Tag: Jessica Alba

  • Crítica | Stretch

    Crítica | Stretch

    Ainda que o diretor Joe Carnahan tenha ótimos trabalhos como Narc e A Perseguição, Stretch não foi lançado em circuito. Relegado ao lançamento on demand, o longa está no catálogo da Amazon Prime Vídeo escondido pela miniatura de um pôster muito feio de divulgação. Porém, não se enganem. Além de contar com Carnahan na direção e roteiro, possui um grande elenco com como Patrick WilsonBrooklyn Decker, um quase irreconhecível Chris Pine, Ed Helms, Jessica Alba, Ray Liotta e outros.

    O filme conta a história de Kevin “Stretch” Bryzowski, um motorista de limusine que está se esforçando para superar seus vícios em drogas e jogos de azar, além de uma decepção amorosa. Porém, ainda endividado até o pescoço, o chofer aceita o trabalho de conduzir um excêntrico bilionário conhecido por dar grandes gorjetas a quem lhe presta serviços.

    Diretor e roteirista, Carnahan já de início imprime um ritmo ágil ao filme, com diálogos rápidos e cenas movimentadas que vão apresentando os personagens e suas motivações. Nota-se que há um carinho em retratar o protagonista, mas em nenhum momento ele é mostrado como alguém que o espectador deve se compadecer. Ao contrário, ele mostrado como alguém consciente das escolhas erradas que faz ao longo da vida e que agora precisa se virar para resolver seus problemas. Isso é potencializado pela ótima interpretação de Wilson.

    Situações absurdas ocorrem em escala gradual, mas em nenhum momento o filme parece inverossímil. Todos os atos tem consequências, que se não são imediatas, influenciam diretamente em outros momentos do longa. Nada fica impune em Stretch, nem mesmo as boas ações. O diretor trabalha muito bem a tensão e há uma boa dose de comédia durante o filme, principalmente nos momentos em que Helms está em cena, ainda que em vários momentos os risos são de nervoso, posto que a situação do momento, ainda que cômica, pode representar até mesmo o fim da vida do protagonista. Carnahan faz ainda um ótimo trabalho de direção de atores de todo o elenco de coadjuvantes, principalmente Pine. O Capitão Kirk dos novos Star Trek está especialmente surtado como o bilionário que é a razão da noite insana que Stretch enfrenta.

    Não se deixem enganar pela figurinha que retrata o péssimo pôster de divulgação. Stretch é um ótimo e injustiçado filme que não teve o merecido destaque à época de seu lançamento.

  • Crítica | Assassino a Preço Fixo 2: A Ressurreição

    Crítica | Assassino a Preço Fixo 2: A Ressurreição

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    Jason Statham precisa de um novo agente. O ator tem feito uma série de escolhas equivocadas e tem atuado em alguns filmes bem abaixo da crítica, salvo as exceções de Velozes e Furiosos 7 (e agora o oitavo) e a estrelada cinessérie Os Mercenários. Há que se ressaltar também, o processo de Stevenseagalnização que ele vem sofrendo. Seus papéis são exatamente os mesmos, chegando ao cúmulo de os personagens terem backgrounds praticamente iguais. Entretanto, o Statham chegou ao pior momento de sua carreira com esse Assassino a Preço Fixo 2: A Ressurreição, fraquíssimo filme que pode facilmente ser considerado como o pior da carreira do outrora esperança dos filmes de brucutu.

    Nesse equivocado filme que é a sequência de um remake (!) de um filme cult estrelado por Charles Bronson, Jason Statham retorna ao papel de Arthur Bishop, que após os eventos do primeiro filme se aposentou, mudou de identidade e foi morar no Rio de Janeiro. Após ser abordado por uma mulher que deseja requisitar seus antigos préstimos, Bishop foge, muda novamente de identidade e vai morar em uma ilha paradisíaca da Tailândia. Porém, ao salvar uma bela donzela em perigo interpretada por Jessica Alba, Arthur acaba tragado novamente para seu antigo estilo, pois logo depois a moça acaba sequestrada por um antigo conhecido que deseja que ele cometa três assassinatos da maneira como o consagrou no submundo: fazendo parecer um acidente. A partir daí, Bishop parte ao redor do mundo para cumprir as missões e salvar sua amada.

