Tag: star trek

  • Resenha | Eles Nos Chamavam de Inimigo

    Resenha | Eles Nos Chamavam de Inimigo

    O ator George Takei ficou mundialmente conhecido por seu personagem Hikaru Sulu, na franquia Star Trek, um fenômeno da ficção científica referenciado nos mais diversos produtos culturais ao longo das últimas décadas, sempre presente no imaginário popular através de filmes e séries dos mais diversos.

    O que a maioria das pessoas não sabem, contudo, é que antes de se tornar um ator e ativista mundialmente reconhecido, o longevo ator enfrentou o preconceito e a discriminação racial em níveis cavalares, logo após o ataque japonês a Pearl Harbor, no final de 1941.

    Na histeria que varreu a Costa Oeste dos Estados Unidos após o atentado, tanto os japoneses residentes nos EUA quanto seus descendentes foram levados para campos de detenção, injustificadamente listados como suspeitos de associação e fidelidade ao Império Japonês, em plena Segunda Guerra Mundial.

    Desapropriados de tudo que haviam conquistado honestamente ao longo dos anos e deixados em um campo severamente vigiado no meio do Arkansas, os Takei percorreram uma longa jornada até a recuperação de sua liberdade, com consequências que perduraram através das décadas para a população nipo-americana e que influenciaram sobremaneira a forma como o primogênito George viria a enxergar o mundo.

    Em um relato sensível e detalhado, Takei conta a história de sua família de forma tocante e intimista. Contando com Justin Eisinger e Steven Scott nos roteiros, as reminiscências do octogenário ator percorrem tanto sua infância quanto sua vida adulta, explorando não só o trauma do encarceramento injustificável quanto as reverberações desse absurdo institucionalizado pelo Estado.

    A impressionante narrativa visual de Harmony Becker dialoga com as facetas do roteiro ao apresentar um traço camaleônico que se adapta às sequências propostas, ora apresentando um aspecto mais cartunesco, ao explorar as aventuras do pequeno George e seus irmãos, ora dispondo de uma narrativa mais detalhada e menos descontraída, para trabalhar a passagem dos anos e os momentos marcantes da trajetória de Takei pós campo de detenção.

    A tradução de Érico Assis logra êxito ao reproduzir os costumes e maneirismos da fala de japoneses se comunicando em uma língua que não é a sua, gerando efeitos cômicos em alguns momentos mais lúdicos, mas sem perder a seriedade exigida pelos momentos mais tensos da história.

    A leveza da visão infantil é contrastada a todo instante pelos autores com o absurdo cometido contra a população nipo-americana em um evidente movimento racista institucionalizado pelo Estado. As discussões políticas travadas pelos pais do intérprete de Hikaru Sulu são a todo tempo colocadas em perspectiva com as recordações de momentos divertidos e lúdicos do próprio George e seus irmãos em meio ao total e completo absurdo.

    Seguindo o relato do Takei mais famoso da família, a obra carrega consigo a observância de todo o disparate ocorrido junto de um otimismo marcante do ator em relação à democracia e à ideia de liberdade que ele próprio imagina sobre os EUA. Esse viés entusiasta e patriótico acaba evidenciado e gera incômodo na medida em que se percebe que há mais idealização do que constatação factual sobre as estruturas democráticas dos EUA.

    Nessa obra, indicada ao prêmio Eisner 2020 na categoria de obras baseadas em fatos reais, as contradições e os equívocos dos EUA não são mencionados diretamente por Takei, mas podem ser inferidos pelos leitores mais atentos através da construção de roteiro elaborada por Eisinger e Scott, apesar do tom positivo com que George Takei, do alto de suas mais de oito décadas de vida, consegue manter sobre sua longa e próspera vida.

    Publicada pela Editora Devir no final de 2019, “Eles nos chamavam de inimigo” conta com 208 páginas, capa cartonada com orelhas e um design de edição que torna a leitura ainda mais satisfatória e envolvente.

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  • VortCast 71 | Diários de Quarentena I

    VortCast 71 | Diários de Quarentena I

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe PereiraJackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar sobre os seus dias na quarentena em um bate-papo descompromissado sobre reality shows, lives e muito mais.

    Duração: 110 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior
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     Bruno Gaspar

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  • Review | Star Trek: Picard – 1ª Temporada

    Review | Star Trek: Picard – 1ª Temporada

    Star Trek: Picard é uma série revival, criada por Akiva Goldsman, Michael Chabon, Kirsten Beyer e Alex Kurtzman, que segue os movimentos de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, além dos filmes de TNG (abreviação de The Next Generations), em especial Jornada nas Estrelas: Nêmesis. O programa, exibido originalmente pela CBS All Acess e passado no serviço de streaming do Prime Video, começa com uma cena entre Jean Luc (Patrick Stewart) e um de seus principais parceiros, o comandante Data (Brent Spinner), na Enterprise E, em uma clara fantasia de que o jogo que disputam, não acabe jamais, e essa sensação saudosista não ocorre só com Picard, mas também com os fãs que buscavam nessa versão um espelho do que ocorria nas outras séries.

    Este versão do capitão  Picard (agora, almirante, semelhante ao movimento de James Kirk em Jornada nas Estrelas: O Filme), tem peculiaridades. Ao mesmo tempo em que ele lembra o Charles Xavier de Logan, por conta do envelhecimento (tem em torno de 90 anos aqui), ele também fala muito em francês, fato que era um bocado ignorado nos episódios anteriores de sua saga pessoal, já que ele era natural da França. Em sua terceira idade, ele mora com um casal romulano, fruto de uma relação um pouco polemica, a respeito do destino do líder da frota estelar pós filmes. Boa parte desse ínterim é explicado no Short Trek denominado Children of Mars, inclusive boa parte dos desdobramentos políticos da série provém deste especial.

    O mote principal dos dez episódios, e que causam no protagonista em sair de sua letargia, envolve um mistério sobre uma forma de vida sintética, ou seja, androides, e isso casa bem com os flashbacks de Data. É introduzida uma personagem vivida por Isa Briones. Pouco tempo depois, são introduzidas outras mulheres feitas pela mesma Briones, entre elas, Soji, uma moça que tem envolvimento com romulanos e depois cai de paraquedas no caminho de Picard.

    O começo do seriado registra um bom potencial, já se descarta a possibilidade de B4, que apareceu no último filme ter recebido os dados de Data, se mostra uma base romulana que vive num cubo borg desativado, e há uma preocupação em não resgatar personagens clássicos tão frequentemente, a que mais aparece, é Sete de Nove (Jeri Ryan), e sempre de maneira parcimoniosa, e bem condizente com subtexto borg, além é claro de Hugh (Jonathan Del Arko). O problema maior é a contra partida da fuga desse possível oportunismo, pois praticamente todos os novos personagens mostrados ou são sem carisma, ou não tem muita função narrativa, ou tem momentos puramente desnecessários em tela, quando não tem sua moral dúbia algumas vezes ligada, em outras não, e em outras tantas, justificada por motivos banais.

    A justificativa para a Federação não ajuda Picard até faz sentido, mas entra em contradição com as inúmeras vezes em que esse ajuntamento foi simplesmente imperfeito. Eles o acham incapaz e senil, graças a uma entrevista que ele dá a imprensa, mas os próprios mandatários não são tão diferentes do personagem principal.

    Além desses problemas, a dinâmica entre a tentativa de fazer algo que não tem costume e a teimosia típica da velhice se desgasta muito facilmente. A maioria dos conceitos novos mostrados ao longo dos episódios – sobretudo do segundo ao sexto – soam genéricos, mesmo com o acréscimo de personagens antes introduzidos. É uma pena que o apuro visual tão belo copie junto boa parte dos defeitos vistos também é Star Trek: Discovery.

    De positivo, há a exploração das redondezas da galáxia, mostrando os lugares onde a federação não é tão presente e poderosa. Os bares, cassinos e demais lugares onde a vida boemia e a escória habitam fazem lembrar os lares dos caçadores de recompensa de Star Wars, inclusive remetendo demais ao visto em Uma Nova  Esperança, O Ataque dos Clones e mesmo Os Último Jedi.

    É um.bocado estranho ver Picard tão idoso lidando com uma equipe hermética e super diferente como essa. Nada ali combina, e por mais que isso até tenha uma justificativa, baseada no fato de serem renegados e excluído formando uma tropa pirata que o acompanha, ainda parece esquisito. De positivo, há as falas pró reabilitados pós domínio Borg, de que por mais que visualmente sejam assustadores, eles são vítimas, e não monstros.

    Quase toda a trama dos romulanos é caricata, o personagem de Narek (Harry Treadway) parece um personagem de série juvenil com foco em namoricos e afins. Sua relação com Narissa (Peyton List) beira o incestuoso, e é gratuita demais. Os dois parecem não ter camada nenhuma. Outro personagem terrível é Rios (Santiago Cabrera), que ganha muito tempo de tela, seja ele com seu jeito insuportavelmente gaiato, ou suas replicas holográficas igualmente pedantes.

    Os conflitos que vão se  estabelecendo nos últimos três episódios seriam facilmente contornados em qualquer série Star Trek dos anos  90. Há muitos subterfúgios convenientes, e apelos para Deus Ex Machina. Ao menos, quando a tripulação encontra o lugar de origem de Soji, há alguma lembrança de que se trata aqui de uma série Jornada nas Estrelas, inclusive com um belo simbolismo, dos habitantes de outra civilização analisando as linhas faciais de Jean Luc como fruto de lembranças e de vivências, sentimentais tais quais Data admirava.

    O season finale começa após uma serie de eventos bizarros, entre eles o receio de um povo em ser exposto, apelando para outro, dos quais mal se conhece hábitos, modos e sistema político social. Essa serie de equívocos empobrece essa parte da trama, e piora quando se observa o destino do personagem-título.

    O simbolismo da conversa de despedida entre Data e Picard é bonita, mas esbarra nas conveniências do roteiro, seja na redenção dos personagens ou na sobrevivência/subsistência do personagem-título. De positivo, há o paralelo com AI – Inteligencia Artificial de Steven Spielberg, em um momento de despedida bonito, como foi com o David de Haley Joel Osment, em ciclo de referencias cruzadas bastante belo. David tinha muito da curiosidade e vontade de ser humano, como era com o Data de TNG, e aqui o fragmento de memória do Comandante tem seu epitáfio tal qual o pequeno Meca menino.

    Os últimos atos são complicados, repleto de situações forçadas, dando vazão a outras possíveis aventuras, mas sem um gancho. O que se espera, é que as próximas duas temporadas já renovadas possam ter menos ingerência de gente graúda na produção, em especial Goldsman que escreveu e dirigiu os últimos dois episódios, fato que dificilmente ocorrerá dado que tem sido ele o responsável por tocar essas novas séries de Star Trek.

  • Review | Brinquedos Que Marcam Época – 2ª Temporada

    Review | Brinquedos Que Marcam Época – 2ª Temporada

    A segunda temporada de Brinquedos Que Marcam Época começa assim como a primeira temporada, com a engraçada reconstituição de dois funcionários de uma loja de brinquedos, e falando dos bonecos de Jornada nas Estrelas: A Série Clássica , este primeiro episódio brinca com o tema do piloto, que era Star Wars, e faz uso de uma vinheta da antiga franquia de George Lucas para relembrar o que era sucesso em material de divertimento infantil.

    É fato que a Kenner faz muito dinheiro com a historia dos jedi, sith, império galáctico e antiga república, mas o que se discute nesses capítulos é um pouco da pré historia de merchandising de franquias de ficção científica / space opera, e o que se vê é diverso, pois em Jornada haviam tanto bonecos de Kirk com phaser (que são as pistolas dos federados) na altura da pélvis, até brinquedos genéricos da Renco, como armas, trens e outros veículos onde só se punham um adesivo com o prefixo astro, para simbolizar que eram espaciais, ou seja, pura galhofa e gaiatice.

