Depois de uma temporada inicial apoteótica, The Mandalorian retorna em 2020 repleta de expectativas por parte dos espectadores e da crítica. O destino do caçador de recompensas e da criança que lhe serve de parceiro e pupilo é explorado em cenários que lembram os bons momentos dos western spaghetti, e claro, aventuras de ficção científica.
Em menos de dez minutos do primeiro episódio, Din Djarin se mete em um cenário de luta livre com diversos personagens alienígenas já conhecidos, inclusive os “suínos” gamorreanos que serviam de guardas de Jabba brigando e arrumando confusão. A sensação de que se expandiu o mundo introduzido em Uma Nova Esperança na cantina de Mos Eisley segue viva, claro, com pitadas do novo cânone e muitas referências a The Clone Wars e Rebels.
Jon Favreau sempre disse que era um apaixonado pela trilogia clássica e tudo que foi produzido a respeito da saga, e isso se vê tanto na escolha de estender essa parceria com Dave Filoni, responsável pelas séries animadas em 3D que se localizavam entre os filmes, como também no retorno aos cenários clássicos e no uso de feitos visuais práticos, como era nos longas dos anos 70 e 80. O cuidado em dar volume e substância aos confins e subúrbios da galáxias fomenta a importância da jornada estabelecida entre o Mandaloriano e a criança, resultando numa boa releitura dos mangás do Lobo Solitário.
A estrutura dos episódios segue a mesma da primeira temporada: há uma linha guia, mas alguns episódios são ligados a questões pontuais. A presença de velhos conhecidos dos fãs permanece neste ano, ainda que ocorra de forma breve. Essas aparições garantem fôlego a série e dão um pouco da dimensão do quanto o antigo universo expandido maltratou os personagens, especialmente Boba Fett, embora haja um resgate de elementos de quadrinhos antigos do selo Legends como em Boba Fett: Engenhos da Destruição e Jango Fett: Temporada de Caça.
Entre os diretores dos oito episódios, há de destacar Bryce Dallas Howard, que rege de maneira ainda mais firme do que havia sido na primeira temporada em The Sancturay, e também Robert Rodriguez, que produz um capítulo curto, mas repleto de ação e diversão, fato que rendeu ao diretor de Alita: Anjo de Combate a produção executiva da nova série da Disney +, The Book of Boba Fett. A presença de Rosario Dawson também é ótima, finalmente trazendo à luz um personagem que só tinha aparecido em versão animada.
Os dois episódios finais são frenéticos, mostram boa parte dos personagens secundários com muito destaque, além de conter boas referências ao cinema recente, como uma clara alusão a cena do jogo de adivinhação em Bastardos Inglórios, e claro, o resgate a um conceito do universo expandido, os robôs de combate Dark Troopers. Para quem gosta de Star Wars,The Mandalorian é um prato cheio. Simples, direta, divertida e cheio de personagens carismáticos.
Mulher-Maravilha 1984 se tornou uma das esperanças da Warner Bros. e DC Comics para retomar o sucesso do universo cinematográfico dos super-heróis da casa, após a recepção morna da Liga da Justiça. Além disso, era também aguardado que, após o fechamento forçado dos cinemas devido a pandemia, o filme, cuja estreia foi programada para dezembro, traria um retorno aceitável de bilheteria, mesmo que sua exibição fosse simultânea com o streaming da HBO Max.
Novamente conduzido por Patty Jenkins, o início do filme marca um retorno a ilha das amazonas, Themyscera, resgatando boa parte do que deu certo em Mulher-Maravilha em 2017, com o caráter épico do filme solo da heroína. Essa sequencia em particular dura onze minutos, e logo a linha do tempo vai para o presente, os super coloridos anos oitenta do século XX. O segundo filme protagonizado por Gal Gadot faz lembrar seu par da editora concorrente, Capitã Marvel, que brincava com clichês de 1990, mas com diferenças cabais entre as narrativas e a necessidade de se apelar para outra época.
O elenco é estrelado com destaque especial para Pedro Pascal fazendo o canastrão Maxwell Lord. Nos quadrinhos, surgiu como um ganancioso empresário da Liga da Justiça da fase J.M. Demattheis e Keith Giffen, mas que sempre que vai para outras mídia é retratado como um vilão puro e simples. Os problemas do filme começam justamente na hora de desenvolver as relações entre personagens. O exemplo disso é visto entre a doutora e especialista em geologia Barbara Minerva (Kristen Wiig) e a princesa amazona, uma relação cujo roteiro guarda semelhanças com Batman Eternamente, entre Edward Nygma e Bruce Wayne, mas sem ser tão caricatural. Fora isso, as intimidades dos personagens não parecem realistas, e sim um pastiche do que seriam os relacionamento entre pessoas reais. Ao menos a dinâmica e química entre Gadot e Chris Pine segue bem e firme, as piadas que funcionam são exatamente as que invertem os papeis da pessoa em um mundo novo, que antes contemplava Diana e agora, acometem Steve Trevor.
Porém, o retorno do par romântico da heroína, ajuda a deflagrar um dos defeitos do filme: a conveniência do roteiro de Geoff Johns, David Callaham e Jenkins. O que incomoda é o apelo a suspensão de descrença. Em alguns pontos é bem comum os exageros nas historias em quadrinhos, mas aqui há também excessos e muita convenviências narrativa. Em especial ao artifício do objeto mágico de desejo, que muda suas regras a todo momento. Além disso, os personagens são quase todos muito genéricos, e as cenas de ação são artificiais e muito mal pensadas. As que ocorrem no deserto variam entre momentos com uma iluminação nada realista, unido a resgate de crianças que são feitas por bonecos tão fajutos quanto os vistos em Sniper Americano.
Outra questão complicada é a participação da Mulher Leopardo. Sua versão é bem diferente dos gibis, e isso não necessariamente é um fator negativo. O problema mesmo é ela ser cercada de clichês, igual a tantos outros opositores de filmes de herói, movido por algo maligno e ancestral, representando o esteriótipo de uma pessoa boa mas que é corrompida.
