Crítica | Horizonte Profundo: Desastre no Golfo
Assim que a voz verdadeira de Mike Williams no primeiro segundo de fita ecoou pela sala de cinema, entendi que esse filme poderia surpreender. Foi um misto de sensações, uma vez que o áudio em questão se tratava de um trecho de seu depoimento a respeito do acidente na plataforma conhecida como Deepwater Horizon. O acidente ocorrido em 2010 no Golfo do México foi o maior da história petrolífera americana. Apesar dos trailers repletos de explosões e fogo, muito fogo, referido áudio passou a impressão de que o filme seria investigativo com requintes de tribunal, o que seria sensacional. Mas eu estava errado. E que bom que eu estava errado.
Logo somos apresentados ao Mike Williams de Mark Wahlberg e sua família, formada pela esposa Felicia, vivida por Kate Hudson e a filha do casal, Sydney (Stella Allen) no “tradicional” café da manhã familiar. É a despedida de Williams que ficará fora por algumas semanas a bordo da Deepwater Horizon, como de costume. No caminho, Williams se junta à colega Andrea (Gina Rodriguez) e ao seu chefe que também é o chefe da plataforma, apelidado carinhosamente por todos de Sr. Jimmy (Kurt Russel). Durante o percurso podemos aprender de uma forma bem didática quase todo o curioso procedimento de embarque a uma plataforma que se assemelha bastante a um procedimento de aeroporto, sendo que já no trajeto, Sr. Jimmy é informado sobre um teste de segurança que possivelmente havia deixado de ser feito pela empresa B.P., que visava maior lucro com o tempo ganho ante a ausência do teste.
Apenas para situar o leitor que ainda não viu Horizonte Profundo – O Desastre no Golfo, aparentemente, a Deepwater Horizon está prestes a iniciar a extração de petróleo num lugar até então inexplorado e que, por tais motivos, necessário seria “vedar” parte da área do fundo do oceano com cimento para que a lama, o petróleo ou qualquer outra coisa não vazassem por esse cimento onde o teste deveria ter sido feito.
A interação e a química de todo elenco é um dos pontos positivos do filme e isso só melhora com a entrada de John Malkovich em cena. O premiado ator interpreta o ganancioso Donald Vidrine, o engenheiro da B.P., responsável por não fazer o teste de segurança. Os embates intelectuais que Vidrine tem junto de Sr. Jimmy são sensacionais.
Claro que é apenas uma questão de tempo para que o acidente aconteça e isso nem o trailer esconde. O diferencial é que, geralmente, em filmes de catástrofe, você não se apega aos personagens, uma vez que o que interessa é a catástrofe em si. Além do mais, também não se trata da história de um pai que, no meio ao caos, necessita atravessar a cidade para encontrar ou fugir com a família como já retratado em outras inúmeras histórias recentes. Em Horizonte Profundo, o espectador parece estar junto dos personagens como se estivesse vivendo aquilo. Méritos do diretor Peter Berg, responsável por filmes duvidosos como Hancock e Battleship: A Batalha dos Mares.
Outro fato interessantíssimo e que se atribui crédito a Berg e toda a equipe técnica, na verdade, é uma indagação: como foram filmadas as cenas de ação do acidente? Num primeiro plano parece ser uma pergunta idiota, mas confesso que o realismo ali presente é impressionante, uma vez que o espectador consegue “enxergar” a aplicação de CGI é um momento ou outro apenas.
E por último, talvez o destaque principal seja Mike Williams, mas não o Mike Williams retratado por Mark Wahlberg e sim o cidadão Mike Williams. Embora Williams seja retratado de forma competente por Wahlberg, o que chama atenção são as atitudes tomadas como ser humano e que foram mais que suficientes para que a sua história, no meio de tantas outras, fosse escolhida para virar filme.
Como de costume, o que vemos ao final são imagens reais de todos os envolvidos, o que aconteceu com cada um deles, com o diferencial de uma bonita homenagem aos que faleceram no acidente.
Horizonte Profundo: Desastre no Golfo é, portanto, um filme correto, de extremo bom gosto e muito bem executado que merece ser assistido no cinema e que com certeza se junta à lista das surpresas de 2016 que, convenhamos, não tem sido excelente no que diz respeito a cinema.
Vale destacar que o próximo projeto da dupla Berg/Wahlberg também contará uma história real em Dia de Heróis que contará um episódio acontecido durante o ataque terrorista à famosa Maratona de Boston em 2013.
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Texto de autoria de David Matheus Nunes.