    É importante lembrar que a venda desses brinquedos se deu principalmente após o cancelamento do programa, quando ele entrou em sistema de syndication (consiste no ato de vender artigos de jornais ou revistas, fotografias, programas de televisão para outras organizações, para que possam ser publicadas ou exibidas em vários lugares), ou seja, esses brinquedos podem ser considerados como parte de um universo expandido da saga, tal qual os bonecos da Kenner fizeram com Star Wars, inclusive dando nome as criaturas que eram os ewoks.

    Não faltam documentários sobre as séries e filmes de Star Trek, e esse episódio é mais um objeto que estuda e discute bem a formula de Jornada, seja como western  espacial, que discutia por sua vez o cenário sócio político. Também destaca que o magnetismo de William Shattner facilitava a popularidade, assim como aponta a dificuldade de convencer Lucille Ball e sua produtora Desilu a fazer o programa, tanto que as naves, como a de escape, chamada Galileo, eram pequenas, e não cabiam humanos ali, fazendo os atores machucarem a cabeça ao tentar entrar.

    A Mego só foi fazer brinquedos mais elaborados após Jornada nas Estrelas: A Serie Animada, e eram bonecas, com tecido revestindo seus corpos, e tinham semelhanças consideráveis com os atores do elenco original, ainda que com Gorn o caso tenha se tornado engraçado, com roupa dos klingons, cabeça do Lagarto (vilão do Aranha) e corpo de Urso (de Planeta dos Macacos), em outra variação do Boba Fett lançador de mísseis visto na primeira temporada do programa.

    O documentário tem bastante cuidado ao tocar em algumas feridas, como a empreitada que deu errado com a Galoob ao tentar fazer produtos para crianças de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração quando a série discutia temas mais adultos, e também destaca as iniciativas com as da Diamond Select, que fez figuras e replicar de enfeites para colecionistas mais maduros.

    O segundo episódio envolve Transformers e suas versões iniciais, assim como as de cinema. Se debruça pouco ou quase nada sobre os spin-offs (Beast Wars mal é citado), mas o episódio faz um bom dueto com o GI Joe  do primeiro ano, que era outro baluarte da Hasbro. Surpreendente mesmo é o estudo sobre Lego, que vai desde a época em que os blocos nem encaixavam direito, até o apogeu como brinquedo mais rentável e lembrado do mundo como é hoje.

    Os 40 e poucos minutos são bem empregados, desenvolve o uso de outras franquias como base e como isso atrapalhou a empresa – em especial entre 2003 e metade 2004, que não tiveram filmes de Star Wars ou Harry Potter, e que fizeram a empresa quase falir. Ao reinventar e investir em conteúdo próprio, Lego se tornou auto sustentável em matéria de temas de exploração, vide os filmes que foram produzidos com seus produtos, até 2019 tendo quatro longas metragens no cinema e dezenas de programas de televisão, vídeo games e material acessório.

    O programa tem uma edição muito legal e moderna, e é maravilhoso e informativo para o fã das franquias abordadas, além de esclarecer bem ao não “iniciado” alguns belos detalhes de produção e pano de fundo dessas franquias. Neste segundo ano isso se massifica ainda mais, e seu ultimo capitulo prova isso, explorando a temática da gatinha Hello Kitty.

    O conceito inicial era de “um pequeno presente com um grande sorriso”, e esse lema da Sanrio levava em conta a tradição do Japão de dar pequenos presentes em ocasiões sociais simples. A Sanrio pegou toda sua experiência em vender produtos do Snoopy e Peanuts e fez seu próprio produto original, para não precisar pagar royalties, e os derivados são tantos que a licença envolve tipos de papel higiênico para adultos, lancheiras, massageador de ombros, lancheiras e vibradores eróticos.

    Brinquedos Que Marcam Época expande a ideia do colecionador e consegue traduzir bem essa tradição a quem não tem esse hábito, além de localizar bem como funcionam as franquias que dão origem a esses produtos, dando a elas importância e detalhamento sobre como são suas produções e porque elas estão imortalizadas no panteão da cultura pop, por mais estranho que algumas delas possam soar.

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  • Review | Star Trek Discovery – 2ª Temporada

    Review | Star Trek Discovery – 2ª Temporada

    A primeira cena da segunda temporada é voltada a recém-promovida à ponte, Michael (Sonequa Martin-Green), ela faz uma versão do lema de abertura de Jornada nas Estrelas: A Série Clássica, elucubrando sobre o espaço e a fronteira final, aludindo a um mito africano sobre a criação da Via Láctea. Este segundo ano parece feito para responder as muitas críticas que a primeira temporada de Star Trek Discovery sofreu, e isso seria bom, se o programa não cedesse tanto as pressões e mantivesse alguma identidade.

    Nesse começo, o capitão da Enterprise, Christopher Pike vai a bordo da Discovery ajudar a tripulação sem comando a seguir em frente em sua estranha missão. Anson Mount tem um desempenho excelente, repleto de carisma, e causa em seus tripulantes inspiração. Aos poucos, se nota um desejo da temporada em explorar os personagens próximos da série original de 1966, ainda exista um outro desejo por não alterar quase nada na linha temporal, portanto, toda a perseguição a Spock é feita de uma maneira ora acelerada, ora gradual. A justificativa para que a Enterprise não estivesse na guerra Klingon é satisfatória, já que segundo a série e o episódio The Cage, ela estaria isolada em sua missão de cinco anos explorando o universo não-catalogado.

    Do ponto de vista técnico, os  efeitos especiais vão  melhorando muito com o decorrer dos episódio, e servem a narrativa. As  batalhas espaciais são de tirar o fôlego e a reclamação dos fãs em relação a isso é simplesmente descabida. Entre os  diretores, Jonathan Frakes retorna, que havia feito o comandando Riker na Nova Geração e dirigiu alguns filmes e episódios de outras séries de Jornada nas Estrelas. Isso é legal principalmente pelas conexões que faz com o filme O Primeiro Contato, associando o destino dos personagens com o criador terráqueo do motor de dobra, que deu capacidade para viajar pelo espaço. Boa parte dos momentos mais inspirados são em New Eden e Projetc Daedalus, os dois capítulos que conduz.

    Esse ano tem um foco muito grande em Sylvia Tilly (Mary Wiseman), e a maioria das vezes que aparece, seja qual for o drama, fica automaticamente enfadonho. Ela acaba pegando boa parte da atenção que poderia ser de Stamets ou Saru, para ter algumas conversas com personagens genéricos de seu passado. Esse tipo de aprofundamento atrasa as tramas realmente importantes. De parte do novo elenco, existem boas participações, ainda que breves.

    Toda a questão envolvendo Kaminar – terra natal de Saru – e a relação entre Kelpianos e Ba’uls faz lembrar Deep Space Nine e a relação entre cardassianos e os bajorianos, e essa repaginação faz bem a trama pois dá tons de gravidades para o seriado, mostrando que a frivolidade e a frieza não são exclusividades de parte da humanidade do passado. A utopia pensada por Gene Roddenberry é real, mas obviamente faz alguns paralelos com a realidade atual, ainda que empurre  para raças que não a terráquea alguns desses infortúnios, e ao menos aqui, o programa acerta bastante e faz jus ao legado de Star Trek, mostrando uma situação de opressão e escravidão, além de aprofundar em quem eram os kelpianos.

    Infelizmente, em determinado ponto a história sofre um declínio de qualidade, ainda mais quando se acirra a busca por entender Spock, que teve visões proféticas sobre o destino do universo. Neste ponto é que Discovery carece mais de identidade, gastando muito tempo com o arco de Pike e pouco com os tripulantes da nave. Mesmo com as reclamações constantes e a possibilidade de conserto dos erros no primeiro ano, não há uma quantidade de equívocos grandes o suficiente para considerar Star Trek Discovery como uma série de sacrilégios com a linha do tempo conhecida, e verdade seja dita, toda série nova de Jornada teve incongruências com o que veio antes e depois, sendo reavaliadas por boa parte dos fãs como subestimadas ou injustiçadas. Só o tempo dirá se isso ocorrerá com Discovery, fato é que seu final poderia ser bem menos problemático e covarde do que foi. A série já foi renovada para uma terceira temporada, e membros da produção afirmaram que continuará seu drama com Michael Burnham como personagem principal. Seja lá qual for a saída é importante não ter receio de contar a história que se quer contar.

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  • Review | Star Trek Discovery – 1ª Temporada (Parte 2)

    Review | Star Trek Discovery – 1ª Temporada (Parte 2)

    A Uss Discovery entrou em uma dimensão diferente, longe do destino em que estavam, no episódio 9 da parte 1 da temporada de Star Trek Discovery, Into the Forest I Go.  Com quatro minutos decorridos de Despite Yourself, o capitão Lorca (Jason Isaacs) percebe o obvio, que eles não estão no universo prime, e sim no chamada realidade do espelho, conceito introduzido em Jornada nas Estrelas: A Série Classica.

    Curiosamente esse retorno é conduzido por Jonathan Frakes, que originalmente era o intérprete de Riker em Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, mas que foi também diretor nesta série, em derivados e em dois dos filmes oficiais. Talvez por isso esse seja um capitulo que faz lembrar demais os conceitos originais de Star Trek, a despeito até das reclamações freqüentes dos fãs.

    Apesar disso, alguns dos mistérios (bastante mal pensados, aliás) plantados na primeira parte são revelados, como a real origem de Ash Tyler (Shazad Latif), como o klingon modificado geneticamente, como antes se havia pensado ser. Toda  essa problemática se arrastada de forma mais demorada do que deveria, variando entre a realidade crua e o apreço do mesmo pela protagonista, Michael Burnham (Sonequa Marti-Green). Essa questão parecia ter um potencial de discussão que não teria muito futuro, e o que se vê é exatamente isso, uma nova gama de questões requentadas, que são pouco interessantes diante de uma nova dimensão explorada aqui.

    A tripulação decide encarar a teoria de Saru (Doug Jones) como real, e muda toda a configuração da embarcação e hierarquia, para se adequar a este novo modo. De qualquer forma, é  bem engraçado ver Syvia Tilly (Mary Wiseman) tentando deixar de ser extremamente insegura para exercer o comando nessa versão do cosmo, assim como assistir os mesmos personagens desfilando com outros trajes. Todo o planejamento de Michael é ardiloso e inteligente, faz lembrar os motivos que fizeram Lorca confiar nela apesar dos problemas no passado.

    Em The Wolf Inside e Vaultin Ambition há uma preocupação de se explorar basicamente três temáticas distintas, que é a viagem mental de Stamets (Anthony Rapp) no interior de sua mente, modificada pelos esporos especiais, o condicionamento de Tyler e a introdução de Burnham nessa nova dimensão. Os episódios miram alto, como nos momentos clássicos da franquia, mas se perdem um pouco por não conseguir desenvolver bem as três discussões paralelas.

    Se a ideia é deixar Saru como líder, há um problema. Ele é inseguro, e os roteiros não são afiados o suficiente para dar sustentação a algo tão complexo como uma nave da federação que é levada por uma capitão interino e que é parte de uma raça que prima pelo medo e receio de morrerem dada sua fragilidade.

    Discovery começou bem, mas já perto do fim da parte 1 de sua temporada se percebia claramente que as historias perderam seu fôlego. As boas idéias eram deixadas de lado, e não é diferente aqui, e mesmo o plot twist ligado ao destino de Lorca, como um comandante bem diferente do esperado não explica muito a fuga do seriado dos temas super otimistas que sempre foram a tônica nos seriados e até nos filmes recentes da franquia.