Já o drama de Lord, no final, por mais bizarro que seja, ainda guarda boas surpresas, ao refletir sobre o apego ao poder absoluto, mostra como um homem comum pode se corromper. Os momentos finais guardam momentos grotescos e soluções que não fazem sentido, envolvendo os dois opositores, cujos fins são vergonhosos, assim como a utilização da tão esperada armadura da heroína em O Reino do Amanhã aqui sub aproveitada.
Apesar de Deborah e Zack Snyder assinarem como produtores executivos, claramente se ignora completamente as falas sobre Diana estar escondida desde a Primeira Guerra Mundial, como é aludido em Batman VS Superman e Liga da Justiça (a saber se no vindouro Snydercutda Liga, haverá alguma explicação a respeito). Na verdade, James Wan já havia ignorado fatos sobre o rei atlante em seu Aquaman, mas aqui não há qualquer pudor da heroína em se expor, mesmo que fiquem dúvidas na imprensa sobre suas intenções e origens.
Os aspectos visuais também são estranhos. Sai a fotografia super escura para uma clara e esquisita, em um trabalho assinado por Mathew Jansen, bem diferente do que havia feito em Poder Sem Limites, Game Of Thornes e The Mandalorian e até mesmo no primeiro filme. Ao menos a música de Hans Zimmer não interfere tanto na trama como em outros de seus trabalhos.
Jenkins apresenta um filme desequilibrado, que faz lembrar os momentos mais atrozes de Mulher Gato, A Ascensão Skywalker ou A Torre Negra. Os poucos momentos que são inspirados ficam isolados, como ilhas no meio do oceano, soterradas por uma tempestade marinha capaz devastar tudo, incluindo as boas qualidades. Nem o sacrifício de heroísmo de Diana faz sentido, e a mensagem presente no diálogo entre ela e Lord é tão barata e piegas que faz temer pelos próximos trabalhos dos envolvidos. Naturalmente, já há uma parte três confirmada pelo estúdio.
E finalmente a primeira temporada de The Mandalorian chega ao fim, não sem anúncio de que ela retornará no final do ano de 2020. A expectativa em torno de Redemption era grande, especialmente porque caberia ao realizador Taika Waititi a direção desse capítulo. A trama começa imediatamente após ao plano do Mando de Pedro Pascal ter dado errado, com o acréscimo do Moff Gideon de Giancarlo Esposito chamando o grupo de anti heróis a ação.
As primeiras cenas dão conta de uma engraçada inteiração e discussão de troopers em bicicletas speeders, as mesmas vistas em O Retorno de Jedi. Eles tem armaduras deterioradas, sujas e surradas, como a dos rebeldes em Uma Nova Esperança, mostrando o declínio do que antes era um grande, numeroso e portentoso governo tirânico.
É incrível como em meio aos pouco mais de quarenta minutos de exibição ( o maior entre os oito) ao mesmo tempo que há muito drama, há também um clima leve e piadista. Jon Favreau acerta demais no roteiro e na escolha do seu condutor, seja na reutilização de IG-11, na exploração do passado do personagem-título de Pedro Pascal ou simplesmente nas piadas sobre a falta de pontaria dos artilheiros imperiais. Há um equilíbrio no que toca as referências aos fãs de uma maneira muito cuidadosa, diferente da total falta de sutileza dos filmes recentes, em especial A Ascensão Skywalker, mas um pouco de Han Solo – Uma Historia Star Warstambém.
Esse é obviamente um capítulo mais expositivo, que faz referências ao mito do Super Homem, a Moisés e até a Jesus Cristo. Toda a mística em volta do estiloso Boba Fett é finalmente justificada na cena em que o Corpo de Combate da elite mandaloriana aparece em massa ajuda a explicar toda a idolatria visual que as crianças e adolescentes tinham com o caçador de recompensas pós Império Contra Ataca – e também faz perguntar o motivo de terem transformado ele em um clone bobo, em Episodio 2- Ataque dos Clones – o encanto do pequeno Mando é exatamente o mesmo que o dos que compravam os bonecos da Kenner e achavam aquele personagem que emboscou Han Solo um sujeito sensacional.
As lutas que Waititi coloca em tela são secas, diretas e visualmente lindas. Quase todos os embates do seriados são de um apuro absurdo, mas essa em especial tem um peso diferenciado, pois há realmente um temor pelos personagens que foram apresentados, mesmo que nenhum deles seja exatamente o mocinho.
A vilania de Gideon não é super exposta. O que se sabe é que ele era um governador imperial bastante agressivo em abordagem, que punha a mão na massa tal qual Tarkin, e que é claramente mais imponente que o General Hux ou Pryde, que são alguns dos opositores da mais nova trilogia. Há mais receio no que se fala sobre o cerco a Alderaan e a Noite das Mil Lágrimas do que o visto nas ações da Primeira Ordem como um todo, inclusive referenciando um momento de conflito tal qual ocorreu no Episódio IV com as tais Guerras Clônicas. Espera-se que jamais tentem filmar tais conflitos, pois certamente a feitoria desses não corresponderia a imaginário de quem gostou de The Mandalorian.
Todos os aspectos técnicos são ótimos, a fotografia ajuda a montar uma atmosfera de tristeza e melancolia, os personagens novos mesmo sem muito tempo fazem diferença, há para quem torcer e por quem se importar, os efeitos práticos são ótimos e por mais que haja na figura do Baby Yoda um resquício de ligação com a força – além de uma breve explicação sobre as habilidades de sua raça – não há uma condição de refém dos jedi ou da religiosidade que era comum na época da antiga república.
A segunda metade do season finale é carregada de emoção, de despedidas e sacrifícios dos personagens. A probabilidade disso tudo soar piegas era grande, mas é incrivelmente bem encaixado em todo o trama previamente estabelecido. Há muito cuidado em toda a produção de The Mandalorian, fato que faz preocupar ter um segundo ano, pois esse é tão auto suficiente, auto contido e foge tanto a histrionismos, sendo basicamente o maior acerto da Disney junto a Os Últimos Jedi, e o longa citado foi tão surrado ao longo do tempo, ao ponto de terem descreditado quase tudo que ocorreu nele no filme subseqüente. O que se espera é que Favreau e seus colegas de produção tenham tempo e não pressão para lidar com a historia e com todos os aspectos que rondam Mando e outros personagens. O que se viu até aqui é algo de beleza ímpar, um objeto cuidadoso e bonito.
