elas não comprometem, e sabem gritar, fazendo um bom papel como Scream Queens, e em certo momento, se arranha a possibilidade de discutir assuntos mais sérios.

    Embora a premissa pareça levar o filme a um rumo mais maduro, rapidamente a ideia é abandonada, para apostar em velhas formulas de terror. A mistura da ideia juvenil de babás utilizando a estadia em uma casa sem pais para transar é pervertida, mas de um modo bem diferente do visto em A Babá de MCG, em compensação, se explora demais o clichê da casa assombrada, incluindo referencias a clássicos como Poltergeist, A Casa do Espanto e Amityville, da maneira mais óbvia possível.

    O fato de Judy também ser médium (ou psíquica, como dito no próprio filme) é ótimo, e abre chances de explorar bons dramas, mas os Warren certamente não seriam tão pouco prevenidos, guardando tantos artefatos malignos sem maiores prevenções e escondendo chaves em locais de fácil alcance, e a forma como Annabelle 3 desenrola sua historia é muito fraca. Parece um capítulo resumo tipico das series de terror, funcionando como uma coletânea de bons momentos, ainda que aqui, nada seja desenvolvido, só há sugestão de muitos elementos, uma junção de conceitos que não dariam um filme solo.

    O fim do arco se resolve rápido, quase como uma formula instantânea, não há praticamente nenhuma consequência, alem do que todo o ato final é montado em cima de cenas e sequências bastante piegas, chegando a ser ofensivos a memoria de Lorraine Warren, que morreu recentemente, mesmo levando em conta a coincidência espiritual entre a filha e a mãe. Nem a questão da solidão e bullying são levadas a frente, uma pena, pois faz esse Anabelle 3: De Volta Para Casa parecer raso, bobo e extremamente desnecessário, além de fechar mal uma trilogia de filmes focados na boneca que conduz demônios de maneira melancólica, sem que tenha qualquer filme razoável.

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  • VortCast 59 | Aquaman: O Filme

    VortCast 59 | Aquaman: O Filme

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira) e Filipe Pereira (@filipepereiral) batem um papo sobre o novo filme da DC Comics/Warner Bros: Aquaman. Neste podcast, saiba o que esperar do filme do Rei dos Mares, qual a melhor fase do personagem nos quadrinhos e como podemos vencer o monopólio da Disney/Marvel nos cinemas.

    Duração: 46 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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  • Crítica | Aquaman

    Crítica | Aquaman

    O futuro da DC no cinema é uma incógnita, mais por conta dos bastidores do que pela recepção dos filmes. Tal qual foi com Mulher-Maravilha de Patty Jenkins, a versão de Aquaman de James Wan gerou muita expectativa e o resultado como  stand alone é muito bom, principalmente por essa historia ter fôlego independente de Liga da Justiça e Batman vs Superman onde Jason Momoa já havia interpretado Arthur Curry.

    A história começa mostrando a origem do personagem, narrado pelo próprio Aquaman, que descreve como Tom Curry (Temuera Morrison) conhece Atlanna (Nicole Kidman), em uma situação que soa um pouco bizarra pela configuração do encontro, assim como também causa estranheza os efeitos especiais que não conseguem se encarregar da tarefa de rejuvenescimento de Morrison. Após uma separação forçada dos pais, Arthur segue na superfície. Não demora para a ação se desenrolar, e Wan não tem vergonha alguma de se assumir como um filme despretensioso e canastrão, pois sempre que o vigilante é acertado e não cai, toca-se um riff de guitarra ao estilo rock and roll, e nesse ínterim, se introduz a figura vilanesca do Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II), um personagem que age de maneira raivosa e unidimensional, mas que tem uma boa justificativa para ter ressentimento com o personagem-título.

    As partes abaixo da água fazem lembrar o carnaval de cores de Fúria de Titãs e sua continuação, em especial com as cenas envolvendo a nobreza atlante. Demora a acostumar com o visual, mas depois do estranhamento as reuniões entre o rei Orm (Patrick Wilson), irmão e filho legítimo daquele povo e Nereus, interpretado por Dolph Lundgren que ostenta uma belíssima peruca digital. As batalhas na água são muito bem feitas e a física faz muito sentido. Um dos maiores receios dos fãs era em relação a esses combates se dava na utilização dos efeitos especiais, o que se mostrou totalmente infundada.