    Os poucos momentos inspirados são os focados especialmente na trajetória dos personagens. Michael tem uma jornada bonita e inspiradora de redenção e muito disso é mérito de Sonequa Martin-Green, que consegue executar isso independente até dos roteiros atrapalhados que Akiva Goldsman comandou. As perdas que ocorrem com Paul Stamets também são bem explorados, mas para cada momento sentimental dos dois personagens há outras tantas tramas terríveis envolvendo os klingons, que tem aqui certamente uma das piores adaptações suas.

    O fato de Discovery ter um início que tropeça em suas próprias pernas não necessariamente é motivo para acreditar que serie estará morta. Talvez só Deep Space Nine tenha começado bem, alem da série Clássica. Enterprise, A Nova Geração e Voyager demoraram a encontrar suas identidades e a esperança para a segunda temporada mora nesse otimismo, e em um possível retorno a temática heroica mais clássica, de preferência que não precise apelar para saídas e referencias sensacionalistas ou muletas ligadas as outras séries do cânone de Jornada nas Estrelas.

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  • Review | Star Trek Discovery: Shorts Treks

    Review | Star Trek Discovery: Shorts Treks

    Após o termino da primeira temporada de Star Trek Discovery, foi lançado uma cena bônus, do episodio 15, Will You Take My Hand?, onde a Georgiou (Michelle Yeoh)  é encontrada por um agente da misteriosa Seção 31. A cena é bastante legal, e foi bem recebido, então os produtores resolveram, começar a produzira pequenos curtas antes da segunda temporada ir ao ar, e nesse interim, foram divulgados quatro vídeos curtos.

    Runaways começa no espaço, onde uma encomenda é aberta por dentro, a bordo da Discovery, e uma criatura sai de lá. Toda a produção é muito bonita, e é feita nos mesmos cenários e moldes de um episódio comum. O personagem conhecido do publico que faz participação é a tímida Tilly (Mary Wiseman), e logo ela encontra a criatura, que tem forma de uma mulher humana, com detalhes azuis no rosto que se assemelham a pinturas de tinta comum, cuja personalidade é arisca e desconfiada e que tem em seu poder uma manifestação do seu jeito de ser, uma vez que pode ficar invisível.

    O episódio termina de forma um pouco repentina e sentimental, mas ajuda a simpatizar pela figura não só do novo elemento, mas também de Tilly. O ideal desses especiais  é mostrar não só pequenas historias , que também sejam fáceis de assistir e que não acrescentem tanto a mitologia do seriado, uma vez que são separados das temporadas regulares. Calypso mesmo trata de isolamento, mostra o personagem Quarrel (Aldis Hodge)  acordando sozinho, em uma nave a deriva, cuja única companhia é Zora, uma inteligência artificial.

    Há um bocado de semelhanças deste com Gravidade e Alien: O Oitavo Passageiro, no sentido de mostrar um homem desconfiado que acorda em um lugar inesperado, e por conta da solidão, ele se percebe afeiçoando pela maquina que o salvou. O conceito dos capítulos em referenciar boas ficções científicas recentes – como Ela, de Spike Jonze – mas dentro dos episódios clássicos de Jornada nas Estrelas: A Série Clássica e nas derivadas isso era bem comum.

    The Brightest Star é protagonizado por Saru (Doug Jones) e pelos kelpiens. O fato do episodio se passar no planeta natal de Saru confere ao programa um caráter de intimidade e mergulho dentro do que é o personagem e do comportamento comum a sua espécie, e aqui se nota que ele era ousado para os padrões de seu povo, sempre sonhou em voar, enquanto seus companheiros, consideram isso uma ousadia contra a natureza.

    Saru é extraordinário, tem engenhosidade para manipular uma tecnologia que seu povo teme, e é forte mentalmente ao ponto de querer contato com outras culturas, fato que combina obviamente com o ideal que Gene Rondenberry estabeleceu, de ir audaciosamente por cenários não vistos pelo homem.

    Harry Mudd volta no ultimo mini episodio, The Scape Artist exibido em Janeiro deste ano, dirigido pelo interprete do mesmo, Rainn Wilson. A trama começa com ele prisioneiro, e após algumas reviravoltas, se percebe que ele é aardiloso demais para ser tão facilmente encarcerado. Os momentos finais são engraçadíssimos e fazem valer toda a veia cômica de Wilson, sem dúvida é a melhor de suas participações a frente do personagem clássico que foi introduzido em Jornada nas Estrelas.

    Esses mini episódios servem de aperitivo, e visam resgatar o escapismo que Discovery demorou a ter em sua temporada de estréia, e serviram bem para matar a saudade dos bons elementos introduzidos na série antes pensada por Bryan Fuller e conduzida por Akiva Goldsman. Se seguir nessa esteira, a segunda temporada tem tudo para ser bem divertida, inteligente e voltada para um clima de aventura que discute bem os detalhes e desejos do homem enquanto explorador do espaço.

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  • Review | Star Trek Discovery – 1ª Temporada (Parte 1)

    Review | Star Trek Discovery – 1ª Temporada (Parte 1)

    Cercada de muitas expectativas, Star Trek – Discovery finalmente estreou mundialmente em setembro via streaming , começando por uma entrada animada belíssima, que viaja pelo espaço até a discussão de uma horda de klingons, evidenciando um dos temas polêmicos pregressos a essa série, que seria a aparência dessa raça alienígena. Além dos aspectos visuais não incomodarem – diferente do que é normalmente visto em Jornada nas Estrelas, sobretudo a série Clássica – claramente há um enfoque diferenciado nos primeiros episódios dessa nova fase, além de uma preocupação legítima em parecer atrativa aos olhos das novas plateias, levando em conta todo o grafismo estabelecido no início da parte da saga da Kelvin Timeline, iniciada em Star Trek de J.J. Abrams.

    Assinada em criação por Alex Kurtzman, Akiva Goldsman e Bryan Fuller(que não é mais um dos showrunners), os eventos se passam após a série Enterprise, e anteriormente a Série Clássica (aproximadamente dez anos, ao menos no prelúdio) fato que faz ser curiosa a tecnologia e visual, como ironicamente ocorreu com a saga cujos fãs mantém uma certa rivalidade com Trekkers, em especial no advento do Star Wars Episódio 1 – A Ameaça Fantasma, capitaneado por George Lucas.

    A nave que batiza a série não é mostrada de início, e sim a Uss Shenzhou, que é comandada pela Capitã Phillippa Georgiou (Michelle Yeoh) e tem como imediato (ou número um) Michael Burnham , cuja interprete Sonequa Martin-Green saiu recentemente de The Walking Dead. A primeira inteiração entre as duas é na superfície de um planeta arenoso, que faz lembrar demais a introdução de Além da Escuridão, também em um ambiente diferenciado.

    Apesar de lançados no mesmo dia, os dois primeiros episódios The Vulcan Hello e Battle at The Binary Stars servem para introduzir a personagem principal e outros integrantes da Discovery que viria, entre eles, o alienígena kalpien Saru, executado por Doug Jones, o mesmo que trabalha com Guillermo Del Toro frequentemente, em Hellboy, O Labirinto de Fauno e A Forma da Água, por exemplo. Sua compleição é o de ser fruto de uma raça que é normalmente predada, e ele age sempre com cautela e receio, inclusive externalizando seus medos através de guelras que surgem em seus pescoços, quando está perto de um perigo iminente. Já no início se estabelece uma dicotomia entre ele e Michael, que é uma personagem impulsiva, apesar de sua criação vulcana e da proximidade com seu pai adotivo, Sarek (James Frain), que já foi apresentado antes na franquia.

    Os nervosismos e tensões ocorridas com os klingons nesse grande episódio piloto se explica entre outras coisas pelo passado de Michael, que perdeu seu pais através de um ataque desse vilões. A partir dali ela foi obrigada a deixar de lado sua humanidade, por ser criada em um ambiente onde se reprime as emoções, em Vulcano. Além dos confrontos entre naves grandiosos em comparação com quase todos os outros produtos da marca Jornada nas Estrelas, há um prevalecimento de uma paranoia traumática, que começa com Michael tentando tomar o controle da Shenzoou a fim de atacar os seus inimigos tradicionais e termina com um confronto inevitável entre o Império Klingon e a Federação. O fim desse arco é trágico…

    Grande parte do corpo de fãs trekkers chiou bastante com as mudanças, entre elas a compleição dos klingons, a camuflagem das naves adversárias e os hologramas utilizados para comunicação interna. De fato, cada uma dessas características realmente saltam aos olhos dos que estudam o canône de Star Trek, em especial a linha do Universo Prime (que é a linha do tempo das séries clássicas), no entanto se apegar a isso é uma prática sobretudo fútil, há mais mistérios e posturas estranhas do que as simples corruptelas dos detalhes que só são caros aos fãs hardcore. Mais preocupante que isso certamente é a postura do Capitão Gabriel Lorca, vivido por Jason Isaacs, sob quem está a tutela da nave título do seriado. Ao ser remanejada, como prisioneira após os atos extremos que cometeu em Battle at The Binary Stars, Michael tem novos desafios, os de tentar se reabilitar diante da frota, de ter de lidar com antigos colegas que comandou, como Saru que agora é Comandante Oficial, além de ter que se submeter as ordens pouco ortodoxas de seu capitão.

    A tripulação da Discovery é diferenciada, mesmo em tempos de guerra, onde se há um maior estresse e conflitos frequentes, há de se guardar alguma cordialidade e mínima diplomacia e o que se vê é uma tensão forte entre os tripulantes, com trocas de ofensas que pouco tem a ver com a utopia pregada por Gene Ronddenberry. Apesar de incomoda, há alguns fatos que atenuam tal situação, como a postura de Lorca como um sujeito indócil e pouco inspirador de confiança. Sua forma de comando é agressiva e nada acalentadora. Ele é grosso e completamente diferente dos outros capitães, inclusive de Archer (Scott Bakula) de Enterprise, que é o mais próximo do século atual, já que suas aventuras são no século XXII. Tal postura faz perguntar uma série de questionamentos, que por sua vez geram especulações entre os trekkers, de que possivelmente essa fosse uma série no Universo Espelho, dado o comportamento agressivo geral, ou a simples ligação deles com a vindoura Seção 31, que é uma divisão de assuntos secretos introduzida em Deep Space Nine.

    Os episódios apesar de terem eventos procedurais – como os famosos casos da semana – são caracterizados por ter uma narrativa contínua, onde os eventos dos capítulos anteriores tem muita influência sobre o que ocorre posteriormente. A questão ética envolvendo o uso da critatura que Michael começa a chamar de Tardígrado é muito bem vinda, em especial por mostrar as inconsequências de Lorca, como chefe de equipe e claro, todas as questões morais que cercam o usufruir das capacidades de um ser que mesmo com uma atitude selvagem e bárbara pode ser inteligente, como se prova com o tempo.

    Em Choose your Pain, Lorca se vê em situação de prisioneiro, onde se depara com dois personagens enigmáticos, sendo o primeiro Ash Tayler (Shazad Latig), um sujeito preso no cárcere dos klingons, que depois é admitido entre a equipe da Discovery e claro, Harry Mudd (Rain Wilson), que já havia sido mostrado em Mudd’s Women e I, Mudd da série Classica. Essa versão é bastante diferente do visto no capitulo antigo. Claramente há uma tentativa de tornar Discovery na série mais pessimista dentro do canône, e em se tratando de uma época bélica, mais próxima da realidade do século XXI, natural que assim o seja

    O arquétipo de Burnham envolve dois personagens anteriores, primeiro Worf, o klingon interpretado por Michael Dorn, em TNG e DS9 que foi adotado por humanos, e Tom Paris (Robert Duncan McNeill), de Voyager, que é um sujeito párea, um criminoso em reabilitação que embarca na nave que acabou por se perder, comandada pela capitã Janeway (Kate Mulgrew). Ainda assim, o comportamento guarda características únicas, que normalmente a aproximam do ideal vulcano, tão intensa em si que ela tem uma ligação de alma com Sarek,

    O fato de fazer um diário de bordo faz Michael usar uma narração em off um pouco didática, mas é uma boa lembrança em Magic to make the sanest man go mad, que é um dos poucos momentos procedurais até então. Apesar de pouco compor a história geral, esse certamente é o mais rico e divertido capítulo até aqui, por resgatar a ideia jocosa original de Mudd, por brincar de maneira criativa com um clichê do gênero sci-fi e também por mostrar um lado curioso do engenheiro Paul Stamets (Anthony Rapp), que se mostra um personagem rico e envolvido com quase todas as sub-tramas importantes da temporada, uma vez que é ele quem tem contato direto com os esporos que permitem viajar no tempo e que terão sua razão e funcionamento melhor explorados na segunda parte dessa temporada, além de ser um personagem de personalidade dura, mas com um coração sensível. Já o momento seguinte foi complicado, em Si Vis Pacem Para Bellum, com uma sequência que conseguiu reunir todos os defeitos na confecção de Saru em um só episódio, piorando-os ainda mais, seja com as motivações torpes e ilógicas dele, ou com o CGI mal encaixado e artificial.