O recap do sétimo episódio de The Mandalorian – batizado com The Reckoning – é um bocado longo, resgatando momentos de personagens que pouco apareceram, e não só dos personagens de Carl Weaters ou Werner Herzog, como em um acerto de contas com os outsiders que ajudaram o caçador de recompensas que dá nome a série a compor toda a trama pensada pelo criador Jon Favreau. Esse talvez seja o mais sentimental entre os sete capítulos já apresentados até aqui.
A historia não tem rodeios, se mostra Greef Carga (Weaters) apresentando uma proposta de união, que talvez pusesse o Mando de Pedro Pascal em uma situação conveniente e sem conseqüências graves para si e para quem lhe é querido. É engraçado como essa situação proposta iguala o sujeito a condição de Han Solo em Império Contra-Ataca, incluindo aí até as altas chances dele rescindir os erros no futuro, independente até do que ocorrerá no Season Finale, exatamente como ocorreu com o coreliano em O Despertar de Força.
A partir daqui se falará mais diretamente da trama, se ao leitor incomodar ter contato com spoilers, é melhor parar de ler.
O retorno de personagens como a Cara Dune de Gina Carano já era esperado, até pelo recapitular ter um caráter meio de prólogo. A forma como cada um dos personagens é mostrado dá um bocado de ideia de como funciona a personalidade dos mesmos, ainda que não haja tanto temo para cada um deles mostrar o seu cotidiano, e um pouco de quem cada um é. Mandalorian tem muita sorte em apresentar pessoas carismáticas e fáceis de gerar empatia mesmo com pouco tempo para desenrolar sua historia e para desenrolar a vida desses mesmos personagens.
Nick Nolte e Taika Waititi também retornam, com seus Kuiill e IG-11 e a participação de ambos é carregada de sentimentalismo, mas nada que faça soar piegas. A valorização de um e a ressignificação do outro reforça a ideia de outsider que o seriado sempre carregou. Dirigido por Deborah Chow, esse é o capítulo mais frenético, pois as tentativas de negociação entre cliente, contratante e contratado são violentas, acompanhadas de tiroteios e cercos absurdos, evocando até o que sobrou do Império Galáctico, mas ainda sem grandes respostas para a trama. Impressiona como Favreau prende a atenção do espectador e do fã, sendo bem pouco ou nada explicito dentro dos trinta minutos de capítulo e dos créditos “pintados”, que relembram e avançam a historia.
Giancarlo Esposito faz um homem que parece imponente e uma autoridade seja lá do que for, mas há em sua persona um cuidado para manter ainda a aura de mistério, emulando poeticamente e também na trama toda suspeição de Mando, que não confia em ninguém e que vê seu fracasso possivelmente chegar exatamente quando pensa em agir como equipe. Há um misto de sensações ao perceber que falta apenas um capítulo para acabar The Mandalorian, pois além de desenrolar muitos mistérios, também há a sensação de que são poucos os momentos nessa jornada de oito capítulos, mas também há alívio, pois tal qual ocorreu recentemente com Watchmen, que também só deverá ter uma temporada (tomara), o fato de não haver uma grande extensão de historia a torna ainda mais única e especial, que tem suas qualidades positivas agravadas pelo largo uso de efeitos práticos ao invés do comum e exagerado uso de CGI.
Mais longo entre os capítulos, pelo menos até agora, o sexto episódio de The Mandalorian começa com Mando indo até uma base estelar num espaço não identificado, onde encontra Ranzar Malk (Mark Boone Júnior), lá ele é bem recebido, cumprimentado por um sujeito que parece ser seu amigo, apesar da frieza do personagem principal.
Até pelo nome do capítulo, The Prisioner, se percebe que toda a amistosidade é um despiste, ao menos dos outros caçadores de recompensa que estão na base, dando sinais de que a guilda que contratou Mando (Pedro Pascal)conseguiu passar sua mensagem para praticamente toda a galáxia. Também se pincela um pouco de como funciona a política da Nova República, embora só arranhe mesmo, ao falar de como funciona o policiamento na galáxia.
Uma força tarefa é montada, para uma missão secreta, uma tentativa de liberar um prisioneiro, numa base da república, e os “canalhas” apresentados se reúnem em torno desse objetivo. Essa configuração faz lembrar um pouco o mote de Rogue One, embora aqui não houvesse qualquer nobreza na causa, e sim apreço pelo dinheiro, como é comum entre mercenários. A questão moral e ética não é super valorizada.
O roteiro e as situações são bem simples, o desenrolar dos fatos é violento e cruel, o episódio é quase como um filme de prisão em miniatura e ambientado no universo de Star Wars, e Rick Famuyiwa faz uma direção bem econômica e competente, sobretudo nas cenas de ação, que mostram combates francos, dignos, emulando dessa vez a sujeira moral e física dos westerns spaghetti.
Famuyiwa também injeta elementos de filmes de assalto, incluindo aí uma reviravolta com os que trabalharam com Mando, mostrando que o jogo que ele exerce o faz estar por cima da cadeia alimentar, mostrando-o como um estrategista acima dos seus semelhantes, capaz de ardis inesperados.
Até aqui Jon Favreau consegue produzir uma série que até utiliza alguns bons clichês de Guerra Nas Estrelas, mas que não pesa a mão em questões envolvendo misticismo, e que acerta cada vez mais por mostrar confins distantes da galáxia, com o excelente pretexto de mostrar as tentativas de fugir e de viver em paz que o personagem-título faz.
O início de The Gunslinger é no espaço, com o Mando de Pedro Pascal e o bebê da raça de Yoda sendo perseguidos. O diretor Dave Filoni e o roteirista e produtor Jon Favreau conseguem nesse terminar de referenciar as boas marcas e clichês de Star Wars, mostrando até o mesmo tipo de mira mega analógica típica do esquadrão rebelde que atacou a Estrela da Morte em Uma Nova Esperança.
