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  • Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Sexto

    Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Sexto

    “A inspiração existe, mas ela precisa te encontrar trabalhando.” – Pablo Picasso

    O Monstro do Pântano não existe mais. Não na Terra: após ter sido exterminado a ferro e fogo, e em praça pública, ao quase destruir Gotham City em toda a sua cólera para resgatar a sua amada Abigail da prisão, a consciência do Verdão saiu de seu corpo queimado e vagou pelo espaço, uma energia livre feito ondas radiofônicas entre as estrelas, além de quaisquer limites para explorar outros mundos. Neste sexto volume das aventuras do Monstro do Pântano, o escritor Alan Moore (Watchmen) rompe a atmosfera e leva o guardião oficial da fauna e flora terrestres para fora de sua jurisdição, em ambientes cujos domínios já possuem outros guardiões que ele, tão acostumado a seu discreto e solitário pântano, nunca sonhou a conhecer fora da zona de conforto que tampouco lhe restou. Bem-vindo ao final desta saga, em oito histórias de pura fantasia espacial repletas de ação, drama e desenhos delirantes.

    Quando Moore decidiu trabalhar com um personagem esquecido desse, ainda em 1983, o desejo era tão simples quanto majestoso: remodelar essa criatura ao status de um semideus com falhas, coração e um pesado senso de humanidade. Em 64 histórias, o autor de V de Vingança e A Liga Extraordinária provou (dentro de um grande arco narrativo) ser capaz de aprofundar as raízes de um ícone das histórias em quadrinhos da DC que ninguém se importava na época, dando-lhe poderes, conceitos políticos, dilemas morais e uma carga dramática ainda sem precedentes a maioria dos outros ícones das HQ’s. Em O Mistério no Espaço, por exemplo, ao se deparar com um novo planeta para habitar, o assim chamado ‘Monstro’ devido a sua aparência metade homem, metade vegetal, encara uma xenofobia violenta dos nativos e a intolerância de outros heróis que enxergam nele uma ameaça assumida, apenas por sua imagem horripilante. Nunca o pântano lhe pareceu tão distante, e nunca a diplomacia se mostrou tão valiosa – mesmo ele sendo capaz de, ao controlar tudo o que é orgânico, rachar o planeta a dois.

    Já na belíssima Toda Carne é Erva, ilustrada com painéis coloridos de tirar o fôlego pelos traços de Rick Veitch e Alfredo Alcala, a mente do Monstro do Pântano se conecta desta vez no ecossistema do planeta J586, promovendo um caos entre os milhões de habitantes do planeta que, curiosamente, são feitos de vida vegetal. Mas é claro que o Lanterna Verde que cuida deste humilde mundo, o poderoso Medphyl, vai medir forças com a entidade que veio para causar o horror e que se impõe ao seu anel, feito um titã com os pés no solo e a cabeça na estratosfera. Aqui, a história traz à tona o poder da nossa vontade, da consciência e da coragem, coisas que não tem nada a ver com nosso tamanho ou qualquer outro empecilho pelo caminho. Abusando de uma narração em primeira pessoa, esse breve conto mostra-se ainda que simbólico mais simples que o normal, e assim seguem-se os próximos contos que marcaram a despedida de Alan Moore para com o personagem.

    Tanto em Exilados quanto em Amor Alienígena, esse Volume 6 já dá sinais claros de falta de inspiração, de cansaço criativo, algo nunca atestado nos Volumes anteriores. Ao brincar de Star Trek, levando essa figura superpoderosa onde nenhuma outra jamais pisou, Moore traçou suas últimas bem-sucedidas ambições para o Verdão de uma forma solene, ainda que sem conseguir esconder a sua exaustão imaginativa. Ao mesmo tempo, o mago inglês escrevia Watchmen, a HQ de super-heróis mais importante da história, e na introdução que abre este último volume publicado pela editora Panini, o desenhista Stephen Bissette admite que o autor estava sobrecarregado de trabalho, e por isso, o fascínio dos seus primeiros contos de terror, ficção científica e fantasia já estava se apagando. Mesmo assim, faz-se um desfecho satisfatório ao Monstro do Pântano assinado por Alan Moore, e que ainda encontra no romance e na filosofia temas que tornam o seu final quase tão memorável quanto ela conseguiu ser, em seus maiores momentos.

  • Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Quinto

    Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Quinto

    O mundo quase acabou, e a ressaca de ter sobrevivido ao apocalipse é forte nesse quinto volume d’O Monstro do Pântano, numa nova etapa da obra assinada por Alan Moore em sua magistral e profunda abordagem de fantasia e ficção científica para a lenda do personagem, nos anos 80 – pré-Watchmen. Após ter ajudado a salvar nossa realidade da sua literal destruição mística, o Monstrão agora tenta se acostumar com a volta para casa, escondido da civilização entre os jacarés e as árvores de seu solitário pântano, na Louisiana, sul dos Estados Unidos. Ele só não esperava que sua amada Abigail, enquanto o Verdão trabalhava onde céu e paraíso se chocam, estivesse presa por ter sido filmada escondida, beijando o monstro. Toda cidade a enoja, e presa, a sentença de Abigail por crimes contra a natureza é impiedosa, mas até parece que seu namorado vai deixar a (in)justiça dos homens recair sobre ela, tão fácil.