    Parece uma trama intrincada, né? Só parece. O roteiro idealizado por Phillip Shelby e Tony Mosher é pedestre e não tem a menor coerência. Se ao menos soubesse utilizar os clichês dos filmes de ação, alguma coisa poderia ser elogiada no argumento. Entretanto, os clichês se amontoam no caminho e fazem o filme ruir com poucos minutos de projeção. Os personagens são mal construídos e suas motivações, quando possuem, são sofríveis. Pra piorar, a natureza episódica do roteiro não ajuda em nada, fazendo-o parecer bem mais forçado do que já é. A direção do diretor Dennis Gansel (de A Onda) é frouxa e genérica. Somada com a fraca direção de fotografia de Daniel Gottschalk, o diretor filma sequências péssimas de luta, com um aspecto semi-amador. Nota-se em vários momentos que os dublês fazem até pose pra esperar os golpes de Jason Statham. Gansel só consegue uma sequência minimamente interessante, que é a do assassinato/acidente na piscina do arranha-céu. Porém, não há uma atmosfera de suspense para a execução do intrincado plano do protagonista, o que diminui seu impacto. Uma sequência merece um destaque negativo especial: a abertura no Rio de Janeiro. A tentativa frustrada de emular os filmes de 007 já deixa clara a bomba que vem a seguir.  Só que nem como comédia involuntária o filme serve.

    Jason Statham está especialmente sofrível nesse filme. O ator parece desanimado em cena, como se estivesse ciente da roubada em que entrou, já que além do filme ruim, seu personagem é uma espécie de MacGyver sem charme (e careca) que usa armas. Seu trabalho aqui é digno de nota zero. Jessica Alba, que já é limitadíssima, também não ajuda nada e aqui desfila toda sua falta de talento. Agora, eu ainda estou tentando entender por que demônios Tommy Lee Jones resolveu fazer esse filme. Seu personagem é péssimo e mesmo em piloto automático o ator consegue imprimir um pouquinho de charme a ele. Pena que ele tem pouco de tempo de tela. Sam Hazeldine, que interpreta o vilão é tão sem graça que só consegue despertar indiferença. Michelle Yeoh, estrela de O Tigre e O Dragão, não faz nada digno de menção.

    Enfim, Assassino a Preço Fixo 2: A Ressurreição é tão bom quanto as cenas de Statham falando português no início do filme (ironia mode on). Vamos torcer que a partir daqui, o brucutu inglês passe a escolher melhor os seus papéis e volte a fazer os filmes divertidos de outrora.

    https://www.youtube.com/watch?v=0L1_vNIRwUo

  • Crítica | O Assassino Em Mim

    Crítica | O Assassino Em Mim

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    Em uma pequena cidade do Texas, em meados dos anos 1950, o sub-xerife Lou Ford está diante de um impasse. Atendendo aos pedidos da população, precisa dar um ultimato a uma moradora que mudou-se recentemente para o local, mesmo que não se sinta motivado para tal. Porém, a preservação dos bons costumes e a manutenção da ordem o obrigam a ir até a casa desta mulher, cuja profissão é deitar com outros homens por dinheiro e prazer, e pedir que saia gentilmente da cidade. O próprio sub-xerife se considera um homem honesto, trabalhador e com poucos vícios mas, ao ver a figura curvilínea de Joyce Lakeland, decide deixar estas qualidades de lado, cedendo a tentação inevitável.

    A história de O Assassino em Mim se baseia na obra homônima de Jim Thompson, autor americano reconhecido pela crueza de suas histórias. A trama é apresentada pela própria personagem central em uma narrativa em off que expõe seus conflitos internos. Porém, mais do que um recurso de estilo, cada acontecimento em cena também é filtrado pela visão do xerife, transformando o público em testemunha ocular da visão particular do xerife.