    Talvez a problemática mais discutível em qualidade desse primeiro momento em Discovery passe pelo uso dos klingons como antagonistas, não por eles serem factualmente os adversários, poderiam ser romulanos, andorianos, vulcanos, tanto faz, mas sim porque é um clichê tremendo dentro da franquia usá-los como contraponto, e também porque a serie anterior Enterprise mostra que não há tensões tão grandes entre a federação e esse povo. Além disso, as maquiagens dos personagens foram tão mal pensadas que alguns dos klingons que aparecem recorrentemente nem parecem que são os mesmo, a exemplo de L’rell (Mary Chieffo), que só se nota quem é graças as manchas de seu rosto.

    Ao menos, Into the Fores I Go consegue equilibrar bem os elementos bons de Discovery até aqui, que é o nervosismo comum diante de uma situação de guerra contra um adversário desconhecido, além da paranoia de Michael sendo justificada para um momento que lembra demais o comentário visto no piloto dividido em duas partes, onde se relembra o pecado da antiga imediata da Sheenzu, dessa vez com a oportunidade de se fazer um acordo mais amistoso com os seus adversários tradicionais.

    A discussão travada entre Burnham e Kol (Keneth Mitchell) tem algumas camadas, inclusive na simples questão do tradutor universal, que para a humana é a mostra da tentativa pacifica e estabelecer diálogo e para o general é apenas mais uma tática para fazer o seu povo perder sua identidade. Até mesmo o a briga entre os dois personagens é surpreendentemente condizente com a realidade estabelecida para os klingons nas outras series do que tudo o que foi visto até então no que toca esta espécie em Discovery. A honra e o caráter klingon sempre passou pelo desempenho dos seus no campo de batalha e nada mais justo do que haver um confrontamento nesses moldes, para provar que alguém tem valor, a questão é que não há qualquer mínima chance de redenção ou de acordo amistoso, ao menos não nesse período, ainda há de se explorar bastante o tema, infelizmente.

    De qualquer forma, o potencial de desastre que rondou Star Trek – Discovery ainda não se justificou de fato. Como dito antes, romper com o canône não é exclusividade da serie de Goldsman e Kurtzman, tampouco a má recepção por parte dos fãs mais xiitas, basta ver o como grande parte dos trekkies viram Jornada nas Estrelas a Nova Geração. Ainda que tardiamente, o senso de aventura escapista e utópica foi resgatada, mesmo com tantas corruptelas, que em parte, são explicadas por serem esses tempos mais difíceis e menos maniqueístas. Questões éticas como saltos no tempo, uso franco de habilidades da tripulação para se favorecer em um momento de confronto são tratadas de forma parecida com o que faziam Brannon Braga e Rick Berman.

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  • Review | Jornada nas Estrelas – A Série Clássica

    Review | Jornada nas Estrelas – A Série Clássica

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    Em 1966 começava a ser exibida na rede de televisão NBC o seriado de ficção científica Jornada nas Estrelas, pensada como uma utopia política de Gene Ronddenberry, que ao contrário de sua irmão temática Star Wars, buscava um paralelo com a realidade, ainda que tivesse no mote das aventuras de James Tiberius Kirk (William Shatner) e sua tripulação, um escapismo fugaz e metafórico, tocando vez por outra no assuntos censurados à época.

    Não havia nos anos sessenta uma preocupação tão presente com cronologia, tanto que a primeira exibição do programa foi realizada ignorando o piloto rejeitado pela emissora – A Jaula, ou The Cage, mais tarde incorporado em pedaços a outro episódio especial – e exibindo o que deveria ser o sexto capítulo produzido, chamado de O Sal da Terra, em que explora a visita de Leonard “Bones” McCoy (DeForest Kelley) há um antigo amor do passado que aparenta um semblante para cada pessoa que lhe via. O conceito de brincar com a ótica do homem, utilizando o machismo vigente à época era somente um dos pioneirismos que a série traria para si.

    Toda e qualquer discussão sobre conservadorismo não é simplesmente aventada, e sim justificada por contos de ficção científica, que ajudam não só a ambientar o público, mas também a despistar censores. Já nesse início nota-se a extrema canastrice de Shatner, exacerbadamente histriônico , bem como o estilo de artes marciais que pratica.

    Os primeiros episódios tem temáticas bem parecidas, com supostos sobreviventes predando a todos. Em Onde Nenhum Homem Jamais Esteve é exibida toda a ideia de Star Trek, ainda que pedaços substanciais do cânone ainda não estejam completamente estabelecidos, como os uniformes dos tripulantes, e claro, a personalidade de Spock (Leonard Nimoy), ainda exibindo bastante emoção e expressões sentimentais. Sulu (George Takei) era da área médica ao invés de piloto, e McCoy não era o líder do Departamento de Saúde, em seu lugar havia o Doutor Piper (Paul Fix). Logo mais, em Inimigo Interior, roteirizado pelo autor de Eu Sou a Lenda, Richard Matheson, Kirk se vê dividido entre seu lado selvagem (malvado) e dócil (bonzinho), e em meio a maniqueísmos e defeitos de sincronização continuísta, o capitão percebe que é preciso equilíbrio em seus esforços para que retorne a sua identidade comum.

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    Jornada nas Estrelas era um programa datado, mas também toca em temas importantes, como a sexualidade exacerbada, a despeito de Do Que São Feitas as Mulheres que faz uma desconstrução do ideal da mulher, ainda que este seja mais um exemplo de exposição dos corpos femininos, muitas vezes sem qualquer necessidade que não a de desviar a atenção do orçamento baixo.

    O ponto de virada na primeira temporada, levando-se em conta o caráter procedural da mesma, é o primeiro episódio duplo, A Coleção (The Menagerie), onde Spock tem um encontro com seu antigo capitão, Howard Pike (Jeffrey Hunter), que está preso a uma condição imóvel, ferido e paraplégico, graças a um infortúnio, que havia acontecido no primeiro piloto da série. A fidelidade de Spock é posta a prova, aproveitando-se do fato de sua raça ser tão lógica que torna incapaz de mentir, gerando então uma dicotomia em relação ao seu compromisso com Kirk e com seu antigo comandante. Na Corte Marcial onde o vulcano é julgado, passam-se imagens de treze anos anteriores, mostrando a trajetória primária de Star Trek, com uma configuração de tripulação bem diferente da vista em 1966, exceto pela figura do alienígena mestiço.

    Ambas as partes são escritas por Rodenberry, sendo possivelmente a contribuição mais notável do criador do programa em termos de argumento. O curioso em relação a figura feminina, é que há uma representatividade maior para mulheres, como com a personagem de Majel Barrett, chamada de Number One, como segunda em comando na nave, enquanto a personificação de Vina (Susan Oliver) mostra uma pessoa obediente, que somente pensa em ser um bom par para o seu homem, a Eva perfeita para esta versão de Adão. Os extraterrestres de Talos IV tem um formato fálico, usando seus poderes telepáticos através de suas cabeças. O desfecho do especial é otimista, mas igualmente perturbador.

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    Apesar de mostrar um cenário fantasioso em relação a utópica paz social terrestre, o universo de Star Trek não é pontuado pela política pacífica galáctica. Uma vez que o social terrestre está resolvido, a hora de acirrar ânimos é a bordo de embarcações espaciais, explorando as diferença entre os humanos e outras raças. É em Balanço do Terror (Balance of Terror) que aparecem os primeiros rivais da Federação de planetas, os romulanos, primos ancestrais dos vulcanos, quase sem diferenças físicas ainda nesta encarnação. Neste episódio, o tratado de armistício ainda é mencionado levemente, bem como a zona neutra de tráfego aéreo, aspecto semelhante aos acordos entre povos.

    Kahn Nonien Singh acabou por se tornar, no segundo filme, o vilão mais icônico da franquia, mas sua introdução, com um Ricardo Montalban ainda jovial, foi bem discreta e pontual, discutindo a questão do super homem nietzschziano e da tirania que ocorreu durante os anos oitenta e noventa, via ditadores pós-conflito da Segunda Guerra Mundial, claro, de um modo profético, uma vez que Muammar al-Gaddafi e Saddam Hussein ainda não exerciam seus governos autoritários. O modo como o ideário da personagem é construída foge do maniqueísmo comumente atribuído a um vilão, já que em Semente do Espaço (Space Seed), a figura da personagem é carismática e bastante sedutora, como deve ser um grande líder. Todo o arquétipo bem construído quase é posto a perder pela luta de dublês, que evidentemente não tem qualquer semelhança com Shatner e Montalban. O símbolo por trás da personagem seria mais forte, ao ponto de cumprir a última fala de Spock, de como seria curioso retornar aquele planeta algum dia.

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    Em tempos de Guerra Fria, onde o conflito era mais psicológico e ideológico do que visceral, Um Gosto de Armageddon (A Taste of Armageddon) faz um interessante paralelo, de um conflito acordado entre dois povos, que não se digladiam para não destruir os próprios recursos, mas que matam seus habitantes, a fim de prosseguir em espécie mas sem baixas em infra-estrutura e tecnologia. A decisão de Kirk neste caso é bastante intervencionista e contradiz a primeira diretriz, mas é bastante justa, ainda que tenha toda a semelhança com o expansionismo imperialista típico dos humanos.

    É bem curioso o modo como se retrata o Império Klingon, nesta encarnação, como uma raça belicosa, escravagista e muito malquista diante dos olhos dos confederados, ao contrário a conciliação que seria estabelecida no século seguinte em Jornada nas Estrelas – A Nova Geração. A pouca demonstração de alienígenas, em especial na primeira temporada, é justificada em parte pela missão primária da Enterprise, que era visitar planetas de Classe M, capazes de estabelecer vida humana, por isso, havia tão pouca variação aparente entre as espécies e quando havia contato, precisavam ser extremos, como eram os antagonistas klingons. As dificuldades orçamentarias também ajudam a explicar a exploração da semi-nudez feminina, tão presente nestes anos. O uso do feltro (material barato) e da pele da mulher se popularizou não só graças ao apelo popular, mas também pelo protagonismo da série visto em Kirk/Shatner , que como outro ícone sessentista, James Bond, tinha no galanteio uma de suas características marcantes.

    O acréscimo de Gene L. Coon como produtor ajudou a fomentar o cunho  humorístico, em especial nos dois últimos anos, além de acirrar a rivalidade se McCoy e Spock. O segundo ano se permite ousar um pouco mais na confecção de raças extra terrestres, mais diferenciadas visualmente dos humanos. O nome de Deforest Kelley é incluído nos créditos iniciais, e curiosamente os outros coadjuvantes ganham mais espaço, com Uhura (Nichelle Nichols) tendo mais espaço além do simples proceder das comunicações, e Chekov (Walter Koenig) servindo de navegador e stand in do setor de ciências, o que evidentemente causou muito ciúmes em George Takei e seu Sulu, impedido de gravar graças a produção de Os Boinas Verdes, em meio aos preparativos da segunda temporada. As histórias não eram mais tão centradas em Spock, McCoy, Kirk e Scott, ganhavam um pouco mais de destaque para os outros personagens fixos.