O repouso do mandaloriano em um planeta remoto, que inclui Peli Motto (Amy Sedaris) como uma de suas habitantes – junto a pequenos e atrapalhados dróides – tem um ar de filme de fantasia provinciano, variando entre o visto em Willow – Na Terra da Magia e os contos tolkianos de Tom Bombadil no livro A Sociedade do Anel, embora aqui não seja excessivo.
Esse episódio é um dos mais curtos, considerando que a maioria deles não passou de quarenta minutos. A meia hora quase cravada mal se vê passar, o ritmo é fluído, mas a realidade é que quase nada ocorre, além de uma leve perseguição entre caçadores de recompensa. Ming-Na Wen mesmo, a atriz que protagonizava Agentes da Shield tem uma participação como Fennec Shand, uma sniper atrás da recompensa pelo protagonista, e por mais que parecesse ter potencial, tem sua aparição incrivelmente encurtada, mais ainda que a personagem de Gina Carano em The Sanctuary.
Este é quase um episódio do meio, um momento de breve reflexão sobre a jornada do anti herói, que tenta se esgueirar pelos confins da galáxia, que lida com a traição comum entre os mercenários e que se vê as voltas com os cercos comuns aos canalhas de Guerra nas Estrelas. Fora isso, há pouco avanço, além da vontade do novo personagem Toro Calican (Jake Cannavale) de entrar para a tal Guilda (a organização que reúne os Bounty Hunter da galáxia), e o que se vê é isso, um predador tentando ser mais esperto que o outro, com as cabeças ficando a prêmio o tempo inteiro.
Filoni mais uma vez não faz um trabalho de direção tão assertivo, há pouco interferência dele enquanto realizador, o que é realmente uma pena, pois um sujeito que tem tanto conhecimento a respeito do cânone e do antigo universo expandido de Star Wars, se esperava uma participação um pouco mais aguda em seus episódios, e apesar desse e do Chapter One serem os que contém mais referencias visuais e espirituais com o antigo Universo Expandido, são também os mais genéricos em matéria de roteiro e de direção, mesmo com os fan services e com a inversão de valores dentro de Mos Eisley, que agora é comandada por um droide como bartender, enquanto no Episódio IV, o antigo chefe do bar proibia robôs.
Para o futuro, resta entender e saber quem é a figura misteriosa que aparece na cena pós crédito, e esperar que não seja a figura de Boba Fett, como boa parte dos fãs na internet teorizaram, uma vez que resgatar isso seria um péssimo retrocesso e referência a um dos momentos mais vergonhosos do material extra-audio visual.
Após três episódios bem distintos e desprovidos de qualquer caráter épico, The Mandalorian retorna para este The Sanctuary com um momento meio inédito para a série, com um prologo que remete a discussões bem distantes do que normalmente era discutido no seriado. O momento citado mostra o fundo de um pequeno lago, onde se veem crustáceos azuis, com aparência típica do camarão visto na Terra, em um momento que apesar de bem diferente do que se via até então, faz paralelos com outras adaptações para a televisão, incluindo ai o elogiado seriado de Damon Lindelof, Watchmen, que normalmente começa seus capítulos assim, com algo diferente do resto da historia.
O cotidiano dessas criaturas marinhas é interrompido pela ação dos humanoides do planeta onde a trama do capitulo dirigido pela atriz Bryce Dallas Howard – estreante em séries (fez alguns curtas, tele filmes e mini-series) , que é filha de Ron Howard, o mesmo que finalizou Han Solo: Uma Historia Star Wars – ocorre, e de certa forma, é um resumo de como conversará a trama principal, que mostra um lugar indefeso e até um pouco ermo daquele cenário político pós Império, sendo atacado por selvagens expansionistas.
O destino dos presentes no planeta e do caçador se cruzam por acaso, e o caçador se sente tão à vontade que até tira sua máscara, mas não mostra as feições de Pedro Pascal para as lentes das câmeras. Há uma clara influência visual de produções de fantasia grandiosas. Há bastante coincidências entre as ações e visuais dos invasores que tomam o vilarejo visitado pelo mandaloriano com os Uruk-hais de O Senhor dos Anéis, inclusive nas intenções não ditas por eles e pelos soldados de Sauron. Ali parece haver só selvageria e maniqueísmo.
Também se nota no roteiro de Jon Favreau uma vontade enorme de referenciar os clássicos filmes japoneses de samurai, principalmente Yojimbo, de Akira Kurosawa e o mangá Lobo Solitário, especialmente no que toca o Baby Yoda acompanhando o aventureiro. Lança-se mão de muitos clichês visuais e de arquétipos, neste que é até aqui o mais usual e raso dos episódios. As sutilezas são deixadas de lado para mostrar alguns personagens novos, introduzidos sem muita cerimônia, e que agem basicamente como mandam seus figurinos e visuais.
Em alguns momentos é impossível não achar que a inteiração entre os personagens é comandada por uma criança de sete anos, que faz uma brincadeira com seus bonecos. Essa sensação é um pouco aplacada pelo bem desempenho de Gina Carano, que faz Cara Dune, uma caçadora de recompensas que está no mesmo espaço que Mando, que interage com ele de maneira violenta mas depois é amistosa com o protagonista, como já se esperava alias.
Ao menos os combates são bem legais, a utilização dos artefatos imperiais é muito bem pensado, e mostram como os lugares carentes dão um novo significado aos esforços de guerra, além de mostrar a construção de novas resistências, para muito além do grupo de Leia e companhia mostra em O Despertar da Força.
Apesar de ter uma cara de “episodio filler”, The Sancturay tem muitos acertos, ao mostrar como pessoas comuns tem de lidar com o que restou das forças imperiais e como se lida com as milícias provenientes dos antigos tempos de guerra. The Mandalorian parece mesmo se dedicar a mostrar a vida dos marginalizados da galáxia, e nesse aspecto acerta demais, não só em abordagem textual como também no visual.