    Com todo o poder que tem, afinal o Monstro do Pântano é o arauto ambulante de toda a força natural da mãe Terra, quando a entidade descobre que Abigail foi detida como louca no hospício Asilo Arkham, em Gotham City, sua cólera é imensa, indo reverter a situação. Na breve história Consequências Naturais, vemos um ex-ser humano, transformado pelo destino em um Deus, dominar com suas raízes uma corte e uma metrópole inteira para que lhe devolvam a mulher que ama, desarmada sob a égide do estado americano. Diante da calúnia que Abigail foi trancafiada no Arkham pelo seu ato desumano e esquizofrênico de ter relações sexuais com uma criatura abominável, e asquerosa (o que, tecnicamente, é verdade, devido ao visual dele), vemos a ira irrefreável da natureza irromper dos bueiros, se edificar mais alto que qualquer arranha-céu, e dominar a paisagem urbana que aprisiona a “noiva do Frankenstein”. O monstro está na área pra reclamar o que é seu, sem lembrar que a área pertence ao Batman.

    Na divertida O Jardim das Delícias Terrenas, eis o famoso e tão esperado embate entre os dois personagens mais sombrios da DC (uma vez que o mago Constantine foi tirar umas férias depois do quase-apocalipse que rolou, já que assunto de marido e mulher não o interessa), numa Gotham que mais parece a floresta Amazônica e que dá inveja até a Hera Venenosa. Se vale tudo mesmo para resgatar Abigail, a Besta das Matas agora enfrenta o Cavaleiro das Trevas em casa, enquanto não move esforços para provar porque devemos temer quando a natureza se enfurece, e decide exibir sua soberania nesse mundo, convencida de sua óbvia vitória sobre os sistemas dos homens… mas sem saber que Lex Luthor, o gênio careca já acostumado em encarar o imbatível, foi recrutado em Gotham para bolar um plano e vencer essa ameaça onipotente. Alan Moore reitera, mais uma vez, sua exímia habilidade em balancear elementos clássicos da DC em suas histórias de mistério e ação, caprichando no suspense e nos fazendo duvidar se, de fato, o Monstro do Pântano é tão infalível, assim.

    Prestes a deixar a saga do Verdão para trás, após participar de uma colaboração de quase uma década que marcou época, nas HQ’s, revitalizando um personagem esquecido e dando-lhe novos encantos, e possibilidades, podemos notar entre as edições 51 e 56 que Alan Moore já deixou de lado os grandes arcos do Livro Três, e Livro Quatro, voltando-se a partir deste Livro Cinco a histórias menores, bem menos ambiciosas ou elaboradas, mas ainda assim surpreendentes devido a sua dinâmica, ótimos personagens e boas sacadas no roteiro. Um exemplo disso é a bela Meu Paraíso Azul, na qual nosso monstro (que de terrível, guarda só a aparência) viaja para dentro de sua consciência e imagina uma dimensão baseada em seu amor incomensurável por sua Abigail, dando a ela cabelos de margarida, e uma aura angelical. Falar de amor numa história do Monstro do Pântano nunca é cafona com Alan Moore, que ainda contava com desenhistas da magnitude de um Rick Veitch e John Totleben para ilustrar painéis de beleza avassaladora, nunca antes vistos com tanta paixão, e exuberância numa HQ, todas publicadas, com a devida pompa, pela editora Panini, no Brasil.

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  • Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Quatro

    Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Quatro

    Tem um mal inominável na nossa porta, e nada pode detê-lo. O único que poderia se prestar a salvação, perdeu a chance, e condenados, esperamos junto de anjos e demônios pelo iminente juízo final. O curioso é que, dificilmente nas histórias escritas por Alan Moore em O Monstro do Pântano, o horror gótico americano das coisas vem à tona em nível social, como se o leitor sempre fosse transportado para uma realidade paralela, uma extensão do pântano do “grande monstro” da Louisiana, nos Estados Unidos, aonde tudo pode acontecer – e nada ganha os noticiários. Sem limites para seus contos sombrios e filosóficos, Moore redefiniu o heroico personagem nos anos 1980 com uma profundidade moral e questões muito além do normal, o que nos faz questionar se outras figuras dos quadrinhos, como Hellboy e Motoqueiro Fantasma, em suas mãos, ganhariam contornos tão inesquecíveis, quanto. Felizmente tivemos o Coringa sendo laureado pelo talento do gênio, em A Piada Mortal, e neste quarto volume publicado no Brasil pela editora Panini, acompanhamos a continuação da saga que marcou época na cultura pop.