    O senso de realidade é manipulado pelo personagem central, dando-nos a impressão de que, a princípio, temos apenas um conflito breve de um homem da lei que se entrega aos desígnios de uma mulher. Somente no desenrolar da ação, conforme adentramos o cotidiano de seus pensamentos, compreendemos a motivação direta de Ford. Um ponto de vista que transforma a brutalidade de pesadas ações violentas em atos comuns, como se a conduta da personagem não estivesse errada ou fosse agressiva.

    Diante de tantas obras que acompanham a personagem da lei, Thompson se aprofunda em uma mente obtusa incapaz de reconhecer seu desvio do comportamento normal. Dentro de sua psique, as reações extremas são consideradas naturais e, por consequência, estas impressões são passadas ao público. O choque que recebemos vem da incredulidade, do absurdo e da frieza do sub-xerife ao tratar suas agressões e assassinatos como meras imperfeições de caráter que podem ser corrigidas com força de vontade e um número mínimo de vítima.

    Através da personagem, a trama também situa o público no coração americano, em um universo de falsos bons costumes e preconceitos morais enraizados. O ambiente também é responsável pela repressão psicótica que a personagem retinha até então. Por flashbacks que retomam sua infância, observamos que, desde o princípio, havia um desnível em seu caráter que foi expandido após perder laços familiares e não mais conseguir conter a fúria interna.

    Interpretado por Casey Affleck, a dose de fúria e sutileza da personagem é bem desenvolvida, demonstrando como o ator é muito mais denso do que seu irmão famoso. O jeito franzino, os traços suaves e a voz um tanto arranhada se modificam quando o seu demônio interno assume e guia-o. O Assassino em Mim é um interessante estudo sobre como funciona a mente desviada a partir de sua própria visão do mundo exterior, uma história que também merece ser lida na narrativa original de Thompson.

  • Crítica | Sin City 2: A Dama Fatal

    Crítica | Sin City 2: A Dama Fatal

    O começo, repleto de cortes rápidos, é seguido por uma cena em que Frank Miller faz uma aparição típica de Stan Lee nos filmes da Marvel, aproveitando-se das benesses de ser um criador e também realizador do longa. O início, excessivamente escapista, faz mais referência ao último filme de Miller (The Spirit: O Filme) do que ao Machete de Rodriguez, o que faz acreditar que o criador do texto original teria maior ingerência na direção compartilhada, a despeito de toda a boataria que envolveu a produção do primeiro episódio.

    O preâmbulo é feito por Marv, personagem, vivido por Mickey Rourke, que, curiosamente, morreu no episódio anterior. Mais uma vez, uma bela apresentação dos créditos estilizada. Na história paralela de Johnny (Joseph Gordon Levitt), são resgatados plots que envolvem personagens cujo destino já havia sido decidido outrora, envolvendo-os em outros pecados, outros vícios tão torpes quantos os que preconizaram a primeira fita. Sin City parece ser um lugar tão escuso que até mesmo os que não vivem mais no mundo dos vivos costumam visitar a cidade. A pendenga de Johnny com Roark (Powers Boothe) é de cunho pessoal e familiar.

    Os subplots se misturam, compartilhando a mesma linha temporal, variante nos núcleos e nos múltiplos amoralismos. A plataforma plural claramente revela momentos mais interessantes com histórias menos apetecedoras. A trama envolvendo Dwight (Josh Brolin) demonstra isto exemplarmente, mesmo que suas cenas sejam de um grafismo agressivo ímpar tanto nos atos violentos quanto no torpor sexual, que causa no personagem um complexo de submissão quase automática à sua musa, Ava (Eva Mendez). Ao menos é nesse período em que é mostrada a cena mais gore e trash do filme, tão digna de nota quanto de gargalhadas.