Mesmo que em alguns pontos este pareça um capítulo de Hercules ou Xena: A Princesa Guerreira, o que se vê da comunidade quase medieval coincide bem demais com bons episódios de Star Wars: Clone Wars, sobretudo os que se passavam nos planetas atacados pelos separatistas. Entender que Guerra nas Estrelas não é só Naboo, Coruscant, Tatooine e as instalações imperiais é importante, e por mais que houvessem viagens para Bespin e Hoth em O Império Contra Ataca, quase não se notava como eram aqueles lugares para o povão, uma vez que tudo girava em torno de dois ou três personagens, e a câmera de Irvin Kershner os acompanhava nessas andanças.
Os mais de trinta minutos de episódio tem sido pouco para explorar a pecha de emulação de produto western que Jon Favreau propõe em seu The Mandalorian de Deborah Chow já começa no espaço, a borda da nave de Mando, com o mesmo recebendo mais ordens de Greef Carga (Carl Weathers), para se dirigir até o cliente e finalmente entregar sua encomenda. No caminho, se percebe o risco e vasto cenário suburbano de Star Wars pós queda do Império de Palpatine, em uma observação contemplativa digna de Star Trek, que aliás, também tinha uma ideia de exploração de faroeste espacial tal qual a saga de George Lucas.
Antes de pousar o personagem de Pedro Pascal fala ao seu tripulante, o filhote verde cinquentenário que não mexa com os produtos da nave, afinal aquilo não é um brinquedo, possivelmente um paralelo do roteiro que iguala o alvo citado a pecha de action figure ou as pelúcias que certamente as empresas da Disney venderão baseadas nesse derivado da franquia, mas também é um lembrete de que essa é uma historia seria, sobre pessoas e eventos marginais.
Werner Herzog é imponente ate sem silêncio, seu personagem, sem nome parece um sujeito perigoso e autoritário mesmo com as breve aparições. Sua postura, apesar de não revelar muito de suas intenções, passado e ligações, faz o espectador pensar que ele ou tem ligação ou teve no passado com os imperiais, já que seus capangas usam uniformes de stormtroopers, e já que ele faz experiências com criaturas. O The Sin do subtítulo talvez converse com a questão que emula o Gabinete do Dr Caligari durante o capítulo, mas provavelmente essa pecha esconde outras intenções do personagem vilanesco.
Há mais cenas com a figura misteriosa (e mascarada) que dá ordens e ajuda o mandaloriano de Pascal, e nesse ponto se abre um bocado a questão mitológica do seriado, mostrando que o secretismo dos que restaram da Mandalorian é uma estratégia de força, poder e principalmente sobrevivência. É curioso, porque mesmo amarrando pontas soltas, como a perseguição ao seu passado, não é exatamente didática ou explicita, e a forma gradativa como os segredos se revelam favorecem o lado emocional da trama, que aliás, é muito mais explorada.
A busca por novos trabalhos busca preencher seu vazio, por não ter certezas sobre seu passado, uma versão pretérita de si onde era presa e não predador. Mesmo ao tentar fugir desta situação ele se vê refletindo, sobre quem era, sobre como foi e sobre a entrega que fez, enxergando no alvo um semelhante ao seu eu do passado. Comprometer os outros não parece ser uma enorme preocupação para ele, ao menos não tão grande quanto a de reaver o que havia entregue.
A ação do episodio beira a perfeição, ele é violento, os ataques são secos, a troca de tiros em espaços pequenos faz lembrar demais os combates nos saloons dos clássicos de Sergio Leone e Sergio Corbucci, cuja tensão mora pela possibilidade da morte do “herói” e pela pouca mobilidade que o ambiente claustrofóbico lhe causa.
Chow mistura bem demais elementos de inspirações básicas de Lucas para a franquia, é quase poética a mistura entre Os Sete Samurais e Sete Homens e Um Destino que é empregada, onde a amalgama não é voltada para a trama que se repete em ambas versões, mas sim nos dois estilos diferentes de contar a mesma historia. Clone Wars era pródiga em mostrar ações de caçadores de recompensa, mas ver os mercenários se combatendo aqui é algo único, o sonho de qualquer garoto que assistiu Império Contra Ataca e queria saber mais de Dengar, Boba Fett, Bossk e IG-88, com direito a exploração visual de novas armas novas e visores que não eram explorados quase desde Uma Nova Esperança.
O final do capítulo talvez seja o ponto mais baixo do episódio, apesar de não ser exatamente algo ruim, afinal, sobra tensão e momentos épicos. Até a apelação ao famigerado clichê de Deus Ex Machina, mas a ação mostrada é absurda, e mesmo que a ajuda que o herói recebe sendo de certa forma injustificada. Chow certamente conduz até aqui o melhor dos capítulos, não à toa, já que ela é bem acostumada ao formato de programas de televisão, equilibrando bem o revelar da mitologia, o espelho de expectativa de Mando com o bebê e claro o combate entre contrabandistas e caçadores de recompensa.
Após um início um pouco protocolar em The Mandalorian- Chapter One com Dave Filoni na direção, The Mandalorian retorna alguns poucos dias após seu primeiro capítulo, dessa vez comandado por Rick Famuyiwa, do recente Dope: Um Deslize Perigoso, o episódio parece ter mais personalidade, investe mais no humor e na graça, além de fazer o silêncio prevalecer, algo que não parece incomodo para o mandaloriano caçador de recompensas.
Imagino que quem está lendo esse texto viu o primeiro capítulo, então é natural que se fala de partes importantes da trama. Boa parte dos que assistiram o episódio passaram a crer que a criança encontrada poderia ser um clone do Mestre Yoda, ou o próprio pequeno, embora não haja qualquer indício disso, já que ele morreu em O Retorno de Jedi, e reapareceu como espírito da força em Os Último Jedi, e até onde se sabe, não há ressurreição no universo Star Wars. Até se brinca com a possibilidade do mesmo ter poderes, já que ele sai da cápsula babá e interage apontando para o personagem de Pedro Pascal, mas os mistérios em seu entorno não são apressados em se resolverem.