    Apesar dessa nova diretriz, os produtores escolheram começar a temporada 1967/1968 por Tempo de Loucura (Amok Time), mostrando não só detalhes maiores da vida e rotina dos vulcanos, explicando o método de reprodução denominado de Pon Farr, bem como todo o aspecto visual do planeta dos humanoides olherudos. A luta entre Kirk e Spock foi tão alardeada e tornada como algo sensacional que certamente se tornou um dos momentos mais marcantes do programa, ainda que não seja assim tão sensacional como o burburinho posterior fez crer

    Em A Maçã (The Apple), se explora os adoradores de Vaal, uma raça alienígena que vive para adular uma criatura supostamente divina, que gera em seus seguidores uma devoção cega e que os leva a danação, de serem consumidas por uma máquina rudimentar. O roteiro de Max Ehrlich claramente alude a cegueira típica de alguns religiosos extremos, em especial ao cristianismo tanto católico quanto protestante, ainda que tenha referencias também as perseguições da Idade Média. O episódio faria um comentário curioso com dois outros capitulos, Requiem para Matusalem (Requiem For Mathuselah), e depois com Caminho Para o Eden (The Way To Eden), que seriam lançados próximos ao cancelamento do programa, fato que ajudava a mostrar a obsessão de Ronddenberry, fato que o faria pensar em um plot ignorado para o primeiro filme e que foi parcialmente explorada em Star Trek V.

    O episódio mais notório da primeira metade da temporada, certamente é A Caminho de Babel (Journey to Babel), com a aproximação de Sarek (Mark Lenard, que retorna em outro papel) e de sua esposa Amanda Grayson (Jane Wyatt), que revelam um pouco das origens de Spock, bem como detalha os conflitos nas relações de raças tão diferentes que compõe a Federação. Telaritas, seres com feições suínas são tratados como pessoas volúveis, dados a discussões gratuitas, enquanto os andorianos são traiçoeiros e de caráter dúbio e dominador.

    Além do evidente e interessante imbróglio com os alienígenas, ainda há o cuidado de Shatner em se deixar filmar sem camisa, para afastar os rumores de que estava engordando, já que sempre sobrava um espaço para um pequena pança se projetar naqueles trajes que delineavam as curvas do corpo dos atores. A dificuldade familiar de Spock é explicitada em alguns momentos, desde a chegada do embaixador, até o ato hostil que deixa Sareck a beira da morte.

    As dificuldades financeiras faziam até episódios clássicos, como O Herdeiro  (Friday’s Child) soarem menos importantes, pela completa falta de caracterização e maquiagem da parte dos klingons. A batalha por suprimentos travada entre Kirk e Kras (Tige Andrews) pela predileção dos nativos capelanos perde um pouco do sentido graças ao caráter paupérrimo das armas, semelhantes a brinquedos infantis. Uma questão de honra surge, envolvendo a personagem Eleen, vivida por Julie Newmar, a já clássica Mulher Gato do seriado do Batman dos anos 1960, mas a solução em si é muito simples.

    É evidente que o foco em Jornada nas Estrelas é na discussão da ciência, humanidade e seus meandros, mas alguns episódios se destacam por fatores externos, como o humor de Problemas aos Pingos (The Troubles With Tribbles), onde é explorada a rivalidade dos humanos com os klingons, pondo em questão uma praga das mais curiosas, com os pingos, ou tribles no original. O “artigo” é vendido por um comerciante picareta de nome Cyrano Jones (Stanley Adams), que o entrega a Uhura, possivelmente sem perceber o mal que faz a ela e a tripulação de sua nave. As criaturas são pequenas bolas felpudas, que fazem um som tranquilizador e que se multiplicam aos montes, a partir de sua alimentação.

    Ainda neste capítulo, é mostrada a interação dos tripulantes com o torpor do álcool, com Scott e Chekov, que primeiramente rejeitam as ofensas dos klingons, a respeito do caráter de Kirk, para revidar finalmente ao ouvir impropérios sobre sua nave. Até a disputa pelos suprimentos do Planeta Sherman pelos dois lados distintos do certame é posta no mesmo nível de importância que a exploração das criaturas protótipas e das pragas gremlins. O episódio seria revisitado pelo spin-off Deep Space Nine, em um episódio que continha viagem no tempo.

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    O exagero na exploração de dramas e fatos históricos terráqueos nos Planetas de Classe M normalmente irrita, mas se garante bastante curiosa em Um Pedaço da Ação (A Piece of Action), que destaca uma infecção estranha, causada por uma ação externa, com a cultura do planeta sendo ditada por um livro de regras do crime organizado de Chicago, nos tempos áureos de Al Capone. É bem curiosa a atitude de Kirk e Spock em interferir no planeta sem ferir a diretriz primaria, fazendo com que os iotianos entendam um pouco da federação, mas sem sair de seus contextos históricos alienados, passando por uma tênue linha ética.

    Em Volta ao Amanhã (Return to Tomorrow), é introduzida a doutora especialista em astrobiologia Ann Mulahl, que apesar de ser do setor de saúde, usa uniformes vermelhos, de operações. A personagem de belas feições capturaria a atenção de James Kirk, por sua beleza e pelo tom de novidade. EM toda a série original, ela é a personagem feminina de maior patente da Frota, o que se torna curioso, já que sua interprete Diana Muldaur retornaria a bordo da Enterprise-D, a encarnação da Nova Geração como a doutora Katherine Pulaski, responsável médica em substituição de Beverly Crusher.

    A segunda temporada possui talvez a maior quantidade de episódios clássicos, no entanto termina de modo genérico, aludindo ou a planetas que emulam demais o modo histórico terrestre, ou com viagens temporais ao passado do planeta sede da Enterprise. O terceiro e derradeiro ano começa com O Cérebro de Spock (Spock’s Brain), abrangendo um dos clichês de ficção-científica, que seria a troca de consciência via transferência cerebral de um corpo para o outro, ainda que as consequências vistas no episódio sejam muito mais verossímeis, justificadas e plausíveis em comparação com seus pares. Ao final deste capítulo, McCoy tem de assumir as características de uma inteligência artificial com conhecimento muito maior do que sua limitada mente humana poderia suportar, ao menos em condições comuns. Talvez este aspecto tenha sido uma das justificativas para a premissa de Star Trek III:  À Procura de Spock, servindo de embrião para o elo que o doutor e o Vulcano compartilham nos longas para o cinema.

    As restrições orçamentárias seriam utilizadas para estabelecer um plot complicado a princípio, mas que se mostraria interessante em seu resultado final. O Incidente Enterprise (Enterprise Incident) seria marcado por ao menos dois motivos, o primeiro, com a fadiga mental de Kirk, estafado por tanto trabalho ininterrupto, influindo isto na sua postura de capitão sábio, e a interferência dos Romulanos nos caminhos da Federação, cruzando o espaço através de uma nave Klingon, que era ocupada graças a uma parceria entre as raças. O uso do artefato evidentemente só ocorre graças ao preço alto que foi empregado na nave, utilizada até então somente uma vez. A desculpa funciona bem, dando vazão a desdobramentos curiosos, como a transformação de Kirk em Romulano, para se infiltrar na nave, e o flerte da comandante Romulana interpretada por Joeanne Linville e Spock, aludindo a um ardil de suposta traição por parte do alienígena segundo em comando na Enterprise.

    A principal diferença entre a Enterprise clássica e qualquer outra embarcação militar é a avidez e curiosidade não necessariamente hostil com possíveis perseguidores, não pressupondo que as intenções daqueles que a cercam sejam obrigatoriamente bélicas, ainda que grande parte desses seja, para todos os efeitos, de abordagem bárbara e agressiva, até por ser a ação um artigo mais fácil de lidar do que aventura pensante.

    Mesmo os Klingons são trabalhados em um nível bem embrionário, diferentes não só fisicamente, pelas evidentes dificuldades financeiras do estúdio, mas também pela postura. A faceta de seres mais selvagens e acéfalos, como uma versão sem inteligência dos espartanos ocorreria primeiro nos filmes ocorridos a partir do fim dos anos setenta e das reimaginações em seriados, contando a partir da geração de Picard e companhia. O comportamento é tão distinto que mesmo em meio a disputa por hegemonia da galáxia, os Klingons conseguem entender quando estão sendo manipulados, como em O Dia da Paz (The Day of the Dove), em que o comandante Kang (Michael Ansara) consegue perceber que a trégua é a melhor saída para os opositores e os seus, em mais uma alusão à visão utópica de Ronddenberry sobre as soluções para a Guerra Fria.

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    A missão a Enterprise também é a de conduzir eventos diplomáticos, que podem ser tão hostis quanto os momentos de pura ação. Exemplo disso é a figura de Elaan (Frances Nuyen), protagonista de Elaan de Troyius, uma mulher arredia que faz lembrar o mito grego bastante óbvio, mas que também funciona como a inversão de uma questão sexual explorada, com a nobre como uma dominatrix, sendo sua a posição ativa na questão da libido e do cumprimento de quaisquer anseios sexuais.

    Questões raciais e de segregação de povos seriam mais abordadas em uma série posterior, focando basicamente na questão Israel e Palestina com uma tênue trégua entre os povos. O embrião deste pensamento utópico é verificado no episódio A Ùltima Batalha (Let That Be Your Last Battlefield), onde duas raças se digladiam basicamente por diferenças físicas entre os povos, que tem suas doas cores invertidas, assemelhando as duas castas a uma condição muito mais próxima do que por exemplo entre Vulcanos e Humanos, raças que se cooperam mutuamente de modo pacífico, levando em conta até suas diferenças. Frank Gorshin, conhecido como Charada no seriado do Batman, interpreta Bele, que mostra a Kirk e Spock a intolerância entre seres tão parecidos, separados por ordem de cores no rosto, pondo-o em conflito direto a Lokai (Lou Antonio), um prisioneiro de seu povo. A confusão e a perseguição entre os povos é completamente sem sentido, e tem paralelos demais com a realidade, resultando em um conflito de 50 mil anos.

    Entre os últimos momentos, O Guardião das Nuvens (The Cloudminders) se mostraria um episódio curioso por sua dicotomia, já que a cidade Stratos, que orbita as nuvens seria um lugar onde a violência é erradicada e onde somente se vive de arte e da extração de um mineral que ajudaria a conter uma praga que assola o planeta Merak II. Por trás da aparente calma, se esconde um apartheid, causado pela propagação do vírus entre os Troglitas, que habitam a superfície, e que são vistos pelos mais abastados como pragas separatistas, em uma visão completamente preconceituosa em níveis sociais. A interferência de Kirk é enorme, mostrando (mais uma vez) que a primeira diretriz não pode ser inflexível ao ponto de sobrepujar questões de justiça social, ainda que essa interferência seja bastante discutível em termos éticos.

    Somente em 1988 foi exibido na íntegra o primeiro episódio piloto, o não aprovado e capitaneado por Christopher Pike, cujo intérprete Jeffrey Hunter se recusou a  voltar ao seu papel de herói. Nele, se resume todo o ideal que Ronddenberry tinha para a futura franquia, com uma mulher no segundo posto de comando e que seria retirada em versões posteriores, com um alienígena muito mais humanizado e sentimental no Spock de Nimoy, capaz até de rir e com um capitão resignado e inseguro. Pike é bastante diferente de Kirk, é mais maduro, crível e ligado a um espírito aventureiro mais científico do que de ação, característica que seria retomada em Jean Luc Picard. No entanto, a procura por mulheres era bastante parecida, uma vez que o chefe da nave facilmente foi capturado pelos alienígenas Talonianos, em seu ardil, graças as belas feições de Oliver. A discussão filosófica parecia pouco palatável ao grande público, ao menos para as cabeças pensantes da CBS à época. A emissora exigiu um novo piloto, que fosse de mais fácil compreensão.