    A psicodelia do visual das cidades submarinas é bem explicada pelo mentor Vulko (Willem Dafoe), que ao treinar o futuro herói, diz que a visão dos atlantes é mais aguçada e por isso se nota uma textura de luz diferente da superfície. Da parte do texto, há alguns problemas com a insistência no clichê de homem ressentido que culpa todo um povo pela exclusão de sua mãe, e essa questão mesmo no final não faz muito sentido, em especial com o rumo que as coisas tomam.

    Outra questão um pouco incômoda é em relação a aliança dos vilões, não há preocupação em criar uma dualidade neles, são maniqueístas e mal intencionados ao extremo e isso não combina por exemplo com a vingança eco-terrorista de devolver à terra o lixo produzido pela superfície. Mas tecnicamente o filme é muito bem construído, as referências steampunk no visual da Atlântida quando ainda estava na superfície é absurda, assim como a justificativa para a alta tecnologia, como eram com as amazonas de Themyscera. Ao mostrar o exemplo de Mera e Atlanna há uma boa exposição de como o machismo e o patriarcado funcionam no reino dos homens seja em terra ou em mar. Apesar de não haver tanto aprofundamento dessa questão, a discussão sobre mestiços e imigrantes é muito bem explicitada.

    As cenas de ação poderiam ter ficado mais reservadas ao filme, muito do impacto na parte inicial e no meio é perdido por conta do material de divulgação, mas no final as sequências inéditas são eletrizantes. As criaturas selvagens do Reino do Fosso são visualmente assustadoras, e funcionam quase como um legado de horror de Wan. Toda a mitologia do personagem é muito bem explorada  apesar de não gastar muito tempo explicando.

    A luta final peca um pouco por soar genérica, com muito slow motion entre o Aquaman já todo paramentado e com o Mestre dos Oceanos. Aquaman é divertido como se espera de um filme escapista de herói, que obviamente tem preocupações mercadológicas em vender merchandising mas que ainda arruma tempo para dar vazão a algumas discussões.

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  • Crítica | O Passageiro

    Crítica | O Passageiro

    Não é surpresa para ninguém a faceta recente de brucutu que Liam Neeson assumiu para sua carreira. Com o tempo, ele ainda continuou fazendo um ou outro papel dramático, mas seus tentos maiores no cinema tem sido os de action hero idoso. Depois da trilogia Busca Implacável, ele também passou a fazer filmes em parceria com Jaume Collet-Serra (Águas Rasas). Desconhecido, Sem Escalas e Noite Sem Fim seguem fórmulas similares e foram bastante elogiados por parte dos cinéfilos. O Passageiro não foi diferente.

    Michael (Neeson) é apenas um vendedor de seguros que está em um trem, a caminho de casa. Ele perde seu celular na plataforma, e assim, passa a observar mais atentamente as ações de cada um dos passageiros, uma em especial passa a chamar sua atenção, uma bela mulher chamada Joanna, vivida por Vera Farmiga.

    Com o trem em movimento, o vendedor é obrigado via chantagem a fazer delitos que vão aumentando a gravidade com o tempo, e que envolvem inclusive a morte de pessoas dentro e fora dos vagões. A tensão criada nesse ambiente claustrofóbico é terrível, primeiro por ser a vilã uma personagem completamente fora de controle e imprevisível, e também pelo fato de Michael ser um sujeito sem grandes capacidades de sair das problemáticas em que está metido.

    O objetivo final do protagonista é descobrir a identidade de outro dos que estão a bordo do trem, e ele obviamente fracassa na maior parte do tempo. A história apesar de boba, faz sentido, apesar de ser claramente subalterna ante as cenas de ação estilizadas do diretor, com lutas em lugares apertados, em uma bela demonstração de suas habilidades como cineasta, já que consegue trazer embates plásticos acompanhados de uma montagem que faz tudo soar muito fluido, apesar de pequenos deslizes nos aspectos de efeitos visuais.

    O Passageiro faz lembrar ligeiramente Pacto Macabro, de Alfred Hitchcock, no sentido de mostrar um estratagema terrível e obviamente por também ser localizado em um trem. Apesar de ter um roteiro repleto de coincidências, teorias da conspiração e obviedades, como filme de ação o cinema de Collet-Serra funciona maravilhosamente, sendo quase impecável nos quesitos luta e suspense.