Famuyiwa usa e abusa do personagem novo. Mesmo sem utilidade o filhote acaba roubando a cena, por sua personalidade carismática e fofura. Toda a tentativa do personagem central em perseguir uma tribo de Jawas impressiona, não só pelo arrojo visual, que emula bem demais o início de Uma Nova Esperança. Os figurinos, os veículos, tudo é muito bonito para uma adaptação televisiva, e a armadura de Beskar realmente chama a atenção, já que está sempre em evidencia.
Há todo um caráter diferenciado nos episódios, aparentemente não há tanta preocupação em mostrar uma historia épica, e sim side historys do universo de Star Wars, momentos simples e ordinários, a riqueza está nele tendo que lidar como uma babá, ou recuperando artefatos para os jawas (em uma luta épica, diga-se) ou tendo que conviver com Kuiil (Kyle Pacek como dublê de corpo e Nick Nolte com voz e expressão) o ugnaught sentiano que o chama de Mando e que serve como guia para ele no planeta desconhecido.
A Disney continua sem resolver a problemática de o seriado não ser vinculado em países como o Brasil, que ainda não tem seu serviço de streaming (programado para chegar no segundo semestre de 2020 ao que tudo indica) e mesmo a possibilidade de outro serviço adotar as séries e filmes só deverá acontecer para o final do ano o início do próximo, desse modo, não há garantia de que haverá como assistir os mesmos sem lançar mão de downloads.
Enquanto isso a trama que Jon Favreau propõe tem um lento desenrolar, fato que torna tudo muito dúbio, pois ao mesmo tempo que não apresenta nada fora do ordinário, também ganha exatamente pelo predomínio do ocaso, fazendo todo o rico universo de Star Wars ter importância, fugindo da velha obsessão herdada de George Lucas de explorar os detalhes dos Skywalkers. Caso seja realmente a vontade de The Mandalorian só mostrar historias de personagens e raças alternativas, não há grandes problemas, ainda que os mistérios e sementes plantadas apontem para uma maior grandeza.
Havia muita expectativa em relação a série que Jon Favreau organizava no universo Star Wars, e já no piloto da primeira série live action derivada Guerra nas Estrelas, The Mandalorian não demora a mostrar ação, mirando as ações do personagem-titulo – interpretado por Pedro Pascal mas que não tem sua identidade e origem desenhadas em um planeta de neve, com ele entrando em uma cantina que faz lembrar demais a Mos Eisley de Tatooine, em uma dosagem bem interessante de referencias e fan service.
O piloto, chamado Chapter One é dirigido por Dave Filoni, o cowboy, produtor e showrunner de outros derivados da saga de George Lucas, em um sucesso indiscutível em Clone Wars, Rebels, um início promissor com Resistance e um enorme conhecimento sobre o antigo universo expandido (chamado de Legends) e o novo canônico. De destaque positivo e fora trama, há uma vinheta bem legal, que faz a luz passar por capacetes ou carapaças de personagens clássicos, um agrado aos fãs que não soa ofensivo para quem não é exatamente aficionado pela franquia.
Os mandalorianos tem detalhes de seus posicionamentos nas mesmas animações que Filoni conduziu, e em alguns livros e historias em quadrinhos antigas. Os personagens mais conhecidos entre eles curiosamente são dois não membros da “raça” os caçadores de recompensa Jango e Boba Fett. Os métodos do mandaloriano misterioso não são tão diferentes dos dois personagens citados, com a diferença de que ele realmente tem presença e é certeiro demais, ao contrário do jeito atabalhoado que ambos pereceram, em Ataque dos Clones e O Retorno de Jedi respectivamente. O povo de Mandalore é conhecido por ser pacifico, exceto alguns membros da elite, entre eles os que usam as tais armaduras cromadas, e os tempos pós queda imperial talvez expliquem o modo de agir do personagem de Pascal.
A ação do episódio é curiosa, pois é violenta, como se espera de um caçador de recompensas que vai atrás de seu alvo, e as brigas são francas, secas e se valem de uma anti artificialidade atroz. A mistura de figuras digitais e reais é bem encaixada, assim como o uso de efeitos digitais e práticos. A textura dos personagens é muito real, fato que facilita que os combates pareçam realistas.
Não há um grande desenrolar do panorama político da galáxia pós queda do Império, que é onde o seriado se coloca cronologicamente, mas observando bem se percebe que boa parte dos métodos mudaram. O mandaloriano ao capturar seus alvos, os congela em carbonita, e há de se lembrar que quando Han Solo é preso em O Império Contra Ataca, o foi para que testassem antes de prender ali Luke Skywalker, ou seja, das duas uma, ou ele assume riscos de maneira até um pouco irresponsável, ou essa prática se popularizou na galáxia muito distante.
Também se nota que há resquícios de mandatários imperiais, que envolvem pessoas do elenco bem famosas, como Werner Herzog, que faz o Cliente (ele é chamado somente dessa forma). Sua participação ainda é pequena, mas ele parece ser um sujeito imponente, poderoso e cruel, um vilão clássico mas que dá margem para mais nuances.
As outras participações, de Greef Carga (Carl Weathers) e IG-11 (Taika Waititi) são mais extensas dão mais margens para ou teorizar ou para protagonizar mais ação (caso do segundo, que aliás, impressiona no modo de mostrar a movimentação de um droide de ataque IG, que antes, só andava nos filmes, e só foi mostrado de fato atirando nas animações. Uma pena que boa parte desses momentos cruciais tenha sido mostrado nos materiais de divulgação. Já Carga não tem todo seus segredos revelados, mas parece ser um sujeito de grande importância, possivelmente ligado a um dos lados antagônicos da antiga guerra entre rebeldes e imperiais, e não só um sujeito neutro como normalmente são os bounty hunters.
The Mandalorian – Chapter One é curto, tem 38 minutos e a exibição dos outros episódios serão feitos em momentos da semana bem diferentes. A abordagem dramática impressiona por ser direta, revelando muita coisa, mas deixando muitos mistérios para serem desenvolvidos e desenrolados em momentos a frente, inclusive com uma piscada para o público bem legal. Não há apelo para muitas obviedades, mesmo que ainda tenha alguns clichês empregados, e é visualmente deslumbrante em cenários e nas interações entre os bonecos digitais, os fantasiados e personagens meramente humanos.