    Agora, um mal supremo ronda essa entidade altruísta, com sua assombrosa aparência verde musgo e olhos vermelhos, guardiã do meio-ambiente e dos que nele vivem, fadada a caminhar entre a tragédia e o amor recíproco de sua amada Abigail. Uma energia maligna, aquela, que faz o inferno e o paraíso temerem a sua ascensão. Nisso, o mago John Constantine recruta o Monstro do Pântano para este investigar o que está se aproximando, pois nem ele consegue decifrar tal enigma. A vibração da Terra se altera, as realidades paralelas a nossa compartilham desse desconforto, alguém precisa nos proteger, e a resposta para banir a escuridão suprema pode estar nos confins mais abissais, onde só a consciência do verdão pode acessar. Pela primeira vez desde sua criação, na edição nº37 da saga, Constantine parece realmente inseguro e com medo do desconhecido – sendo que, para o detetive do oculto, dialogar com entidades perigosas dos submundos espirituais é uma viagem de verão ao sul da Itália. O tempo de férias realmente acabou, e Moore é especialista em criar tensão com imagens e situações apavorantes, para todos os públicos.

    A quarta coletânea da Panini já começa na história nº43, E o Vento Trouxe, na qual um traficante de drogas hippie acha um fruto oriundo da “pele” do Monstro, deixado para trás em uma caminhada pela sua floresta, no sul dos Estados Unidos. Após levá-lo à sua casa, o homem distribui desse alimento misterioso a algumas pessoas, causando-lhes alucinações e transformando suas vidas num eterno pesadelo. Menos surreal e mais criminal na proposta de terror, na ótima Bichos Papões, vemos um assassino em série matando várias pessoas nos pântanos da Louisiana, até encontrar uma justiça sobrenatural em seu caminho. Mas é em Dança com Fantasmas que a inspiração no horror gótico vem realmente marcante, num conto sobre quatro adolescentes desavisados que entram numa mansão mal-assombrada, onde atrás de cada porta repousam criaturas sedentas a testar a fé dos mais religiosos. Com desenhistas da mais alta excelência ilustrando seus delírios, perversões e insanidades, Alan Moore em 1986 teve de se infiltrar no grande arco das Crise nas Infinitas Terras, da DC Comics, costurando o personagem ao espectro maior das histórias do Batman, e cia.

    Na convergência de realidades fantásticas, em um macro enredo que envolveu todos os personagens da DC, nos anos 80, a editora fez todo o seu multiverso desorganizado, cheio de Terras 1, 3 e 7, pertencer a apenas uma dimensão. Para isso, dentro da saga do Monstro do Pântano, Moore criou um evento destruidor que forçava a união dos altos escalões da luz, da sombra e dos seres humanos (lê-se: os super-heróis místicos da DC, como o Senhor Destino e Vingador Fantasma) em prol da sobrevivência de Tudo – absolutamente Tudo. Para isso, o próprio Monstro e seu parceiro de aventuras, o sádico Constantine, vêm juntos ao Brasil em O Parlamento das Árvores especular com entidades que enxergam o futuro a grande batalha apocalíptica que lhes aguarda – nota-se que, em região Tropical, pela primeira vez, é dado ao grandalhão cores vivas que, vivendo e germinando no sul dos Estados Unidos, nunca brotaram em sua pele de folhas e raízes escuras. A resposta não é dada facilmente pelos ancestrais, e muito antes do conflito da Vida com a Morte absoluta, o mal à espreita os abate de forma imprevisível, e coerente o bastante para fechar, com a precisão e o esforço criativo de um mestre, todo um arco de histórias poderosas. Eu queria ver esse tratamento dado ao Hellboy, Alan Moore. Eu realmente queria isso.

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  • Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Três

    Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Três

    Dizem que os fins justificam os meios, e muita gente bota fé nisso – principalmente, hoje em dia. Seja como for, se Alan Moore não tivesse criado em 1985 uma ameaça forte o bastante para aniquilar o Monstro do Pântano, o poderoso e tempestuoso elemental capaz de tudo para proteger sua amada, e o pântano na Louisiana que ele faz de morada, nunca seriamos apresentados ao mago John Constantine, logo na edição nº 37 da clássica saga escrita por Moore, e desenhada nos traços icônicos de uma verdadeira gangue de ilustradores a serviço do maior roteirista de HQ’s da história. É curioso observar a forte expressividade de alguns quadros em função do impacto da narrativa, numa impecável fusão artística tão almejada entre a força do texto, e o brilho do visual. Temos, portanto, a trajetória e o destino esculpido de um herói sem rostinho bonito, cujo uniforme é asqueroso, e assim como o verde que resguarda, e incorpora em suas aventuras, faz de si o mais resistente de todos os seres vivos.

    E é justamente a queda dessa resistência por um vilão radioativo que a natureza, em toda a sua soberba, não consegue vencer, que assistimos assombrados em uma gama de imagens e painéis impressionantes em Notícias do Fuça Radioativa, história essa dividida em duas partes que abre o volume 3 da saga publicada com capricho pela editora Panini, no Brasil. Nesta clara alusão aos maus-tratos do ser humano ao meio-ambiente, a temível entidade de musgo e olhos vermelhos padece para, em seguida, virar um insignificante broto na mata, na esperança de germinar, de voltar a ser o que era: um biossistema ambulante em toda a sua glória. Um renascimento este que chama a atenção de Constantine, sempre antenado em tudo de bizarro que rola no mundo, como se este fosse seu quintal e nada escapasse de seus olhos de águia. Uma figura que surge para despertar a consciência do Monstro do Pântano sobre ele mesmo, seus poderes e a sua importância para eventos futuros que irão testar Terra e humanidade diante de perigos apocalípticos.

