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  • Crítica | O Passageiro

    Crítica | O Passageiro

    Não é surpresa para ninguém a faceta recente de brucutu que Liam Neeson assumiu para sua carreira. Com o tempo, ele ainda continuou fazendo um ou outro papel dramático, mas seus tentos maiores no cinema tem sido os de action hero idoso. Depois da trilogia Busca Implacável, ele também passou a fazer filmes em parceria com Jaume Collet-Serra (Águas Rasas). Desconhecido, Sem Escalas e Noite Sem Fim seguem fórmulas similares e foram bastante elogiados por parte dos cinéfilos. O Passageiro não foi diferente.

    Michael (Neeson) é apenas um vendedor de seguros que está em um trem, a caminho de casa. Ele perde seu celular na plataforma, e assim, passa a observar mais atentamente as ações de cada um dos passageiros, uma em especial passa a chamar sua atenção, uma bela mulher chamada Joanna, vivida por Vera Farmiga.

    Com o trem em movimento, o vendedor é obrigado via chantagem a fazer delitos que vão aumentando a gravidade com o tempo, e que envolvem inclusive a morte de pessoas dentro e fora dos vagões. A tensão criada nesse ambiente claustrofóbico é terrível, primeiro por ser a vilã uma personagem completamente fora de controle e imprevisível, e também pelo fato de Michael ser um sujeito sem grandes capacidades de sair das problemáticas em que está metido.

    O objetivo final do protagonista é descobrir a identidade de outro dos que estão a bordo do trem, e ele obviamente fracassa na maior parte do tempo. A história apesar de boba, faz sentido, apesar de ser claramente subalterna ante as cenas de ação estilizadas do diretor, com lutas em lugares apertados, em uma bela demonstração de suas habilidades como cineasta, já que consegue trazer embates plásticos acompanhados de uma montagem que faz tudo soar muito fluido, apesar de pequenos deslizes nos aspectos de efeitos visuais.

    O Passageiro faz lembrar ligeiramente Pacto Macabro, de Alfred Hitchcock, no sentido de mostrar um estratagema terrível e obviamente por também ser localizado em um trem. Apesar de ter um roteiro repleto de coincidências, teorias da conspiração e obviedades, como filme de ação o cinema de Collet-Serra funciona maravilhosamente, sendo quase impecável nos quesitos luta e suspense.

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  • Crítica | Águas Rasas

    Crítica | Águas Rasas

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    Com o perdão da injusta comparação, o diretor catalão Jaume Collet-Serra é como Clint Eastwood quando escolhe um filme para dirigir. Ele não entra pra perder ou fazer feio. Assim como o oscarizado diretor, Serra escolhe seus projetos a dedo e o resultado, ainda que não seja de prêmios em festivais ou de produções que acarretam caminhões de dinheiro, é sempre satisfatório por um simples motivo: o público adora seus filmes regados de suspense e o sucesso daquele determinado projeto se dá por meio do boca à boca entre as pessoas. Com certeza algum amigo já te indicou algum filme dirigido por Serra, seja A Casa de Cera, A Órfã, Desconhecido, Sem Escalas ou o estiloso Noite Sem Fim.

    Em tempos de pérolas como a franquia mítica e milionária Sharknado e de produções porcas como Mega Shark Vs Crocosaurus, o gênero que se leva a sério de filmes envolvendo tubarões ficou esquecido após o viral Mar Aberto, fazendo com que o clássico Tubarão, de Steven Spielberg, se mantivesse no topo e com uma larga vantagem em relação às demais produções.

    Blake Lively vive Nancy, uma estudante de medicina indecisa com relação ao seu futuro, mas que adora surfar. Ela, aparentemente, não se dá muito bem com o pai, principalmente após a morte de sua mãe e por isso resolveu viajar o mundo para celebrar sua memória. E é aí que ela resolve procurar uma praia secreta que nenhum nativo revela o nome, sendo que tudo que nós sabemos até então é que a protagonista viaja com uma amiga que não lhe acompanha por estar de ressaca, uma vez que podemos acompanhar junto de Nancy o que ela escreve ou lê quando está em contato com sua amiga ou sua irmã mais nova.