O cinema de ação, ao contrário de vários gêneros e subgêneros compreendidos pelo cinema, não é um sobrevivente, e sim uma constante; se há variações de estilo e graus de comprometimento com certas estéticas e abordagens narrativas, há também a segurança de que sempre haverá espaço, tanto nas telonas quanto nos serviços de streaming e demanda, para tiroteios, explosões e dinâmicas agressivas para personagens igualmente agressivos (se não em essência, ao menos em método). Desta forma, os filmes de ação carregam um estandarte de entretenimento que só é rivalizado pela fantasia, e nos últimos anos, a cruza entre ambos promovida pelo boom de filmes de super-heróis e super-heroínas tem sido o padrão deste tipo popular (em todos os sentidos) de produção; de filmes da Marvel a Velozes & Furiosos e John Wick, personagens icônicas e sagas crescentes tomam os holofotes, mesmo que não existam super-poderes em cena. Às vezes, no entanto, há tentativas de valorizar maneiras diferentes e mais tranquilas de se realizar ação – e Operação Fronteira, novo filme de J. C. Chandor, responsável por Margin Call, Até o Fim e O Ano Mais Violento, é um bom exemplo da contramão a estes exemplares recentes em voga.
Protagonizado por um elenco carismático e mais estrelado do que o normal para produções (em tese) mais modestas, puxado por Oscar Isaac e Ben Affleck, Operação Fronteira traz um grupo de ex-combatentes de elite das forças armadas estadunidenses, liderados por Redfly (Affleck) e reunidos por Santiago (Isaac), tentando empreender um roubo à mansão de um narcotraficante, situada em uma tripla fronteira sul-americana, com base nas informações obtidas por uma informante de Santiago (Adria Arjona) enquanto este atuava como consultor para as polícias colombianas (a frequente adesão de soldados dos Estados Unidos a PMCs, private military contractors, ou seja, mercenários de exércitos de aluguel, é brevemente citada pelo personagem de Charlie Hunnam, William Ironhead Miller). Redfly, um estrategista nato que tenta (e fracassa em) levar uma vida pacata, é convencido por Santiago, e logo se junta a Ironhead, Ben (vivido por Garrett Hedlund, irmão de Ironhead) e Francisco Catfish Morales (Pedro Pascal, continuando sua onipresença hollywoodiana) para o golpe no criminoso local, Lorea (Rey Gallegos).
Obviamente nem tudo sai conforme o planejado e mesmo que a competência dos envolvidos seja à prova de balas, suas fibra moral e resiliência não são, e é neste aspecto que Operação Fronteira consegue se libertar um pouco das amarras de um roteiro medíocre e de uma trama francamente desinteressante. A casualidade do planejamento do roubo e a violência (muitíssimo bem orquestrada e demonstrada) contida porém impactante desencadeada pelas ações dos ex-militares tornados em ladrões lembra alguns dos melhores momentos de Michael Mann em filmes como Colateral e Miami Vice, mas as semelhanças são mais espirituais do que visuais ou técnicas; Chandor não parece interessado em compor cenas emblemáticas e grandes sequências de ação, e sim nas consequências imediatas das deturpações à ordem natural dos lugares por onde Santiago e sua equipe passam, e o fato de Operação Fronteira ser em grande parte um filme suspeitosamente mais silencioso e marásmico do que a imensa gama do cinema de ação dá suporte a esta impressão. O filme não entra em excessivos detalhes acerca de suas personagens e dos procedimentos que estas conduzem, nem mesmo no ato que motiva a reunião dos soldados desiludidos e dá nome (extraoficial) à produção.
Se por um lado a superficialidade da construção das personagens, de suas motivações, e as próprias preparação e execução dos planos soa mais sossegada (ou até preguiçosa) do que se espera, a própria falta de estofo dos protagonistas e o empenho trivial em suas ações denota a estatura social e emocional lastimável na qual se encontram, especialistas em serviço de ideias efêmeras e improdutivas, de acordo com suas (expositivas) falas. Ainda assim, a história de Mark Boal (colaborador de Kathryn Bigelow em filmes igualmente dúbios mas bem mais aflitos), roteirizada em conjunto com o diretor, não investe muito na desilusão do grupo de militares ao léu — apenas o suficiente pra impulsionar a curta trama e contextualizar certas atitudes (e até alguns atalhos dramatúrgicos meio esquisitos). Além desta franqueza roteirística, existe uma curiosa e irônica honestidade para um filme a respeito de um roubo perpetrado por soldados norte americanos em solo latino. O espectador é poupado de visões redentoras e de discursos sociopolíticos sobre a intervenção de gringos em solo brasileiro, paraguaio, colombiano ou peruano, sobretudo de tentativas de explicar ou mesmo compreender os panoramas do crime organizado e do narcotráfico regional. Nem haveria tempo para palestras fora de propósito: o ritmo de Operação Fronteira também consente sua proposta; embora pautado por vários eventos de extrema urgência, todas as sequências tomam um tempo suficiente e compreensível, sem muitos apelos artificiais aos comuns momentos de frenesi e corrida contra o tempo que caracterizam o nicho que ocupa.
É positivamente surpreendente, aliás, que esta obra seja tão despida de ambições e tentativas de fazê-la emplacar de qualquer maneira; Operação Fronteira vagou num limbo hollywoodiano por pelo menos oito anos, tendo diversos nomes e estúdios associados à sua produção, e só ganhando tração a partir da aquisição de seus direitos pelo Netflix. Nem sempre estes construtos cinematográficos ganham vida, e quando ganham, costumam exibir as marcas de tantas ideias diferentes acopladas ao longo do tempo (além de pressa nas suas realizações, o que raramente permite resultados acima da média).