    A sedução típica da dama fatal envolve os personagens e, claro, o espectador, não só pela nudez bem fotografada por Rodriguez, mas também pelo trabalho sonoro, praticamente perfeito, seja na montagem, seja na voz rouca de Green. As curvas femininas continuam obviamente sendo um dos pontos altos do filme, no entanto têm de conviver com constrangedoras cenas em que as belas mulheres se submetem a show-offs e exibições toscas de poderio armamentista, enquanto são reapresentadas às mulheres de Old Town. As soluções sensuais, fora as da personagem-título, são demasiadamente fáceis, apresentando uma desnecessária aura de pastiche, não condizente até mesmo com o universo milleriano. O tremor da perigosa relação entre Ava e Dwight finalmente se cumpre, e de um modo até surpreendente se comparado com o que o roteiro apresentou até então.

    A banca continua a aceitar as apostas de Johnny, mesmo após sua quase completa destruição. A designação da disputa quase edipiana termina anticlimática, mas é ramificada, abrindo a chance de Nancy Callahan (Jessica Alba) dar vazão a sua raiva e ao seu desejo de vingança. Em alguns momentos, a atriz até demonstra um pouco mais de dramaticidade se comparada a sua habitual filmografia, mas nada que fuja do ordinário e lugar comum de pautar toda a sua apresentação apenas em sua bela aparência. A cena em que sua personagem chora, à frente da TV, transita entre a empatia do público junto à carismática personagem esbarrando na dificuldade da sua intérprete em passar emoção.

    Por mais que o primeiro filme tenha tido um impacto enorme entre os fãs de quadrinhos e do cinema blockbuster violentíssimo, a sensação deixada por este Sin City 2 é o de um filme datado, que deveria ter sido lançado logo após o episódio um, se valendo do hype, mas que não o foi. Tudo na abordagem da película faz pensar que o projeto não era a prioridade de Robert Rodriguez, dado seus outros produtos autorais para a televisão e cinema, além da óbvia demora na produção deste filme. Tudo piorado pela sensação de A Dama Fatal ser um produto requentado, sem muito alma e substância, coisas que sobraram no filme exibido há nove anos.

  • Crítica | Machete Mata

    Crítica | Machete Mata

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    A nova vida do personagem-título já é modificada logo no início da trama. Mais uma vez lançando-o numa caçada de vingança sem muita enrolação, a narrativa mostra-se tão louca e desvairada quanto a do primeiro filme. Machete prossegue com suas execuções, munido de lâminas gigantescas e dilacerando corpos como se fossem de papel, tornando-se um herói ainda mais imune a dor e coisas letais e uma figura imortal enquanto tiver uma missão.

    A abertura com um toque de psicodelismo e silhuetas femininas lembra as sessões de matinê, além de remeter obviamente aos preâmbulos de 007. O herói é obviamente um super agente à maneira mexicana. Nesse mundo exagerado, o presidente americano não poderia ser Obama, mas sim um branquelo, farpador, beberrão e drogado. Carlos Estevez o interpreta muito bem, especialmente quando narra o esdrúxulo plano contra o vilão latino: o discurso contém meia dúzia de frases de efeito, mas ainda assim sensibiliza o paladino xicano.

    O sorriso do Senador John McLaughlin no final do primeiro episódio é justificado. O elevado muro que planejou foi enfim construído, o que ocasionou um aumento substancial da violência nas ruas mexicanas, aumentando o poder dos cartéis. Mendez (Demian Bichir) é um justiceiro/soberano com desvios de comportamento e múltiplas personalidades, que, apesar de seus atos inconsequentes, busca uma alternativa justa para o seu país. O passado do personagem esconde motivações parecidas com as de Machete. Rodriguez usa toda a bagunça visual e os clichês de action movies para mostrar uma triste situação com sua pátria-mãe, e eleva ainda mais o herói mexicano em detrimento dos americanos motherfuckers. A crítica política aos americanos não envolve somente o menosprezo dos estadunidenses perante os mexicanos, contempla também a paranoia de não mais existir nenhum opositor demoníaco desde Bin Laden.