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  • Crítica | Fome de Poder

    Crítica | Fome de Poder

    John Lee Hancock é um diretor acostumado a trabalhar em dramas, nos quais é comum acompanharmos histórias de superação com uma certa mágica agridoce. Foi assim com Walt nos Bastidores de Mary Poppins, seu filme recente mais notável e também em Um Sonho Possível. Em Fome de Poder – ou The Founder no original – traz a história por trás do crescimento da marca McDonald’s para muito além do sul da Califórnia.

    A história é focada em Ray Kroc (Michael Keaton), que após vagar atrás de uma boa ideia, acaba por acaso consumindo os hambúrgueres dos irmãos McDonald, Dick (Nick Offerman) e Mac (John Carroll Lynch). Com o decorrer do roteiro, se mostra a evolução de um estabelecimento pequeno para um negócio expansivo e em grande escala. O filme trata de mostrar o método de produção dos alimentos como algo já planejado por seus idealizadores, mas que ainda mantinha em si uma essência de produto pequeno, feito de maneira pessoal para poucas pessoas.

    A vontade de crescer e a ganância de Ray se contrapõe ao desejo de ser apenas auto-sustentável dos irmãos McDonald’s é executada de uma maneira quase branda, e por vezes inspiradora em tudo que envolve o antigo intérprete do Batman. Mesmo quando seu personagem se mostra duro, irascível ou antiético é mostrada uma face benevolente, de quem faz sacrifícios mas só quer o sucesso típico das ambições derivadas do modo de vida americano.

    A maior malícia do texto é mostrar como o ideal do sonho americano influi diretamente no modo de operar de Kroc, justificando de certa forma até seus rompantes temperamentais. Os conflitos poderiam ser grandiloquentes, mas a maioria é contido, na eterna tentativa de não demonizar o grande empresário.

    Toda a bobagem advinda da auto-ajuda empresarial do protagonista é analisada pela câmera de maneira imparcial. O calcanhar de Aquiles de Fome de Poder está exatamente no ponto que deveria ser a sua qualidade, que é a de não tornar Ray um vilão. Ocorre que, em diversos momentos o longa faz crer que seus esforços valeram a pena e que todas as desonestidades impetradas por ele eram na verdade persistência, e não o expansionismo capitalista clássico. Qualidade indiscutível é a construção de caráter que Keaton faz para seu personagem, conseguindo com maestria mostrar o quão complicado era Ray Kroc, unindo aspectos adoráveis e odiáveis em sua conduta, soando harmônico mesmo em posturas tão antagônicas, mas ainda assim é pouco diante de uma história tão complexa.

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  • Crítica | Invocação do Mal 2

    Crítica | Invocação do Mal 2

    Invocação do Mal 2

    Referenciando o início de Invocação do Mal, o novo longa de James Wan tem em seu preâmbulo um caso secundário, possivelmente o mais famoso conto de Ed (Patrick Wilson) e Lorraine (Vera Farmiga) Warren: o caso poltergeist em Amityville. Invocação do Mal 2 é um belo retorno do diretor malaio aos filmes de horror, ainda que seu caráter seja bem diferente do competente filme inicial.

    Após esse prelúdio, a trama de Wan se bifurca, mostrando Lorraine traumatizada pelo contato com um demônio que profanava um símbolo sagrado e pedindo ao seu marido para que se aposentassem, já que estava convivendo com terríveis pesadelos. Em outro momento, é mostrada a casa dos Hodgson, com a matriarca solteira Peggy Hodgson (Frances O’Connor) preocupada com os seus, em especial Janet (Madison Wolfe), que é pega repetindo o vício de sua mãe. Este seria o primeiro parâmetro de apreensão de Peggy com seus filhos, algo que é agravado por leves assombrações na casa da família ocorridas gradativamente.

    Wan consegue reunir clichês diferente dos que usou anteriormente, tanto em Invocação do Mal como em Sobrenatural: Capítulo 2, conseguindo reciclar bem as coincidências dramáticas, que fazem, inclusive, aumentar a verossimilhança do filme, justificando muito bem as atitudes impensadas dos personagens.