    Constantine faz sua primeira aparição como um anúncio de tempestade, um arauto dos males, sendo ele um dos melhores personagens da carreira de Alan Moore. Com seu cigarro e casaco inconfundível, logo ele e o Monstro do Pântano lutariam juntos na publicação da DC Liga da Justiça Sombria, sempre envoltos com demônios, magia e outras dimensões ao invés dos desafios mais mundanos que Batman e Superman geralmente enfrentam. A presença de Constantine serve para apresentar ao nosso anti-herói verdão ameaças que deixam Coringa e Lex Luthor no chinelo: em Águas Paradas, uma raça de vampiros subaquáticos (você leu certo) planeja dominar o plano terrestre a fim de nunca faltar alimento para sua força materna, a repousar no fundo de um lago enquanto espera por carne humana – de preferência, bem jovem. Ou ainda em A Maldição, na qual uma dona de casa carrega em si uma enorme força sobrenatural que vive a controlar, mas que após o seu marido Roy se tornar uma ameaça a ela, Phoebe decide inverter o jogo de poder em uma quente, e sangrenta noite de lua cheia.

    Contudo, talvez seja a história de conclusão deste terceiro volume a mais simbólica e memorável da coletânea, na qual espíritos e cadáveres de escravos decidem voltar à Terra, mais precisamente no sul dos Estados Unidos, e infernizar um grupo de atores de uma novela sobre os tempos da escravidão americana. Em Mudança Sulista e Estranhos Frutos, esses zumbis finalmente ganham a liberdade pela qual morreram lutando, e sua vingança coletiva será terrível, mesmo após tantas e tantas décadas sepultados. Em uma intensa e sublime alegoria do mais puro horror gótico, Alan Moore discute o papel da violência no passado de certas regiões marcadas pelo sofrimento, e como essa tensão sempre pode retornar no menor descuido das pessoas e autoridades diante do racismo, e de outras práticas monstruosas. O mal vive à espreita, e “O que foi enterrado não desapareceu.”. A mensagem é clara, e vire-e-mexe nos lembramos disso quando se faz necessário.

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  • Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Dois

    Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Dois

    O terror e o romance geralmente são dois gêneros tratados como opostos, na maioria das estórias que temos acesso e nos marcam, no decorrer dos tempos. Difícil lembrarmos de bons exemplos que, ao abordarem o lado sombrio e a face romântica da vida e das relações, equilibram de forma marcante o Terror, junto ao mais lenitivo dos amores e paixões; uma alegoria clara e direta a Dante, e seus famosos círculos do inferno. Neste segundo volume da clássica saga do Monstro do Pântano, Romeu desce até o reino da besta-fera para recuperar a sua amada flor Julieta das garras dos condenados, no centro do vale da escuridão (e não de fogo como muitos pregam, por ai), logo antes de apresentar o mundo selvagem dos pântanos da Terra para pequeninos e inocentes alienígenas que desembarcam em seu reino, sem saber dos perigos daqui.

    E quem melhor que Alan Moore para compor quadros e tramas de soberba magnitude criativa, enquanto que, ao longo de duzentas páginas de pura genialidade narrativa que tanto marcaram a nona-arte nos anos 1980, nos perguntamos de queixo-caído: como eu pude viver e pensar ser feliz sem nunca ter lido isso? Moore sempre escolheu seus desenhistas a dedo, talentos que pudessem traduzir em uma dinâmica visual perfeita todas as suas loucas e extasiantes ideias – e na sua melhor saga, para muitos, a necessidade segue imperial. Em dados momentos, O Monstro do Pântano nos brinda com painéis que tornam certas sensações inesquecíveis, tal como o sexo absurdo entre uma criatura asquerosa, de musgo e raízes, e a mulher que ama o homem por trás do monstro, sua alma, suas palavras, a sua bravura e sua perdição amorosa, tão recíproca entre eles. As cenas de extrema psicodelia que ilustram o tesão cabuloso entre planta e corpo de carne nos confundem, nos assombram, e nos fazem salivar em uma típica hipnose das mais luxuriosas, e acima de tudo, românticas que se tem notícia.

    O autor de V de Vingança e Watchmen cria demônios que entregam rosas e orgasmos porque gostam do gesto, e não para se redimirem ou negarem o que são. Ao combater um vilão que conseguiu escapar das trevas abissais, e agora possui a carne banal de um homem qualquer, o deus dos pântanos e do verde profundo da Terra presencia a morte de sua Abigail, aquela por quem sua alma ainda brilha, mesmo sob uma nova forma absolutamente horripilante. Indo contra o ódio de uma entidade que só pode ser combatida pelo amor, e não pela dor (uma vez que ela é a encarnação mais soberba das dores, e das angústias que um ser-humano é capaz de carregar), o Monstro do Pântano conta em seu destemido resgate com vários personagens famosos da DC, como o Etrigan, grande amigo do mago John Constantine, para caminharem aonde nenhuma luz chega, nenhum “socorro” é ouvido, e a salvação jamais poderá ser alcançada – exceto pelo desespero do mais louco dos Don Juans, já que o eterno repouso de sua rainha no colo de demônios é algo inconcebível.