    O desenvolvimento da trama é qualquer coisa. Ao fazer um paralelo com Jack Bauer e 24 Horas, inverte o lado da paranoia terrorista de forma jocosa. Rodriguez não tem receio de abandonar as ideias do primeiro filme e mudar o gênero. Como é prazeroso reassistir Mel Gibson em um papel canastrão por essência, sem que este esteja produzindo/dirigindo um filme. Luther Voz tem o cinismo do Doctor Evil, os olhares e carisma de Martin Riggs, e claro, protagoniza cenas homenageando seus filmes, inclusive dirigindo um carro enferrujado com close nos olhos, à la Road Warrior.

    O ambiente, supostamente hermético onde há a batalha final, é tosco, assim como as produções sci-fi dos anos 50/60. As lutas referenciam Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, Era Uma Vez no México, Kill Bill e até Império Contra-Ataca. Rodriguez põe pra fora todo o seu lado nerd e não se preocupa em ser taxado de presunçoso, em razão de toda a jocosidade do roteiro.

    O fim abre uma brecha enorme para o 3° episódio, uma Space Opera, e é absolutamente condizente com o resto do filme. Apesar do subtexto ser bem menos contestador, Machete Kills cumpre perfeitamente a função de ser uma anedota de um action movie exploitation, com latinos mordedores e clichês milMachete Mata é, sem dúvida, um dos melhores exemplares de ação do ano. Detalhes para todo o carisma de Danny Trejo, para o trailer no começo da exibição e para as cenas pós-créditos com pouco sentido.

  • Crítica | Machete

    Crítica | Machete

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    O Projeto Grindhouse de Tarantino/Rodriguez não foi um sucesso de público, mas conseguiu alavancar a feitura de um filme derivado de um de seus trailers fakes, que eram exibidos entre os episódios. Este Machete é um pastiche por completo, a começar pelo seu protagonista, o sexagenário e coadjuvante de inúmeros filmes de brucutu – e colaborador de quase toda a filmografia de Robert RodriguezDanny Trejo, numa clara alusão humorística aos heróis de ação e claro, com uma violência exageradíssima e repleta de testosterona.

    O personagem principal é resignado, aparenta querer ser deixado em paz, escondendo dentro de si uma incômoda espera a um novo chamado à ventura – a oportunidade de retornar ao seu estado normal e à natureza de seus atos violentos. Seu código ético é incorruptível, busca justiça acima de tudo, mas não é seduzido pelo moralismo estúpido, e tem na vingança – por sua esposa morta – a grande motivação da sua vida. Mais clichê impossível, mas ainda assim, é bastante ousado.

    Há uma discussão óbvia sobre o tratamento dado pelos americanos aos imigrantes ilegais, usando-se de arquétipos absurdamente caricatos e maniqueístas, mas que escancara através do absurdo idealizado uma realidade dura e cruel. O estrangeiro é demonizado, comparado a inimigos do Estado como Saddam Hussein, e são até alcunhados como terroristas pelos antagonistas do herói da jornada.

    Mas é obvio que quem assiste Machete procura a plasticidade das mortes que Rodriguez sabe registrar como ninguém, e isso ocorre das mais variadas maneiras e formatos. Machete está acostumado a ser sabotado e sua recuperação dos ferimentos é praticamente automática, ele fica invisível debaixo de uma maca de enfermaria, o que faz crer que ele possua superpoderes. A cena do rapel de tripas tornou-se um clássico instantâneo na época e produz a mesma hilaridade hoje. As outras gags de humor também são muito bem feitas – o comercial de Osiris Amanpour (Tom Savini) são demais, aliás o personagem some da tela do nada, sem nenhuma preocupação com explicação. Há baseados mexicanos gigantes da espessura de charutos cubanos, as propagandas eleitorais do senador McLaughlin (De Niro), exaltando seu combate aos chicanos, comparando-os a pragas, o retorno com os personagens de Planeta Terror (o Doutor Felix e as gêmeas Electra e Elisa Avellan), os capangas arrependidos, com um discurso pró-imigrantes, os cortes rápidos em uma cena de Jessica Alba falando ao telefone imóvel, mas com a câmera mudando o ângulo a todo o momento, sem nenhum bom motivo aparente – tudo é pretexto para fazer piada, não dá para levar a sério um filme em momento nenhum.