    O lar dos sustos é outro, já que Invocação do Mal 2 deixa de lado o uso dos sons tipicamente caseiros como fonte dos temores para investir em espantos visuais, se valendo muito de sombras, luzes e névoa, uma referência ao clássico de Tobe Hooper e Steven Spielberg, em Poltergeist. Além disso, rememora o clima sensacionalista do clássico de Dario ArgentoSuspiria, ainda que seja muito menos explícito do que a película italiana, fugindo do gore que habitava o cinema de terror italiano de sub gênero giallo.

    Da parte do roteiro, há uma mensagem velada de discussão sobre exorcismo católico clássico, alfinetando alguns dos métodos utilizados ao longo dos anos, por parte dos agentes da igreja, e a burocracia que se manifesta dentro da trama, cegando o casal de protagonistas para a credulidade que deveriam ter no caso que investigavam. As escolhas do roteiro são acertadas, e mesmo a performance de Wilson parece mais sóbria, conseguindo extrapolar sua falta de talento dramatúrgico, principalmente quando em companhia de Farmiga. Tal harmonia de elenco e de texto é raro em qualquer cinema, sobretudo no de horror.

    O fato de não superar o capítulo inicial não desmoraliza o segundo, que é mais filosófico dentro de sua proposta, conseguindo justificar o final meloso, dados o histórico e repertório dos personagens principais. Invocação do Mal 2 é um passo corajoso em mostrar uma mudança de postura do diretor, tendo êxito até mesmo em fugas de clichês automáticas de sua própria filmografia.

  • Crítica | Sobrenatural: Capítulo 2

    Crítica | Sobrenatural: Capítulo 2

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    O cinema de Terror sofre de um mal enorme, praticamente desde que foi inventado – vide os filmes de monstros da Universal – quando um filme é sucesso de público e/ou de crítica, praticamente exige-se que se torne uma franquia. O resultado quase sempre é aquém do esperado e a fórmula é cada vez mais desgastada, mas alguns poucos espécimes sobrevivem a este estigma, e o capítulo segundo de Sobrenatural é um bom exemplo.

    Mais uma vez capitaneado pelo excelente realizador malásio James Wan, a fita repete o que deu certo no original: câmera passeando por lugares ermos e escuros, casas produzindo sons de ranger por quase todos os cômodos, sustos mil com figuras vestidas a caráter, origem do mal ligada a um mundo paralelo, mas se permite modificar o foco. É natural que em uma sequência de um horror movie mude-se um pouco da fórmula apresentada no primeiro, mas o êxito quase nunca é alcançado, visto que o roteiro dessas produções é quase sempre muito fraco. O efeito surpresa já foi perdido com o episódio original e é necessário mexer na fórmula. O mérito por não ter ocorrido com Insidious 2 um desastre comum aos seus primos pobres, é manutenção da boa equipe criativa, especialmente do roteirista Leigh Whannell, que já havia trabalhado com Wan em Gritos Mortais, Jogos Mortais, Sentença de Morte e Doggie Heaven. O roteiro apresenta pouquíssimas falhas, e justifica cada uma das pirotecnias visuais do diretor.

    A ousadia em trocar a abordagem da figura amedrontadora foi uma das melhores escolhas de Wan e Whannell, pois reprisar os clichês do primeiro seria um suicídio para a obra, e repetiria o erro de franquias das quais os dois já participaram, vide a bagunça que se tornou Saw. Mais surpreendente é a competência com que ambos conseguiram executar tais modificações, enquanto Sobrenatural é um filme sobre paranormalidade e traumas infantis, mas focado em assombrações, o capítulo 2 mantém o esqueleto da história e acrescenta o fator serial killer, numa invenção que claramente não estava pensada na ideia primordial, mas que é equilibrada o suficiente para não soar falsa. Encaixa de forma perfeita.

    A câmera é pródiga em aumentar o escopo do suspense, cada movimentação sua é milimetricamente pensada. Os closes e os detalhes são pontuais e junto a trilha sonora, ajudam o público a imergir dentro da temível história. O aprofundamento na psique do assassino é muito bem urdida, sua abordagem vai além dos ambientes esfumaçados e classificações clichês ligadas a abusos na infância – tais coisas até são mostradas, mas em momento algum o vilão é retratado como uma vítima inocente de maus tratos e não responsável por seus atos. O mashup com o primeiro capítulo explica bem muitos dos sustos oriundos dele, mas não trata o expectador como imbecil, ao mesmo tempo que não fica inexplicado para quem não assistiu o original.