    O último episódio exibido, Intruso (Turnabout Intruder), se baseou em uma história do próprio Ronddenberry, adaptada por Arthur H. Singer. A trama é pessoal e gira em torno da Dra. Janice Lester (Sandra Smith), que foi sua colega na academia e que jamais teve acesso a um comando. Através de uma máquina, ela faz a troca de consciências, que logo tem seu ardil desbaratado. No decorrer do episódio, é engraçado notar a versatilidade de Shatner, que sempre foi uma ator mediano ao misturar trejeitos seus e os de uma mulher.

    A Série Clássica é bem diferente de suas continuações, spin-offs e derivados, não só pela época em que se baseavam suas histórias base e tecnologia de captação de imagens, mas também pela presença maior de seu criador e do corpo de roteiristas. Apesar de números atritos que Gene tinha com D.C. Fontana e tantos outros, foi neste seriado o ponto onde a utopia política que reunia elementos socialistas com conceitos de filosofia que iam dos clássicos Platão e Aristóteles, a Arthur Schopenhauer e Friedrich Nietzsche, além de inúmeras referências teatrais de William Shakespeare. O escapismo de Star Trek teria conteúdo, discutiria a sociedade, política, economia, fronteiras regionais e a alma do homem, soando algumas vezes datado, mas sendo preponderantemente poético, caminhando audaciosamente em lugares desconhecidos do cosmo e da discussão da cultura pop.

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  • Review | Jornada nas Estrelas: A Série Animada

    Review | Jornada nas Estrelas: A Série Animada

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    Reunindo quase todo o elenco original do seriado e já com todos os cenários, figurinos e demais artigos do departamento de arte já vendidos ou jogados ao lixo, Gene Roddenberry decidiria em 1973 prosseguir nas histórias da tripulação original da Enterprise, em uma série de desenhos da Filmation, a mesma que produzia os episódios de He-Man e She-ra uma década depois.

    Jornada nas Estrelas: A Série Animada conteve apenas 22 episódios, e foi refutada após seu fim por seu criador, que considerava a qualidade técnica muito inferior ao que seria seu ideal para Star Trek. Exceto pela quase total fala de movimento nos capítulo, e na duração mais curta, sendo aproximadamente metade do tempo que antes se dispunha.

    Apesar de ser acusada de não conter temas infantis em seus plots, todo o imaginário de exploração espacial e alta ficção científica passa por uma suavização do tema anterior, em especial a violência e agressividade, claramente mais leve. Os motes explorados são semelhantes aos vistos na serie original, como no retorno ao planeta do Guardião da Eternidade, onde a viagem a uma realidade alternativa faz Spock (Leonard Nimoy) descobrir que foi substituído na ponte de comando por um andoriano, já que sua contra parte faleceu ainda infante. A investigação do passado aprofunda o drama de ser um mestiço, ocorrido com o pequeno vulcano, que sofria por não ser de raça pura, tanto com seus amigos, quanto com seu pai, Sarek (Mark Lenard), que claramente se envergonha dele, e que somente aprende a “lição” após a interferência do futuro comandante da Frota Estelar, o que contradiz, de certa forma, a primeira diretriz.

    Até no anúncio dos créditos usa-se a mesma quantidade de anos – cinco – que constituem a missão de exploração da nave. As diferenças de elenco passam pelo acréscimo de alguns extra-terrestres, como a do navegador Arek, um edosiano, dublado por James Doohan, que faz as vozes não só de Scott mais de dezenas de outros personagens. O mais curioso em relação a Arek, é que ele possui três braços, fato que dificultaria sua transposição para uma série live action.

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    Há uma tentativa de trazer até o público infantil uma nova gama de discussões, que fracassam em fugir do maniqueísmo habitual dos desenhos aventurescos, como em The Magicks of Megas-Tu, que discorre sobre os bruxos de Salém e sobre Lucien, que tem muito a ver com o mito cristão de Lúcifer. O tento é interessante em intenção, mas a execução soa bastante boba, uma vez que ainda é carregada de maniqueísmo, mesmo que não favoreça o viés conservador com que normalmente se trata a figura do diabo. Uma inversão de extremismo ainda soa como sofisma.

    O fato de ter sua projeção animada faz com que alguns acontecimentos curiosos ocorram, como o acréscimo de raças que só funcionariam em bandas animadas, como a espécie caitiana, da Tenente M’Ress (Majel Barrett, que também dubla Christine Chappel além de outras personagens femininas), uma oficial de feições felinas, e a raça aviária dos Skorr, que aparecem mais de uma vez inclusive. Dentro deste conceito, se desenvolve a ideia de um bolsão temporal, no episódio Time Trap, onde as centenas de raças julgam os humanos da Enterprise e os klingons da tripulação subordinada a Kor, um klingon que tem as imagens recicladas de Koroth, em outro episódio, mostrando neste aspecto as dificuldades orçamentárias do programa.

    Jornada nas Estrelas A Série Animada não é considerada canônica, primeiro por Ronddenberry ter refutado sua exibição anos após ela terminar, motivado pela baixa qualidade técnica dos capítulos, utilizando a desculpa de não ter atores de carne e osso fazendo os papéis. O desfecho não possui climáx, emoção ou qualquer coisa que o valha, repete os mesmos erros do seriado original. Ao menos, o programa manteve a franquia viva e conseguiu premiações importantes, mesmo formada por uma equipe que só tinha Hal Sutherland como produtor experiente no formato. Apesar disso e de ter inspirado cenários e Enterprise, ter previsto o holodech e ter dado um nome do meio para o Kirk de William Shatner, não existe uma identidade interessante no segmento, que carece de características básicas, tanto de Jornada, quanto de um produto feito para ser exibido nas tardes de sábado.

  • Crítica | Star Trek: Sem Fronteiras

    Crítica | Star Trek: Sem Fronteiras

    cartaz

    É curioso como, hoje em dia, a tela de cinema precisa se desdobrar, entortar, capturar mais que 180º para conseguir dar conta de nos mostrar um universo, mais que plausível, que a tecnologia já consegue moldar, e uma câmera quase não consegue emoldurar mais. Nunca me esqueço de uma sessão em IMAX 3D de Gravidade, o clássico de Cuarón em 2013, quando, enquanto espectadores passivos que somos, nos deixávamos engolir pela tela e quase não conseguíamos tornar mensuráveis as dimensões à frente dos olhos, tamanha a escala obtida. Tudo muito grandioso, e assim, aos poucos, hipnotizados, de espetáculo em espetáculo, com exceção do já citado épico com Sandra Bullock e outros gatos pingados que sabem usar a tecnologia afim de algo maior que explosões e acrobacias, fomos nos esquecendo de que cinema não é apenas diversão, mas pode ser representação e conscientização social, especulação da nossa realidade, filosofia, palco para futuros triunfos científicos, e tudo o mais que a série Star Trek nos anos 1960 foi. Claro que este Sem Fronteiras, de 2016, não resgata tudo isso ao belo e desmotivado cinema de ação dos anos 2000, mas chega às maiores telas do mundo como um lembrete dos bons ao público – além de ser nostálgico, sem ofender a memória dos mais velhos.

    Tratada como uma caravela espacial forte, e quase indestrutível, comandada pela tropa de Kirk, Spock e cia., a espaçonave Enterprise é desmontada feito um castelo de lego, logo de cara, num impressionante uso de mise-en-scène interno e externo, muito bem orquestrado para sentirmos na pele a dor de um engenheiro ao ver as camadas e a estrutura interior de uma enorme construção ser implodida. É na subversão simbólica da principal personagem de Star Trek, ou seja, a nave que guia a todos, que percebemos a audácia e o desejo de voltar à essência e ao espírito de ficção-científica puro da era de ouro da TV. E o filme literalmente nos transporta àquela era, sendo mais um longo (porém rápido) episódio da série clássica, que uma continuação da ideia boba de prequel, dos dois outros regulares e moderninhos filmes da nova franquia. Não resta dúvida a relevância de Sem Fronteiras para a série ao compará-lo, mesmo que superficialmente, com os filmes de J.J. Abrams, pois este é, sem dúvida, o melhor exemplar da nova série dos exploradores cósmicos e seus buracos de minhoca, em plenos 50 anos terráqueos de suas viagens intergalácticas.

    Left to right: Simon Pegg plays Scotty, Sofia Boutella plays Jaylah and Chris Pine plays Kirk in Star Trek Beyond from Paramount Pictures, Skydance, Bad Robot, Sneaky Shark and Perfect Storm Entertainment

    Aqui, a história e a caravela de Cabral finalmente caem pelo abismo para, assim, elevar a qualidade do todo. Ao buscar criatividade e novos temas abordados nos rumos que o universo reciclado de Gene Roddenberry precisa tomar, ao invés de ficar jogando e tirando a Enterprise de buracos de minhocas e detritos espaciais como Abrams agora vai jogar Star Wars, aparentemente a série, com a ajuda do trekker e roteirista Simon Pegg, está disposta a encontrar seu lugar no atual cinema-pipoca, além de provar ser muito mais coerente e realista em seus princípios e, novamente, nos seus temas abordados, que o universo oriundo da mente infantil de George Lucas nunca foi capaz de alcançar. Star Trek parece ter achado seus nobres tom, bússola e paradeiro. Parece ter achado onde nasce suas alusões ao real e suas hipóteses futuras (Sulu, o comandante da nave, é assumidamente gay, uma representação sexual atingida antes pela quota racial em 1966 por Uhura, a primeira personagem feminina e negra a beijar um homem branco, na TV americana), afinal, antes de usarmos celulares, tablets, tradutores de idiomas e outras tecnologias, Star Trek apostava na futurologia e também nos preparou para o uso dos aparelhos – na época, parte de uma ficção hipotética, distante e científica.

    É o ímpeto por esta trilha perspicaz, indo à frente do seu tempo “aonde ninguém jamais foi”, que por fim acaba sendo refletido no uso inteligente, divertido e sábio da modernidade técnica que hoje tanto se explora (efeitos visuais e sonoros impressionantes), e isso não poderia ser de forma alguma melhor – e mais surpreendente, pois quem comanda o show é o até então inexpressivo Justin Lin, de Velozes e Furiosos. Um show despretensioso e equilibrado em suas motivações primordiais, mesmo tocando em vários assuntos, apostando no êxtase da nostalgia, da boa e velha ação, d’um bom e novo vilão (no ano que tivemos o desprezível Apocalipse de X-Men, um antagonista como Krall faz bem até aos olhos, por mais assustador que seja, e pelo fato de ser Idris Elba na pele do destruidor da Enterprise), mas tudo sem ignorar a especulação quanto ao rico universo em mãos, deixando jamais quaisquer personagens ou sub-tramas do filme de lado, sequer sub-aproveitadas, numa verdadeira ópera nas estrelas – e sempre apontando suas resoluções para frente.

    É esse sentido utópico, é tal reconhecimento idealista que se configura Star Trek, e por mais que Sem Fronteiras não carregue todos os motivos que fazem da série um triunfo da, e para, a cultura pop, já indica que os próximos filmes e a série recém-anunciada pela CBS e Netflix (Eba!) podem chegar a um novo futuro e conquistas, sem esquecer os louros de um passado eternamente presente, contudo não plagiado. Por isso, ao tecer tais expectativas e constatar os fatos, torna-se indiscutivelmente prazeroso, afinal, assistir a novos arranjos aos sonhos de antigos mestres do Cinema, como Meliès e Cecil B. De Mille, bem conceituados e aproveitados nas dimensões cada vez maiores da experiência extraída de uma tela, em prol de uma das matinês mais divertidas (e interessantes) de 2016. Nice job.