    No triunfo editorial da Panini em lançar, em seis partes, a icônica saga de Alan Moore e companhia no Brasil, numa belíssima compilação gráfica e até com um prefácio impecável de ninguém menos que Neil Gaiman (Sandman, Coraline), num esforço de apresentar essas pérolas do passado a uma nova geração de leitores, as estórias (originalmente publicadas em gibis mensais sob o selo Vertigo, nos Estados Unidos) são distribuídas em seis breves e eletrizantes capítulos, com contos de puro horror gótico, sonhos perturbadores, e até um grupinho de extraterrestres que não conhecem a maldade que existe, e ao fazerem contato com nosso querido monstro esmeralda, descobrem que há coisas muito além do que parecem ser. Ao longo das tramas, verdadeiras aulas de tensão e espanto no mundo das HQ’s, Moore revela-se um autor muito mais íntimo de suas personagens, sua realidade, suas forças e fraquezas, à medida que enraíza o leitor, quadro a quadro, em experiências tão ímpares quanto imprevisíveis.

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  • Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Um

    Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Um

    “Você está em contato. Em contato com o verde. E eu, em contato com você.”

    Muitos defendem, com certa razoabilidade, A Saga do Monstro do Pântano como uma das melhores obras do genial Alan Moore. Aos que apontam seus motivos, além de certo desejo de não serem a maioria óbvia e raivosa que logo cita Watchmen e V de Vingança como as principais magnum opus do misterioso autor britânico, um dos grandes responsáveis por elevar o status quo das histórias em quadrinhos, entre as décadas de 70 e 80, há de certo uma adoração justificável pela qualidade impressionante das histórias de terror gótico que tanto combinam com o estilo macabro e forte das ideias e tramas que Moore arquiteta como ninguém. Afinal, estamos falando do criador do mago John Constantine, e da melhor história do Coringa já feita (vamos ser sinceros): A Piada Mortal, em uma de suas mais célebres colaborações na carreira, junto do desenhista Brian Bolland.

    Se há um adjetivo que cai como uma luva a Alan Moore, desde os seus primórdios como contador de histórias de suspense, horror e aventura com e sem super-heróis, é ser impecável. Tanto na execução de seus arranjos narrativos, quanto na potência marcante que emprega a quase todos eles, em sua longa trajetória pela nona-arte. Não há melhor louro a um escritor que prestigiá-lo lendo-o, e sabendo disso, a editora Panini do Brasil lança em 2014 todas as edições roteirizadas por Moore do temível e humano Monstro do Pântano, em seis edições de inestimável apreço no mercado brasileiro de HQ’s. Exemplarmente traduzido por Edu Tanaka, o leitor torna-se íntimo das sensações de um Deus bizarro, representante da mãe-terra em uma forma asquerosa, cujo pântano onde reina, em um primeiro momento, é a casa assimétrica que lhe sobra para se esconder, proteger e amar a mulher que nunca esqueceu o homem antes do monstro, e que nutre por ele um amor puro, e recíproco.

    No início, era apenas Alec Holland, vítima de um acidente que torrou seu corpo feito folha atingida por raio, mas não o mais feroz: sua consciência imortal. Sua alma agora É o mundo verde, e tudo o que o alimenta e o faz ser tão resistente, quanto assombrosamente real, e poderoso. Alec não é mais homem, apenas, mas um super-homem. Um demônio de musgo de dois metros de altura que anda, fala e vibra, enquanto encarna o biossistema inteiro da Terra dos pés a cabeça, estendendo suas sensações aos rincões mais profundos do planeta quando preciso – ou quando assim o deseja. Neste primeiro volume, acompanhamos a autodescoberta de sua nova identidade, ao mesmo tempo que homens tentam matá-lo, queimar seu lar pantanoso, sua fé na humanidade. Para ligar a trama geral com a mitologia da editora DC Comics, vários ícones da Liga da Justiça e seus vilões entram em cena em várias histórias, seja para ter um apelo maior ao público, seja para engrandecer o personagem central sem, contudo, inferiorizá-lo.