    A carreira de James Wan é bastante relevante, por ter em si uma quantidade substancial de filmes, 7 até agora, sem que nenhuma destas películas sejam execráveis como um todo. Sua pouca idade faz acreditar que ainda terá muitas oportunidades de surpreender o público e crítica, com boas peças de terror e horror. Em cada filme que produz ele parece evoluir em algum aspecto distinto, até mesmo na condução dos atores, em especial Patrick Wilson, que em Sobrenatural ainda não se destacava muito da mediocridade, em Invocação do Mal melhora um pouco, fazendo um personagem austero e neste, desempenha de forma espetacular duas personalidades muito distintas, oras vestindo o arquétipo do herói, oras fazendo um dos guardiões de limiar, e ambos de forma muito competente, sua evolução dramatúrgica caminha junto com a evolução de James Wan a frente das câmeras. Sobrenatural: Capítulo 2 é assustador, aterrorizante e amedrontador, mas além disso, possui uma boa história e que faz dele um dos melhores filmes de horror da década atual.

  • Crítica | Invocação do Mal

    Crítica | Invocação do Mal

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    Muitos roteiros valem-se do recurso de afirmar que a trama é “baseada em fatos reais” para dar mais peso à história. Neste caso, não é apenas um recurso narrativo. Essa tática já é tão manjada e utilizada tão sem critério que confesso ter duvidado dessa premissa e “googlei” o nome dos personagens depois de assistir ao filme. Ed e Lorraine Warren realmente existiram, foram demonologistas amplamente conhecidos e reconhecidos, e o roteiro baseia-se nos arquivos dos casos investigados pelo casal.

    O roteiro não prima pela originalidade, afinal não há muita margem para a criatividade ao escrever sobre uma casa mal-assombrada. Não há como escapar de sussurros e ruídos estranhos, portas e janelas se abrindo, ou se fechando, aparentemente sozinhas, pancadas no chão e paredes, quadros e objetos decorativos sendo jogados ao chão. Mas mesmo assim é bastante eficiente ao focar-se mais na tensão causada pela existência da “assombração” do que nos sustos em si.

    O prólogo – quase uma pegadinha para quem não faz ideia do que se trata o filme – funciona muito bem ao apresentar o casal de investigadores e seu modus operandi. Há, embutida nele, a dica de que o filme não se resumirá a sustos e gritos histéricos, como boa parte dos filmes de terror infelizmente costuma ser.

    A estória se passa no início dos anos 70 e vale a pena reparar na reconstituição de época que não deixa a desejar. Desde os carros, até as roupas – as estampas de vestidos e camisolas, os cortes dos ternos e camisas – passando pelos penteados – o que são aquelas costeletas? rs – e elementos do cenário – mobília e eletrodomésticos. Sem contar a trilha sonora, quase toda diegética, com ótimos hits da época.

    O elenco está muito bem, com destaque para Vera Farmiga (Lorraine Warren), lógico. Um rápido flashback sobre um caso investigado que “desandou” talvez explique sua constante melancolia, mas mesmo assim, sua cara de tristeza durante todo o filme às vezes parece meio forçada. Patrick Wilson (Ed Warren) não desaponta. Lily Taylor (Carolyn Perron), quase no mesmo clima de Hemlock Grove, consegue nos fazer esquecer do péssimo A casa mal assombrada. Ron Livingston, o eterno Tenente Lewis Nixon em Band of Brothers, é bem convincente como o único homem numa família de seis mulheres.