     

  • Review | Jornada nas Estrelas: Enterprise

    Review | Jornada nas Estrelas: Enterprise

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    Em 2001, a primeira prequência da saga pensada por Gene Roddenberry começava, nas noites de quinta-feira na rede UPN (United Paramount Network Inc.) o seriado Enterprise. O programa era pensado em sua essência pela dupla de produtores que basicamente  mandavam na franquia à época, Rick Berman e Brannon Braga. O foco seria nas origens da Federação dos Planetas Unidos, ainda não fundada e é claro, na primeira nave capaz de viajar em velocidade de dobra de 4.5. Os tempos eram bastante diferentes, viajar pelo espaço era algo ainda embrionário e bastante perigoso, e a responsabilidade de comandar a tal nave Enterprise recairia sob os ombros de um homem arredio, chamado Jonathan Archer (Scott Bakula), um sujeito cujo perfil lembrava demais um James Tiberius Kirk ligeiramente menos canastrão.

    O mergulho ao passado era enorme, tendo sequer o  tradicional dizer da jornada forasteira, indo onde nenhum homem jamais esteve. A trama começa a partir da chegada de um estranho alienígena, um klingon que invade a Terra e é capturado. A missão teria um viés diplomático, de investigação da origem deste klingon, e contaria com a cooperação mútua entre vulcanos e terráqueos, em um acordo pseudo pacífico bastante frágil, dado aqueles tempos de total desconfiança.

    A mostra da tal cooperação mútua ocorre a partir do ingresso de T’Pol (Jolene Blalock), a oficial de ciências, que é encarada como espiã dos vulcanos, como a presença dos aliados em meio aos irascíveis homens comuns. No entanto, o clima aventureso típico de Star Trek segue vivo, em especial pela fala do doutor Zefram Cochrane (James Cromwell), de que a velocidade de dobra permitiria ao homem pesquisar o que jamais foi visto, na fronteira final que era o espaço. As promessas eram quase infinitas, mas o desenvolvimento das desventuras é gradual.

    O uso de efeitos práticos, cenários reais  e maquiagens comuns causa nostalgia ao espectador atual, mesmo que o programa não seja assim tão antigo. Tais fatores incluem substância, conteúdo e textura ao drama mostrado. Apesar de algumas cenas vergonhosas e de conteúdo sexual discutível, o piloto é até interessante, em especial se comparado com o decorrer do primeiro ano, que mais contém erros que acertos.

    O decorrer dos capítulos revelam uma mesmice incômoda, em momentos que quase não formam arcos, de tão episódicos e autônomos que são seus plots. As missões são genéricas, em quase nada acrescentam a mitologia da franquia, demonstrando que a fórmula procedural se desgastava com o a modernização da linguagem televisiva. Até mesmo o foco em um triunvirato de protagonismo ocorre, com Archer, T’Pol e Trip (Connor Trinner), exatamente como foi com Kirk, Spock e McCoy.

    Alguns conceitos embrionários são desenvolvidos ainda na temporada um, como a rivalidade entre andorianos e vulcanos e a ideia por trás do holodech, que seria utilizada na Nova Geração e até as dificuldades da tripulação em entender línguas de outros povos, já que o tradutor simultâneo ainda está em fase de teste, tendo até a alferes Hoshi Sato (Linda Parkresponsável por manter a diplomacia em voga e por travar o contato idiomático com as raças diferentes a que tem 

    As dificuldades desta tripulação incluem fatos curiosos, além da recorrente problemática de comunicação. Os tripulantes são proibidos de se relacionarem entre si, o que causa um celibato forçado entre os alistados, assim como um aumento na tensão geral. Outra situação limite é a ausência de descanso, provando que os direitos trabalhistas foram acordados com o decorrer do tempo, afastando a teoria muito utilizada pelos críticos da franquia de que a utopia política vista na Enterprise de Kirk surgiu instantaneamente.

    No fim do primeiro ano e início do segundo ano, se explora as questões da Guerra Fria Temporal, envolvendo uma parcela da raça dos sulibans, geneticamente modificados, denominados cabal. O ataque a Enterprise são incisivos, com os alienígenas cercando a nave e exigindo a total cooperação de Archer. A hostilidade dos sulibans já foi aludida antes, dentro do seriado, mas não de forma tão direta e cruel quanto nesses momentos decisivos. As manobras utilizadas por Archer fazem lembrar demais a audácia de James T. Kirk nos episódios originais, com o roteiro finalmente dando um pouco de fibra ao seu capitão, juntando esta boa característica ao seu carisma e extrema dedicação ao papel.

    Após todo o imbróglio, o status quo de retratar a história de modo episódico é reprisado, com um belo início ao situar a presença de T’pol no primeiro contato estabelecido entre os vulcanos e os terráqueos. O decorrer do segundo ano segue morno, ainda mais do que no primeiro, evocando quase sempre referências as partes da franquia que só seriam desveladas muito no futuro, como a relação com os Ferengi e os Borgs, raças somente introduzidas pós Nova Geração, com centenas de anos após este programa.

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    Na transição entre o segundo e terceiro ano, há um agravamento da questão da tal guerra fria, soando no mais desinteressante desfecho de arco até então. As críticas negativas a Enterprise normalmente são exageradas, fruto de uma expectativa de fãs que não é alcançada graças ao formato spin off. No entanto, o defeito apontado com relação ao formato são completamente justos, pois a transição entre uma série procedural e as mais ligadas na continuidade exacerbada se dá muito tardiamente. O formato da franquia Star Trek tem muito pouco a ver com o decorrer dos programas que se tornariam campeões da audiência, com apelos muito invertidos em comparação com Lost, 24 Horas, Heroes e com as futuras séries da HBO, o que fez a produção de Braga e Berman soar muito destoante de sua época.

    A escolha dos roteiristas foi a de fomentar mini arcos, dentro do período anual, com episódios contínuos que duravam de dois a quatro capítulos, envolvendo as raças que estavam em conflito, e que em suma, pouco acrescentavam tanto a mitologia da época, quanto ao interesse geral o programa. A importância de tais conflitos rivaliza com o aumento da exploração sexual de T’Pol, artigo que já incomodava antes e que piora bastante nesse ano, onde se institui de fato um triângulo amoroso fajuto entre ela, Archer e Trip, ocorrendo a chegada às vias de fato com este segundo, além de alguns (muitos) momentos de sonhos fantasiosos, onde estes se entregam a luxúria.

    A tentativa de resultar em qualquer popularidade, visto que os índices de audiência diminuíam cada vez mais, fez os produtores inserirem mais raças alienígenas antagonistas características de outras sagas de sci fi, como os repitilianos, que passam a comer ratos, como em V: A Batalha Final. O quarto ano só ocorreu graças a muita insistência do fandom, que lotaram a caixa de e-mail da Paramount para que a série não fosse cancelada. A mudança na postura trouxe a trama para uma viagem temporal que faz paralelos desta encarnação com a da série original, em especial com o episódio Uma Cidade A Beira da Eternidade.

    Já no terceiro episódio, Archer e seus tripulantes voltam a Terra, com a pecha de heróis galácticos, para logo ter essa adjetivação discutida em tela. De fato os textos melhoram muito, ainda que seja mais pelo apelo a mitologia dos episódios clássicos do que por méritos próprios dos roteirista. Se destacam as participações dos romulanos e a quantidade absurda de choques ideológicos dos andorianos com outras raças, incluindo aí os tellaritas.

    O maior fascínio do seriado certamente recai sobre T’Pol e suas posturas. Após explorarem um vulcano mais condizente com a ideia original de ser sem emoções, com Tuvok em Jornadas nas Estrelas: Voyager, retornava-se a ideia de um alienígena mais emocional, passível de erros e capaz até de se viciar em drogas sintetizadas. A postura da moça inclusive faz muito mais sentido por exemplo do que a postura de Zachary Quinto no reboot de J. J. Abrams, exatamente por ter boas justificativas no  texto, ainda que nem sempre as viradas tenham sido tão bem construídas. A faceta extremamente sensual foi pensada pela própria Jolene Blalock, que usava trajes cada vez mais coladas e que pedia aos produtores mais cenas em que seu corpo fosse o maior mote visual, o que de certa forma a fez ser motivo de controvérsia, ainda mais aos olhos modernos e a representação da mulher no audiovisual. Mas o encanto não provinha só da beleza da atriz e do papel em si, e sim do extenso carisma que a personagem foi adquirindo com o passar das temporadas.

    Os últimos dez capítulos tem um tom especial, a começar pelo episódio duplo, com a explicação da praga klingon, que fez supostamente as figuras bélicas da galáxia perderem seu aspecto de hostilidade, ficando mais parecidos com os indianos que se vêem na série clássica, passando pelas idas e vindas de Trip ao posto de tripulante da Enterprise, fugindo do compromisso amoroso que poderia ter com T’Pol. O seriado guarda em seus últimos momentos uma maior preocupação com o futuro/passado da franquia, bem como grifa a intimidade entre personagens, dando maior significado ao drama visto em tela.

    O episódio do universo espelho, In a Mirror, Darkly demonstra o início do Império Galáctico, onde os humanos da Terra são hostis, e começam por atacar os vulcanos no primeiro contato com eles. Nesta versão, é curioso como as personagens femininas, especialmente a linguista Hoshi são ainda mais sexualizadas, tendo até seus uniformes cortados na altura da barriga, a fim de mostrar mais pele feminina, expandindo a sensualidade desta e até de T’Pol, que contém um cabelo maior que sua versão natural, se assemelhando ainda mais ao padrão de beleza do começo dos anos 2000. Os cavanhaques são abandonados nesta versão malvada, mas as barbas por fazer prosseguem como parâmetro de malignidade, assim como deformações, mostrando que Enterprise explorava os estereótipos um passo atrás de seu próprio tempo ao contrário da primeira série, que punha-se a frente de sua cronologia de lançamento.

    O quadro melhora ligeiramente ao se explorar o contato com a geração do século XXIII, em referência ao capítulo Arena da série clássica, onde se justifica a rivalidade dos reptilianos Gorns com os humanos, finalmente mostrando como seria a concepção desta raça em CGI. Os penúltimo e antepenúltimo episódios finais de dedicam aos embriões da aliança que resultaria na Federação de Planetas e consequentemente na Frota Estelar, explorando a paranoia humana presente nesta união. A disputa de ideias entre Archer e John Frederick Paxton (Peter Weller) é tão  antiga quanto a explorada no universo espelho, envolvendo a expansão espacial pondo em lados distintos a predação e a convivência pacífica. A lição tirada, em especial pondo em cheque a palavra do Doutor Phlox (John Billingsley) é a de perdas e ganhos, mostrando que mesmo uma exploração pacífica pode sofrer terríveis ataques, vindo de quem não sabe tratar sua própria intolerância, salvando então um argumento já combalido, finalmente levando Star Trek para a ideia inicial de Ronddenberry, que era mostras as mazelas e diferenças culturais sendo derrubadas em prol do progresso.

    O derradeiro episódio mostra uma viagem aos sets de A Nova Geração, com o comandante William Riker (Jonathan Frakes) assistindo a um documentário holográfico, que teria fortes ligações com os eventos de Enterprise, discutindo-se até tais efeitos junto a Deanna Troi (Marina Sirtis), que acredita que o homem do alto comando está obcecado com a situação de seus antecessores. O capítulo seria bastante genérico, não fosse a exploração do último dia da expedição. Por mais que haja uma tentativa imensa de gerar emoção, falta ao derradeiro episódio, o que de certa forma explica a regularidade do seriado. Exceto é claro pelo emocionante discurso final, mesclando cenas das três versões da nave, acoplando o discurso de Patrick Stewart, Will Shatner e Scott Bakula, que remonta ao desbravar que Ronddenberry começou e que Rick Berman e Brennon Braga tentaram prosseguir, quase sempre respeitando a obra original, apesar dos muitos escorregões, tanto dos spin offs quanto desta encarnação.