    Aos poucos, com uma abordagem fantástica e filosófica servindo de base para o despertar de Alec Holland, em contos de vinte páginas cada, compostos por centenas de imagens delirantes ilustradas por mestres da linguagem visual, somos levados a reconhecer do que Holland é capaz, agora sendo o medonho “monstro” que se tornou. Aqui, um guardião do natural, dando cabo as vezes de ameaças que não encaram seus poderes como dons, mas maldições agonizantes, agindo em defesa da autodestruição e do mal mais puro que nem o coração mais perverso, pode imaginar. Tudo o que é exatamente oposto a essa entidade do verde e da vida que Alan Moore, entre 1983 e 1987, tratou de revolucionar seu conceito e seus valores nas páginas da DC, feito um verdadeiro rei Midas dos quadrinhos. Eis uma grande e arrebatadora metáfora sobre um mundo que nos devora, em todos os sentidos, e cabe a nós decidir o que fazer disso, sem botar na conta do acaso o peso dos nossos atos, ou aquilo que escolhemos nos tornar. Não há nada mais precioso que a nossa consciência, exceto, talvez, uma história de Alan Moore, e é aqui onde tudo começou.

  • Resenha | Monstro do Pântano: Raízes – Volume 2

    Resenha | Monstro do Pântano: Raízes – Volume 2

    No segundo encadernado de histórias do Monstro do Pântano, somos apresentados às histórias compreendidas entre as edições 7 e 13 de Swamp Thing. Ainda com roteiros de Len Wein, o titulo de terror da DC Comics mantém a sua média de ótimas histórias, além de plantar uma ideia muito interessante que viria a ser abordada futuramente por Alan Moore.

    É interessante observar que Wein vai adicionando cada vez mais camadas ao Monstro do Pântano, fazendo com que ele forme algumas alianças que poderiam soar improváveis. É o que acontece na primeira história, quando Alec Holland chega a Gotham City e se une ao Batman. É uma pena que em dado momento o protagonista tenha que ceder muito espaço para o Homem Morcego, porém ainda assim a dinâmica é bem interessante. O mesmo pode ser dito de Mutt, o cão que o Monstro meio que adota. Há um acontecimento no final dessa história que a faz marcante, ainda que não seja das melhores.

    O roteirista continua fazendo uso de referências históricas e culturais ao longo dos roteiros. H. P. Lovecraft surge como inspiração em vários momentos, assim como obras de ficção-científica como Star Trek. Há ainda alguns sub-textos sociais bem interessantes adicionados a algumas histórias, principalmente em O Homem que Não Quis Morrer, onde Wein mistura elementos de horror à escravidão dos negros nas plantações de algodão dos sul dos Estados Unidos. Todas essas referências e inspirações do autor Len Wein conferem uma profundidade a história e também aos personagens, tanto o protagonista quanto a alguns coadjuvantes.

    A arte de Bernie Wrightson se mantém ótima e muito condizente com toda a pretensão da HQ. Porém, O Homem que Não Quis Morrer marca a ultima edição do ilustrador no comando da arte. A partir de As Minhocas Gigantes ele é substituído por Nestor Redondo, que apesar de ser um ótimo desenhista, não tem um estilo que encaixe tão bem com o personagem. Há uma espécie de humanização do Monstro do Pântano, com seus traços se tornando menos bestiais e mais humanos.

    O compilado da Panini se encerra com a história A Conspiração Leviatã, história que funciona de forma dupla para o Monstro Pântano: caso a série não tivesse continuidade, fecharia o arco do personagem com uma descoberta bombástica para ele, visto que a trama se concentra em uma espécie de desvendamento da origem do estranho ser. A história também poderia servir como um reboot leve, com o Monstro do Pântano adquirindo novas características e pavimentando um início de caminho para quem viesse assumir os roteiros posteriormente, visto que Len Wein não mais queria fazer nada com o monstro desde a saída de Wrightson.

    Enfim, esse segundo volume de Monstro do Pântano: Raízes apresenta mais um compêndio de histórias desse intrigante personagem da DC Comics, que apesar de não serem brilhantes, tem alguns ótimos momentos.

  • Review | Swamp Thing (Episódio Piloto)

    Review | Swamp Thing (Episódio Piloto)

    A DC/Warner tem investido bastante em seus novos produtos para televisão. Com Titãs e Patrulha do Destina houve uma bela dedicação em produção, elenco e direção de arte. Por mais que ambas não sejam perfeitas, há méritos em ambas, e não poderia ser diferente com o Monstro do Pântano, em Swamp Thing, seriado de horror que adapta a criação de Len Wein, e posteriormente, imortalizada por Alan Moore.

    O piloto se inicia bastante sombrio, com pessoas sendo atacados num barco. Dirigido por Len Wiseman, diretor e criador de Underworld e realizador de Duro de Matar 4.0. Sua carreira recente é mais frequente em produções de TV, e apesar de seus longa-metragens não terem tanto sucesso, a condução aqui é bastante correta. O maior mérito certamente é o equilíbrio da fotografia com elementos digitais.

    Há um bocado de influências visuais de James Wan (diretor de Aquaman e um dos produtores da série), Tobe Hooper (Massacre da Serra Elétrica) e Wes Craven (Pânico) – esse último responsável pela péssima adaptação para os cinemas de 1982. O episódio é contemplativo em seu início e introduz paulatinamente os personagens, como Abigail Arcane (Crystal Reed) e Alec Holland (Andy Bean). A introdução de Holland mistura elementos de horror e gore que se espera nessa produção.