    Chegando à praia, Nancy faz amizade com dois nativos surfistas e o que vemos em seguida é uma série de belas imagens relacionadas à prática do surfe. Nesse ponto, é possível que o espectador se irrite porque a produção não apresenta até aquele momento nada conceitualmente novo, principalmente no que diz respeito aos surfistas e a sensação é de estar assistindo a algum documentário feito por algum canal de esportes radicais. Porém, tudo muda quando os surfistas decidem ir embora, deixando Nancy para uma “última onda”. Acontece que uma baleia morta atraiu um enorme tubarão branco para as águas rasas da praia.

    aguas-rasas-surf-tubaraoFica extremamente difícil escrever sobre o tema sem contar o que acontece, mas, de qualquer forma, o drama da jovem faz com que o espectador a acompanhe de perto, como se estivesse ao seu lado, sentindo, quase que literalmente, sua dor pelas próximas horas, sendo que tudo que Nancy tem para lhe auxiliar são seus objetos pessoais que lhe acompanhavam ao mar, como seu relógio, sua roupa de mergulho, seus brincos e um pingente, além de conhecimentos básicos sobre a movimentação das marés, o que adiciona ainda mais urgência à trama e sua resolução. Vale destacar que não é por acaso o fato dela ser praticamente uma médica, pois qualquer outro surfista sem conhecimentos da medicina chegaria a óbito logo na metade do filme. Uma solução suja, porém, necessária para manter a personagem por tempo suficiente em tela.

    Os méritos de Águas Rasas, curiosamente, não se dão pelas características já conhecidas do diretor que costuma contar histórias peculiares com uma boa dose de estilo, mas sim pelo fato dessa história ser a mais simples possível, onde uma mulher que passa por um trauma faz com que seu instinto fale mais alto do que a própria razão, ainda que quem esteja lá do outro lado seja alguém que está no topo da cadeia alimentar. Dessa forma, créditos também cabem à Blake Lively que mostrou ser uma atriz extremamente versátil nas diversas situações em que a vemos durante quase uma hora e meia de filme. E por que não falarmos da simpática gaivota que, assim como Nancy, passa por drama semelhante? A interação entra as duas é um destaque a parte.

    Com isso, podemos dizer com segurança que Águas Rasas entra para o “hall da fama” de filmes de gênero sobre tubarões.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Noite Sem Fim

    Crítica | Noite Sem Fim

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    Liam Neeson tornou-se uma espécie de reserva moral do cinema de ação. Mesmo que o filme em que ele participa não seja grande coisa, o que não é o caso desse, o ator consegue sempre uma boa performance que atenua os problemas da fita. Nessa terceira parceria com o diretor Jaume Collet-Serra (Desconhecido e Sem Escalas foram as anteriores), o irlandês novamente consegue uma ótima atuação, com o “agravante” de estar cercado de outros ótimos atores e de esse ser um thriller de ação dos mais eficientes.

    Na trama, Liam Neeson é Jimmy Conlon, um matador que há décadas desempenha o ofício sob as ordens do mafioso Shawn Maguire (Ed Harris). Quando o filho de Jimmy testemunha um crime cometido pelo filho de Shawn e passa a ser alvo, Conlon intervém e acaba matando o filho de seu chefe e grande amigo. Maguire então coloca todo o seu contingente de capangas atrás dos Conlon, que, além de sobreviver, têm algumas contas a acertar do passado.

    A maneira intensa como Collet-Serra filma esse Noite Sem Fim faz com que o espectador cole na poltrona. O diretor se aproveita do roteiro enxuto e orquestra momentos de tensão muito interessantes, principalmente na sequência do conjunto habitacional. Interessante observar também que, ao mesmo tempo que se utiliza de uma estética oitentista em certos momentos, o diretor espanhol faz algumas transições de cena bem modernas. Outro ponto muito bacana é o fato de que a cidade acaba se tornando um personagem do filme, não apenas um simples cenário. Collet-Serra também demonstra muito domínio nas sequências que envolvem diálogos tensos entre os personagens, um fato que diferencia Noite Sem Fim de outros filmes do gênero. O roteiro também é bem interessante e, combinado com a boa direção, entrega figuras com profundidade, não sendo apenas as personagens unidimensionais que povoam o gênero.

    Liam Neeson novamente entrega uma boa interpretação, fazendo com que se sinta uma certa pena do seu Jimmy Conlon, mas ao mesmo tempo, mostrando que o personagem tem enormes falhas de caráter. Joel Kinnaman, que interpreta o filho de Jimmy, também está ótimo em cena, formando uma boa dobradinha com Neeson, ainda que seu personagem caia no lugar-comum do filho revoltado com o passado do pai. Ed Harris está especialmente ameaçador como Shawn Maguire, e Vincent D’Onofrio, como um policial que observa toda a situação a distância, também está muito bem e passa credibilidade ao papel.

    Porém, como nada é perfeito, o filme acaba caindo em um velho clichê de redenção no seu desfecho. Ainda que o personagem de Neeson aproveite aquela noite para tentar se redimir com o filho e com si mesmo, a rota escolhida pelo roteiro termina por ser a mais fácil e previsível, fazendo com que o final da película perca um pouco de peso. Fica um gosto amargo de decepção com o que ocorre. Ainda assim, Noite Sem Fim é um ótimo filme, com ritmo frenético, boas atuações e bons personagens e possivelmente é o melhor filme dessa fase de ator de ação em que Liam Neeson ingressou.