  • Crítica | Star Trek (2009)

    Crítica | Star Trek (2009)

    61 - Star Trek (Jornada nas Estrelas)

    Quando foi anunciado que J.J. Abrams seria o novo responsável por trazer de voltas às telonas a franquia Star Trek, confesso que não me importei, porque nunca liguei muito para essa franquia (e também porque naquela época ele não era tão conhecido quanto hoje). Não sei bem as razões, mas nunca tive vontade de ver a série em qualquer das gerações ou nenhum dos filmes. Talvez pela quantidade e pela eternidade que iria levar ver tudo, mas, mesmo assim, algumas características dos personagens e bordões criados pela série eram familiares, tamanha é a influência de Star Trek na cultura pop. Portanto, eu era o público-alvo do filme tanto quanto qualquer pessoa que não tivesse o mínimo de conhecimento da saga.

    Nesse aspecto, posso dizer que o filme agradou. Ao dar uma nova roupagem e modernizar os personagens, J.J. Abrams consegue criar um universo verossímil, mesmo fazendo algumas alterações que poderiam causar estranheza aos fãs da série clássica.

    O filme se inicia contando a história do pai do capitão James T. Kirk (Chris Pine) e como ele é morto por um ataque de romulanos e consegue salvar a vida de milhares de pessoas. Logo depois, vemos Kirk crescendo como um jovem impulsivo e que sempre testa seu limite, e o dos outros, na busca por emoções e desafios. Também nos é apresentada a origem de Spock (Zachary Quinto) em seu planeta natal, Vulcano, contrastando sua metade humana com sua metade vulcana, e como isso afeta e afetará sua vida. O que faltou foi um maior desenvolvimento aos outros personagens, como Dr. Leonard McCoy (Karl Urban), tornando a trama excessivamente centralizada em Kirk e Spock.

    A trama é relativamente simples, porém se utiliza de subterfúgios muito comuns em filmes do gênero quando os roteiristas estão encurralados sem saber para onde ir: a viagem no tempo. Porém, a forma como ela é usada serve de propósito ao desenvolvimento da história, então neste aspecto soa natural, apesar de essa mesma história ser contada no ritmo frenético que a ação moderna exige, fazendo com que o espectador possa se perder às vezes.

    O assassino do pai de Kirk, o romulano Nero (Eric Bana), volta no tempo para destruir os planetas de todos aqueles que não fizeram nada para evitar a destruição de seu planeta no futuro, e consegue efetivamente destruir o planeta Vulcano, para o desespero de Spock. No entanto, seu próximo alvo é a Terra, e algo precisa ser feito para impedi-lo.

    Enquanto Kirk e Spock ainda não são amigos e lutam para conseguir se manter no mesmo ambiente, Kirk é colocado para interagir com Leonard Nimoy, o eterno Spock da série clássica, tanto para explicar a questão da viagem no tempo, como para agradar os velhos fãs, pois só mesmo uma pessoa totalmente alienada da cultura pop não reconhecerá o rosto do velho ator, que dá uma boa contribuição, juntamente ao personagem Scotty (Simon Pegg), que garante boas risadas como o alívio cômico. Porém, o vício de Abrams em explicar demais a história para não correr risco de nenhum espectador perder o fio da meada também torna a sequência desnecessariamente longa e arrastada em seu final. No final, Kirk e Spock percebem que se completam, assim como todo o restante da equipe que encaixa muito bem nos novos atores, e conseguem enfrentar o vilão Nero em boas sequências de batalhas.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Agenda Cultural 52 | Star Trek, Velozes e Furiosos e Se Beber, Não Case

    Agenda Cultural 52 | Star Trek, Velozes e Furiosos e Se Beber, Não Case

    agenda52

    Bem vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Nicholas Aoshi (@aoshi_senpai), Carlos Brito, Bruno Gaspar e Jackson Good (@jacksgood) se reúnem para comentar os mais recentes, ou não, lançamentos de quadrinhos cinema seriados e até games.

    Duração: 100 min.
    Edição: Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira
    Arte do Banner:
    Bruno Gaspar

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    Comentados na Edição

    Quadrinhos

    Monstro do Pântano
    Vingadores Vs. X-Men
    Homem-Aranha 2099 – Início

    Games

    Borderlands 2

    Séries

    Hannibal

    Cinema

    Crítica Oz – Mágico e Poderoso
    Crítica A Caça
    Crítica Se Beber, Não Case 3
    Crítica Terapia de Risco
    Crítica Faroeste Caboclo
    Crítica Velozes e Furiosos 6
    Crítica Depois da Terra
    Crítica Segredos de Sangue
    Crítica Além da Escuridão – Star Trek

  • Crítica | Além da Escuridão: Star Trek

    Crítica | Além da Escuridão: Star Trek

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    O novo Além da Escuridão – Star Trek comprova que J.J. Abrams conseguiu o que parecia impossível: unir todo o universo da franquia sem atrair a ira dos fãs – que levam muito a sério o assunto e costumam não ser tolerantes com o que consideram infidelidade. J.J. fez uma reciclagem de temas, conflitos e personagens. E obteve o que muitos filmes recentes não alcançaram: pegar um universo incrustado na cultura pop, fortemente associado a atores diferentes dos que dispõe e, de alguma forma, fazer com que todos se importem como antes, colocando o entretenimento de qualidade para caminhar lado a lado com a inteligência.

    Se, no primeiro filme que assinou, o diretor introduziu personagens famosos da série, optando por contar de onde eles vieram e como se tornaram cadetes, até virarem heróis, neste, J.J. esmiúça como as relações de respeito, amizade e carinho entre eles foram pavimentadas. O diretor usa o passado para criar algo novo. Presta uma grande homenagem à série, aos filmes e aos personagens. Se já tinha adiantado isso em relação a Kirk e companhia, ele agora causa impressão com outro ícone da franquia, o vilão Khan, o mais famoso de Jornada nas Estrelas, que ganhou uma roupagem completamente diferente na ótima interpretação de Benedict Cumberbatch (o Sherlock Holmes do seriado homônimo atualmente no ar na TV). O caso é o mesmo do Coringa de Batman, que, quando feito por Jack Nicholson no filme de Tim Burton, em 1989, parecia imbatível, até que Heather Ledger se apossasse do personagem na trilogia criada por Christopher Nolan. Este, por sinal, também foi uma influencia para J.J., não só nos temas, mas também nas belas imagens capturadas em IMAX, depois que o diretor de Star Trek assistiu, a convite do próprio Nolan, a O Cavaleiro das Trevas Ressurge.

    Apesar das várias referências que vão emocionar os fãs de primeira hora, Into Darkness também foi concebido para entreter o público que nunca foi ligado a esse universo. É um filme de ação feito com habilidade – um filme em que a ação está sempre a serviço da trama. É interessante que J.J., junto com o diretor de fotografia Dan Mindel, use o mínimo possível de truques de CGI nas cenas que envolvem atores e movimento – e, com isso, obtenha uma boa dose de realismo, mesmo nas sequências mais fantasiosas. Percebe-se que há uma aura de tensão constante sem que ela seja gratuita ou interfira na trama.

    Um grande mérito é que o novo filme faz exatamente o que a série sempre fez: usar um cenário futurista para fazer um comentário contemporâneo sobre algum tema em voga na sociedade – no caso, o terrorismo; suas causas e consequências; a legitimidade, ou não, de se criar uma guerra com o objetivo de eliminar uma ameaça futura; a necessidade bélica do ser humano; os limites do militarismo; e os que servem à guerra ao terror. Into Darkness apresenta alguns conflitos morais complexos, como os bons roteiros de Star Trek sempre fizeram. Um dos questionamentos parte de uma intenção de se matar um homem sem um julgamento justo, sob a alegação de que ele é terrorista. O filme é, em última instância, uma alegoria transparente de uma reação desproporcional contra um ato de terror. Bem de acordo com as crenças de Gene Roddenberry, a narrativa se concentra nos valores humanos e no papel do indivíduo dentro da sociedade. E, mesmo com tudo de espinhoso que o filme retrata, a visão otimista de Roddenberry está presente. Em Star Trek, o futuro convive bem com o passado: naves sobrevoam a cidade de São Francisco, enquanto os nostálgicos bondinhos continuam lá servindo a população.

    J.J. demonstra que, até a chegada desse otimismo, não foi fácil e houve uma longa caminhada. O roteiro de Roberto Orci e Alex Kurtzman recebeu um tratamento de primeira de Damon Lindelof, parceiro de longa data do diretor e também um dos responsáveis pelo fenômeno Lost na TV. Outra característica desse estilo de roteiro, que também esteve presente em Os Vingadores, sucesso no ano passado, é o aprendizado de lições de vida por parte dos personagens icônicos, como a do papel de um líder, para Kirk, e a da complexa fronteira entre a lógica e a sensibilidade, para Spock, isso tudo entre outros temas que se prestam ao escrutínio, como a amizade, a lealdade, a ética e as regras. Por trás da mensagem de “explorar novos mundos”, existe o descobrir a si mesmo.

    A descoberta de Spock é um tema à parte. O ator e diretor Leonard Nimoy, apesar de muito grato à sua vida profissional e de ser um entusiasta de Jornada nas Estrelas, logo quando a série clássica foi cancelada, foi o que mais renegou seu passado a serviço de seu personagem (inclusive, com o livro Eu Não Sou Spock). Mas é ele a ponte para a chegada do novo elenco. Esta é sua oitava participação em um filme da franquia feito para o cinema. São as ironias do destino – que é altamente ilógico.

    O mestre de J.J., o cineasta Steven Spielberg, também recebe seu tributo, engendrado na cena inicial – uma clara homenagem ao começo de Caçadores da Arca Perdida. Não é à toa que a célebre revista Cahiers Du Cinéma aponta J.J. Abrams como legítimo sucessor de Spielberg. E J.J. Já deu mostras de pode ir além: onde nenhum diretor jamais esteve.

    Texto de autoria de Mario Abbade.

  • VortCast 06 | Ahhhh, O Amor…

    VortCast 06 | Ahhhh, O Amor…

    Bem Vindos à bordo ao túnel do amor, ouvintes apaixonados. Nesta edição, Flávio Vieira (@flaviopvieira), Levi Pedroso (@levipedroso), Rafael Moreira (@_rmc) e Mario Abbade (@fanaticc) se reúnem para comentar sobre cenas românticas marcantes do Cinema para cada um deles. Por isso, separe um bom vinho, acenda velas aromatizadas e traga sua parceira(o) para ouvir junto.

    Duração: 93 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na edição

    Declaracão de amor feita pelo Levi Pedroso

    Cenas Escolhidas

    Casablanca (Mario) | Cena Comentada
    Vanilla Sky (Levi) | Cena Comentada
    As Pontes de Madison (Rafael) | Cena Comentada
    Antes do Pôr-do-Sol (Flávio) | Cena Comentada
    Simplesmente Amor (Rafael) | Cena Comentada
    Meus Dois Carinhos (Mario) | Cena Comentada
    Aconteceu Naquela Noite (Flávio) | Cena não encontrada | Filme Completo no Youtube
    Um Lugar Chamado Nothing Hill (Levi) | Cena Comentada
    Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (Rafael) | Cena Comentada
    O Último Tango em Paris (Mario) | Cena Comentada
    Star Trek (Mario) | Cena Comentada
    Star wars – O Império Contra-Ataca (Flávio) | Cena Comentada
    Os Implacáveis (Mario) | Cena Comentada
    De Repente é Amor (Levi) | Cena Comentada
    Hannah e suas Irmãs (Mario) | Cena Comentada
    O Senhor dos Anéis (Rafael) | Cena Comentada
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