    No entanto, há uma “barriga” no roteiro. A parte “humanizada” é demasiado longa e pouco desenvolvida, soando forçada em muitos momentos, embora seja fundamental algum aprofundamento, ainda que as partes de horror compensem todo o restante. Mesmo as cenas escuras são muito bem trabalhadas e os efeitos não deixam nada a desejar às produções de cinema recentes.

    O pecado mora na trilha, bastante expositiva, antecipando quase todas as sensações dos personagens. A criatura é bem construída e funciona visualmente, ao menos nesse pequeno vislumbre. O texto é bastante óbvio dentro dessa construção, abrindo possibilidades para que absolutamente qualquer coisa possa ser exibida ao longo dos dez episódios que estarão nessa primeira temporada, podendo dar vazão a histórias mais genéricas ou clássicas, como já vem sendo feito em Patrulha do Destino. Há potencial para algo grandioso, mas a sensação primária é de que será algo mais genérico, com potencial para melhorar tal qual ocorreu com Preacher. É esperar para ver.

    https://www.youtube.com/watch?v=n9AkPtOxaws

  • Crítica | Liga Da Justiça Sombria

    Crítica | Liga Da Justiça Sombria

    Quando nem sequer os maiores heróis da Terra – Superman, Mulher Maravilha, Batman, etc – conseguem resolver uma questão que aparentemente é espiritual, um novo grupo de justiceiros deveria ser acionado. A questão é que não há uma reunião desses místicos super poderosos, até que haja um convocação feita pelo Homem-Morcego. Liga da Justiça Sombria é baseada livremente na revista homônima dos Novos 52, e mostra Constantine, Zatanna, Desafiador, Jason Blood/Etrigan, Monstro do Pântano e outros agindo juntos, a fim de resolver uma questão envolvendo seres incorpóreos.

    A adaptação que o filme de Jay Oliva se propõe a fazer é a do primeiro arco da revista  da fase dos Novos 52. A mudança mais drástica é por conta do vilão, que nas HQs era a Magia (ou Enchantress, no original), e que é retirada para não se confundir com a trama do péssimo Esquadrão Suicida, de David Ayer, que acabava de receber críticas muito negativas à época. Fora essa mudança, não há muito do que reclamar em relação a fidelidade relativa ao cânone dos personagens, exceto é claro que a maioria deles é mostrada de maneira muito genérica.

    Etrigan, Constantine e o Monstro do Pantano são mostrados como quaisquer outros personagens da DC Comics, sem quaisquer complexidades de identidade ou de aceitação, como normalmente são retratados nos quadrinhos. Tal fato nos faz perguntar qual a necessidade colocá-los nesse grupo denominado como dark, exceto é claro pela vulnerabilidade de Superman a ataques mágicos. O Felix Faust utilizado como antagonista também não mostra muito potencial de exploração. Os combates corporais não empolgam, tampouco decepcionam, tudo na produção soa morno.

    O argumento de J. M. DeMatteis (Batman: Absolvição, Liga da Justiça Cômica) e Ernie Altbacker é genérico e a aventura não tem um clímax minimamente cativante, tudo isso aliados aos personagens que sequer causam apreço no público fazem desse Liga Justiça Sombria uma das mais descartáveis animações da DC.

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  • Resenha | Monstro do Pântano: Raízes – Volume 1

    Resenha | Monstro do Pântano: Raízes – Volume 1

    Monstro do Pântano - Raizes - Vol. 1

    Oscilando entre a genialidade científica e ataques de ira compreensíveis e razoáveis, já que são inerentes a sua natureza, o herói do encadernado da Panini ganha vida nas primeiras histórias de Len Wein, apresentando o que seria, talvez, sua maior contribuição para os quadrinhos. Em O Monstro do Pântano (Swamp Thing), o autor apresenta seu alter-ego, o cientista Alec Holland, que após uma fatalidade torna-se um avatar da natureza, trazendo à baila uma discussão interessante, que leva em conta os desmandos e exageros presentes na maioria das ações humanas em relação ao planeta em que vive.

    Na introdução feita por Wein, o autor começa falando que não sabia estar criando uma lenda. Notar a perplexidade do escritor é algo evidente, até pela ordem dos fatos que seguiram aquele dezembro de 1970. A ideia original foi aceita por parte daqueles que cercavam Wein, ainda que a sua premissa não fosse completamente entendida por eles. Uma vez aprovada, a história foi publicada em House of Secrets número 92, iniciando-se com a narração de seu protagonista, que ainda tentava entender o que tinha acontecido. O modo como a “criatura” faz seu recordatório varia entre o presente e o passado inócuo, fazendo uma confusão quanto à temporalidade do período enquadrado. Somente quando o monstro atravessa a janela para salvar sua amada, pode-se compreender o que era alucinação ou realidade dentro dessa primeira trama. Sua aparência abominável o faz sentir-se indigno perante os olhos da mulher que ele um dia ele chamou de sua. O pântano era o único lugar que o aceitaria naquela configuração, mas isso não era conforto suficiente para seu coração choroso.