Evitando construir e concluir o filme ao redor de momentos de catarse, e emprestando uma dignidade quieta mesmo aos instantes mais impactantes e enérgicos, J. C. Chandor acabou concebendo Operação Fronteira como um filme de ação desprovido de solenidade e eficiente em encapsular heist movies e militaria sem glorificar, suavizar ou exagerar os cacoetes das obras de mesmo gênero e/ou subtipo. Seus filmes anteriores compartilham componentes similares de andamento e parcimônia, e seu mais que bem-vindo acerto foi comandá-lo da mesma forma, sem dar espaço a certas distrações e tendências. Sem dúvida um tempero mais forte nas personagens e na tensão poderia dar a quem assiste uma forma mais impressionante, mas é possível celebrá-lo tanto pelo que Operação Fronteira é quanto pelo que não é, e se a norma é fazer filmes pretensamente ribombantes e espetaculares, entupidos de *camadas* e elementos a descobrir (sequer sabendo se vale a pena fazê-lo), é bom o suficiente que este título a desafie.
Imagine um bolo, preparado através de uma receita recheada de lugares comuns, com muito doce e com condimentos que normalmente fazem com que o apreciador ache o simples testar dele como algo saborosíssimo. Daí imagine que anos depois, o confeiteiro lança uma outra versão desse mesmo bolo, com os mesmos ingredientes e o mesmo esmero, e entrega esse para o mesmo apreciador do primeiro, sendo que este aprendeu a utilizar de outros sabores e tornou seu paladar com outros gostos. O Protetor 2 sofre um pouco desse mal, pois tanto Antoine Fuqua (seu diretor) quanto seu protagonista (Denzel Washington) utilizam dos mesmos elementos que fizeram O Protetor ser um filme tão elogiado, sendo este segundo recebido com mornidão por boa parte dos especialistas.
A história começa com Robert McCall (Denzel) utilizando outro nome, em um trem na Turquia onde ataca malfeitores genéricos que raptaram uma menina. Utilizando um disfarce fajuto ao extremo, ele consegue trazer a criança à sua mãe, uma mulher comum, que trabalha numa livraria do qual ele é cliente. Depois dos acontecimentos do filme anterior ele passou a trabalhar como motorista particular de aplicativos populares, e passou a ajudar pessoas comuns com suas habilidades.
Esse auxílio prestado demonstra alguma inteligência por parte do roteiro de Richard Wenk, aliás esse é um dos poucos pontos novos na franquia, e contém mais criatividade nesse pequeno argumento do que em todo o restante dos dois filmes que chegaram ao circuito. Como membro de uma comunidade, que tem como epicentro o prédio onde mora, ele se aproxima de um jovem artista promissor, chamado Miles (Ashton Sanders), e nesse ponto ele enxerga no rapaz uma jornada que pode resultar em algo trágico. Apesar do montante de clichês que essa situação acarreta, o fato desse núcleo ter um pé na realidade faz com que ele soe precioso ante a trama, ainda mais por conta de todo o restante da dramaticidade.
Como era de se esperar, McCall volta a ativa, a fim de vingar antigos amigos que sofrem emboscadas, basicamente porque ele se sente culpado por ter largado seus companheiros e forjado sua própria morte. A partir daí, atores bons são mostrados com um certo desperdício, fora Washington, mais nenhum personagem parece ter alguma tridimensionalidade, isso inclui Pedro Pascal (de Narcos), Melissa Leo e Bill Pullman.
Para piorar, o final contém uma perseguição tática entre especialistas, onde mais uma vez se apela para alguns bordões de filmes de super agentes, com ameaças a entes queridos e pessoas próximas, mas isso não chega a incomodar tanto quanto o cenário escolhido para o embate final, sendo esse uma emulação de vídeo games mais populares onde o stealth é necessário para um boa jogabilidade, como Splinter Cell e Metal Gear Solid, mas sem o impacto ou atmosfera necessária para que a referência fosse apreciada como deveria. A utilização da poeira e neblina faz com que o filme pareça amador, mesmo com um orçamento tão graúdo.
Ao final da apreciação de O Protetor 2, sente-se o gosto de mais do mesmo, ainda que não se justifique em momento algum a gritaria em volta do primeiro, ou mesmo as comparações com o primeiro John Wick ou outros produtos de David Leitch e Chad Stahelski. A continuação não é inferior ao primeiro filme, talvez tenha até mais diferenciais em comparação com o primeiro, o recente Sete Homens e Um Destino e demais filmes de ação comandados por Fuqua.
Misturando elementos de romances históricos e filmes de fantasia antigos, A Grande Muralha é o novo produto americano do diretor Zhang Yimou, o mesmo que entregou em 2012 o controverso Flores do Oriente. A história acompanha a dupla de mercenários europeus, William Garin (Matt Damon) e Pero Tovar (Pedro Pascal,de Narcos), que andam pelos arredores da grande muralha da China e se deparam com um conjunto de criaturas fantásticas.
Ao serem rendidos, eles entram nos domínios chineses, e veem uma armada fortemente organizada e munida de armaduras coloridas. Mesmo tão preparados para quaisquer ataques, o exército protetor perece perante as criaturas fantásticas, chamadas de Tao Tei pelos nativos.
O filme tenta fazer crer que o império que ali vive tem o monopólio das forças humanas graças a um pó preto – na verdade é apenas pólvora – mas a inteligência deles não corresponde a uma realidade onde eles seriam de fato os soberanos. Todas as boas estratégias de batalhas partem de Garin ou de Tovar, sobrando aos personagens de Andy Lau (Estrategista Wang) e Jing Tian (Comandante Lin Mei) apenas um show off de armas e de acrobacias em pleno ar.
As cenas de ação são muito bem conduzidas, como se espera de um diretor como Yimou, e já visto em Clã das Adagas Voadoras e Herói, a questão primordial é a pobreza do texto, o amontoado de clichês e até a confusa geografia do reino, que tem uma configuração que não faz sentido algum, uma vez que a cidade real é completamente desguarnecida e alvo fácil para os inimigos.
A Grande Muralha é mais filme com o belo visual de Zhang Yimou, contudo, o texto faz o longa soar genérico como a maioria dos filmes de ação recente, repleto de soluções fúteis e banais para a solução de seus conflitos, personagens arquetípicos e interações emocionais sem a menor química entre as suas personagens.