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  • Crítica | Annabelle 2: A Criação do Mal

    Crítica | Annabelle 2: A Criação do Mal

    James Wan, a nova cara do terror hollywoodiano, tem inúmeros méritos e na bagagem carrega duas franquias de sucesso, Sobrenatural e Invocação do Mal, essa segunda fazendo tanto dinheiro e apelo que querendo ou não deu luz para um novo ícone para o hall de grandes monstros do cinema, Annabelle. Assim como no primeiro filme, Wan é apenas produtor dessa sequência da boneca possuída por conta dos outros projetos do diretor, assim deixando a tarefa com o cara que o próprio James parece ter apadrinhado: David F. Sandberg, famoso por conta de seus curtas de terror de baixo orçamento feitos apenas com a esposa, e em que um deles rendeu uma adaptação para Hollywood e foi a primeira direção de longa-metragem de David, o bem-sucedido mas de qualidade duvidosa Quando as Luzes se Apagam.

    Annabelle 2: A Criação do Mal é parecido com o primeiro filme do diretor, tem um péssimo roteiro, mas aspira grandes momentos e soluções, ou seja, Sandberg conhece muito bem todas as regras e convenções do gênero, e nelas inspirado o cineasta consegue ultrapassá-las e entregar pelo menos boas cenas de suspense e terror. Mas, não só de bons momentos pingados se vive um bom filme, e Annabelle 2 tem dificuldade para encontrar outras virtudes durante sua uma hora e cinquenta minutos.

    Diferente do primeiro filme, Wan parece ter colocado um pouco mais de suas ideias durante o processo e essa sequência levemente parece fazer parte dessa espécie de “universo compartilhado” iniciado em Invocação do Mal, e como já dito, Sandberg faz o possível e o impossível para tirar suco da laranja estragada que é o roteiro escrito por Gary Dauberman, construindo planos inventivos, brincando com o desfoque e sabendo dosar bem cenas gráficas e não gráficas, o visível e o invisível e principalmente o claro e o escuro. Porém, isso não salva todos os clichês que empurram a trama, desde a porta trancada que guarda o grande mal até personagens fazendo ações que beiram a burrice apenas porque o filme precisa ir pra frente.

    A trama acompanha um grupo de meninas órfãs que se mudam para uma casa após o orfanato delas fechar, o novo lar é propriedade de um casal que perdeu a filha num grave acidente; essa nova história é um prelúdio de Annabelle que por sua vez é um prelúdio do primeiro Invocação do Mal, e fica bem claro que aqui junto com o esgotamento de ideias, houve também um descuido com a própria origem da boneca, sendo confuso e criando subtramas que até o fim do filme não são bem aproveitadas nem resolvidas, servindo apenas como um falho pano de fundo para a trama principal, essa sim emocionalmente eficaz e relacionável, mérito da jovem atriz Talitha Eliana Baterman e da já familiarizada com histórias de terror, Lulu Wilson. As duas carregam boa parte do filme nas costas, mas suas personagens sofrem com algumas escolhas do roteiro no terceiro ato, amargando um pouco o gosto que fica na boca.

    Superior ao seu antecessor, mas considerando isso como uma tarefa nada difícil, Annabelle 2 prova que o caminho adotado pelo estúdio para tratar da boneca é equivocado e precisa de roteiros mais complexos assim como o seu material de origem. Mas, o filme já é um grande sucesso de bilheteria e talvez isso não convença Wan e o estúdio a mudarem a fórmula desses spin-offs de Invocação do Mal, nos resta torcer para que o terceiro filme da franquia do casal Warren mantenha qualidade e que, sinceramente, Annabelle não volte a ser visitada até que se tenha uma boa história ao nível de seu potencial.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

  • Crítica | Invocação do Mal 2

    Crítica | Invocação do Mal 2

    Invocação do Mal 2

    Referenciando o início de Invocação do Mal, o novo longa de James Wan tem em seu preâmbulo um caso secundário, possivelmente o mais famoso conto de Ed (Patrick Wilson) e Lorraine (Vera Farmiga) Warren: o caso poltergeist em Amityville. Invocação do Mal 2 é um belo retorno do diretor malaio aos filmes de horror, ainda que seu caráter seja bem diferente do competente filme inicial.

    Após esse prelúdio, a trama de Wan se bifurca, mostrando Lorraine traumatizada pelo contato com um demônio que profanava um símbolo sagrado e pedindo ao seu marido para que se aposentassem, já que estava convivendo com terríveis pesadelos. Em outro momento, é mostrada a casa dos Hodgson, com a matriarca solteira Peggy Hodgson (Frances O’Connor) preocupada com os seus, em especial Janet (Madison Wolfe), que é pega repetindo o vício de sua mãe. Este seria o primeiro parâmetro de apreensão de Peggy com seus filhos, algo que é agravado por leves assombrações na casa da família ocorridas gradativamente.