    No primeiro número de Swamp Thing, é contada a história do cientista Alec Holland, que habita o seu laboratório, fazendo seus experimentos sob os olhares dos seus inimigos. A armadilha que captura Holland é mostrada de forma muito violenta, especialmente em comparação com os outros pares de revistas e gibis infantis. A tragédia e o pântano, lugar onde não há qualquer possibilidade de esperança, tornam-se uma nova chance de vida, uma alternativa perturbadora, mas libertária. O protagonista assume, então, sua nova vida de criatura grotesca, denominada Monstro do Pântano. Seus vilões são figuras tacanhas, caricatas, feios como o diabo, bandidos clássicos que se mostram seres maniqueístas,

    O trabalho de arte de Bernie Wrightson aumenta a bizarrice presente na história, retratando figuras inumanas, que se tornam ainda mais assustadores pela contraditória verossimilhança que há em seus contornos. A situação é ainda mais piorada com as cores da edição feita pela Panini, que aumentam o caráter bizarro da obra. A criatura em que Holland se tornou tem sua trajetória carregada de símbolos que remetem ao messianismo. Mesmo rejeitado em um primeiro momento, a sua mente elevada é vista pelas criaturas fisicamente prejudicas como possibilidade de ter qualquer sinal de ascensão.

    Logo se descobre que toda a fisiologia do Monstro é vegetal, até seu modo de respirar é dependente de dióxido de carbono. Arcane propõe, então, a Alec que ele compartilhe seu fardo, o que devolveria sua configuração humana. Mas como os heróis altruístas da DC Comics, ele abre mão disso para deter o vilão e impedir que ele ficasse mais poderoso ainda. Ver a si mesmo como um homem-monstro é penoso, mas é um fardo que Holland se vê obrigado a carregar, mesmo com todo o desgosto.

    O ideário visual remete demais aos filmes de monstro da Universal, como A Noiva de Frankenstein, seja na figura deformada de Arcane ou na de sua filha, Abigail Arcane, que mais tarde, ganharia ainda mais importância. Semelhante às películas dos anos 30 e 40,  Monstro do Pântano retoma a caça às criaturas. Por mais que não haja todo o subtexto que marcou a fase do mago Alan Moore à frente do título, há uma chancela de história em clima clássico, aumentada demais pela belíssima arte, sem dúvida, o maior destaque.

    As referências ao cinema seguem, mencionando graficamente até os filmes barrocos da Hammer, protagonizados por Christopher Lee e/ou Peter Cushing. Os vilões deixam de ser somente homens gananciosos, para exibir também figuras transmorfas. A capacidade de Wrightson em transformar figuras grotescas em seres absurdamente assustadores é impressionante. Próximo ao fim da publicação, no penúltimo número do compilado, a temática de aparência versus essência é novamente resgatada, mostrando a maldade analisada de modo não normativo, já que o preconceito não é partilhado pelos infantes.

    A trágica trajetória do Monstro o impede de viver qualquer sensação que não seja negativa. Mesmo superando a impossibilidade física de se relacionar fisicamente com humanos, ele assiste à destruição de seu par, incólume ante a terrível constatação de que a solidão habitaria os seus dias. Extravasar sua fúria é algo que naturalmente o impele a agir. Raízes Volume 1 termina no número 6 de Monstro do Pântano, com um gancho para a próxima edição, que ainda não foi lançada no Brasil por motivos ainda não esclarecidos. É notório que muito da qualidade de roteirista de Len Wein se perdeu, tomando por base seu episódio Ozymandias de Antes de Watchmen. Seu ofício como editor tornou-se muito mais digno de nota do que seus guiões, mas certamente, nesse exemplar, ele ainda estava em forma. O criador do Wolverine ainda teria na parceria com Bernie Wrightson um casamento perfeito, apresentando uma figura visualmente assustadora e empática ao extremo, cuja jornada é tragicômica e singular.

  • Agenda Cultural 52 | Star Trek, Velozes e Furiosos e Se Beber, Não Case

    Agenda Cultural 52 | Star Trek, Velozes e Furiosos e Se Beber, Não Case

    agenda52

    Bem vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Nicholas Aoshi (@aoshi_senpai), Carlos Brito, Bruno Gaspar e Jackson Good (@jacksgood) se reúnem para comentar os mais recentes, ou não, lançamentos de quadrinhos cinema seriados e até games.

    Duração: 100 min.
    Edição: Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira
    Arte do Banner:
    Bruno Gaspar

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    Comentados na Edição

    Quadrinhos

    Monstro do Pântano
    Vingadores Vs. X-Men
    Homem-Aranha 2099 – Início

    Games

    Borderlands 2

    Séries

    Hannibal

    Cinema

    Crítica Oz – Mágico e Poderoso
    Crítica A Caça
    Crítica Se Beber, Não Case 3
    Crítica Terapia de Risco
    Crítica Faroeste Caboclo
    Crítica Velozes e Furiosos 6
    Crítica Depois da Terra
    Crítica Segredos de Sangue
    Crítica Além da Escuridão – Star Trek