    O personagem de Jeff Fahey, Michael Booth, conta todos os detalhes dos seu planos, tem uma boca aberta conveniente especialmente quando está sendo filmado, fato que também é muito engraçado. A batalha final é uma farofada enorme, tem de tudo, gente com carrinho de sorvete, ambulância assassina, escrotos se redimindo e voltando-se “para o bem”, ataque aéreo de moto. Até o desfecho épico para o personagem de Steven Seagal é perfeito, pois resume a sua carreira de “sujeito invencível e intransponível”, sendo somente ele um adversário a altura de seu próprio desafio, mas que sucumbe diante do que é justo.

    Atrás de toda essa capa de filme B, trash e de baixo custo com orçamento milionário, há um conteúdo forte de contestação. She de Michelle Rodriguez é um dos poucos personagens que se permitem ter um background decente. Suas motivações são nobres e óbvias, o que reforça ainda mais a escolha do roteiro por arquétipos prontos, montados para passar a ideia central. Ela veste a máscara de mentor e é um dos motivos de Machete reacender em si a vontade de agir a favor da justiça. Rodriguez – junto com Ethan Maniquis, também editor de Planeta Terror – traz um exemplar competente de exploitation e com uma temática presente em muitos dos seus filmes, a ode ao seu povo nativo e a valorização do imigrante ao território americano, em especial os mexicanos.

  • Crítica | Machete

    Crítica | Machete

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    E Robert Rodriguez está de volta com seu cinema mexicano e trash. Após muito medo por parte das distribuidoras, que adiou a data de estréia umas 3 vezes, FINALMENTE Machete chega aos cinemas brasileiros. Com El Gigante Danny Trejo como Machete, policial federal mexicano incorruptível que prefere usar facas (machete) e grande elenco, entre eles, Robert De Niro interpretando um político corrupto e Steven Seagal como um traficante de drogas de cartel que usa espadas… Nada poderia ter uma premissa tão épica.

    O filme começa em estilo impactante mostrando a que veio em sua primeira grande cena. Machete e seu parceiro estão em seu carro indo resgatar uma jovem que foi presa por traficantes, enquanto isso, seu chefe os manda não fazerem nada, e é claro, é completamente ignorado. Machete entra com carro e tudo na casa do traficante e seu parceiro já morre aí. Os próximos minutos são recheados de facadas e cabeças voando até o momento em que o protagonista é pego na armadilha e sua família é morta.

    Não é um roteiro original, passa longe de ser um dos melhores roteiros que você verá por aí, mas não se vai ao cinema ver um filme do Rodriguez, principalmente se tratando de Machete, esperando algo grandioso. Machete é um filme trash e se assume como tal, não poupa esforços para fazer com que o expectador não se esqueça disso. Os clichês estão inseridos nas cenas, diálogos, personagens; TUDO vai às raízes do trash e torna o filme extremamente divertido. Jéssica Alba como policial latina da imigração e Lindsay Lohan como a filha drogada de um traficante são provas das piadas que esse filme pode contar.

    Bom, as atuações não são excelentes, não há nada de incomum ali, exceto alguns poucos exemplos, como do De Niro fora do piloto automático, por exemplo. Já Michele Rodriguez faz a machona de sempre, Danny Trejo não sai muito de suas caras e bocas tradicionais, Jeffrey Frahey (a.k.a Frank Lapidus) também não sai de seu personagem.

    Porém, o filme exagera em determinados momentos. Certas cenas perdem o propósito e soam forçadas até para os filmes do Rodriguez, parecem ter sido postas ali apenas por parecerem legais e acabam não sendo. Além dos efeitos parecerem MUITO falsos em determinados momentos, o que pode ter sido feito propositalmente para que não esqueçamos de quão trash o filme quer mostrar ser.

    No final Machete é um filme de Robert Rodriguez, que vem repetindo a fórmula filme após filme. O que não o torna menos divertido, ele paga cada centavo que você gasta com nossos caros cinemas em diversão. E se você sair do filme reclamando dele, você não é um macho de verdade. No mais Machete don’t text.

    Texto de autoria de André Kirano.