    Wan consegue reunir clichês diferente dos que usou anteriormente, tanto em Invocação do Mal como em Sobrenatural: Capítulo 2, conseguindo reciclar bem as coincidências dramáticas, que fazem, inclusive, aumentar a verossimilhança do filme, justificando muito bem as atitudes impensadas dos personagens.

    O lar dos sustos é outro, já que Invocação do Mal 2 deixa de lado o uso dos sons tipicamente caseiros como fonte dos temores para investir em espantos visuais, se valendo muito de sombras, luzes e névoa, uma referência ao clássico de Tobe Hooper e Steven Spielberg, em Poltergeist. Além disso, rememora o clima sensacionalista do clássico de Dario ArgentoSuspiria, ainda que seja muito menos explícito do que a película italiana, fugindo do gore que habitava o cinema de terror italiano de sub gênero giallo.

    Da parte do roteiro, há uma mensagem velada de discussão sobre exorcismo católico clássico, alfinetando alguns dos métodos utilizados ao longo dos anos, por parte dos agentes da igreja, e a burocracia que se manifesta dentro da trama, cegando o casal de protagonistas para a credulidade que deveriam ter no caso que investigavam. As escolhas do roteiro são acertadas, e mesmo a performance de Wilson parece mais sóbria, conseguindo extrapolar sua falta de talento dramatúrgico, principalmente quando em companhia de Farmiga. Tal harmonia de elenco e de texto é raro em qualquer cinema, sobretudo no de horror.

    O fato de não superar o capítulo inicial não desmoraliza o segundo, que é mais filosófico dentro de sua proposta, conseguindo justificar o final meloso, dados o histórico e repertório dos personagens principais. Invocação do Mal 2 é um passo corajoso em mostrar uma mudança de postura do diretor, tendo êxito até mesmo em fugas de clichês automáticas de sua própria filmografia.

  • Crítica | Invocação do Mal

    Crítica | Invocação do Mal

    the conjuring - poster

    Muitos roteiros valem-se do recurso de afirmar que a trama é “baseada em fatos reais” para dar mais peso à história. Neste caso, não é apenas um recurso narrativo. Essa tática já é tão manjada e utilizada tão sem critério que confesso ter duvidado dessa premissa e “googlei” o nome dos personagens depois de assistir ao filme. Ed e Lorraine Warren realmente existiram, foram demonologistas amplamente conhecidos e reconhecidos, e o roteiro baseia-se nos arquivos dos casos investigados pelo casal.

    O roteiro não prima pela originalidade, afinal não há muita margem para a criatividade ao escrever sobre uma casa mal-assombrada. Não há como escapar de sussurros e ruídos estranhos, portas e janelas se abrindo, ou se fechando, aparentemente sozinhas, pancadas no chão e paredes, quadros e objetos decorativos sendo jogados ao chão. Mas mesmo assim é bastante eficiente ao focar-se mais na tensão causada pela existência da “assombração” do que nos sustos em si.

    O prólogo – quase uma pegadinha para quem não faz ideia do que se trata o filme – funciona muito bem ao apresentar o casal de investigadores e seu modus operandi. Há, embutida nele, a dica de que o filme não se resumirá a sustos e gritos histéricos, como boa parte dos filmes de terror infelizmente costuma ser.

    A estória se passa no início dos anos 70 e vale a pena reparar na reconstituição de época que não deixa a desejar. Desde os carros, até as roupas – as estampas de vestidos e camisolas, os cortes dos ternos e camisas – passando pelos penteados – o que são aquelas costeletas? rs – e elementos do cenário – mobília e eletrodomésticos. Sem contar a trilha sonora, quase toda diegética, com ótimos hits da época.

    O elenco está muito bem, com destaque para Vera Farmiga (Lorraine Warren), lógico. Um rápido flashback sobre um caso investigado que “desandou” talvez explique sua constante melancolia, mas mesmo assim, sua cara de tristeza durante todo o filme às vezes parece meio forçada. Patrick Wilson (Ed Warren) não desaponta. Lily Taylor (Carolyn Perron), quase no mesmo clima de Hemlock Grove, consegue nos fazer esquecer do péssimo A casa mal assombrada. Ron Livingston, o eterno Tenente Lewis Nixon em Band of Brothers, é bem convincente como o único homem numa família de seis mulheres.

    Não sei se é realmente o melhor filme de terror dos últimos tempos. Mas certamente James Wan – responsável por Jogos Mortais (o primeiro, de 2004), pelo razoável Sentença de Morte (2007) e pelo recente Sobrenatural (2011) – conseguiu fazer um filme de terror acima da média, competente e com várias referências para os fãs do gênero.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.