    Não sei se é realmente o melhor filme de terror dos últimos tempos. Mas certamente James Wan – responsável por Jogos Mortais (o primeiro, de 2004), pelo razoável Sentença de Morte (2007) e pelo recente Sobrenatural (2011) – conseguiu fazer um filme de terror acima da média, competente e com várias referências para os fãs do gênero.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Watchmen

    Crítica | Watchmen

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    No inicio Edward Blake assiste um comercial de Nostalgia antes de ter sua casa invadida. Fica claro que ele sabia que seria atacado. A luta é muito bem filmada, como poucas em filmes de super-heróis e a música na trilha – Unforgettable de Nat King Cole – deixa tudo com o ar de suspensão e até incredulidade. O começo promissor tende a enganar, faz parecer que Watchmen de Zack Snyder seria algo bom e que o velho Alan Moore estava errado, mas logo na cena posterior as ilusões são esmagadas.

    Snyder tem um talento nato para montar introduções, percebe-se isso em 300 e Madrugada dos Mortos, e seria assim também neste Watchmen, não fosse pela sutileza de rinoceronte com que ele trata alguns fatos apenas sugeridos na revista: o caso JFK, o beijo na enfermeira após o dia D e o encontro entre um “herói”, Mick Jagger e Ziggy Stardust em uma festa rosa – aliás essa é a primeira de uma série de cenas irritantes com o personagem.

    O filme não é um desastre completo por duas atuações distintas. A caracterização de Rorschach feita por Jackie Earle Haley é quase perfeita, seu personagem gera medo e emula toda a sociopatia de sua contraparte dos quadrinhos. Jeffrey Dean Morgan também faz um Comediante muito bom, suas cenas são disparadas as melhores do filme. Blake bate indiscriminadamente em mulheres e crianças, é cínico e se vale do argumento de estar em guerra. Apesar de ser até meio babaca, o personagem consegue ser o mais sóbrio da história, o que mais entende para onde o mundo está indo. Nem Patrick Wilson – que nunca foi grande coisa – compromete, seu Coruja 2 é crível, assim como os “veteranos” Carla Gugino – deliciosa nos anos 40 – e Stephen McHattie. Outro ponto positivo nesta versão é a cena de assassinato de Hollis Mason, intercalando os socos nos trombadinhas com suas ações na Era de Ouro – que gera outro bom momento,  com um rompante de raiva do Coruja II num bar no submundo. A Sala de Guerra onde Nixon faz suas reuniões também é uma ótima referência ao Dr. Fantástico de Stanley Kubrick.

    Os maiores problemas do roteiro não são as incongruências, mas sim as obviedades. No apartamento do Comediante há mil fotos das duas Espectrais. Para caracterizar o isolamento do Dr. Manhattan, decidiu-se retratá-lo como um altista, gerando assim a segunda pior atuação do filme – a sua cena vencendo o “Vietnã” é risível, tanto pela explosão dos adversários quanto pela música mal escolhida – que dá um tom de paródia que não cabe a atmosfera que Snyder pretende – este é outro problema, a seleção de músicas é ótima, mas o encaixe nas cenas em si é equivocado na maioria das vezes, vide o Hallelujah de Leonard Cohen numa cena de sexo.

    Watchmen é muito bem filmado, mas sua trama é repleta de furos. Seus poucos acertos são méritos da história original, o que faz a película se assemelhar a uma paródia da HQ. O pior de tudo está guardado para Ozymandias. O herói é transformado em vilão na primeira cena em que aparece, é afetado, franzino, fraco e não parece carismático em momento nenhum, é como uma versão reduzida e decadente do original, ele não aparenta arrependimento ou reticência nenhuma por seus atos. Todas as tentativas de Matthew Goode em melhorar isso falham miseravelmente. Nem seus feitos como pegar uma bala com as mãos faz sentido e sua nova versão do “plano redentor” é cheia de falhas. A culpa recair sobre os ombros do Dr. Manhattan justificaria um ataque soviético imediato aos americanos, não haveria porque gerar uma união mundial. O script de Alexsei Trotsenko e David Hayter privilegia a ação e reduz a ambigüidade dos personagens a movimentos óbvios.

    O Axaque de Daniel e seus socos em Veidt são demonstrações patéticas e piegas de moralidade – motivadas supostamente por desejos dos produtores. O “vilão” tem que ser retratado de forma isolada, solitária e triste. A Versão do diretor, com suas 3 horas de duração, melhora um pouco a obra, mas ainda está muito aquém da história de Moore. As cenas extras dão mais sentido a algumas pirações do realizador, mas esse filme custou a Zack Snyder o posto de “visionário”, tornando-o apenas “elegante”.

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